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Quando se iniciou a Operação Lava- Jato, ela foi justamente saudada como
uma esperança de superação de uma estratégia liberal ou neoliberal de
enfrentamento da corrupção: pela primeira vez, estava se colocando no
primeiro plano do processo de investigação as grandes empresas
corruptoras, a partir dos avanços legais conquistados por iniciativa do
governo Dilma. A estratégia liberal ou neoliberal de combate à corrupção,
ao contrário, centra-se no entendimento de que a corrupção é um fenômeno
exclusivamente estatal e de que, portanto, a diminuição do Estado é a
estratégia principal para combatê-la.
Mais além disso, ela colocava no centro as relações mercantis entre os
grandes lobbies de interesses privados e o processo de eleições no Brasil, o
trânsito e a organização de redes de corrupção através do financiamento
empresarial de eleições e partidos.
Hoje, tendo sempre como referência os padrões republicanos e
democráticos, é preciso tomar e organizar uma posição firme de denúncia
da corrupção da Operação Lava Jato como condição para se realizar o
devido processo legal de investigação, julgamento e punição dos graves
crimes de corrupção cometidos contra a Petrobrás e o povo brasileiro.
Já há elementos suficientes para formar um juízo que um grupo de
procuradores e uma parte da Polícia Federal, sob a coordenação do juiz
Moro, corrompe a Justiça ao ser instrumento de um partido e violar
sistematicamente o pacto constitucional democrático. A concepção que
organiza esta estratégia de combate à corrupção é a de um Estado policial.
A Polícia Federal (PF) instaurou inquérito para investigar empresas do então deputado
Federal José Janene (PP) em 2009 e deparou-se com indícios de lavagem de dinheiro
que culminaram, cinco anos depois, na ação que levou à prisão doleiros, altos
executivos e agentes políticos e públicos.
Foi este tradicional ponto de venda de combustíveis em Brasília que inspirou o nome da
Operação. “Lava Jato” é uma referência a estabelecimentos usados pelo grupo para
lavar valores. O posto, por exemplo, não aceitava pagamentos em cartões. Só dinheiro
vivo, o que, de acordo com a PF, facilitava a confusão entre dinheiro sujo e limpo.
Após dois anos de sua deflagração, a Operação “Lava Jato”, a caminho da 30ª fase,
contabiliza números impressionantes, quase 1000 anos em penas acumuladas, 134
mandados de prisão expedidos e mais de 90 condenações criminais. Foram, ainda,
firmados cerca de 50 acordos de delação premiada.
No que pese a imensidade da Operação “Lava Jato”, revelado pelos seus números,
nada, repita-se, nada foi dito ou encontrado que, de algum modo, comprometa a
Presidenta da República Dilma Rousseff. Embora não tenham faltado esforços para
fazê-lo.
Não se pretende aqui, questionar os métodos da famigerada Operação “Lava Jato”, seu
caráter seletivo, os vazamentos direcionados, as interceptações abusivas, o excesso de
prisões provisórias (temporária e preventiva) com o escopo de forçar delações e as
elevadíssimas penas resultantes das sentenças condenatórias para aqueles que, sabe-
se lá como, conseguiram resistir às coações para dedurar o próximo. Não se almeja cá
demonstrar a influência perniciosa da mídia no processo penal, bem como o modo em
que o processo penal do espetáculo assumiu o lugar do processo penal democrático na
desmedida Operação. Com certeza, a história vai desvendar, no futuro próximo, os fatos
que se deram nos porões da Operação “Lava Jato”.
Necessário se fez este breve retrospecto da Operação “Lava Jato” para lembrar como
tudo iniciou e, sobretudo, para demonstrar que a mencionada Operação, por mais que a
mídia e a oposição faça crer, não se vincula ao processo de impeachment contra a
Presidenta da República. A cada nova prisão, a cada nova delação (vazada ou
homologada), a mídia se encarrega de amplificar a voz daqueles que desejam
obcecadamente retirar Dilma Rousseff da Presidência da República.
Conquanto seja inegável o seu viés político, as balizas impostas pelos princípios penais,
especialmente, da legalidade, da taxatividade e da culpabilidade em matéria jurídico-
penal, não podem ser atropelados. Sendo certo que o processo de impeachment, no
que pese, também, sua natureza política, não pode passar à margem do direito e da lei.
Não é despiciendo salientar que no Estado Democrático de Direito prevalece o “Império
da Lei” sobre o “Império dos Homens”.
Assim, por mais que a oposição aliada a grande mídia, busque na crise econômica, na
“voz das elites”, na impopularidade de momento da Presidenta ou em qualquer outra
motivação política – sem crime de responsabilidade – não há razão legal e jurídica que
justifique e legitime o impeachment. Daí porque afirmar que o impeachment sem crime
de responsabilidade é golpe.
Prossegue Serrano:
“O fato de o julgamento do crime de responsabilidade decorrer do exercício de uma
função política do Estado não é alvará para que se atente contra os direitos
fundamentais e ao Estado de Direito. Por essa razão é que a aplicação de sanções no
processo do crime de responsabilidade demanda o atendimento de requisitos para sua
incidência válida”.
Basta uma leitura isenta da denúncia contra a Presidenta da República e recebida pelo
Presidente da Câmara dos Deputados, para se verificar que as hipóteses elencadas e
reforçadas com a tinta da acusação não caracterizam a prática de crime de
responsabilidade, tampouco, que atente contra a Constituição da República. No que
pese todos os esforços empreendidos pelos subscritores da exordial acusatória,
absolutamente nenhuma conduta há que possa ser atribuída a prática dolosa por parte
da Presidenta da República Dilma Rousseff de crime de responsabilidade que atente
contra a Constituição da República.
Para não cair nas armadilhas daqueles que querem manipular a Constituição da
República para fundamentar e justificar o golpe contra o Estado de direito é preciso
separar o joio do trigo, não misturar alhos com bugalhos, nem jogar todos os políticos na
mesma vala e, por fim, atentar que nem tudo que reluz é ouro. Lembrar que nem tudo
que a grande mídia diz é verdade, ou melhor, quase nada. E, finalmente, perceber que o
golpe contra a Presidenta Dilma Rousseff se iniciou no dia em que ela foi reeleita por
cerca de 55 milhões de brasileiros e que agora, mais do que nunca, com o
desmascaramento do vice-presidente Michel Temer, não há dúvida de que o golpe é
orquestrado.