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antimalárica
Rio de Janeiro
2021
MARIA EDUARDA LIRA DE LIMA
Matrícula n° 1525552059
Rio de Janeiro
Maio de 2021
SÍNTESE DE HÍBRIDOS 1H-1,2,3-TRIAZÓIS-TIOFENO COM
POTENCIAL ATIVIDADE ANTIMALÁRICA
_______________________________________________
Daniel Tadeu Gomes Gonzaga, Dr, UEZO.
________________________________________________
Luciana da Cunha Costa, Dra, UEZO.
________________________________________________
Diego Pinheiro Aguiar, Dr.
Maio de 2021.
Dedico este trabalho aos meus pais
Eliane e Nivaldo. A eles todo o meu
amor e gratidão.
RESUMO
A malária é uma doença infecciosa, de alta mortalidade, causada pelo protozoário do gênero
Plasmodium. Dentre as cinco espécies causadora da malária o Plasmodium falciparum se
apresenta como a mais violenta. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde
(OMS), no ano de 2019, foi registrado 228 milhões casos de pessoas contaminadas, com
mortalidade de 405 mil, principalmente na África Subsaariana. Atualmente, os medicamentos
empregados no tratamento da malária possuem baixa eficácia e alta incidência de efeitos tóxicos
e resistência, levando à necessidade de descoberta de novos protótipos. Dois compostos
bastante estudados, inclusive contra a malária, além se apresentarem em diversos medicamentos
atuais, são os triazóis e o tiofeno. O triazol é um composto heterocíclico aromático nitrogenado
de cinco membros, que exibem seis elétrons π, podendo apresentar-se como três estruturas
tautoméricas. São estruturas totalmente sintéticas, sendo impossível ser encontrado na natureza.
Já o tiofeno é considerado um hidrocarboneto heterocíclico aromático de cinco membros,
quimicamente estável, útil em diversos processos de reações e aplicações sintéticas. Assim
como o triazol é um composto que está entre os compostos heterocíclicos mais estudados em
função das atividades biológicas, principalmente, que são encontradas. Tendo isso em mente,
foi planejado a síntese do éster 1H-1,2,3-triazol-tiofeno apresentando dois núcleos
heterocíclicos presentes em compostos ativos frente ao Plasmodium falciparum: 1H-1,2,3-
triazol e tiofeno. A metodologia consiste na obtenção da azida aromática via síntese de
Sandmayer, seguida de substituição nucleofílica aromática empregando azida de sódio como
nucleófilo, sendo esta utilizada como reagente para a reação de cicloadição 1,3-dipolar,
catalisada por Cu+. Esta catálise orienta para a formação de álcoois 1H-1,2,3-triazóis 1,4-
disubstituídos. Por fim, através de uma reação de acilação, catalisada por DMAP, tendo piridina
como base, obteve-se os produtos, híbridos 1H-1,2,3-triazol-tiofeno, finais desejados. Todos os
compostos tiveram seus pontos de fusão medidos e seu espectro de RMN de 1H adquirido. Os
compostos sintetizados foram enviados para a professora Célia Regina da Silva Garcia na USP,
onde foi analisado a atividade desses compostos contra a cepa 3D7 de P. falciparum. Apenas
dois dos oito compostos foram capazes de impedir moderadamente o desenvolvimento da
parasitemia de P. falciparum em 50% nas concentrações testadas: 53c (IC50 22,53 µM) e 53f
(IC50 24,85 µM).
i
ABSTRACT
Malaria is an infectious disease, with high mortality, caused by the protozoan of the genus
Plasmodium. Among the five species that cause malaria, Plasmodium falciparum presents itself
as the most violent. According to data from the World Health Organization (WHO), in 2019,
228 million cases of infected people were recorded, with a mortality of 405 thousand, mainly
in Sub-Saharan Africa. Currently, the drugs used to treat malaria have low efficacy and a high
incidence of toxic effects and resistance, leading to the need to discover new prototypes. Two
compounds that have been extensively studied, including against malaria, besides being present
in several current medications, are triazoles and thiophene. Triazole is a five-membered
nitrogenous aromatic heterocyclic compound, which exhibits six π electrons, and can present
itself as three tautomeric structures. They are totally synthetic structures, being impossible to
be found in nature. Thiophene, on the other hand, is considered a five-membered aromatic
heterocyclic hydrocarbon, chemically stable, useful in several reaction processes and synthetic
applications. Just as triazole is a compound that is among the most studied heterocyclic
compounds due to the biological activities, mainly, that are found. With this in mind, the
synthesis of the 1H-1,2,3-triazole-thiophene ester was planned, with two heterocyclic nuclei
present in active compounds compared to Plasmodium falciparum: 1H-1,2,3-triazole and
thiophene. The methodology consists of obtaining aromatic azide via Sandmayer synthesis,
followed by nucleophilic aromatic substitution using sodium azide as a nucleophile, which is
used as a reagent for the 1,3-dipolar cycloaddition reaction, catalyzed by Cu+. This catalysis
guides the formation of 1H-1,2,3-triazoles 1,4-disubstituted alcohols. Finally, through an
acylation reaction, catalyzed by DMAP, with pyridine as a base, the products, hybrids 1H-1,2,3-
triazole thiophene, were obtained, the desired endings. All compounds had their melting points
measured and their 1H NMR spectrum acquired. The synthesized compounds were sent to
Professora Célia Regina da Silva Garcia at USP, where the activity of these compounds against
the 3D7 strain of P. falciparum was analyzed. Only two of the eight compounds were able to
moderately prevent the development of P. falciparum parasitemia by 50% at the tested
concentrations: 53c (IC50 22,53 µM) e 53f (IC50 24,85 µM).
ii
LISTA DE FIGURAS
iii
LISTA DE ESQUEMAS
iv
LISTA DE TABELAS
v
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 1
2. REVISÃO DA LITERATURA 2
2.1 Malária 2
2.2. Heterociclos azólicos 4
2.3 1,2,3-Triazol 5
2.4 Tiofeno 10
3. OBJETIVOS 15
3.1. Objetivo Geral 15
3.2. Objetivos Específicos 15
4 METODOLOGIA 16
4.1 Síntese de compostos híbridos 1H-1,2,3-triazol-tiofeno 16
4.2 Análise através da Cromatografia em Camada Delgada 16
4.3 Análise através da Cromatografia em Coluna 17
4.4 Análise através Ressonância Magnética Nuclear 18
4.5 Ensaio antimalárico 18
4.5.1 Cultura de P. falciparum 19
4.5.2 Ensaio de crescimento in vitro e análise de citometria de fluxo 19
5 RESULTADOS e DISCUSSÕES 20
5.1 Síntese dos álcoois 1H-1,2,3-Triazóis 20
5.2 Síntese de ésteres híbridos 1H-1,2,3-Triazol-tiofeno
25
5.3 Cromatografia em Camada Delgada do composto final 1H-1,2,3-
30
Triazol-tiofeno
31
5.4 Avaliação biológica antimalárica
6 CONCLUSÃO 32
7 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 34
vi
1 INTRODUÇÃO
2.1 Malária
A malária é uma doença transmitida por um vetor, parasitária, podendo ser encontrada
em cerca de 91 países do mundo. Dentre mais de 120 espécies de Plasmodium que podem
infectar diversas espécies de seres vivos como répteis, mamíferos e pássaros, seis deles
infectam regularmente seres humanos (ASHLEY et al., 2018).
O Plasmodium falciparum é o parasita que provoca o maior número de mortes por
estimular a anemia grave, porque produz muitos parasitas em estágio sanguíneo,
principalmente em crianças africanas. Em relação ao Plasmodium vivax, geralmente
desencadeia uma doença mais branda, mas podendo ainda ser grave, trazendo
consequências como uma morbidade associada significativa. O Plasmodium malariae, P.
ovale curtisi e P. ovale wallikeri são menos estudados, porém geralmente podem
apresentar gravidade da doença comparável a malária vivax não complexa. E por último
o Plasmodium knowlesi, que é uma infecção zoonótica, podendo causar a malária grave
(ASHLEY et al., 2018).
A doença é transmitida através da picada da fêmea do mosquito Anopheles. O vetor
é dependente de um ambiente adequado em termos de clima, altitude, vegetação, para que
ocorra a sua adequação e aconteça uma incidência significativa da doença. Por isso, a
implementação de medidas de controle também é uma das dependências da proliferação
da doença, e está intimamente ligada à pobreza, guerras, tragédias naturais. As
transmissões menos comuns da doença decorrem de transfusões sanguíneas ou de mãe
para filho, com raras ocorrências em locais não endêmicos. (ASHLEY et al., 2018).
As fases do ciclo de vida da malária são mostradas na Figura 1 (AMABIS et al.,
2004). Os esporozoítos são transmitidos para o hospedeiro através da picada da fêmea do
mosquito Anopheles. Em seguida, o parasita move-se para o estágio hepático pré-
eritrocítico que dura em média duas semanas, antes de iniciar o estágio sanguíneo, que é
o estágio onde acontece a replicação assexuada crescente do parasita, e a partir disso,
causando doenças humanas. Uma pequena parte dos parasitas já intraeritrocíticos,
começam o seu desenvolvimento sexual, elaborando gametócitos masculinos e
femininos. As transições distintas entre as fases do ciclo é o momento em que ocorre a
passagem da malária para o mosquito por meio de uma picada ao hospedeiro. No intestino
do mosquito há exflagelação dos gametócitos masculinos, e os gametas masculino e
2
feminino são fundidos formando um zigoto que posteriormente torna-se um oocineto
móvel, penetrando a parede intestinal do vetor. Após os oocistos formados, acontece a
liberação dos esporozoítos que migram assim para as glândulas salivares do mosquito,
completando o seu ciclo de vida. (ASHLEY et al., 2018).
A malária tem como característica uma febre aguda. Após a picada do mosquito
infectado em uma pessoa não-imune a malária, os sintomas costumam surgir com
aproximadamente dez a quinze dias. Um dos primeiros sintomas é a febre, calafrios e dor
de cabeça, podendo ser sintomas leves e confundíveis, sendo difícil reconhecer como
malária. No caso da infecção por P. falciparum, se a doença não for tratada dentro de
vinte e quatro horas, a ocorrência pode progredir para um caso grave da enfermidade,
procedendo em morte. A forma grave da doença provoca constantemente nas crianças um
ou mais sintomas como: malária cerebral, anemia grave, dificuldade para respirar em
função de acidose metabólica, entre outros sintomas. Já nos adultos, a doença
frequentemente atinge diversos órgãos. Em relação aos locais endêmicas da doença, os
indivíduos costumam desenvolver imunidade parcial, com ocorrência de infecções
assintomáticas (OPAS/OMS Brasil, 2019).
3
Em países endêmicos as plantas costumam ser utilizadas como medicamento, tratando
diversas doenças, onde uma delas é a malária. A quinina é um exemplo de medicamento
antimalárico importante, sendo um alcaloide isolado no século XIX das cascas de quinas
do Peru, usadas extensamente durante a Segunda Guerra Mundial. A cloroquina é uma
quinolina, exemplo de medicamento antimalárico muito utilizado, tendo como protótipo
para a sua síntese a quinina. A sua ampla utilização levou à resistência ao P. falciparum
em 1960. A partir deste fato, inúmeros novos medicamentos antimaláricos foram
sintentizados, como amodiaquina, primaquina, e mefloquina, assim como compostos não
quinolínicos como lumefantrina e artemisinina (BORGATI et al., 2017).
A descoberta da cloroquina através de alterações na estrutura da quinina foi amplamente
abandonada por muitos laboratórios em razão das preocupações quanto a toxicidade e a
complexidade das reações. (FAIDALLAH et al., 2016).
4
Figura 2 – Exemplos de heterociclos nitrogenados farmacologicamente ativos.
2.3 1,2,3-triazóis
Os triazóis despertam grande interesse pelo fato de apresentarem uma ampla
aplicação, como no uso pesticidas, explosivos, e principalmente na criação de novos
fármacos (MELO et al., 2006). O estudo afinco desta classe de heterocíclicos só surgiu
5
após o fim da Segunda Guerra Mundial, em função das descobertas de suas diversas
aplicações no início da década de 50, evoluindo assim os estudos em relação aos variados
sistemas triazólicos. Todos os compostos 1H-1,2,3-triazólicos, sem exceção, são
produzidos sinteticamente, sem haver até o momento, nenhum indício da aquisição desta
classe de compostos a partir de outras fontes naturais (MELO et al., 2006).
Os triazóis são compostos aromáticos heterogêneos que exibem seis elétrons π,
podendo apresentar-se como três estruturas tautoméricas, as substâncias que não
possuírem substituintes no átomo de nitrogênio (MELO et al., 2006). O 1H-1,2,3-Triazol
é um composto que apresentou através de medidas de momento de dipolo, 83% de
equilíbrio na orientação do triazol simétrico 2H-1,2,3-triazol. Diferentemente do 1,2,4-
triazol, onde experimentos e cálculos teóricos mostraram uma predileção pela forma
1,2,4-4H-triazol (MELO et al., 2006). Estes triazóis podem ser subclassificados como
simétricos (1,2,4-triazóis) ou vicinais (1,2,3-triazóis), mostrado na Figura 4 (MELO et
al., 2006), onde os compostos mais pesquisados são os simétricos. Todavia, os compostos
vicinais receberam grande interesse, após descobertas de métodos mais eficientes de
obtenção e do seu potencial em atividades biológicas e aplicações (MELO et al., 2006);
inclusive diversos estudos sobre o 1H-1,2,3-triazol em relação a malária (KUMAR et
al.,2020; BOECHART et al.,2014; RAJ et al.,2014), por exemplo, vem sendo
desenvolvido.
6
modificações (RIECKMANN et al.,1978). Os valores médios de IC50 foram calculados a
partir de experiências realizadas em duplicata, onde a cloroquinina e o quinino foram
utilizados como fármacos de referência. Foi observado que alguns dos triazóis
sintetizados exibiram considerável atividade inibidora antimalárica; sendo os compostos
20a (IC50, 0,1784 µM) e 20b (IC50, 0,1835 µM) os que apresentaram melhor atividade
contra P. falciparum (Esquema 1) (KAUSHIK et al., 2017).
Chu e colaboradores (2019), em seus estudos com a associação do núcleo 1,2,3 triazol
a outros compostos, utilizaram dez fluoroquinolonas substituídas com 1,2,3-triazol na
posição N-1, sendo testadas in vitro contra a linhagem CQS 3D7 de P. falciparum usando
como padrão o medicamento ciprofloxacino. Os resultados indicaram que a maioria dos
híbridos apresentaram atividades relevantes com IC50 variando de 1,33 a 6,96 mg/mL,
sendo mais potentes do que a ciprofloxacina sozinha (IC50: 8,82 mg / mL) (CHU et al.,
7
2019). A relação de estrutura atividade mostrou que a inserção de grupos alquil ou de um
anel aromático na posição N-1 (posição R) do referido triazol não causa o aumento da
atividade; em contrapartida o benzil e os álcoois alquil levam a uma maior perda de
atividade. O híbrido 21, em particular, com IC50: 1,33 µg / mL (Figura 5) foi 6,63 vezes
mais ativo, comparado ao ciprofloxacino, podendo atuar como um protótipo para
otimização subsequente. (CHU et al., 2019).
8
Figura 6 – Estrutura química do híbrido triazol-amidina
Em estudo de Joshi e colaboradores (JOSHI et al 2013) foi sintetizado uma nova série
de análogos de quinolina e amida triazólica. Os compostos 23a-c foram considerados os
mais ativos da série contra a cepa D10 do Plasmodium falciparum sensível à cloroquina,
com valores de IC50 na faixa de 349 e1247 nM, com exceção de 23c, também exibindo
atividade semelhante contra a cepa K1 resistente a cloroquina. Os resultados demonstram
a viabilidade de produzir análogos hidrofílicos com forte atividade e baixa resistência
cruzada com cloroquina (Figura 7).
9
triazol. Os resultados mostraram que os compostos 25a-d exibiram atividades
antimalárica potentes com IC50 variando de 0,85 a 1,81 μM contra a cepa de P. falciparum
K1 resistente à cloroquina que foi o medicamento padrão utilizado, que apresentou uma
IC50 de 0.80μM. (Figura 8).
2.4 Tiofeno
O composto tiofeno foi descoberto em 1882 através do alemão Victor Meyer, depois
da investigação de uma falha de um teste (Teste indofenina de Von Baeyer´s) para
identificação de benzeno, tendo sua fórmula molecular confirmada como C4H4S
(CAMERON, 1949). O tiofeno com ponto de ebulição 84°C é encontrado como uma
impureza no benzeno comercial obtido do alcatrão de carvão (ALLINGER et al., 1984).
Logo após dois anos, em 1885, dois Professores, Jacob Volhard e Carl Paal, das
10
Universidades de Halle e Erlangen, respectivamente, realizaram ao mesmo tempo a
síntese de derivados de tiofeno, o que contribuiu muito para o estudo desse novo
composto descoberto (CAMERON, 1949).
O tiofeno é um hidrocarboneto heterocíclico aromático de cinco membros, que está
entre os compostos heterocíclicos mais estudados. O tiofeno é fácil para processar em
reações, quimicamente estável e suas aplicações sintéticas têm sido uma questão
constante de investigação nas últimas seis ou sete décadas. O interesse neste heterociclo
se expandiu da química inicial de corantes ao design moderno de fármacos,
biodiagnósticos, bloquear co-superestruturas de polímero auto-montadas e condutividade
de dispositivos sensoriais (BARBARELLA et al., 2005). A versatilidade da química que
o tiofeno possui permite grande diversidade em estruturas químicas baseadas no
composto. O tiofeno pode ser funcionalizado nas posições α e β para enxofre ou no
enxofre o próprio átomo. (BARBARELLA et al., 2005).
A síntese mais geral de tiofenos a partir de precursores de cadeia aberta consiste no
aquecimento de compostos de 1,4-dicarbonila com pentassulfeto de fósforo. É um método
mais amplamente aplicável do que o semelhante para furanos, uma vez que uma ou ambas
as carbonilas podem estar na forma de íon carboxilato, que é reduzido durante a reação.
O próprio tiofeno foi sintetizado desta forma a partir do succinato de sódio (ALLINGER
et al., 1984).
Atualmente a produção de compostos contendo átomos de enxofre em sua composição
é de grande interesse e importância, tanto pelo seu uso como intermediário sintético como
pelo seu potencial biológico. Na química medicinal o tiofeno se apresenta em diversos
estudos contra várias doenças como HIV (SANG et al., 2019), câncer (MOHAREB et al.,
2011), inflamação (LAHSASNI et al., 2018; GONZAGA et al., 2017), além de ser um
composto já consolidado e presente em inúmeros medicamentos (MONDINO, 2014).
A malária é também uma doença onde há pesquisas a respeito da ação do tiofeno contra
ela, principalmente pelo fato, de que, o parasita causador da doença adquiriu resistência
há alguns medicamentos existentes como a cloroquina, sulfadoxina, pirimetamina e
outros fármacos antimaláricos que antes combatia a enfermidade (SOUZA et al., 2019;
NARULA et al., 2019). Em um estudo de perfil antiplasmódico de compostos
selecionados foram identificados compostos com atividade inibidora rápida do
crescimento in vitro dos parasitas, comparando sua ação com o fármaco “Artesunato” já
existente no mercado, que também possui atividade rápida e é indicado para o tratamento
de malária aguda, causada pelo Plasmodium falciparum. Dentre os compostos
11
apresentados o tiofeno apresentou esta característica inibitória (Tabela 2) (SOUZA et al.,
2019).
Tabela 2 – Atividade inibitória contra P. falciparum.
12
Figura 9 – Derivados híbridos de aminoquinolina à base de tiofeno
13
do Plasmodium falciparum. Os benzotiofenos apresentados neste trabalho mostraram
atividades melhoradas contra uma cepa suscetível à cloroquina (CQS). Foram obtidos
quatro compostos, 31a-d que apresentaram atividade antimalarial mais potente,
apresentando uma hipersensibilidade às cepas resistentes. Isto contrasta fortemente com
a cloroquina, indicando assim que um maior desenvolvimento da série poderia fornecer
antimaláricos mais poderosos contra as cepas. (Figura 11) (Konstantinovi et al, 2017).
14
3 OBJETIVOS
3.1 Objetivo geral
15
4. METODOLOGIA
A metodologia terá início pela síntese de azidas aromáticas (34a-h) a partir de anilinas
devidamente substituídas (33a-h) através da reação de Sandmayer. A primeira etapa
consiste na formação do sal de diazônio seguido de uma reação de substituição
nucleofílica aromática com azida de sódio. As azidas aromáticas (34a-h) obtidas na etapa
anterior, juntamente com o álcool propargílico (35) serão utilizados para a síntese de
álcoois 1H-1,2,3-triazóis (36a-h) empregando a reação de cicloadição 1,3-dipolar
catalisada por cobre I gerado in situ. Para a obtenção do composto híbrido final, 1H-1,2,3-
triazol-tiofeno (32a-h) será realizado uma reação de substituição nucleofílica na
carbonila, empregando cloreto de 2-tiofeno carbonila (37), e catálise nucleofílica de
DMAP, em presença de piridina como base (Esquema 2).
16
deixada em contato com o eluente até subir por capilaridade, e atingir a extremidade
superior da placa. Ao ascender, será mais arrastado pelo solvente os compostos que foram
menos adsorvidos na fase estacionária, separando-os dos mais adsorvidos. O eluente ideal
é o que carreia o composto para o meio da placa (Figura 13). É uma técnica rápida,
simples e econômica; sendo, por isso bastante utilizada em acompanhamento de reações
orgânicas. (DEGANI et al., 1998).
17
em coluna (DEGANI et al., 1998).
Figura 14 – Ilustração de uma coluna cromatográfica
18
4.5.1 Cultura de P. falciparum.
Neste ensaio inicialmente hemácias foram infectadas com P. falciparum 3D7 (iRBC)
contendo 0,3% de parasitemia inicial, onde 1% de hematócrito foram incubados com
distintas concentrações de compostos variando de 0,0488 µM a 50 µM, durante 72h a
uma temperatura de 37°C sob mistura de gases. Um grupo controle foi utilizado, e o
mesmo foi tratado com um solvente (Dimetil Sulfóxido (DMSO) (v/v), possuindo uma
maior concentração de 0,25% (SANTOS et al., 2020).
Para determinar a parasitemia foi utilizado dispersão lateral versus fluorescência
(gráficos de pontos) de 103 células aproximadamente obtidas em um citômetro de fluxo
Accuri C6 (Becton Dickinson). O início do ensaio foi realizado com eritrócitos não
infectados e não corados para ensinar a autofluorescência dos eritrócitos. Para determinar
o IC50, ou seja, a concentração responsável por 50% de inibição, foi utilizado a curva de
resposta à concentração do composto determinada com o software GraphPad Prism
V5.01. 72h depois, os glóbulos vermelhos infectados com P. falciparum 3D7 foram
corados com um marcador de ácido nucleico SYBR Green I (1X) (Invitrogen) e marcador
de mitocôndria com base no potencial de membrana MitoTracker Deep Red (50 nM)
(Invitrogen), onde foram incubados a uma temperatura de 37°C durante 20min (SANTOS
et al., 2020).
Por fim, a parasitemia final do ensaio foi determinada através do citômetro de fluxo
com citômetro de fluxo BD Accuri C6, coletando 104 células; onde os gráficos de pontos
usando o software FlowJo V10.6.2 determinaram enfim a parasitemia. Para cada droga,
foram realizados em triplicata para calcular os valores de IC50 (SANTOS et al., 2020).
19
5 RESULTADOS e DISCUSSÕES
5.1 Síntese dos álcoois 1H-1,2,3-triazóis 36a-h
20
Figura 15 – Espectro de RMN 1H de 36e
RMN de 1H (300,00 MHz, DMSO-d6) δ: 4,74 (2H, d, J 5,5 Hz, H-6); 5,33 (1H, t, J
5,5, OH); 7,60 (2H, t, J 7,3 Hz, H-4´); 7,71 (2H, t, J 7,3 Hz, H-2´, H-6´); 8,02 (2H, d, J
7,3 Hz, H-3´, H-5´); 8,78 (1H, s, H-5)
21
(1-(4-clorofenil)-1H-1,2,3-triazol-4-il)metanol (36b). Obtido com 80 % de rendimento
sob forma de um solido branco. p. f. 143-144ºC (p.f. lit. 144-145 °C) (ASSIS et al,
2019.)
RMN de 1H (500,00 MHz, DMSO-d6) δ: 4,63 (2H, d, J 3,3 Hz, H-6); 5,33 (1H, t,J 3,3,
OH); 7,62 (2H, d, J 9,1 Hz, H-3´, H-5´); 7,92 (2H, d, J 9,1 Hz, H-2´, H-6´); 8,66 (1H, s,
H-5)
RMN de 1H (300,00 MHz, DMSO-d6) δ: 4,75 (2H, d, J 3,3 Hz, H-6); 5,47 (1H, t, J 3,3
Hz, OH); 7,84 (1H, dd, J 1,6 e 5,2 Hz); 7,93 (1H, d, J 5,2 Hz, H-3´); 7,99 (1H, d, J 1,6
Hz, H-6´); 8,55 (1H, s, H-5)
22
(1-(3,4-diclorofenil)-1H-1,2,3-triazol-4-il)metanol (36d). Obtido com 76 % sob a
forma de um solido amarelo. p. f. 123-124 °C (p. f. lit. 122-123 °C) (ASSIS et al,
2019.)
RMN de 1H (500,00 MHz, DMSO-d6) δ (ppm): 4,62 (d, J = 5,7 Hz, H-6), 5,33 (t, J =
5,7 Hz, -OH), 7,86 (d, J = 8,8 Hz, H-5’), 7,96 (dd, J = 8,8 e J = 2,5 Hz, H-6’), 8,26 (d,
J = 2,5 Hz, H-2’),8,77 (s, H-5)
RMN de 1H (500,00 MHz, DMSO-d6) δ (ppm): 4,64 (d, J = 5,7 Hz, H-6), 5,37 (t, J =
5,7 Hz, -OH), 8,23 (d, J = 9,3 Hz, H-2’ e H-6’), 8,43 (d, J = 9,3 Hz, H-3’ e H-5’), 8,88
(s, H-5)
23
(1-(4-metoxifenil)-1H-1,2,3-triazol-4-il)metanol (36f). Obtido com 95 % de
rendimento sob forma de um solido castanho. p. f. 128-129 °C (p. f. lit. 127-129 °C)
(ASSIS et al, 2019.)
RMN de 1H (500,00 MHz, DMSO-d6) δ: 3,94 (OCH3); 4,72 (2H, d, J 5,5 Hz, H-6);
7,22-7,25 (2H, m, H-3´,H-5´); 7,88-7,92 (2H, m, H-2´, H-6´); 8,64 (1H, s, H-5)
RMN de 1H (500,00 MHz, DMSO-d6) δ (ppm): 4,62 (d, J = 5,6 Hz, H-6), 5,30 (t, J =
5,6 Hz, -OH), 7,65 (d, J = 8,9 Hz, H-3’ e H-5’), 7,94 (d, J = 8,9 Hz, H-2’ e H-6’), 8,69
(s, H-5).
24
RMN de 1H (500,00 MHz, DMSO-d6) δ (ppm): 2,38 (s, -CH3), 4,61 (d, J = 5,6 Hz, H-
6), 5,24 (t, J = 5,6 Hz, -OH), 7,38 (d, J = 8,3 Hz, H-3´e H-5’), 7,76 (d, J = 8,3 Hz, H-2’ e
H-6’), 8,58 (s, H-5)
25
1,2 Hz.
Os demais sinais são referentes à porção triazólica observados em 36e, os dupletos
em 8,23 ppm e 8,43 ppm referente aos hidrogênios H-2´/H-6´ e H-3´/H-5´ do anel
triazólico, apresentando acoplamento entre si com constante de acoplamento J de 9,3 Hz
e o simpleto em 9,06 ppm referente ao hidrogênio triazólico H-5´. (Figura 16).
RMN 1H (500 Hz, DMSO-d6) δ (ppm): 5.53 (2H, s, H-6), 7,10 (dd, J= 4,9 e 3.9 Hz, H-
4´´), 7,43-7,46 (m, H-4´), 7,51-7,54 (m, H-3´ e H-5´), 7,57 ( dd, J = 4,9 e 1,2 Hz, H-5´´),
7,84 (dd, J = 3,9 e 1,2 Hz, H-3´´), 7,73 (t, J = 8,9 Hz, H-2´ e H-6´), 8,64 ( s, H-5).
26
(1-(4-clorofenil)-1H-1,2,3-triazol-4-il)metil tiofeno-2-carboxilato (32b), sólido branco,
82% de rendimento, p.f. 132- 133 °C.
RMN 1H (500 Hz, DMSO-d6) δ (ppm): 5.48 (s, H-6), 7,22 (dd, J = 4,9 e 3.8 Hz, H-
4´´), 7,65 (d, J = 8.9 Hz, H-3´e H-5’), 7,84 ( dd, J = 3,8 e 1,3 Hz, H-5´´), 7,94 (m, H-3’’,
H-2’ e H-6’), 8,88 (s, H-5).
RMN 1H (500 Hz, DMSO-d6) δ (ppm): 5.54 (s, H-6), 7,10 (dd, J = 4,9 e 3.8 Hz, H-
4´´), 7,44 (dd, J = 8,7 e 2,5 Hz, H-4´), 7,52 (d, J = 8,7 Hz, H-3´ ), 7,58 ( dd, J = 4,9 e 1,2
Hz, H-5´´), 7,68 (d, J = 2,5 Hz, H-6´), 8,17( s, H-5), 7,84 (dd, J = 3,8 e 1,2 Hz, H-3´´).
27
(1-(3,4-diclorofenil)-1H-1,2,3-triazol-4-il)metil tiofeno-2-carboxilato (32d), sólido
branco, 60% de rendimento, p.f. 124-124,7 °C.
RMN 1H (500 Hz, DMSO-d6) δ (ppm): 5.48 (s, H-6), 7,22 (dd, J = 5,0 e 3.8 Hz, H-
4´´), 7,85 ( m, H6´ e H-5´), 7,95 (m, H-3´´e H-5´´), 8,23 (d, J = 9,2 Hz, H-2´), 8,97 (1H,
s, H-5).
RMN 1H (500 Hz, DMSO-d6) δ(ppm) : 5.50 (s, H-6), 7,22 (dd, J = 4,95 e 3.8 Hz, H-
4´´), 7,85 (dd, J = 3,8 e 1,25 Hz, H-5´´), 7,94 (dd, J = 4,95 e 1,25 Hz, H-3´´), 8,23 (d, J
= 9,2 Hz, H-2´ e H-4´), 8,43 (d, J = 9,2 Hz, H-3´ e H-5´), 9,06 (1H, s, H-5).
28
(1-(4-metóxifenil)-1H-1,2,3-triazol-4-il)metil tiofeno-2-carboxilato (32f), sólido branco,
86% de rendimento, p.f. 101- 102 °C.
RMN 1H (500 Hz, DMSO-d6) δ(ppm): 3,84 (s, OCH3), 5.46 (s, H-6), 7,13 (d, J = 9,0
Hz, H-3´ e H-5´),7,21 (dd, J = 4,9 e 3.8 Hz, H-4´´), 7,79 (d, J = 9,0 Hz, H-2´ e H-6´), 7,84
(dd, J = 3,8 e 1,2 Hz, H-3´´), 7,93 (dd, J = 4,9 e 1,2 Hz, H-5´´), 8,73 (s, H-5).
RMN 1H (500 Hz, DMSO-d6) δ (ppm): 5.47 (s, H-6), 7,22 (dd, J = 5,0 e 3.8 Hz, H-4´´),
7,43 (m, H-2´e H-6’), 7,84 (dd, J = 3,8 e 1,2 Hz, H-5´´), 7,95 (m, H-3’’, H-3’ e H-5’),
8,83 (s, H-5).
29
(1-(p-tolil)-1H-1,2,3-triazol-4-il)metil tiofeno-2-carboxilato, sólido branco (32h), 78%
de rendimento, p.f. 140 - 141 °C.
RMN 1H (500 Hz, DMSO-d6) δ (ppm): 2,39 (s, CH3), 5,47 (s, H-6), 7,21 (1H, dd, J =
4,9 e 3.8 Hz, H-4´´), 7,39 (2H, d, J = 8,31 Hz, H-3’ e H-5’), 7,77(2H, d, J = 8,45 Hz, H-
2´e H-6’), 7,84 ( 1H, dd, J = 3,8 e 1,2 Hz, H-5´´), 7,93 (1H, dd, J = 4,9 e 1,2 Hz, H-3’’),
8,79( 1H, s, H-5).
30
Figura 12 – Placa de cromatografia em camada delgada de acompanhando de síntese do
composto final 1H-1,2,3-Triazol-tiofeno.
31
Figura 12: Ésteres 1H-1,2,3-triazol-tiofeno moderadamente ativos contra Plasmodium
falsciparum
7 CONCLUSÃO
Neste trabalho o objetivo principal foi alcançado com sucesso, onde foram sintetizados
oito compostos inéditos ésteres 1H-1,2,3-Triazol-tiofeno (32a-h) com ótimos
rendimentos variando de 60 a 98%; além da síntese do composto intermediário álcoois
1H-1,2,3-Triazol com rendimentos também considerados de moderado a excelente (54 a
90%).
Todos os compostos foram purificados por cromatografia em coluna e caracterizados
por ponto de fusão e espectrometria de Ressonância Magnética Nuclear 1H. Todos os
sinais obtidos pelo espectro de RMN 1H corroboraram com a estrutura química de todos
32
os compostos sintetizados. Dessa forma comprovou-se que a metodologia utilizada foi
robusta.
A atividade antimalárica dos oito compostos propostos (53a-h) foi analisada pela
professora Célia Regina da Silva Garcia na USP, onde utilizou-se a cepa 3D7 de P.
falciparum como agente causador da malária. A partir disso identificou-se apenas dois
compostos capazes de impedir moderadamente o desenvolvimento da parasitemia de P.
falciparum em 50% nas concentrações testadas (53c - IC50 22,53µM e 53f - IC50
24,85µM). Os resultados não demonstraram ser promissores e por isso os estudos não
foram levados adiante.
33
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