Você está na página 1de 4

DOENÇA DE VON WILLEBRAND

Ronaldo MATOS1

Sérgio Ricardo MAGALHÃES2


1
Acadêmico do curso de Medicina da Universidade Vale do Rio Verde (UninCor)
E-mail: ronaldovl@hotmail.com
2
Docente da disciplina de Iniciação Científica da Universidade Vale do Rio Verde
(UninCor).

RESUMO

A doença de Von Willebrand (DVW) ocorre devido à uma mutação no cromossomo 12,
resultando na deficiência quantitativa e/ou qualitativa do fator de Von Willebrand (FVW)1.
A doença é o distúrbio hemorrágico mais comum, porém, bastante subdiagnosticado9. Este
trabalho, por sua vez, tem como objetivo definir a DVW, seus principais sintomas,
métodos de diagnóstico bem como formas terapêuticas. Pra tanto, foram usadas
publicações de bases de dados e diretrizes.

PALAVRAS-CHAVE: Von Willebrand, artigo DVW, distúrbios hemorrágico e


coagulopatias

ABSTRACT

Von Willebrand disease (VWD) is due to a mutation on chromosome 12, resulting in


disability quantitative and / or qualitative von Willebrand factor (VWF) 1. The disease is
the most common bleeding disorder, however, quite subdiagnosticado9. This work, in turn,
aims to define the DVW, its main symptoms, diagnostic methods and therapeutic
approaches. For this purpose, we used publications databases and guidelines.

KEY-WORDS: Von Willebrand, Article VWD, bleeding disorders and coagulopathies

INTRODUÇÃO ligar e transportar o fator VIII, protegendo-o


da degradação proteolítica do plasma1, 6 .
A doença de Von Willebrand No Brasil, de acordo com dados
(DVW) é um distúrbio hemorrágico preliminares do Cadastro Nacional de
resultante de uma disfunção quantitativa Coagulopatias Hereditárias de 2006, existem
e/ou qualitativa do fator Von Willebrand 2.270 pacientes diagnosticados com a
(FVW)1. A doença pode ser adquirida, doença de von Willebrand1. Quanto à
sendo mais rara, ou congênita, sendo prevalência, baseando-se em estudos de
resultante de mutações no gene que codifica triagem populacional, ela oscila entre 0,8 e
o FVW1. 2%1,4. O estado de São Paulo é o que
Este fator é uma glicoproteína de apresenta o maior número de casos
alto peso molecular sintetizada pelas células absolutos da DVW8.
endoteliais e megacariócitos1,6. As suas Em 1994, os fenótipos da doença
funções são: formar tampão plaquetário e foram classificados em tipos pelo subcomitê
17
Revista de Iniciação Científica da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 1, n. 2, 2011, p. 17-20..
da Sociedade Internacional de Trombose e FVW estrutural e funcionalmente anormal,
Hemostasia: 1, 2 e 31,4,7. O tipo 2 é enquanto que, no subtipo 2B, o FVW tem
subdividido em 2A, 2B, 2M e 2N1,8. uma afinidade aumentada pela glicoproteína
Ainda há uma pseudo Von Ib, o que gera trombocitopenia1,6. Essa, por
Willebrand, que é fenotipicamente similar sua vez, é agravada pelo uso de
ao subtipo 2B11. desmopressina1,6. Quanto ao subtipo 2N, o
Apesar da doença ser a FVW possui afinidade diminuída pelo F
coagulopatia hereditária mais comum, VIII, mas função plaquetária normal,
frequentemente é subdiagnosticada, uma vez enquanto que o subtipo 2M possui uma
que a forma que mais ocorre é o tipo 1, que menor afinidade pela glicoproteína Ib1,6.
tem manifestações mais discretas9. O
subtipo 2N e o tipo 3 são mais raros, O tipo 3, por sua vez, ocorre em 1 a
apresentando manifestações hemorrágicas 5% dos pacientes, é autossômico recessivo e
graves9. há uma intensa redução do FVW e FVIII no
O objetivo deste trabalho é abordar plasma1. Por último, pode-se citar a pseudo
a DVW, comparando os seus tipos, Von Willebrand, que é uma doença
definindo os seus principais sinais e autossômica dominate decorrente de uma
sintomas, métodos diagnósticos e formas de mutação no gene do complexo glicoprotéico
tratamento. 1b situado no cromossomo 1711. O FVW é
normal, mas o receptor da glicoproteína 1b
MATERIAIS E MÉTODOS não 11.
Dentre os sintomas hemorrágicos
Realizou-se uma revisão de mais comuns, pode-se citar epistaxe,
literatura, abrangendo publicações de 2001 a menorragia, hemorragia após procedimentos
2011 das bases de dados da BVS cirúrgicos, equimoses, sangramento cutâneo
(MEDLINE, LILACS, ADOLEC, BDENF, ou abrasões, sangramento gengival,
PAHO, WHOLIS) e PubMed. Também hemartroses e sangramento gastrointestinal6.
foram usados Guidelines, diretrizes Quanto ao diagnóstico da DVW,
brasileiras e americanas e site do ele é baseado em 3 condições: história
Hemominas. Dentre os descritores pessoal de sangramentos cutâneos e
empregados estão: “doença de von mucosos, história familiar de manifestações
Willebrand”, “von Willebrand Diseases” , hemorrágicas e exames laboratorias que
“von Willebrand Factor, factor VIII” e demonstrem um defeito quantitativo e/ou
“blood coagulation”. Foram encontrados qualitativo do FVW1,10.
19 artigos, sendo utilizados apenas 12. Esses Esses exames podem ser divididos
eram em português e inglês, principalmente. em 3 grupos: testes de triagem,
confirmatórios e especiais1,12. Nos estudos
RESULTADOS de triagem, pode-se determinatr o tempo de
hemorragia(TH), tempo de protrombina(TP)
A DVW é dividida em tipos 1, 2 e e tempo de tromboplastina parcial ativado
1,4,7
3 . O tipo 1 ocorre em 70 a 80% dos (APTT)12. Enquanto o TP tende a ser
pacientes, sendo autossômico dominante1,4,7. normal, TH e APTT podem estar
Há uma deficiência quantitativa parcial sem aumentados12. Contudo, estes testes são
alteração estrutural do FVW1,6. pouco sensíveis para do diagnóstico da
O tipo 2, por sua vez, ocorre em DVW12.
20% dos casos, sendo autossômico Dentre os testes laboratorias mais
dominante assim como o tipo 1. Há uma específicos para o diagnóstico, pode-se
deficiência qualitativa no FVW. O subtipo destacar o estudo funcional do FVW por
2A apresenta-se como ausência de meio de sua atividade de cofator de
multímeros de alto peso molecular, sendo o ristocetina (FVW:RCo), o teste imunológico
18
Revista de Iniciação Científica da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 1, n. 2, 2011, p. 17-20..
para FVW (FVW:Ag) e o teste que avalia a a DVW é hemorrágica hereditária, podendo
função do fator VIII (FVIII:C)1. ser, raramente, adquirida. Há uma alteração
O teste FVIII:C avalia a capacidade quantitativa e/ou qualitativa do FVW,
do FVW de se ligar e manter o nível do desencadeando as manifestações da
1,2,8
mesmo na circulação. Como a atividade do doença .
FVIII é instável, pode gerar resultados falsos Quanto ao diagnóstico, foi
positivos caso a fase pré-analítica seja verificado que a anamnese e o exame físico
realizada de forma inadequada6. são fundamentais antes de se pedir estudos
A determinação de FVW:RCo laboratoriais1,6.
requer o uso de plasma diluído em diferentes Há muitos testes que podem
concentrações e quantidades padronizadas auxialiar no diagnóstico, mas aqueles de
de ristocetina e plaquetas1. Dessa forma, é triagem apresentam baixa sensibilidade e,
feita uma comparação entre o plasma de portanto, testes mais específicos sao padrã-
referência e o que está sendo analisado 1. O ouro para o diagnóstico da DVW3,8. Dentre
FVW:RCo é baixo em todos os tipos de eles, pode-se citar FVIII:C, FVW:Ag,
DVW1. FVW:RCo e RIPA2,6.
O teste de FVW:Ag deve ser Em relação ao tratamento, pode-se
realizado através da técnica de ELISA, na fazer uso de medidas locais, como
qual se usa anticorpos contra o FVW afim compressão local, reposição com
de medir sua quantidade no plasma1. Os concentrado de fator ou usar
1,2,3,5,6
níveis de FVW:Ag serão baixos nas doenças desmopressina . Essa é um análogo da
de VW quantitativas (tipos 1 e 3), enquanto vasopressina, que produz aumento das
serão normais ou limítrofes no tipo concentrações de FVIII e FVW1,2,3,5,6.
qualitativo (tipo 2)1. Quanto à reposição de fatores, este
O teste de agregação plaquetária procedimento só está indicado em casos de
induzida pela ristocetina (RIPA) é realizado ausência de resposta à desmopressina1,5,12.
com a adição de ristocetina ao plasma rico CONCLUSÃO
em plaquetas1. Dessa forma, será avaliada a A DVW é uma patologia que deve
afinidade do FVW pelas plaquetas1. ser incluída nos diagnósticos diferenciais
Por último, pode-se fazer a análise dos quadros hemorrágicos repetidos, uma
multimérica através da eletroforese em gel, vez que o seu acompanhamento médico é
o que possibilita o estudo da estrutura do fundamental afim de evitar situações de
FVW e, portanto, diferenciar os tipos da risco para o paciente12.
doença1. No tipo 1, todos os multímeros Dada a sua prevalência alta, essa
estão presentes, mas em quantidades doença necessita de uma maior investigação
reduzidas, enquanto que no tipo 3, há epidemiológica, uma vez que é comum ser
redução ou ausência dos multímeros1. Já no subdiagnosticada devido à falta de
tipo 2, os grandes multímetros estão conhecimento médico no reconhecimento
ausentes, exceto no subtipo 2M, que das mais discretas manifestações clínicas.
apresenta um padrão semelhante ao tipo 11. Os exames mais específicos para a
Quanto ao tratamento da DVW, ele DVW devem ser realizados em pacientes
tem o objetivo de elevar as concentrações com sintomas sugestivos da patologia e que
plasmáticas da proteína deficiente, seja foram previamente submetidos à triagem.
durante as manifestações hemorrágicas ou Em Minas Gerais, o Hemominas
frente a procedimentos invasivos1,5. disponibiliza a maioria dos testes que
possibilitam o diagnóstico correto da
DISCUSSÃO enfermidade, sendo, portanto, um centro de
referência para diagnóstico e tratamento da
A análise da literatura mostrou que mesma13.
há uma concordância entre os autores de que
19
Revista de Iniciação Científica da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 1, n. 2, 2011, p. 17-20..
REFERÊNCIAS Dieses U. S. Department of health and
human services. NIH Publication No. 08-
1. Ministério da Saúde. Manual de 5832 – Dez. 2007. Disponível em: <
diagnóstico e tratamento da doença de http://www.nhlbi.nih.gov/guidelines/vwd
von Willebrand. Brasília – DF. 2006. /vwd.pdf > Acesso em: 21 de maio de
2011
2. Castaman, G; et al. Von
Willebrand's disease in the year 2003: 8. Kasper, C. K. Von Willebrand
towards the complete identification of Diease An introductory discussion for
gene defects for correct diagnosis and Young physicians. Outubro,
treatment. Haematologica, Vol. 88, 2005.Disponível em: <
Issue 1, 94-108. Disponível em: < www.carolkasper.com/11_5_05/VWD.p
http://www.haematologica.it/cgi/content/ df > Acesso em: 21 de maio de 2011.
abstract/88/1/94 > Acesso em: 21 de
maio de 2011. 9. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Perfis
das coagulopatias hereditárias no
3. Rodeghiero, F.; Castaman, G.; Brasil. Brasília – DF. 2007
Tosetto, A. How I treat von Willebrand
disease Rev. Blood August 6, 2009 vol. 10. Favaloro, EJ; Soltani, S; Mc
114 no. 6 1158-1165. Donald, J; Grezchnik, E; Easton, L;
Favaloro, JWC. Reassessment of ABO
4. Federici A. B.;, Canciani, M. T. Blood Group, Sex, and Age on
Clinical and laboratory versus Laboratory Parameters Used to
molecular markers for a correct Diagnose von Willebrand Disorder.
classification of von Willebrand American Society for Clinical Pathology.
disease 2005: 124;910-916.
5. Haematologica, Vol 94, Issue 5, 11. Rizzatti, E.G; Franco, R.S.
610-615 Investigação diagnóstica dos distúrbios
doi:10.3324/haematol.2009.005751 hemorrágicos. Medicina, Ribeirão
Disponível em: < Preto, SP- 34:238-247. Jul./dez.2001.
http://www.haematologica.org/cgi/conte
nt/full/94/5/610 > Acesso em: 21 de 12. Enayat, M.S., et al. Distinguishing
maio de 2011. between type 2B and pseudo-von
Willebrand disease and its clinical
6. Rodeghiero, F.; Castaman, G.; importance. 2006, vol 133- British
Tosetto, A. Optimizing treatment of Journal of Haematology.
von Willebrand disease by using
phenotypic and molecular data. 13. João, C; Medicina Interna. Vol. 8,
Hematology, Jan 2009; 2009: 113 - 123. N. 1, 2001.
Disponível em: <
14. HEMOMINAS
http://asheducationbook.hematologylibra
http://www.hemominas.mg.gov.br/
ry.org/cgi/content/full/2009/1/113 full >
hemominas/menu/cidadao/paciente/
Acesso em: 21 de maio de 2011.
atendimento.html?print=true.
7. The Diagosis, Evaluation, and Acesso em: 21 de maio de 2011
Management of von Willerbrand
.

20
Revista de Iniciação Científica da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 1, n. 2, 2011, p. 17-20..

Você também pode gostar