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NFPSS
CRIMINOLOGIA6
Tudo bem meus Delegados e Delegadas do Paraná?
Vamos ao NFPSS – Não Faça a Prova Sem Saber de Criminologia. Abordaremos os principais pontos do
nosso edital, procurando, de forma didática, sanar eventuais dúvidas e fixar os pontos que merecem atenção, para
que na hora da prova possamos marcar todas as questões com confiança e certeza de que vamos fechar a matéria,
garantindo pontos rumo à aprovação.
Vem comigo!
No estudo das Ciências Criminais, tendo como referência a doutrina, podemos afirmar que temos 03 (três)
pilares que sustentam essa ciência: o Direito Penal, a Criminologia e a Política Criminal.
A palavra Criminologia tem sua etimologia do latim crimino, que significa crime, e do grego logos, que con-
siste em estudo, significando, portanto, o estudo do crime. O termo Criminologia foi utilizado pela primeira vez em
1883 por Paul Topinard, sendo que foi Raffaele Garófalo, em seu livro Criminologia, lançado em 1885, quem deu
notoriedade ao termo.
Para Antonio García-Pablos de Molina, a Criminologia é a ciência empírica e interdisciplinar que tem por objeto
o crime, o delinquente, a vítima e o controle social do comportamento delitivo; e que aporta uma informação válida,
contrastada e confiável, sobre a gênese, dinâmica e variáveis do crime – contemplando este como fenômeno indivi-
dual e como problema social, comunitário - assim como sua prevenção eficaz, as formas de estratégias de reação ao
mesmo e as técnicas de intervenção positiva no infrator.
A Criminologia é uma ciência do ser, empírica, na medida em que seu objeto (crime, criminoso, vítima e
controle social) é visível no mundo real e não no mundo dos valores, como ocorre com o direito, que é uma ciência
do dever-ser, portanto, normativa e valorativa.
CIÊNCIA DO “SER”
CRIMINOLOGIA
(empírica)
CIÊNCIA DO “DEVER SER”
DIREITO
(caráter normativo e valorativo)
Com o advento da fase científica da Criminologia, esta passou a utilizar o método empírico ou experimen-
tal e indutivo, cunhado pela Escola Positiva, para estudar seu objeto (crime, criminoso, vítima e controle social),
partindo da análise de fatos, do mundo do ser, para a regra, com base no método biológico e sociológico.
Escola Escola
Clássica Positivista
Método formal,
Método empírico e
abstrato e
indutivo
dedutivo
A interdisciplinaridade da Criminologia decorre de sua própria consolidação histórica como ciência dotada
de autonomia, à vista da influência profunda de diversas outras ciências, tais como a sociologia, a psicologia, o
direito, a medicina legal etc.
OBJETOS DA CRIMINOLOGIA
Durante sua evolução histórica, a Criminologia passou por importantes mudanças em seu objeto de estudo.
A Escola Clássica, através dos pensamentos de Beccaria, se preocupava apenas com o estudo crime, enquanto a
Escola Positiva, capitaneada por Lombroso, se valia do estudo do delinquente. Em meados do século XX a vítima
passou a ter maior destaque, assim como os mecanismos de controle social, assumindo um caráter interacionista
e pluridimensional.
DELITO
No que se refere ao delito, a criminologia tem toda uma atividade verificativa, que analisa a conduta antisso-
cial, suas causas geradoras, o efetivo tratamento dado ao delinquente visando sua não reincidência, bem assim as
falhas de sua profilaxia preventiva.
A criminologia moderna não pode se limitar à adoção do conceito jurídico-penal de delito, pois isso fulmi-
naria sua independência e autonomia, transformando-se em mero instrumento de auxílio do sistema penal. De
igual sorte, a criminologia não aceita o conceito sociológico de crime como uma conduta desviada, que foge ao
comportamento padrão de uma comunidade. Tampouco aceita como um conceito ontológico.
De acordo com a criminologia, o delito é a conduta de incidência massiva na sociedade, capaz de causar dor,
aflição e angústia, persistente no espaço e no tempo.
A seguir iremos analisar cada uma das suas características, as quais precisam estar presentes para que se
tenha o delito.
O delito não pode ser um fato isolado, deve acontecer com expressividade na população. Em 1987, a Lei
7.643, criou o tipo penal de molestar cetáceo, em razão de um caso isolado em que uma pessoa provocou a morte
de um golfinho que encalhou na Praia de Copacabana. Tal lei é extremamente criticada pela criminologia, uma vez
que não se trata de um caso de incidência massiva na população.
Incidência aflitiva
O delito deve causar dor, angustia, sofrimento à vítima individualizada ou à sociedade como um todo. Por
exemplo, lavagem de capitais, homicídios, furtos.
No Brasil, há uma lei que criminaliza a utilização da expressão couro sintético, pois se é sintético não pode ser
couro. Tal criminalização não deveria ocorrer, pois, na visão da criminologia, não causa dor, sofrimento ou angustia.
Persistência espaço-temporal
O crime deve ser algo distribuído pelo território nacional por determinado período.
Inequívoco consenso
Está implícito.
#OLHAOGANCHO: Justiça Restaurativa – É uma nova perspectiva, oposta à ideia de Justiça Retributiva
(retribuir o mal com outro mal), fundada basicamente na restauração do mal provocado pela infração penal.
Busca o restabelecimento do status quo ante dos protagonistas do conflito criminal, com a composição de
interesses entre as partes envolvidas e reparação do dano sofrido pela vítima, por meio de acordo, consenso,
transação, conciliação, mediação ou negociação, propiciando a restauração do controle social abalado pela
prática do delito, a assistência ao ofendido e a recuperação do delinquente.
DELINQUENTE
Passou a ter destaque com o surgimento da Escola Positiva e o desenvolvimento das ciências sociais, como
a Antropologia e a Sociologia, que entendiam que o criminoso era um ser atávico, preso a sua deformação pato-
lógica.
Os clássicos entendiam o autor do fato, dotado de livre arbítrio, era visto como um pecador que teria opta-
do pelo mal quando poderia ter direcionado sua conduta para o bem.
Segundo os correcionalistas, o criminoso era um ser inferior e incapaz de governar a si próprio, merecendo
atitude pedagógica e de piedade por parte do Estado. De acordo com os marxistas, o criminoso é uma vítima
inocente das estruturas econômicas impostas pelo capitalismo.
A Criminologia moderna trata o delinquente como um ser histórico, real, complexo e enigmático, um ser
normal que pode estar sujeito às influências do meio e não aos determinismos.
VÍTIMA
Inicialmente deixada de lado no estuda da Criminologia, que a considerava como algo insignificante na exis-
tência do delito, passou por 03 (três) grandes momentos nos estudos penais. A idade de ouro, que compreende os
primórdios da civilização até o fim da Alta Idade Média, onde a vítima possuía papel de destaque, traduzido pela Lei
de Talião. O período de neutralização, que surgiu com a Santa Inquisição, passando a vítima a perder importância
frente ao Poder Público e ao monopólio da jurisdição. Por fim, a revaloração da vítima, que ganhou destaque no
Processo Penal com os pensamentos da Escola Clássica, sendo objeto de leis como no caso dos Juizados Especiais
Criminais, que conferiu grande destaque processual à vítima.
Vitimologia:
a) estudo da personalidade da vítima, tanto vítima de delinquente, ou vítima de outros fatores, como conse-
quência de suas inclinações subconscientes.
b) descobrimento dos elementos psíquicos do “complexo criminógeno” existente na “dupla penal”, que deter-
mina a aproximação entre a vítima e o criminoso (quer dizer: “o potencial de receptividade vítima”).
Importante consignar que, na maioria dos casos, a dupla penal é caracterizada pela contraposição delin-
quente x vítima, ou seja, as circunstâncias relacionadas ao crime deixam bastante claro que a vítima impôs resis-
tência, não colaborando com o resultado delituoso.
Em outras hipóteses, entretanto, o que se verifica é que a dupla penal não é tão contraposta assim, isto é, a
vítima desempenha um papel coadjuvante (às vezes até inconsciente) no desfecho do delito.
#ATENÇÃO: Nesse tanto, a doutrina lembra de duas correntes da Vitimologia: a CLÁSSICA e a SOLIDARISTA
OU HUMANITÁRIA. A Vitimologia clássica (ou convencional) transfere para a vítima a responsabilidade pela
origem da infração. No modelo solidarista ou humanitário, promove-se um giro de compreensão à medida que
reparte com a vítima o trauma do crime.
c) análise da personalidade das vítimas sem intervenção de um terceiro (estudo que tem mais alcance
do que o feito pela criminologia, pois abrange assuntos tão diferentes como os suicídios e os acidentes
de trabalho).
d) estudo dos meios de identificação dos indivíduos com tendência a se tornarem vítimas.
Além da análise do comportamento da vítima (em especial antes e durante o evento criminoso), outro as-
pecto que merece atenção é aquele relacionado à palavra da vítima como prova judiciária.
a) Vítima completamente inocente ou vítima ideal: “é aquela que não tem nenhuma participação
no evento criminoso”.
b) Vítima menos culpada do que o delinquente ou vítima por ignorância: é aquela que “contribui,
de alguma forma, para o resultado danoso”.
c) Vítima tão culpada quanto o delinquente: é aquela cuja participação ativa é imprescindível para
a caracterização do crime.
e) Vítima como única culpada, cujos exemplos apontados pela doutrina são os seguintes: “in-
divíduo embriagado que atravessa avenida movimentada vindo a falecer atropelado, ou aquele que
toma medicamento sem atender o prescrito na bula, as vítimas de roleta-russa, de suicídio, etc.”.
Para o professor alemão Hans Von Hentig, as vítimas podem ser classificadas como:
a) Vítima resistente, cujo principal exemplo mencionado pela doutrina é aquela que, agindo em legí-
tima defesa, repele uma injusta agressão atual ou iminente.
b) Vítima coadjuvante e cooperadora: é aquela que concorre para a produção do resultado, seja
devido à sua imprudência, negligência ou imperícia, seja por ter agido com má-fé.
De acordo com o professor Luis Jimenez de Asúa, as vítimas podem ser classificadas da seguinte
maneira:
Para Guglielmo Gulotta, advogado, psicólogo e professor de Psicologia Forense da Universidade de Turim,
as vítimas se classificam em:
Vítimas reais fungíveis: também chamadas de inteiramente inocentes ou vítimas ideais, o fato delitivo
não se desencadeia com base em sua intervenção, consciente ou inconsciente.
Vítimas reais não fungíveis: desempenha certo papel na gênese do delito. Daí serem consideradas
insubstituíveis na dinâmica criminal.
Por fim, de acordo com o professor de Vitimologia Elias Neuman, as vítimas podem ser classificadas
em:
a) Vítimas individuais: são as vítimas clássicas, ou seja, aquelas resultantes das primeiras investigações
vitimológicas baseadas na chamada dupla penal.
c) Vítimas coletivas: certos delitos lesionam ou põem em perigo bens jurídicos cujo titular não é a
pessoa física.
d) Vítimas da sociedade e do sistema social: essa modalidade vem se tornando cada vez mais cor-
riqueira.
CONTROLE SOCIAL
Formado por um conjunto de mecanismos e sanções sociais que submetem os indivíduos às normas de con-
vivência social. Há dois sistemas de controles que coexistem, o primeiro deles, dito informal, está relacionado
com a família, religião, escola, profissão, clubes e outros, enquanto o segundo, chamado de formal, é representado
pela Polícia, Ministério Público, Forças Armadas e demais órgãos públicos, com caráter nitidamente mais rigoroso
e com conotação político-criminal.
CONTROLE SOCIAL
CONTROLE SOCIAL FORMAL
INFORMAL
Família, escola, religião, clu- Polícia, Ministério Público, Poder
AGENTES bes recreativos, opinião pú- Judiciário, administração peniten-
blica etc. ciária.
Disciplina o indivíduo por
meio de um largo e sutil pro-
Entra em funcionamento quando
cesso de socialização, interio-
MOMENTO as instâncias informais de controle
rizando ininterruptamente no
falham.
indivíduo as pautas e condu-
ta.
Até meados da Idade Média o poder era fragmentado e a persecução penal ficava predominantemente a
cargo da vítima. Isso passa a mudar com o início da ascensão da burguesia e o consequente pleito de unificação
territorial.
Thomas Hobbes – com a obra O Leviatã. Os homens vivem no estado de natureza, livres, onde são peri-
gosos para si, pois não se controlam. O homem é o lobo do homem. Necessita de autoridade central que controle
suas vidas. Então esses homens firmam um pacto chamado contrato social, onde um soberano governa suas vidas:
surge aqui o Estado Civil, onde os homens passam todos os seus direitos a um soberano, sem ressalvas, sem limites,
inclusive o direito de vida e morte. O rei pode escolher a quem matar. O rei, portanto, tem o poder de não precisar
fazer leis, já que pode fazer tudo que quiser.
Conclusão: de acordo com Hobbes em O Leviatã, o Estado se coloca acima do indivíduo. O soberano tem
direito de vida e morte sobre os súditos.
A Igreja Católica em suas universidades detinha o conhecimento. Como os Estados estavam crescendo de
extensão, precisavam de burocracia, pessoas estudadas. O poder estatal, com isso, incorporou um direito penal
análogo ao da igreja, o método da Santa inquisição, o método inquisitivo.
Conclusão: o soberano incorporou ao Estado conhecimento das universidades católicas, criando assim uma
burocracia estatal. Nesse contexto, o Direito Penal Moderno foi brutalmente influenciado pela Igreja Católica, so-
bretudo pela inquisição.
Basicamente, a igreja constituía um gripo de funcionários (polícia e MP) incumbidos de apurar notícias de
bruxaria (um crime) para investigar em determinado local (polícia), vindo a julgar (poder judiciário), condenar e
aplicar sentenças. O Estado, analogamente ao pecado (atentado contra Deus), considerou o crime (uma afronta ao
Poder Soberano): não adianta mais a vítima resolver o problema, agora um grupo de “Procuradores do Rei” para
representá-lo (o Ministério Público) substitui a vítima e persegue a punição do crime.
Conclusão: na idade média, a igreja católica criou as primeiras equipes incumbidas em descobrir a verdade
e aplicar sanções. À época, o Estado absorveu esse modus operandi, equiparando o pecado ao crime. O Estado
Moderno, portanto, neutralizou o papel da vítima e adotou o monopólio estatal da força, o qual se materializava
por meio de um processo inquisitivo. O dano é substituído pelo conceito de crime e não afeta mais o indivíduo, mas
sim o soberano, confundindo-se com a desobediência. A vítima é, finalmente, “expropriada” do conflito, nascendo
o Ministério Público (Procurador do Rei). A imposição da pena passa, então, a ser a expressão do Poder Soberano.
A mutilação, o castigo corporal (chibatadas, etc.) e a imposição de estigmas (marcas peculiares na pele do
criminoso conforme o crime) eram penas frequentemente aplicadas no antigo regime. O crime passava a estar
“escrito na pele” do indivíduo.
O poder punitivo era exercido de forma pública e se realizava por meio de um espetáculo. Era, pois, um
espetáculo de desequilíbrio e excesso. Não interessava ao Rei aplicar a pena de forma proporcional, uma vez que
a desproporcionalidade e a crueldade demonstravam aos demais súditos a medida de seu poder.
Com a evolução do comércio e do capitalismo houve um grande contingente populacional que ficou sem
atividade. O modo de educar essa população e condicioná-la aos novos meios de trabalho se dava através da vio-
lência punitiva (pena). Exemplos: casas de raspagem do pau-brasil na Holanda e pena de remadores das galeras.
3.4 Reclusão.
Inicialmente pena privativa de liberdade não era interessante ao soberano, pois o sujeito ficava ocioso. Ele
ficava preso até a aplicação da pena, como se fosse a prisão cautelar de hoje. Não havia critério para prender, nem
duração adequada do processo, nem necessariamente separavam por idade ou sexo.
Conclusão: a pena privativa de liberdade não era prioritária. O grande problema é que era aplicada sem cri-
tério, prendendo-se homens, crianças, mulheres, deficientes físicos ou idosos juntos. Era algo aleatório. Além disso,
não havia prazo razoável para a pena, não havia habeas corpus.
4 Iluminismo.
Esse poder exacerbado do rei começou a incomodar a burguesia, pois os comerciantes não sabiam se de
repente o rei resolvia prendê-los por ascenderem socialmente. Começou a haver uma preocupação para conter o
poder estatal. A teoria de Hobbes não era mais adequada.
John Locke: apesar de o homem precisar de um regramento como dizia Hobbes, e um contrato social ser
necessário, nessa passagem do Estado de natureza para o Estado Civil, o homem DEVE CONSERVAR CERTOS DI-
REITOS, ou seja, o soberano não pode ter poder absoluto até sobre a vida e morte, pois se o rei pode, a qualquer
momento, confiscar os bens de um comerciante, isso causava imensa insegurança para o desenvolvimento para
o comércio. Então, nessa nova concepção de contrato social não totalitária, surge uma nova concepção de direito
penal não totalitário.
Conclusão: para Locke, na passagem do Estado de natureza para o Estado Civil, o homem conserva certos
direitos irrenunciáveis e indisponíveis, os quais devem ser respeitados pelo soberano. Exemplos: vida, integridade
física, honra e propriedade. Essa nova concepção filosófica e política causou profundo impacto no Direito Penal.
ESCOLA CLÁSSICA
Inicia-se no Século XVIII e vai até o início do Século XIX. De acordo com Barata, a Escola Liberal Clássica
é chamada de “época dos pioneiros”, pois, embora sem o rigor científico, seus autores foram os primeiros a estudar
as teorias sobre o crime, sobre o direito penal e sobre a pena. Possui como autores Cesare Beccaria e Francesco
Carrara.
Importante destacar que obra de Beccaria, “Dos Delitos e das Penas”, foi escrita em 1764, período de trans-
formação iluminista. Passa-se da filosofia do Direito Penal para uma fundamentação filosófica da ciência do Direito
Penal. Fundamenta-se nos ideais do contrato social, da divisão dos poderes e de uma teoria jurídica do delito e da
pena.
A Escola Clássica parte da concepção do homem como um ser livre e racional que é capaz de refletir,
tomar decisões e agir em consequência disso. O homem faz um cálculo mental de vantagens x desvantagens
do comportamento criminoso. Usa de certo utilitarismo porque sopesa ônus e bônus do ato lícito ou ilícito. Por isso,
afirmam que o delinquente é o pecador que optou pelo mal.
A Escola clássica:
• Não adota o método empírico, não é científica (por isso é chamada pré-científica).
Para Beccaria, o dano social e a defesa social constituem os elementos fundamentais da teoria do delido e da
teoria da pena, respectivamente. Além disso, a base da justiça humana é a utilidade comum.
Para Beccaria:
• Serão ilegítimas todas as penas que não revelem uma salvaguarda do contrato social;
CRIMILOLOGIA POSITIVISTA
Dessa forma, negando o livre-arbítrio, explica o fenômeno criminal com base no determinismo, procuran-
do identificar nos indivíduos predisposições à prática do delito.
O Positivismo Criminológico estuda a Criminologia como disciplina autônoma, e tem suas teorias e estudos
realizados no final do século XIX (19) e início do século XX (20). Como referência de autores desse período, pode-
mos mencionar: da Escola Sociológica Francesa (Gabriel Tarde), da Escola Social na Alemanha (Franz Von Liszt) e
na Escola Positiva Italiana (Lombroso, Enrico Ferri e Raffaele Garofalo).
Vale lembrar que se Escola Positiva inaugura a etapa científica, nesse período passam a utilizar da metodo-
logia típica da Criminologia.
Antecedentes Científicos
• Fisionomia: o estudo da aparência externa do indivíduo. Lavater propõe um retrato do “homem da malda-
de natural”.
• Frenologia: estudo do cérebro humano que atribui o comportamento criminoso a más formações cerebrais.
• Antropologia: estudo do crânio dos assassinos (Filme: Django Livre, Leonardo Di Caprio).
• Teoria da Evolução das Espécies de Darwin: Lombroso a distorceu para justificar sua teoria.
A Escola Positivista preocupou-se com o estudo das causas ou fatores da criminalidade, chamado de para-
digma etiológico, a fim de individualizar as medidas adequadas de intervenção no criminoso.
Principais teóricos:
Lombroso: Para ele, o criminoso nato sofre de uma enfermidade genética hereditária chamada “regressão
atávica”, reproduzindo os instintos ferozes da humanidade primitiva (daí regressão). Esse criminoso apresenta
características físicas peculiares, através das quais seria possível presumir o seu comportamento criminoso (deter-
minismo biológico).
Esse conceito casou perfeitamente com o conceito de racismo e diferenciação de raças, útil para os Europeus
colonizadores da África e Ásia.
Lombroso sustentava que o criminoso era um ser atávico, um animal selvagem que nascia predisposto ao
crime. Portanto, o crime seria um fenômeno biológico.
Relacionou certas características físicas, tais como: tamanho da mandíbula, circunferência do crânio, lábios
finos, maçãs do rosto, cabelo abundante, tendência à tatuagem, à psicopatia criminal. Além disso, afirma que os
fatores externos servem apenas para desencadear algo que já é hereditário.
Salienta-se que a principal contribuição de Lombroso foi o desenvolvimento do método empírico, eis que
realizou mais de 400 autópsias, entrevistou 6000 delinquentes e analisou mais de 25 mil presos.
No Brasil, o principal seguidor de Lombroso foi Raimundo Nina Rodrigues, conhecido como Lombroso dos
Tópicos.
Categorias de criminosos:
a) Criminoso Nato
Selvagem que possui deformidades como cabeça pena, fronte fugidia, sobrancelha saliente e outros.
b) Louco
c) Epilético
Delinquente é orientado por comportamento que o desnorteia o indivíduo e o atrai para o cometimento do
crime.
d) Ocasional
É o pseudo-criminoso.
e) Por Paixão
Henrico Ferri: Foi discípulo de Lombroso. Ele acreditava no determinismo biológico, que crime resulta da
soma entre fatores biológicos, fatores sociais (família, opinião pública educação, etc.) e fatores TELÚRICOS (clima,
estações do ano e temperatura). Por conta disso é conhecido como o “pai da sociologia criminal”.
Ferri é considerado o maior vulto da Escola Positiva, criador da Sociologia Criminal (publicou uma obra com
esse nome em 1884).
Ferri se sobressaiu nos estudos sobre criminologia através dos fatores sociológicos, dando ênfase às ciências
sociais, com compreensão mais alargada da criminalidade, evitando-se o reducionismo antropológico.
Ao contrário de Lombroso, não acreditava que o crime seria cometido por pessoas com patologia individual.
Acreditava que fenômenos econômicos e sociais influíam na condição.
Chegou à conclusão de que não bastava a pessoa ser um delinquente nato, era preciso que houvesse certas
condições sociais que determinassem a potencialidade de ser um criminoso (Lei de Saturação Criminal).
• Fatores antropológicos – constituição orgânica e psíquica do indivíduo (raça, idade, sexo, estado civil)
• Fatores sociais – densidade da população, opinião pública, família, moral, religião, educação.
Foi idealizador da Lei de Saturação Criminal que realizava a seguinte associação: da mesma forma que um
líquido em determinada temperatura diluía, assim também ocorre com o fenômeno criminal, pois em determinadas
condições sociais seriam produzidos determinados delitos.
a) Nato
Tipo instintivo de criminoso (descrito por Lombroso) com estigmas de degeneração, de modo que fica evi-
denciada a atrofia do senso moral. É o ser atávico.
b) Louco
Não só o alienado mental, como os semiloucos ou fronteiriços. Utiliza a expressão “atrofia do senso moral”,
ou seja, dificuldade de diferenciar certo e errado.
c) Habitual
Reincidente da ação delituosa, isto é, faz do crime a sua profissão. É aquele nascido e crescido no contexto da
criminalidade, começa com pequenos furtos, depois evolui para crimes violentos. De acordo com Ferri, o criminoso
habitual é dotado de alta periculosidade e baixa readaptabilidade.
d) Ocasional
e) Passional
#NÃOCONFUNDA: Lombroso utilizou a expressão “criminoso Por Paixão – Patologia”. Ferri classificou o crim-
inoso como “Passional” em decorrência de uma questão social. Seria aquele delinquente que é arrebatado e age
pelo ímpeto, que tem uma sensibilidade exagerada, que fará com que cometa um delito.
A pena, conforme Ferri, seria, por si só, ineficaz, se não vem precedida ou acompanhada das oportunas re-
formas econômicas, sociais etc., orientadas por uma análise científica e etiológica (as causas) do delito.
Raffaele Garofalo: Garofalo foi o primeiro autor da Escola Positiva a utilizar a denominação “Criminologia”,
tal nome foi dado ao livro “Criminologia”, publicado em 1885. Além deste, Garofalo escreveu outros de importância
semelhante, tais como: “Ripparazione e vittime Del delitto” (1887) e “La supertition socialiste” (1895).
Em suas obras, preocupava-se com a definição psicológica do crime, eis que defendia a teoria do “crime
natural”, para definir os comportamentos que afrontam os sentimentos básicos e universais de piedade e probi-
dade em uma sociedade.
De acordo com o estudioso, o crime sempre está no indivíduo, trata-se de uma revelação de sua natureza
degenerativa, sejam por causas antigas ou recentes.
Afirma, ainda, que o crime está fundamentado em uma anomalia (não patológica), mas psíquica ou mo-
ral (déficit na esfera moral de personalidade do indivíduo, de base interna, de uma mutação psíquica, transmissível
hereditariamente).
Raffaele Garofalo, observando que tanto Lombroso quanto Ferri não haviam definido o delito, propôs-se a
fazê-lo, criando assim a Teoria do Delito Natural.
O Delito Natural, segundo Garofalo, é a violação daquela parte do sentindo moral que consiste nos senti-
mentos altruístas fundamentais de piedade e probidade, segundo o padrão médio em que se encontram as raças
humanas superiores, cuja medida é necessária para a adaptação do indivíduo à sociedade.
Sua principal contribuição foi a filosofia do castigo, dos fins da pena e de sua fundamentação. O Esta-
do deve eliminar o delinquente que não se adapta à sociedade e às exigências da convivência. Para isso,
entende ser possível a pena de morte em certos casos (criminosos violentos, ladroes profissionais e criminosos
habituais), assim como penas severas em geral, a exemplo do envio de um criminoso para uma colônia agrícola
por tempo indeterminado.
A ideia de “defesa social” surgiu na época do lluminismo, sendo posteriormente elaborada por Adolphe Prins.
A Escola da Nova Defesa Social surgiu após a Segunda Guerra Mundial, com a finalidade de modernização
e humanização do Direito, sobretudo quanto às medidas punitivas.
TEORIAS SOCIOLÓGICAS
Surgiu após a luta das escolas, também conhecido como giro sociológico da criminologia.
De acordo com Molina, a Sociologia Criminal é marcada por um duplo entroncamento, eis que é influenciada
por um modelo americano (Escola de Chicago) e um modelo europeu (Durkheim).
A Sociologia Criminal divide-se, para fins didáticos, no estudo das Teorias do Consenso e das Teorias do
Conflito.
Teorias do Consenso
Supõem que a máquina social funciona de forma harmônica. Todos os cidadãos concordam com os fins so-
ciais. Dentro dessa perspectiva o crime é um fato anormal em uma sociedade considerada saudável.
São elas:
• Escola de Chicago
• Teoria da Anomia
ESCOLA DE CHICAGO
Contexto: Na década de 1930, Chicago sofreu um boom populacional, pois estava num ponto de cruzamento
de ferrovias e tinha geografia plana, permitindo bom planejamento da cidade, o que atraiu muitas fábricas, daí
muitos empregos e muitos migrantes. A cidade não estava preparada para tal crescimento rápido, e a criminali-
dade cresceu. Rockefeller era um grande filantropo, e alguns homens influentes pediram que ele construísse uma
universidade. Rockefeller aumentou o valor pedido por eles, desde que eles não teorizassem, mas sim resolvessem
pragmaticamente os problemas – essa é uma característica típica do Departamento de Sociologia da Universidade
de Chicago.
Conclusão: Chicago sofreu explosão demográfica ao início do século XX, que desencadeou a elevação dos índices
de criminalidade. A Universidade de Chicago é criada com “viés pragmático”, isto é, voltado para a solução dos
problemas da cidade, dentre os quais se destacava a criminalidade, em especial o Departamento de Sociologia, a
“Escola de Chicago”.
Métodos da Escola de Chicago: adotam a “ecologia criminal” (usado como sinônimo de Escola de Chicago), ou
uma visão ecológica da cidade de Chicago, decompondo a estrutura urbana em áreas e zonas. Ou seja, antes só
analisavam detalhes do criminoso, agora mudaram a visão para o meio onde o homem vivia.
Inquérito social: passam aplicar inquéritos sociais, isto é, questionários aplicados a determinados grupos sociais
sobre temas afetos à pesquisa. Foi uma grande evolução em relação ao método empírico de Lombroso, muito mais
científico.
Desenvolvem um modelo radial de cidade: o LOOP, ou centro, concentrava fábricas e bancos; o segundo
círculo concentrava pensões e habitações de baixo custo e “slum” (onde se encontrava a maior incidência de crimi-
nalidade, justo onde se encontravam os imigrantes e americanos de outros lugares dos EUA); depois habitações de
classe baixa, média, e na periferia classe alta.
Conclusão: no círculo central concentrava-se o “LOOP”, isto é, fábricas e bancos. No segundo círculo, “SLUM”,
ficavam as habitações de baixo custo (cortiços, pensões degradadas, prostíbulos, etc. – “slum”), é neste círculo que
passam a morar grupos imigrantes e onde se concentrava a maior incidência de criminalidade. No terceiro, quarto
e quinto círculos encontravam-se, respectivamente, a classe baixa, média e alta.
MODELO RADIAL
#SELIGANATABELA:
Historicamente o direito penal sempre foi condicionado pela classe social da qual adveio o agente: mais
brando para os ricos e mais punitivo para os pobres.
A Teoria da Associação Diferencial assim como as demais teorias foi influenciada pela Escola de Chicago, mas
Sutherland apesar de ter consciência dessa influência se insurgiu no sentido de que a Escola de Chicago não soube
em sua teoria explicar por que o crime ocorre fora da área de desorganização social e por que os indivíduos que
possuem grande poder aquisitivo cometem crimes.
Com essa intenção de novos estudos a Teoria da Associação Diferencial Sutherland visa dar uma nova expli-
cação do porquê que os indivíduos cometem crimes.
Após o desregramento da economia americana com a crise de 1929, o governo americano começou a
conceder direitos fundamentais de primeira e segunda geração: vida, saúde, igualdade, liberdade, etc., como por
exemplo, dando assistência social, previdência, direitos trabalhistas, etc. Com isso, os empresários tiveram que
pagar direitos aos trabalhadores, seus lucros diminuíram. Alguns empresários foram considerados culpados por
terem causado a crise de 1929. Isso gerou um “revanchismo social” contra os empresários. Algumas condutas foram
tipificadas para crimes do colarinho branco. Então, os empresários “inovaram”, se recusando a pagar tais direitos
trabalhistas, mas estas condutas agora eram crimes de colarinho branco. Essa classe social dominante não enten-
deu, pois eles não eram o “tipo lombrosiano” do positivismo criminológico. Então surgiu Sutherland tentando criar
uma “etiologia geral da criminalidade” para explicar crimes de pobres e ricos.
Conclusão: até 1929 a economia americana era desregrada, o que contribuiu para a quebra da bolsa de nova York
em 9129. A sociedade passou a verificar altos índices de miséria, desemprego e criminalidade. O governo ame-
ricano passa a regrar a economia, conceder direitos aos trabalhadores e “tipificar certas condutas cometidas por
pessoas das classes altas e grandes empresas”: o “New Deal”, feito pelo presidente Franklin Roosevelt. Tais medidas
diminuíram a margem de lucro do empresariado, o que fez com que alguns operassem na ilegalidade. Surgem
assim os crimes cometidos por ricos, cuja etiologia não era explicada pela criminologia de até então.
Sutherland
Livro: ‘White Collar Crime’ – Sutherland deu esse nome porque as pessoas de elevado nível social trabalham de
terno, e o presidente da GM disse que a única diferença entre ele e os trabalhadores da fábrica era seu colarinho
branco.
Crime do Colarinho Branco: é o crime cometido no âmbito da profissão por indivíduo de alta respeitabilidade
social.
Sutherland percebeu que uma parcela ínfima desses crimes leva à condenação criminal.
Cifra oculta ou cifra negra da criminalidade: não é de Sutherland – este conceito é a diferença entre os crimes
que acontecem efetivamente e aqueles que chegam ao conhecimento do controle formal. Exemplo: estupros,
furtos, agressões e danos não noticiados; depois, os que são noticiados e não chegam a gerar denúncia; e depois,
os denunciados e que não geram condenação.
Cifra dourada: é conceito de Sutherland baseado no conceito de “cifra oculta” – é a ausência da criminalidade de
colarinho branco nas estatísticas oficiais.
Sutherland se baseia nas leis da imitação de Gabriel Tarde, isto é, pessoas em grau inferior tendem a repetir
o comportamento de pessoas de grau superior. Além disso, Sutherland conclui que o crime não advém de carac-
terísticas biológicas ou sociais, mas qualquer pessoa de qualquer origem pode cometê-lo, desde que se espelhe
em outro criminoso.
Em síntese:
• O ponto inovador da “Teoria da Associação Diferencial” é a ideia de que o crime pode ser o objeto de um
aprendizado;
• Esse aprendizado se dá pela comunicação do agente com outras pessoas e pela imitação de certos com-
portamentos (aprender a técnica e a conduta, aprender a justificativa para a conduta);
• Essa comunicação, porém, é realizada no seio de um grupo delimitado, como, por exemplo, a família ou
pessoas próximas ao agente;
• O processo de aprendizagem engloba tanto as técnicas criminosas, como a justificação (até para si
mesmo) da conduta; assim, o empregado imita o patrão, como o rapaz do interior imita a malandragem
dos da cidade;
• O impulso será voltado à legalidade ou à ilegalidade, em razão de uma interpretação favorável ou desfavorá-
vel dos códigos legais: quando o cumprimento da lei é muito desfavorável ao indivíduo, provavelmente isso
o leva a “inovar”, a praticar a ilegalidade.
• O indivíduo se torna criminoso quando as interpretações desfavoráveis da lei predominam sobre as favorá-
veis (e.g., história do vendedor de máquinas de escrever).
• Os indivíduos somente aprendem técnicas criminosas quando entram em contato com alguém que lhes
apresentem os benefícios das condutas ilícitas. Tais vantagens deverão ser mais atrativas em relação àquelas
do cumprimento das normas.
Sutherland foi o primeiro a constatar que nem sempre o homicídio é mais grave que a corrupção estatal ou
sonegação de impostos, pois à LONGO PRAZO muitas pessoas morrem quando falta dinheiro ao sistema de saúde
e muitos adolescentes se tornam criminosos por falta de escolas que gerariam melhores oportunidades a eles.
O custo social do crime de colarinho branco é provavelmente maior do que todos os crimes comuns que são
vistos como “crimes problema”.
Conclusão: para Sutherland o crime de colarinho branco gera dano social superior aos crimes normalmente vistos
como problemas.
Quais são as 03 (três) principais dificuldades apontadas por Sutherland para punição dos crimes de “cola-
rinho-branco”?
1º influência política e econômica que os autores desses tipos de crimes possuem, sendo muitas vezes
até temidos por determinada classe de pessoas;
2º legislação sobre tais crimes é branda e há uma série de obstáculos até se conseguir a efetiva puni-
ção;
#SELIGANATABELA:
99O crime, assim como os demais comportamentos sociais, pode ser aprendido.
99O aprendizado do crime se dá por meio das associações diferenciais que o
indivíduo forma com os demais membros da sociedade.
99Quanto mais íntima a associação, maior a intensidade do aprendizado.
Aspectos Principais
99O delinquente surge quando as definições favoráveis à violação da norma
superam as desfavoráveis.
99A teoria tenta explicar a criminalidade do colarinho branco, já que nesses
casos ela não podia ser justificada por meio da miséria.
99Assim como a Escola de Chicago, a Teoria da Associação Diferencial rompe
com o positivismo criminológico, desconsiderando os aspectos biológicos do
Pontos Positivos indivíduo como determinantes para a prática de delitos.
99Chamou a atenção para a existência de criminalidade fora dos setores mar-
ginalizados da sociedade.
99Não questiona a seletividade do sistema penal.
99Desconsidera a autonomia dos indivíduos, que se tornariam criminosos sim-
Críticas plesmente em razão da convivência com determinadas pessoas. Deixa de lado
muitos outros fatores que contribuem para a criminalidade em uma postura
determinista.
TEORIA DA ANOMIA
Conceito:
É a ruptura dos padrões sociais que comandam a conduta. Anomia significa desregramento.
Durkheim
Dizia que toda sociedade regrada, com leis, sempre conservará uma mínima parcela social que vai viver em
anomia, desregrada, cometendo infrações crimes. Durkheim dizia ser até saudável um patamar baixo de crimes,
pois ao punir tal parcela da população reforça para o resto da população o que não pode ser feito, para ser res-
peitada a ordem vigente. Dizia ele que na crise de 1929 houve enorme anomia, muita criminalidade, o que é ruim,
e o crime deve ser “funcional” para uma sociedade.
Conclusão: o crime decorre da anomia, do desregramento. Toda sociedade regrada verifica certo nível de crimi-
nalidade. Para Durkheim, desde que mantida estável, a criminalidade é funcional na sociedade capitalista, pois a
punição do infrator reforça os valores vigentes para os demais cidadãos.
Entretanto, imagine uma sociedade autoritária. Durkheim era liberal capitalista, não considerava a so-
ciedade como classes oprimida e opressora. Era criticado por ser conivente com esse modelo de conservar uma
mínima criminalidade para manter a “ordem social”.
Merton
A sociedade americana impõe um padrão de sucesso que todos devem alcançar. Para Merton, anomia é a
lacuna entre a expectativa social (sucesso) e os meios de o cidadão alcançá-lo. Diante dessa lacuna o indiví-
duo pode se comportar de cinco maneiras:
Ritualismo – há renúncia dos fins culturais (meta de sucesso), mas continua seguindo as normas de
referência;
Retraimento (apatia) – há renúncia dos fins culturais e dos meios institucionais. Por exemplos,
mendigos, viciados em drogas;
Inovação – almeja a meta de sucesso, por isso age de forma inovadora, deixando os meios institucio-
nais, para alcançar seus objetivos. Aqui, ocorre o crime propriamente dito.
Rebelião – o indivíduo refuta os padrões vigentes. Por exemplo, considera modelo de sucesso apreciar
a natureza e não acumular patrimônio. Propõe novas metas de sucessos e novos meios institucionais.
Sobre a Teoria da Anomia, toda a vez que a sociedade tem como valor um modelo de sucesso determinada
situação, mas não dá aos seus indivíduos condições para que estes possam alcançar tais modelos, teremos a ANO-
MIA, e esta potencializa a criminalidade.
Vale ressaltar ainda que não é somente o Estado que fomenta esse modelo de sucesso, a sociedade também
contribui de forma considerável para a existência de um modelo de sucesso ou metas. (redes sociais, exposição de
vidas luxuosas, viagens, negócios, patrimônios, etc.).
#SELIGANATABELA:
Cultura e subcultura.
Cultura: “são os modelos de ação identificáveis nas palavras e na conduta dos membros de uma comunidade e
que são transmitidos de geração para geração”. (Manoel da Costa Andrade).
Subcultura: é a cultura dentro da cultura, mas com padrões opostos aos da cultura dominante. Saliente-se que a
subcultura não pretende substituir a cultura dominante. É como se fosse à cultura colocada diante do espelho, seu
inverso. É uma cultura que vive dentro da cultura geral, como um subconjunto desta, mas com valores invertidos
aos dela.
Contracultura: subcultura que quer derrubar a cultura dominante. A teoria do etiquetamento surgiu com a con-
tracultura nos EUA (veremos adiante).
Subcultura delinquente.
Não é uma etiologia geral da criminalidade, mas representa o estudo de crimes cometidos no âmbito de
grupos sociais específicos, vale dizer, no seio de subculturas nas quais o valor dominante é o descumprimento da
lei. Essa concepção rompe com o positivismo criminológico, pois se passa a entender que delinquentes são as
culturas, e não as pessoas.
Delinquência juvenil
Esse grupo de sociólogos estudou em especial a delinquência juvenil, onde os crimes nem sempre tinham
objetivo, era por rebeldia adolescente, pois muitas vezes jogavam fora o que roubavam, destruíam bens, pichavam
muros, etc. nos EUA o “sonho americano”, o “american way of life”, não era mais acessível a todos: moradia justa,
emprego bom, salário digno, etc. Inconformados com o ideal que não esperavam alcançar, “criavam” uma subcultu-
ra disfuncional, onde quanto mais disfuncional mais bem sucedido. O grupo reforça e esconde o comportamento.
Conclusão: o adolescente, por natureza, se encontra em uma fase de instabilidade e inconformidade. Além disso,
a impossibilidade material de se alcançar o “american way of life”, o “sonho americano”, reforça o sentimento de
frustração, revolta e humilhação desse grupo juvenil (há um lapso entre o sucesso e os meios que eles têm para
consegui-lo). Um escape para essa pressão é repudiar o “jogo do sucesso”, estabelecendo-se novas regras que pos-
sam ser facilmente realizáveis. O sucesso nessa subcultura é a bagunça, o desrespeito e o cometimento de crimes.
Albert Cohen detectou e estudou tal comportamento, escrevendo a obra “Delinquent Boys”. Detectou algumas
características como:
Não utilitarismo: a ação não visa um fim útil (roubavam para escandalizar).
Negativismo: a criminalidade é considerada correta pela subcultura justamente porque a cultura a considera in-
correta – negavam a cultura. Assim, sucesso na cultura é o fracasso na subcultura.
#SELIGANATABELA:
As minorias possuem subculturas que diferem e se chocam com as maiorias. Baseiam-se principalmente no
jovem delinquente, sob o ponto de vista da rebeldia contra os valores estabelecidos pela classe média domi-
nante, razão pela qual passam a professar outros valores e metas, ou legitimando práticas ilegais para alcançar
as metas gerais.
Cohen se propôs a tentar explicar porque os jovens das classes mais baixas e de determinados bairros tendem
à delinquência, afirmando que por causa da estruturação das classes sociais, é muito difícil para os membros
da classe baixa terem acesso aos valores professados pelas classes dominantes. Disso deriva um estado de
frustração que culmina com a delinquência.
99Não-utilitária: Não possui objetivos de ganhos.
99Maldosa: Tendo em vista derivar do desprezo da sociedade da qual
estão despojados.
99Negativista: Por possuir regras que, apesar de irem de encontro aos
Características das Subculturas
valores da classe dominante, são legítimas conforme seus próprios
Delinquentes
padrões.
99Flexível: Não se especializa em determinado desvio.
99Short-run Hedonism: Prazer imediato, sem objetivos ou metas em
longo prazo.
99The College Boy: O jovem aceita as metas estabelecidas.
99Stable Corner-boy Response: Aceita seu caminho de vida, mas não
Modos de Adaptação rompe com a sociedade.
99Delinquent Response: Rejeita todos os padrões estabelecidos e seg-
ue sua subcultura.
#DICADOCOACH: Subcultura não se confunde com contracultura. Esta tem seus valores em contradição aos
pregados pela sociedade tradicional, ao passo que a subcultura está inserida no contexto dos valores domi-
nantes, embora crie valores próprios diante da impossibilidade de atingimento dos que lhes foram impostos.
LABELLING APPROACH
TEORIAS DO CONFLITO
Para as Teorias do Conflito, a ordem na sociedade é fundada na força e na coerção, ou seja, na dominação
por alguns e obediência de outros. Dá embaso para teorias mais críticas e radicais. Segundo essa teoria, inexiste
acordos em torno de valores.
Surgiu na Década de 60, nos EUA, com os movimentos de “fermentos de ruptura”, ou seja, uma série de
movimentos sociais, políticos, feministas, raciais.
Para entender a Teoria do Etiquetamento importante saber os conceitos de desviação primária (primeira
vez que o indivíduo comete o crime), não interessa à Teoria, e desviação secundária (reincidência), já que o que
irá determinar a desviação secundária é a reação social (formal ou informal) à desviação primária.
A prisão não serve para ressocializar o condenado, mas sim para socializar ao cárcere. O indivíduo fica es-
tigmatizado. Consoante leciona Eugenio Raúl Zaffaroni: “estes estereótipos permitem a catalogação dos criminosos
que combinam com a imagem que corresponde à descrição fabricada, deixando de fora outros tipos de delinquen-
tes (delinquência de colarinho branco, cifra dourada, crimes de trânsito etc.)”. O Labelling Approach aponta que as
instâncias de controle social definem o que será punido e o que será tolerado – Seletividade do Sistema Penal.
Dá enfoque aos processos de criminalização.
Edwin M. Lemert, autor relevante para o tema, destaca que são dois os tipos de desvio existentes.
• Primário: ocorre devido a fatores sociais, culturais ou psicológicos. O indivíduo delinque em razão de circuns-
tâncias sociais.
• Secundário: decorre da incriminação, da estigmatização e da reação social negativa do outsider (oprimido, com-
pelido a adentrar a carreira criminosa).
Estigmas e internalização.
Instituição total: é o lugar onde você perde sua individualidade: você entra, perde seus objetos pessoais, ganha
uma matrícula, raspam teu cabelo, você veste uniforme. Você passa a conviver com outros indivíduos que recebe-
ram este mesmo rótulo. Exemplo: tanto falaram por anos que o sujeito é louco (ou criminoso) que quando ele sai
da internação continua, na sociedade, agindo segundo aquele rótulo, aquele condicionamento, que lhe foi imposto.
Goffman desenvolve o conceito de instituição total: local no qual indivíduos são separados da sociedade e
passam a levar uma vida rigorosamente administrada (hora para comer, dormir, acordar, tomar banho de sol, etc.).
Goffman dá como exemplos Quartéis, Manicômios, Prisões e Conventos.
cigarro. Se sente inferior a quem está fora, solto na sociedade. Adere ao rótulo. E passa a acreditar que o lugar dele
é ali mesmo, como o preso que se identifica com seu status de criminoso; com isso ao voltar para a sociedade ele
passa a agir como aquele rótulo e reincide no crime. Estigmatizado como condenado, a chance de reincidir é mais
alta, porque com o estigma de criminoso ele tem dificuldade para conseguir emprego.
Seletividade Penal.
Seletividade criminalizante.
Seletividade vitimizante.
Nos bairros mais pobres o Estado tradicionalmente se ausenta, dando margem para a instalação de líderes
locais, os quais substituem a segurança pública oficial. Isso provoca a população mais forte a sentir-se mais vulne-
rável, passa a ser mais vitimizada pelos crimes e por consequência clama por maior rigor punitivo.
Seletividade policizante.
Os policiais também são selecionados dentre a camada social mais pobre. Além disso, são mal remunerados
e incorporam um discurso rígido e autoritário. A pequena fração desses policiais que age em desacordo com a
lei (corrupção, violência, prevaricação, etc.) dá margem à criação do estereótipo do policial desonesto, gerando a
desconfiança da população na instituição.
#DICADOCOACH: A criminalização terciária significa que existem agentes estigmatizantes que vão desde o
mercado de trabalho até o próprio sistema penitenciário e rotulam o indivíduo. Nada mais é que o etiqueta-
mento tratado pelo Labelling Approach. Importante lembrar que a criminalização primária está atrelada ao
poder de criar a lei. É o ato legislativo que estabelece o programa punitivo. Isto é, a escolha do que seria ou não
crime. Na criminalização primária, a seletividade do sistema penal já atua, atendendo aos interesses das classes
dominantes. A criminalização secundária, por sua vez, refere-se ao poder de aplicá-la. É a concretização do
programa punitivo criado pelo Legislativo.
CRIMINOLOGIA CRÍTICA
Livro: Punição e Estrutura Social – George Rushe e Otto Kirchemeier. Escrito pré-2ª guerra mundial. Recuperado
em meados da década de 70.
• França: Foucault
Inglaterra: National Deviance Conference – Walton, Young e Taulor. Publicam “A nova Criminologia”.
Visualizaram as origens estruturais e superestruturais do desvio, assim como as reações mais imediatas das
instâncias oficiais e do público.
Deve-se buscar a abolição das desigualdades sociais, afirmando que a redução da criminalidade passa pela
eliminação da exploração econômica e da opressão política de classe.
O mito da igualdade.
Mito da igualdade:
• O Direito Penal protege igualmente todos os cidadãos em face de ofensas a bens essenciais, nos quais todos
estão interessados.
• A Lei Penal é igual para todos, isto é, todos os autores de crimes têm iguais chances de serem alvos do pro-
cesso de criminalização.
A seguir iremos analisar três tendências da criminologia crítica: neorrealismo de esquerda, direito penal mí-
nimo e abolicionismo penal.
Neorrealismo de Esquerda: Surgiu como resposta ao Direito Penal Máximo, em que há uma política de tolerância
zero. Entende que o cárcere deve ocorrer em casos específicos, para crimes mais graves. Em regra, deve ser evita-
da a aplicação da pena privativa de liberdade, descriminalizando certos comportamentos. Para isso, defendem a:
• Reinserção dos delinquentes, no lugar de marginalizar e excluir os autores dos delitos devem-se buscar alter-
nativas à reclusão para que adquiram uma espécie de compromisso ético perante a comunidade.
• Especial atenção às instituições da comunidade e polícia, traçando uma política criminal setorial que trata de
representar os interesses da localidade, do bairro, independentemente da classe social.
Direito Penal Mínimo: A aplicação irracional da pena gera mais violência que o próprio crime. Por isso, o Direito
Penal deve ser aplicado aos crimes de racismo, de colarinho branco, ou seja, crimes que são praticados contra
oprimidos. Não há sentindo em punir os crimes de massa, a exemplo dos furtos. A intervenção deve ser mínima.
Abolicionismo Penal: Como o Direito Penal não cumpre sua função social, apenas produz marginalização estig-
matização, deve ser abolido do ordenamento penal.
O Abolicionismo surge como reação ao Movimento de Lei e Ordem, defendendo, por seu turno, pos-
tulados contrários ao do último.
Tem como precursor Liou Hulsman que crê que o Direito Penal é seletivo, falido (especialmente, no que tange
à pena privativa de liberdade e deve ser substituído ou abolido). Além de Hulsman (Holanda), Thomas Mathiesen
e Nils Christie (Noruega), bem como Sebastian Scheerer (Alemanha) são nomes relevantes para o Abolicionismo.
A questão do Abolicionismo é interessante porque serve como alternativa para amenizar o caos penitenciá-
rio em que se encontra o Brasil, por exemplo. Isso porque, segundo seus adeptos, pode ser aplicado rapidamente
e apresenta resultados em curto prazo, de modo que sejam estabelecidas penas somente aos atos criminosos que
atinjam verdadeiramente o indivíduo e a coletividade.
De acordo com suas premissas, a prisão não é útil, porque despersonaliza e dessocializa o preso; o Sistema
Penal, de outro lado, é muito burocrático (não “escuta” com cautela as pessoas envolvidas nos conflitos, procura
reconstruir os fatos de maneira superficial e fictícia.
• O Sistema Penal é anômico: as normais penais não cumprem as funções a que se destinam;
• Irracionalidade a prisão;
• Ele estigmatiza;
• É seletivo;
• Marginaliza a vítima;
Conforme o Professor Salo de Carvalho, a política de drogas no Brasil existe e tem coerência interna: trata-se
de uma política de guerra, combate ou beligerância, inserida no processo de globalização do controle social e po-
tencializada pela ideologia da defesa social e da segurança nacional, ambas instrumentalizadas no nível legislativo
pelas diferentes facetas dos chamados movimentos de Lei e Ordem, representantes da doutrina do direito penal do
inimigo. Distante, portanto, nas boas palavras do autor, “da programação constitucional de efetivação dos direitos
e das garantias fundamentais”, “operando sérias violações aos direitos dos sujeitos vulneráveis (...)”.
Afinal, o consumo de substâncias capazes de alterar a normalidade dos sentidos é um fato presente ao longo
da história humana (ARAÚJO, 2012). O que se mostra em franca contradição ao discurso das políticas proibitivas,
nascidas a partir de interesses políticos e econômicos de certos grupos sociais, e, ideologicamente disfarçados por
um discurso médico-jurídico (de defesa sanitária) e de guerra às drogas.
As políticas estatais, nesta perspectiva, acabaram por ocasionar a aplicação de uma legislação que, em
momento algum, se preocupou em definir de maneira profunda e reflexiva o que seria realmente o tráfico de dro-
gas (CARVALHO, 2016). E, com isso, ignorando seu caráter comercial e intrinsecamente ligado às lógicas de oferta/
demanda do mercado, assim como, sua estratificação em grandes oligopólios (de agenciadores e produtores,
atravessadores, grandes comerciantes, membros de grupos logísticos, etc.) e pequenos acionistas (pequenos pro-
dutores locais, revendedores de pequeno porte, dentre outros).
Assim, para contemplar uma visão aprofundada a respeito do tráfico, enquanto fenômeno social de significa-
tiva complexidade ARAÚJO, 2012), impõe-se a superação de sua análise sob um conceito estritamente jurídico-legal
(RODRIGUES, 2004;CARVALHO, 2016), justamente em função da vinculação dessa concepção com as parcialidades
oriundas da política de Guerra às Drogas e sua interessada postura de concentração de patentes do uso de subs-
tâncias ditas entorpecentes nas mãos de grupos econômicos específicos (notadamente, a indústria farmacêutica)
(VALOIS, 2017), além de seu emprego como justificativa para repressão de contingentes populacionais (RODRI-
GUES, 2004).
A maioria das pessoas presas sob esse tipo de acusação são jovens na faixa etária de 18 a 29 anos, negros,
que apresentam até o primeiro grau completo, declararam exercer algum tipo de atividade remunerada e não ti-
nham antecedentes criminais. As mudanças ocorridas na legislação em 2006 (Lei n. 11.343/2006), não repercutiram
na diminuição do aprisionamento.
MÍDIA E CRIMINALIDADE
A relação mídia-criminalidade é uma das mais controvertidas no campo das ciências sociais. Isso ocorre, por
um lado, pela dificuldade de se estabelecer um vínculo causal entre as representações midiáticas e seus efeitos. Por
outro lado, há pouca conexão teórica entre os estudos sobre a percepção da exacerbação da violência – com todas
as imprecisões da noção – e o jogo político-partidário, em que se situam a relação com o Estado e suas políticas
públicas. Deriva disso a ampla gama de perspectivas díspares, cujo escopo varia desde as considerações do caráter
intrinsecamente criminogênico das representações midiáticas da violência, do desvio e do crime, até aquelas que
as consideram simples “goma de mascar para os olhos” (Reiner, 2002, p. 378).
Focando nos estudos sobre os frames narrativos, este paper pode concluir que o enquadramento episódico,
isto é, as instâncias específicas dentro das quais o problema da criminalidade tem sido narrado na mídia ao longo
das últimas décadas, sugere ao público uma imputação individualista de responsabilidade que o torna mais pro-
penso a aceitar medidas punitivas contra os culpados, apontados dentro desses frames narrativos. Tal fato torna
possível a formação de um clima psicológico propício à exploração por parte de certos políticos comprometidos
com o “populismo punitivo”.
Reiner (2006, p. 6), professor de criminologia da London School of Economics, divide o debate acadêmico em
torno da relação mídia-crime em quatro correntes teóricas principais. A primeira, the desubordination thesis, sus-
tenta o caráter intrinsecamente subversivo da mídia, cujas representações de crime encorajam o comportamento
desviante e solapam os fundamentos morais da justiça criminal. A hipótese oposta, the discipline thesis, enfatiza as
distorções e os exageros nas representações de crime na mídia, o que favorece a disseminação do “pânico moral”
e ainda contribui para consolidar o apoio popular às políticas punitivas. De acordo com tal perspectiva, a mídia
não causa criminalidade, mas cria um suporte decisivo para as políticas punitivas. A forma ideal típica de cada uma
dessas hipóteses compartilha a chamada demonização da mídia, seja considerando-a uma ameaça à ordem e à
moralidade públicas, seja representando-a como forma insidiosa de controle social.
Nas antípodas das perspectivas anteriores, encontra-se the libertarian thesis, que nega a ocorrência de qual-
quer impacto significativo da mídia sobre o comportamento das pessoas, uma vez que as representações midiáti-
cas, por natureza, nesse caso, não passam de mental chewing gum. Essa aproximação fundamenta sua argumenta-
ção nas falhas das pesquisas realizadas em laboratório, que não teriam conseguido estabelecer qualquer nexo de
causalidade entre as representações de crime e criminalidade.
Por último, the pluralistic thesis aborda a mídia como um fenômeno complexo, uma arena de disputa entre
interesses, pressões e perspectivas díspares, cujos efeitos na opinião pública não são monolíticos nem inelutáveis,
à semelhança do que se considera “uma imensa seringa hipodérmica, autônoma e ideologicamente poderosa, a
injetar ideias e valores em um público passivo e dócil” (Reiner, 2002, p. 399). Como bem observa o sociólogo da
comunicação, Salgado (2006, p. 11), “os grupos sociais e os indivíduos não compõem massas inermes a serem
moldadas na forma que melhor for conveniente, ao celebrarem interações com textos e com a mídia”. Essa con-
cepção analisa a mídia dentro de um complexo processo de interações socioculturais, nas quais as representações
e imagens não surgem pré-formadas ex nihil, nem seus efeitos sobre o comportamento e a opinião das pessoas
se operam de forma mágica. O leitor, ouvinte ou telespectador não são meros receptores passivos, mas intérpretes
ativos dos textos, das mensagens e das imagens da mídia.
Perspectiva intermediária entre a mídia bicho-papão e mídia Branca de Neve, a visão pluralista aborda a re-
lação mídia-criminalidade como eminentemente dialética: por um lado, a mídia constitui uma peça chave de uma
rede simbólica de informação que cria e distribui conhecimento social sobre o mundo; por outro, o crime, como
fenômeno individual e social, tem raízes e motivações extremamente complexas, impossíveis de serem compreen-
didas apenas por meio de uma variável. Isso implica afirmar o caráter precário das pesquisas que tentam isolar em
laboratório fatores puramente midiáticos que possibilitem revelar a natureza criminogênica da mídia. As tentativas
positivistas de estabelecer uma relação direta de causalidade entre mídia e criminalidade, sem levar em conside-
ração a inextrincável malha de fatores não midiáticos, como traços psicológicos, condições familiares e estruturas
socioeconômicas, têm chegado a resultados muito limitados. Em outras palavras, nunca se conseguiu provar cien-
tificamente que as representações de crime na mídia, per se, sejam capazes de transformar um cidadão honesto
em um criminoso (Surrete, 1998, p. 3).
Tais limitações, entretanto, em nada tolhem o papel relevante dos mass media como definidores do conhe-
cimento, da desinformação e dos mitos sobre o crime. Gaio (2007) preconiza que as atitudes da opinião pública
sobre a punição são condicionadas pela informação, e a experiência pública do crime é reforçada e dramatizada
pela mídia: “a representação operada pela mídia sob forma de uma nova inflexão emocional de nossa experiência
do crime, sem dúvida, jogou um papel importante para a construção de uma nova estratégia punitiva” (Gaio, 2007,
p. 112).
Uma vez que a maioria das pessoas não tem experiência pessoal direta com crimes violentos, a mídia, sobre-
tudo a eletrônica, constitui a fonte prevalente de informação e sentimento sobre desse tipo de crime, bem como
sobre a vida social, política e econômica do mundo moderno. Nos Estados Unidos, por exemplo, pesquisas mos-
tram que 90% da população dependem da mídia para tomar conhecimento dos problemas sociais e indicam que
a importância atribuída a esses varia de acordo com o grau de cobertura dos mass media (Adoni e Mane, 1984, p.
325).
Trabalhando sempre a relação mídia-criminalidade, Reiner (2002) indica possíveis intersecções teóricas entre
os estudos de mídia e as principais abordagens sociológicas que analisam o fenômeno da violência e da crimina-
lidade.
É o caso, por exemplo, da cobertura estigmatizante que a mídia costuma fazer das favelas e periferias das
grandes cidades brasileiras, as quais são frequentemente caracterizadas como espaços exclusivos de violência.
Segundo a pesquisa de Ramos e Paiva (2007, p. 77), quando tratam das favelas, a maior parte das reportagens
refere-se a operações policiais, tiroteios, invasões e execuções, sobrando muito pouco espaço para cultura, esporte,
economia, sobretudo para dificuldades cotidianas enfrentadas pelos moradores desses locais.
A teoria da imitação e sugestão do sociólogo francês Gabriel Tarde foi a primeira a oferecer as bases teóricas
para o debate sobre os copycat crimes. Esse autor cunhou a expressão “agressões induzidas por imitação” para
explicar o comportamento criminoso, cujas causas sociais, segundo ele, têm a mesma origem e seguem o mesmo
processo de imitação responsável pela criação da moda e dos modismos: “as epidemias de crime seguem a linha
do telégrafo”, dizia Tarde (1912, p. 37). Criticada por sua aparente simplicidade, tal perspectiva teórica ficou relegada
às prateleiras das bibliotecas por um longo tempo. Entretanto, no início dos anos de 1970, a eclosão do “terrorismo
orientado à mídia” – aquele que pretendia alcançar fins políticos por intermédio da cobertura massiva dos atos de
terror –, bem como a ocorrência de inúmeros copycat crimes de repercussão internacional, atraíram novamente o
interesse da academia pela abordagem daquele sociólogo francês.
Por meio de quadros de referências valorizados, significativos dentro do ambiente cognitivo de grande parte
das pessoas, a mídia confere credibilidade a certas visões de mundo que influenciam a elaboração das políticas
públicas, uma vez que é na “construção do discurso, muito mais do que na ação, que o cidadão comum pode e
quer participar da política” (Aldé et al., 2005, p. 187). Assim, partindo da premissa de que o processo de construção
das atitudes políticas é preponderantemente comunicacional, as informações transmitidas pela mídia representam
uma das mais importantes variáveis para elaboração da agenda política de um país.
A relação mídia-público se revela indireta, algumas vezes recíproca e altamente interativa com processos
socioindividuais. Fatores como idade, sexo, nível educacional e renda, ou, ainda, hábitos mentais, gostos e preferên-
cias ideológico-políticas, prevalecem sobre o fator mídia. Algumas pesquisas mostram, também, que os indivíduos
cujas preferências políticas coincidem com aquelas que os noticiários realçam, tendem a buscar, na mídia, a confir-
mação de seus próprios pontos de vista, enquanto os que têm opiniões divergentes são mais propensos a evitá-la.
Por essa razão, é possível dizer que o grau de exposição à mídia não é determinado por seu poder de influência,
mas pela capacidade de seleção da audiência. Além disso, o impacto das informações veiculadas pela mídia parece
ser maior em questões que se encontram fora da experiência e do conhecimento das pessoas e menor quando são
discutidas de forma abstrata (Yagade e Dozier, 1990, p. 7). As condições locais também parecem influenciar o nível
de aceitação das representações da mídia. Por exemplo, se o entorno já é conflagrado, a experiência vivida por
seus moradores representa uma fonte alternativa de informação sobre crime que compete com a mídia, tendendo
a diminuir seus possíveis efeitos sobre atitudes e crenças. Esse achado, entretanto, não invalida o resultado de ou-
tras pesquisas que detectaram uma relação positiva consistente entre indivíduos que apresentam alto consumo de
televisão e apoio a certo gênero de políticas criminais, como aumento do policiamento ostensivo, porte de arma e
penas mais duras para infratores (Surette, 1998, p. 205).
Dada a natureza subreptícia do crime, as pesquisas sobre os possíveis efeitos criminogênicos da mídia se de-
param com obstáculos metodológicos consideráveis, o que torna a escolha, isolamento e avaliação das variáveis –
indispensáveis para o estabelecimento de qualquer relação de causalidade – extremamente penosas. A alternativa
explorada por certos pesquisadores tenta contornar o problema focando na relação mídia-violência e nos testes de
laboratório. A hipótese, popularmente conhecida pela expressão monkey see, monkey do, tem base na premissa
de que as representações de violência na mídia eletrônica (TV, filmes, videogames etc.) têm o condão de provocar
o aumento da agressividade social e também da criminalidade.
Fonte: http://revistas.unisinos.br/index.php/ciencias_sociais/article/viewFile/483/79
Em 1981, James Q. Wilson e George Kelling divulgaram artigo intitulado “Janelas Quebras: a polícia e a socie-
dade nos bairros”, onde propagavam a necessidade de punir mesmo as menores incivilidades de rua, uma vez que
essas representavam o ponto de partida para deterioração e desmoronamento dos bairros.
A metáfora usada era a das “janelas quebradas” porque se uma janela de um edifício for quebrada e não
consertada imediatamente, as demais janelas em pouco tempo também estarão quebradas assumindo, assim,
contornos de descuido, abandono, negligência e descaso, que acaba por refletir também nas redondezas.
A Teoria das Janelas Quebradas inspirou o surgimento da técnica policial intensiva conhecida como “Tolerân-
cia Zero”, nome que provém da estratégia implantada em Nova York, na gestão do ex-promotor Rudolph Giuliani,
e que depois passou a ser aplicada em diversos lugares do mundo.
Representou uma intervenção máxima do Estado em que forças policias ostensivas objetivavam impedir todo
e qualquer ato desviante, seja crime ou até mesmo contravenção (Código Penal ultraconservador).
• Os crimes atrozes devem ser castigados com penas severas e duradouras. Exemplo: pena de morte (EUA);
longa privação de liberdade.
• Penas privativas de liberdade por crimes violentos – cumpridas em estabelecimentos de segurança máxima.
• Há menor controle judicial na Fase de Execução que é transferido para as autoridades penitenciárias.
TOLERÂNCIA ZERO
Kelling foi consultor do departamento de trânsito de Nova Iorque em 1985 e depois dos departamentos de
polícia de Boston e Los Angeles. Em 1990, o novo chefe do departamento de polícia de trânsito de Nova Iorque,
William Bratton, descreveu Kelling como seu mentor intelectual. Em 1993, Bratton tornou-se o comissário de polícia
do prefeito Rudy Giuliani, momento em que implantou a estratégia de policiamento chamada de “zero tolerance”,
baseada na teoria das janelas quebradas. Executou-se, assim, uma estratégia agressiva contra a vadiagem nas
ruas, os sem-teto, mendigos, caloteiros e pichadores nas estações de metrô, pedestres imprudentes (que urinam
no parque ou jogam lixo na rua, por exemplo), serviços informais nos semáforos (“squeegee men” – limpadores
de para-brisas), bêbados, adolescentes barulhentos e desordeiros em geral. Nas palavras de Bratton: “Os simples
boletins de ocorrência1 nas delegacias acabaram. Se você urinar na rua, vai para a cadeia. Estamos decididos a
consertar as janelas quebradas e impedir quem quer que seja de quebrá-las de novo”.
Essa estratégia, segundo ele, “funcionaria em qualquer cidade da América”, bem como “em qualquer cidade
do mundo”. O programa Tolerância Zero incluiu também (a) uma ampla reestruturação burocrática no Departa-
mento de Polícia de Nova Iorque (descentralização de serviços, achatamento de níveis hierárquicos, demissão em
massa de policiais graduados e a responsabilização direta de comissionários de bairro, cuja remuneração e promo-
ção passaram a depender, em parte, dos resultados obtidos no combate à criminalidade), (b) uma grande expansão
dos recursos humanos e financeiros (o número de policiais pulou de 27.000 em 1993 para 41.000 em 2001) e (c) o
desenvolvimento de um sistema informático de coleta e compartilhamento de dados que permitia acompanhar em
tempo real a evolução e distribuição dos incidentes criminosos. Entre 1993 e 1998, o número de detenções em Nova
Iorque aumentou em 40%, e elas consistiram principalmente em detenções por delitos menores.
Levantamentos estatísticos revelaram que de fato houve queda significativa das taxas de crimes pequenos e
de crimes mais graves no decorrer dos anos. Os bons resultados ecoaram pelo mundo, e não passaram desper-
cebidos do nosso Congresso Nacional. Muitas proposições legislativas passaram a mencionar a referida política
implantada em Nova Iorque, ou a teoria que lhe deu base. Importante ressaltar, contudo, que uma política do tipo
“janelas quebradas” é diferente de uma política do tipo “tolerância zero”. Esta última adicionou como ingredientes
a resposta dura da autoridade policial aos pequenos infratores e o aumento da eficiência do aparato de vigilância.
Críticas à teoria
A teoria das janelas quebradas foi alvo de muitas críticas, assim como a política de segurança pública no-
va-iorquina. Neste texto, nos ateremos a algumas delas. Para Robert J. Sampson e Stephen W. Raudenbush, a
premissa sobre a qual a teoria opera – a de que desordem social e crime estão conectados numa relação de cau-
salidade – é problemática. Seria possível reconhecer uma correlação entre desordem e crime, mas não causalidade.
Apontam um terceiro fator como a causa real da variação dos índices de criminalidade em bairros decadentes: a
“eficácia coletiva” (collective efficacy), definida como a coesão entre vizinhos combinada com expectativas compar-
tilhadas acerca do controle social do espaço público – ou seja, com o interesse do grupo em intervir em nome do
bem comum. A hipótese é de que a eficácia coletiva está relacionada à redução da violência e intermedia a relação
entre desordem do ambiente e crime, o que foi corroborado por uma pesquisa feita na cidade de Chicago.
O jurista indiano C. R. Sridhar4 escreveu um artigo para a Economic and Political Weekly em que defende
que não foi a estratégia agressiva da polícia novaiorquina que causou a redução dos índices de criminalidade, mas
uma combinação de outros fatores, como:
(1) o boom na economia na década de 1990. O declínio das taxas de desemprego5 explicariam 30% da
queda dos índices de criminalidade. Latinos se beneficiaram com a absorção de sua mão de obra des-
qualificada pelo mercado e os negros voltaram para as escolas e passaram a evitar o comércio ilegal;
(2) mudanças no mercado de drogas, com a estabilização do mercado varejista de crack e oligopoli-
zação, o que reduziu a violência entre gangues;
(3) redução do número de jovens com idade entre 18 e 24 anos, em razão da epidemia de AIDS,
overdoses de drogas (epidemia do crack na década de 1980) e violência entre gangues, o que teria
contribuído para queda de 1/10 dos crimes de rua;
(4) os efeitos do aprendizado (a morte de gerações anteriores – os nascidos em 1975/1980 – teve im-
pacto positivo na conduta das gerações posteriores);
(6) a lei estatística da regressão, segundo a qual os índices tendem a se aproximar da média com o
tempo.
Fonte: https://www12.senado.leg.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-estudos/textos-para-
-discussao/TD194
Atualmente, constata-se a forte tendência da política criminal norte-americana em adotar a lógica atuarial
como ferramenta de gestão eficiente de grupos sociais indesejados. O emprego de instrumentos de medição de
risco torna-se o método preferencial para a formulação de estratégias preventivas que pretendem aprimorar a ges-
tão da criminalidade com base no perfil do criminoso. A lógica atuarial consiste na “adoção sistemática do cálculo
atuarial como critério de racionalidade de uma ação, definindo-se como tal a ponderação matemática de dados
– normalmente aferidos a partir de amostragens – para determinar a probabilidade de fatos futuros concretos”.
O modelo atuarial, de acordo com Maurício Dieter, torna-se a mais impressionante tendência das estratégias
de definição das formas de prevenção e controle da criminalidade na virada do séc. XXI. Não se trata apenas de
ficar restrito ao campo da execução penal, do qual se originou no final dos anos vinte do século passado. Essa
técnica dissemina-se por todo o sistema de justiça criminal. Desvinculada dos ideais humanistas de regeneração
disciplinar, apresenta-se como uma prática de inocuização dos considerados irrecuperáveis.
O processo de medição de risco de um dado criminoso tem por foco a atribuição de um valor numérico às
suas diversas características individuais e sociais a fim de, posteriormente, compará-las com as informações dos
indivíduos já criminalizados, permitindo-se decidir sobre possíveis acontecimentos futuros. É justamente a retórica
do risco que permite a utilização de instrumentos como o cálculo atuarial, incidindo sobre grupos sociais abstratos,
não sobre pessoas concretas. Passa-se a gerir a criminalidade segundo o critério de classificação de indivíduos em
perfis de risco (risk profiles): reincidentes, traficantes, “predadores sexuais”, etc. O objetivo é identificar os ofensores
de alto risco, mantê-lo presos por um longo período e julgá-los rapidamente, enquanto que para os ofensores de
baixo risco a investida do controle é menos intrusiva. Para os operadores atuariais, a depender do nível de risco
oferecido, a incapacitação seletiva terá a função de reduzir taxas de criminalidade. O que se pretende, com isso, é
gerir um segmento da população por meio da prisão. Não é por acaso que as prisões são classificadas de acordo
com o seu nível de segurança. As sanções são baseadas, portanto, em termos de gestão eficiente do risco.
Dessa forma, a retórica do risco permite ao Estado não ter que mascarar seus interesses ideológicos com a
adoção de determinadas políticas de segurança pública. Eis a estratégia de gestão da pobreza por meio do siste-
ma de justiça criminal. Trata-se de um astuto resgate da prisão-depósito com a retomada da etiologia individual,
agora, bem mais aprimorada, quer na reafirmação dos reincidentes crônicos, quer na responsabilização que lhes é
atribuída. Autoriza-se o retorno da neutralização de indivíduos de alto risco, na gestão eficiente da criminalidade,
lapidada por pesquisas científicas. De fato, percebe-se uma procura das características essenciais identificáveis nos
criminosos persistentes.
O que há de novo com o emprego da lógica atuarial é que, se antes era permitido falar em discursos velados
e de funções reais no sistema de justiça criminal, com o advento de certo cinismo-gerencial, não parece mais ser
possível. No emprego da lógica atuarial, as coisas estão simplesmente dadas. Não há mais mascaramento. São
os números que falam, bem como os fatores de risco que indicam a decisão a ser tomada. Seus significados são
atribuídos a priori. Fica evidente que a responsabilidade pelo discurso sustentado se esvai quase completamente,
até porque as palavras passam a ter pouca importância para os gestores do sistema. A própria crítica criminológica
resta sem saber o que dizer, sem que, no entanto, interrompa o processo de produção de dados estatísticos. Eis a
nudez ideológica que não gera nenhuma vergonha, mas que exige muito mais da crítica radical do que outrora.
Fonte:https://canalcienciascriminais.jusbrasil.com.br/artigos/194303624/consideracoes-sobre-a-politica-criminal-
-atuarial-o-ocaso-humanista