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Universidade Federal de Uberlândia

Graduação - Administração Pública- Turma: Uberaba I


Alunas: Corina Angélica dos Santos, Josiane Inácia Pimenta Batista, Maria Vicentina
Candida Ferreira, Reisla Tamie Fujimura Martins e Renata Batista de Paiva

Disciplina: Seminário Temático III na Linha de Formação Específica I

Investimentos em Educação do Governo de Minas Gerais x Qualidade do Ensino


Fundamental nas Escolas Estaduais

1. Referencial Teórico:

1.1. Indicadores Socioeconômicos

A avaliação da qualidade de vida e do desenvolvimento social, econômico e político


vêm adquirindo importância à medida que essas informações tornam-se mais acessíveis
a governos e população em geral. Os indicadores socioeconômicos são utilizados para
medir e transformar essas medidas em índices que revelam diversos ângulos da
sociedade, podendo a administração pública intervir nas áreas necessárias.
Os indicadores socioeconômicos são importantíssimos na gestão pública, visto que
se trata de “[...] um instrumento operacional para monitoramento da realidade social
para fins de formulação e reformulação de políticas públicas” (JANNUZZI, 2004, p.
15). Para Jannuzzi (2004), indicador social é uma medida, geralmente quantitativa, que
possui um significado social, utilizado para quantificar, substituir, operacionalizar um
conceito social abstrato.
De acordo com Jannuzzi (2004), os indicadores sociais possibilitam ao poder
público o conhecimento em relação às condições de vida e bem-estar da população,
auxiliando no planejamento público e possibilitando pesquisas acadêmicas mais
aprofundadas sobre diversos fenômenos sociais.

Proporção de pobres, taxa de analfabetismo, rendimento médio do trabalho,


taxas de mortalidade infantil, taxas de desemprego, índice de Gini, proporção
de crianças matriculadas em escolas são, neste sentido, indicadores sociais,
ao traduzir em cifras tangíveis e operacionais várias das dimensões
relevantes, específicas e dinâmicas da realidade social. (JANNUZZI, 2012, p.
20).

Soligo (2012, p. 16) descreve: “A complexidade dos debates em torno da qualidade


da educação é exemplo da multiplicidade de aspectos sociais, políticos e econômicos
envolvidos na medição da qualidade e do desempenho de alunos, escolas e sistemas de
ensino.” Para o citado autor, os indicadores sociais ou indicadores socioeconômicos são
utilizados para mensuração dos fenômenos sociais, incluindo os indicadores da
educação.

Garantir qualidade e eficiência é uma das preocupações recentes da política


educacional do país. Nas últimas décadas, o Brasil conquistou algumas
melhorias nos indicadores do seu quadro educacional como o aumento da
escolaridade média da população, a diminuição da evasão escolar e do
trabalho infantil e uma cobertura maior do ensino fundamental, hoje bastante
próximo do objetivo da universalização. Apesar da favorável evolução dos
indicadores, os exames internacionais e a confrontação no mercado de
trabalho mostram que a formação do nosso estudante está aquém da prevista
quando comparada com a de outros países em desenvolvimento. O impacto
de uma qualidade menor implica que um ano a mais no ensino fundamental
no Brasil corresponde a um tempo menor de formação nos outros países.
(DELGADO; MACHADO, 2007, p. 427).

Em relação à deterioração da qualidade do ensino público associada ao seu


grande crescimento, Beisiegel (1999 apud RIBEIRO; RIBEIRO; GUSMÃO, 2005,
p.232) critica o fato de que as avaliações da qualidade sempre variam de acordo com a
situação de classe dos observadores. De acordo com ele, do ponto de vista das classes
privilegiadas, a qualidade do ensino pode ter realmente piorado, contudo, para as classes
sociais mais baixas a percepção é de que houve melhorias.
A partir de 1990 o Brasil passou a aplicar em toda a rede de educação, seja ela
pública ou privada, avaliações em larga escala para levantamento de dados sobre o
aprendizado dos alunos e suas condições socieconômicas, visando garantir à sociedade
acesso à educação e real aprendizado dos estudantes.

1.2. Indicadores do Desempenho dos Alunos

Como forma de mensuração do desempenho dos alunos no sistema educacional


brasileiro foi criado o SAEB – Sistema de Avaliação da Educação Básica - que consiste
na obtenção de dados estatísticos relacionados ao desempenho e às condições
socieconômicas dos alunos, para que, através dos resultados obtidos, o governo possa
desenvolver políticas públicas educacionais que promovam melhorias nesta área. Para
isto foi desenvolvida a Prova Brasil, que fornece embasamento para cálculo do IDEB
(Índice de Desenvolvimento da Educação Básica).

Durante a década de 1990, instituiu-se no Brasil um conjunto de instâncias de


avaliação do sistema educacional. Em 1990, o Sistema de Avaliação da
Educação Básica (Saeb) realizou seu primeiro exercício de avaliação em
âmbito nacional, aplicando provas de conhecimentos a amostras de alunos
nos vários estados. A partir de 1995, os levantamentos passaram a
concentrar-se nos alunos de 4ª e 8ª séries do ensino fundamental e 3ª série do
ensino médio. As provas focalizavam inicialmente conteúdos curriculares de
Língua Portuguesa, Matemática e Ciências, e, aos poucos, foram incluindo
mais disciplinas. Além de aplicar testes, o Saeb reúne informações sobre a
origem familiar dos alunos e seus hábitos e condições de estudo, sobre as
práticas pedagógicas dos professores e sobre as formas de gestão da escola,
para reunir elementos que possam explicar as variações no desempenho dos
alunos e orientar o desenho de políticas voltadas à melhoria do rendimento do
sistema escolar. (RIBEIRO; RIBEIRO; GUSMÃO, 2005, p. 228).

O monitoramento feito por meio das avaliações em larga escala propiciou a


implantação de políticas públicas focalizadas, que contribuíram para melhoria no
desempenho médio dos alunos brasileiros. Entre essas políticas, destacam-se: criação da
Prova Brasil, em 2005, que faz uma avaliação censitária das escolas públicas;
introdução, pelo governo federal, do Índice de Desenvolvimento da Educação (Ideb),
em 2007; e políticas de responsabilização que se disseminaram em vários estados
brasileiros. (BROOKE; CUNHA, 2011).
Neste trabalho são citados dois tipos de instrumentos de avaliação do
desempenho dos alunos: o IDEB e a Prova Brasil.
O IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) foi criado pelo
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). É um
indicador de qualidade educacional que utiliza informações de desempenho na Prova
Brasil e sobre o rendimento escolar dos estudantes do 5º e 9º anos do Ensino
Fundamental de 09 anos e 3º ano do Ensino Médio. O Ideb funciona como um indicador
nacional que possibilita o monitoramento da qualidade da educação pela população por
meio de dados concretos, com o qual a sociedade pode se mobilizar em busca de
melhorias. Ele é calculado a partir da taxa de rendimento escolar (aprovação) e as
médias de desempenho nos exames aplicados pelo Inep. O IDEB é feito a cada dois
anos e possui edições a partir de 2005, sendo a mais atual de 2015. As metas
estabelecidas pelo Ideb são diferenciadas para cada escola e rede de ensino, com o
objetivo de alcançar 6 pontos até 2022, média correspondente ao sistema educacional
dos países desenvolvidos. (IDEB, 2016).
Prova Brasil são avaliações que diagnosticam a qualidade do ensino oferecido
pelo sistema educacional brasileiro por meio de questões de Língua Portuguesa e
Matemática e questionários socioeconômicos sobre fatores que possam interferir no
desempenho dos alunos. O alvo destas avaliações são alunos do 5º e 9º anos do Ensino
Fundamental das escolas públicas. Os questionários se estendem a professores e
diretores, coletando dados demográficos, perfil profissional e de condições de trabalho.
A partir dos resultados obtidos no Saeb e na Prova Brasil, são definidas ações em prol
da melhoria da qualidade da educação no país, bem como uma melhor distribuição de
recursos financeiros e humanos para os locais que mais necessitam. As médias de
desempenho nessas avaliações servem como embasamento para o cálculo do Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). A Prova Brasil é realizada bianualmente.
(PROVA BRASIL, 2016).

1.3. Investimentos Públicos em Educação

A Constituição Brasileira determina aos Estados o dever de repassar aos seus


Municípios parte dos tributos que arrecada, que são 25% de ICMS e IPI, e 50% do
IPVA. E segundo a Lei Federal nº 11.494/07, 20% dos tributos arrecadados por todas as
esferas de Governo para o FUNDEB – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da
Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação. (FUNDEB, 2016).
O financiamento da educação de estados e municípios é realizado através do Fundo
de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do
Magistério (FUNDEF), que funciona em função do número da quantidade de alunos
matriculados no ensino fundamental (1º ao 9º ano) e também define o valor dos recursos
por aluno e os recursos para remuneração dos professores que atuam no ensino
fundamental (ALVES; BONAMINO; FRANCO, 2007).
Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep, 2016), a
maior parte dos recursos públicos em educação é aplicada na educação básica, etapa que
compreende a educação infantil, o ensino fundamental e o médio.

De acordo com o Inep (2016), os indicadores brasileiros de investimentos públicos


em educação fornecem informações de caráter orçamentário e financeiro sobre a
aplicação de recursos públicos em todos os níveis de ensino. Os índices financeiros
educacionais, como o percentual do investimento em educação em relação ao Produto
Interno Bruto (PIB), o percentual do investimento em educação em relação ao Gasto
Público Social (GPS), o percentual do investimento em educação por aluno em relação
ao PIB per capita e o investimento público por aluno, são desagregados por níveis de
ensino.
Os recursos públicos investidos na área educacional são financiados com recursos
provenientes de impostos, de contribuições e com receitas próprias e as despesas são
realizadas pela administração direta, por autarquias e fundações, sendo aplicado de
forma a atender as necessidades educacionais na aquisição de bens e serviços. Estes
investimentos são utilizados na formulação da política públicas educacionais, na
manutenção e desenvolvimento do ensino, na melhoria das escolas, etc. (INEP, 2016).

1.4. Qualidade na Educação

Atualmente o acesso à escolarização básica (que se inicia na Educação Infantil,


passando pelo Ensino Fundamental de 09 Anos e vai até o Ensino Médio) já está
disponível para a maior parte dos brasileiros, contudo, tão importante quanto o acesso à
educação escolar é que esta seja de qualidade e que desenvolva nos alunos a capacidade
de pensar e agir racionalmente, bem como de se transformarem em adultos capazes de
enfrentar o mundo, que evolui a cada dia. “No âmbito da educação, a eficiência está
associada à qualidade do ensino, uma vez que esse atributo permite às crianças, e jovens
já adultos, serem mais produtivos e, quiçá, socialmente integrados.” (DELGADO;
MACHADO, 2007, p. 428).
São vários os fatores que influenciam direta ou indiretamente na qualidade da
educação. Dentre eles estão as condições socioeconômicas dos estudantes e de seus
familiares, apoio familiar; estrutura física das escolas; formação e capacitação dos
profissionais da educação; investimentos públicos; etc.

As pesquisas e os estudos sobre a Qualidade da Educação revelam, também,


que uma educação de qualidade, ou melhor, uma escola eficaz é resultado de
uma construção de sujeitos engajados pedagógica, técnica e politicamente no
processo educativo, em que pese, muitas vezes, as condições objetivas de
ensino, as desigualdades de origem socioeconômica e culturais dos alunos, a
desvalorização profissional e na possibilidade limitada de atualização
permanente dos profissionais da educação. Isso significa dizer que não só os
fatores e os insumos indispensáveis sejam determinantes, mas que
trabalhadores em educação (juntamente com os alunos e pais), quando
participantes ativos, são de fundamental importância para a produção de uma
escola de qualidade ou escola que apresenta resultados positivos em termos
de aprendizagem. (DOURADO; OLIVEIRA; SANTOS, p. 8).

Para os autores acima citados, alguns fatores que interferem diretamente no


desempenho dos alunos são: ambiente escolar adequado, que deve contar com biblioteca
com materiais em quantidade e qualidade suficiente; formação inicial terciária dos
docentes, com remuneração adequada, para que possa dedicar-se a uma só escola; o
envolvimento e participação dos pais nos afazeres da comunidade escolar.
De acordo com Matsuura (2004), uma escola de qualidade é aquela que favorece
a aprendizagem, em que os professores e gestores inspiram os alunos e em que a cultura
da paz substitua a violência, em que os alunos sintam-se incentivados a irem a uma
instituição que atende às suas necessidades.
Para Gadotti (2013), a qualidade na educação está diretamente ligada ao bem
viver de todas as comunidades, a partir da comunidade escolar, mas ela depende da
qualidade do professor, do aluno e da comunidade. A educação é de boa qualidade
quando forma pessoas capazes de pensar e agir com autonomia. “A qualidade da
educação é condição da eficiência econômica. Uma empresa de qualidade hoje exige de
seus funcionários autonomia intelectual, capacidade de pensar, de ser cidadão.”
(GADOTTI, 2013, p. 4).
Os estudos mostrados neste texto mostram a importância dos indicadores
socioeconômicos na formulação e reformulação das políticas públicas educacionais
como forma de esclarecer as consequências presentes nas diversas gerações sobre uma
questão que se trata de um grande desafio para o Brasil: a qualidade da educação.

Referências:

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