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Multimodalidade e letramento:

análise da propaganda Carrossel


Sônia Maria de Oliveira Pimenta*
Denise Giarola Maia**

Resumo
Neste artigo, fazemos uma análise
dos recursos semióticos da propagan-
Introdução
da Carrossel de uma campanha de
inclusão social do portador da Sín- As tecnologias da comunicação, como
drome de Down do Instituto MetaSo- a televisão, o DVD, o computador, e a
cial. O vídeo foi divulgado na mídia internet, entre outros, permitiram não
televisiva em 1998, durante o horário apenas o armazenamento e reprodução
comercial da Rede Globo. Para isso,
de informações, como também o uso
fundamentamos nossa análise na Te-
oria Multimodal da Semiótica Social, de diversos recursos semióticos para a
mais especificamente nos trabalhos produção de mensagens. Desse modo,
de Kress (2010), Kress e van Leeu- torna-se necessário um estudo que
wen (2001, 2006), van Leeuwen (2005,
busque descrever o potencial semiótico
2006, 2006b) e Street, Pahl e Rowsell
(2011), através dos quais descrevemos de tais recursos para que os usuários
e interpretamos os recursos semióticos possam dominar e interpretá-los mais
utilizados na propaganda e a relação criticamente; é o que tem sido realizado
da imagem em movimento com outros pelos pesquisadores da Semiótica Social.
modos com os quais ela interage para
a criação da identidade do portador
de Down como uma pessoa “normal”
e que deve ser respeitada, ressaltan- *
Docente Adjunto da Faculdade de Letras e Programa
do assim a necessidade cada vez mais de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos da Uni-
urgente de um letramento multimodal versidade Federal de Minas Gerais (UFMG). E-mail:
soniapimenta1@gmail.com.
para a compreensão e estudo dos mais **
Mestra em Letras pela Universidade Federal de São
diversos gêneros discursivos. João del-Rei (UFSJ) e tutora no curso a distância de
Letras/Português da Universidade Federal de Lavras
Palavras-chave: Semiótica social. Mul- (UFLA). E-mail: denisegiarolamaia@yahoo.com.br.
timodalidade. Letramento. Propaganda.
Data de submissão: fev. 2014 – Data de aceite: abr. 2014
http://dx.doi.org/10.5335/rdes.v10i1.4100

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Este artigo tem como objeto de estu- Fundamentação teórica:
do a propaganda intitulada Carrossel,
divulgada em 1998, na mídia televisiva. multimodalidade e
Nosso interesse nesse objeto deve-se ao letramento
fato de esse gênero apresentar carac-
teristicamente um texto multimodal, No campo da Educação e das Ciências
no qual, o sentido é estabelecido na da Linguagem, o termo “letramento” é
interação da imagem em movimento relativamente novo e representa uma
com a linguagem verbal e a trilha so- nova forma de compreensão do saber
nora, e, além disso, abordar o tema do ler e escrever em oposição ao termo “al-
preconceito em relação aos portadores fabetização”, que remete à habilidade
da Síndrome de Down. Assim, o estudo mecânica de codificar/decodificar.
Dizemos que uma pessoa é “letrada”
desse objeto permite-nos discutir ques-
quando ela vive na condição de quem
tões centrais apontadas pela abordagem
sabe (ou aprende) ler e escrever em
Semiótica Social da multimodalidade e
diferentes eventos e práticas sociais.
contribuir para o entendimento de como
Entende-se, com isso, que o letramen-
discursos são realizados em diferentes
to é múltiplo, pois, fazemos diferentes
modos, ou pela combinação deles. Nosso
usos sociais da escrita. Além disso, o
objetivo é analisar os recursos semióticos
letramento implica que uma pessoa pode
utilizados no vídeo dessa propaganda,
ser analfabeta, mas letrada. Nesse caso,
sobretudo aqueles do modo imagético, ela não sabe ler nem escrever, mas, vive
observando como eles se relacionam para e participa de um ambiente no qual a
construir o discurso de inclusão social, leitura e a escrita estão presentes, por
nesse gênero discursivo. exemplo, ela dita cartas para outros
Para isso, dividimos este artigo em escreverem, ela ouve textos que outros
três partes. Na primeira, discutimos a leem para ela (cf. SOARES, 1998).
abordagem Semiótica Social da multi- Desse modo, o letramento indica a
modalidade. Na segunda, descrevemos inserção e a participação do indivíduo
os pressupostos para a análise da pro- no mundo da escrita como forma de
paganda Carrossel, contextualizando participação na vida em sociedade e,
esse objeto de estudo e apresentando os portanto, corresponde a um “conjunto
pressupostos teóricos da Gramática do de atividades sociais que envolvem a
Design Visual e o software ELAN, atra- língua escrita, e de exigências sociais de
vés do qual selecionamos os dados para uso da língua escrita” (SOARES, 1998,
a análise. Essa, finalmente, constitui o p. 66). A escola é vista, nesse contexto,
terceiro tópico deste artigo. como uma agência que desenvolve um
tipo de letramento acadêmico, em outras
palavras, ela é apenas uma das agências
que promovem o letramento.

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Nossa sociedade é composta por diver- complexa relação intersemiótica, ou
sas esferas: escolar, literário-artística, seja, vários modos são envolvidos em um
científica, publicitária, religiosa, jurídi- evento comunicativo e todos os modos
ca, política, econômica entre outras, em combinam para representar o sentido de
que determinadas práticas discursivas uma mensagem. Por isso, Street, Pahl e
são realizadas pelo homem. Dentro da Rowsell (2011) afirmam que é necessário
esfera familiar, por exemplo, cozinhar ampliar a noção de letramento, incorpo-
é uma prática social que apesar de pa- rando-a em uma perspectiva multimodal.
recer mais uma atividade física envolve Os gêneros discursivos são definidos
também certas práticas discursivas, pela sua função, em termos do que fazem,
tais como receitas, listas de compra e ou seja, são modelos de ação comunicati-
cardápios, que são considerados gêne- va e de estratégias e procedimentos para
ros discursivos. Assim, nossas práticas atender a certos propósitos comunicati-
sociais (ações e interações sociais) são vos. Em relação à análise genérica, van
geradoras de inúmeros gêneros que refle- Leeuwen (2005) diz que essa precisa ser
tem nossos propósitos comunicativos, e modificada quando nós a transferimos do
que organizam e governam nossas ações domínio “monomodal”, textos lineares,
(cf. BAKTHIN, 2000). No exemplo su- para o multimodal, textos não lineares.
pracitado, a receita ensina como se deve Por texto não linear, o autor considera
cozinhar e quais são os ingredientes que aqueles que têm um primeiro plano vi-
a pessoa precisa comprar para preparar sual, não apenas o uso de imagens, mas
um determinado prato. toda a composição, tipografia e cor; e que
As práticas de letramento, no âmbito permitem múltiplas formas de leitura, in-
escolar, devem então estar pautadas no dependentemente de ser ativada através
estudo dos mais variados gêneros tex- de tecnologia (pensando aqui nos gêneros
tuais, os quais o sujeito (aluno) já está fixados em um suporte virtual), ou não.
familiarizado e com aqueles os quais des- Por exemplo, ao lermos uma notícia,
conhece, permitindo assim sua inserção dependendo da disposição dos elementos
nas esferas de maior poder na sociedade. no layout, bem como seu tamanho, cor
Porém, essa concepção de letramen- etc., podemos, primeiramente, olhar uma
to é relativamente limitada, porque a fotografia e, em seguida, o título, e, por
comunicação e a representação não se último, o texto verbal.
realizam apenas e exclusivamente por De acordo com van Leeuwen (2005),
meio da linguagem verbal. Nunca foi o propósito do gênero é desenvolvido
assim e, especialmente, nos dias de hoje, em um texto em diversas etapas, que
com a globalização e o advento de novas podem ser realizadas por um modo se-
tecnologias, as pessoas comunicam-se e miótico específico, dependendo do local
representam o mundo, através de uma de circulação e de fatores culturais, ou

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por diferentes modos simultaneamente. cercados deles e cada um tem sua relevância
Voltando ao exemplo da receita, esta e seu significado produzido pela cultura.
[...] Essa profusão de signos não-verbais e a
pode trazer a imagem de um prato para exigência da relação entre esses signos e os
“abrir o apetite” do leitor e persuadi-lo a verbais, fez surgir o conceito de analfabeto
experimentar. A relação entre os modos visual, ou seja, da condição daquele que lê
o código verbal, mas não consegue dominar
dentro de uma etapa pode ser elaborati- estratégias de compreensão e de relação en-
va ou extensiva. Por elaboração, o autor tre o verbal e o não‑verbal (BRASIL, 2009).
entende como a atualização de um con-
Como observamos na citação, infeliz-
teúdo realizado em um modo por outro
mente, ainda não ocorre efetivamente no
modo, seja para exemplificar, esclarecer,
âmbito escolar a prática desse letramento
resumir, o que corresponderia à noção de
multimodal. Embora o livro didático
ancoragem. Na ancoragem, tem-se, por
busque adequar-se às exigências dessas
exemplo, o verbal especificando o sentido
propostas curriculares, incorporando tex-
da imagem, uma vez que esta, em muitos
tos dos mais variados gêneros híbridos,
casos, é polissêmica, embora o oposto
como tirinhas, charges, publicidades, nos
também seja possível (BARTHES, 19771
quais vemos com mais facilidade a rela-
apud KRESS; van LEEWEN, 2006). Já
ção intersemiótica, as atividades desses
por extensão, entende como um modo
materiais priorizam a análise do modo
adicionando algo novo (KRESS; van
escrito, e pouco, ou muito superficialmen-
LEEUWEN, 2006).
te, exploram aspectos dos outros modos,
No sistema educacional brasileiro,
como a imagem, a cor, a tipografia.
os Parâmetros Curriculares Nacionais
Além disso, como comentam Kress e
(PCN’s) de Língua Portuguesa, por
van Leeuwen (2006), nos anos iniciais,
exemplo, propõem que sejam trabalha-
os livros didáticos são cheios de imagens
das capacidades de leitura de “outras
e os alunos são motivados a ilustrarem
linguagens”. Em relação aos “signos não
suas atividades, contudo, à medida que
verbais”, o documento Orientações Peda-
os anos escolares avançam, a tendência
gógica de Língua Portuguesa do Ensino
é as imagens desaparecerem dos ma-
Médio comenta que:
teriais didáticos e os alunos não serem
Nas sociedades pós-modernas, a maioria das encorajados a aperfeiçoarem suas habi-
pessoas passa grande parte do tempo frente
à tela de TV, de computador e de outras mí- lidades de utilizar diferentes formas de
dias. Encontra‑se cercado de ilustrações, de comunicação e representação.
cores, de gráficos e de tabelas, ou seja, vive Nas considerações de sua monografia,
cercado de uma paisagem semiótica, em que
o que prevalece é muito mais o não verbal na qual analisou a edição da prova do
do que o verbal propriamente dito no de- Enem 2009, que consiste em um siste-
senvolvimento dos processos de recepção de ma de avaliação em larga escala, cujo
mensagens visuais, a Semiótica Social surge
objetivo é avaliar o desempenho dos estu-
como uma ciência que procura analisar os
signos que circulam na sociedade. Vivemos dantes no final do ensino médio, Severo

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(2010) observou, quanto ao letramento recursos para realizá-la, como, por exem-
multimodal, que plo, a saliência e a moldura que, como
[...] há uma defasagem importante em re- falaremos mais adiante, no subtópico
lação ao desenvolvimento das habilidades 2.3, são realizadas através de vários
necessárias para a leitura de textos multi- modos (imagem, tipografia, cor) e, dentro
modais, em que entram em jogo elementos
não-verbais. Enquanto a prova apresenta de cada um desses, de forma diferente.
questões que exploram esses recursos, as Mas, então, o que vem a ser essa te-
escolas continuam trabalhando a leitura de oria da multimodalidade? Kress e van
modo tradicional, apoiada no texto escrito, na
maior parte do tempo (SEVERO, 2010, p. 42).
Leeuwen definem multimodalidade como
[...] o uso de vários modos semióticos no
Esse letramento é ainda dificultado design de um produto semiótico ou evento,
pelo fato de as disciplinas teóricas e a crí- juntamente com a maneira particular em
tica especializada, que se desenvolveram que estes modos são combinados - eles po-
dem, por exemplo, reforçar-se mutuamente
para falar de cada modo, tornaram-se (dizer a mesma coisa de formas diferentes),
igualmente monomodal, por exemplo, a desempenhar papéis complementares 2
linguística preocupa-se com a linguagem (2001, p. 20).
verbal, a musicologia com a música, a E, nesse sentido, Jewitt diz que a
história da arte com a arte, cada uma
[...] multimodalidade descreve abordagens
com seu método, seu vocabulário técnico, que entendem a comunicação e represen-
suas suposições (KRESS; VAN LEEU- tação como sendo mais que a linguagem
WEN, 2001). verbal, e que atende a toda gama de formas
comunicacionais que as pessoas usam – ima-
Por isso, van Leeuwen (2005, 2006a, gem, gestos, olhar, postura, e assim por dian-
2006b) e Kress (2010) assumem a posição te – e as relações entre elas3 (2011, p. 14).
de que é preciso uma teoria mais ampla,
Há uma variedade de disciplinas e
que traga todos os modos de fazer sentido
perspectivas teóricas que devem ser usa-
juntos sob o mesmo campo teórico, como
das para explorar diferentes aspectos da
parte de um único campo. Essa teoria é
paisagem multimodal, no entanto, o termo
a multimodalidade.
multimodalidade, ao qual nos referimos,
Contudo, para Kress e van Leeuwen
está, neste artigo, fortemente ligado à
(2001) e van Leeuwen (2005, 2006a),
Semiótica Social. O ponto inicial para
isso não será feito sem primeiro explorar
uma análise semiótica social da multimo-
separadamente o potencial comunicativo
dalidade foram os trabalhos de Halliday.
dos diferentes recursos semióticos envol-
Halliday e Matthiessen definem texto
vidos nos textos, para posteriormente
como “[...] qualquer instância de lingua-
encontrar conceitos funcionais, isto é,
gem, em qualquer meio, que produz sen-
conceitos ou princípios multimodais que
tido a alguém que conhece a linguagem”4
descrevem uma função de comunicação
(2004, p. 3). Apesar de tratarem do texto
particular, e que serão aplicados a todos
verbal, essa é uma noção que explora
os modos semióticos que desenvolveram

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a questão semântica e, por extensão, é lógicas ainda estão sendo desenvolvidas.
aplicada a outras linguagens. Por outro lado, cabe apresentar alguns
Para esses dois autores, a linguagem conceitos chave para a multimodalida-
é multifuncional, ou seja, é responsável de: modo, recursos semióticos, discurso,
por três metafunções: (i) interpessoal, design, estilo, estética e ética.
pois, através da linguagem atuamos De acordo com Kress (2011), modo é
nas relações sociais, interagimos com uma forma socialmente e culturalmente
as pessoas ao nosso redor. É também determinada que oferece recursos para
através da linguagem que nos informa- criar sentidos. São exemplos de modos,
mos ou questionamos algo, damos ordem a imagem, a escrita, a música, o gesto e
ou fazemos uma oferta, e expressamos a fala, entre outros. Cada modo possui
nossa apreciação ou atitude a respeito seu conjunto de recursos semióticos, que
do que nos é destinado e do que estamos van Leeuwen entende como
falando; (ii) ideacional, porque, quando [...] as ações e os artefatos que usamos para
usamos a linguagem damos sentido às nos comunicar, sejam eles produzidos fisiolo-
nossas experiências. Não há nenhuma gicamente – com nosso aparelho vocal, com
os músculos que usamos para criar expres-
faceta da experiência humana que não sões faciais e gestos, etc. - ou por meio de
possa ser transformada em sentido. Na tecnologias – com caneta, tinta e papel; com
oração,5 são representados participantes, hardware e software de computador, com
tecidos, tesouras e máquinas de costura, etc7
processos (algum feito, acontecimento, (Leeuwen, 2006a, p. 3).
dito, entre outros) e circunstâncias; e (iii)
textual, responsável pelo sistema de in- Recursos são vistos, portanto, como
formação e de organização da mensagem. significantes, isto é, formas observáveis,
Posteriormente, Kress e van Leeuwen que tenham sido delineados em um
(2006) observaram como essas meta- contexto social e cultural e que possuem
funções são realizadas visualmente, um potencial semiótico constituído pelos
aplicando-as na análise de imagens. Tal usos passados, os quais são conhecidos
trabalho referente à comunicação visual, dos usuários; ou pelos usos que poderiam
segundo Jewit, vir a ser descobertos pelos usuários com
base em suas necessidades e interesses.
[...] abriu as portas para a multimodalidade
e lançou as bases para o alargamento e adap- Van Leeuwen (2006a) apresenta-nos um
tação da semiótica social através de uma exemplo interessante de recursos, o jeito
variedade de modos6 (Jewit 2011, p. 29). de andar. Observa-se que as pessoas
A multimodalidade na perspectiva não andam de formas iguais, homens e
da Semiótica Social não é uma teoria mulheres andam diferentemente, certas
acabada, pelo contrário, as discussões instituições como o exército e a moda
em torno desse fenômeno são recentes e desenvolveram seus próprios jeitos espe-
estão abertas. Uma consequência disso ciais e cerimonias de andar. Através do
é que as ferramentas teóricas e metodo- modo como andamos, expressamos quem

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somos, o que estamos fazendo e como produção, uma vez que o primeiro está
queremos nos relacionar com os outros. relacionado à criação, enquanto o último
Além disso, diferentes modos de andar diz respeito à organização da expressão
podem seduzir, impressionar, ameaçar. ou do meio de execução do que foi elabo-
Nessa perspectiva, recursos semióti- rado pelo design.
cos são motivados, isto é, a relação entre
forma e sentido baseia-se nos interesses Procedimentos
do produtor, e, portanto, são fluídos,
dinâmicos e conectados ao contexto so-
metodológicos para a
cial de uso. Importante ressaltar que as análise do texto multimodal
pessoas expressam sentidos através da
seleção que fazem dos recursos semióti- As propagandas do Instituto
cos que consideram mais aptos e plau- MetaSocial
síveis para a comunicação, sendo essas
escolhas sempre políticas. Kress (2010) Em meados da década de 1990, é cria-
denomina como estilo, então, essa série do o Instituto MetaSocial, uma institui-
de escolhas feita no design da mensa- ção sem fins lucrativos, que, em parceria
gem. Para o autor, a estética corresponde com outras instituições, desenvolveu
à política do estilo, ou seja, trata-se das uma campanha na mídia televisiva,
variadas formas relacionadas às escolhas com o propósito de promover a inclusão
e suas composições. Enquanto que a ética das pessoas portadoras da Síndrome de
estaria relacionada à política do valor e Down, através de algumas propagandas.
da avaliação, isto é, àquilo que conside- O termo propaganda é utilizado
ramos digno de destaque e importância. para designar o gênero que tem como
Em relação ao discurso, este, muitas propósito divulgar uma ideia, buscando
vezes, está associado à linguagem verbal, a adesão de um determinado público.
no entanto, sua existência independe do Conforme Sant’Anna (1998, p. 75), esse
modo ou do design, isto é, pode ser reali- termo refere-se à “propagação de doutri-
zado em diferentes maneiras. Kress e van nas religiosas ou princípios políticos de
Leeuwen (2001) entendem discurso como algum partido”. Desse modo, a propa-
conhecimentos construídos socialmente a ganda está mais relacionada a objetivos
respeito de algum aspecto da realidade. políticos que comerciais, como é o caso
Por fim, design refere-se aos usos dos da publicidade, e pode tanto manter o
recursos semióticos, em todos os modos status quo quanto implantar mudanças
semióticos e combinações desses. Tam- sociais na sociedade.
bém são meios de realizar discursos no A propaganda pode circular em várias
contexto de uma situação comunicativa. mídias (televisão, rádio, jornal, revista
É importante não confundir design com e computador) e suportes (papel, inter-
net, cartaz, outdoors). Dependendo da

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mídia e suporte em que circula, o gêne- ças, em 2005, Menina Azul, em 2007,
ro sofre algumas modificações em sua e Menina Diferente, em 2011. Todos os
configuração. A propaganda televisiva, vídeos dessas propagandas estão dispo-
por exemplo, contém um texto mais níveis no site do Instituto (http://www.
dinâmico, isto é, curto, com imagens em metasocial.org.br).
movimento, um fundo sonoro, tal como Para este artigo, faremos uma análise
são as propagandas do Instituto Meta- apenas do vídeo da propaganda Carros-
Social, que possuem curta duração, em sel, no entanto, pretendemos, em outro
média de trinta segundos a dois minutos, momento, analisaros outros vídeos, uma
e são transmitidas durante o horário vez que esses exploram diversos recursos
comercial da rede de televisão aberta, semióticos para construção do discurso
Rede Globo. do preconceito e da diferença.
A proposta dessas propagandas, de
acordo com o site do Instituto, é “mos- A gramática do design visual
trar de forma positiva, alegre e colorida (GDV)
as potencialidades de todas as pessoas, Analisaremos os recursos utilizados,
independentemente de suas limitações” especialmente, do modo imagético para
e conscientizar a sociedade de que “todas a construção do discurso de inclusão so-
as pessoas possuem o mesmo valor hu- cial no vídeo da campanha Carrossel do
mano e, por isso, merecem ser tratadas Instituto MetaSocial. Para isso, faremos
com respeito e dignidade”8. uso das categorias propostas por Kress
A primeira, intitulada Pianista, foi e van Leeuwen (2006) para a análise
transmitida em 1996. Dois anos depois, de imagens.
foi ao ar Carrossel, que ficou popular- Conforme comentamos no tópico an-
mente conhecido como “Carlinhos”, nome terior, as três metafunções da linguagem
do protagonista. Esta propaganda, na verbal, descritas por Halliday e Mat-
época, teve grande repercussão e recebeu thiessen (2004), podem ser igualmente
diversas premiações, como o Globo de realizadas por outros modos semióticos.
Ouro, o Bronze no Festival Internacional Em Reading Imagens, Kress e van
de Nova York e o Leão de Bronze no Fes- Leeuwen (2006) descrevem os recursos
tival de Cannes, na França.9 Em 2002, disponíveis no modo imagético para de-
foi a vez de Garçonete. No ano seguinte, sempenhar essas metafunções.
a agência Giovani+Draftfcb tornou-se Para os autores, a metafunção idea-
parceira do Instituto MetaSocial, juntas cional é a habilidade do sistema semióti-
criaram o slogan “ser diferente é normal” co em representar objetos, ou participan-
e lançaram várias propagandas para tes, e sua relação com o mundo. Existem
essa campanha de inclusão social, como dois tipos de participantes envolvidos no
Adolescente, em 2003, e depois, Diferen- ato semiótico, o participante interativo,

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que diz respeito às pessoas reais – tanto alguém ou algo. Nesse caso, corresponde
aquela que produz quanto aquela que aos verbos transitivos. Tem-se pelo me-
consome –, e os participantes repre- nos dois participantes, o ator e o alvo. A
sentados, que são as pessoas e objetos ação pode ser ainda bidirecional, no qual
representados na imagem. Esses últimos o participante é ator e alvo da ação.
desempenham funções semióticas, isto O segundo diz respeito ao processo de
é, podem ser ator, quando partir deles reação, o vetor é formado pela direção do
partem os vetores, e meta, quando o olhar de um ou mais participantes repre-
vetor aponta para eles. sentados. É chamado de reator aquele
Vetores são aquilo que linguistica- participante que olha, podendo ser um
mente definimos como “verbos”. Nas ser humano, animal, ou qualquer objeto,
imagens, eles são linhas visíveis ou desde que tenha olhos e seja capaz de ex-
imaginárias formados pelos corpos, ou pressão facial, e de fenômeno aquilo para
membros, ou ferramentas em ação, e que que ou aquele para quem se está olhan-
indicam processos, os quais são de dois do. Também pode ser transacional ou
tipos: narrativos ou conceptuais. não transacional. Na primeira, o olhar do
Quando o participante está conectado participante dirige-se ao fenômeno que,
por um vetor, ele é representado como por sinal, está na imagem. Na segunda,
fazendo algo para alguém. Esse tipo de o olhar é direcionado para algo fora da
padrão vetorial é denominado por Kress imagem. Como não há o fenômeno, temos
e van Leeuwen (2006) como narrativo. que imaginar para quem o participante
Cinco diferentes tipos de processos nar- está olhando.
rativos podem ser distinguidos com base O terceiro é o processo verbal e men-
no tipo de vetor e no número e tipo de tal que é muito comum nas histórias em
participante envolvido. O primeiro deles quadrinhos. São dizeres representados
é o processo de ação, os acontecimentos por balões. Assim, temos como partici-
do mundo material são descritos ou apre- pantes o dizente, participante do qual
sentados. Seus participantes são o ator, emana o balão que indica a fala, e o
participante de quem o vetor parte, e o enunciado, conteúdo inserido no balão.
alvo, participante que é atingindo pelo Contudo, se o processo for definido por
vetor. Esse tipo de estrutura corresponde um balão indicativo de pensamento, os
aos processos materiais e comporta- participantes são o experienciador, aque-
mentais, no modo verbal, e dois tipos le de quem parte o balão, e fenômeno, o
são diferenciados: (i) não transacional: que está inserido no balão.
a ação não é feita para alguém ou algo, O penúltimo processo, de conversão,
ela corresponde ao verbo intransitivo. envolve uma mudança de status do parti-
Assim, possui apenas um participante, o cipante, o retransmissor, que é ao mesmo
ator; (ii) transacional: a ação é feita para tempo alvo de uma ação e ator de outra.

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Esse tipo de estrutura visual é típico tricamente no espaço da imagem, em
de diagramas que representam eventos distância e tamanho iguais e orientados
naturais, como ciclo da água, metamor- para os eixos vertical e/ou horizontal. O
fose dos anfíbios, mas também pode ser subordinante tem a possibilidade de ser
aplicado em (inter)ações humanas. inferido pela semelhança ou pelo motivo
Por fim, temos o processo de simbolis- de estarem agrupados. Na taxionomia
mo geométrico. Nele, há somente o vetor, explícita, um participante subordinante
indicando direcionalidade, por meio de é ligado a dois ou mais participantes
um sinal de infinito, em vez de uma seta. subordinados através de uma estrutura
Em relação às imagens narrativas, de árvore. O subordinante é colocado
Kress e van Leeuwen (2006) ainda acima ou abaixo dos subordinados. Cabe
explicam que essas podem conter parti- ressaltar que os participantes podem ser
cipantes secundários que se relacionam realizados verbalmente ou visualmente,
com os participantes principais, mas ou em ambos, mas, o processo é sempre
não por meio de vetores, mas de outras visual. (ii) Analítico: os participantes se
formas. Os autores referem-se a eles relacionam em termos de uma estrutura
como circunstâncias e podem ser de três de parte-todo, um deles o portador, o
tipos: (i) de lugar – consiste no contraste todo, e o outro o atributo, a parte. Pode
entre primeiro e segundo plano; (ii) de acontecer de aparecer setas, mas que não
meio – nesse caso, não há um vetor nítido são vetores, elas apenas realizam uma
entre a ferramenta e o seu usuário; e (iii) identidade entre verbal e visual. O pro-
de acompanhamento – também não há cesso analítico pode ser não-estrutural,
vetor, o participante estar “com” o outro. temporal, exaustivo e inclusivo, topográ-
Padrões conceituais estão correlacio- fico e topológico e espaço-temporal. (iii)
nados aos processos relacional e existen- Simbólico: diz respeito ao que um partici-
cial do modo verbal. Ocorrem visualmen- pante significa ou é. Pode ser atributivo,
te quando os participantes representados quando a identidade de um participante
se relacionam em termos de sua classe, (portador) é estabelecida na relação com
estrutura ou significado. Imagens con- outro participante (atributo), ou o suges-
ceituais apresentam três tipos diferentes tivo, quando o participante representa a
de processos: (i) classificacional – os própria identidade.
participantes se relacionam em termos De acordo com Kress e van Leeuwen
de taxionomia (implícita ou explícita). (2006), o modo imagético possui outros
Um participante pode fazer o papel de recursos para desempenhar outra me-
subordinado e outro de subordinante. Há tafunção, a interpessoal, que diz res-
ainda os participantes intermediários. peito à interação entre os participantes
Na taxionomia implícita, os participan- interativos (produtor da imagem e seu
tes subordinados são distribuídos sime- observador) e participantes representa-

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dos, através dos seguintes recursos: (i) lada a do observador, temos um poder
olhar – os olhos podem ou não formar simétrico, uma igualdade entre os dois.
vetores. Quando há esse vetor de olhar, Mas, se o participante representado é
dizemos que o participante representado mostrado de um ângulo inferior/baixo,
estabelece um contato pessoal com o ob- será visto como imponente e temível,
servador, demandando-lhe algo. Já nas conferindo-lhe poder.
imagens de contato indireto, impessoal, Kress e van Leeuwen (2006) descre-
o participante representado não olha vem também como a composição rela-
para o observador, não há vetor de olhar. ciona os elementos representados e in-
O participante representado é oferecido terativos da imagem, formando um todo
como um item de informação, um objeto significativo, a partir dos sistemas de:
de contemplação. (ii) Enquadramento: valor da informação, saliência e moldura.
quando o participante é representado do Esses três são aplicáveis não somente a
ombro para cima, ou apenas seu rosto, imagem, mas, ao texto multimodal, por
então, dizemos que a distância social exemplo, a imagem interagindo com
entre ele e o observador é perto e, por outros modos.
isso, sugere intimidade entre os dois. O valor da informação está relacio-
A distância social será média, quando nado ao grau de importância atribuído
o participante for mostrado da cintura aos elementos representados, a partir
para cima. E longe, quando o participan- da posição que ocupam na imagem. Eles
te for retratadode corpo inteiro, inclusi- podem ser polarizados na horizontal, na
ve, mostrando o cenário a sua volta. (iii) vertical ou centralizados. Nesse sentido,
Perspectiva: a presença de perspectiva os elementos são analisados em termos
indica uma atitude subjetiva, enquanto de: (i) dado e novo – informações posicio-
sua ausência, objetividade. (iv) Ângulo nadas à direita são tidas como o ponto de
horizontal: quando o plano for frontal, partida da mensagem, o senso comum,
isto é, produtor e participante repre- aquilo que é passivo, enquanto aquelas
sentados estão de frente, isso sugere posicionadas à esquerda dizem respeito
envolvimento com o observador. Mas, se àquilo que se quer atenção especial, ao
o ângulo for oblíquo, isto é, produtor e que é novo, ou problemático; (ii) ideal e
participante representado não estiverem real – informações localizadas na parte
de frente, isso sugere imparcialidade. superior representam sempre um ideal,
(v) ângulo vertical: se o participante for já aquelas na parte inferior, aquilo que é
mostrado de um ângulo elevado, ele é concreto, tido como verdadeiro e também
posto como pequeno e insignificante em informações mais especificas; (iii) centro
relação ao observador, conferindo poder e margem – elementos no centro são
a esse último. Se a altura dos olhos do geralmente aqueles que são o núcleo da
participante representado estiver nive- informação, já os que estão na margem

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possuem um valor subserviente e depen- mos na representação visual. Os autores
dem do elemento central. apontam oito marcadores de modalidade:
A saliência é responsável por criar a saturação da cor, diferenciação da cor,
uma hierarquia de importância entre modulação da cor, contextualização, re-
os elementos, selecionando alguns como presentação, profundidade, iluminação
os mais importantes e mais dignos de e brilho.
atenção que outros. Isso ocorre através
do contraste de tamanho entre os par- A imagem em movimento
ticipantes representados, e também se Os padrões representacionais, intera-
eles estão em primeiro ou segundo plano, tivos e composicionais que discutimos no
pela cor. subtópico anterior também se aplicam à
A moldura são elementos que podem imagem em movimento. No entanto, há
ser representados como identidades algumas diferenças no tratamento deste
separadas ou que se relacionam. Tal material, por causa do movimento.
desconexão entre os elementos acontece A primeira diferença destacada por
por meio de linhas divisórias, desconti- Kress e van Leeuwen (2006) é em relação
nuidade no uso de cor ou forma, espaços aos processos narrativos. Segundo eles,
vazios, por outro lado, a conexão se dá o vetor é realizado pelo movimento dos
pela ausência de espaços vazios e de participantes representados. Além disso,
linhas divisórias, por cores e forma que a relação entre ator e alvo pode ser re-
se mantêm e se repetem no todo da com- presentada em uma única cena, na qual,
posição. A moldura é um princípio multi- são mostrados o ator e o alvo, ou em duas
modal realizado por diferentes recursos subsequentes cenas, a primeira mostran-
em diferentes modos semióticos. Por do o ator e a segunda o participante alvo
exemplo, no interior de espaços e prédios, (ou vice-versa). Essa desconexão fílmica
as molduras podem ser divisórias, que mostra os participantes como indivíduos
vão desde cortinas e telas frágeis até a isolados, mesmo quando eles estão inte-
paredes sólidas, segregando espaços e, ragindo com os outros, o que pode desco-
portanto, as pessoas, grupos e/ou ativida- nectar os atores dos participantes alvos
des que estão ou são desenvolvidas neles. e de suas ações, e do efeito de suas ações
Kress e van Leeuwen (2006) tratam sobre esses participantes. Para Kress e
ainda da modalidade. Ela se refere a van Leeuwen (2006), muitas vezes, esse
como uma imagem pode ter maior ou processo de edição das imagens permitem
menor grau de verdade e credibilidade. a “dissimulação” dos fatos. A imagem em
O critério dominante para o que é real ou movimento realiza, ainda, eventos que
não é a aparência das coisas, no quanto não têm nem um ator e nem um alvo.
de correspondência há entre o que vemos A escolha entre conexão e desconexão
normalmente em um objeto e o que ve- entre os participantes também existe nos

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processos de reação. Os filmes podem segui-los, alterando assim o ângulo que
mostrar reator e fenômenos em uma os observadores veem os participantes.
mesma cena, ou em cenas subsequentes. Em geral, a imagem em movimento re-
Reações desconexas têm uma sensação presenta as relações sociais como dinâ-
muito subjetiva, de “primeira pessoa”, micas, flexíveis e mutáveis. Distância e
pois é como se o participante interativo, ângulo podem ser dinamizados de duas
o observador, estivesse olhando para o formas: com os participantes represen-
fenômeno “através dos olhos do reator”. tados iniciando a mudança, ou com os
Finalmente, enquanto as imagens produtores da imagem. No primeiro caso,
ainda desenvolvem balões de diálogo a atitude é objetiva, é como se tudo es-
para realizar processos verbais, nas tivesse sendo gravado da maneira como
imagens em movimento, o diálogo não está ocorrendo, e no segundo, subjetiva.
é representado visualmente, através A distinção entre oferta e demanda
da escrita, mas diretamente, por meio também se aplica à imagem em movimen-
da fala. A sincronização entre a fala e to, as quais são dinamicizadas à medida
os movimentos labiais do participante em que os participantes representados
substitui o vetor que liga o dizente e o podem virar-se para a câmera e olhar
enunciado. Sem essa sincronização, as para a lente (e, consequentemente, para
imagens em movimento não significam o observador), ou podem evitar seu olhar.
que o enunciado que ouvimos é real- O conceito de modalidade também
mente falado pelo dizente que vemos. é aplicável à imagem em movimen-
Isso ocorre quando o observador ouve o to. Nesse caso, o movimento também
enunciado, enquanto assiste a reação do será considerado um marcador de
outro participante da interação. modalidade,representando diferentes
A segunda diferença diz respeito à graus de realismo ou de abstração10.
dimensão interativa, na qual se observa Por fim, diferenças são observadas
como as posições da câmera criam rela- no que diz respeito à composição. Aqui,
ções simbólicas entre os observadores também valor da informação, saliência
e o que é retratado em uma imagem. e moldura ganham mais dinamicidade.
No caso da imagem em movimento esse Algo que começa como dado pode se
relacionamento torna-se dinâmico. A mover para a posição do novo, ou algo
câmera pode captar os participantes de que tem pouca relevância pode tornar-
um ângulo frontal, alto ou baixo, ou com -se altamente saliente em uma cena, por
um zoom mais próximo ou longe. Mesmo exemplo, ao se mover para a luz, ou por
com a câmera parada, os participantes uma mudança de foco da câmara. Par-
podem mover-se em direção a ela, ou ticipantes que se localizam em espaços
descer e subir escadas, com a inclinação diferentes, significando uma falta de
da câmera para cima ou para baixo para comunicação entre eles, podem mover-se

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para o espaço um do outro, desfazendo a Análise da imagem em
moldura entre eles.
Kress e van Leeuwen (2006) ressal- movimentos e outros
tam que a imagem em movimento, o recursos semióticos do vídeo
filme, por exemplo, é caracteristicamente
da propaganda Carrossel
multimodal, envolvendo não somente o
visual, mas também a voz, o som e a mú- O vídeo da campanha Carrossel tem
sica. Porém, esses pressupostos da GDV duração de dois minutos e quatro segun-
são possíveis de serem aplicados a aspec- dos, e nele, vários modos se articulam na
tos espaciais da imagem em movimento. criação de um todo significativo, como
a imagem em movimento, a linguagem
O software ELAN
verbal (escrita) e a trilha sonora. Anexa
Para a seleção e análise dos dados, a este artigo, encontra-se a imagem es-
utilizamos o software Eudico Linguistic tática das cenas que foram analisadas,
Annotator, mais conhecido pela sigla as quais estão enumeradas para melhor
ELAN11, desenvolvido na Holanda pelo identificação.
Instituto de Psicolinguística Max Plan- O vídeo dessa campanha inicia com
ck. Essa ferramenta permite a criação, a câmera focalizando de perto algumas
edição, visualização e anotação de ima- lâmpadas (cenas 1 e 2). Nas cenas se-
gens em movimento e áudio. guintes, em um plano um pouco mais
Apesar de o ELAN fornecer muitos aberto e de um ângulo oblíquo, a câmera
recursos digitais de anotações, utiliza- captura novamente as lâmpadas e parte
mo-lo somente para assistir ao vídeo de um cavalo (cenas 3,4, 5 e 7), e, depois,
Carrossel,para selecionar e recortar algo que não é possível identificar muito
as cenas em que recursos multimo- bem do que se trata (cenas 6 e 8). As ima-
dais foram utilizados pelos produtores gens são todas em preto e branco, ou seja,
dessa campanha a fim de criar certos há ausência de cor, há momentos em que
significados. Isso porque, por meio a iluminação é mais escura (cenas 1, 3 e
dessa ferramenta, visualizamos o mo- 4) e outros em que ela é mais clara (ce-
vimento das imagens em centésimos de nas 2,5,6,7 e 8). Apesar das lâmpadas e
segundos, e, desse modo, identificamos do cavalo estarem em movimento, o que
com mais precisão o momento em que por si só é um vetor de ação, podemos, de
os recursos – tais como os gestos, por acordo com Kress e van Leeuwen (2006),
exemplo – são realizados. descrever essas cenas como formando
As cenas analisadas no tópico seguin- um processo conceitual analítico, pois a
te encontram-se reproduzidas e enume- câmera focaliza partes do todo que é o
radas nos anexos. brinquedo carrossel.

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Não há texto verbal nessa parte do social perto, sugerindo, como descrevem
vídeo, porém, as imagens interagem Kress e van Leeuwen (2006), intimida-
com a trilha sonora, que conforme Kress de com o observador. Há também uma
(2011), também pode ser considerada relação de envolvimento entre parti-
um modo. Assim, constroem-se novos cipantes representados e interativos,
sentidos, a partir dessa interação entre pois, de acordo com esses dois autores
as imagens e a trilha sonora da música (2006), tem-se esse significado quando
Fake Plastic Trees, da banda Radiohead, o plano é frontal; e também, igualdade
cuja letra faz uma crítica contra o mundo de poder entre esses dois participantes
de aparências. Mais especificamente, e o observador, quando o ângulo vertical
nessas oito primeiras cenas, ouvimos é da altura dos olhos.
o som da guitarra e da bateria em um De acordo com a metafunção ideacional
volume mais baixo e lento, e duas vezes descrita na GDV, os processos são narra-
o verso It wears her out. tivos de ação e de reação. Observamos
Depois de vinte e um segundos, o som vetores de ação no movimento dos braços,
da música acelera, e aparece a cena de cabeça e troco dos participantes, por exem-
duas crianças montadas em cavalos de plo, nas cenas (15), (16), (18), (17), (20),
um carrossel (9). Os primeiros versos da (24), (25), (26), (31) e (32). No entanto,
segunda estrofe são cantados12. não há uma meta. São processos de ação
Como esses dois participantes não não transacionais. Traduzindo para a
olham diretamente para câmera, de acor- linguagem verbal, podemos dizer que as
do a GDV de Kress e van Leeuwen (2006), duas crianças brincam, se divertem. Aos
o contato estabelecido entre participante 47 segundos do vídeo, o som da música
e observador é de oferta, ou seja, são torna-se mais acelerado, quando temos a
apresentados como objetos de contem- imagem do participante da direita sacu-
plação. Eles foram filmados em meio à dindo os braços (cena 18), como se tivesse
ação de brincar. Importante ressaltar que em êxtase com aquele barulho da guitarra.
a câmera não se movimenta, é como se É apresentada a terceira estrofe da músi-
tudo estivesse sendo gravado da maneira ca.13 Há vetores também que partem dos
como está ocorrendo, de modo objetivo. olhos dos participantes. Ora eles olham
Apesar da ausência de olhar, é esta- para um fenômeno que não aparece na
belecida uma relação de envolvimento cena (processo de reação não transacional),
entre esses participantes e o observador, por exemplo, cena (16), ora um dos parti-
por meio das expressões faciais, já que cipantes olha o outro (processo de reação
eles sorriem, e também pelos recursos transacional), como nas cenas (13) e (19).
de enquadramento e de ângulo. As duas Há um momento no vídeo, cena (39), em
crianças são focalizadas pela câmera da que os dois parecem olhar um para o outro
cintura para cima, em uma distância (processo de reação bidirecional).

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Muito importante para o sentido da nectados na composição, segundo Kress
mensagem é a composição dos elementos. e van Leeuwen (2006).
Em relação à imagem em movimento, Em relação à tipografia, também
os dois participantes são polarizados na descrita como um modo semiótico por
horizontal, o que nos leva a analisá-los van Leeuwen 2006b, as letras possuem
em termos de dado e novo, de acordo tamanho pequeno, apresentam uma
com Kress e van Leeuwen (2006). O curvatura (arredondamento) e cor bran-
participante portador da Síndrome de ca, contrastando com o fundo preto em
Down localiza-se à direita que é o local da que aparecem. Abaixo, transcrevemos
informação de atenção especial e proble- essas orações e o tempo em que apare-
mática. O outro participante é localizado cem no vídeo.
à esquerda, espaço que geralmente traz a) Carlinhos vai à escola todos os dias.
uma informação familiar. (00:32,29)
Ambos são bem iluminados e des- b) O amigo dele, não. (00:36,62)
tacam-se na cena, uma vez que quase c) Carlinhos faz natação todos os dias.
não conseguimos visualizar a paisagem (00:49,71)
no fundo, a qual está bem embaçada. d) O amigo dele, não. (00:53,94)
Porém, como veremos adiante, o movi-
e) Carlinhos tem aulas de piano. (01:06,91)
mento do cavalo de subir e descer per-
f) O amigo dele, não. (01:11,27)
mite que um participante ganhe mais
saliência (KRESS; VAN LEEUWEN, g) Ei, (01:25,71) este é o Carlinhos. (01:29,37)
2006) que o outro em algumas cenas. h) E este é o amigo dele. (01:35,29)
Os participantes, a princípio, estão i) Ele é um menino de rua. (01:42,38)
conectados, pois aparecem na mesma
cena como se estivessem brincando jun- Conforme Halliday e Matthiessen
tos. Simultaneamente, com essa imagem (2004), as quatro primeiras orações re-
em movimento, aparece o texto escrito presentam a vida dos participantes, visu-
que em geral são orações estruturadas alizados na cena, em termos do que esses
em períodos simples. As nove primei- fazem. Observe que, nas orações (a) e (c),
ras orações surgem na parte inferior “ir” e “fazer” são processos materiais,
da tela (real), logo abaixo da imagem, cujo ator é “Carlinhos”. Essas duas ora-
com um efeito lento de “aparecer” . São ções trazem a informação da frequência
informações específicas que apresentam que essas ações ocorrem, “todos os dias”,
os participantes da cena, em termos do circunstância de localização temporal.
que fazem e do que são, de acordo com As duas orações que se seguem (e) e
Halliday e Matthiessen (2004). Desse (f), na análise que Halliday e Matthies-
modo, texto e imagem não se sobrepõem, sen (2004) fazem dos processos, represen-
ou seja, esses dois elementos estão desco- tam os participantes em termos do que

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possuem, uma vez que em (e) podemos criança que não é portadora da Síndrome
identificar o processo relacional posses- de Down ir à escola, fazer natação e ter
sivo atributivo “ter”, cujo possuidor é aulas de piano, o contrário, seria uma
“Carinhos” e o possuído, “aulas de piano”. informação não esperada, nova. Além
Nas orações (b), (d) e (f), as quais disso, quem ocupa a posição de dado na
dizem respeito ao amigo de Carlinhos, imagem é o participante visto como uma
temos a elipse do processo material e “criança normal” e no novo, o participante
relacional, e a presença do advérbio de portador da Síndrome de Down. Terceiro,
negação “não”, indicando assim que esse pelos gestos do participante da direita no
participante, que não é referido pelo momento em que o texto aparece na tela.
nome, mas, pela expressão nominal “o Quando as orações (f) e (g), referentes a
amigo dele”, não tem acesso à educação, Carlinhos, começam a surgir, o partici-
ao esporte e a arte, portanto, o partici- pante com Síndrome de Down vira o rosto
pante é excluído de tudo o que é direito e olha para o participante da esquerda
de uma criança. (cenas 13 e 19). Mas, quando surge a
Porém, não fazemos a interpretação oração (b), sobre o amigo de Carlinhos,
desse modo isoladamente, mas atribuí- ele inclina a cabeça e olha para baixo
mos sentido ao que lemos a partir do que (cena 14). Também no momento em que
vemos na imagem, e vice e versa. Quan- a oração (d) aparece, o participante com
do esse texto é apresentado, buscamos Síndrome de Down é o que está em maior
identificar os referente de “Carlinhos” e saliência na cena, pois, o seu cavalo sobe,
“o amigo dele” na imagem. A tendência é enquanto o do outro participante, desce,
associarmos, por vários fatores, Carlinhos fazendo com que aquele apareça mais que
ao participante da esquerda e “o amigo esse (cena 21). Além disso, ele está com
dele” ao participante da direita. Primei- os braços bem abertos e rindo, ou seja,
ro, porque os portadores da Síndrome de numa interação maior com o observador.
Down são vistos pela sociedade como in- O momento ápice do vídeo é quando
capazes de exercerem certas atividades, e, aparece a interjeição “ei”, responsável
além disso, são poucos os que frequentam por estabelece um contato direto com o
escola regular. Segundo, porque nossa observador/leitor, chamando sua aten-
leitura é orientada da esquerda para ção para o fato de que ele, talvez, tenha
direita, do dado para o novo (Halli- feito um julgamento preconceituoso,
day; Matthiessen, 2004, KRESS; deduzindo que o amigo de Carlinhos
vAN LEEUWEN, 2006). As informações seria o personagem da direita.14 Então,
apresentadas inicialmente são as do Car- a câmera focaliza o rosto do participante
linhos, portanto, o dado. Como vimos, o da direita, o portador de Síndrome de
dado é o local da informação familiar, logo Down (cena 34), e depois, do participan-
o que é comum na nossa sociedade é uma te da esquerda (cena 35). Portanto, a

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distância social é próxima, o que sugere Essa mensagem fica estática por um
maior intimidade entre participantes tempo e, em seguida, desaparece. A tela
representados e interativos. Como as fica escura e aparece essa mensagem final:
duas crianças são mostradas em ce- l) DOWN. (01:59,93)
nas distintas, dizemos que essas estão m) A pior síndrome é a do preconceito.
desconectadas. Cada uma é mostrada (02:01,28)
individualmente. Na imagem, temos um
processo conceitual simbólico (kress; Considerações finais
van Leeuwen, 2006), e, no verbal,
um processo relacional identificativo Neste artigo, discutimos que as pesso-
(Halliday; Matthiessen, 2004). as expressam sentidos através da seleção
Aqui, participantes são representados de recursos semióticos que consideram
em termos do que são. mais adequados para a comunicação e
Na última cena, a câmera focaliza representação. Portanto, a partir dessa
apenas os pés do participante da esquer- série de escolhas realizadas na produ-
da que estão calçados com uma chinela ção do vídeo da propaganda Carrossel,
de borracha (cena 36). Para Kress e van escolhas que são politicamente orienta-
Leeuwen (2006), nesse tipo de imagem, das, o Instituto MetaSocial questiona a
por não se ver o olhar do participante, representação do que é “criança normal”,
não há contato social, o que pode signi- fazendo com que os observadores tomem
ficar uma exclusão do participante da consciência de que o portador da Sín-
sociedade. Conforme a GDV desses dois drome de Down tem capacidades para
autores (2006), o processo é simbólico realizar quaisquer atividades.
atributivo, pois, o atributo possuído, a “Carlinhos”, o participante com Sín-
chinela, identifica o participante da es- drome de Down, possui uma vida como
querda como “menino de rua”, expressão a de quase todas as crianças da idade
utilizada no “verbal”. Nessa parte, a dele, pois, como apresenta o vídeo, “mi-
música fica novamente mais baixa, como lhares de crianças no Brasil” são como
no início, e é cantado apenas o verso do “o amigo dele”, um “menino de rua”. A
refrão It wears me out. propaganda, ao trazer um participante
Depois que a imagem em movimento que representa aqueles que estão na rua,
termina, a tela escurece, e no centro, leva-nos a refletir que são fatores sociais,
duas outras orações aparecem, uma como a pobreza, que impossibilitam as
embaixo da outra. pessoas de frequentar escola, ter acesso
j) Milhares de crianças no Brasil (01:50,65) a atividades de artes, cultura e esportes,
precisam de sua ajuda. (01:51,92) e não alguma diferença biológica que a
k) Os portadores da Síndrome de Down pessoa possa ter.
(01:52,30) só precisam do seu respeito.
(01:53,25)

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A propaganda nega o discurso sobre explorem todo o potencial semiótico
o portador da Síndrome de Down como que tem a sua disposição, é necessário
aquele “indivíduo dependente”, ou seja, um letramento multimodal. Na análise
que necessita da ajuda de outras pessoas realizada da propaganda Carrossel,
para realizar algumas atividades. Ao somente chegamos a essas considera-
contrário, coloca o portador da Síndrome ções acerca do discurso e identidade do
de Down, o Carlinhos, como ator dos Portador de Síndrome de Down, porque
processos, tanto no modo verbal quanto consideramos todos os modos envolvidos
no visual. Para o Instituto MetaSocial na produção do sentido. Então, não basta
aqueles que precisam de “ajuda” não apenas que na sala de aula se estude
são os portadores da Síndrome de Down, diversos gêneros discursivos, mas, é
mas as pessoas que não possuem condi- preciso oferecer aos alunos categorias
ção econômica. que possibilitem que eles analisem os
A propaganda faz ainda uma crítica à significados produzidos pelos recursos
sociedade preconceituosa. A escolha da semióticos de diferentes modos, como é a
trilha sonora vai ao encontro desse pro- proposta da teoria da multimodalidade.
pósito, pois a música Fake Plastic Trees
fala de um mundo em que tudo é um “fal- Multimodality and literacy:
so plástico” como, por exemplo, as flores analyzing of Carousel advertisement
de plástico, que não são reais, mas, ar-
tificiais. Desse modo, pessoas “perfeitas” Abstract
não existem, então, porque não respeitar
as diferenças? As demais propagandas In this article, we analyze the
semiotic resources of Carousel ad-
dessa campanha de inclusão social do
vertisement of a campaign for so-
Instituto MetaSocial, produzidas depois cial inclusion of the carrier of Down
do vídeo do Carrossel, com exceção de syndrome by Institute of MetaSocial.
Garçonete, exploram mais esse aspecto This advertisement was publicized
que diz respeito a diversidade. in television media in 1998, during
the commercial breaks of Rede Glo-
Finalmente, os resultados obtidos bo. For this, we base our analysis
nessa análise permitem-nos, então, afir- on Multimodal Theory and Social
mar que o letramento esta relacionado Semiotic, specifically in the work of
com diferentes práticas e habilidades, Kress (2010), Kress and van Leeuwen
(2001, 2006), van Leeuwen (2005,
e envolve outros modos de significado,
2006, 2006b) and Street, Pahl and
além do puramente linguístico. Assim, Rowsell (2011) through which we
para que o sujeito seja capaz de consumir describe and interpret the semiotic
(ler) de forma mais crítica os discursos resources used in the video and the
relationship of the moving image with
que circulam nos variados gêneros
other modes in which it interacts to
discursivos e produzir mensagens que create the identity of the carrier of

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Down Syndrome as a "normal" per- 10
Kress e van Leeuwen (2006) chamam atenção
son who should be respected, conse- para razões pragmáticas, como o orçamento
quently emphasizing the increasin- e tempo para produção dos filmes que podem
interferir, por exemplo, na construção do ce-
gly urgent necessity of a multimodal
nário, o que, consequentemente, pode reduzir
literacies to the comprehension and o naturalismo.
learning of various discourse genres. 11
O programa encontra-se disponível para do-
wnload gratuito através do site http://www.
Keywords: Social semiotic. Multimodal. lat-mpi.eu/tools/elan/
Literacy. Advertisement.
12
She lives with a broken man/ A cracked polys-
tyrene man/ Who just crumbles and burns
13
She looks like the real thing / She tastes like
Notas the real thing / My fake plastic love / But I can't
help the feeling / I could blow through the ceil-
1
BARTHES, Roland. Image, music, text. Lon- ing / If I just turn and run.
don: Fontana Press, 1977.
14
Não somente nesse, como também em outros ví-
2
Nossa tradução de “the use of several semiotic deos, Garçonete e Adolescente, a maneira como
modes in the design of a semiotic product or as imagens são apresentadas parece sugerir
event, together with particular way in which que o observador as interprete de uma forma,
these modes are combined - they may for ins- enquanto, na verdade, o sentido é outro.
tance reinforce each other (say the same thing

3
in different ways), fulfill complementary roles”.
Nossa tradução de “multimodality describes Referências
approaches that understand communication and
representation to be more than about language,
BAKHTIN, Michael (1992). Estética da
and which attend to the full range of comu-
nicacional forms people use - image, gesture,
criação verbal. 3. ed. São Paulo: Martins
posture, - and the relationships between them”. Fontes, 2000.
4
Nossa tradução de “any instance of language, BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais:
in any medium, that makes sense to someone
ensino médio. Brasília: MEC, 1999.
who knows the language”.
5
Halliday e Matthiessen (2004) utilizam “ora- BRASIL. Orientações pedagógicas. Bra-
ção”, por que analisam essas metafunções em sília: MEC, 2009. Disponível em: <http://
relação à linguagem verbal. crv.educacao.mg.gov.br/SISTEMA_CRV/
6
Nossa tradução de “opened the door for multi- index.aspx?ID_OBJETO=102400&tipo=o
modality and laid the groundwork for extend-
b&cp=000099&cb=&n1=&n2=Orientações
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