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PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

SECRETARIA DA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

PÓS-GRADUAÇÃO EM FMÍLIA E SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA


DERMEVAL DO NASCIMENTO FILHO
E
ABEL CAVALCANTE DE MATOS

SÍNTESE DO ARTIGO “RELAÇÃO FAMÍLIA-TRABALHO: reestruturação produtiva e


desemprego” DE LILIA MONTALI, CONSIDERANDO A COMPREENSÃO SOBRE A
RESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E DESEMPREGO, ASSIM COMO OS IMPACTOS
SOBRE A FAMÍLIA.

SALVADOR
2020
UNIVERSIDADE CATÓLICA DO SALVADOR

DERMEVAL DO NASCIMENTO FILHO


E
ABEL CAVALCANTE DE MATOS

SÍNTESE DO ARTIGO “RELAÇÃO FAMÍLIA-TRABALHO: reestruturação produtiva e


desemprego” DE LILIA MONTALI, CONSIDERANDO A COMPREENSÃO SOBRE A
RESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E DESEMPREGO, ASSIM COMO OS IMPACTOS SOBRE
A FAMÍLIA.

Trabalho apresentado à disciplina Família e Trabalho do


curso de Pós Graduação em Família e Sociedade
Contemporânea da Universidade Católica do Salvador
(UCSAL). Disciplina ministrada pela Professora Dra.
Gilca Carrera.

SALVADOR
2020
A síntese aqui descrita, pretende fazer uma abordagem sobre o artigo “RELAÇÃO
FAMÍLIA-TRABALHO: reestruturação produtiva e desemprego” de Lilia Montali,
considerando a compreensão sobre a restruturação produtiva e desemprego, assim como
os impactos sobre a família.

Neste artigo ora sintetizado, cujo foco central era sobre as mudanças na relação
família-trabalho, foram “tratadas conjuntamente as influências recíprocas da estruturação
das atividades produtivas e da estruturação das famílias.

Na busca de “conhecer de que maneiras as transformações nas formas de


produção e gestão, que afetam as oportunidades diferenciadas de emprego de homens e
de mulheres no mercado de trabalho, nos anos 90, manifestam-se na unidade familiar”, a
autora discorre sobre pesquisa feita na Região Metropolitana de São Paulo, entre os anos
de 1981 a 1999, o qual foi divido em três períodos:

- 1981-83, momento de crise econômica do início dos


anos 80;
- 1990-94, intensificação da reestruturação produtiva na
Região Metropolitana de São Paulo, sendo que os dois
primeiros anos (1990 e 1991) foram de crise econômica e
os últimos de início da recuperação sem recuperação do
emprego;
- 1997-99, momento em que, sob a reestruturação produtiva,
ocorreu nova crise econômica, resultando no recrudescimento do
desemprego. (MONTALI, 2003)

Destacando a década de 1990, com menção a alguns aspectos relevantes do ano


de 1994, Lilia menciona diversos dados da pesquisa que, de forma clara e inequívoca,
aponta para semelhanças e alterações entre os períodos citados no que diz respeito ao
impacto que as transformações nas formas de produção e gestão no mercado de trabalho
da região pesquisada, sem descartar que esta mesma realidade pode ser considerada no
tocante a outras regiões do país, principalmente de outras RMS’s, já que essas
transformações também podem ser detectadas nestas, por conta do caráter globalizado
das atividades laborais e suas implicações no mundo inteiro.

Apesar de desde a metade da década de 70, já haver uma alteração no quadro de


participação da mulheres no mercado de trabalho, é no primeiro período pesquisado,
compreendido entre 1981 e 1983, que ocorre o “momento de acentuação” dessa
participação feminina no trabalho da região em foco, apesar do mesmo corresponder a
uma situação de crise econômica. Tal ocorrência evidencia o que podemos chamar de
primeiro impacto sobre as famílias daquele contexto social, uma vez que se verificou uma
alteração na “inserção diferenciada dos componentes das famílias no mercado de
trabalho e sua mobilização no momento da crise econômica.”

Assim como houve essa alteração, detectou-se também que tal alteração
consequentemente também provocava rearranjos na relação trabalho-família, sendo que
este rearranjo, por sua vez, também gerou indicativos de mudanças na divisão sexual do
trabalho na família. Este aspecto evidencia como essa relação se mostra tão
interdependente e imbricadas, uma vez que alterações em uma das partes afetam
diretamente a outra e vice-versa.

No entanto, vale ressaltar que o mesmo não ocorre quando se compara o primeiro
período com o segundo, tendo este também apresentado uma crise econômica cuja
recessão apresentou semelhanças quanto à mobilização dos componentes da família, já
que tanto houve aumento da inserção da cônjuge e filhas no mercado de trabalho quanto
decresceu a participação da força de trabalho masculina, acentuando o desemprego entre
os homens. Depreende-se daí, outra constatação, a de que em meio a conjunturas
recessivas, a manutenção do padrão de família mantido pelo chefe provedor não é mais
possível de ser realizada, dada à ruptura que ocorre no seio das famílias.

As imbricações e interdependência na relação trabalho-família, até aqui


detectadas, já apontam para um caráter altamente complexo dessa relação, na medida
em que tanto o mercado de trabalho tem se mostrado em constante mudança, como a
família também emite claros sinais de profundas transformações internas, evidenciando
alterações na sua configuração intra-relacional, uma vez que os papéis se alternam
inclusive em função do peso de cada componente na renda familiar.

Ainda em relação às alterações atuais na configuração interna das famílias, a


autora declara que
Os resultados de pesquisa ofereceram sustentação para indicar que o
processo de mudança na relação família-trabalho põe em questão a figura
do provedor, culturalmente atribuída ao chefe da família, expressando
possíveis transformações nas relações internas de hierarquia e de poder.
(MONTALI, 2003)

Note-se que, não apenas os papéis sofrem alterações, mas, e talvez sobretudo,
evidencia-se alterações na hierarquia e no poder intra-familiar. Podemos, até este ponto,
destacar que diversos fatores do mercado de trabalho, tais como crises econômicas que
geram desemprego e reestruturação produtiva, promovem alterações no mundo e nas
relações interpessoais, sendo a família o núcleo principal de absorção desses fatores e
suas consequências.

Além dos já citados fatores, o artigo aponta para a constatação de como a


descentralização do parque industrial, tradicionalmente instalado no sudeste, com
destaque para a RMS paulista, e o aumento do setor terciário, cujos impactos imediatos
são a queda na oferta de empregos na indústria, precarização do trabalho, devido à
terceirização e proliferação de diversos novos postos de serviços e opções autônomas,
terminam por desencadear um processo de instabilidade econômica de tal ordem que a
pesquisa apontava para uma certa aceleração e consolidação “das mudanças na relação
família-trabalho anteriormente identificadas”, o que favoreceria “as transformações nas
relações internas das famílias”. Mas, após comparar os dados de 1981 com 1990,
percebeu-se que havia semelhanças na inserção das famílias no mercado, sendo que
somente nos dados entre 1990 e 1994 é que ocorreram os rearranjos nesta inserção, o
que comprova o destaque da década de 90 para as conclusões da pesquisa.

A partir dessa constatação, o artigo passa a descrever os aspectos mais relevantes


dessa marcante alteração, afirmando que
a partir de 1994, diferenciando-se dos arranjos anteriormente encontrados
em 1981 e em 1990, os rearranjos refletem o deslocamento da
responsabilidade pela manutenção da família dos principais mantenedores
identificados para cada tipo de família nas pesquisas anteriores (Montali,
1995, 1998) para outros componentes da família, especialmente para a
mulher-cônjuge, bem como maior partilhamento dessa responsabilidade
(MONTALI, 2003)

É nessa década, destacado o ano de 1994, que as alterações do mercado de


trabalho alcançam patamares mais elevados, com diversificação cada vez mais relevante
das ofertas de emprego com salários mais baixos, postos de trabalho mais precarizados e
deslocados de um bem-estar familiar, influenciam a composição das famílias na inserção
da mão-de-obra da população economicamente ativa da região pesquisada.

Apesar do quadro negativo, um aspecto chama a atenção no artigo, ao mencionar


que “a mulher-cônjuge foi o único membro entre os ocupados da família a apresentar
tendência ascendente no valor real do rendimento do trabalho” entre 1992 e 1997. Mas, já
entre 1998 e 1999, infelizmente “todos os componentes ocupados da família tiveram
reduções no rendimento real.”

Discorrendo entre inúmeros dados e comparações entre os mesmos na década de


90, agora com ênfase no terceiro período, de 1997 a 1999, a autora inicia sua conclusão
afirmando que “foi a mudança ocorrida no padrão de absorção da força de trabalho
vigente na década de 90, em relação ao início dos anos de 80, que afetou mais
profundamente os arranjos de inserção dos componentes da família no mercado de
trabalho.” Contudo, apesar de variações dessa inserção no que diz respeito aos tipo de
famílias, verificou-se que “o mais frequente em praticamente todos os tipos é o caso do
aumento da participação da mulher-cônjuge e da mulher-chefe entre os ocupados da
família”, o que só reforça o importante papel da mulher em todo esse processo e em
todas as implicações do mesmo na relação trabalho-família.

Constatações como um maior partilhamento das responsabilidades entre os


diversos membros da família, participação efetiva de cada um desses membros na renda
familiar, o que só reafirma o maior partilhamento constatado, elevação da importância da
mulher-cônjuge no seio familiar dado à sua maior contribuição na renda desse contexto
em todos os anos estudados e comparados, além de todos os tipos de família.

A autora conclui declarando que os resultados da pesquisa “reafirmam a hipótese de que


as mudanças na divisão sexual do trabalho e nas relações hierárquicas estabelecidas na
família passam pela impossibilidade concreta de realização do modelo do chefe”, o que só
confirma o quanto a divisão sexual do trabalho no mercado tem se alterado, reforçando a
impossibilidade dessa realização. Também esses resultados no seio da família, apontam
para novas configurações nas “formas de divisão do trabalho que poderão, no futuro,
impulsionar mudanças na divisão sexual do trabalho na família e nas relações internas de
poder.

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