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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ


PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
COORDENADORIA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E INTEGRAÇÃO ACADÊMICA
PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E EM DESENVOLVIMENTO
TECNOLÓGICO E INOVAÇÃO

THAIS PEDRINHO DE PONTES

RELATÓRIO FINAL

PROGRAMA DE IC: PIBIS/FUNDAÇÃO ARAUCÁRIA:

Os percursos dos/as diplomados/as da UFPR Setor Litoral no processo de inserção


profissional.

Relatório apresentado à Superintendência de Inclusão,


Políticas Afirmativas e Diversidade – SIPAD da
Universidade Federal do Paraná como requisito parcial
e/ou final da conclusão das atividades de Iniciação
Científica/Fundação Araucária - Edital 2020.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Adriana Lucinda de Oliveira
/ Serviço Social.

Matinhos
2021
RESUMO
.
A universidade enquanto espaço público tem um importante papel social, nela
pode-se construir ambiente de formação de intelectuais, de conhecimento técnico e
cientifico, do pensamento crítico, de proposição, de reafirmação e contribuição na luta
pelo acesso das minorias aos direitos sociais. A partir da expansão das universidades e
acesso de diferentes grupos sociais, tem-se novas mutações que repercutem a dinâmica
interna e externa acadêmica. Com isso vem-se aumentando iniciativas que tentam
compreender a vida estudantil que é perpassada com o acesso, a permanência, novos
perfis, a relação com os estudos, demandas, obstáculos, projetos, trajetórias e vivências e
as condições da inserção profissional. Posto isso, o presente estudo faz parte da
investigação do grupo de pesquisa Educação e Trabalho formado na UFPR Setor litoral,
cujo objetivo principal é construir um banco de dados com informações acerca do perfil
dos/as diplomados/as, bem como, os processos de inserção e desenvolvimento
profissional dos mesmos entre os anos de 2005 a 2019. O universo da pesquisa
compreende um total de 1.810 sujeitos, dos quais 440 responderam ao questionário
aplicado. Tais dados levam em consideração gênero, pertença étnico racial, escolaridade
pregressa, a identificação do acesso via ações afirmativas e permanência, trajetória
acadêmica, inserção profissional e prolongamento dos estudos.  Após a necessidade de
reformulação do instrumento de pesquisa, o questionário foi desenvolvido através da
plataforma livre e gratuita Lime Survey e conta com 116 perguntas. O contato de com
os/as diplomados/as se deu através de E-mail, Facebook. WhatsApp, contato telefônico e
demais redes sociais. Notou-se que a universidade é majoritariamente branca, com
espaços ainda privilegiados. Por outro lado, percebe-se que a população local é quem
mais a acessa, a mesma tem representado oportunidade de acesso para a comunidade.
Além disso, são estudantes oriundos de grupos desfavorecidos da sociedade onde às
políticas públicas de acesso e permanência são frequentemente acessadas e se fazem
ainda mais necessárias. Tratando-se da inserção profissional, considerando novas
tendências da mutação do capital e mudanças no mundo do trabalho (flexibilidade,
rapidez, fluidez nos contratos, multifuncionalidade, rotatividade, exclusão, desemprego,
informalidade) entre os egressos 51% estão inseridos na área de formação ou dando
continuidade aos estudos enquanto que 49% estão trabalhando em outra área ou estão
desempregados.
PALAVRAS-CHAVE: Diplomados, Inserção profissional, universidade.

PESQUISA BIBLIOGRÁFICA

Papel social da universidade

O conhecimento revela e desvela novas formas de ver o mundo, o dia a dia em que
estamos inseridos, por que estamos inseridos dessa forma, o processo que se deu para
estarmos onde estamos, os atores sociais envolvidos, a espacialidade, as correlações de
forças, entre outros aspectos. O conhecimento, a educação, possibilita há uma nova ótica
daquilo que olhamos e vivenciamos rotineiramente, como no trabalho de Rubem Alves,

[...]Entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera
centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas. Mas, cortada a cebola,
eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola.
Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de
estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica. De repente, a cebola, de
objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o
mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões... Agora, tudo o que vejo
me causa espanto. (Alves, 2004, Folha de São Paulo).

A aproximação com o conhecimento, permite olhar para o mundo, para a


comunidade, os objetos cotidianos desvendando processos e formas. A exemplo, trago
uma cadeira, que era simplesmente um móvel da casa, torna-se objeto observado sob a
ótica do trabalho e dos trabalhadores, tais como, a quantidade de trabalho que foi
necessário para sua construção, a quantidade de pessoas que contribuíram com seu
trabalho para o produto final que vai desde os funcionários de uma empresa que
comercializam a madeira, homens que trabalham em uma diferente empresa na
confecção dos parafusos e apetrechos, os trabalhadores que irão dar forma a algumas
partes da cadeira, diferentes trabalhadores que irão produzir o material do estofado,
outros que irão construir o estofado, são uma série de processos e pessoas até que o
projeto da cadeira se efetive, e esse móvel deixa de ser um simples móvel.
Além disso, Sobrinho (2015) apresenta que o conhecimento ultrapassa as relações
restritas que os indivíduos tecem, sendo que possui também importante papel nas
formações econômicas e sociais. Ele continua dizendo que o conhecimento,

Não é simplesmente matéria prima do desenvolvimento econômico ou, como está


em moda dizer, motor do progresso, como se o progresso humano correspondesse
unicamente à medida do econômico. É inegável que o desenvolvimento econômico,
especialmente nos dias atuais, tem estreita relação com a informação e com os
conhecimentos que apresentam grande potencial de aplicação quase imediata.
Porém, há outros significados que desbordam o plano econômico. (SOBRINHO,
2015, p. 585)

No que concerne ao pensamento crítico, a educação tem um importante papel na


interatuação no desenvolvimento da consciência crítica e na produção de condições e nas
elevações dos indivíduos e sociedades. Sendo que a universidade é um dos espaços
públicos que privilegiadamente pode germinar as reflexões, conhecimentos e técnicas, em
clima de aceitação das contradições, das diferentes formas de visões de mundo,
liberdade de pensamento e criação. (IDEM, 2015).
Para Krajevski (2019) as universidades públicas possuem vital importância para
contribuir nas alterações na estrutura da sociedade, tendo que a sua independência em
relação a visão mercadológica de ensino e investigação, que tem a ver com a forma de
financiamento da universidade.

E por não estar limitada pelas injunções do mercado que a universidade pública
pode cumprir o seu papel histórico e social de produção e disseminação do
conhecimento, e também manter com a cultura uma relação intrínseca que se
manifesta numa possibilidade de reflexão que foge aos moldes do compromisso
imediatamente definido pelas pressões de demanda e consumo. (KRAJEVSKI,
2019, p.9 APUD LEOPOLDO E SILVA, 2001, p. 299).

De acordo com Oliveira, Silva e Esteves (2017), no que tange ao papel social da
universidade, enquanto espaço contraditório, pode se constituir em espaço de formação
de intelectuais orgânicos, em espaço de crítica, de proposição, compromisso com
interesses populares, colocando a produção de conhecimento, a ciência e a tecnologia a
serviço da população.

Nesse sentido, quando a Universidade é concebida como espaço contraditório, a


obra de Gramsci é um importante fundamento teórico, na medida em que no interior
dessa instituição possa haver grupos que questionem a direção hegemônica e que
estejam dispostos a compor a construção de uma contra hegemonia. Por isso, a
importância da contribuição de Gramsci também na abordagem sobre os
intelectuais. O referido autor afirma que sem a ação dos sujeitos é impossível se
fazer história, é impossível fazer com que o conhecimento seja uma arma de
transformação. (OLIVEIRA; SILVA; ESTEVES, 2017, p.258)
Para Postinho (2015), a primeira responsabilidade da universidade é construir e
produzir no dia a dia, a qualidade dos processos sem perder consigo seus fins essenciais,
que consiste em cumprir as atividades e formação com maior grau acadêmico, cientifico,
moral, político e social. Dito de outra maneira, uma das responsabilidades da universidade
como instituição pública é na formação de indivíduos- cidadãos de valores,
conhecimentos técnico, cientifico e socialmente pertinentes. Em relação a qualidade da
universidade, está não deveria restringir-se aos critérios de operacionalidade e
conveniência mercadológica, as análises do custo-benefício, aos resultados dos exames
de desempenho estudantil e arranjos da produção cientifica. Para além da performance,
em outra dimensão é o realizar-se como espaço público na construção e contribuição de
sociedades econômica e culturalmente evoluídas e democraticamente justas e
participativas. O autor ressalta também, que umas das mais importantes faces da
responsabilidade da universidade, consiste no compromisso de natureza pública e
utilidade social, onde todos os grupos sociais têm direito ao conhecimento, sendo que
ampliar a inclusão educativa, a democratização dos benefícios culturais é uma questão
primordial da justiça social e de projetos civilizatórios.
Além do mais, de acordo com Filho et al., (2021) discutir criticamente o papel social
da universidade é compreender que a sociedade constrói a universidade e a mesma
constrói a sociedade. Dessa maneira, a responsabilidade social da universidade é parte
da função social e política da formação do ensino, sendo vetor da produção de impactos
regionais e nacionais.
Acerca dos efeitos das atividades universitária nas regiões onde estão inseridas,
essas podem promover diversas possibilidades de resultado, tais como, formação
qualificada de força de trabalho, produção de conhecimento aplicado a realidade regional,
pesquisas que resultaram na melhoria dos processos produtivos, elevação dos
investimentos públicos e privados, acolhimento de diversas demandas sociais.
(KRAJEVCKI, 2019). Por outro lado, o autor reforça que para que esses resultados sejam
possíveis, a universidade precisa executar muito bem aquilo que se propõe, o ensino de
graduação e pós-graduação deve ser de alta qualidade que concernente com as
demandas da localidade. A pesquisa deve ser fomentada pela universidade, garantindo
que pesquisadores tenham respaldo, condições de trabalho e financiamento. A extensão
precisa estar próxima e comprometida com a comunidade e a população da região.
No conjunto universidades brasileiras e sociedade, mesmo que não
homogeneamente, tem-se apresentado práticas implicadas com a sociedade.
Materializa-se, nesse reconhecimento, trabalhos em hospitais do sistema público;
em escolas; em programas de inclusão em benefício de indivíduos em contextos de
vulnerabilidades; pesquisas de alta complexidade e atualidade; desenvolvimento do
complexo ciência-tecnologia-inovação; e implementação das políticas de cotas
raciais e sociais como uma equiparação social do povo negro e pobre no acesso a
formação de ensino superior (Souza & Brandalise, 2015). Contudo, a universidade
ainda é um espaço de disputas de interesses, cabendo também ao espaço da
universidade garantir o direito ao ensino de todos/as, revertendo um processo de
exclusão e de desigualdade provocado pela elite brasileira (Sobrinho, 2015). (FILHO
et al., 2021, p.14).

O papel social da universidade perpassa ou deve perpassar a estrutura política,


econômica, sócio- histórica, sociais e humanas na contribuição, na reafirmação e na luta
pelo acesso das minorias aos seus direitos sociais. A partir dessa perspectiva, Filho et al.
(2021), evidencia que as cotas raciais são relatadas como a principal forma de
materializar como a universidade tentou operacionalizar sua responsabilidade social em
torno do desigual acesso ao ensino superior. Por fim, Oliveira, Silva e Esteves (2017),
apresenta que a defesa da efetivação do papel social da universidade,

[...]caracteriza-se na análise constante dos projetos, ações e opções dos sujeitos


(gestores, docentes, técnicos e discentes) que constroem a instituição
cotidianamente. Esse processo requer a desconstrução da cultura alienante,
excludente e elitista e a construção de práticas educativas emancipatórias que
possibilitem o desvelamento das determinações históricas, econômicas e políticas
da realidade social. Um dos caminhos para a concretização desse desafio é o
conhecimento e a articulação com os movimentos sociais, que representam as
reivindicações históricas da maioria da população. (p. 268).

Universidade e observatório estudantil

No Brasil, a partir dos anos 90 há um crescimento exponencial de jovens e adultos


no ensino superior, Martins e Oliveira (2017) acrescentam que a Lei Federal n° 9.934/96
que estabelece diretrizes e bases para a educação nacional, estabeleceu como um marco
para o ensino superior, pois foi a partir dela que começou uma expansão sem
precedentes nesse nível de ensino.

O Censo de 2015, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas


Educacionais, registrou um total de 8.027.297 matrículas, sendo que, em 1995, este
número era de cerca de 2 milhões (INEP, 2015). Dentre as mudanças ocorridas,
além do aumento de matrículas – com ênfase para as instituições privadas -,
destacam-se também a inserção da modalidade de ensino à distância e o grande
aumento de cursos superiores de tecnologia (CSTs). (MARTINS; OLIVEIRA, 2017,
p.54)

Desde a década de 1990, começou a notar a expansão no número de instituições


como de matriculas, entretanto esse crescimento se deu significativamente maior nas
instituições privadas, além disso tem-se nos anos 2000 a inserção da modalidade de
ensino a distância. Para Martins e Oliveira (2017), a expansão e diversificação do ensino
superior pode ser creditada a partir de diversas causas, dentre elas, a reforma da
educação iniciada com a Lei de Diretrizes e Bases Curriculares; a demanda das
empresas por maior qualificação de mão de obra frente as tecnologias e ciclo de
globalização; o crescimento de programas governamentais voltados a expansão.
Ristoff (2019) apresenta que nos últimos 25 anos, o setor privado cresceu em um
ritmo alucinado em 531% enquanto que no mesmo período o setor público cresceu em
ritmo mais moderado com 228%. Esse crescimento se deu pela contribuição de políticas
de inclusão no ensino superior, tais como, O Prouni, a implantação do Programa de
Reestruturação e Interiorização das Universidades (REUNI), O Programa de
Financiamento Estudantil (FIES), o Sistema de Seleção Unificado (SISU), a Lei de cotas,
a criação dos Institutos Federais de Educação (IFs). O autor ainda traz em seu trabalho
algumas informações e dados sobre os programas:

Com relação ao Prouni, cabe destacar que se trata de um programa de bolsas do


qual já participaram mais de 1,3 milhão de estudantes pobres, 52% dos quais
afrodescendentes. Desses, em 2015, mais de 500 mil já eram graduados. [...] O
Reuni, programa de reestruturação, recuperação e interiorização das universidades
federais, por sua vez, criou mais de 170 novos campi, e o seu impacto sobre a
inclusão se deve principalmente à oferta de ensino público e gratuito em regiões e
cidades do interior do país, historicamente desassistidas. Também foram criadas 18
novas universidades federais, muitas com vários campi, também com forte impacto
sobre a inclusão de grupos historicamente excluídos [...]. [...]. Da mesma forma, a
partir de 2010, o Fies tornou-se um programa com juros altamente subsidiados e
com gratuidade para estudantes das carreiras de professor e de médico, que, após
se graduarem, atuem nas redes públicas. De 2010 a 2015, mais de 2,1 milhões de
contratos foram assinados. O Sisu, voltado para a democratização do acesso às
instituições públicas e gratuitas, tem crescido ano a ano, tornando-se, hoje,
combinado ao sistema de cotas, implementado a partir de 2013, um substituto
valioso do vestibular tradicional. Graças à Lei das Cotas, já em 2016, todas as
instituições federais de educação superior (IFes) haviam atingido a meta de 50% de
estudantes oriundos da escola pública em todos os seus cursos e turnos. Esse
percentual de 50% pode parecer pouco para os que buscam a paridade com os
87% de matrículas públicas do ensino médio. (IDEM, 2019, p.14-15)

Sobre a Lei de cotas que foi um direito historicamente conquistado a partir das
intensas pressões dos movimentos sociais negros, a mesma foi instaurada em 2012, a Lei
n° 12.711, foi também um significativo avanço para o acesso e inclusão de negros no
espaço hegemonicamente branco e elitizado da universidade. Segundo Quadros (2019), a
lei busca estabelecer igualdade de oportunidades, diminuição das desigualdades e a
inclusão de minorias historicamente excluídas nas universidades . 

A Lei de Cotas estabeleceu o mínimo de 50% das vagas de graduação disponíveis


para estudantes que tenham cursado a totalidade do ensino médio em escolas
públicas, seguindo a proporção de pretos, pardos, indígenas e pessoas com
deficiência na população da Unidade da Federação em questão.
Complementarmente, 50% dessas vagas (25% do total de vagas) devem ser
reservadas aos estudantes cujas famílias tenham renda igual ou inferior a 1,5
salários-mínimos per capita. Com a Lei, tem-se a possibilidade de melhores
condições de acesso à população pobre, aos estudantes oriundos de escola
pública, aos negros e indígenas; alcançar um curso superior[...]. (QUADROS,
2019, p.22).

A expansão do ensino superior e as políticas de inclusão possibilitaram que


diferentes grupos sociais, mesmo aqueles que fazem parte da parcela mais excluída da
sociedade, tivessem a possibilidade de acessar às instituições de ensino superior e tornar
o espaço acadêmico menos elitizado em relação ao seu histórico de implantação no
Brasil.

Em todos os cursos, sejam eles mais ou menos competitivos, há uma diminuição


gradativa de filhos de pais com escolaridade superior, indicando que as classes
populares, historicamente excluídas deste nível educacional, começam a ter
oportunidades de acesso. (RISTOFF, 2014, p. 741)

Esse crescimento e expansão das universidades e com ela o acesso de novos


grupos sociais conduz a novas mutações que repercutem diretamente na dinâmica interna
e externa da universidade. Com isso vem sendo justificado iniciativas que vem tentando
compreender a vida estudantil. Essa está relacionada com as condições da vida
acadêmica, programas, pesquisas, projetos, publicações, trajetória e vivências, novos
grupos sociais na universidade, novos perfis de estudantes, a relação com os estudos, o
acesso, permanência, velhas e novas demandas etc. Nesse sentido, Godoy et al. (2015),
expõe que no cenário internacional, universidades investiram na criação de um próprio
Observatório da Vida Estudantil com o propósito de fomentar conhecimento sobre a
população discente, com informações referente as condições de vida, aproveitamento dos
estudantes, desenhos curriculares, modos de vida, inserção profissional e outras, visando
fortalecer a gestão acadêmica das instituições.

Observa-se que no interior das universidades ocorrem alterações nas demandas


sociais, nos públicos de interesse, nos programas de formação oferecidos, nos
desenhos curriculares, nos recursos pedagógicos mobilizados, em programas de
assistência estudantil etc. O ambiente também requer alterações, particularmente
no que se refere à infraestrutura relacionada à saúde, alimentação, moradia,
transporte, lazer etc. Estas transformações requerem espaços de compreensão,
reflexão e proposição, justificando a criação de uma plataforma capaz de reunir
dados que se prestem a serem organizados, descritos, interpretados e possam
fundamentar textos (relatórios, artigos, capítulos de livros, livros etc.) com potencial
de serem lidos e justificar a formulação de políticas, projetos e ações orientadas
para a ampliação de condições que favoreçam a formação superior de estudantes
[...]. (GODOY et al., 2015, p. 7)

Referente as novas demandas da universidade, dispomos de exemplo, a


permanência, sobre essa Santos e Sampaio (2013), apontam que começa com
alimentação, transporte, moradia, acesso a biblioteca, utilização de computadores,
espaços coletivos de estudo, a chegada do estudante-trabalhador que traz novas
questões de como integra-los, os autores reforçam que é apenas o início. Além disso,
Santos e Sampaio (2013), exibem que captar a percepção dos estudantes sobre suas
próprias trajetórias e perspectivas é decisivo para compreender melhor a cultura
universitária e suas formas de funcionamento. As autoras enfatizam, que principalmente
pelos olhares dos estudantes de baixa renda que adentram a universidade, “ [...] revela-se
uma instituição percebida por aqueles para quem ela sempre foi destino natural, um
destino de classe”. (p.13). Sendo assim, os observatórios da vida estudantil contribuem
para promover mudanças internas dentro das instituições e assim efetivar a dimensão
civilizatória e cidadã da universidade.

A criação do Observatório da Vida Estudantil e a vivacidade de sua atuação


conferem a essas universidades a capacidade de pensar, criar, fazer e repensar
para refazer e recriar. Não é comum que o aparato científico, o rigor intelectual e a
visão política do presente se unam em torno de um desafio que é, ao mesmo tempo,
científico, político e ético. (IDEM, p. 13).

Dito de outra forma, os observatórios são capazes de articular a produção de


conhecimento, a disseminação e formulação de políticas e ações voltados para condições
que favoreçam o ingresso, a permanência, o êxito acadêmico, e a inserção profissional
dos jovens. Tem-se interesse por toda a trajetória do estudante até a sua colocação no
mercado de trabalho. (GODOY et al., 2015).

Educação e trabalho

Tendo o trabalho como algo central na vida humana e na constituição do ser


social, este possui um caráter de construção de identidade, valores e de vínculos sociais,
segundo Quintaneiro et al. (2002) no modo de produção capitalista, o trabalhador e suas
propriedades humanas só perduram para o capital, dessa forma, se o indivíduo não
possui trabalho, não possui salário, ele também não tem existência dentro dessa mesma
sociedade. Este só existe quando se relaciona com o capital,

Diz Marx que o malandro, o sem-vergonha, o mendigo, o faminto, o miserável, o


delinquente não existe para a economia política, são fantasmas fora de seu reino, já
que ela somente leva em conta as necessidades do trabalhador cujo atendimento
permite manter vivo a ele e a categoria dos trabalhadores. (QUINTANEIRO et al,
2002, p.50-51).

Essas mudanças no mundo trabalho (flexibilidade, rapidez, fluidez nos contratos,


multifuncionalidade, rotatividade, exclusão, desemprego, informalidade) impactam
diretamente a vida de trabalhadores. No cenário nacional, segundo a pesquisa de
Corseuil et al. (2020), em análise de conjuntura do mercado de trabalho os anos mais
recentes tem destacado um expressivo aumento da taxa de desemprego, onde os mais
afetados são os jovens.

De 2012 a 2014, o valor da taxa de desemprego entre os jovens oscilou em torno de


13%. A partir do primeiro trimestre de 2015, seguiu uma trajetória de crescimento
elevado e contínuo, passando de 15% no primeiro trimestre de 2015 para 25% no
mesmo trimestre de 2017, um aumento de 10 pontos percentuais em dois anos.
Após esse período, houve sinais de recuo, mas em 2018 a taxa passou a oscilar em
um patamar maior e em 2019 voltou a subir, chegando a 23,9%. O aumento do
desemprego ocorreu de forma generalizada em diversos recortes socioeconômicos,
como mostram Corseuil, Poloponsky e Franca (2020). Os autores destacam o
aumento de 25,2% para 45,4% na taxa de desemprego dos jovens adolescentes
(entre 15 e 17 anos). (CORSEUIL et al.,2020, p. 506)

Além disso, segundo Corseuil (2020), durante o período 2012-2018, em média 53%
dos jovens de 15 a 29 anos entraram no mercado de trabalho pela via do emprego
informal. Em conformidade com isso Antunes e Alves (2004) ainda enumeram algumas
tendências da nova mutação do capital e através dela mudanças no mundo do trabalho,
dentre elas estes apontam que “ com a ampliação do desemprego estrutural, os capitais
transnacionais implementam alternativas de trabalho crescente desregulamentadas,
“informais”, de que são exemplo as distintas formas de terceirização” (p.337). A
exemplo, desses trabalhos informais que estão longe da ideia de empreendedorismo ou
o próprio negócio, temos a figura dos entregadores de aplicativos, que atualmente tem
aumentado suas demandas principalmente em face da pandemia da COVID-19, para
Abílio (2020), esses trabalhadores conferem as especificidades e os elementos centrais
da uberização, marcado como novo tipo de gerenciamento, controle e organização do
trabalho,

Em linhas gerais, a uberização é o processo em que o trabalhador informal se vê


despojado de direitos, garantias e proteções associados ao trabalho e arca com
riscos e custos de sua atividade. O trabalhador uberizado está disponível para o
trabalho, mas só é utilizado de acordo com a demanda [...]. (ABÍLIO, 2020, p.
580).

A população jovem em especial, que está vivenciando o processo de inserção profissional


e que muitas vezes opta pelo caminho da educação para finalmente conseguir se inserir
em postos de trabalhos mais qualificados e ascenderem em cargos mais condizentes com
suas vontades, as formações em diferentes níveis tem-se apresentado como diferenciais
nos currículos de jovens, conforme Gaio & Morais (2021),
É muito habitual estabelecer-se uma relação direta entre níveis dos diplomas
escolares e determinadas posições que lhes corresponderiam no mercado de
trabalho, numa perspectiva que é tributária da teoria do capital humano proposta
por Theodore Schultz na década de 1960. De algum modo, os pressupostos desta
abordagem teórica têm persistido nos discursos públicos e políticos sobre as
relações entre educação, trabalho e emprego, sendo também utilizados pelos
indivíduos para justificar as respetivas escolhas escolares e profissionais no
decorrer dos seus percursos de vida (Cabrito, 1999). (GAIO; MORAIS, 2021,
p.104).

Por outro lado, ao mesmo tempo que esses têm-se configurado como diferencial,
nem mesmo o diploma tem lhes garantido um passe para a inserção e seguridade de
emprego nos postos de trabalho. Mattos e Bianchetti (2008) discorrem sobre o exposto,

Nessa investigação, que envolveu três gerações, os autores verificaram que os


filhos dos operários, isto é, a segunda geração aumenta os anos de estudo,
chegando à universidade, e, assim, negavam a condição operária. Mas os filhos
de seus filhos, isto é, a terceira geração, mediante o estreitamento de
oportunidades de trabalho, visível a partir dos anos de 1980, não conseguem fazer
o mesmo. O que se apresenta então é um novo contexto: o filho do filho alonga
seus estudos, mas sequer consegue ser operário, não tendo outra alternativa
senão o desemprego. (p.69).

Gaio (2004), defende que variáveis tais como, o grupo sexual, a área disciplinar
frequentada, a região em que reside, o tipo de instituição superior frequentada sendo
público/privada, são elementos que condicionam os percursos profissionais dos
diplomados, tornando menos ou mais fácil a rentabilização do diploma de ensino superior
em temos de utilização na vida ativa.
Mattos e Bianchetti (2008) sustentam ainda que a pós-graduação atualmente tem
servido para os diplomados/as do ensino superior como estratégia de enfrentamento e
alternativa ao desemprego e a inatividade profissional mas que o mesmo tão pouco
fornece garantias quanto ao futuro profissional.

MATERIAIS E MÉTODOS

A presente investigação compreende os/as formados/as da Universidade Federal


do Paraná Setor litoral, instituição está instaurada na cidade de Matinhos desde 2005, a
partir do processo de interiorização das universidades públicas. Está veio com a premissa
de contribuir com o desenvolvimento da região do litoral do Paraná, que é marcada pela
diversidade de sua riqueza ambiental, possuindo também baixos índices de IDH (Índice
de Desenvolvimento Humano). Oliveira e Silva (2017) destacam ainda que os cursos
escolhidos tiveram como critério a não existência dos mesmos em outro campus da UFPR
e uma relação com as demandas da região, objetivando atrair ao máximo, estudantes
provenientes do litoral paranaense.

O grupo de pesquisa instituiu-se no ano de 2016 com o objetivo de construir e


fomentar a sistematização de informações acerca do acesso à universidade, trajetória
estudantil e inserção profissional dos diplomado/as da universidade. Trata-se de um
estudo de cunho quali-quantitativo. Em 2018, o grupo de pesquisa Educação e trabalho
encontrou a necessidade de atualizar e de certa forma também reformular o instrumento
de pesquisa, essa necessidade se deu devido a algumas questões precisarem ser
reestruturadas e outras novas surgirem para assim compreendermos diversas realidades
do objeto de pesquisa. A exemplo disso, perguntas a respeito do acesso a assistência
estudantil, sobre a caracterização dos percursos profissionais e prolongamento dos
estudos foram construídas e inseridas. As imagens a seguir, são de parte do fluxograma
que estrutura e esquematiza todas as perguntas e caminhos que serão percorridos pelos
respondentes, as caixas em amarelo sinalizam as novas perguntas que foram
adicionadas nesse processo:

Essa atualização foi desenvolvida no software livre e gratuito LimeSurvey,


dessa forma, o questionário conta atualmente então com 116 questões, sendo elas
abertas, fechadas e de múltipla escolha. Após esse processo de mudanças no
questionário, entramos na fase de contato com os/as diplomados/as, esse contato para
envio e aplicação do questionário foi realizado através do contato telefônico, via e-mail
e Facebook, bem como outras redes sociais disponíveis. Por se tratar de um novo
questionário, o grupo retomou o contato com aqueles respondentes que já haviam
respondido o questionário anterior, solicitando que respondessem outra vez. Tal
processo foi tanto quanto dificultoso, visto que muitos dos que já haviam respondido se
recusam a responder novamente, diante da dificuldade, nos articulamos em diversas
estratégias para obter respostas, tais como, disponibilizar dias da semana somente
para tal atividade, recorrer às câmaras dos cursos e esclarecer para os respondentes
as diferenças dos questionários reforçando a importância da pesquisa para a
universidade e para a região.
Após a coleta de dados, tivemos uma capacitação para utilizar algumas
ferramentas (Excel, OpenRefine, Jamovi) na limpeza dos dados. Além disso, o grupo
reúne-se semanalmente, onde realizamos leituras, estudos e discussões de artigos
para contribuir formação de fundamentação teórica e em perspectiva crítica, os textos
discutem temas que possibilitaram a compreensão da conjuntura de desmonte das
políticas públicas, contextualização das fortes ameaças à Universidade pública, gratuita
e de qualidade, assim como a apreensão das correlações e transformação no mundo
do trabalho. Além disso, dentre as atividades desenvolvidas, o grupo participou de
apresentações de trabalho do mestrado em Desenvolvimento Territorial sustentável,
onde nós bolsistas tivemos aproximação com esse nível de ensino e com os projetos, a
participação em espaços como esses contribuem para fomentar nosso interesse na
pós- graduação, bem como para descontruir algumas ideias acerca de como esse nível
funciona e que os projetos são um processo de construção.
Para o presente relatório e de acordo com o plano de trabalho submetido, o
universo da pesquisa compreende um total de 1810 diplomados de 2005 a 2019, sendo
que 440 responderam o questionário até o momento.

RESULTADOS ENCONTRADOS

Como apresentado em materiais e métodos, obtivemos 440 respostas de um


universo de 1810 sujeitos que formaram-se entre os anos de 2005 à 2019.

Caracterização dos egressos


Para Ristoff (2014) a origem social e a situação econômica familiar do estudante, é
um fator determinante para e na trajetória do jovem brasileiro pela educação superior.
Diante disso, é imprescindível caracterizar antes de tudo o perfil daqueles que estão
dentro da universidade.

Segundo Gaio (2004) a expansão do ensino superior significou um grande


crescimento no número de mulheres diplomadas do ensino superior, “representam cerca
de 20% nos anos 40 e mais de metade do conjunto dos diplomados a partir dos anos 80”
(p. 120). Em nossa amostra, a literatura se reafirma, sendo que 67% dos sujeitos são do
gênero feminino, enquanto que 33% são do gênero masculino.

Tabela 1- Faixa etária dos respondentes

Faixa etária
Média 33
Idade mínima 22
Idade máxima 66

Sobre a faixa etária dos sujeitos, a maioria em média possui 33 anos, faz parte
então de um público relativamente jovem, enquanto que o mais jovem possui 22 anos e o
mais velho possui 66 anos.

A tabela 2, representa a moradia dos diplomados antes de acessarem a


universidade:

Tabela 2- Cidade onde morava antes de ingressar na UFPR


Onde morava antes de iniciar o curso superior na UFPR Setor Litoral? N°
Antonina 10
Curitiba 53
Guaraqueçaba 6
Guaratuba 26
Matinhos 131
Morretes 9
Outros 91
Paranaguá 78
Pontal do Paraná 36
Total Resultado 440

A respeito da moradia dos sujeitos antes de ingressar na universidade, 131 (28%)


residiam em Matinhos, 91 (20,5 %) indicaram morar em outros lugares do Paraná ou do
Brasil, 78 (18%) em Paranaguá, 53 (12 %) em Curitiba. Ao todo 67 % dos/as egressos/as
já moravam na região, assim sendo a universidade significou oportunidade de acesso
para a população local, dado que foi uma instauração de uma instituição pública e gratuita
em uma região precária no quesito educação superior, onde antes era preciso migrar para
outras cidades para realizar uma graduação.
Quando pergunta sobre que tipo de instituição público ou privada foi realizado o
ensino fundamental médio, 303 (69%) apontaram ter estudado integralmente em escola
pública, enquanto que 30 (7%) estudaram integralmente em escola particular.

Apesar do avanço significativo das políticas de acesso à universidade e em 2019, o


estudo ‘ Desigualdades sociais por cor ou raça do Brasil’ divulgado pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) ter exposto que pela primeira vez na história, negros
(pretos e pardos) são maioria nas universidades brasileiras, no Setor Litoral isso ainda
não se concretiza, o gráfico 1 a seguir evidencia o fato:

Gráfico 1- pertença étnico racial


1 1 1 2 2 2 3 3 3 4 4 4 5 5 5
100%
90%
80% 67.0%
70%
60%
50%
40% 24.0%
30%
20% 6.0%
2.0% 1.0%
10%
0%
Branca Amarela Indígena Parda Preta

A pertença branca é predominante dentro na universidade, sendo que 60% dos


formados se consideram brancos, 2 % amarelos, 1% são indígenas, 24% pardos e
apenas 6% pretos. Além, disso a partir dos dados, 201 diplomados/s apontarem ser os
primeiros da família a ter frequentado o ensino superior.
Sobre o acesso à universidade por meio da Lei de cotas, 138 (31%) acessou por
cotas socias ou raciais.

Tabela 3- Cotas acessadas

Tipos de cotas acessadas N°


Independentemente da renda: outros 62
Independentemente da renda: Pretos, Pardos e Indígenas 11
Renda familiar per capita menor ou igual a 1,5 salário mínimo: outros 52
Renda familiar per capita menor ou igual a 1,5 salário mínimo: Pretos, Pardos e
13
Indígenas
Total Resultado 138

O tipo de cota mais utilizada como forma de adentrar a universidade foi a


Independemente de renda com 62 formados, correspondente a 45% em relação ao grupo.
Seguido por Renda familiar per capital menor ou igual a 1,5 salários mínimos: outros com
52 (37%) sujeitos em relação ao grupo que utilizou a política.

Trajetória estudantil

Durante a permanência na universidade, 190 (43%) disseram ter acessado algum


auxílio de assistência estudantil, sendo que, a partir do grupo que acessou 79 (41,5%)
utilizou o auxílio moradia durante a graduação. Quanto ao auxilio permanência, 177 (93%)
utilizou durante a graduação e o auxílio alimentação 141 (74%).
Na participação de projetos (Pesquisa, Extensão, Licenciar, Pet), 287 (65%)
participou durante o ensino superior.

Inserção profissional e acesso a pós-graduação

Em relação a inserção profissional dos egressos, quando perguntado a respeito do


tempo entre a obtenção do primeiro trabalho na área, 44% dos formados apontaram que
até o momento não tinham conseguido trabalho na área de formação, 11% demorou
cerca de 2 a 6 meses, 6% de 7 a 12 meses, 9% já trabalhava na área antes mesmo de
ingressar no curso e 12% conseguiu ingressar na área de formação durante o curso. O
gráfico 2 ilustrará tais informações:

Gráfico 2- Tempo de obtenção do primeiro trabalho na área

0.44
Até hoje não consegui trabalho na área
De 2 a 6 meses
de 7 a 12 meses
Já trabalhava na área
Mais de 1 ano
Menos de 1 mês
0.11 0.12 0.12
0.09 Nenhum, consegui o primeiro trabalho na área durante o curso
0.06 0.06

Segundo Reis (2015), citado por Corseuil (2020, p.505) a busca por um emprego
tem uma duração muito maior entre os jovens que tentam o seu primeiro emprego. O
autor também aponta que o primeiro emprego tende a apresentar características de pior
qualidade em dimensões relaciona das a salário, informalidade e estabilidade.
Tabela 4- Situação profissional no momento atual
Qual é a sua situação profissional no momento atual? Frequência %
Estou desempregado 73 17%
Estou em outro trabalho na área, diferente do primeiro 90 20,5%
Estou me dedicando somente aos estudos 33 7,5%
Estou no primeiro trabalho na minha área de formação 101 23%
Estou trabalhando em outra área 143 32%
Total 440 100%

A tabela 2 representa a situação profissional dos egressos no momento em que


responderam à pesquisa, 17% estão desempregados, 20,5% estão em um trabalho na
área diferente do primeiro que obtiveram, 7,5% estão se dedicando aos estudos, 23%
estão no primeiro trabalho na área e 32% estão trabalhando em outra área diferente da
formação. Ou seja, temos 49% dos sujeitos desempregados e trabalhando fora da área
de formação e 51% dos formados estão na área de formação e dedicando-se
exclusivamente aos estudos.

Quanto ao prolongamento dos estudos, 178 sujeitos apontaram ter dado


continuidade aos estudos em diferentes níveis da pós-graduação. Sendo que 125
realizaram ou estão realizando especialização, 40 fizeram um mestrado, 12 doutorados e
34 efetuaram uma outra graduação.

Considerações finais

Diante do exposto podemos constatar que a universidade federal do Paraná Setor


Litoral tem um perfil que se caracteriza por um número majoritário de estudantes brancos,
isto apesar do importante avanço da expansão do ensino superior e das políticas de
acesso as universidades por meio das ações afirmativas. Apesar disso, pode-se dizer que
o Setor é composto principalmente por oriundos de grupos desfavorecidos da sociedade,
onde há uma maioria que é egressa de ensino médio público. Quanto a cumprir com o
papel que foi proposto em seu Projeto Político Pedagógico, que é contribuir com o
desenvolvimento da comunidade local, a implantação da universidade representou e
apresenta oportunidade de acesso para a população local caracterizada por caiçaras,
quilombolas, pescadores, agricultores, indígenas, população do campo e etc., onde não
havia instituição de ensino superior público e gratuito na cidade, isto além das inúmeras
atividades que são e podem ser desenvolvidas junto com a comunidade como o ICH e o
projeto de aprendizagem. Além disso, a instituição como mostra os resultados, é marcada
principalmente pela população de Matinhos, seguido por Paranaguá.
O município que abriga a instituição, é um município litorâneo que possui suas
peculiaridades em relação aos postos de trabalho, que emergem principalmente na
sazonalidade, dessa maneira reforça-se ainda mais que para os graduandos da  UFPR
Setor Litoral é indispensável as políticas permanência visto estes vêm de um grupo social
desfavorecido e as oportunidades de trabalho são estreitas na cidade, além dos que
ingressam sendo de outras cidades e estados, tendo como empecilhos moradia,
alimentação, custos com o curso, entre outros. Esse conjunto de informações fortalecem
a importância das políticas inclusivas para que essa população possa acessar as
universidades e o papel fundamental das bolsas de permanência, das bolsas de estudos
para os alunos oriundos da classe trabalhadora garantido que estes possam se inserir e
manter-se no ensino superior, sendo que a educação ainda se apresenta como um
privilégio. Por fim, percebe-se que o papel do observatório estudantil é essencial para
compreender quem está dentro da universidade, o que estes sentem em relação ao
currículo do curso e universidade, em relação a sua própria permanência e partir do
subsidio dessas informações universidade pode se auto avaliar, mudar, redefinir-se e
buscar novas estratégias.

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