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Resumo: Nosso trabalho tem como principal objetivo discutir a relevância de práticas
pedagógicas diferenciadas na alfabetização de crianças com laudo médico de Transtorno do
Espectro Autista. Para alcançar esse objetivo, nos detemos no planejamento com a utilização
de jogos de alfabetização e recursos variados que considerem as especificidades de cada
educando. Se faz necessário também um amplo conhecimento teórico sobre o tema, somada a
formação continuada dos docentes que atendam o público em questão e ainda a parceria e o
diálogo constantes com as famílias e profissionais de saúde que atendam essa clientela. Todo
esse planejamento, formação e ações são fundamentais para a promoção de uma
aprendizagem significativa destes discentes, para a socialização e a construção de um espaço
inclusivo.
Palavras-chave: Autismo. Práticas Pedagógicas. Inclusão. Alfabetização. Aprendizagem.
1 INTRODUÇÃO
Esse despreparo é notório principalmente nas salas de aula comum, onde o professor
encontra inúmeras dificuldades para atender esses alunos. Precisando reinventar sua prática e
buscar novas estratégias de aprendizagem que venham de encontro as necessidades daquele
aluno que apresenta uma visão de mundo diferente dos seus pares.
Nesse sentido, é primordial a elaboração de práticas adequadas que possibilitem a
inserção destes discentes no ambiente escolar, bem como o seu pleno desenvolvimento.
Salientamos que a referida inclusão deve ser realizada com cautela, pois o caso de cada aluno
deve ser analisado com cuidado.
Conhecer o aluno, seus gostos, suas dificuldades são essenciais para se buscar práticas
adequadas que possibilitem sua alfabetização. Uma boa mediação pedagógica, sem dúvida,
fará toda diferença no desenvolvimento das crianças com autismo e irá favorecer o seu
desenvolvimento.
A escolha da temática, surgiu das dificuldades de leitura e escrita enfrentadas
diariamente no atendimento de crianças com TEA na Sala de Recursos Multifuncional como
também na sala de aula comum.
O presente trabalho tem como objetivo apresentar o projeto de intervenção
desenvolvido com os alunos que apresentam Transtorno do Espectro Autista- TEA,
regulamente matriculados na Escola Estadual de Serrinha dos Pintos, no município de
Serrinha dos Pintos-RN.
Para alcançarmos esse objetivo, realizamos a etapa da intervenção com 3 (três) alunos
que apresentam laudo médico de Autismo infantil em graus diferentes: leve, moderado e
severo. O principal desafio percebido é em relação a alfabetização dessas crianças,
respeitando as suas particularidades e atendendo as suas necessidades.
Para fazer essa análise nos utilizamos de diversos suportes sobre o tema, como
também contatos com profissionais de saúde, as crianças e famílias, pelas quais estas recebem
atendimento. Tudo isso, irá favorecer a formulação de práticas adequadas que venham de
encontro as reais necessidades destes discentes promovendo sua aprendizagem e inclusão.
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Todos os pacientes com autismo partilham estas dificuldades, mas cada um deles será
afetado em intensidades diferentes, resultando em situações bem particulares. Apesar de ainda
ser chamado de autismo infantil, pelo diagnóstico ser comum em crianças e até bebês, os
transtornos são condições permanentes que acompanham a pessoa por todas as etapas da vida.
São alunos que geralmente não têm curiosidade pelo conhecimento e que não entram
no regime das relações e trocas sociais, por isso participam de maneira atípica das atividades.
Não que todos os estudantes com esse diagnóstico sejam necessariamente assim. Mas quando
o transtorno vem acompanhado dessas características, a angústia do professor é quase
inevitável.
O trabalho de escolarização das crianças com autismo exigirá dos professores uma
reflexão contínua sobre os processos usuais de ensino e aprendizagem, bem como um olhar
diferente. Um olhar que leve em conta um estudante que não está em posição de curiosidade,
mas que aprende de maneira específica e pouco convencional. Para os educadores, isso se
apresenta como um enigma e um desafio.
Observando os alunos que acompanho dois deles na mesma faixa etária, percebi que
crianças com TEA nem sempre desenvolvem habilidades de leitura e escrita na mesma ordem
ou ao mesmo tempo que crianças com desenvolvimento típico. Enquanto um já consegue ler,
o outro reconhece as letras do alfabeto, as sílabas, interpreta as histórias com muita facilidade,
mas apresenta grande dificuldade na formação de palavras.
Esse trabalho árduo exige uma parceria constante com a família e com profissionais
especializados, pois seu desenvolvimento acontece de maneira lenta e exige paciência por
parte dos pais e dos educadores. É preciso que os familiares dispensem atenção e estejam
presentes em todos os momentos da vida da criança para que ela se sinta amada e valorizada.
Amy (2001, p. 27) ressalta que:
A família tem um papel insubstituível de síntese das diferentes contribuições
recebidas pela criança. É em família que tudo isso é assimilado. Nós não
pensamos que os pais devam substituir os educadores, caso em que perderiam
algo de seu papel insubstituível, nem, sobretudo, realizar o trabalho técnico
dos profissionais [...].
O processo de aprendizagem de uma criança com autismo leva tempo, por isso requer
calma e empenho de todos os envolvidos (família, escola, profissionais de saúde). Sendo
assim, deve-se entender que o tempo da criança autista é diferente e deve ser respeitado. Tanto
país, como educadores devem incentivar e mostrar as crianças que elas aprendem para que se
sintam motivadas.
A educação é umas das maiores ferramentas para o desenvolvimento de uma criança
autista. Através da educação, essas crianças podem aprender tanto matérias acadêmicas,
quanto atividades do cotidiano. A aprendizagem da criança autista não é fácil, contudo, fica
evidente que com dedicação e amor estas crianças podem alcançar uma vida mais
independente e com qualidade.
3 METODOLOGIA
Este trabalho se caracteriza como uma pesquisa de natureza aplicada. De acordo com
Silva (2004), esse tipo de intervenção, tem como principal objetivo gerar conhecimentos
práticos dirigidos à solução de problemas específicos, no caso em estudo pretendemos auxiliar
as crianças com Autismo que apresentam dificuldades de leitura e escrita através de diversos
suportes pedagógicos na Sala de Recursos Multifuncional.
A abordagem deste estudo é qualitativa, nos utilizaremos do ambiente natural (o
espaço escolar) que servirá como fonte direta para coleta de dados, sendo o pesquisador
(professor do AEE) o instrumento chave (SILVA, 2004). Quantos aos objetivos, essa pesquisa
é exploratória em virtude do levantamento bibliográfico realizado em função do referencial
teórico exposto, além de ser explicativa ao identificar os fatores que determinam ou
contribuem para a ocorrência dos fenômenos (SILVA, 2004).
Os procedimentos técnicos a serem adotados incluem pesquisa bibliográfica e
documental, além de um estudo de caso baseado na experiência a ser obtida na Sala de
Recursos Multifuncional, na escola onde este estudo será aplicado, a partir da utilização de
jogos silábicos, alfabeto móvel, softwares, livros paradidáticos e pranchas de comunicação,
como recursos didático-pedagógico.
Utilizaremos planos de aula interdisciplinares que trará uma nova roupagem na
abordagem das mais diversas temáticas, tendo como principal foco a alfabetização destas
crianças. Teremos como parceiros nessa intervenção os professores da sala de aula regular, os
profissionais da área de saúde, a saber, que acompanham as crianças, e a família.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Esse trabalho se constituiu em mais uma ferramenta para minimizar as desigualdades e
promover a inclusão desse alunado que fica muitas vezes segregado no ambiente escolar. As
perguntas mais frequentes que costumávamos fazer durante esse estudo era: “como trabalhar
se não somos especializados no transtorno?”, “como alfabetizar uma criança que não se
interessa pela leitura e pela escrita? ou “como ensinar o conteúdo a um estudante que não me
dirige a palavra nem o olhar?” foram muitas as angústias e indagações que nos motivaram a
buscar novos conhecimentos e respostas à luz das teorias e de práticas para melhor atender a
esse público.
Diante das dificuldades de aprendizagem percebidas, tomando como base o
conhecimento científico e teórico de diversos estudiosos que têm se dedicado ao estudo dessa
temática, buscamos recursos pedagógicas e metodológicas para utilizarmos na nossa
intervenção.
Ao desenvolvermos esse projeto, observamos que os alunos com Autismo
apresentaram um maior interesse pelas aulas e gradativamente estão superando as dificuldades
de leitura e escrita.
Seguindo o cronograma proposto para a intervenção, apresentamos o projeto a
comunidade, estabelecemos parcerias com pais e profissionais de saúde que atendem as
crianças e traçamos um diagnóstico de cada discente, através de atividades e conversas
informais com as crianças. Elencamos suas principais dificuldades de leitura e escrita e
passamos a elaborar o material e jogos a serem utilizado para a intervenção.
Por nos encontrarmos em um período pandêmico, iniciamos a nossa intervenção de
forma remota. Os pais vinham à escola receber o material da semana e fazíamos a intervenção
através de chamada de vídeo via WhatsApp, com duração de uma hora, uma vez por semana.
Realizávamos um plano de aula interdisciplinar e inseríamos sempre um material
concreto, seja de identificar letras, montar silabas, formar pequenas palavras, tendo em vista
que dois de nossos discentes se encontram na fase silábica e um na fase pré silábica.
A foto abaixo apresenta os registros das aulas online. Na fotografia 1(um)
apresentamos o registro de uma atividade diagnóstica que realizamos com o aluno, na qual ele
tinha que desenhar suas preferências. Alimento, cor, brinquedo, dentre outros.
Fotografia 1:
Registro de uma atividade: Aula Online
Através das atividades realizadas e o trabalho com o material concreto observamos
que os alunos foram melhorando gradativamente nos seguintes aspectos: identificação das
letras, formação de sílabas e palavras, ampliação do seu vocabulário, produção de textos
(orais e escritos).
Vendo a evolução e interesse por livros paradidáticos e histórias, passamos também a
trabalhar diversas histórias através de livros ilustrados, vídeos dentre outros recursos, pelos
quais explorávamos sua criatividade, através da produção de textos, seja de forma escrita, oral
ou ilustrada. Aproveitávamos também pra trabalhar a socialização destas crianças pedindo
que contassem a história aos pais, irmãos, ou compartilhasse o seu entendimento conosco no
momento do atendimento.
Observamos que esse trabalho com histórias, resultou em uma melhor compreensão e
interpretação de textos de diferentes gêneros. Eles conseguiram também estabelecer relações
entre os conceitos contidos nos livros e a sua aplicação nas atividades envolvendo a utilização
do material concreto, e como resultado, ampliaram positivamente sua coordenação motora e
seus relacionamentos.
É tudo de forma gradativa e lenta, mas pouco a pouco fomos colhendo os resultados.
As famílias relataram que perceberam uma maior motivação para participar das aulas bem
como a melhoria significativa em seus processos de aprendizagem.
Com o retorno das aulas presenciais, passamos a realizar o atendimento na escola.
Desenvolvemos uma atividade diagnóstica escrita, onde podemos constatar os avanços
mencionados acima e também nos utilizamos de jogos variados de alfabetização no
atendimento individualizado na Sala de Recursos Multifuncional, conforme registros
fotográficos abaixo:
Fotografia 2:
Atendimento Individual: SRM
Aproveitando o momento presencial, realizamos a aplicação de jogos com toda a
turma, dividimos a turma em grupos e nos utilizamos de jogos de formação de palavras e
frases. Todos participaram ativamente da aula, o principal objetivo nessa atividade foi
contemplado que era a integração dessas crianças com seus pares.
Na oportunidade, reforçamos com o professor titular da sala de aula, a importância
dessa ação. Tendo em vista que estes alunos na maioria das vezes ficam mais reservados e não
gostam de se socializar. Sendo necessário um olhar atencioso de toda a comunidade escolar
para promover a inclusão desses discentes.
A comunicação e interação entre os professores da sala de aula regular e o professor
do AEE, é muito relevante focando no progresso da inclusão do discente com TEA, posto que
uma das atribuições do docente do AEE, conforme regulamentado na Resolução Nº 4, de 2 de
outubro de 2009, em seu artigo 13, inciso VIII, deve-se,
Estabelecer articulação com os professores da sala de aula comum, visando à
disponibilização dos serviços, dos recursos pedagógicos e de acessibilidade e
das estratégias que promovem a participação dos alunos nas atividades
escolares (BRASIL, 2009, p. 3).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
LEAL, T. F.; RODRIGUES, S. G. C. Além das Obras que outros livros queremos na sala
de aula? Ed. Curitiba CRV, 2011.
MELLO, A. M. S. R. de. Autismo: guia prático. 5 ed. São Paulo: AMA. Brasília: CORDE,
2007.
NUNES, D. C. S. O pedagogo na educação da criança autista. Publicado em 07 de
fevereiro de 2008. Disponível em: http://www.webartigos.com/ articles/4113/1/O-Pedagogo-
Na-Educacao-Da-Crianca-Autista/pagina1.html.