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DESAFIOS PARA O DESENVOLVIMENTO E CONSOLIDAÇÃO DA

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO EXÉRCITO BRASILEIRO EM


TEMPOS DE CULTURA DIGITAL

Cláudia Rodel Bosaipo Salles da Silva (claudiarbssilva@yahoo.com.br, Centro de Educação a


Distância do Exército)
Sandra Nascimento da Hora (snhora@gmail.com, Centro de Educação a Distância do Exército)

RESUMO. A tecnologia tem avançado a cada dia e produzido grandes impactos nas relações culturais,
sociais e educacionais. É possível observar que, na atual sociedade da informação, um novo paradigma
de construção do conhecimento, propiciado pela mobilidade, tem se revelado: as pessoas estão cada vez
mais conectadas, produzindo e compartilhando conteúdos da palma de suas mãos o que as mantém
distantes da posição de meros consumidores ou receptores de informação. Neste artigo, a discussão
girará em torno da produção do material didático para Educação a Distância e da necessidade de uma
postura mais inovadora por parte dos agentes de ensino (professores, tutores, coordenadores,
conteudistas), como requisitos fundamentais para melhoria da qualidade e consolidação da EAD no
Exército Brasileiro.
.
Palavras-chave: Educação a distância. Sociedade da informação. Cultural digital. Inovação pedagógica.
Exército Brasileiro.

ABSTRACT. Challenges for the development and consolidation of distance education in Brazilian
Army in digital culture times. Technology has advanced every day and produced major impacts on
cultural, social and educational relationships. It is possible to observe that, in the current information
society, a new paradigm of knowledge construction, promoted by mobility, has been revealed: people
are increasingly connected, producing and sharing content from the palm of their hands which keeps
them away from position of mere consumers or recipients of information. In this article, the discussion
will revolve around the production of the didactic material for Distance Education and the need for a
more innovative posture by the teaching agents (teachers, tutors, coordinators, contentists), as
fundamental requirements for quality improvement and consolidation. from EAD at Brazilian Army.
Keywords: Distance education. Information society. Digital Cultural. Pedagogical innovation. Brazilian
Army.
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1. INTRODUÇÃO
A educação a distância no Exército Brasileiro, desenvolvida desde a década de 1970, já
encontrou seus pontos de ancoragem na instituição, o que significa dizer que, como modalidade
de ensino, está oficializada e consolidada em todos os níveis de ensino regulados pela legislação
de ensino militar.
De suas atividades iniciais aos tempos atuais, os processos de ensino e aprendizagem
passaram por grandes transformações nos cenários nacional e internacional, ocasionadas pela
incorporação das tecnologias de informação e comunicação nas práticas sociais e relações
interpessoais.
A sociedade está vivendo um momento em que os avanços tecnológicos produzem cada
vez mais impactos nas relações culturais, sociais e educacionais. Nesse contexto, é possível
observar que as inúmeras viabilidades de interação, propiciadas pela mobilidade, permitem que
os sujeitos superem as barreiras do tempo e do espaço e promovam um diálogo entre o mundo
físico e o chamado mundo digital.
Sob essa perspectiva, entende-se que, na atual sociedade da informação, um novo
paradigma de construção do conhecimento tem se revelado: as pessoas estão cada vez mais
conectadas, produzindo e compartilhando conhecimentos a partir da palma da mão, o que as
movimenta da região de simples consumidores ou receptoras de informação para a de
produtoras de conteúdos informacionais, lúdicos, instrucionais e de outras categorias.
A respeito do efeito dos avanços tecnológicos na educação, Moran (2007, p.1) destaca
que “as mudanças que estão acontecendo na sociedade, mediadas pelas tecnologias em rede,
são de tal magnitude que implicam - a médio prazo- em reinventar a educação como um todo,
em todos os níveis e de todas as formas”. Não há dúvidas de que, em alguns anos, os processos
educacionais serão muito diferentes dos que haviam no passado e pouca similaridade
encontrarão com as práticas atuais.
Por outro lado, é preciso considerar que a incorporação das novas tecnologias digitais
não tem como objetivo romper de vez com as tecnologias convencionais, mas, sim,
complementá-las, a fim de tornar os processos de ensino e aprendizagem mais eficazes na
condução da educação presencial e/ou a distância. A esse respeito, Barros (2014) enfatiza que:
Quando se fala em aprendizagem no espaço virtual, significa não somente o uso de
ferramentas ou a substituição do diálogo e da reflexão dos conteúdos científicos do
sistema formal de ensino, mas uma modificação nas metodologias e materiais que
viabilizam esse processo, bem como o enriquecimento e atualização dos conteúdos
que fazem parte dele. (BARROS, 2014, p. 124)
Alinhado a essa abordagem pedagógica, o presente estudo nasce de uma pesquisa
inicial, amparada em estudo de caso de práticas voltadas à apresentação e ao desenvolvimento
de conteúdos no ambiente virtual de aprendizagem utilizado pelos agentes de ensino que atuam
na EAD do ensino superior do Exército Brasileiro.
Neste artigo, a discussão girará em torno dos desafios para o desenvolvimento da
educação a distância no Exército Brasileiro em tempos de cultura digital, tendo como foco
algumas questões que atravessam a capacitação docente e a produção do material didático para
EAD, considerando a necessidade de desenvolvimento de uma postura mais inovadora por parte
dos agentes de ensino (professores, tutores, coordenadores, conteudistas), como requisito
fundamental para melhoria da qualidade da EAD na instituição.
O percurso de apresentação da pesquisa será iniciado por uma breve contextualização
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sobre a educação no Exército Brasileiro, o que servirá de âncora para a abertura do tópico sobre
a educação a distância na instituição estudada, com destaque para os documentos norteadores
que possibilitaram sua consolidação. Na sequência, serão apresentados os desafios para o
desenvolvimento da EAD em um cenário de cultura digital, com foco na capacitação docente,
nas características do perfil do aluno da educação a distância de nível superior do Exército
Brasileiro e na infraestrutura de tecnologia da informação. E, por fim, será apresentada a
proposta de capacitação para agentes de ensino a ser implementada na modalidade EAD para
agentes dos estabelecimentos de ensino da instituição.

2. UM BREVE SITUAR SOBRE A EDUCAÇÃO SUPERIOR NO EXÉRCITO


BRASILEIRO
A instituição Exército Brasileiro desenvolve atividades de ensino, de maneira
sistematizada, desde o início do século XIX, com a criação da Real Academia Militar por D.
João VI, cujo objetivo era atender à necessidade de preparo de oficiais que já constituíam um
corpo de tropa militar integrado por um elevado percentual de brasileiros. De acordo com o
historiador Tavares:
A guarnição militar do Rio de Janeiro já era constituída em 80% de brasileiros.
Tornava-se necessário elevar o padrão profissional e cultural dos seus oficiais, que
não podiam ser preparados pelas escolas existentes na Corte, mas revelaram
comprovada capacidade para comandar homens e realizar empreendimentos, em
benefício da defesa do País, das suas fortificações e dos mais diversos encargos
públicos. (TAVARES, 1985, p. 22)
A Real Academia Militar tinha como função inicial realizar a formação intelectual e
profissional de oficiais que seriam destinados a servir em diferentes regiões do país; o que seria
promovido por meio de uma educação uniforme, cujo objetivo era garantir que os
conhecimentos adquiridos na capital pudessem ser aplicados em qualquer lugar para onde os
encargos da carreira os levassem (TAVARES, 1985). De acordo com o pesquisador Murilo
Santos (1991, p.73) “o novo estabelecimento estava orientado, basicamente, para a formação
profissional do oficial do Exército, com o entendimento que se tinha dessa questão no início do
século XIX”.
A partir da década de 1870, a Real Academia Militar obtivera crescimento no âmbito
do ensino superior, o qual se consolidou no século passado com as novas dimensões de
tratamento dado ao ensino militar, a partir de questionamentos sobre o embasamento e
treinamento necessários à preparação e desempenho da função do militar (SANTOS, 1991).
Nesse contexto, têm início no Exército Brasileiro as discussões sobre formação, ensino superior
e currículos, o que inscreve os dizeres construídos na esfera do saber-fazer bélico em um
discurso da ordem do saber-fazer pedagógico:
Verdadeiramente a profissão militar (em seu sentido de guerra) exige uma formação
superior, porém não é igual em parte alguma do mundo. Nem precisam assemelhar-
se os currículos de cada uma das Forças, nem tampouco entre Forças de diferentes
países. [...] As Escolas Militares, embora possuam os mesmos objetivos “preparar
para a guerra”, exigem métodos, bases e currículos completamente diferentes.
(SANTOS, 1991, p. 74)
As discussões sobre formação profissional, currículos e processos pedagógicos
tiveram marcos importantes ao longo da história do Exército, como é o caso da contratação da
Missão Militar Francesa, em 1919, que deixou vários legados para a instituição, dentre os quais,
pode-se destacar a implementação de novas bases para o funcionamento dos cursos nas escolas
militares, o que elevou o nível dos estudos e promoveu o aprimoramento cultural e profissional
dos militares dos quadros.
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Ainda no decorrer do século XX, um outro marco apresenta-se no cenário da educação


militar, a adoção do ensino a distância, que surge, já naquela época, com o propósito de oferecer
formação continuada aos militares que, após sua formação inicial, eram destinados a servir em
locais distantes dos principais estabelecimentos de ensino da instituição.
Assim, nascia a educação a distância no Exército Brasileiro.

3. A INSTITUCIONALIZAÇÃO EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO EXÉRCITO


BRASILEIRO

A Educação a Distância (EAD) no Exército Brasileiro não nasceu após o surgimento da


Internet, a modalidade existe desde a época dos cursos de instrução que eram entregues pelo
correio, sofrendo evoluções ao longo de todo o período histórico.
Na instituição, os cursos ministrados na modalidade de Educação a Distância tiveram
início na década de 1970. Há registros históricos de que o Exército Brasileiro inaugurou os
primeiros cursos por correspondência, não só no âmbito do Exército, mas também das
demais Forças, por meio dos quais especializou seus quadros em suas áreas de
atuação, como é o caso do Estágio de Análise Ocupacional e Operacionalização de
Objetivos Educacionais, oferecidos pelo Sistema de Telensino do Exército.
A década de 1980 marca o início do Telensino de Idiomas, projeto considerado
pioneiro na área de educação a distância, nos idiomas Alemão, Espanhol, Francês e Inglês, com
ampliação para os idiomas Italiano e Russo, na década de 1990. Os cursos eram direcionados
aos militares de carreira, nos intervalos compreendidos entre os cursos de formação,
especialização e altos estudos, com o objetivo de manter a fluência e adquirir aprofundamento
dos conhecimentos obtidos nos idiomas escolhidos, nos níveis básico, intermediário e
avançado.
A regulamentação das atividades de EAD no Exército Brasileiro ocorre a aprtir do ano
de 1994, com a publicação das Diretrizes para o Ensino a Distância no Exército Brasileiro, e
em 1995, com a publicação das Normas para Funcionamento do Sistema de Ensino a Distância
no Exército Brasileiro, documento que estabelecia os objetivos do ensino a distância,
apresentava os conceitos básicos, as características, a organização, a metodologia para o
planejamento, o desenvolvimento e a execução de projetos relativos ao EAD no Exército
Brasileiro (BRASIL, 1995).
A normatização publicada em 1995 considerava o ensino a distância como recurso
complementar do Ensino Militar, o que possibilitava a interação Aluno-Escola,
independentemente da necessidade da contingência física. Nos dizeres da documentação, “o
EAD não substitui, concorre ou se sobrepõe ao sistema de ensino convencional, mas, sim, o
complementa (BRASIL, 1995, p.6)
Essas ações antecedem o reconhecimento da EAD como modalidade de ensino pelo
Governo Federal em 1996, a partir da promulgação da nova Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB - Lei 9394/96), de 20 de dezembro de 1996, que foi sucedida por
outras formas de regulamentação, como o Decreto n. 2.494, de 10 de fevereiro de 1998, que
regulamentou o artigo 80 da LDB, conceituando a educação a distância, fixando diretrizes
gerais para a autorização e reconhecimento de cursos e credenciamento de instituições.
Com o advento da modernização do ensino no Exército, em vigor a partir de 1995, foram
ofertados pela Força os cursos de pós-graduação lato sensu a distância, com envio de material
impresso pelos Correios, nas áreas de Atualização Pedagógica, Docência do Ensino Superior,
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Supervisão Escolar e Psicopedagogia. Os cursos eram desenvolvidos pelo Exército em


convênio com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no período de 1997 a 2001.
No decorrer desse período, foram publicados outros documentos reguladores do
ensino a distância na instituição, como a Portaria nº 13, do Estado-Maior do Exército, que
estabeleceu, em 1999, as Diretrizes Gerais para o Ensino a Distância no Exército Brasileiro.
Com a demanda de ampliação de oferta de cursos em EAD, em 2002, foram publicadas as
Diretrizes dos Cursos de Pós-graduação a Distância estabelecidos por intermédio de convênios
firmados entre o Departamento de Ensino e Pesquisa (DEP) e Instituições de Ensino Superior,
ficando sob a responsabilidade do Centro de Estudos de Pessoal a gestão dos cursos oferecidos.
Dentre os objetivos elencados na portaria, destacamos dois que se aproximam muito dos
objetivos das primeiras ações de EAD na instituição.
c. Proporcionar aos militares e aos civis, a oportunidade de ampliar a sua
capacitação por meio do autoaperfeiçoamento.
d. Proporcionar aos militares e aos civis, que servem ou residem em áreas carentes,
condições de realizarem cursos do Ensino Regular. (BRASIL, 2002, p.1).
Interessante observar que o documento estabelecia parâmetros para a apresentação dos
conteúdos dos cursos, orientando que deveria ser feita por meio de material didático impresso,
de CDROM, da Internet e de outros recursos instrucionais que seriam disponibilizados aos
alunos de acordo com a programação de cada curso, o que já apontava para a utilização e
exploração dos recursos da web 1.0 na educação a distância.
A partir de 2003, alguns cursos presenciais no Exército Brasileiro foram reestruturados
e passaram a funcionar na modalidade semipresencial, com a primeira fase realizada a
distância e a segunda, presencial. Esse modelo migrou para os formatos possibilitados pelo
advento da web 2.0, a partir de 2006, com a oferta de cursos em um ambiente virtual de
aprendizagem (AVA) desenvolvido e operado por uma instituição civil contratada para esse
fim. É importante destacar que os conteúdos eram produzidos, ora por militares que conduziam
os cursos, ora por profissionais da empresa contratada, quando o curso não era conveniado
com instituição de ensino superior.
Com o crescimento de cursos ofertados na modalidade a distância ou semipresencial
no Exército, o EME revoga a portaria de 1999, com a publicação da Portaria º 185-EME, de
21 de dezembro de 2010, estabelecendo novas Diretrizes para a Educação a Distância no
Exército Brasileiro Neste ponto, torna-se relevante chamar a atenção para a adoção do termo
educação em lugar de ensino, utilizado na diretriz anterior, fruto da alteração do nome do
Departamento de Ensino e Pesquisa para Departamento de Educação e Cultura do Exército,
em dezembro de 2008.
No processo de consolidação da EAD na Força, o Comando do Exército criou em 2015,
o Centro de Educação a Distância do Exército, que é uma organização militar destinada a
assumir a gestão da EAD em suas dimensões tecnológicas, pedagógicas e administrativas, o
que promoveu uma mudança de rumo no desenvolvimento da educação a distância corporativa,
tendo em vista que o desenvolvimento e o controle passaram de uma instituição civil para uma
militar, o que gerou uma significativa economia de recursos para o orçamento da União.
Essa ação significou, também, um passo primordial para a implementação de uma
identidade institucional para o AVA; o que possibilitou acompanhar as tendências e inovações
pedagógica e tecnológica, com a incorporação dos recursos de interação e interatividade da
web 3.0; bem como dar os primeiros passos em direção às propostas educacionais da web 4.0,
o que mostra estar de acordo com o estabelecido na Diretriz de Educação e Cultura do Exército
Brasileiro 2016-2022, publicada em dezembro de 2015.
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O Exército Brasileiro, como parte de uma sociedade moderna e tecnológica,


constitui-se em uma Instituição em constante aprendizagem e que deverá assimilar,
regularmente, as mudanças que ocorram em uma sociedade globalizada. Cada vez
mais, a velocidade dessas transformações aumentará e exigirá da Instituição a
capacidade de avaliá-las e, se for o caso, implementá-las em seus processos
operacionais, organizacionais e também educacionais, considerando o ajustamento
das possíveis mudanças com os valores maiores da Instituição. (BRASIL, 2015,
p.5).
Com a criação do Centro de Educação a Distância do Exército (CEADEx), tornou-se
necessária a revogação da Diretriz de Educação a Distância, publicada em 2010. Assim, em
novembro de 2016, é aprovada a diretriz atualizada, que logo em seu primeiro artigo vem
“consolidar a Educação a Distância (EAD) como modalidade educativa no Sistema de Ensino
do Exército (SEE), em consonância com o Plano Estratégico do Exército Brasileiro (PEEx
2016-2019) e o Projeto Político-Pedagógico da Instituição” (BRASIL, 2016, p.1).
Oficialmente consolidada, a educação a distância apresenta-se como uma solução que
cresce a cada ano na esfera quantitativa, fruto das orientações do escalão superior. Em sua
diretriz de 2019, o Chefe do Departamento de Educação e Cultura do Exército incentiva os
estabelecimentos de ensino a planejarem “a inserção da modalidade EAD quando da criação
de cursos e estágios ou atualização de currículos” (BRASIL, 2019, p.5).
Nesse sentido, até o presente momento, a instituição possui 170 cursos rodando no
ambiente virtual de aprendizagem, sendo 35 totalmente a distância e 135 semipresenciais.
Com isso, um novo desafio agora se impõe aos responsáveis pela gestão e condução dos
cursos hospedados no AVA, o de melhorar a qualidade das práticas pedagógicas
desenvolvidas na sala de aula virtual, considerando o cenário de cultura digital em que
estamos inseridos.

4. DESAFIOS PARA O DESENVOLVIMENTO E CONSOLIDAÇÃO DA EAD NO


EXÉRCITO BRASILEIRO EM TEMPOS DE CULTURA DIGITAL

Para iniciar este tópico, é válido destacar o conceito de cultura digital apresentado por
Pontes (2018), que a entende como:
Um espaço aberto, transversal, plástico, afetivo, estético e atemporal, que favorece
e incita a reorganização da sociedade, influencia os padrões de identidade, criando
novas formas de interação social, que se (reconstrói e se modifica, a partir das
relações humanas e coletivas, com os aspectos simbólicos e materiais. É
estabelecida a partir das tecnologias digitais, mas se desenvolve para além delas.
(PONTES, 2018, p.46-47).
Como apresentado ao longo do percurso deste trabalho, a educação a distância
apresentou diferentes características e desafios em sua forma de condução no decorrer de sua
história de consolidação no Brasil e nas instituições que a adotaram como uma das modalidades
de desenvolvimento dos processos de ensino e aprendizagem. No contexto da web 3.0 e 4.0,
novos desafios comparecem para gestores, professores, conteudistas, tutores e alunos, no que
tange às ações para desenvolvimento e consolidação da EAD em tempos de cultura digital.

4.1 Desafios para a capacitação docente


Entendemos que há um grande desafio para as equipes de gestão da EAD, motivado
pela necessidade de pesquisa e acompanhamento constante de novas metodologias e recursos
para desenvolvimento da educação a distância. As orientações pedagógicas devem primar pelo
trabalho multidisciplinar, sempre que possível, para reestruturação curricular, com base nas
atuais relações dos sujeitos com a informação e com os processos ensino e aprendizagem. Na
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Diretriz do Chefe do Departamento de Educação e Cultura do Exército/2019, é apresentada a


seguinte orientação para os estabelecimentos de ensino, a fim de motivá-los a:
inovar em práticas educativas visando ao emprego de metodologias ativas, no ensino
presencial e a distância, além de atividades que envolvam realidade virtual, realidade
aumentada e jogos de negócios, a partir da utilização das Tecnologias Digitais da
Informação e Comunicação; investir em melhorias na qualidade do material didático
nas modalidades presencial e a distância. (BRASIL, 2019, p. 5).
Para a atividade docente, de professor, tutor ou conteudista, o desafio torna-se o
planejamento de ações pedagógicas para um ambiente em que as práticas de interação e
interatividade devem conduzir o ritmo da aprendizagem do aluno. E, ainda, o desafio pode
surgir no entendimento do que significa adotar uma postura inovadora com base em uma
cultura digital, tendo em vista que grande parte dos docentes da EAD do Exército Brasileiro
tiveram formação em uma cultura tradicional, textual, presencial ou desenvolvida nos
ambientes de educação 1.0 e 2.0.
Pallof & Pratt (2015) enfatizam que os docentes precisam de capacitação e auxílio na
transição do ambiente presencial para o online; o que com outras palavras, é defendido por
Pontes (2018), ao afirmar que:
A cultura digital na educação depende de pensá-la de forma diferente, trazendo um
caminho inverso do currículo tradicional, que postula conceitos técnicos em favor
da memorização e reprodução, reforçando a conservação e a manutenção de antigas
práticas para garantir a modernidade na utilização acrítica da tecnologia. De alguma
forma, nessas concepções as TDIC necessitam ser aprendidas e dominadas.
(PONTES, 2018, p.57).
Sob esse enfoque e visando cumprir sua missão de capacitar agentes de ensino para
atuação na EAD, o Centro de Educação a Distância do Exército pesquisou e testou uma série
de soluções que pudessem apoiar o saber-fazer docente. Tal iniciativa resultou na oferta de
uma capacitação presencial voltada à hipertextualidade e à produção de recursos textuais para
impressão, recursos audiovisuais e recursos interativos para educação a distância, pautada na
utilização de softwares e plugins gratuitos disponibilizados na Internet.
O objetivo da capacitação era fornecer instrumentos aos agentes de ensino da EAD do
Exército Brasileiro, que pudessem auxiliá-los na melhoria das práticas pedagógicas, a partir da
relação com o material didático.
Destaque foi dado à utilização da linguagem nos materiais elaborados para
desenvolvimento da capacitação, identificando o uso de uma linguagem rica em recursos que
contemplem as matrizes verbal, visual e sonora, a fim de oferecer múltiplas possibilidades de
interação do aluno com o conteúdo a ser trabalhado, o que remete ao conceito de hipertexto,
trabalhado por Xavier (2009):
o hipertexto se diferencia, essencialmente, do texto impresso por hospedar e exibir em
sua superfície formas outras de textualidade, além da modalidade escrita da
linguagem. Ele acondiciona outros modos de enunciação, tais como as imagens em
vídeo, ícones animados e sons, todos interpostos ao mesmo tempo na tela (XAVIER,
2009, p. 118).
Com essa ação, o CEADEx buscou orientar e incentivar os agentes de ensino a
construírem suas salas de aula virtuais com mais diversidade de mídias para apresentação dos
conteúdos aos alunos; cujo resultado pode ser observado na figura 1, a seguir.
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Figura 1: Imagem da sala virtual da Capacitação Produção de Mídias para EAD

Nesse contexto, podemos entender que as novas práticas no ambiente digital estão
relacionadas às ações de navegabilidade, que é explicada por Simão Neto (2012, p. 138),
como “a possibilidade que temos de “surfar” nas informações”.

4.2 Desafios para as novas práticas de interação e interatividade com base no público-
alvo
Nos ambientes virtuais de aprendizagem, a comunicação entre professores e alunos é de
fundamental importância para que se obtenha sucesso no processo de construção do
conhecimento. Como afirmam Moore & Kearsley (2008), “o ensino a distância eficaz depende
de uma compreensão profunda da natureza da interação e de como facilitá-la por meio de
comunicações transmitidas com base em tecnologia”. Os autores destacam três tipos diferentes
de interação, a saber: interação do aluno com o conteúdo, por meio da qual transforma em
conhecimento pessoal a matéria que lhe é apresentada para estudo; interação do aluno com o
instrutor (professor, tutor), para que este o auxilie na interação com o conteúdo e o ajude a
aplicar o que está aprendendo; e interação do aluno com os outros alunos, em que a troca de
ideias são extremamente valiosas e leva os participantes a refletirem e a construírem
conhecimentos sobre os conteúdos apresentados.
Assim, outro importante aspecto observado na produção de recursos para uma cultura
digital refere-se à natureza do público-alvo, que apontará para o nível de maturidade a ser
considerado na elaboração do conteúdo textual e nas escolhas dos componentes audiovisuais
e interativos. Nos processos de interlocução a distância, os efeitos de sentido, significação,
que são atribuídos aos textos (verbais ou não-verbais), devem ser preocupação fundamental.
É o leitor/aluno que, com sua história de vida e de leituras, atribuirá sentidos aos textos e
recursos selecionados e/ou produzidos pelo professor (NEDER, 2005).
9

Consideramos que o aluno da educação a distância de nível superior do Exército


Brasileiro encontra um primeiro desafio em sua fase inicial de atividades no ambiente virtual,
tendo em vista que os cursos de formação são, ainda, desenvolvidos totalmente na modalidade
presencial, ficando a modalidade a distância como uma das fases dos cursos de especialização,
aperfeiçoamento e altos estudos.
Nesse sentido, é possível apontar dificuldades dos alunos dessa categoria ao iniciar um
curso em EAD, tais como: entendimento de que o ritmo da educação é diferente do presencial;
adaptação à interface do ambiente de aprendizagem; familiarização com as ferramentas e
recursos do curso; entendimento do modelo do curso e dos comportamentos e atitudes
esperados dos alunos; administração do tempo e organização para realização das atividades
previstas. A respeito da preparação do primeiro momento de ingresso dos alunos no ambiente
virtual, Mill e Pimentel (2010) destacam que:
Antes de tudo, a cultura das salas online precisa ser compreendida e incorporada por
todos esses novos habitantes do ciberespaço escolar. O desenvolvimento de atividades
que possam acolher esses novos participantes tem de ser o primeiro momento
educacional de qualquer curso. É preciso apresentá-los às especificidades da cultura
escolar virtual e lhes oferecer oportunidades de vivenciar os principais códigos, regras
e valores do novo ambiente em que irão viver, conviver e aprender. Além disso, a
maioria das habilidades e atitudes não é requerida dos estudantes nos cursos face a
face: disciplina, organização, cumprimento de prazos, responsabilidade pessoal,
participação ativa e interação são requisitos exigidos aos estudantes de cursos a
distância e não necessariamente desenvolvidos em cursos presenciais.
Por outro lado, o aluno da EAD do Exército Brasileiro, assim como da maioria das
instituições do Brasil e do exterior, é um adulto, cuja motivação e desenvolvimento da
aprendizagem podem ser enquadrados na sigla CHAVE, que sintetiza o ensino por
competências, em implementação na instituição desde 2012. Dito de outro modo, o ensino
por competências no Exército Brasileiro é voltado para o desenvolvimento de
conhecimentos, habilidades, atitudes, valores e experiências, o que pode, de certa forma,
ser associado aos princípios de Knowles (2011): necessidade do aprendiz de saber,
autoconceito do aprendiz, experiência anterior do aprendiz, prontidão para aprender,
orientação para a aprendizagem e motivação para aprender.

4.3 Desafios para a adequação de infraestrutura de Tecnologia de Informação e


Comunicação
Atualmente, é de grande importância o papel exercido pela infraestrutura de tecnologia
da informação (TI) no ambiente virtual de aprendizagem para desencadear apropriadamente o
estímulo e exploração do material didático, e, de fato, auxiliar o aprendizado do aluno. A
infraestrutura de TI constitui-se pelo conjunto de informações, sistemas, hardware, softwares,
plataformas, cabeamento de rede, sistemas operacionais, virtualização e conexões de internet.
Um ambiente com alta disponibilidade, boa performance de execução, instalação de
recursos e tecnologias atualizadas é um ponto forte com o objetivo de colaborar com os
processos ensino e aprendizagem, tanto quanto com o desenvolvimento da trilha de
aprendizagem a ser percorrida pelo aluno.
Pallof & Pratt (2015, p. 81) afirmam que “cada instituição tem suas próprias
necessidades, seus requisitos e seus recursos disponíveis”, o que nos leva a considerar que, ao
se planejar uma infraestrutura de TI acima da média, a fim de ser o arcabouço do ambiente
virtual, a consequência é a oferta e a entrega aos usuários de desempenho, agregando valor e
bons resultados aos processos educacionais que são intrínsecos à plataforma educacional.
Nesse sentido, a tecnologia torna-se uma grande aliada à oferta de uma plataforma
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constantemente disponível e, seguindo a filosofia da educação a distância, permitindo ao aluno


estudar a qualquer momento e em qualquer lugar distante geograficamente.
Na Diretriz do Chefe do Departamento de Educação e Cultura do Exército,
encontramos a orientação que sinaliza para o fato de que “a tecnologia da Informação e
Comunicação (TIC) estará presente em todas as atividades e, alinhada com a capacitação
continuada dos docentes, se constituirá como um dos principais elementos de inovação das
metodologias do ensino” (BRASIL, 2015, p.2).
Atualmente, incentiva-se a utilização de materiais didáticos audiovisuais e interativos,
o que exige uma boa performance de processamento, visando à disponibilização de um
ambiente mais atrativo, motivador e interativo. Para que esta situação seja bem-sucedida, a
infraestrutura de TI é um forte elo de permissionamento, ou seja, a infraestrutura permeia a
qualidade de execução dos processos educacionais na educação a distância do Exército
Brasileiro.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A sociedade brasileira tem passado por inúmeras transformações provocadas pelo
rápido e crescente avanço tecnológico. Essas mudanças apresentam reflexos em vários vetores
sociais: político, econômico, estratégico, educacional, dentre outros, de forma que os atores
envolvidos em cada uma dessas esferas precisam acompanhar sua evolução. Neste contexto, a
educação surge com uma nova proposta, fundamentada em novas práticas de desenvolvimento
dos processos ensino e aprendizagem, os quais, também, trazem consigo uma nova forma de
relacionamento entre professor e aluno, modificando as estratégias de construção do
conhecimento.
Nesse contexto, desenvolver um projeto de capacitação que pensa no preparo do
docente para atuação nesse cenário de múltiplas conexões e possibilidades surge como ação
imprescindível à atualização de suas práticas pedagógicas. Na mesma linha de ação, torna-se
fundamental tratar da questão da autoria em suas múltiplas dimensões, a fim de alertar e
proteger o docente, bem como, e principalmente, desenvolver neste a prática de autoria para
produção do material didático que servirá de base ao conteúdo a ser trabalhado.
Com o desenvolvimento da capacitação realizada pelo CEADEx, observou-se que, no
cenário de inovação e transformação experimentado pelo Exército Brasileiro, é possível
apresentar aos agentes de ensino soluções que permitem integrar tecnologias impressas,
analógicas e digitais, que possibilitam diferentes formas de comunicação e interação entre os
agentes de ensino e interatividade com os conteúdos trabalhados, na integração de diferentes
realidades no ambiente virtual de aprendizagem. No entanto, é importante ressaltar que o papel
transformador da educação não ocorrerá pelo simples adoção das tecnologias na educação; mas,
sim, pela maneira forma como são exploradas no percurso pedagógico para o desenvolvimento
de trilhas de aprendizagem.
O ambiente virtual que serve de aparato para a condução de cursos na modalidade
EAD no Exército é subsidiado por um contexto tecnicamente apoiado em camadas de
sistemas operacionais, tecnologias de linguagem de programação, banco de dados,
aplicativos. Ao se realizar essa estruturação, de forma a permitir um intercâmbio e visando à
performance acima da média, permite-se um ganho de execução no momento em que é
realizada a trilha de aprendizagem pelo aluno, permitindo ao mesmo, o acesso aos materiais
didáticos, fundamentalmente calcados em softwares que exigem bom processamento, não
havendo gargalos ou interrupções, com o objetivo da conquista de melhor absorção de
conteúdo.
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