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t/;..o.". :J..f.-
P!lc:6IDga
CRP 07101313 CPF .'O.2'O.45Cl.'lM
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PREF ACIO(·)
o Autor pediu-me para apresentar este livro ao leitor. É realmente com alegria que
passo a cumprir t110agradável tarefa. E não somente por causa do seu estilo, que de t110
simples poderia até despertar uma falsa impress110de simplicidade ao tratar, em profun- :!
(1idade, um dos temas mais pesados e dificeis de c()nfron.tar para-ª..h.!!ffi!i.nidª-º.e.Fiquei
~urpreso ao sentir que a alma, ao invés de manifestar oposiç11oatravés de resistências,
entregava-se deliciada ao aprofundamento desse tema. É que ela deseja sempre ser to-
cada em seu mais íntimo, para poder então transmitir vida à nossa individualidade. !: ~i:
..Q.Jwpo todo o livro está-se dirigindo a in<fuiduos, e a premissa básica de Adolf , ,I.
Guggenbühl-Craigé a universalidade da individuaç!o. Esta idéia, tomada a sério segun-
(,') um modelo religioso, é levada, por isso mesmo, até às suas últimas conseqüências:-ª.- .'d: iI .
il'i[
Irl.
:!~)1.a_fompreens110 da normalidade contida nos assim chamados desvios do normal da ·1
samento que, como mostra o autor, corresponde a uma constelação de forças arque-
típicas, sendo pois mais fundamental do que as síndromes de problemas específicos, ~:,I
sejam eles socíais ou pessoais. Mas ao considerar os fundamentos. arquetipicos, nào se ~:ll!
perdem de vista as diferenças individuais. Vê-se entào que <2.. arquétipo do casamenJ-O_ fI;;
l·j
~_C<'l pode surgir como fenômeno isolado.
"Os loucos avançam, quando os anjos temem prosse&!rir". - O autor caro leitor, !!l
•. !
aventura-se por regiões que os anjos não se atrevem palmilhar. N110é somente um pouco I':
de loucura que intuímos no autor, é sobretudo algo de diabólico em ação. Em seu tra- ;i
"
balho se revela uma amorosa valorizaç110do outro - na maneira como trata o amor, o I:
o Autor pediu-me para apresentar este livro ao leitor. f: realmente com alegria que
passo a cumprir tão agradável tarefa. E não somente por causa do seu estilo, que de tão
simples poderia até despertar uma falsa impressão de simplicidade ao tratar, em profun- , 'I
didade, um dos temas mais pesados e difíceis de c<:>nfron~arpara-ª-h.!!mitnid~_e. Fiquei
~u[preso ao sentir que a alma, ao invés de manifestar oposição através de resistências,
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entregava-se deliciada ao aprofundamento desse tema. f: que ela deseja sempre ser to- . ,
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cada em seu mais íntimo, para poder então transmitir vida à nossa individualidade.
..Q.Jwpo todo o livro está-se dirigindo a inc.fuiduos, e a premissa bãsica de Adolf
Guggenbühl-Craigé a universalidade da individuaç!o. Esta idéia, tomada a sério segun-
:]
(,') um modelo religioso, é levada, por isso mesmo, até às suas últimas conseqüências:-ª..- I'11. i! '
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!!!)1a.soompreensãoda normalidade contida nos assim chamados desvios do normal da !f·l!
sexualidade, e da anormalidade intrínseca de fenômenos considerados normais dentrg ~r
I~ j,
do casamento. Assim, nos extremos os conceitos se invertem, como vemos por toda par-
te no livro, numa descrição extremamente simples, clara e direta. Sem apelos a com-
promissos de espécie alguma, o livro trata da grande síndrome contemporânea do ca- lU.
lr,i
~ 'I
samento que, como mostra o autor, cor responde a uma constelação de forças arque-
típicas, sendo pois mais fundamental do que as síndromes de problemas especificos, ::,1
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sejam eles sociais ou pessoais. Mas ao considerar os fundamentos, arquetípicos, não se to·I,
perdem de vista as diferenças individuais. Vê-se então que <2.. arquétipo do casamenJ.Q_ 1:\:;
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~ca pode surgir como fenômeno isolqdo,
"Os loucos avançam, quando os anjos temem prossegIDr". - O autor caro leitor, !!i
aventura-se por regiões que os anjos não se atrevem paImilhar. Não é somente um pouco I':
de loucura que intuímos no autor, é sobretudo algo de diabólico em ação. Em seu tra- ;i
I'
balho se revela uma amorosa valorização do outro - na maneira como trata o amor, o /.
dos arquétipos ao longo da individuação, com uma abertura para os pontos de vista de I
culturas pagãs e politeístas. Não é nisto que consiste precisamente o diabólico? ':.l2k!.:-
bollein" significa separar as coisas umas das outras, ou decompor em duas partes. Nos-
sos pensamentos e nossos sentimentos não são mais os mesmos depois de se ler Guggen-
hühl. Em outras palavras, ele escrev;: livros psicoterapêuticos e não livros sobre psico-
James Hillman
GUERRA E PAZ NO CASAMENTO
Assim,
radioso casal Bacius e Philemon,
dos anúncios de T. V., acada
Sagrada Família,
um a seu próprioo 1r . '
modo, representa o "casamento feliz" . J
11
se significou
t~ mostrasse aem sua plena
morte para amagnificência, o que certamen- }
inadvertida SemeIe.
HeraUma
tinha seu vez Zeusquase
assassinou
nome. dormiu comosa amada
todos Aegina,
habitantes pelo que )
da ilha l
temente criativo e sem a ajuda de sua parceira ou de qual-
quer outra mulher produziu uma filha, Atenas. Por vin-
gançaHera irritou-se
Atenás pariu oquando
monstroZeus tornou-se
Typhori, independen-
que cresceu para ~
ser um perigoso inimigo de seu marido. 'i',
:,.~
bém com meninos. Supõe-se que Ganymede e Phaon i~
foram seusera
. Zeus amantes.
infiel a Hera não só com mulheres mas tam-j ! !:
tr~tanto, é refl~tida
A imagem do não somente cheio
casamento, entre os
deDeuses, mas tam-
rivalidades, en- .:;i
'11
nosa" .·:i
Imagens e .piadas, antigas e modernas, sobre o tema
casamento, apresentam-no nessa forma infeliz. Assim, em •
grupo só de homens, hoje em dia, são usados termos como
a "velha", a ·"patroa", a "bruxa" quando referindo-se a
12
suas esposas. Em numerosas caricaturas vemos a mulher de
pé atrás de uma porta, braço levantado com um rolo de
macarrão na mão, esperando, enquanto seu marido ser-
. penteia seu caminho do bar para casa num estupor leve- •
mente embriagado. Em baladas populares é encontrado o
tema da mulher rabugenta a qual nem mesmo o diabo quer
levar depois de sua morte.
O marido bruto que bate na mulher é· uma imagem
que quase não aparece mais no folclore popular atual do
casamento. Em contraste, a im·agem do marido aborrecido
que de manhã à noite se esconde atrás do jornal é muito
comum. Muitas piadas ironizam o marido que faz o pos-
sível para evitar que seus olhos se desviem para as ga-
rotas. Também o marido enganado é um alvo favorito.
Parece-me entretanto notável que essas imagens
negativas e corriqueiras levem a um guestimiamento sobre
a validade do próprio casamento. Porém,· isto já riãOé
tão verdadeiro em alguns trabalhos literários ou cine- !,
•••
••• 11
CASAMENTO E FAMÍLIA: INSTRUMENTO DE
TORTURA OU UMA INSTITUIÇAo AGONIZANTE?
vilhosa,
toxicação mas será esmagadora.
sexual um fundamento
Tal sólido para uma
intoxicação vida J
é mara-
inteira juntos?
.!
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19
AS MUITAS FACES DO CASAMENTO E DA VIDA
FAMILIAR
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·tJ~ /(1 (fi '1
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gradativamente está minando o casamento como insti-
É OAZeitgeist
tuição. (espírito
deterioração do tempo) contemporâneo
contemporânea que
da moral, a rein-
terpretação ou mesmo dissolução de valores, não se detêm
lI i'·
, !
~'
I
.,
:11,
"
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diante do casamento e da família. A sociedade ocidental se
li acha em crise espiritual. A crise está sacudindo os fun- '(
;,
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!
;1 Esta opinião parte daqueles que acreditavam que as coisas
eram melhores antigamente. Estas pessoas estão freqüen-
!
1·1;
- ,- 23
esposas ocorre !req.üent~~~nte na _,Á.sia_~_~-ªÁX~jsa. De
acordo com o relato de alguns vlaJantes,-ª~iandria
aind_a_ç~te. Mes~~
(múltiplo.sJI1arido.s)_ap-ar_entemente __
uma mescla de poliandria e poligamia é encontrada em
certas áreas.
tuiçãoPortanto,
de casamento
aquilo e afamília,
que nosnão
referimos
é algo que
como
foi ae insti-~
con- J '
,,)A
tinua sendo imutável entre todos os povos e em todos os "1 ;
tempos. )
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<.,
" , São enganosas as declarações como "A família é a
unidade básica da sociedade humana", "Pai, mãe e filhos
I
são a comunidade natural" etc .... ~ certas espécies de_
animais existe uma estrutura familiaLQ.ue.-éJdê~m
todos os lugares. Esta estrutura é criada instintivamen~
11
il
!I ~ntre..e.ss_esJljJ.imãise r~J2ete;.sesem~.· Entre os -humanos,
I-
,1
sem dúvida alguma, este não é o caso. Casamento e es-
H
:i
trutura familiar não são naturais nem instintivos, mas~ ~
il
11
tinatural, uma "opus contra naturam". É por isso que en- •
~ .Jilll-produto_-ªIli.fic@l
contramos tantas formas d~ esforço humano.deCasamento
diferentes casamento é an-~
no
J:
)
~l~ decorrer da história e entre várias culturas. Muitas imagens \
'i são vivenciadas no casamento e na família. . j
!~
mais
famíliafacilmente, dentro teria
a humanidade da família.
acabadoPai,hámãe e filhos
muito cons-
tempo. A} I
criança necessita do cuidado protetor e defensivo dos pais.
I: ~
casamento, tal como o compreendemos hoje em dia, seja a í
fi mais natural e primordial das instituições humanas. Esta I
objeção é menos válida do que possa parecer à primeira
vista. Sem dúvida, é necessário que um homem e uma
.-=>'
,
ti mulher se unam para conceber uma criança. Ainda assim,
depois da concepção e nascimento, existem várias pos-
sibilidades de como criar esta criança.
Em várias épocas e em diferentes culturas e estratos
sociais a humanidade dirigiu a tarefa de criar e educar os
1
I'
,I
'li
1.1
?"
filhos das mais diversas maneiras. Deve ficar aberta a
questão se o estilo corrente de se criar os filhos no mundo
. 1
ocidental é realmente a única ou mesmo a melhor pos-
sibilidade. Talvez os modernos psicólogos não percebam , I.
:.'
li
26
em nenh.wn-S_entido_J--a_únic.a_e
..com..t.Qd.a..pr.obabilidade. não
~ senLãmbigüidade ..•...m.elhocoJLPioI_que_Qutras.:.. Cada si;
tema educacional tein3.wl.s_y.aDJ-ªgense desvantagens~·A
ãristocracia inglesa talvez encorajasse de certa forma o
desenvolvimento' de um ser humano impessoal e indiferen-
te, que poderia perseverar com certa fibra, através das
mais diversas circunstâncias, tanto como comissãrio de
um distrito na África, como um oficial de colônia na Índia ..
O jovens
nossos controledesde
parental cuidadoso
sua infância, que exercemos
e durante 'sobre'1
sua adolescên-
cia, forma pessoas que ~êm fortes sentimentos e ligações
!
Pessoais,
.
mas que tendem a ser continuamente. desiludidos' \
pe10 grande mundo quando começam a perceber que nem
,
todas as outras pessoas são tão amorosas quanto "papai"
e "mamãe". O inconveniente de nosso sistema de edu-
cação é talvez o mimo narcisista; a vantagem, por outro I·.
lado, é uma maior capacidade de amor pessoal.
O "melhQL.Sistema~ara a educação_de filhos não
..' existe.. As classes superiores romanas, que queriarnfazer
,. de seus filho's guerreiros qualificados e homens de estado .
•J capazes, tinham que educar seus filhos diferentemente dos
cristãos primitivos, para os quais a maior preocupação era
fazer com que seus filhos aprendessem a amar a Deus e as-
sim ganhassem o paraíso.
Crianças de estados totalitãrios, como os da União
Soviética, devem ser educados diferentemente. das crianças
de estados democrãticos como por. exemplo da DiÍlamar-
ca, As metas de nossa educação e esforços de criação
mudam praticamente cada dez a vinte anos em algo com-
pletamente diferente. Desde que as metas estão conti-
nuamente mudando, é quase impossível avaliar a eficácia
de uma educação em particular. Hoje, é como se tão logo
se tenha formulado um estilo de educação, a meta tenha
--
prÓximos de uma compreensão do casamento e da família
se tornar-se mais claro para nós que casamento e família
são criações a rtificiais.~ eJ(pres.sl5-e.Ld.aJant-;-:.a-,SJ
i-ª-.j---,h-u-m-an-a-.
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L
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BEM-ESTAR E SALV AÇAO
I~
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Não se fisiológico.
puramente deve entender, entretanto, de
O sentimento o bem-estar
pertencer acomo
um ") !
grupo e ter humana,
segurança um certo prestígi~ dent:o dele é necessãrio.
o bom relaCIOnamento dentro daA (',
família, com vizinhos e parentes é indispensãvel. Para
muitos adultos, entretanto, a sensação de bem-estar
depende da presença de um ou mais filhos. Certamente ao
estado de bem-estar não pertencem as tensões, insatis-
fações, emoções dolorosas, ansiedade, ódio, conflitos in-
solúveis e difíceis, internos e externos, a procura óbses-
31
"'
siva de uma verdade que ainda não foi descoberta con-
flitos sobre Deus, e a necessidade de chegar a um a~ordo:
com o mal. e a morte. A doença certamente não pertence!
ao estado de bem-estar. É muito mais fácil de qUalquer I
forma para pessoas saudáveis, física e psiquicamente, ter a
sensação de bem-estar do que o é para as doentes. "Dai-
nos o Pão Nosso de cada dia" realmente implica em "Dai-
nos nossa sensação de bem-estar diário".
.0--,
j tes que uma pessoa possa começar a buscar o Nirvana ~
precisa
Paraserossacudida
morte. budistas, pelos espectros
Nirvana de ~alvação,
significa doença, velhice e ~rJ~
mas an-)
<'
r.,
1 Dificilmente podemos dizer com precisão ou mesmo
"" ' imaginar o que é salvação. Conhecemos apenas os vários
caminhos soteriológicos. O estado de salvação, como tal,
pode ser somente intuído, numa vida humana, durante os
I
D
I"
breves . momentos, de clímax' religioso ou filosófico.
Apenas por poucos segundos, por exemplo numa igreja,
acredita-se subitamente que se conhece o significado da
vida; faz-se contato com sua própria centelha de divin-
dade.
Como metas, salvação e bem-estar se contradizem. O
caminho para a felicidade não inclui necessariamente o ti
I
sofrimento. Em nome de nosso bem-estar somos impe-
lidos a ser felizes e não nos preocuparmos com questões
I,.
que não têm resposta. Uma pessoa feliz se senta na mesa
entre seus entes queridos e usufrui de uma refeição cheia
de carinho. Uma pessoa que procura a salvação briga com
Deus, o Diabo e o mundo; confronta-se com a morte,
mesmo se tudo isso não é absolutamente necessário na- I
quele preciso momento., ;
outros com
manecer grande cuidado
um cientista objetivo. e Em
objetividade.
um sentido Queria
ainda daper-1Ii
mais
amplo Jung foi objetivo: ele libertou a si mesmo ti- \.
midez de seus predecessores que, além do medo de cair em '
alguma espécie de obscurecimento religioso, queriàm, por
m~ios dogmáticos, reduzir toda a vida psicológica aos ins-
tintos de conservação biológicos.
-
psique não poderiam ser reduzidQ~OS chamados i~~
básicos de-fo.me, sede, agressão e~ xJ]a~ Qutra fo.(-
ça, outro impulso, teria.q.lle ser tOinado..em consideI:ação.
Jung denominou-o deimPulse-par-a-a-individuação.
Desde Jung, outros psicólogos notáveis têm reco-
nhecido o impulso de individuação. Foram inventados
conceitos tais como "a . rocura de identidade individual",
"@1Q.-realizacão", "c i tividade", "a outra dimensão"
nidos.
ett ... ,todos os quais são ain a um tanto vagos e indefi-
Ct , O. (', .'v' ,
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INDIVIDUAÇÃO:
NÃO ELITISTA, SEMPRE POLÍTICA
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j~
) caótica estória de Culhrwch que na Imagem do elegante.
I: ,')
A individuação é melhor simboli~ada na sangrenta e
cavaleiro São Jorge.
J J\k
:! 39
~1
j.i
_.J .••••
lndividuação significa um trabalho ativo, difícil e
desconfortável através de nossa complexa psique a fim de
unir seus opostos, que são simbolizados pelo homem e
pela mulher. In~ividuação é,uma jornada longa e interes-
sante. Um cammho deve ser atravessado até que um
homem tenha confrontado e lidado com os aspectos múl-
tiplos do maternal. Primeiro ele tem que lidar com a mãe
natural, a mãe animal nutritivo, que o surpreende como
conservadora e anti-espiritual. Mitolo.gicamente ela é
representada pela extrovertida Pill1ador.ã:=cIa._Je.rtilidad..e~
Demeter. O que é sedutor sobre a mãe natural é que, como
ã feiticeira vistosa e vulgar de Hansel e Gretel, ela nutre; o
@e é sinistro-.é-'lU_e_ela~ostar.ia.-de-d~or.aLOJ1Qm~. Um .~
laço muito forte com a mãe inibe o desenvolvimento de,j'l'
um-homem. ~ ;
Outro lado da deusa com o qual o homem tem que se
haver é mitologicamente representado por Perséfone, a
Rainha dos Infernos. Este é o fantástico, feérico, espi-
ritual e ambicioso aspecto da mãe: ela pode inspirar um
i~
homem
fantasias tanto quanto impeli-Io
ambiciosai-da à morte
mãe podem e à loucura.
engendrar As)
nele um~.
impulso em direção a realizações espirituais, tanto quanto .
podem produzir a destrutividade da ambição arrogante. )
~quer grande esforço psicológico...para um homem ~
çar o ponto de Compreender que estes poderes arquetíp~
pa psiqueJ.â..Q inatos ~le mesmo e que mtda-Y.al~ê~los.
somente em Slla--Ol..~ natural ou projetá-Ios em outra
Illulher ou em instituições'; requer esforço pSlcológko-aJ-
cançar o ponto de ver quenada se realiza reclamando_c-on:
tra sua mãe ou fazendo repetidas acusações contra a
sociedade. Essa é apenas uma das lições prodigio-s.as=qUê
devem ser dominadas no curso da individuação. Da mais
decisiva importância neste processo é que um homem
chegue a termos com uma mulher ou com o feminino em
; ge~al e vice-versa, que uma mulher chegue a termos co
"': um homem ou como masculino.
,I! Um dos maiores temas da individuação é o mara-
40
vilhoso fato de que .a existência_humana- tanto qúanto a
existência animal - é vivida frutiferamente somente no
II 41
deve achar
deve ser abençoado
a salv~ãoa seu próprio
à sua modo" , isto é,__
I!!.~~eir~ cada qual
.__
frimento
~ode e a ressurreição de Cristo? ~a realidade, ninguéni
compr.e_ende..La-indiriduação.-e.onc_eitualmente. S~-,M\yi
imagens podem eXQressá-Ia. Em cada participante desse
éulto religioso houve a convicção de que no momento da
comunhão essas crianças intuíram o sentido da salvação.
Por ocasião de uma conferência para psicólogos,
, durante a qual o conceito de individuação estava sendo
discutido, a reação foi ambígua diante da pergunta:
"Pode um retardado individuar-se?". Parece certo que is-
so possa ocorrer, porém permanece a questão de como is-
soocorre.
"'Temos discutido individuJ!Ção e como ela é represen-
tada simbolic~nte em contos de fada, es.tóriaS.Jk-ayen:..
turas e símbolos vivos.
Contudo, parece estar faltando um aspecto. A
procura de individuação e salvação parece ser algo autista
e centrado em si mesmo. Parece ocorrer aos indivíduos en-
quanto elaboraram suas próprias almas isoladamente ou,
por exemplo, no intenso encontro dialético do casamento.
, Unia questão afIora aqui: qual a utilidade de tudo isso
pat;a as instituições sociais, para a comunidade, para o es-
tado, enfim, para o próximo? ,
Individuação Ilã.o-éJndiYidualismo. O trabalho juilto \
I li\:
.....-.-.. li li
É digno de nota que em muitos contos de fada e
mitos relacionados à individuação, o herói e seus ajudan-
tes ou amigos sejam reis, princesas e príncipes. Em mitos
arcaicos, são verdadeiros Deuses prestativos, com grande
-- ascendência sobre outras pessoas. Reis, princesas etc ....
I são pessoas com funções políticas, com altos cargos
políticos~Essas figuras míticas e de contos de fada têm im-
plicações ~ais _e co!etiy-ªs. l\j~dj.vi~uação d9_rei deve
trazer benefícios à sociedade. Além dIsso, esses mitos e
contos nos -arzem-que-uma-1ndividuaçãº~_~II!.implicJ~~ão
- social é inconcebí~~. PreCiSamOSêü-mpiétaressa dimensão
r
)(1""""
•
social de individuação, acima de tudo, olhando através
das imagens medievais. Queremos olhar não sómente as
figuras de reis e cavaleiros mas também aquelas dos er-
mitãos e reclusos. Reis e cavaleiros eram ativos na so-
:}
ciedade. O eremita, por outro lado; recolhia-se no iso-
:-lamento não somente para rezar pela salvação de sua
própria alma, mas para lutar pela salvação de toda a
,7 humanidade.
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CASAMENTO: .Y
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~. .,. .
_ I ",U!, ..,' .
Entretanto, a procura de salvação e a procura de
bem-estar não estão inteiramente dissociadas. É possível
que as pessoas que são levadas ~elas grandes organizações
turísticas e que empreendem tal Jornada a um paraíso feliz
não estejam buscando a terra dos Phaeaces ou a terra de
leite e mel, mas um lugar onde eles encontrem suas almas
- buscando a terra dos Gregos com suas almas.
:\
A mistura de procura de salvação no turismo moder-
no, contudo, é mínima; talvez isso seja a razão pela qual
os locais que atraem grande número de turistas freqüen~
temente terminem como catástrofe cultural para os ha-
.bitantes locais. Os nativos dos grandes lugares turísticos
parecem perder suas almas; todos os esforços e ideais cul-' ,
turais, religiosos e políticos são invalidados desd~ que a
cultura está somente empenhada em atrair cada vez mais
gente. Não é o contato com uma população essencialmen-
te alienígena que corrompe os habitantes das estâncias es-
trangeiras; é o contato com grandes mas&as de pessoas que
estão procurando só bem-estar momentâneo, e não sal-
vação, que enfraquece e desvaloriza a população nátiva.
Para nós a questão é: o casamento está relacionado
com o bem-estar ou com a salvação? É ele uma instituição .
'I
j'
[ 51
cobrir a alma, uma forma especial de individuação. Uma
das características essenciais deste meio de salvação é a
ausência de saídas. Tanto quanto os sagrados ermitãos
santificados não podem fugir de si mesmos, também as
pessoas casadas não podem evitar seus parceiros. O ca-
ráter específico deste meio de salvação está na impossi-
bilidade de fuga, parcialmente enaltecedor, parcialmente
tormentoso. ~?\ Ar- ~ d. '~1nótc (
Na concepção cristã de salvação o. amor tem papel
importante. Pode-se talvez admirar porque até agora
; . somente aludi a amor em conexão com o casamento.
li A palavra amor inclui uma grande diversidade de
d fenômenos que talvez tenham a mesma fonte mas que
~
l'i
)
todavia devem ser distintas entre si. O casamento é um dos
1 caminhos de salvação do amor, mas de um amor que não é.
de todo idêntico ao que é produzido pelo jovem Cupido. O
amor de Cupido não é temperamental, irrestrito. A pe-
culiaridade do amor que marca o caminho de salvação
pelo casamento é sua "antinatural" estabilidade: "Para o
melhor ou para o pior, para mais riqueza ou mais pobreza,
, na doença e na saúde, até que a morte nos separe". Vê-se
freqüentemente casais de velhos nos quais um cônjuge é
espiritual e fisicamente robusto, enquanto o outro é física
~ e espiritualmente inexpressivo. E assim mesmo eles se
; amam. Tais casos demonstram o antinaturalismo e a gran-
~:
" deza dessa espécie de amor que o caminho de salvação
, através do casamento requer. O amor, no qual o casamen-
!
l'I: to se baseia, transcende a "relação pessoal" e é mais que
meramente relaciona!. Cada um tem que buscar seu
I;
próprio meio de salvação. Um pintor o encontra pintando,
l um engenheiro construindo etc.... Muitas vezesas pessoas
se colocam num caminho que, mais tarde, prova não ser o
seu. Muitos acreditam serem artistas e depois descobrem.
que sua vocação está em outra parte.
É o casamento , então um meió de salvação. para
"
I
psicológico não seja pelo casamento? Nós não exigimos
que todos encontrem sua salvação em música, por exem-
pensem e, então,
plo. Nãodever achar igualmente
sua s~lvaçãoquestionável
no casamento?
que Aqui
muitosse
pode' fazer a seguinte objeção; há, sem dúvida, muitos
meios de salvação, mas este fato não se aplica ao casamen-
to: não ocorre a ninguém que a maioria da população
l
deveria se tornar pintora, mas é esperadQ que uma pessoa
r normal se case depois de certa idade. Não casar é, supos-
f tamente, anormal. Pessoas mais velhas solteiras são des-
critas como tendo desenvolvimento infantil problemático;
I, vr-:1.hossolteiros são suspeitos de homossexualismo e
r mulheres que não se casaram são encaradas como se es-
1\
,,'
tivessem nesse estado por falta de atrativos ("A coitada
não conseguiu achar um homem"). Existe um terror vir-
53
libatária para pessoas que procuram sua salvação em
outro lugar que não no casamento. Isso também serviria
para tornar o casamento mais valioso. A posição social e a
segurança material de pessoas solteiras deve ser melho-
rada, e deveria tornar-se possível e aceitável pessoas terem
filhos fora do casamento. A meta seria reservar o casa-
mento somente para as pessoas especialmente dotadas
para encontrar sua salvação na intensiva, contínua relação
e encontro dialético entre o homem e a mulher.
I~
l'
Há muitas mulheres, por exemplo, que querem,
basicamente, só filhos e não um homem. Para elas é uma
tragédia ter um homem por toda a vida quando ele não lhe
I:;
interessa o mínimo.
·1:
';
terá que desistir. Se um deles é, por exemplo, emocional-
~~
1',
mente frio, não há alternativa a não ser que o outro con-
tinue a mostrar sentimentos e emoções amorosos, mesmo
~ ' que o parceiro reaja a esses, fraca e inadequadamente.
Todos os conselhos bem intencionados a homens e mu-
l: lheres no teor de "Isso não vai adiantar" ou "Você não
li,/ deve tolerar isso" ou "Uma mulher (ou um homem) não
!I . deve deixar que isso lhe aconteçá" são, portanto, falsos e
il deletérios. .
! II
11
'I
: II
\
Um para
tamente casamento só funciona
aquilo que se alguém
nunca pediria se abreoutra
qu~ fosse.de
maneira. Somente friccionando as própnas fendas e se
exa-\J ,
I perdendo se é capaz de aprender sobre si mesmo, Deus e ~
mundo. Como todo meio de salvação, o do casamento e
1 duro e doloroso.
~d .~
...•.•.. )~
Um escritor que cria obras significativas não quer ser
feliz, quer ser criativo. Da mesma forma as pessoas ca-
sadas raramente podem desfrutar de uniões harmoniosas e
-I felizes como os psicólogos queriam que eles acreditassem.
I A imagem do casamento feliz causa grande dano.
I
Para aqueles que são dotados para o meio de salvação
através do casamento, esse, como qualquer outro, na-
turalmente oferece não só dificuldade, trabalho e sofri-
mento mas também a mais profunda ~spécie de satisfação
existencial. Dante não chegou ao Céu senão atravessando
o Inferno. E assim, também (lá) raramente existem
1 "casamentos felizes".
~.
ij:
!
11:
i
i
t
11
11
:\
lj:
li
I:
li
>11
11
1\
I
I
I
\
56
MASCULINO E FEMININO
NÃO SE HARMONIZAM
•=
nilidade é pessoal, relacionada com o próximo, passiva e
masoquista, e que a essência da masculinidade é abstrata,
intelectual, agressiva, sádica, ativa etc .... Esta asserção in-
gênua deve ter sido feita apenas porque os arquétipos mas-
culinos e femininos que eram dominantes naquele temp"o e
válidos. cultura foram compreendidos como os únicos
naquela
~
I
I .... Primeiro, há o arquétipo maternal: em sua forma
I
I: .
Atenas representa um dos arquétipos femininos mais
I' interessantes: a mulher sábia, vigorosa, auto-suficiente,
L
lI! :
não-sexual, embora prestativa e útil ao homem, arquétipo
'I:
este desempenhado e vivido há poucos anos atrás por
I
I ' Eleanor Roosevelt.
I:
! Certas viúvas e divorciadas freqüentemente parecem
!
ter algo arquetípico sobre si. São independentes, o homem
está ausente e se tem a impressão de que "graças a
Deus!". A relação com o marido é aquela de conquistador
"para conquistado.
o
Esses arquétipos são todos mais ou menos relacio-
nados com o macho, tanto se marido ou se amante, e com
il
li'\
.ll Os arquétipos femininos que não têm nada a ver com
::
;, o homem - pelo menos com o homem como marido ou
li
1I
amante - ou com os filhos, são tão importantes como os
anteriores, embora menos familiares à consciência co-
rI! letiva.
i:
I: Há, por exemplo, o arquétipo da Amazona, e o
I.,
J 61
neurótico, mas também como uma p~idaJÍe.-.ar
~ quetípica -
dófeminino.
Outro arquétipo que não está relacionado com ho
mens ou filhos é o da Virgem Vestal, a freira. Essa:
mulheres dão suas vidas a Deus ou sacrificam-na a algum(
outra causa, mas não a um homem ou a filhos.
,1\
11'
II
Um estudo mais exato das possibilidades arquetípicas
'\
hI do ser humano poderia contribuir muito para a com-
I
. preensão das chamadas neuroses. Uma Yis.ã..omuito li-
j
. da do que o homem deveria ser nos impede o co-
1\
.•' i nhecimento das incontáveis variações arquetípicas
~\ comportamento humano. Muitas das chamadas falsa
atitudes neuróticas não são o resultado de um desenvol ,
f : vimento psicológico desfavorável, como comumente os'
~ 'I consideramos, mas a imagem de um arquétipo particular
, que não pode ser vivido com uma boa consciência porque
I :j
;\
:.
I \
é rejeitado pelo coletivo. Praticamente todos os padrões,
arquetípicos de comportamento feminino que não se
relacionam com os homens são relegados a "não devia
I
11, ser" e são vistos como neuróticos e doentes. Não é neces-
l!
fI
J.! I
sariamente neurose se o marido ou os filhos não são o cen-
\i; tio do interesse de uma mulher. A Amazonas, Artemis, a
li i
l Virgem Vestal etc.... são padrões femininos de compor-
j; tàmento, baseados em arquétipos e não necessariamente
1,1 em psicopatolpgia.
,Ii\ii
:1
!I
tinha papel importante etc ..
62
tl\ \ '1'1\
Um arquétipo feminino dos qlais impórtantes é o da
mãe; em quase todos os períodos históricos isso tem sido
vigorosamente vivido e tem dominado o comportamento
da maioria das mulheres. As crianças necessitam das
mães; sem elas a humanidade teria cessado de existir.
Qual é atualmente a situação arquetípica das mu-
lheres? -Que arquétipos dominam? Quais deles perderam
alguns de seus significados? Notadamente na Europa
Ocidental tem havido um declínio da doininância do ar-
quétipo maternal nos últimos dez ou quinze anos. Eu
suporia que em muitas "altas" culturas históricas esse ar-
! 11\ quétipo perdeu muito de seu significado para classes
_sociài-s particulares, e.g. entre as mais altas classes sociais
do Império Romano, entre a nobreza francesa do século
XVIII etc ....
, .,1
muito interessante. Quando as crianças vêm ao mundo,
elas têm uma boa chance de viver por setenta anos. Em
períodos anteriores somente poucas conseguiam atingir a
idade adulta, e então foi necessário para a sobrevivência
da humanidade que as mulheres disponíveis tivessem tan-
\
,I tos filhos quanto possível. Mesm) aqueles que atingiam a
idade adulta freqüentemente morriam cedo. Isso significa
que a maioria das mulheres morria antes de atingir uma
idade na qual o arquétipo mãe já não era uma necessidade.
Entretanto, hoje, a mulher média na Europa Ocidental
~ talvez tenha dois ou três filhos lue, depois que ela tenha
, atingido a idade de mais ou menos quarenta e cinco anos,
J
'J
~ ':1 - já não exigem toda sua energia.
~
\"
ri j ~
""I:':' que Antigamente era de
tinham o auxílio possível
criadosapenas aos não
e servos, muito ricos,a
perder
II j
i~
,I maior parte de sua energia psicológica no cuidado com os
filhos. Hoje em dia os criados são raros mesmo entre os
ricos, mas em contrapartida (pelo menos na Europa
Ocidental) as mulheres de todas as classes têm menos
uni
trabalhos domésticos graças ao desenvolvimento da teco
nologia. Mesmo o cuidado com crianças pequenas requel
hoje menos trabalho e esforços. '
Desde que o arquétipo da mãe e de Hera são menos
dominantes atualmente, é deixado mais lugar para que
outros possam emergir. Numerosos outros arquétipos
·contêm energia psíquica. A mulher contemporânea tem a
oportunidade de viver dentro dos mais diversos arqué-
tipos. o"· •
II!
homens não são muito mais numerosas que as das mu-
\
lheres, mas para elas essa grande oportunidade é de uma
1
certa forma nova. Por essa razão estou tratando mais dos
arquétipos femininos que dos masculinos.
II As mulheres que até há bem pouco tempo só podiam
entrar em contato com poucos arquétipos e fazê-l os de-
finidos em seu comportamento, estão se tornando cada
I\ vez mais estimuladas pela abertura de novas possibili-
dades. Infelizmente outra face do problema está se
apresentando e gostaríamos de explorá-Io um pouco mais.
~,
I\\
;,t-
~:
~'.. I \
I
A passagem de um arquétipo a outro, o despertar de
um novo, que tinha sido ren~~ado, é uma situação que se
experimenta" sempre com dIfIculdade. Sabemos de tais
passagens na história da vida de cada um. Durante a
puberdade o arquétipo da crian a retrocede parã segundo
p ano e emerge o o a u to. Por volta· e cmquen a anos
esse começa gradativamente a ser supnmido pelo ar-
quétipo do "SENEX". Q,!lando um dos arquétipos se"",
separa do outro, .h~, na_ vida do indiv.íduo, a chamaE..a·1\O~
depressão de transIçao. Sao bem conhecIdas as depressões (.,#.~
que ocorrem durante a puberdade e no período entre "1tt"
quarenta e cinco e cinqüenta e cinco. Essa espécie de
depressão na história de uma vida individual pode ser
dominada porque sabemos precisamente qual arquétipo
está se diferenciando.
Contudo, a situação coletiva da mulher não pode ser
encarada como simplesmente paralela a uma depressão de
transição do indivíduo. Para tentar esclarecer esse ponto
farei algumas breves reflexões psicológicas.
Tudo o que somos, o somos através do desenvolvi-
mento, através da experiência, da humanização do ar-
,:;"
Além disso, ~<.>..!!!.os
incapazes de escolher um ar-
uéti or ato de decisão consciente. Ele nos é dado
?través da elaboração e uma sltuaçãoextêma e do incons:ar
II
"
ciente coletivo. Os arquétipos que regem o coletivo tam-=
I
n
"
.6ém nos regem.:-Podemos perceber quais deles são do-
11
I'
"
minantes através dos mitos, personagens de filmes,
propaganda, estórias populares etc .. Eis alguns exemplos:
Elizabeth lI, símbolo do arquétipo da rainha e esposa,
Jaequeline Kennedy, da que alcança fama e riqueza
através dos homens; a ex-imperatriz Soraya, a mulher de
amor livre; Elizabeth Taylor, a beleza de consumo; James
11:
Bond, o aventureiro que domina a tecnologia e exaure as
mulheres; o cantor de rock orgiástico, como Dionísio,
quase arrebentado por suas fãs, o trickster Mickey Mouse;
o' herói
talha Muhammad Ali, cuja fanfarronice antes da ba-
é homérica.
~:
t
~
porqueA situação
elas estãoatual da mulherde éum
se separando especialmente
pequeno grupo de 7\V '
diflcil
arquétipos e se aproximando de um grande, mas esse grupo
novo ainda não é claramente visível. Nesse' sentido sua
situação é diferente da de uma depressão de transição in-
dividual. A situação hoje é que as mulheres estão conlO.
f; que ao mar: o velho continente desaparece e o novo ainda
l'
,. não se tornou completamente visível. Tal passagem traz
d: consigo um vazio arquetípico. Perdido, procurando,
I' desamparado, o navio do mundo da mulher flutua num'
li.
\' oceano vasto. E 'essa situação de transição arquetípica é
,J
tI: também uma das razões pelas quais tantas mulheres
procuram
viver encontrar-se
suas próprias vidas.e têm o desejo de ser elas próprias,
II ~ ~7
com que muitas mulheres sintam-se inseguras; sentem-se
conduzidas a se atcr ao menor número possível de ar-
quétipos. Durante séculos o arquétipo de Hera dominou
, as mulheres. Hoje o arquétipo da mulher profissional está
I começando seu domínio por um prisma unilateral. As
mulheres sofrem a compulsão coletiva de trabalhos assim
que o arquétipo mãe terminou seu curso. Ao invés de
livremente entregar-se à multiplicidade de possibilidades
arquetípicas, freqüentemente elas se rendem à imagem da
mulher profissional e acreditam ter encontrado "reali-
! zação" mesmo nas posições mais aborrecidas, às quais
elas têm geralmente se entregado sem a menor necessidade
econômica. Não são poucas as mulheres casadas por volta
dós cinqüenta anos que, tendo se libertado do encargo de
cuidar de crianças, compulsivamente sacrificam sua liber-
~ :li
dade a uma posição profissional subserviente e tediosa. O
arquétipo da mulher profissional está fortemente ligado
I·
aos "'deuses" técnicos utilitários e racionais de nossa
i;"
época. Freqüentemente se ouve "Eu gostaria de fazer algo
I ~
!;
útil" .
:i
:~
,.
Entretanto, sc a série inteira dos novos espectros ar-
"
1,
quetípkos realmcnte abrisse seu caminho, o relaciona-
mento entre homens e mulheres seria refeito de muitas
maneiras IWVas. Ú'
i.
!:
! i
I. .'
;.
!
Zeus e' Hera devem ser entendidos como o Presidente'
e a Primeira Dama do Olimpo. Mas sua proeminência
diminuirá e deixará lugar para inumeráveis novos deuses e
deusase Hera
Zeus aparecerem e se altamente
permanecerão desenvolverem: Apesar
consIderados. disso, I
~
e-'
iII
AR
Arquétipos que até agora foram exilados no submun:
do da patologia podem ser vividos mais intensamente. As
relações de Ulisses com Atenas não serão mais conside-
radas patológicas e inseridas num complexo maternal; os
homens estarão aptos a se relacionar com as mulheres de
maneira assexualizada; o arquétipo irmão-irmã será
, novamente capaz de sobreviver - o relacionamento
~::
..
Artemis-:Apolo - e o amor profundo, persistente,
acolhedor entre irmão e irmã não será mais condenado
como incesto ou como vínculo pouco saudável. (Interes-
1:'
santemente esse relacionamento entre irmãos foi menos
,
!:~
~.
,~
\
1111
, I';
"
:~
:
Tudo isso entretanto, é o quadro do futuro. No I
,.
'presente as mulheres e as relações entre elas e os homens
1::
estão em fase de transição. A incerteza inerente a essa
.,
1" .
situação nos amedronta não só porque não sabemos quais
arquétipos virão à tona, mas também porque çm tais
rd::
j' épocas de transição somos muito mais abertos tanto ao ~
10•
I'
j'l'
.l-
il,
I'e
fI!'e nitidamente
fada etc., sãodelineados,
geralmentemas
cheios
muitas
de vezes
símbolos
eles arquetípicos
também são
li!
~ maquilados de uma mistura de imagens moralizadas-
!
;
i fie estetizadas e despotencializadas. ,
"
'I' f't'J rn
:,1
i__ ~ _
Em tempos recentes a psicologia começou a recO-
nhecer o aspecto destrutivo dos arquétipos maternal e
paternal. Cronos que devora seus filhos e a Deusa-Mãe,
que exige sacrifício humano, aparecem novamente no
reconhecimento de que muito sofrimento neurótico é
1I
li
ocasionado pela destrutividade dos pais. "Mamãe e
"
!;
Papai" não são mais apresentados tão 'completamente
inofensivos e de repente até parecem ser culpados por
tudo! Infelizmente a psicologia ain,da não chegou a uma
conclusão similar com respeito à relação entre homem e
1 mulher. Temos identificado o agressivo como masculino,
i\
r mas' também temos visto freqüentemente o feminino
",
" unido a um Eros não agressivo. Mesmo no século XX ain-
'. da não queremos olhar honestamente para o arquétipo do
~.;
:'l
"
feminino que arruina a vida de um homem e o assassina.
:(
Falamos da "femme fatale" e da "Ia belle dame sans
L
~:1!
merci". Marlene Dietrich cantou: "Os homens pululam à
.:j~
,'I:
minha volta como mariposas na luze se queimam". Con-
~jl
~~
~: tudo, psicologicamente essas figuras não são tomadas '~
~:.;;
seriamente, no sentido arquetípico. Dentro do campo das
li'
"I
possibilidades arquetípicas as relações entre homem e
mulher não são limitadas nem a relações vitais, nem à in-
dependência mútua de um e outro; elas também incluem
rivalidade mútua e batalha de um contra o outro, rejeição
recíproca, Amazona odiada pelo homem, a ira do fanático
women's lib, a brutalidade de Zeus, e a obstinação ma-
II ; levolente de Hera. O lado destrutivo e agressivo de uma!
,assassina
As imagens arquetípicas
nas figuras do feminino,
mitológicas a agressividade"'\
de Pentesilea, Camila,
Juturha, Marfisa, Bradamata, Clorinda, Britomart, Bel-
phoebe, Radigund são mal-entendidas como não fe-
mininas, como imitativas do masculino, ou como an-
rI'
70
dróginas. A mulher belicosa e matadora de homens~ que
vestida duma pesada armadura põe fora de combate um
homem após outro~ não é antifemínina, pelo contrário, ela
se nos apresenta com um arquétipo feminino que por cen-
tenas, mesmo por milhares de anos tem estado "fora de
moda".
!,
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:1
:;
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I,:::
•••
~
fI!'e
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I ~
•••••• 71
como tal. Todos esses fatores desarmoniosos nem semprl
têm a ver com um desenvolvimento neurótico ou um,
relação neurótica.
"I
,;-j':q
\! I
II
I
~;
,-!
"j
\
I
1
E'U I :
,i
i\
\1
7')
EXEMPLO DE CASAMENTO DE
INDIVIDUAÇÃO
t 74
de agressão reprimida e recomendou-lhe por isso que se
submetesse a uma análise.
Entre outras coisas a análise mostrou que o marido
compreendia basicamente m~is de "cultura" que sua es-
posa. Por exemplo, ele tinha muito prazer em literatura e
pintura. Tornou-se mais autoconfiante· mas sua mulher
não pôde tolerar sua nova atitude. Estava acostumada a
que ele cedesse sempre. Depois de uma confrontação
vigorosa .entre eles, ela partiu com as duas crianças e re-
fugiou-se na casa de sua mãe. Procurou· então a opinião de
outro conselheiro que não era conhecido de seu marido, o
qual aceitou o quadro tal como ela o pintou, isto é, que o
marido era muito esforçado, inculto, emocionalmente
rígido, insensível e hermético, um "self made man". Os
dois concluíram que seria difícil mudar o marido e que no
caso do casamento poder de algum modo ser salvo, teria
que ser à custa de que ela desempenhasse o papel de dona
de casa obediente.
Depois de algumas semanas o marido apareceu na
casa da sogra e carregou a mulher e os filhos de volta com
I
.!
ele. Ambos os cônjuges concordaram, considerando todos
os aspectos de que valia a pena continuar casados. Ele se
tornou mais meigo e desistiu da esperança de ser capaz de
realmente assumir sua posição própria vis à vis sua mu-
lher. Ele elogiava suas qualidades de universitária fre-
qüentemente e na presença de amigos geralmente citava (e
se referia) às opiniões da mulher em questões culturais a
fim de agradá-Ia. Na lida doméstica ele a ajudava sempre
I que possível, mesmo· que estivesse sobrecarregado com
seus negócios. Por sua parte ela quase não tomava co-
nhecimento dos problemas de negócios dele. Muitas vezes
acontecia que quando ele chegava em casa do trabalho,
t~
~.~ VIa um homem tocando piano; muitas vezes ele próprio
76
I1 era esse homem. A figura do sonho sempre tinha que tocar
11
uma espécie de melodia; ele não tinha outra escolha a não
ser sentar-se no quarto e tentar tocar uma determinada
1 I' música.
Uma vez sonhou que via as notas que ele (ou o outro
homem) devia tocar. A melodia escolhida chamava-se "Le
i i.
, Marriage' ,.
. '
;I
O .paciente associou o pequeno quarto escuro ao
quartinho da casa de seus pais em que, quando menino,
ele passava o tempo pensando e refletindo. Além do mais,
fora lá que ele descobrira pela primeira vez que podia pen-
sar e que era capaz de refletir sobre si mesmo e sobre os
. outro.s.
O homem não era absolutamente musical mas lem-
brou-se que quando garoto gostava de ouvir uma música
de órgão e apreciava cantar na igreja. Mesmo agora a
música religiosa tinha algo atraente para ele. A música es-
tava de certa forma associada com o que não pode ser
compreendido, com o divino. '
Este sonho deve, em parte, ser entendido como um
sonho de individuação compulsiva. "Le Marriage" era a
• y melodia que ele tinha que tocar e que o aproximava do
divino, ajudando-o, assim, a individuar-se.
Sem dúvida o sonho desse homem era peculiar, mas o
compelia, de dentro de si, a tocar "Le Marriage", a
música do casamento.
l i'
; ;
! :
~. O marido teve posteriormente uma outra associação
mteressante com o sonho. Associou-o a um saltimbanco
~sobre o qual ele lera uma novela e da qual se lembrava do
"'seguinte: uma cidade medieval construíra uma grande
I
I
_.'catedral dedicada à glória de Deus e da Virgem Santa.
\
Para provar sua reverência todos os habitantes contri-
_.lbuÍr~m .na construção: o arquiteto doou os projetos, o
I FarplDtelro construiu os Jndaimes, o pedreiro construiu
~i
~~::>.:cdes, o pintor decr-,·ou o interior, o ourives moldou
..•...
lindos candelabros etc.. Quando a construção terminou
foi celebrada uma grande festa e todos sentiram que Deus
estava muito próximo. Tarde da noite um padre foi ve-
rificar se tudo estava em ordem na catedral e no altar ele se
deparou com um malabarista vigorosamente desempe-
nhando sua arte com bolas e bastões.
I
O sonhador associou seu ato de tocar piano ao
malabarismo do ,Htista da festa.
!i
I
i -Certamente, atingimos agora a questão de quanto um
;
cônjuge (nesse caso o marido) pode continuar a se sub-
,
meter repetidamente à sua esposa antes que' prejudi'Que
não só ,a sua própria individuação mas também o de seu
cônjuge. Nesse caso a esposa continuaria a exigir mais e
mais.
,.,
~
f!}Iit!J
e ambos terminam tão pobres quanto eram no começo. ~
". 78
tJIjII@
SEXUALIDADE E REPRODUçAo
::
i
j
I:
i'
I
"
I·
,.
I·
Il
~
~
Como chegamos ao tema casamento e demos uma
olhada na relação entre masculino e feminino per se,
aproximamo-nos do assunto sexualidade. No casamento e
na relação de um homem e uma mulher geralmente a
I
li
!;
!
,. Caos. Era encantadora e seduzia. Páris deu a maçã de
"i' ouro não a Atenas ou a Hera, mas a Afrodite. Ela era a es-
posa do ferreiro aleijado Hephaistos, mas apaixonada
f pelo deus da guerra Ares, que espalhava medo entre a
humanidade.
79
1
gigantescos que audaciosamente eXIbIa~r,; I
tros e maIS conhecido. De acordo com a Theogeny de
Hesíodo esse deus existiu desde o princípio dos tempos:
era nascido do Caos. Ele estava presente no "nascimento"
de Afrodite. Em períodos posteriores (e.g., no tempo de
Ovídio) era descrito como um rapazinho frívolo. Viaja\'a
pela terra com arco e flexa, algumas delas tendo pontas
I'
I
'--
um fenômeno tão multifacetado.
:'\
\1
A -justificação da sexualidade em virtude de seu
propósito reprodutivo te~ aparecido nos tempos mais
'"11 \1 •• 01
modernos, mas em versões secularizadas. Muitos médicos
e psiquiatras do século XIX tentaram compreender a
sexualidade biologicamente do ponto de vista da repro-
dução. Por esta razão a masturbação, as fantasias sexuais
e coisas desse tipo, eram vistos como algo não saudável e
perttirbador do sistema nervoso. Até muito recentemente
era comum contar às crianças que a masturbação poderia
levar à invalidez e a sérias doenças.
As concepçÕes dos P.Siguiatras do século XIX fora~
~
~.!i moldadas (embora não COnSCleIltemente) pclas opiruoês
•..
cristãs. Kraepelin, por exemplo, era da opinião que a
. origem das desordens sexuais era quase sempre a mastur-
~ i
t
bação. O medo da masturbação pode parecer um pouco
,I~' I
..estranho hoje em dia mas é completamente compreensível
dentro de seu contexto histórico. O sentido da sexualidade
!
era entendido como reprodução e portanto a masturb~ç~o_
li era encarada como patológica ou pec?minosa, já gg_~_I!un..-
i\
ca poderia levar à concepção. Kraepelin foi mais além
considerando as desordens sexuais originárias das imágens
mentais e fantasias que acompanham a masturbação. As
II . fantasias sexuais eram para ele patológicas, e isso é tam- ;
I', bém compreensível dada a base na qual estava inserido'
I
dentro do momento histórico.
\
Kraepelin acreditava que quanto mais longe a se-I
i xualidade se afasta da reprodução, mais pátológica se
,
torna.
j
de
. sexualidade
Interessante primária, e até
percebermos que animalística, que tiPo1l.
foi exatamentea esse foi
I aceita pelos teólogos cristãos como sendo não pecami-
nosa, desde que fosse santificada pelo casamento e estives-
se a serviço da reprodução.
!I
\,
'lI:
·1
\: l·' ~ . isso uma relíquia do reflexo de "fingir-se morto?" Quan-
!
do o animal ou pessoa atacados não mais se agita ou não
mostra nenhum movimento, o atacante não ataca mais e
recua ante sua vítima.
I
Outro modo de reação arcaica é a sensibilidade da
i
pessoa histérica a todas espécies de comunicação não ver-
bal. Os histéricos muitas vezes sentem o que está acon-
tecendo com a outra pessoa antes que ela própria perceba.
Com os histéricos a habilidade de comunicar-se direta-
mente com as almas dos outros sem o uso de discurso ou
li 83
Agostinho havia dito: "in nostrarum quippe nuntilis plus
vaiet ',sanctitas sacramenti quam fecundiras uteri" ("o
sacramento é mais importante do que a infertilidade da
mãe").
l
T
i:"
,i
i'li
,1
11,,-
õ::
"
:!
II
il:
I,
li
"
1:\,
I!
,.
i,
:ltl
I. I,
i
i
I,
Xó
!I:
o ABSURDO DA SEXUALIDADE "NORMAL"
j:
bem, eles aparecem em forma das chamadas perversões.
Desejamos abordar aqui apenas muito levemente as
1\
teorias freudianas.
II
\
Freud descreve de uma forma muito precisa os vários
~;
!~
estágios característicos do desenvolvimento da ~exualidade '
humana. Para o recém-nascido a sexualidade é ainda
desorganizada e difusa. Por natureza a criança é polimor-
fa e pervertidamente auto-erótica. A criança possui, por
assim dizer, todas as tendências sexuais que, se não são in-
tegradas, serão mais tarde experimentadas como perver-
sões.
O primeiro centro da sexualidade ocorre na área da
boca. O primeiro estágio é a chamada fase oral, durante a
qual tudo o que tenha relação com a boca - mamar, en-
golir, comer - é sentido sexualmente.
Na fase seguinte esses sentimentos de prazer tornam-
se mais e mais concentrados nos órgãos de excreção e na
eliminação de fezes e urina. (Explicar precisameIlle porque
essas tendências sado-masoquistas aparecem durante essa
fase nos levaria muito além de nossos propósitos). Numa
fase mais tardia, os genitais tomam a liderança e durante
,
,I
esse estágio fáIico (mais ou menos aos cinco anos) entra a
i! fase edipiana com os desejos incestuosos de contato sexual
'iII com o pai ou a mãe. Os desejos edipianos não são satis-
'I
'l!
feitos e devem ser suprimidos, resultando no estágio de
~' latência, que dura até mais ou menos os doze anos.
Durante este estágio os instintos sexuais são reprimidos e a
energia sexual é, até certo ponto, sublimada. Na puber-
dade, a chamada sexualidade normal finalmente chega a
~I
11 seu devido lugar.
'li
~l
~í
Esse longo e complicado processo de desenvolvimen-
f' to contém muitos perigos, através dos quais as anomalias
li'
"~
..:
sexuais podem se instalar. Em qualquer fase pode ocorrer
~!
:; uma fixação e certos componentes sexuais especificos,
como por exemplo o sado-masoquismo anal ou o exibi-
cionismo podem predominar; ou, além da ansiedade
sobre a força dos instintos sexuais, podem aparecer
mecanismos de deslocamento através dos quais toda a
'.
sexualidade se concentra num objeto desviado, como no
r!~
caso-do fetichismo, onde o objeto substituto faz o papel
i., da coisa desejada.
'r·
• ri
~
Jj
De acordo com Freud, a causa desse desenvolvimento
L.
" defeituoso está numa fraqueza constitucional ou em sífilis
.!
congênita, numa frágil constituição nervosa ou em certas
experiências que levam a uma fixação. Um estímulo sexual
infeliz numa certa fase, como por exemplo presenciar um
contato sexual entre os pais, o qual é confundido com uma
tentativa de assassinato, a sedução por parte de parentes
!I
ou empregados , pode fazer com que um certo instinto .par-
cial, essencial nessa fase particular, torne-se demaSIado )
importante mais tarde e assuma a direção.
, 'I
! :. que a sexualidade "norinal" não é nada mais que uma
l,~
: i'
criação delicada e artificiosa, cujos vários blocos de cons-
l:
II
l'i' I "
~-
tf-
trução são as chamadas perversões. É mérito das teorias
freudianas que os desvios sexuais estejam incluídos na
compreensão da sexualidade e que a estreita concepção da
! •
".... ....-
sexualidade tenha se ampliado para além de sua conexão
com reprodução, A aguda percepção de Freud não pôde,
~ ..... entretanto, liberar a sexualidade de seu confinamento de
\
\
I
". uma vez por todas. De acordo com Gebsattel, por exem-
I fI!!t4 plo, a masturbação é ainda um pecado contra o princípio
iJ- do Eu-Tu, um pecado contra Eros, ou, segundo o famoso
d4 psicólogo suíço e filósofo Paul Haeberlin, um pecado con-
tra o parceiro.
~
Os existencialistas tentaram em parte, compreender
mais profundamente a riqueza 'da sexualidade. Medard
~
Boss assegura que ~ão só ? sexualidade normal, mas cada'
variação da sex.uahdade e uma desesperada, ainda que
limitada, tentativa .de .expressar amor. Outros existen-
~ialistas entendem o InstInto ~exual como um impulso para
Integração, no mundo, conSIderando que quando Ocorre
uma divisão entre o mundo e o instinto, essa divisão deve
ser preenchida com fantasias e perversões sexuais de uma
natureza destrutiva, como o sadismo e o masoquismo.
. /
Entretanto, para o nosso próprio questionamento
futuro, queremos lembrar a declaração de Freud de que
"talvez em nenhum outro lugar o amor todo-poderoso se
mostre com mais força do que nas aberrações".
Qualquer abordagem da sexualidade que tenha a
ii reprodução - ou ainda o ato sexual formal como o foco
i~: central e que veja todo outro tipo de sexualidade como
'111]\
, ~~; SUspeito, precisa ser julgado à luz dos seguintes fenô-
(I ~:
~i
~~
~'
~:
f'
11,
,
t Gostaria de ampliar a compreensão da sexualidade.
~i Sem esse entendimento .amplo o papel dela e suas va-
~i riações no casamento não podem ser inteiramente enten-
II
didos. Infelizmente muitos dos métodos mais modernos e
i\\
li,
atuais métodos de estudo da personalidade não nos levam
muito longe. A tentativa, por exemplo, de afirmar que ela
I"
não é nada mais que uma experiência de prazer não me
parece encerrar todo o fenômeno. O poder compulsivo da
,:., sexualidade, o fato que a maioria das pessoas devota gran-
de parte de suas fantasias aos temas se:\uais, o enorme
.c:
problema que tem sido em toda~ as épocas, tudo isso não é
acidental e seria completamente ininteligível se fosse ver-
liil dade que ela se resumisse apenas na experiência de um
r simples prazer. A2exualidade sempre teve alguma coisa de
y
!I!,
I numinoso, alguma coisa estranha e fascinante. O fato, por
;
~xemplo, de haver prostituição no templo em tempos his-
!
:1: tóricos no Oriente não significa que esses povos conce-
biam a sexualidade como coisa "natural", como algo que
j,
,
i se pudesse experimentar de modo frívolo e prazenteiro.
Indica justamente o oposto: essas pessoas conc~biam a
.!:
i
:1\', sexualidade como algo tão numinoso que até podia ter
I,
\:1
lugar num templo.
il, :1'
.'J
:1
A sexualidade entendida como uma forma de rela-
cionamento interpessoal entre um homem e uma mulher
J~
;1
':1:'
~,'
Nem a interpessoal,
cionamento concepção da nemsexualidade rela-I
como noummesmo
como um prazer l
( preensão desse fenômeno humano .., Nem a procriação,
,
I:,
..
nem
nível odoprazer,
comer nem
e do as relações
beber interpessoais
nos leva eXQlic.am_a
muito longe na com- ~'
!~~
p
"1\'
"
freqüentemente interpretado como a mãe real do que /
li como símbolo do maternal. ,/
1
II
,I
li.
111\ii
entendida como uma fantasia de individuação, uma fan-
:!i\
!~
prazer.cujos
tasia A sexualidade, com
símbolos são tãotodas
vivossuas variações,
e tão efetivos pode ser \.
que po-
li
;,
"
dem até mesmo influenciar nossa psicologia. E, dessa for- .
I!
ma, os símbolos"não são propriedade exclusiva de uma
i elite acadêmica, maSde todas as pessoas.
!:
1.1\;
!,
\!
Quais asão,
de chegar um então,
acordo ascom
possibilidades
o feminino?para
Uma homem<1
umpossibili~
:\li1
L
dade pode estar no relacionamento com uma mulher,
li como, por exemplo, no casamento; outra pode consistir
em fantasias sexuais, incluindo as homossexuais, - onde
f
1\;\
o feminino pode ser experimentado com outro homem
cuja meta não é reprodução, relacionamento humano ou
prazer, mas a confrontação com a anima, com o feminino.
Outra possibilidade existe num relacionamento para um
ajustamento para a mulher.
As fantasias sexuais da maioria dos homens e mu-
lh~res são muito mais selvag-ense bizarras do que a vida
sexual realmente vivida .. Infelizmente, analistas e psi-
cólogos com freqüência reagem a essas fantasias com ares
\\,
94
de superioridade e as patologizam. Um comentário sobre
uma fantasia particularmente viva e original de um ou
uma paciente poderia ser: "Este (ou esta) jovem ainda não
é capaz de relacionar-se. Ainda é uma vítima completa de
seu instinto sexual não humano". Ou um analista diz a um
colega numa discussão de caso: "Ele desvirtua sua na-
morada para poder viver suas fantasias sexuais. Ele ainda
carece de ternura e sensibilidade". Outro comentário: "Es-
te velho está sofrendo de luxúria senil" . A expressão, "ele
escapa para a fantasia" também é freqüentemente ouvida.
Esta maneira patologizante e com ares de superioridade de
observar tais fenômenos agem destrutivamente sobre a al-.
ma. A individuação tem lugar não apenas nas projeções e
no relacionamento humano. O processo pode ocorrer in-
teriormente, através do significado dos símbolos; não
apenas através da reflexão e do pensamento, mas através \i'~
V,if"(
dos símbolos que se apossam do corpo e da alma e dessa (j
,
forma se apoderam do homem inteiro sob seu domínio.
Gostaria de enfatizar mais uma vez que a vida sexual,
acima de tudo como aparece nas fantasias, é um intenso
processo precisa ser respeitada e reconhecida. É anti-
psicológico encarar esse fenômeno como algo primitivo,
sicológico encarar esse fenômeno como algo primitivo,
que pode ter um certo significado simbólico mas que deva
ser sublimado e talvez experimentado num plano mais al-
to. É prejudicial à alma quando a vida sexual se torna
demasiado espiritualizada. Entretanto, é preciso evitar
mal-entendidos: a minha recomendação não tem neces-
sariamente a ver com uma intensa vivência da sexualidade
como advoga William Reich, por exemplo. Vida sexual e
,.
particularmente fantasias sobre ela, com suas inúm.eras
i
1 particularidades e belas características, representam
~ apenas uma das muitas maneiras através das quais a in-
dividuação se processa. Não é o meio par excellence.
. Gostaria de demonstrar com o exemplo seguinte que
até as mais extraordinárias práticas e fantasias sexuais têm
relação com a individuação e, portanto, com a salvação.
" F
Uma vez trat~i um estudant~,.um fetichista, que tinha
entrado em conflIto com a polIcIa porque roubara uma
peça íntima de. ml;l~h~r.Eu ain~a ~stava nessa época em
treinamento pSIqUlatnco e tenteI ajudar o estudante des-
cobrindo certas conexões psicodinâmicas.
Um dia ele entrou e com uma voz triunfante leu para
mim a passagem em que Fausto encontra Helena. Como
Fausto, depois de longa procura, finalmente pode encon-
trar a mais bela criatura feminina da face da terra, a bela
Helena, e como ela desaparece, deixando Fausto com sua
roupa e seu véu nas mãos.
:' As mulheres são apenas um símbolo, de qualquer
forma", explicou-me. "Talvez a experiência do encontro
com o feminino seja mais profunda se temos apenas um
pedaço de sua roupa, .um objeto que simboliza a mulher,
.mais do que ter a nrópria mulher. Pelo menos, ninguém
então se esquece de que a fantasia é quase tão importante
quanto a realidade" . .
Num certo sentido esse estudante estaria certo. Ele
não equiparava sexualidade com reprodução, com puro
prazer ou relacionamento humano. ele- a entendia-como
algo simbólko. Através dele tornou-se claro para mim que
á sexualidade tinha que ser considerada diferentemente de
como eu a tinha percebido até então. Comecei a perguntar
se não é caso freqüente que o desvio sexual esteja mais
próximo do fenômeno da sexualidade do que a chamada
sexualidade normal. Repito: os conceitos "normal" e
"anormal" perderam grande parte de seu significado com
respeito à vida sexual. A individuação nos dá a chave para
a sexualidade, e não para a normalidade ou anormalidade.
, Como mencionei anteriormente, .uma das grandes
.tarefas do processo de individuação é a experi~ncia do
,lado escuro e destrutivo. Isso pode ocorrer através dã
sexualidade, que pode ser uma das m,uitas .po~s.ibilidades
~ra esta eXQeriência. Isso certamente não sIgmfIca que ãf-
guém tenha que ser inundado pelas fantasias de um Mar-
96
quês de Sade, de um Leopold. Sacher-Masoch ou que se
deva praticar, desempenhar taIs fantasias. Significa antes
que elas podem ser encaradas como a expressão simbólica
de um processo de individuação que se desenrola no ter-
ritório dos deuses sexuais.
~i
~~;
Certa vez tratei qma mulher masoquista, uma au-
toflageladora a quem tentei ajudar a se normalizar. Até
~I
"
,~
obtive algum sucesso: suas' atividades masoquistas pa-
~\,
~I
raram e ela reprimiu suas fantasias. Entretanto, começou
I;i~
a sofrer de uma inexplicável dor de cabeça, que lhe causou
l'
!'
grandes problemas em sua vida profissional. Numa es-
pécie de experiência visionária - ela era uma negra
africana e no seu ambiente tais coisas não eram incomuns
- Moisés lhe aparecia e a instruía para que continuasse
com as flagelações; se ela não o fizesse, os egípcios a
matariam. Com base nessa visão, ela desenvolveu uma
complicada teoria, alicerçada em parte nos rituais de
flagelação dos cristãos mexicanos, a qual assegurava que
apenas através de seu masoquismo ela poderia confrontar
e chegar a termos com o sofrimento do mundo. Ela se per ..
mitiu màis uma vez ser invadida por fantasias masoquis-
tas, e, assim que o fez, suas dores de cabeça desapare-
ceram e seu desenvolvimento psicológico continuou muito
bem.
;:j,.::
confronta e chega a um acordo com os maiores opostos de
~. existência.
nossa ')~
\'1 ;
; I: \\
O estupro tem um grande papel em sonhos e fantasias
'i
11:
, "
~as mulheres. É, muitas vetes, o centro ~e medos compu.1- Jí
i~
11j
SlVOS.Amedrontadora, excitante ou fascmante, a fantasla,~1
.. !.
, I' de estupro é, em cada caso, importante para a psique
,li
;1'i
, "
·!.H grega e das artes plásticas. Talvez o motivo rapto tenha al-
':!: ' feminina. O rapto é um dos maiores temas da mitologia\
go a ver com a alma sendo súbita e brutalmente sobre-
.'1'\'
'I 98
, : Ij
.q
~,I i
pujada pelo espírit?: o ani~~s inva~e a ambivalente alma
feminina. Em ~llnha pratI~a ps~coterapêutica tenho
dida como
algo um
que va:or
freqüentemente
como PSICO~OgICO,
VIstonecessIta
nao e nãocomo
c~mo, a .fantasIa um
de
pode símbolo
rapto
ser - enten-
conquistado v \.~
vivo, \ :nJ}
ou caminho
no reduzido, para
mantém a paciente em movimento e a ajuda)'
a individuação.
Talvez esteja gradualmente se tornando inteligível
porque precisamos nos libertar das "imagens dominantes
da normalidade".
É esse agarramento numa pseudonormalidade sexual
que torna impossível uma verdadeira compreensão da
sexualidade. Uma grande quantidade de fantasias sexuais
'1\'
de impor sua própria vontade, de conquistar o inimigo, de
sobrepujar, de dominar uma situação pela energia, de
; ~j
chegar "em primeiro lugar" numa competição com os
l\l:
amigos. Nesse sentido a agressão é um importante instinto
de sobrevivência. Causar dor aos outros não é essencial na
agressão; sua essência é principalmente o provar-se forte.
Por ser freqüentemente confundido com agressão, o
que pode, ser facilmente entendido do ponto de, vista
biológico, o sadismo parece apresentar menos dificuldades
intelectuais que o masoquismo.
A alegria de ver outra pessoa sofrer física ou psi-
cologicamente é muito mais comum do que o puro sadis-
mo sexual., Todavia üma tonalidade sexual em surdina
------------
freqüentemente acompanha esse tipo de crueldade que, em
si mesma, não é particularmente sexual.
A crueldade, o prazer de torturar o semelhante, tem
sido descrita desde o começo do comportamento regis-
trado do homem; ele ocupa nossas fantasias e enche nos-
:j sos cinemas. Os romanos, por exemplo, cuja civilização e
cultura se mantêm como um dos pilares fundamentais do
;!
Ocidente, tinham pouca inibição a esse respeito. Para seu
:1 divertimento jogavam escravos e criminosos aos animais
j,
H:
selvagens. Quando ocorria uma crucificação numa peça
teatral, crucificavam realmente um criminoso no palco.
!I,
i,l , Acredita-se que Pedro, o Grande, da Rússia, apresen-
II
'li'
'1\
tava decapitações para distrair seus convidados. Maria,
100
:11\\:'
rainha da Escócia, em sua juventude como Dauphinc de
France tinha que ver os huguenotes serem torturados até
a mort'e durante a sobremesa. Nessas ocasiões as avós
. colocavam as crianças pequenas nos joelhos para se as-
segurarem de que elas assistiriam a tudo. E as crueldades
da 2. a Grande Guerra são familiares a todos nós.
A crueldade, para obtenção de prazer sexual, foi des-
crita desde o começo dos tempos históricos. O Marquês
de Sade, nobre fràncês do século XVIII, é, em nosso tem-
po, o autor mais conhecido que trata desse fenômeno.
Entretanto, a maior quantidade de sexualidade sádica
ocorre nas fantasias e sonhos das pessoas. No sadismo
aparecem componentes psicológicos que são de maior im-
portância para o desenvolvimento da pessoa.
O sadismo deve ser entendido, em parte, como uma
expressão do lado destrutivo da pessoa: uma expressão do
núcleo, da sombra, do assassino dentro de nós. É carac-
terística especificamente humana achar prazer na des-
truição. Esse não é o lugar adequado para se considerar se
a destrutividade pertence à natureza humana ou é produto
de um desenvolvimento falho, embora' eu acredite que a
primeira hipótese seja a verdadeira. De qualquer forma a
destrutividade é' um fenômeno psicológico com o qual
todo ser humano tem que chegar a termos. O prazer de
~'= destruir, de enganar, de torturar, também é experimen-
tado através da sexualidade. O prazer de destruir os outros
está relacionado à autodestruição. Assim, não é surpreen-
dente que o sadismo e o masoquismo apareçam juntos: o
ill!
i1
, ;:'. "
, I" I
'li'!
"I,';i I ~inda outro aspecto do sadismo é a de~rad,aç.ão do
I", '
"
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rainha da Escócia, em sua juventude como Dauphine de
France, tinha que ver os huguenotes serem torturados até
a morte durante a sobremesa. Nessas ocasiões as avós
cólocavam as crianças pequenas nos joelhos para se as-
segurarem de que elas assistiriam a tudo. E as crueldades
da 2. a Grande Guerra são familiares a todos nós.
A crueldade, para obtenção de prazer sexual, foi des-
crita desde o começo dos tempos históricos. O Marquês
de Sade, nobre fràncês do século XVIII, é, em nosso tem-
po, o autor mais conhecido que trata desse fenômeno.
Entretanto, a maior quantidade de sexualidade sádica
ocorre nas fantasias e sonhos das pessoas. No sadismo
aparecem componentes psicológicos que são de maior im-
portância para o desenvolvimento da pessoa.
O sadismo deve ser entendido, em parte, como uma
expressão do lado destrutivo da pessoa: uma expressão do
núcleo, da sombra, do assassino dentro de nós. É carac-
terística especificamente humana achar prazer na des-
truição. Esse não é o lugar adequado para se considerar se
a destrutividade pertence à natureza humana ou é produto
,.
1; de um desenvolvimento falho, embora" eu acredite que a
J primeira hipótese seja a verdadeira. De qualquer forma a
\-
!'·lli\1'.\. destrutividade é um fenômeno psicológico com o qual
todo ser humano tem que chegar a termos. O prazer de
,( destruir, de enganar, de torturar, também é experimen-
ti: tado através da sexualidade. O prazer de destruir os outros
: l\i\
'dll;~. está relacionado à autodestruição. Assim, não é surpreen-
dente que o sadismo e o masoquismo apareçam juntos: o
assassino autodestrutivo é o centro da sombra arquetípica,
o centro da destrutividade irredutível nos seres humanos.
Outro componente do sadismo é a intoxicação com o
:,i;
poder. Causa prazer sexual dominar completamente o
\ ;;i parceiro, brincar com ele como o gato com o rato .
.'I!'
'I"
: I"
'11:'
"li' .' ~inda outro aspecto do sadismo é a de%rad,aç.ãodo
1\ \ .: ~
",,'parceIro ao estado de puro objeto. Nas fantasIas sadIcas, a
li "
.il' : -" sujeição do parceiro e a observação "fria" de suas reações
j
II
"li
;.III,:l:
desem~enha um g~ande p~pel. O parceiro torna-se apenas
um objeto com cUJas reaçoes se brinca.
li:
fria objetividade não deve ser evitada. Sem objetividade
Iq
,1:
uma relação se torna caótica e perigosa. Freqüentemente
II1 se ouve durante um processo de divórcio: "eu o amei tanto
:!:
q; e agora isso aconteceu; eu simplesmente não o conhe-ço~
'I'
I I i~
: q~-:
"t:II"j;! da sexualidade, não glorificar as perversões. A esse res-
.(,
·1'··
I
)
,~.
,~: :
peito, parece-me correto mostrar que a mais ampla exten-
:'.'
til; ~~ . são da atividade sexual humana, particularmente como 5e
ill!II···
:;), manifesta nas fantasias sexuais, não pode ser considerada
I i~ apenas como patologia.
todasA asfu~ão
IncompatlbIlIdades
sexu~l .e~pressae aOposIções
po~te quepredominantes.j
une, em nós,~,~
Até certo ponto, o homem e a mulher completam um ao I
outro, e até certo ponto não estão, de forma alguma, sin-
cronizados um ao outro. No ato de amor, toda polaridade
_e fragmenta~ã.o. do ser é superai!a. Aí está seu fascínio, e )
não na POSsIbIlIdade de resultar em reprodução. O ato de
amor é, acima de tudo, muito mais que uma expressão de
reiacionamento pessoal entre um certo homem e uma certa
mulher. É um símbolo de algo que vai além do relacio-
namento pessoal. Isso explica o freqüente aparecimento de
imagens eróticas na descrição de experiências religiosas. A
união mística com Deus é, em parte, simbolizada pelo ato .
de amor. Nesse sentido ª-maioria das estórias de amo(do
--~----::~-~---::------~--~-
mundo, os poemas de amor e as canções sobre ... a unTh'õeIo
..-----._- ~
nQmem e da mulher não devem ser entendid·a~merámente
como a expressão da vida erõtka.-Ína..s' como'símbolos
religiosos. Freud demonstrou cornotodo·s osinstintos par-
êiais sexuais se unem no ato sexual para formar uma gran-
de experiência.
Deixando de lado a notável e fascinante variedade dos
.impulsos sexuais, o ato sexual ocorre como um grande
acontecimento. A vida sexual e as fantasias eróticas são
tão ricas e multifacetadas que cada variedade possível'de
vida psicológica pode ser experimentada através desse
simbolismo vivo; Assim como Jung entendeu as iltíagens e
~s atividades peculiares dos alquimi~tas como pseudo-
Imagens de desenvolvimento psicológico e individuação,
t~~bém podemos reconhecer e seguir o processo. de in-
dIvIduação na vida sexual e suas variações: N~sse contexto
também entendemos a grandeza de Freud~ Ele acreditava
103
que pudesse descrever a sexualidade dentro do model<
biológico, mas descreveu-a com rara diferenciação, e pen
sava ter descoberto nela os f~~damentos do comporta
mento humano. Apenas um pSlcologo da escolajunguiam
pode apreender a psicologia de Freud; que enfrentou ~
sexualidade e foi subjugado por suas manifestações. Con.
tra suas próprias intenções, por assim dizer, ele criou umz
mitologia sexual viva e moderna:r- Como exempo, con-
sideremos outra vez a imagem da criança polimorficamen-
~
te perversa: ela existe em cada um de nós, através de todá
nossa vida. Alguns aspectos são reprimidos e levam uma
existência meramente sombria em sonhos e fantasias mis-
teriosas. O que é essa criança perversa polimorfa se não o
~
;..'. Self (Si Mesmo) da escola junguiana, o símbolo da to-
talidade da psique, o núcleo divino dentro de nós que con-
tém tudo, todas as possibilidades e opostos de nossa
psique?
li,
humano.
ponto de vista
Mistério
da reprodução,
e intimidade prazer
são, no
ou entanto,
relacionamento.,
carac-(
terísticas da alma e do processo de individuação. Por al-
gum tempo esse processo tem que ter lugar num vaso
fechado; nada e ninguém ousa perturbá-Io.
l
'ij";
1'",
!' t 104
.Ir\:\
ill: J
o LADO DEMONÍACO DA
SEXUALIDADE
'!Il
sexualidade continuam a aparecer como algo mau e pe-
i
caminosamente sinistro.
':
.', !
,ill!
mulher, a sexualidade pode tornar-se inofensiva.
li'
H,
Outro exemplo do caráter demoníaco da sexualidade
"h
iít
._~--------------
é o efeito implicativo da chamada cena original. Estudan-
105
tes de Freud e uma grande parte da opinião oficial edu-
cada sob sua influência afirmam que podemos esperar
sérias conseqüências numa criança que acidentalmente.
testemunhar um contato
desenv?lv~e?tos neuróticossexual entre seusa pais.
são atribuídOs Muito~~
tais experiênJ
cias na mfancla.
Algo parece estranho nessa teoria: noventa por cento
da humanidade vive em condições de habitação que tor-
nam impossível que uma criança não .testemunhe, aciden-
talmente, as atividades sexuais de seus pais. Apenas uma
pequena parte da humanidade está economicamente
habilitada para acomodar a família em mais de um ou dois
. quartos. A observação do contato sexual entre os pais ou
'outros adultos certamente impressiona profundamente a
criança.
Se, entretanto, tal experiência, que pertence à infân
cia da maioria das pessoas, realmente leva à neurose, ain
da tem que ser provada. Isso significaria que experiência'\ (
pertencentes inevitavelmente à infância da maioria da
pessoas causam sérios danos. Isso é extremamente im
provável, a não ser que se entenda a sexualidade como aI
guma coisa em si mesma sinistra, permitindo um pode
quase mágico.
Para evitar mal-entendidos, parece-me que os psicólo-
gos modernos que levam a remoção dos tabus tão longe, a
ponto de aconselharem aos pais que não excluam os filhos
de sua vida sexual, estão "jogando o bebê fora, junto com a
água do banho. ' ,
que aOsvida
autores
sexualdedos
modernos
pais develivros infantis que
ser mostrada acreditaml
em seus livro~ \
são, em minha opinião, muito primitivos. Negligenciam o
'il
complexo do incesto, que se expressa .no univer~alme~te
conhecido tabu do incesto. Uma apresentação lrrestnta
dos pais superestimula ·nas crianças os desejos incestuos'os
. e o ciúme relacionado a eles. Através disso, a situação
edipiana se intensifica de modo incômodo.
106
Por outro lado, felizmente é impossível para os pais
mostrarem, abertamente e sem nenhuma inibição, sua
sexualidade aos filhos. Isso também se relaciona com o
tabu do incesto. Os pais, instintivamente, também se
defendem contra a superestimulação de suas tendências e
fantasias incestuosas. A repressão de um tabu provavel-
.mente cria maiores danos psicológicos que seu respeitoso
!
,I
Que significa para a psicologia que a sexualidade
'I
. (r tej~
tr-ánho e sinistro
ligado caráter;possui,
a salvação inclui
sempreoutras
entre o sobre-humano.
co"isas, um es-
O aspecto demoníaco da sexualidade talvez seja com-
preensível devido a seu cunho individuacional. Ela não é
simplesmente uma atividade biológica inofensiva, mas...aIl=.
lês um símbolo de algo relacionado ao significado de nos-
sas vidas, à nossa luta e ânsia pelo divino. O confronto
"com as figuras parentais é experimentado no drama do in-
cesto. O confronto com a sombra conduz aos componen-
tes sado-masoquistas destrutivos dô erótico. O encontro
com nossa própria alma, com a anima e o animus, com o
feminino e o masculino, pode'assumir uma forma sexual.
'. O amor por nós mesmos e pelos outros é experimentado
corporalmente na' sexualidade, quer nas fantasias, quer
nas atividades. Em nenhuma parte a união de todos os
opostos, a "união mística", o "mysterium coniunctions"
é mais impressivamente expressa que na linguagem do
erotismo.
li" ,
\11
o.i
1
110
A SEXUALIDADE PLENA NO CASAMENTO
,\
!
I
/'
,0 \fl~ ~~
ma, o casamento tem que funcionar, i.e., também os sin-
v~ 0..'?-
~,
\
r\i \fl•.
~ 9>
_. , ". '
tomas neuróticos terão que ser sincronizados um ao outro.
~ \fl Ás peculiaridades próprias e as do parceiro devem ser
suportadas, aceitas e integradas na interação entre os es-
posos. É muito impressionante quantos comportamentos
extremamente patológicos um casamento de individuação
\ é capaz de suportar. '
L
~11·
1,1
[ i
,;1
,
','
. ,
':~I,
II
.";1
114
CASAMENTO NÃO É ASSUNTO PRIV Ano
/
,./'
questão privada. Isso é expresso na maioria das ceri-
~ônias de casamento das quais parentes mais próximos e
distantes participam. O costume contemporâneo de
oficiá-Io dentro do menor círculo possível não exprime a
realidade do casamento com um ritual adequado. Tais
cerimônias são sinais de um individualismo psicologi-
camente irrealista. Cada pessoa é encarada como um in-
"li!, divíduo isolado, separado do inconsciente coletivo que o
relaciona e o liga a todas as outras pessoas _ acima de
tudo à sua própria família. .
/
Depois do casamento, celebrado somente com um
pequenp CÍrculo de amigos, o casal mais ou menos cortou
relações com suas famílias. Ele estava desgostoso e en-
tediado com seus parentes' depressivos e ela envergonhada
dos dela.
~,
~~
•..
/ o casamento continuou, em geral pacificamente, mas
~."
'- os cônjuges se sentiam aborrecidos e davam a impressão,
v
,j' ~. aos p'oucos amigos dessa jovem família, de serem exces-
~~
'q,
', sivamente estéreis e desinteressantes. !
~,Q.::O '
°0 " ,/ Então a mulher teve '0 seguinte sonho: ela discutia
,/
rudemente com seu pai. Como' algumas pessoas se
/"
..
li
"
\'
Iríamos a um campo muito distante se levãssemos em
I: consideração todas as associações da sonhadora. Aqui es-
",\i tã apenas uma: a "lucros" ela associou o talento P.'~:)
I, 11
I,
i •. utilizado" ao talento oculto e enterrado, mencionado no
I'
I; Novo Testamento. A analisanda era muito interessada t'1I1
i
assuntos financeiros e também sabia bastante a respeito.
.
De acordo com a associação, o sonho queria dizer aI-
assim: porque ela empurrara o pai dentro d'água,
117
fazendo-o submergir inatingivelmente, já não havia mais
ninguém que soubesse como investir dinheiro Com lucros.
Isso significava que a mulher havia se tornado estéril e já
não podia beneficiar-2t:' t:'om seu talento.
il :
! ~:
- 11 R
o SACRIFÍCIO
I
'li
, I
'"11- .
Há muitas pessoas que não têm grande interesse na
sexualidade e não são severamente "neuróticas". Oca-
,11
.:;1
sacrifício. Que os generais e políticos estivessem prepa:"
'11';[.
I
rados para permitir que centenas de milhares de jovens
:i
:! morressem para' a obtenção de umas poucas milhas
i quadradas de terreno e que centenas de milhares de jovens
"
; permitissem que fossem massacrados é dificilmente in-
,
;I
!
teligível de um ponto de vista racional. Isso deve estar
I
:
relacionado com uma possessão demoníaca através da
imagem arquetípica do sacrifício.
Ligado a isso nós precisamos também lembrar o as-
sas~ínio sistemático de milhões de judeus europeus pelos
,r . . alemães. Milhares , dezenas de milhares, milhões
,'nazIstas
permItIram a si mesmos ser dirigidos pelos torturadores
,I "
r
. T?dase Possibilidade
demasIa arquetípica
torna um demônio
para sacrifício.
horrendo. j'
quando realizada em - .
JAi
j:
I:
:! 1,21
Quando os pensa~entos e imagens de sacrifício são
vividos como uma capcatura, as pessoas sempre reagem
violentame~t~ contfa el~s. E~ J.l?SSOS dias tal reação está
em plena atIvIdade. A dIspombIlIdade para o sacrifício, a
alegria do sacrificio, a prontidão ao sacrificio têm todas
tomado, em certos círculos, uma conotação obscena. Isso
não rpodifica o fato de que o sacrificio de alguma coisa
muito cara a nós parece ser indispensável à individuação, à
salvação da alma. -
Penso agora sobre o que tem sido por dois mil anos o
exemplar concorde do meio de salvação no mundo ociden-
tal, isto é, a vida de Cristo. A fim de se tornar um com o
--Pai, Cristo teve que sacrificar tudo: reputação, auto-
~estima, a estima de outros e a própria vida.
Este livro é uma tentativa, entre outras coisas, de
provar o caráter individuacional do casamento. No con-,
texto de nossa presente discussão ainda não aludimos aos
grandes sacrifícios que são também exigidos pelo casa-
mento. A maioria das pessoas casadas precisam, até certo"
ponto, renunciar a certas partes de suas personalidades;
precisam sacrificar no altar do casamento. O casamento é
uma confrontação inescapável, contínua, que somente
pode ser resolvida através da morte. Entretanto, tal con-
fronto de longo prazo só é possível se um ou ambos os
cônjuges renunciam a algo importante. Primeiro, tudo é
confrontado, mas logo se torna aparente aos 'cônjuges que
esta confrontação a longo prazo da qual não se pode fugir,
i só pode ser mantida se algo essencial da própria alma de
I cada pessoa é conscientemente renunciado.
t.
cairia em depressões. Ou um marido precisa desistir de.
d
;.
f~zer qualquer coisa por si mesmo no mundo dos negó-
:ri CIOS; ele precisa colocar sua luz sob uma capa para que a
··i
f:
"
luz de sua mulher possa brilhar mais fortemente.
~
I,
1
-I:
---1.22
Cá está um sonho que trata desse tema. O sonhador é
uma mulher de quarenta anos que sacrificou suas habi-
lidades artísticas por seu marido e sua família. Ela não
desenvolveu seus próprios dons artísticos, mas preferiu
ajudar seu marido que tinha uma posição de extraordi-
nária responsabilidade. Ela o sustentou emocionalmente,
ouvindo-o por horas a noite enquanto ele lhe contava de
suas di'ficuldades profissionais, desapontamentos e suces-
sos. Este é o sonho: Seu filho, que tem certa semelhança
com o Sr. W. (um artista seu conhecido), está se afogando
ou está a ponto de se afogar. A mulher está num estado de
pânico e tenta salvar o menino. Desesperadamente ela'
corre, prá frente e para trás. A criança contudo afunda-se
cada vez mais profundamente. A mulher corre sobre uma
estrutura que represa a água, de ambos os lados, mas no
I; ~
I
meio há alguns poços. A criança está sempre num poço
, ,
diferente e cada vez mais fundo na água. A mulher não é
" capaz de salvar a criança. Finalmente ela a vê em água
I,
, muito profunda e ela já não se move.
"
\i
'.mdIc~ção
. Poderíamos
de quenoso perguntar
analisando setem
esseque
sonho não é uma
sacrificar l
sua ~
próprIa criatividade no Self (si mesmo) ou para o Si M~s- \
mo. Geralmente tais mandalas simbolizam a estrutura SIg- .//
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nificativa e ~ d~n.âmic~da alma, a meta ou o poder mo-
tivador da mdlvlduaçao. Esta mandala continha o sa-
j.!
sem reprovação a ninguém; concerne à renúncia necessária
:'j e auxiliar da individuação.
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o DIVÓRCIO
\1 127
casar. É injusto, para o meio de individuaçào pelo casa-
mento que, mUltas pessoas, especialmente mulheres se
submetam a essa instituição de salvação a fim de te;em
filhos e serem mães. Para as pessoas cujo principal in-
teresse é a próxima geração, o casamento é uma instituição
totalmente inadequada.
Errare humanum est. Mais cedo ou mais tarde pode se
tornar claro às pessoas casadas que elas não encontraram
o seu parceiro de individuação, mesmo que não existam
sérios mal-entendidos entre eles. Talvez alguém não tenha
achado o companheiro certo para o caminho de indivi-
duação através do casamento ou descobre-se ser com-
pletamente inadequado para esse caminho. O critério de
divorciar-se ou não deveria ser procurado no grau de
dificuldade ou patologia no casamento, mas antes deveria,
claramente, depender do casamento representar ou não
para ambos os cônjuges um meio de salvação.
_ Entretanto, antes que os casais notem o problema
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há muitos casais que refletem sobre se acharam ou não no
1 I: casamento seu meio de salvação, seu meio de indivi-
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Ii casamento como uma agência de bem-estar.
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. II ~~fiado por imagens pela maioria das pessoas e não in-
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li ~~p'-almente descrito. Até recentemente eram, acima de
'~s religiões e igrejas que forneciam às pessoas
l"i')~f_atravésdas quais elas se habili,tavam a refletir
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,C!í~;~ relações fundamentalmente espirituais.
'\1 ' I~\ ~taso que a salvação e o bem-estar são motivações
'~ f\lndamentais para .toda pessoa, mesmo que
bI"~
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~~e. consciência disso 'de um modo conceitual.
,pJuges,
~".:
sejam eles educados psicologicamcllle
I'~;li
\\\ DI
ou não, sejam alfabetizados ou não, perguntam-se se o
casamento serve mais ao bem-estar ou à salvação' se
devem permanecer juntos em nome do bem-estar 'dos
filhos ou se devem buscar a salvação. Que este é, de fato o
caso, vemos repetidamente pelos sonhos e fantasias de
pessoas que encontramos, independente de sua herança
social e de sua educação.
Para dar um exemplo: Uma costureira industrial de
vinte e"dois anos contou-me a seguinte estória: "Meu pai
nos deixou quando eu tinha dez anos. Ele mandava regular-
mente dinheiro à minha mãe, entretanto somente visitava
os filhos cada ano ou dois. Eu amava muito a minha mãe e
critiquei severamente meu pai quando ele nos deixou.
Tivemos que viver pobremente e nenhum dos filhos pôde
cursar a escola depois dos ,doze anos. Mas apesar de todas
as críticas, eu também amo muito ineu pai. Não sei por que.
Afinal de cmitas, ele me abandonou. Quando eu o via de
vez em quando - era bem raramente - ele não se interes- .
sava muito por mim. Ele sempre falava sobre seu trabalho;
só este o interessava. Ele é louco. Minha avó também gosta
dele. Eu não quereria ter nenhum outro como pai" .
.. -.
homemduas
antes quepessoas
se amam,
que são
estãofelizes e têmsefilhos
tentando juntos,~mas
indivjdu.af..,_ :..b
/~
vação. O casamento não envolve só uma mUlher~um
sua "salvação da alma". Talvez isso soe piegas e anti-
quado. Fora da ansiedade de que elementos religiosos
poderiam falsificar nossa compreensão científica, nos
fechamos a uma compreensão da alma; assim fixamos
diante dos olhos uma imagem de homem que é apenas um
entre muitos. Somos criaturas orientadas não somente em
11111
direção ao bem-estar; somos criaturas cujo comportamen-
to não pode ser simplesmente explicado como uma luta
pela sobrevivência e felicidade, alívio de tensão e conten-
tamento. Não somos meramente Phaeaces. O resultado
disso é que o homem e - o que particularmente nos interes-
sa aqui - uma das mais importantes instituições, o ca-
samento, nos impressiona em geral como doente. O ca-
li, samento é julgado pelas imagens de çem-estar e o resultado
é pobre.
O casamento é definido não só pelas imagens de bem-
estar mas também pelas de salvação. A concepção "até
que a morte os separe" nada tem a ver com bem-estar; vis-
to do ponto de vista do bem-estar, a noção "até a morte"
:It:. não faz sentido. Considerando do ponto de vista de bem-
estar, o casamento está incuravelmente doente. Por isso, ~
,o.
os esforços para expor e remover os chamados neuroticis-.
mos dos cônjuges e do casamento em si mesmo têm só um
val?r limitado; muito do que é visto como doente pelos
apostolos do bem-estar não 6 de forma alguma doente,
e.g., o acima mencionado "sacrifício de uma porção im-
Portante e criativa da personalidade" .
Para pessoas que veneram ao altar do bem-estar o
casamento dirige-se para a doença. E isso é verdade não'só
para elas .. As. estradas ~e salvação são muitas; há tantos t<
caminhos délllihviQl@Çllo qUé3:ntopessoas. r..
-~ caminho de salvação entre--rnü1tos:embora contenha
muitas possibilidades diferentes.
Por essa razão aludi, no início desse livro a muitas
imagens de casamento. Zeus e Hera oferecem uma
imagem, a Sagrada Família outra; há ainda outras e cada
casal tem sua própria balança, sua variação da imagem ..O
casal que é selado pela imagem da Sagrada Família con-
sidera anormais os devotos de Zeus e Hera; para Hera e
Zeus a Sagrada Família pareceria ser um assunto lamen-
tável. OsPenso
culares. meios nos
de salvação
"beatos" sempre
que se foram muito
sentavam parti-...Js
anos no..J
topo de \lma colina a fim de achar sua salvação, ou nas
freiras medievais q~e beijavam as feridas dos l~prosos.
Assim também achamos uma grande riqueza de diferentes
"meios de salvação do casamento", por exemplo o ca-
samento do príncipe consorte onde a esposa reina e o
marido atrás da" cena calmamente serve, ou (, éasamento
da Máfia no qual o marido é um gangster no mundo exter-
no, mas vivencia o casamento "sagrada "família" com sua
mulher e filhos, e muitos outros meios.
Entender as pessoas e suas estruturas sociais exige
uma visão das imagens que estão traba~Ji.~!,ldoem outro
plano. O .fenômeno do casamento não pó"~$.~r compreen-
dido sem se considerar as imagens que lhe dão forma. í
Cada manifestação psicológica precisa ser confrontada
com suas imagens próprias e não com imagens que lhe são
estranhas. As catedrais góticas, se confrontadas com as
imagens idealizadas do mundo :antigo grego parecem inin-
teligíveis ou sem fundamento. Nas páginas anteriores ten-
tei mostrar como agarrar-se a uma imagem inadequada -
. a reprodução -" obscurece as verdadeiras proporções da
s~x':lalidade. A sexualidade, entretanto, é poderosa e ins-
tmtiva; esse meio de.,~ individuação e se 1 simbolismo são
"13R
capazes de' se manter a si mesmos, sejam ou não reco-
nhecidos.
Como pessoas que participam de comunidades cul-
turais, nacionais, religiosas e como cônjuges, criamos e
continuamos a criar as possibilidades de individuação, da
busca de salvação através do casamento. As imagens que
vigoram por trás do casamento assim como o compreen-
demos hoje são várias imagens diferentes de individuação
e salvação. Assim que confrontamos casamentos con-
cretos com outras imagens estranhas a ele - assim como
bem-estar, felicidade ou lar para filhos - o casamento
parece ser sem sentido, murcho, moribundo e mantido
vivodevido a um grande aparato de psicólogos e conse-
lheiros.
O casamento está morto, viva o casamento!
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