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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS


DEPARTAMENTO DE FITOTECNIA
SETOR DE SILVICULTURA
LABORATÓRIO DE ECOLOGIA VEGETAL
TEL.: (083) 3362-2300 362 – 2218 FAX: 3362 –2259

SILVICULTURA: conceito, divisões e histórico.


Professor: Leonaldo Alves de Andrade
Doutor em Ciência Florestal
1. Introdução
A silvicultura, entendida como a ciência e a arte de cultivar florestas é certamente uma
das atividades econômicas com maior potencial de expansão no Brasil e em muitos outros
países. A demanda crescente de produtos florestais, notadamente a madeira e seus derivados,
associada a diversas formas de uso da terra, têm provocado a redução da cobertura florestal do
planeta, culminando com a ruptura dos ecossistemas, acarretando problemas ambientais das
mais diversas ordens.
Em muitas regiões do planeta a madeira já é, há bastante tempo, um produto muito
raro. Mesmo em países tropicais detentores de extensos territórios, como o Brasil, a escassez
de madeira de qualidade para atender ao mercado constitui-se em um problema concreto. Isto
ocorre tanto pela simples inexistência de florestas, cuja devastação e substituição ocorreu em
larga escala, ao longo de um processo histórico de ocupação, como pela condição em que a
maior parte dos remanescentes se encontram, ou seja, restritos a locais remotos, quase
inacessíveis e situados a milhares de quilômetros dos centros consumidores.
Se por um lado as florestas nativas estão cada vez mais reduzidas, o plantio de
espécies exóticas, de rápido crescimento, tem sido expandido no Brasil, com o intuito de
atender às demandas do mercado, quer seja de madeira, carvão, celulose e outros produtos
congêneres. Não obstante o crescimento dos monocultivos arbóreos, particularmente dos
gêneros Eucalyptus e Pinnus, a silvicultura continua sendo uma das atividades que melhor
retratam as diferenças regionais do nosso País. Enquanto nas regiões Sul e Sudeste a
silvicultura caracteriza-se como moderna e empresarial, voltada para atender a exportações e
dotada de alto nível tecnológico, nas demais regiões estas iniciativas são muito incipientes e
pontuais.
Na maior parte do País o que predomina é ainda o caráter extrativista da exploração de
nossas florestas, pautado em um modelo de exploração que ignora os princípios do manejo
florestal sustentado, baseando-se na simples retirada do volume de madeira e lenha que a
natureza produziu ao longo do tempo.
Não obstante haja um expressivo volume de pesquisas relacionado com determinados
setores da silvicultura, o conhecimento da silvicultura stricto sensu é ainda muito limitado.
Para a maioria das nossas espécies nativas inexistem trabalhos completos que retratem suas
exigências silviculturais incluindo, por exemplo, ciclo de corte, arranjos espaciais adequados
e rendimentos.

2. Conceitos de Silvicultura

Inúmeros conceitos têm sido propostos para a silvicultura, enquanto atividade


econômica. Não obstante os elementos que estes envolvam, praticamente todos convergem
para o consenso de que silvicultura é um misto de ciência e arte, voltada para o cultivo e a
exploração de florestas. Etimologicamente, o temo é originado do latim, sendo formado pelo
radical “silva”= selva ou floresta e o sufixo “culture” = cultivo, cultivar. Literalmente,
silvicultura significa, portanto, cultivo de árvores.
De acordo com Ford-Robertson (1971) citado por Ribeiro et al. (2002) a silvicultura é
definida como a ciência e a arte de manipular um sistema dominado por árvores e seus
produtos, com base no conhecimento da história da vida, e as características gerais das
árvores e do sítio.
Neste sentido, Lamprecht (1990) define esta atividade como sendo o conjunto de
técnicas e procedimentos voltados para incrementar o rendimento econômico das árvores,
numa perspectiva de manejo sustentável. Segundo Oldman (1990), silvicultura é uma arte que
exige planejamento a longo prazo, respaldado em informações detalhadas sobre as
características da floresta, objetivando-se alcançar o estado desejado.
Depreende-se, portanto, que a silvicultura consiste no cultivo de árvores, assegurando
um rendimento econômico, em uma perspectiva duradoura ou que se vislumbre sustentável.

3. Subdivisões da Silvicultura e seus Objetivos

Embora esta proposta não seja bem aceita, a silvicultura tem sido geralmente
subdivida em silvicultura clássica e silvicultura moderna. A clássica seria aquela que
trabalha com florestas naturais, explorando o potencial dos sítios, sem que para isto tenham
sido feitos maiores investimentos, no que se refere à produtividade e à qualidade da floresta.
A silvicultura moderna refere-se à exploração de florestas plantadas, guardando certa
independência com os sítios naturais, uma vez que se trata de um cultivo, efetuado em meio
artificialmente modificado.
Não obstante as controvérsias que essa divisão pode encerrar, particularmente no que
se refere à inadequação dos adjetivos propostos, uma vez que é plenamente possível praticar a
silvicultura em florestas naturais empregando-se técnicas modernas, é razoável esclarecer o
seguinte (Lamprecht, 1990):
- A silvicultura clássica procura atender a objetivos pré-determinados através de
técnicas que possibilitem o aproveitamento sustentável do potencial de produção natural
apresentado pelos sítios. Para tanto, é fundamental o respeito aos princípios naturais
responsáveis pelo funcionamento do ecossistema, que não deve sofrer descaracterização pela
atividade silvicultural.
- A silvicultura moderna, também chamada de silvicultura de plantações, baseia-se na
escolha de espécies de alto rendimento, selecionadas conforme as condições ambientais da
região de cultivo. Tem fins puramente econômicos e quase sempre voltados para atender a
determinadas demandas do mercado. As árvores são plantadas e cultivadas visando a sua
exploração comercial e o conjunto delas não tem funcionalidade ecossistemática. São
lavouras arbóreas.

4. Breve Histórico da Silvicultura

Desde que a vida se expandiu na terra, as formações florestais têm desempenhado um


papel singular na evolução de milhares de espécies que ali encontraram alimentos, proteção e
condições favoráveis à procriação. Dentre estas formações, as florestas tropicais destacam-se
pela elevada biodiversidade que detém, sendo apontadas como sendo responsáveis por cerca
de 80% das espécies do planeta.
Com a espécie humana, esta relação não foi diferente: as florestas representaram os
primeiros habitats de nossos ancestrais e supriram seus descendentes com frutos, caça, pesca
e alimentos diversos, possibilitando a formação e a expansão das primeiras colônias humanas,
que vieram a se transformar tribos, cidades, nações. A forte ligação entre o homem e as
florestas está muito presente na história, estando associada às civilizações, ao surgimento de
nações e impérios; às guerras e à decadência de muitos de povos.
Os mais antigos fósseis conhecidos, com as características do homem moderno foram
encontrados na África e datam de cerca de 110 mil anos a. C., porém as evidências de
atividades agrícolas desenvolvidas pelo homem datam de 8 a 9 mil anos a. C. Portanto,
durante, pelo menos, 100 mil anos o homem dependeu diretamente das florestas para
sobreviver.
Os primeiros impactos antrópicos sobre as formações florestais datam de mil anos
depois de Cristo. Estes impactos cresceram, geometricamente, com o crescimento da
população humana nos últimos séculos. As principais causas da devastação das florestas têm
sido a expansão da agricultura moderna, a pecuária, as queimadas e a ocupação urbana dos
solos. Embora o homem moderno não mais dependa diretamente das florestas, é inegável a
nossa dependência dos produtos florestais e das funções que estes ambientes exercem nas
condições naturais do planeta.

4.1. O Cultivo de Florestas

Nos estágios iniciais de desenvolvimento da sociedade humana, as florestas foram


vistas como sendo apenas um componente das paisagens, um estoque de caça, madeira e
produtos derivados, aos quais se podia recorrer para suprir as necessidades. Motivado pelo
espírito desbravador, o homem passou a ver, também, nas florestas um horizonte a ser
transposto, que precisava ser conquistado, conhecido, dominado. Este pensamento perdurou,
em muitos países, até há algumas décadas atrás, alimentado pela ilusão de que os recursos
naturais seriam infinitos e ilimitados.
Com o crescimento da população e a consagração da atividade agrícola como um meio
de proporcionar segurança e melhores condições de vida às comunidades, os recursos
florestais começaram a se tornar escassos, surgindo, pois, a necessidade de se buscar formas
de produzi-los ou cultivá-los. Daí surgiu a Silvicultura, aqui entendida como a ciência e a
técnica do cultivo de florestas.
Inúmeras definições têm sido propostas para a prática da silvicultura. De um modo
geral, pode-se defini-la como sendo um misto de ciência, negócio e arte, voltado para a
criação, a conservação e o manejo das florestas, numa perspectiva de exploração e uso
sustentado dos produtos florestais.
De acordo com Kimmins (1987) a evolução da atividade florestal no mundo apresenta
seis estágios que podem ser assim descritos:

a) A exploração desregulamentada e devastadora das florestas, desprovida de


qualquer consciência conservacionista;
b) A percepção de uma ameaça real quanto ao futuro dos estoques de recursos
florestais;
c) Continuação da exploração das florestas intocadas, nos mais remotos locais do
planeta;
d) Instituição das primeiras regulamentações, de cunho pouco ecológico, tratando do
corte e do manejo das florestas;
e) Conscientização de que atitudes meramente administrativas não assegurariam o
suprimento de produtos florestais;
f) Início de uma postura silvicultural, marcada pela preocupação ecológico-
conservacionista, voltada para a prática da implantação, do cultivo e do manejo de
florestas.

Neste último estágio, cabe-nos a responsabilidade e o dever de dar às florestas


sua devida importância, fazendo-as ressurgir em muitos dos locais de onde foram
indevidamente erradicas. A eliminação das florestas acresceu ao nosso vocabulário expressões
que se tornaram corriqueiras como, por exemplo, “áreas degradadas”. Cabe aos profissionais
das ciências agrárias reverter a degradação das terras e isto é possível através da inserção das
árvores nos espaços de onde nunca deveriam ter sido eliminadas, pelo menos nas
circunstâncias e com a intensidade com que o foram. Aí entra a silvicultura entendida como a
ciência e a arte de cultivar árvores.

4.2. Alguns Fatos Históricos que Retratam a Silvicultura Através dos Tempos

Cronologia no Mundo:

- No Irã, em 1700 a.C. já havia leis para a proteção dos bosques e da natureza;

- Em 1620, na Indonésia, o primeiro governador holandês publica um decreto para


proteção das reservas de Teca;

- Em 1913 foi fundado o Centro de Pesquisas Florestais de Buitenzorg, em Java;

- Em 1922 foi publicada a primeira edição do livro “Silviculture of Indian Trees”,


considerado o primeiro manual de Silvicultura Tropical moderno.
Cronologia no Brasil:

- Em 1926 foi Instalado o Serviço Florestal do Brasil;

- Em 1934 foi promulgado o Código Florestal e Criado o Conselho Florestal Federal;

- Em 1947 foi criada a Floresta Nacional do Araripe, no Estado do Ceará;

- Em 1965 foi promulgada a Lei 4.771 que instituiu o novo Código Florestal
Brasileiro;

- Em 1967 foi criado o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal-IBDF,


extinto pela Lei 7.732 de 14 de fevereiro de 1989;

- Em 1989 foi criado o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis – IBAMA (Lei Nº 7.735, de 22 de fevereiro de 1989);

- Em 1998 foi sancionada a Lei 9605, chamada Lei de Crimes Ambientais, que trouxe
nova regulamentação para os crimes contra a flora;

A partir da década de 90, com a realização desses grandes eventos e com a


consolidação de uma legislação ambiental consistente, vem crescendo em ritmo cada vez
maior a conscientização da sociedade sobre a importância e o papel das florestas para a vida
no planeta e para a espécie humana, em particular.

Prof. Leonaldo Alves de Andrade


Texto produzido para apoio às aulas da silvicultura
Areia – Paraíba - Brasil

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