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7) A poesia do Romantismo Brasileiro

Salvatore D’onofrio apresenta o movimento Romantismo de forma universal,


caracterizando como fenômeno artístico-literário relacionado ao desenvolvimento
sociocultural europeu durante a segunda metade do século XVIII, onde foram evidenciadas
e necessárias a liberdade de sentir, de viver e de expressar-se contra o absolutismo
derrotado na Alemanha e Inglaterra, onde surge como movimento histórico expressando-se
diferentemente nas formas política, religiosa, social e estética.
No Brasil, o movimento surge como forma de negação, não somente à forma de
expressão da poesia, como também ao lugar do homem no mundo e na sociedade. Para os
românticos luso-brasileiros o que importa agora é o homem e a natureza, não mais a
natureza e a arte, como era na estética setecentista.
Já Antônio Cândido, no Prefácio da 1ª Edição da Formação da Literatura Brasileira,
Volume 1, começa alertando seus leitores: “Cada literatura requer tratamento peculiar, em
virtude dos seus problemas específicos ou da relação que mantêm com outras. A brasileira
é recente, gerou no seio da portuguesa e dependeu da influência de mais duas ou três para
se constituir.” Mais tarde ainda, neste mesmo texto, falará que “Comparada às grandes, a
nossa literatura é pobre e fraca. Mas é ela, não outra, que nos exprime.” Sendo essa versão
escrita entre 1945 e 1951 e publicada em 1957 é natural entender que quando publicada a
sexta edição, em 1981, o autor justifica a necessidade de atualizar as investigações diante
aos avanços que os estudos literários tiveram nestas décadas e ainda finaliza dizendo: “O
que somos é feito do que fomos, de modo que convém aceitar com serenidade o peso
negativo das etapas vencidas.”

● A HL tem se preservado, tradicionalmente, apenas como uma exigência


caduca do regulamento dos exames nacionais.

É com esse pensar de Cândido que entendo a literatura como elemento vivo e
sempre atual. Mesmo quando falado em gerações pré determinadas em tempo cronológico.
Portanto, ao pensar sobre a Poesia do Romantismo Brasileiro, também penso: por que ela
ainda é cobrada como conhecimento básico ao ingresso universitário? Por que se faz
necessária no conteúdo programático do Ensino Médio de nossos estudantes? E como ela
pode ser apresentada aos futuros professores destes seres em formação?

Cândido ainda defende que a apresentação histórica justifica-se diante a três


características básicas que formam o que chamamos de literatura: um conjunto de
produtores literários que sejam conscientes de seu papel; diferentes tipos de receptores, e
claro, um meio de transmissão que liga o primeiro ao segundo.

CLASSICISMO ROMANTISMO

Objetivismo Subjetivismo

Condicionamento Liberdade

Razão Sentimento

Contemporaneidade Historicismo
Otimismo Pessimismo

Nobreza Burguesia

Real Fantástico

Sobriedade Embriaguez

Cultura Natureza

D’onofrio, de forma sucinta, fará uma separação cronológica da poesia brasileira em


quatro gerações, diferentemente do que encontramos em outros estudiosos brasileiros.
Para o italiano, a primeira fase caracteriza-se pela introdução da lírica romântica na nossa
cultura com Gonçalves de Magalhães sendo seu principal expoente. Já Cândido organizou
a sua apresentação por temáticas. As quais seguem:
Gonçalves de Magalhães, em Suspiros Poéticos, deixa de lado prados e blandícias
para atirar-se aos grandes valores: a Infância, a Religião, a Poesia, e sobretudo, Deus, a
cuja esfera tenta acender, pois a solidão na terra deve ser compensada. Entende-se como
intérprete de Deus e só a Ele deve prestar contas, sendo superior às relações humanas.
Num movimento de extremo individualismo, considera-se mais poeta do que pessoa, num
plano de verdadeira divindade.
Uma nova relação, portanto, em que a estatura do artista cresce até encontrar no
isolamento a atmosfera predileta.
● Revisão de mundo: A literatura agora começa a ser vista como uma
manifestação de um ponto de vista, um ângulo pessoal. Impregnado de
relativismo, a palavra é renovável a cada experiência. A lua, por exemplo,
deixa de ser a antiga Selene; deixa de ser a metáfora unívoca, a divindade
imutável de todos os momentos, para se tornar uma realidade nova a cada
experiência, soldando-se ao estado emocional do poeta. ‘
○ Gonçalves Dias: As palmeiras são metáforas dele com sua
insatisfação da realidade. A natureza é algo supremo, que o poeta
tenta exprimir e não consegue: a palavra, o molde estreito de que ela
transborda, criando uma consciência de desajuste.
○ Álvares de Azevedo:Boa parte do mal do século provém desta
condição estética: desconfiança da palavra em face do objeto que lhe
toca exprimir. Dai o desejo de fuga, tão encontrado na literatura
romântica sob a forma de invocação da morte, ou lembrança de
morrer; há nela uma corrente pessimista, para a qual a própria vida
parece o mal.
○ Castro Alves: O advento das massas à vida política, em seguida à
proletarização e à urbanização trazem para o universo dos
intelectuais poetas um termo novo e uma perspectiva inédita: Por isso
ao lado dos pessimistas encontramos os profetas da redenção
humana. O nosso Castro Alves lutou contra a escravidão negra e
saudou a república. Assim, pois, individualismo e consciência de
solidão entrecortados pelo desejo de solidariedade: pessimismo
enlaçado à utopia social e à crença no progresso, aumentam a
complexidade desse tempo patético e dourado.
Musicalidade: falar sobre a separação dos versos e sua sonoridade.
Oratória e retórica

Os primeiros românticos:

Grupo reformador que introduziram o Romantismo, reformando a poesia,


inaugurando o romance e a crítica, criando, por assim dizer, a vida literária
moderna no Brasil, com o seu arsenal de publicações, correntes.
Os primeiros românticos principiaram a sua atividade na revista Niterói
(1836), consolidaram-se com a Minerva Brasiliense (1843) e despedem-se
com a Guanabara (1849 a 55)
Três grupos: 1º Magalhães, Porto Alegre, Tôrres-Homem e Pereira-Silva; 2º
Santiago Nunes, Joaquim Noberto, Dutra e Melo, Teixeira e Souza; 3º
Fernando Pinheiro e Gonçalves Dias, com o primeiro grande exemplo de
Romantismo Completo.
Política: de modo geral, são liberais, na medida em que o liberalismo
representava então a forma mais pura e exigente do nacionalismo. Todos
aceitavam a monarquia como fruto de livre escolha do povo e, dentro de tais
limites, estavam prontos a aceitar e reverenciar Monarca - sempre mais à
medida em que iam amadurecendo e se acomodando em cargos políticos.
As maiores expressões políticas são devidas à Gonçalves Dias em
Meditações e Tôrres-Homem em O Libeto do Povo.

Resenha FORMA e SENTIDO LITERÁRIO

A linguagem poética é constituída por uma estrutura complexa, pois acrescenta ao


discurso linguístico um significado novo, surpreendente e alusivo. (Por isso se mantém na
história e é sempre atual na realidade.)

CARACTERÌSTICAS

Conotação: Por ser a língua uma forma de vida que está sempre e
necessariamente inserida em situações socioculturais e abarcar formas de trabalho
linguísticas e não-linguísticas que se interpretam mutuamente é que podemos entender a
linguagem literária como polissêmica, ambígua e por isso aberta a várias interpretações,
conforme a relação com a mensagem, autor, receptor e a realidade a qual está inserida, ou
seja, referente.
Criatividade: A linguagem poética insurge-se contra o automatismo e
estereotipação do uso linguístico, reavivando arcaísmos, criando neologismos, inventando
novas metáforas, ordenando de modo diferente e surpreendente os lexemas no sintagma.
Os signos poéticos, mais do que expressar conceitos carregam representações sensoriais,
por meio da metrificação, da rima, da assonância, do ritmo, da sinestesia.
Estruturação: A arte é uma construção formal baseada em elementos do mundo
real, e como estes, ela possui a qualidade da estruturação. A literariedade de um texto
reside, portanto, não no fato de ser estruturado, mas na especificidade de sua estrutura ou,
como preferem os formalistas, no processo pelo qual os materiais linguísticos, culturais e
ideológicos são organizados e adquirem forma de arte.
Ficcionalidade: o caráter ficcional é uma prerrogativa indeclinável da obra literária.
Se o fato narrado pudesse ser documentado, se houvesse perfeita correspondência entre
os elementos do texto e do extratexto, teríamos então, não arte mas história, biografia,
jornalismo, crônica social ou esportiva.
Verossimilhança: Distinguimos uma verossimilhança interna à própria arte e uma
verossimilhança externa. A primeira é coerente com os elementos estruturais: motivação e
causalidade das sequências narrativas, a equivalência dos atributos e das ações das
personagens, a isotopia, a homorritmia, o paralelismo; enquanto a segunda refere-se à
lógica formal e opinião comum. Ou seja, se faltar a V. interna, o texto fica incoerente, sem
sentido, enquanto que se faltar a externa tem-se um dos estilos da poesia, o fantástico onde
é possível humanizar animais como em metamorfose de Kafka. A literatura de ficção
supera a antítese do ser e do não ser, do real e do imaginário: a personagem artśtica é,
porque foi criada por um autor, e, ao mesmo tempo, não é, porque nunca existiu no plano
histórico.

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