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Investigação.

2010;10 (Suppl 2):S55-S60

Investigação
ISSN 2177-4080 (on-line)

http://publicacoes.unifran.br Artigo Original

Dança na Escola: uma contribuição para a promoção de saúde de


crianças e adolescentes
Dance in School: a health promotion contribution to children and adolescents

Shirlei Aparecida Ferreira1, Wilza Vieira Villela2*, Rosalina Carvalho2


1
Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, Poços de Caldas, Minas Gerais, Brasil; 2Programa de Mestrado em Promoção de Saúde da Universidade de
Franca, Franca, São Paulo, Brasil.

resumo
Este artigo relata uma experiência de promoção de saúde realizada com crianças e adolescentes que frequentam o ensino fundamen-
tal de escolas do município de Poços de Caldas, MG. O trabalho teve como objetivo realizar atividades de dança na escola, visando
contribuir com o reforço da sua autoestima e do seu autoconceito. Foram incluídas 54 crianças e adolescentes de ambos os sexos, com
idades entre 9 e 16 anos sendo alunos de três escolas diferentes. A atividade teve duração de cinco meses, com encontros semanais
de duas horas, conteúdos relativos à expressão corporal, criatividade, sensibilização e discussão das suas posturas e ações durante a
atividade. Ao final do período cerca da metade dos participantes havia abandonado a atividade, especialmente os meninos. Dentre
os que concluíram o programa, há relatos de facilitação nas relações sociais e familiares. Estes resultados sugerem que a dança pode
ser um importante instrumento para a promoção de saúde entre escolares, mas que questões relacionadas a estereótipos de gênero
devem ser abordadas ao longo da atividade, visando maior adesão dos meninos.

Palavras-chave:
Dança na escola; Promoção de saúde; Crianças; Adolescentes.

abst r ac t
This article refers to an experience of health promotion with children and adolescents students in the three basic schools in Poços
de Caldas, MG. The objective of the work was to develop dance activities in the school, aiming to contribute with the reinforcement
of self esteem and self concept. 54 adolescent and children of both sexes aged between 9 and 16 years, from three different schools
was enrolled. The activity lasted five months, with two hours weekly meetings. The content was the corporal expression, creativity,
sensitization and a reflection on the attitudes among the participants during the activity. By the end of the period about half of the
participants had abandoned the activity. Amongst who concluded the program, there were an improvement in the self concept, and
into familiar relations. These results suggest that the dance can be an important instrument for health promotion in the school, but
it is necessary to be delivered as a regular activity, in order to increase the adhesion and to consolidate its benefits.

Keywords:
Dance in school; Health promotion; Children; Adolescents.

*Autor correspondente
Endereço: Avenida Dr. Armando Salles Oliveira, 201, 14404-600, Parque Universitário, Franca, São Paulo, Brasil. Telefone: (16) 3711-8792
E-mail: wilsa.vieira@terra.com.br
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Introdução de atividades na escola, buscando promover saúde por meio do


estímulo da autoestima e do autoconceito foi realizada uma
A dança é uma atividade física e expressiva que permite apro- experiência de dança em 3 escolas no município de Poços de
fundar a percepção de cada um sobre si mesmo e sobre os outros. Caldas. Para tanto, o trabalho avaliou a adesão das crianças e
Utilizada como instrumento pedagógico, a dança pode contribuir adolescentes à proposta, a influência da dança no autoconceito
no desenvolvimento emocional e na estruturação da identidade, e na autoestima e a percepção dos pais sobre a atividade.
promovendo a formação do sujeito singular, com maneiras pró-
prias de ser, sentir e agir. Este é um requisito básico para a cons- Material e Métodos
trução da autonomia e da liberdade, condições que, em última
instância, fundamentam a proposta de promoção de saúde, de O trabalho foi realizado em Poços de Caldas, município do
acordo com suas diretrizes contidas na Carta de Ottawa (1986). Estado de Minas Gerais com cerca de 150.000 habitantes, eco-
Na dança, o corpo torna-se um meio de interação do indivíduo nomia fortemente baseada no comércio e no turismo e forte
com o mundo, facilitando o desenvolvimento da consciência cor- desigualdade social.
poral e das possibilidades de comunicação com o outro (Godoy Para o desenvolvimento do trabalho foram contatadas 3 es-
et al., 2005), de forma lúdica e prazerosa. colas, sendo 2 públicas estaduais, respectivamente em um bairro
A dança também facilita a descoberta de limites e potenciali- periférico e bairro de classe média, e 1 filantrópica para alunos
dades individuais por meio de vivências corporais. Este processo especiais. A seleção das escolas foi feita por meio da definição
impacta positivamente os relacionamentos interpessoais e o prévia dos perfis sociodemográficos que melhor se ajustassem
desenvolvimento do autoconceito e da autoestima (Falsarella; aos objetivos do trabalho, sendo listadas as escolas do município
Amorim, 2008). que correspondiam aos perfis definidos e contatadas as direções
para saber do seu interesse e disponibilidade.
Assim, a isto, a dança pode ser um significativo instrumento
da ação pedagógica, no sentido de estimular a concentração e Nas três escolas selecionadas a diretoria ajudou a divulgar o
sociabilidade, no resgate de valores culturais, no aprimoramento projeto e identificar alunos que atendessem aos critérios de inclu-
do senso estético e o prazer da atividade lúdica para o desenvolvi- são, a saber: alunos que se interessassem pela atividade proposta,
mento físico, mental e social. No caso de crianças e adolescentes com condições físicas que permitissem a realização de práticas
esta pode ser uma contribuição fundamental no seu processo de corporais, com idade entre 9 e 16 anos, compreensão para res-
formação e desenvolvimento (Costa, 2008). ponder aos instrumentos de avaliação e cujos pais autorizassem.

Entre grupos populacionais mais vulneráveis, que muitas Foram selecionados 54 alunos, sendo 8 na escola de educação
vezes sofrem com práticas de discriminação e preconceito, como especial, cinco do sexo feminino e três do sexo masculino com
os jovens pobres e moradores das periferias urbanas, ou os por- idade entre 9 e 15 anos; na escola estadual na área periférica
tadores de deficiências os benefícios trazidos por uma atividade foram incluídos 31 alunos, 21 do sexo feminino e dez do sexo
que permite a elevação da autoestima e do autoconceito podem masculino com idade entre 11 e 16 anos e na escola estadual de
ser ainda mais significativos. classe média foram incluídos 15 alunos, 14 do sexo feminino e
um do sexo masculino com idade entre 10 e 12 anos.
Autoestima e o autoconceito são construtos da personalidade
que representam o sentimento com relação ao “Eu”, auxiliando A avaliação da adesão à atividade e seu impacto na autoestima
na formação da identidade do sujeito. O autoconceito está re- e autoconceito dos alunos foi feita pela aplicação de instrumento
lacionado ao que cada um pensa que é e, a autoestima reflete a padronizado a todos os participantes no início e no fim do pro-
percepção da habilidade pessoal para lidar com os desafios da vida grama de atividades, da realização de entrevistas com pais ou
e a adequação às situações do cotidiano (Saeta, 1999). A capaci- responsáveis, observação e anotações do diário de campo.
dade de sentir-se feliz e estabelecer boas relações com os outros
O instrumento utilizado foi a Escala de Autoconceito Infanto-
depende desta percepção de cada um com respeito a si mesmo.
-Juvenil (EAC-IJ), desenvolvida e validada por Sisto e Martinelli
A Organização Mundial de Saúde (OMS, 1986) define promo- (2004). O instrumento apresenta vinte questões, sendo cinco do
ção de saúde como o processo de capacitação da população para autoconceito pessoal e escolar, quatro do autoconceito familiar
exercer o controle da sua saúde abarcando o bem-estar individual e seis questões do autoconceito social, constituindo subescalas
e coletivo. Para isto, a promoção de saúde deve envolver medidas com pontuações específicas para cada. Os resultados da aplicação
de ordem familiar e ambiental (Buss, 2003), sendo conferida es- do instrumento foram analisados considerando três faixas de
pecial importância às escolas, como um espaço privilegiado para pontuação, alta, média e baixa.
o desenvolvimento de habilidades individuais e coletivas relativas
Os testes iniciais foram aplicados em março de 2008, após
à autonomia, participação e promoção de estilos de vida saudá-
o primeiro contato com os alunos e explicação da proposta de
veis. Na perspectiva da promoção de saúde o desenvolvimento
trabalho. A aplicação após o programa foi realizada em junho de
de atividades na escola que possam contribuir com a autoestima,
2008. As entrevistas com os pais ocorreram em agosto de 2008,
com o respeito ao outro e com o reconhecimento e exploração
e foram analisadas tematicamente, considerando os benefícios
das potencialidades torna-se, portanto, essencial.
da atividade referidos espontaneamente. Cada entrevista durou
Visando identificar as possibilidades de desenvolvimento em média 30 minutos e foi realizada na casa do entrevistado.
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Resultados forma, criatividade, flexibilidade, agilidade, memória, equilíbrio


e momentos livres para descontração e socialização. Ao final do
1. Adesão ao programa e seus efeitos sobre o autoconceito e a auto- programa houve duas apresentações públicas, incluindo o con-
estima: junto dos participantes.

O programa de dança teve ao todo vinte encontros em cada A distribuição dos participantes, considerando sexo, idade e
uma das escolas, com atividades de alongamento; exercícios de escola, é apresentada na tabela 1:
coordenação motora, espaço, tempo, ritmo, lateralidade, fluência,

Tabela 1 - Distribuição dos alunos participantes do programa de dança na escola, segundo sexo, idade e escola.
SEXO IDADE
Escolas
M F 09 10 11 12 13 14 15 16
Especial 03 05 01 0 01 02 02 0 02 0
Periferia 10 21 0 0 11 08 06 02 03 01
Classe Média 01 14 0 01 10 04 0 0 0 0
Total 14 40 01 01 22 14 08 02 05 01

Tabela 2 - Comparação dos domínios por escolas antes e após o programa de dança.

Antes Após

Escolas EE EP ECM Escolas EE EP ECM

Domínio C N % C N % C N % Domínio C N % C N % C N %

B 00 00 B 03 30 B 04 66,6 B 01 20 B 04 40 B 05 83,3

Familiar M 01 20 M 04 40 M 01 16,6 Familiar M 01 20 M 05 50 M 00 00

A 04 80 A 03 30 A 01 16,6 A 03 60 A 01 10 A 01 16,6

B 02 40 B 06 60 B 04 66,6 B 02 40 B 03 30 B 03 50

Pessoal M 01 20 M 01 10 M 01 16,6 Pessoal M 01 20 M 00 00 M 02 33,3

A 02 40 A 03 30 A 01 16,6 A 02 40 A 07 70 A 01 16,6

B 00 00 B 04 40 B 03 50 B 01 20 B 03 30 B 03 50

Escolar M 01 20 M 03 30 M 03 50 Escolar M 02 40 M 06 60 M 02 33,3

A 04 80 A 03 30 A 00 00 A 02 40 A 01 10 A 01 16,6

B 03 60 B 02 20 B 01 16,6 B 04 80 B 00 00 B 00 00

Social M 01 20 M 04 40 M 02 33,3 Social M 00 00 M 05 50 M 03 50

A 01 20 A 04 40 A 03 50 A 01 20 A 05 50 A 03 50
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A tabela 2 apresenta uma síntese dos resultados antes e depois 2. A opinião dos familiares
do programa. Foram realizadas 15 entrevistas com pais dos 22 alunos que
Como pode ser observado, predominam as meninas, no perío- participaram da atividade até o fim. As 07 entrevistas não re-
do da pré-adolescência. As mudanças corporais vivenciadas nesta alizadas tiveram como motivo da não realização problemas de
fase, bem como, as inseguranças em relação à própria identidade conciliação de horário entre a pesquisadora e o respondente.
neste momento de transição entre duas fases do ciclo vital po- Na entrevista, os pais referiram o interesse e entusiasmo de-
dem ter contribuído com a adesão a uma atividade relacionada monstrado pelos filhos com a participação nas atividades, como
ao contato consigo e à exploração plástica e estética do corpo. se pode observar nos comentários abaixo:
Ao final do programa, 35 alunos haviam desistido, e mais três
haviam sido incorporados. O percentual de desistências entre “(...) ela chega alegre contando sobre a dança (...)”
meninas e meninos foi próximo, respectivamente 60% de me- “(...) quando tem apresentação ela fala o tempo inteiro (...)”
ninas e 64% de meninos, e estiveram concentrados nas escolas
“ (...) ela chega em casa e já vai mostrar os passinhos, ensina as
públicas. As inserções de participantes novos ocorreram na escola
irmãs (...)”
especial (dados não apresentados).
Para os alunos que permaneceram até o final do programa, a Segundo os entrevistados, há também um incentivo de sua
análise da EAC-IJ mostra que houve pouca variação na avaliação parte para que os filhos continuem nas aulas.
relativa ao domínio familiar no grupo de alunos da escola espe-
A apreciação dos pais sobre os benefícios decorrentes da dança
cial, comparados aos demais grupos; no domínio pessoal houve
esteve principalmente relacionada ao seu desenvolvimento global
uma significativa melhora dos escores entre os alunos das escolas
e à motivação apresentada pelo seu filho em relação às atividades.
públicas; o quesito escolar não mostrou alterações significativas
antes e depois do programa. O mesmo pode ser dito em relação O quadro abaixo sintetiza os principais benefícios das ativi-
à análise do quesito social. dades percebidos pelos pais.

Tabela 3 - Principais benefícios da dança referidos pelos pais durante as entrevistas.

Benefícios referidos Sim Não


A dança é importante para o desenvolvimento global 15 0
Melhora do diálogo familiar 10 05
Desenvolvimento das habilidades sociais 14 01
Preocupação com o corpo (autocuidado) 14 01
Influência na motivação 15 0
Desenvolvimento da autonomia 14 01

Discussão A pontuação predominantemente baixa dos alunos da escola


especial no domínio social, em comparação à pontuação dos
A discrepância entre o número de participantes e perfil etário alunos das outras escolas em relação ao mesmo domínio pode
dos participantes de cada escola torna impossível a comparação estar relacionada ao fato de que é no espaço social que os sujeitos
entre os grupos. O elevado número de desistências também im- serão considerados deficientes, gerando estigmas e atitudes de
pede que se possam fazer afirmações taxativas sobre os resultados exclusão social, o que se reflete no rebaixamento da autoestima.
da atividade nos domínios considerados. Há também que ser res- Esta hipótese se fortalece com o aumento da pontuação dos alu-
saltado as limitações intrínsecas a utilização de qualquer escala nos das demais escolas neste domínio.
da avaliação psicológica. Esse resultado condiz com vários estudos realizados com crian-
De acordo com Trinca (1984), testes psicológicos devem ser ças, adolescentes e jovens participantes de grupos de dança que
entendidos como um artifício para facilitar a captação do mundo referem o desenvolvimento psicomotor e, a forma de realização
interno e dos fenômenos relacionais. Portanto, seus resultados pessoal e inserção social por meio desta atividade, bem como, a
devem ser tomados como “pistas”, não podendo ser vistos como busca por novas amizades e hábitos saudáveis como: a prática de
verdades absolutas. atividades físicas e o cuidado com a higiene. (Sarto, 2007; Lima,
2006; Alvim; Pronsato; Lima, 2005; Weber, 2003).
Deste modo, e mesmo considerando as limitações apontadas
pelo estudo, os resultados sugerem que pode haver um benefício O baixo resultado do autoconceito escolar apresentado por
específico da atividade de dança no domínio pessoal, com uma algumas crianças pode estar refletindo o acúmulo de experiên-
percepção de si mais positiva, maior autovalorização e segurança cias negativas na escola, em termos de rendimento acadêmico
diante das situações do dia a dia. e mesmo de adaptação ao ambiente (Sisto; Martinelli, 2004).
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No entanto, o fato das atividades de dança e dos ensaios para benefícios da dança no autoconceito e na autoestima de crianças
as apresentações acontecerem na escola pode ter contribuído para e adolescentes.
aumentar a popularidade de alguns dos alunos com a comunida- O desenvolvimento do trabalho mostrou a maior integração
de escolar, o que eventualmente, pode influenciar positivamente e motivação dos alunos a cada encontro. Os pais que incentiva-
este domínio em um momento posterior. O prestígio da comu- ram a participação dos filhos facilitaram a sua permanência no
nidade escolar aos trabalhos realizados pelos alunos, desperta programa.
sentimentos de autovalorização, promovendo o aumento da
autoestima e auxiliando o processo de aprendizagem (Ugaya, O elevado número de abandonos pode ter vários motivos,
2007; Simão, 2005). incluindo problemas com horário, falta de identificação ou mo-
tivação para as atividades propostas, ou mesmo mudanças de
No entanto, o prestígio e apoio da família são igualmente im- escola ou de cidade durante o programa. Isto sugere a necessidade
portantes para o desempenho das crianças na escola. Ao ampliar de maior critério no momento de selecionar participantes para
os canais de comunicação entre pais a filhos, a dança pode me- programas similares.
lhorar o relacionamento intrafamiliar, o que em geral se reflete
também na melhora dos relacionamentos sociais (D’Aquino; No início das atividades foram frequentes os comentários
Guimarães; Simas, 2005). de que “homem só dança hip hop” e que outras modalidades da
dança são “coisa de menina”. Isto sugere que programas desta
Deste modo, a melhora no diálogo familiar, referida por 10 natureza devem abordar em certos momentos, os estereótipos de
mães entrevistadas, é corroborada por 14 entrevistas onde houve gênero circulante entre crianças e adolescentes, como também
o relato de que os filhos estavam mais comunicativos e se rela- mesclar melhor atividades consideradas “de menino” e “de me-
cionando melhor com os irmãos e colegas, conforme expressam nina”, de modo a tornar-se atrativo para ambos, até o momento
os relatos abaixo: em que possam descobrir que dançar é para todos independen-
“ (...) depois da dança, quase não preciso chamar sua atenção; fez temente, do tipo de dança. Isto pode melhorar a relação entre
mais amigos; tem mais conversa; ajuda em casa, vai animada para meninas e meninos, e de cada um consigo mesmo em relação à
a escola (...)” sua identidade de gênero.
“ Está se relacionando melhor e faz as coisas com mais motivação, A relação de ajuda mútua, de autocuidado, de igualdade e de
sem ficar resmungando (...)”. respeito às limitações de cada um possibilitou a descoberta de
“(...) a dança ajudou ela, ela tinha medo, é muito tímida (...)”. potenciais até então desconhecidos, favorecendo que os alunos
possam utilizar melhor suas capacidades.
Catorze entrevistados falaram que após as aulas de dança seus Considerando os resultados, pode-se dizer que a dança bene-
filhos começaram a cuidar melhor do corpo, e todas relataram ficiou os alunos que permaneceram no programa até o final. No
que os filhos estão mais animados para as atividades da escola. entanto, programas deste tipo devem constituir uma atividade
regular no currículo das escolas, de modo a ampliar e consolidar
Dentre as estratégias de promoção de saúde a serem desen-
seus benefícios.
volvidas na escola, muito se tem falado de atividades cogni-
tivas, em detrimento das atividades expressivas (Costa et al., Através do autoconhecimento e desenvolvimento de capaci-
2004). Ao mesmo tempo, são incontestáveis os benefícios da dades motoras, a dança pode contribuir para uma perspectiva de
dança na escola, visto que sua prática possibilita o desenvol- vida com mais qualidade. O potencial criativo da dança favorece
vimento de habilidades motoras, sociais e o aumento do auto- a socialização, o lazer, o autoconhecimento, valorização pessoal
e autonomia.
conceito e da autoestima, o que contribui com a saúde física,
psicossocial e ainda, com o desenvolvimento de habilidades e Assim os resultados deste estudo, mesmo que limitados, per-
da autonomia. mite constatar que a dança pode ser um importante instrumento
de promoção de saúde nas escolas. Aliada a outros instrumentos
Visando aproximar a prática da dança na escola dos concei-
e outras estratégias, deveria compor o rol de atividades previstas
tos de promoção de saúde, este trabalho foi realizado buscando
na proposição de Escolas Promotoras de Saúde.
identificar os efeitos de uma atividade de dança na escola; sobre
o autoconceito e a autoestima de alunos de três escolas distintas
Referências
no município de Poços de Caldas.
Nos últimos anos, o autoconceito vem recebendo atenção de
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