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Livros: Controle de constitucionalidade no direito brasileiro – Barroso (mais resumido) 1ª

parte

O curso de direito constitucional – Gilmar (para ações constitucionais) para 2ª parte (mais
extenso)

Quarta, 11/08/2021

A LEGITIMIDADE DEMOCRÁTICA DA JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL

A dificuldade contramajoritária no ordenamento jurídico : Ao passo


em que os juízes não são representantes do povo, existe um debate importante
na literatura de direito constitucional e de controle da constitucionalidade, em
que se indaga em qual medida é legítimo a aceitação de que juízes não eleitos,
não submetidos ao controle popular, possam efetivamente afastar decisões
políticas tomadas pelos representantes da maioria da população.

O papel representativo do ordenamento jurídico : citando um caso


exemplificativo, em que o legislativo e/ou executivo pratiquem ou não pratiquem
atos que não gozem do apoio da maioria da população. Nessas circunstâncias, o
judiciário atua de forma representativa, pois a decisão que anula um ato do
legislativo ou do executivo que não representa a maioria ou do querer popular
seria um papel representativo.

OBS: Quais são os casos em que o judiciário atua de forma contramajoritária? Ou seja,
contra o querer da maioria? É legitima a sua atuação? É compatível com o regime
democrático a atuação do poder judiciário contra a vontade da maioria?

*A discussão da legitimidade democrática da jurisdição constitucional se


trava em torno de 2 pilares:
1)A dificuldade contramajoritária enfrentada pelas decisões judiciais que anulam
decisões do poder legislativo e/ou do poder executivo e 2) a falta de controle
democrático pelo voto porque os juízes não estão submetidos ao controle
democrático. Ou seja, a submissão à fiscalização popular.
*O debate em como se justifica a legitimidade democrática da jurisdição
constitucional a despeito dos juízes não serem eleitos, bem como de irem
“contra a vontade da maioria”, além de não sofrerem um controle
democrático pelo voto pode ser respondido na seguinte forma:

O primeiro argumento é o argumento de democracia constitucional, proteção


de direitos fundamentais e de condições mínimas que justifiquem a existência de
uma comunidade política. O segundo argumento é o de proteção do adequado
funcionamento do processo democrático. Se não se assegura direitos mínimos
(liberdade de expressão, liberdade de informação, etc.) não se está assegurando a
prevalência da vontade da maioria, mas a prevalência da maioria de um grupo. Ou
seja, para que se tenha democracia há que se ter a participação de todos, com a
informação disponível para todos, com a devida liberdade de expressão. Quando o
judiciário entra e anula uma lei porque ela viola um direito fundamental, ou o devido
processo democrático (adequado funcionamento da democracia), o que se entende é
que ele está indiretamente ou diretamente protegendo a própria democracia. Porque
não há que se falar em democracia sem que as pessoas gozem de determinados
direitos mínimos, de um status igual, da possibilidade de debater decisões tomadas no
espaço público, de votar, de que todos sejam ouvidos na mesma proporção, de que a
informação circule livremente, etc. Ou seja, quando há a supressão de tais direitos, há
uma fragilização da própria democracia, ainda que seja por decisão majoritária. Isto é,
decisão majoritária não é igual a democracia. Decisão majoritária é um dos elementos
da democracia, e para um adequado funcionamento dessa maioria é necessária a
fiscalização popular bem como o exercício dos órgãos de controle incumbidos pela
própria constituição.

O reconhecimento da legitimidade democrática da jurisdição constitucional passa


também por um terceiro argumento que é a recompreensão do papel do juiz
constitucional, que é o de reconhecer uma certa mudança no papel desempenhado
pelos juízes. Os operadores do direito já tiveram uma percepção de que o trabalho dos
juízes era mais “mecânico” do que a percepção atual. Ou seja, a percepção de que
julgar era simplesmente de “aplicar a lei”, não fazendo juízo de valor, simplesmente
aplicando uma norma objetiva pré-existente. Havendo uma compreensão muito mais
técnica e menos política. Hoje, se reconhece que o judiciário exerce um papel político,
mesmo não sendo eleito pelo voto popular. Isso se justifica a partir da ideia de freios e
contrapesos em que dois poderes que funcionam com a lógica do voto popular, estão
voltados a informar a vontade da maioria enquanto que o ordenamento jurídico está
voltado em proteger determinadas condições necessárias a que esta vontade se
manifeste, como a vontade de grupos sub-representados no parlamento (negros,
mulheres, indígenas, LGBTs, quilombolas, etc.)
OBS: É legítimo do ponto de vista democrático que juízes não eleitos pelo
voto popular anulem leis e atos praticados por representantes eleitos?
Isso é compatível com a ideia de democracia?
Sim, é compatível porque não tem democracia sem proteção dos direitos
fundamentais. Sim, porque não tem democracia sem proteção do adequado
funcionamento da própria democracia, e sim, porque a própria compreensão do papel
do judiciário se alterou. Se reconhece hoje que o juiz tem em parte uma função
política e ter poderes com diferentes lógicas de funcionamento é o que melhor
assegura a limitação do exercício de cada poder e por tanto o exercício não abusivo
por todos eles.
Com isso, chega-se à conclusão de que mudou a compreensão do papel do judiciário.
Em que eles não aplicam simplesmente a lei, sendo também um poder, e se ele é um
poder ele também exerce um poder político e a razão pela qual se confere esse poder
ao judiciário é o mecanismo de freios e contrapesos. Ou seja, eu dou para diferentes
poderes uma parcela de poder e eles concorrem e se limitam reciprocamente,
funcionando segundo lógicas distintas. E a lógica do judiciário não é a lógica de
responsividade ao voto popular como a do legislativo e do executivo.

Caso Marbury v. Madison

O grande caso fundador do constitucionalismo contemporâneo.


É um caso de um conflito político.
O presidente John Adams (Federalista) estava terminando o seu mandato de
presidente da república e, logo após, vieram as eleições no sistema norte-americano, e
os Federalistas perderam tanto as eleições para o executivo quanto para o legislativo,
ficando com a minoria no congresso. Enquanto que os republicanos ganharam a
presidência da república (Thomas Jefferson), e os Federalistas não se conformaram
com a perda de poder. Com isso, nos últimos meses de mandato do Federalista John
Adams (Federalista), ele e seu partido aprovam normas que alteram o regime jurídico
e o quantitativo de cargos do Poder Judiciário. Então eles reduzem o número de cargos
da Suprema Corte norte-americana, para que o presidente eleito Thomas Jefferson
(Republicano) não tivesse oportunidade de indicar novos juízes; aumentam o número
de cargos na magistratura federal, e também aumentam o número de cargos de alguns
distritos. E todos estes cargos seriam preenchidos por juízes que seriam indicados pelo
presidente que ainda estava em exercício, mas que já tinha perdido o poder. Ou seja,
era uma forma de “se manter no poder” porque o judiciário interpreta o significado do
Direito e, essas pessoas que estariam interpretando o significado do Direito eram
pessoas simpáticas aos Federalistas. E no momento, foram feitos “às pressas”, no
“apagar das luzes do governo”, enquanto que o governo sucessor compreendia
perfeitamente o que se passava.
No sistema norte-americano para nomeação do juiz do Supremo o governo indica, o
Senado sabatina e a posse é feita por meio da transmissão de um diploma. Essa
entrega do diploma seria o que aperfeiçoaria a emissão no cargo. E naquele período,
não dá tempo de fazer a entrega de todos os diplomas de posse a todos os juízes
designados.
O Marbury é um juiz que não conseguiu receber seu diploma de posse. O Madison é o
novo Secretário de Justiça do governo (Thomas Jefferson – Republicano). Marshal é o
novo presidente da Suprema Corte norte-americana (ex-secretário de Justiça do
governo anterior), e responsável por não conseguir entregar todos os diplomas e que é
nomeado presidente da Suprema Corte norte-americana.
Então Marbury V. Madison é um caso de um juiz que não conseguiu ser empossado V.
Madison secretário do novo governo que continuou negando a posse e entrega do
diploma para este juiz e será julgado o grande relator do caso o Marshal que é quem
não entregou o diploma para o Marbury no início da história.
Como relator, Mashal se posicionou no sentido de que este caso não era de
competência da Suprema Corte decidir se era caso ou não de Marbury ser empossado,
porque a Lei que ampliou a competência da Suprema Corte era uma lei
inconstitucional porque uma lei infraconstitucional no sistema norte-americano,
segundo a Suprema Corte, não poderia nem ampliar, nem reduzir a competência da
Suprema Corte. Ou seja, “nem dar razão, nem tirar a razão de Marbury” para evitar
conflitos com o novo governo (Republicano) e com os seus correligionários
(Federalistas). Delimitando o alcance do próprio poder. Com isso, os Federalistas
perderam o poder pelo não empossamento do Marbury, mas ganharam um poder
maior, que era o poder de dizer se os atos praticados pelo presidente Republicano e
pelo congresso Republicano eram válidos ou não.

Este caso afirma os 3 grandes pilares do constitucionalismo


contemporâneo / do controle de constitucionalidade:
1) Supremacia das normas Constitucionais
2) Nulidade das normas infraconstitucionais incompatíveis com a
Constituição
3) Competência do Poder Judiciário para essa afirmação (que é o que leva a
ideia da supremacia judicial sobre os demais poderes)
Quinta, 12/08/2021

Aula anterior: Marbury X Madison


O Controle de constitucionalidade no caso -> A primeira vez que uma corte Suprema
disse que tinha o poder de decretar a inconstitucionalidade de uma lei emanada pelo
poder Legislativo de Estado.

A importância de Marbury V. Madison para o constitucionalismo


contemporâneo: (as 3 premissas, os 3 argumentos centrais da decisão que
são os argumentos que vão inspirar o controle de constitucionalidade no
mundo ocidental como um todo) –

1- A supremacia das normas Constitucionais,

2- a Nulidade das normas infraconstitucionais incompatíveis com a


Constituição Federal

3- e a Competência do Poder Judiciário nas ações de declaração de


controle de Constitucionalidade.

Tais ideias serão incorporadas logo após pela Europa, que irão começar a praticar o
controle de constitucionalidade.

 O que leva a Europa a adotar o controle da constitucionalidade mais


adiante:
A 2ª Guerra Mundial e a constatação de que o princípio democrático sozinho era
insuficiente para garantir e proteger o direito fundamental de todos. Precisando-se de
um mecanismo, de um desenho institucional que permita caso haja um “descontrole
da maioria” a devida proteção das minorias. Daí o caráter contramajoritário da decisão
Constitucional.
Modelos de controle de constitucionalidade ( Nasce dentro de um caso
concreto como uma premissa que precisa ser decidida para solucionar a
disputa entre as partes

1 - Controle difuso (americano): o poder de controle da constitucionalidade está


espalhado, distribuído de forma difusa por todos os juízes do sistema norte-americano.
Ou seja, todo e qualquer juiz pode exercer e tem competência para exercer o controle
de constitucionalidade, através de um controle repressivo de constitucionalidade.
(será realizado sobre a lei, e não sobre o projeto de lei. Os órgãos de controle irão
verificar se a lei, ou ato normativo, possuem um vício formal produzido durante o
processo de sua formação, ou se possuem um vício em seu conteúdo, qual seja um
vício material.)

- Controle concentrado (austríaco): Desenhado com base nas ideias de Kelsen,


inspirando os modelos Europeus de controle de Constitucionalidade. A atividade de
controle de Constitucionalidade não é uma atividade “comum”, podendo-se dizer que
é uma atividade no limite entre a política e o jurídico. Quando um órgão judicial
declara a inconstitucionalidade de uma norma, ele atua praticamente como um
“legislador negativo” então por isso, essa é uma atividade na “fronteira” entre o
político e o jurídico. Então não se deveria entregar a “todo e qualquer” juiz tal
atividade. Devendo haver um órgão judicial específico que concentraria o exercício do
controle de constitucionalidade. Então, o controle de constitucionalidade na Europa, a
partir do modelo Austríaco, desenha-se da seguinte forma: em lugar de ser difuso,
como nos Estados Unidos, ele é concentrado em um único órgão, a Corte
Constitucional, que terá o poder de dizer se uma norma é constitucional, ou não. Então
no modelo Austríaco, segue-se a seguinte lógica: tem-se a arguição de
inconstitucionalidade para tudo, essa discussão vai para a Corte Constitucional, tal
Corte decide se a respectiva norma é constitucional ou não, desce para os órgãos
inferiores, e, com base na decisão da Corte Constitucional, o juiz comum decidirá o
caso concreto. Somente a corte constitucional pode analisar. Desenhado com base em
Kelsen e vai inspirar os países europeus. A atividade de controle de constitucionalidade
não é comum, está entre a política e a jurídica. Assim, atuando como legislador
negativo, não é qualquer juiz que pode fazê-lo, por isso o poder de decretar a
inconstitucionalidade é concentrado e deve ser feito por um órgão Constitucional.
* Tanto o modelo Americano como o modelo Austríaco trabalham no
controle repressivo de controle da Constitucionalidade (a norma já entrou
em vigor, e retira-se tal norma que é inconstitucional do mundo jurídico).

- Controle preventivo (francês): Antes, por não confiarem no judiciário, o


controle de constitucionalidade era feito apenas previamente. A análise da
constitucionalidade de uma lei era feita durante o projeto de lei, que era encaminhado
para o conselho constitucional, que se manifestava sobre a constitucionalidade ou não.
Ou seja, durante o seu processo de formação. A partir de 2008 a França passa a
reconhecer o controle de constitucionalidade repressivo.
O controle de lei vai ser repressivo quando é feito depois que a lei é aprovada. No
preventivo é feito durante o projeto de lei.

- No Brasil: O sistema de controle de constitucionalidade brasileiro é híbrido


(inspiração em mais de um modelo)
Em nosso modelo, qualquer um, em qualquer nível ou grau de jurisdição, pode invocar
a inconstitucionalidade de uma norma como uma premissa para que um determinado
caso seja decidido em um sentido ou em outro, e que o próprio juiz da causa poderá se
manifestar sobre sua constitucionalidade ou inconstitucionalidade. (no controle
difuso). Porém, na Suprema Corte, estas julgam várias ações que já nascem direto na
respectiva Corte, que são as Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADI); Ações
Declaratórias de Constitucionalidade (ADC); Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental (ADPF), etc. Sendo tais ações pertencentes ao modelo concentrado.
Então no Brasil tem-se o controle Difuso, que é o controle de “todo dia”, e tem-se o
controle Concentrado que pode ser proposto por alguns legitimados específicos.
Sendo Concentrado porque só o Supremo Tribunal Federal julga as Ações Diretas que
discutem a incompatibilidade de uma norma ou de um ato com a Constituição Federal.
E por sermos uma Federação, temos o Controle Concentrado na Suprema Corte e
Controle Concentrado nos Tribunais de Justiça dos Estados.
O Supremo concentra o poder para julgar a compatibilidade de normas
infraconstitucionais com a Constituição Federal, enquanto que os Tribunais de Justiça
dos Estados concentram a competência para julgar a compatibilidade de normas
infraconstitucionais com a Constituição Estadual. Tendo assim, 2 controles
concentrados. 1 controle perante a Constituição Federal, e vários controles
concentrados perante cada uma das Constituições Estaduais.

A Doutrina registra que existem várias modalidades de controle da


Constitucionalidade, classificando tais modalidades segundo a natureza
do órgão, segundo o momento em que o controle de constitucionalidade
é exercido, segundo o órgão judicial que exerce, e segundo a forma.

Segundo a natureza do órgão: O controle de constitucionalidade pode ser


político ou jurídico. Será político quando não exercido pelo poder Judiciário. Quando
exercido por qualquer outro poder que não seja o poder Judiciário, ou seja, quando
exercido pelo Poder Executivo e Legislativo. E será judicial quando exercido pelo poder
judiciário.

 Formas de controle político pelo legislativo (controle da


constitucionalidade): Comissão de Constituição e Justiça (CCJ); derrubada do
veto presidencial (controle prévio); quando o executivo extrapola de seu poder
regulamentar (desvio de finalidade), o legislativo pode editar um decreto
legislativo cassando o decreto regulamentar presidencial. (art. 49, inc. V, CF)
(controle posterior). No caso de violação dos poderes e legislar por conta
própria, o que é inconstitucional.
 Formas de controle político pelo executivo (controle da
constitucionalidade):
Poder de veto; recusa a dar cumprimento a lei que repute inconstitucional.

Segundo o momento do controle de constitucionalidade : O controle de


constitucionalidade pode ser preventivo ou repressivo. O controle repressivo
sempre vai acontecer sobre lei já aprovada. E o controle será preventivo quando ele
for exercido sobre Projeto de Lei.

Controle preventivo judicial no Brasil: É possível judicializar no


Supremo a Constitucionalidade de um projeto de lei, e não de uma
lei? Sim. Através de um Mandado de Segurança parlamentar.
No Brasil não se pratica controle de constitucionalidade preventivo judicial salvo uma
hipótese: Mandado de Segurança impetrado por parlamentar na defesa do devido
processo legislativo, quando o projeto violar cláusula pétrea.

Não há controle preventivo judicial devido ao princípio da separação dos poderes.


Sendo o projeto de lei passado pelas comissões e pelos debates políticos e sendo
aperfeiçoado. Logo, não cabe ao judiciário, quando tal processo ainda está em curso,
ainda não foi finalizado, interferir sob o poder legislativo, sob pena de reprimir o
debate em si e o próprio aperfeiçoamento da norma. Sendo o controle preventivo a
norma uma exceção. Quando manifestamente violador de cláusula pétrea. Art. 60, §4º
da CF, quando tiver deixando de observar ou tiver violando expressamente uma das
normas constitucionais que não podem ser alteradas nem mesmo por emenda.

Segundo o órgão judicial: o controle de constitucionalidade pode ser difuso ou


concentrado. Será difuso quando qualquer juiz tiver competência para se manifestar
sobre a constitucionalidade, e será concentrado quando aquele poder para se
manifestar sobre a constitucionalidade for concentrado em algum tribunal ou em
alguns tribunais. Sendo no caso do Brasil o modelo híbrido (modelo difuso e
concentrado). O difuso que é o modelo comum que é exercido por qualquer juiz, e o
concentrado que é o controle em face da Constituição Federal exercido pelo Supremo
Tribunal Federal e, em face das Constituições Estaduais, os Tribunais de Justiça
respectivos de cada Estado.

Segundo a forma: o controle de constitucionalidade pode ser incidental ou


principal. Será incidental quando o meu pedido é: “eu tenho direito a receber um
pagamento por X” o meu pedido tem pertinência quanto ao meu direito subjetivo. Daí
a outra parte diz: “ela não tem direito a este pagamento porque a lei que atribui esse
direito é inconstitucional”. Ou seja, a discussão principal é se o sujeito tem direito a
receber determinado pagamento, sendo este o pedido principal em sua ação sendo
discutido a questão constitucional de forma incidental, porque ela é uma prejudicial a
que eu possa decidir se afinal aquele valor tem de ser pago ou não. (Não corresponde
ao pedido principal das partes, o pedido principal das partes é a discussão de um
direito subjetivo). Mas para dizer primeiro quem tem razão, é necessário dizer se a
norma é constitucional ou não.
Quando o controle é principal, o meu pedido é: “esta norma é inconstitucional, declare
a inconstitucionalidade da norma.” Será feito normalmente no Controle Concentrado
da Constitucionalidade, nas Ações Diretas, em que se entra diretamente no Supremo
Tribunal Federal, não disputando nenhum direito subjetivo, e sim protegendo o
Ordenamento Jurídico, a rigidez constitucional do Ordenamento Jurídico. Ou seja, é
principal quando o próprio pedido principal da ação é o controle de
constitucionalidade, não sendo discutido um direito subjetivo. Protegendo a rigidez
constitucional do ordenamento jurídico, tirando do ordenamento uma norma que se
considera inconstitucional.

Quanto as espécies de inconstitucionalidade: uma norma pode ser


(formalmente inconstitucional, ou materialmente inconstitucional); a
inconstitucionalidade pode ser (por ação, ou por omissão); a
inconstitucionalidade pode ser (originária, ou superveniente/ direta ou
indireta)

Inconstitucionalidade formal: o processo legislativo previsto na Constituição,


para que determinada norma seja aprovada não foi respeitada. Ou seja, a forma do
processo legislativo prevista na Constituição foi desrespeitada. A inconstitucionalidade
formal pode ser orgânica, ou propriamente dita.
 Será orgânica (ente competente para legislar) quando a Constituição diz que
quem tem competência para legislar sobre determinado processo é a União;
quem têm competência para legislar sobre direito do trabalho é a União, e vem
o Estado e legisla. Neste caso tem-se uma norma formalmente inconstitucional,
e essa inconstitucionalidade formal é orgânica porque a Constituição atribui a
um determinado ente a competência privativa para legislar sobre aquela
determinada matéria, e outro ente diverso legislou.
 Será propriamente dita quando toda ou qualquer violação de forma entra na
inconstitucionalidade formal propriamente dita ex: tinha que ser aprovada
determinada matéria por Lei Complementar, e foi aprovada por Lei Ordinária.
Isso é inconstitucionalidade formal propriamente dita. Emenda Constitucional
precisa de votação em 2 turnos em ambas as casas e somente votaram em 1
turno; qualquer matéria sobre servidor público do poder executivo tem de ser
objeto de iniciativa privativa do poder executivo.
ATENÇÃO: QUANDO EU TENHO RESERVA DE INICIATIVA, EM FAVOR DO PODER
EXECUTIVO, RESERVA DE INICIATIVA EM FAVOR DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA, RESERVA
DE INICIATIVA EM FAVOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO OU DA DEFENSORIA E ESSA
RESERVA DE INICIATIVA NÃO É OBSERVADA, OU SEJA, A DISCUSSÃO DE INICIATIVA, A
INCONSTITUCIONALIDADE É FORMAL PROPRIAMENTE DITA. SÓ SE TEM
INCONSTITUCIONALIDADE ORGÂNICA QUANDO NÃO SE RESPEITA A COMPETÊNCIA
LEGISLATIVA DOS ENTES E NÃO SE TEM COMPETÊNCIA PARA LEGISLAR.
Propriamente dita, em suma, são aquelas que não dizem respeito sobre a competência
dos entes para legislar.

Inconstitucionalidade material: a incompatibilidade do conteúdo da lei com


determinado dispositivo da Constituição, violando a dignidade humana, o direito a não
ser discriminado com base no sexo, com base na idade, etc.

Inconstitucionalidade por ação: terá inconstitucionalidade por ação quando o


poder legislativo aprova uma lei ou o poder executivo pratica um ato violando a
constituição ou do ponto de vista formal ou do ponto de vista material. Podendo ser
declarada a nulidade dos atos legislativos ou executivos sobre determinada norma ou
ato pelo poder judiciário.

Inconstitucionalidade por omissão: terá inconstitucionalidade por omissão


quando o executivo ou o legislativo tinha o dever de agir e se abstiveram de agir. Por
exemplo: Os servidores públicos têm direito ao exercício de greve na forma da lei, e tal
lei nunca veio. Então essa omissão do poder legislativo na aprovação da norma que
regulamenta o direito de greve dos servidores públicos é uma omissão inconstitucional
porque ela frustra o exercício de um direito constitucional que é o direito de greve que
foi reconhecido aos servidores públicos.

 Inconstitucionalidade por omissão total: O legislativo tinha que legislar e não


legislou; ou o executivo tinha de praticar um ato e não praticou.
 Inconstitucionalidade por omissão parcial: O legislativo legislou, mas legislou
de forma incompleta; ou o executivo até praticou o ato, mas praticou de forma
incompleta. além disso a inconstitucionalidade por omissão parcial pode
ser:
1) relativa ou 2) propriamente dita
 Relativa: Quando o legislativo tinha de legislar de forma ampla para
todos os grupos, deixando um grupo de fora injustificadamente. Ex: servidores
da administração pública possuem direito ao reajuste dando somente o
benefício aos servidores da administração pública direta, deixando os
servidores da administração pública indireta de fora.
 Propriamente dita: A Constituição reconhece determinado direito, o
legislador legisla, mas ele não dá plena efetividade ao direito. Ex: salário-
mínimo. A Constituição diz que o poder legislativo editará a lei estabelecendo o
valor do salário-mínimo, que será o valor necessário que o trabalhador faça
face as suas necessidades básicas, ao custeio de suas necessidades essenciais.
O legislador todo ano edita a norma que prevê o valor do salário-mínimo. Mas
o que se entende é que este salário-mínimo é insuficiente para fazer face às
necessidades básicas do trabalhador. Então isso seria um exemplo de
inconstitucionalidade por omissão parcial propriamente dita. Não sendo o caso
de deixar grupo de fora, mas no caso de não dar a plena efetividade a um
direito na forma como a Constituição prevê. Com o alcance que o direito
deveria ter de acordo com a Constituição.

Inconstitucionalidade originária: é quando a norma já nasce inconstitucional.


Seja porque não respeitou o procedimento de aprovação na constituição, seja porque
tem um conteúdo que viola um determinado dispositivo constitucional.

Inconstitucionalidade superveniente: a norma nasceu bem, nasceu


constitucional, mas tornou-se inconstitucional diante de 2 possibilidades: 1) vira uma
emenda constitucional que a torna inconstitucional (a norma) entendendo o supremo
que não é caso de inconstitucionalidade superveniente, mas sim caso de revogação da
norma. Então sempre que vem uma emenda de uma norma que nasceu
constitucional, e a torna inconstitucional, o Supremo entende que essa norma foi
revogada.
O Supremo reconhece a inconstitucionalidade superveniente nos casos de mutação
constitucional. Nos casos em que o Supremo muda sua interpretação a respeito de
uma determinada norma Constitucional e isso implica na inconstitucionalidade de uma
lei que sempre foi considerada constitucional. Ex: caso houvesse sido aprovada uma lei
de prisão após condenação em segunda instância antes da virada do entendimento do
Supremo. Após a virada do entendimento do Supremo, em que deve haver
condenação somente após trânsito em julgado, essa lei seria declarada
inconstitucionalmente superveniente , pois o entendimento atual enseja na
inconstitucionalidade superveniente, devido a mudança de entendimento recente do
colegiado de que a condenação deve prevalecer após trânsito em julgado.

Inconstitucionalidade direta: Confronta-se um dispositivo diretamente com a


Constituição dizendo que esta norma é inconstitucional. Sendo isso
inconstitucionalidade direta.

Inconstitucionalidade indireta ou reflexa: “tal decreto regulamentar estabelece


obrigações que a lei não estabeleceu” Então como esse decreto estabelece obrigações
para além da lei, ele viola o princípio da legalidade, que é um princípio constitucional.
Sendo tal exemplo uma inconstitucionalidade Reflexa. Sendo necessário primeiro
confrontar o decreto com a lei para aferir se ele realmente estabelece obrigações que
a lei não estabelece, para depois dizer que existe violação ao princípio da legalidade.
Não confrontando o decreto diretamente com a constituição. O Supremo entende que
esse é um caso de legalidade, e não de constitucionalidade. Sendo a
constitucionalidade direta o que enseja o controle de constitucionalidade, enquanto
que a constitucionalidade indireta/reflexa seria um problema de legalidade.

Quarta, 18/08/2021

Controle difuso da constitucionalidade

Foi inserido no sistema brasileiro através da Constituição da República de 1891.

Com relação ao órgão, no controle difuso qualquer juiz exerce o controle o


controle de constitucionalidade porque o poder para exercer o controle da
constitucionalidade está difundido entre todo e qualquer juiz.

Com relação a legitimidade, no controle difuso qualquer parte na ação pode


arguir a inconstitucionalidade porque isso se faz no bojo de uma ação em que este
“um” que eventualmente vai arguir a inconstitucionalidade tem um direito que está
sendo discutido e depende da afirmação da constitucionalidade ou da
inconstitucionalidade para ter o direito reconhecido ou negado.

No ponto de vista da forma, no controle difuso a arguição de


inconstitucionalidade é incidental (ela não é a questão principal do processo),
discutindo a inconstitucionalidade para discutir se eu tenho direito ou não ao que está
sendo discutido no processo.
OBS: no controle concentrado, a discussão de inconstitucionalidade (a forma), é o
objeto principal do processo.

A natureza da discussão sobre a constitucionalidade ou inconstitucionalidade de


uma lei no controle difuso é de questão prejudicial ao julgamento do mérito, ou seja,
ela precisa ser decidida antes do mérito para que o próprio mérito seja decidido e essa
é a natureza jurídica dela de questão prejudicial ao mérito, que é arguida
incidentalmente.
Com relação aos efeitos, antes do Código de Processo Civil de 2015, as decisões
proferidas no controle difuso da constitucionalidade tinham apenas efeitos entre as
partes, inclusive em Recurso Extraordinário. A partir de 2015, as teses firmadas em
Recurso Extraordinário com repercussão geral passam a produzir efeitos vinculantes e
gerais (passam a produzir efeitos que tem de ser observados por todo o Poder
Judiciário). E caso os juízes dos demais graus de jurisdição não observarem ou
desrespeitarem a tese firmada cabe instrumento específico que é a reclamação. Sendo
a lógica do controle jurídico produzir efeitos inter partes, salvo em Recurso
Extraordinário impetrado no Supremo e este firme uma tese. Neste caso, o efeito da
tese (e não da decisão do Recurso Extraordinário) é um efeito obrigatório para todo o
judiciário, de observância obrigatória para todos os juízes de todos os demais graus de
jurisdição.
OBS: no controle concentrado, quando o Supremo declara a inconstitucionalidade ou a
constitucionalidade de uma lei, tal decisão tem efeitos vinculantes e gerais erga
omnes, alcançando não apenas o Poder Judiciário como um todo, mas também a
Administração Pública de todos os poderes, sendo sempre mais amplos do que
aqueles produzidos pela decisão do Supremo em Recurso Extraordinário com
repercussão geral. Não sendo alcançado o legislativo em sua função de legislar pelos
efeitos vinculantes e gerais, bem como o chefe do executivo na sua função de agente
político de emitir medidas provisórias, decretos, portarias, etc. Também não é
alcançado, aplicando estes outras leis, e não aquelas que foram de encontro com a
decisão do judiciário.

Quinta, 19/08/2021

Controle incidental/difuso

 quem tem legitimidade para arguir a inconstitucionalidade no


controle difuso/incidental: Qualquer litigante. Se caracterizando
justamente por se realizar dentro de um caso concreto em que as partes estão
discutindo um direito subjetivo. Então qualquer uma das partes que estão
participando daquela ação pode arguir a inconstitucionalidade.

 O objeto do controle incidental : (sobre o que incide a arguição de


inconstitucionalidade): sobre qualquer lei, sobre qualquer ato que se repute
inconstitucional. (sobre Lei Federal, sobre Lei Estadual, Lei Municipal, Ato
Administrativo. Ou seja, qualquer ato independentemente do nível de governo,
independentemente de ser concreto ou de ser geral que se repute
inconstitucional, que se repute violador da constituição.

 A natureza jurídica da arguição de inconstitucionalidade no


controle incidental: Questão prejudicial ao julgamento do mérito, não
sendo a questão principal a ser discutida, sendo a questão principal o direito
subjetivo, ou seja, quem tem razão no processo no caso concreto e a questão
constitucional vai ser decidida como uma etapa necessária para que se decida
quem tem razão naquele determinado processo.

 No 1º grau de jurisdição: quem vai decidir a constitucionalidade ou


inconstitucionalidade da lei é o juízo singular

 No 2º grau de jurisdição: em apelação, chegando no Tribunal, existe o


chamado princípio da reserva de plenário, sendo uma previsão do art. 97, da
CF, exigindo que haja maioria absoluta dos membros do Tribunal ou do Órgão
Especial do Tribunal para que uma norma, uma Lei, seja declarada
inconstitucional (não só no 2º grau, mas em qualquer Tribunal, inclusive no
Supremo). Levando a discussão ou para o plenário que reúne todos os juízes do
Tribunal, todos os desembargadores, ou todos os ministros, ou terá que se
levar para o Órgão Especial (nos Tribunais muito grandes, quando há um
conjunto muito grande de ministros e há uma impossibilidade de reunir todos
em plenário, tem-se a presença do Órgão Especial que é o órgão mais amplo do
Tribunal, reunindo um conjunto bastante amplo dos juízes mais antigos do
Tribunal) Ex: TJRJ. Nos casos em que o Tribunal é menor em quantidade de
membros, eles se reúnem integralmente no plenário (ex: Supremo). Não tendo
que se levar ao plenário para declarar-se a constitucionalidade da norma, mas
quando entende-se que há somente a inconstitucionalidade.

Exceções do princípio da reserva de plenário: 1)se o próprio plenário do


Tribunal ou o plenário do Supremo já tiver declarado a inconstitucionalidade da
mesma norma não há que se levar a discussão para o plenário porque aquele
órgão cujos juízos do Tribunal já deliberaram qualificadamente, decidindo pela
inconstitucionalidade da norma já se manifestaram sobre o tema. 2) a
declaração da constitucionalidade da norma pelo órgão fracionário entendendo
o respectivo órgão que não é necessário levar a discussão para o plenário do
Tribunal sendo necessário somente levar a discussão ao pleno caso seja
plausível a arguição de inconstitucionalidade da norma pelas partes porque
tem-se que respeitar o princípio da reserva de plenário para declarar-se a
inconstitucionalidade da norma, mas não para declarar-se a
constitucionalidade. 3) Quando eu vou declarar a não recepção de uma lei
anterior a CF/88 pela CF/88. Sendo a lei incompatível do ponto de vista
material não sendo recepcionada pela CF/88, sendo revogada pela nova
Constituição, não sendo neste caso, necessário levar ao plenário do Tribunal a
discussão porque não existe a presunção de constitucionalidade da lei porque
nasceu na vigência de outra constituição, não tendo que ser observado o
princípio da reserva de plenário para dizer que é incompatível com a
constituição em vigor.

OBS: então o que é o princípio da reserva de plenário? É uma concretização da


presunção de constitucionalidade das normas. Ou seja, caso se verifique a
inconstitucionalidade de uma norma, remete-se a discussão para o plenário do
Tribunal ou para o Órgão Especial.

 No controle difuso é possível ter a manifestação de terceiros, de alguns


agentes que não são parte do processo. (O Ministério Público; a Pessoa
Jurídica de Direito Público responsável pelo ato que está tendo a
constitucionalidade questionada; os legitimados para propositura de Ações
Diretas). Tem-se a manifestação destes agentes no controle difuso porque são
os mesmos agentes e instituições que teriam a possibilidade de se manifestar
no controle concentrado. E que, portanto, tem interesse em discutir a
legitimidade daquele ato. E, hoje em dia, após reforma do CPC de 2015, com a
implementação das decisões de repercussão geral em recurso extraordinário
julgado pelo Supremo, o Supremo irá produzir uma tese que terá de ser
observada por todo o judiciário, portanto há um interesse. Importante destacar
que não são todos os “terceiros” que podem participar do debate.

 As hipóteses de cabimento de Recurso Extraordinário : (NÃO


CONFUNDIR COM REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE QUE ESTÁ LOGO ABAIXO)
(art. 102, inc. III /CF)

- 1ª hipótese: Contrariedade a dispositivo da Constituição.


- 2ª hipótese: Declaração de inconstitucionalidade de Tratado ou Lei Federal.
- 3ª hipótese: Julgamento da validade de Lei ou ato de Governo local
contestado em face da Constituição.
- 4ª hipótese: O julgamento da validade de Lei local contestada em face de
Lei Federal. (incompatibilidade entre Lei Estadual e Lei Federal)

* A Emenda 45/2004 pacificou o entendimento de que a discussão sobre a


incompatibilidade entre Lei Estadual e Lei Federal seria de competência do
STF.
Porque é a Constituição que distribui as competências legislativas privativas de
cada ente da federação. Ex: Direito do trabalho -> somente a União pode
legislar; Processo Civil, Penal -> idem. Em alguns casos compete a União dispor
sobre normas gerais e compete aos Estados dispor sobre normas específicas.
Não sendo o caso, matéria de discussão hierárquica, mas matéria de discussão
de competência normativa.

 A interposição do Recurso Extraordinário: no 2º grau de jurisdição, após


o Tribunal decidir a apelação interposto no 1º grau, o órgão fracionário do
Tribunal, entendendo plausível a arguição de inconstitucionalidade, manda a
questão para decisão no plenário e, após a decisão, voltando para o órgão
fracionário eles se manifestam e decidem sobre o caso concreto, e os 2
julgamentos (plenário e órgão fracionário) são consolidados em um acórdão.
Não concordando com a decisão do acórdão, achando que aquela lei é
inconstitucional, e, portanto, não devendo que realizar determinado ato no
processo (direito subjetivo). Decidindo, portanto, em entrar com Recurso
Extraordinário no Tribunal de 2º grau, protocolando-o no Tribunal de 2º grau.
Ocorrendo, logo após, o chamado duplo juízo de admissibilidade do Recurso
Extraordinário, passando 2 vezes na avaliação de sua admissibilidade. A 1ª
avaliação ocorre no Tribunal inferior (cuja contra decisão se está recorrendo); a
2ª avaliação ocorre no Supremo Tribunal Federal.
 Na primeira avaliação, normalmente quem a faz é o vice-presidente do Tribunal
de Justiça, sendo o recurso inadmitido uma decisão monocrática.
E contra tal decisão caberá agravo em recurso extraordinário, quando tem-se
uma mera discussão de admissibilidade do recurso extraordinário e quando
não se tem discussão sobre repercussão geral, (e quando se tem repercussão, e
o Supremo ainda não se manifestou sobre a repercussão geral do caso).
Quando houver discussão se houve ou não repercussão geral naquele caso, (E o
supremo já se manifestou sobre a repercussão geral do caso), caberá agravo
interno

 Na segunda avaliação, quando o recurso é inadmitido pelo Supremo, caberá


agravo regimental.

 Requisitos de admissibilidade do Recurso Extraordinário:

1- O pré-questionamento: A questão constitucional que é objeto do


Recurso Extraordinário tem de ter sido discutida pelo acórdão recorrido. Ou
seja, se o acórdão recorrido não acolhe o argumento de constitucionalidade,
não enfrentando expressamente tal argumento, julgando improcedente e
negando provimento ao recurso, e não entra argumentativamente no ponto de
vista constitucional no motivo de não acolher a minha tese, a questão não está
prequestionada no Tribunal a quo (2º grau). Portanto, se eu tiver arguido a
questão constitucional seja em 1º grau, em 2º grau, mas não tiver a
manifestação do Tribunal a quo a respeito da constitucionalidade ou da
inconstitucionalidade de uma determinada norma, não é possível levar-se a
discussão do Recurso Extraordinário para o Supremo por falta de
prequestionamento.

 OBS: O que fazer se o Tribunal não tiver se manifestado quanto a


discussão constitucional no acórdão de 2º grau? (para conseguir o
prequestionamento?

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO (Alegando omissão, obscuridade, contradição em


erro material ao não apreciar a questão constitucional, ou omitindo-se sobre a
questão constitucional, ou esclarecer obscuridades ou eliminar quaisquer
contradições sobre a questão constitucional sobre a qual devia se pronunciar,
ou se manifestar para poder ter o prequestionamento, e levar a questão via
Recurso Extraordinário para o Supremo Tribunal Federal.

2- Arguição Direta da Inconstitucionalidade e não Reflexa : tem


de se confrontar a norma diretamente com a constituição, não podendo-se
confrontar o decreto, passando-se pela lei para chegar-se à constituição.
Por exemplo: “este decreto estabelece obrigações que a lei não estabelece
e que, portanto, viola o princípio da legalidade que é um princípio
constitucional e que, portanto, viola a constituição”. Não há essa
possibilidade porque a finalidade do Supremo é de apreciar-se a
compatibilidade de ato ou norma com a constituição, não apreciando e
nem interpretando leis em face de outras leis, sendo tal competência do
STJ. Sendo o caso acima questão de LEGALIDADE do decreto, e não de
CONSTITUCIONALIDADE do decreto, sendo tal discussão, uma discussão
reflexa, ou seja, uma questão de inconstitucionalidade indireta, portanto,
não tendo uma questão de arguição direta de inconstitucionalidade, sendo
o Recurso Extraordinário inadmitido. Porque a ofensa arguida a
constituição é uma ofensa indireta.

3- Não Revolvimento de matéria de fato: Não há que se discutir


matérias de fato em Recurso Extraordinário. O Tribunal de 2º grau é o
último órgão que pode se manifestar sobre questão de fato. O Recurso
Extraordinário ou o Recurso Especial vão ser julgados de acordo com a
questão de fato tal como ela ficou firmada no acórdão do Tribunal de 2º
grau. Caso o Tribunal de 2º grau não tenha sido preciso com relação a
alguma questão de fato há que impetrar-se com Embargos de Declaração
para o próprio Tribunal de 2º grau antes de adentar com Recurso
Especial/Extraordinário. Ou seja, se existe uma imprecisão no acórdão de
2º grau a respeito de questão de fato que tenha repercussão na discussão
constitucional é necessário embargar ou corrigir a questão de fato primeiro
para depois levar-se a discussão para o STF. Porque a Corte não irá
reapreciar a questão de fato. O STJ e o STF julgam a questão constitucional
ou infra-constitucional federal com base na moldura fática tal como
estabelecida pelo Tribunal de 2º grau. Não podendo reapreciar provas, mas
eventualmente pode-se valorar a prova. Por exemplo: em matéria de
Direito Civil infra-constitucional federal. Quando há uma discussão sobre a
existência de contrato particular para transferência de uma propriedade é
uma questão de fato, firmada no acórdão de 2º grau. O valor jurídico desse
contrato particular é uma questão de direito. Portanto, o STJ poderia
discutir o valor daquele contrato particular para transferência da
propriedade. Mas o que ele não vai poder discutir é se era um contrato
particular ou público, sendo esta uma questão para o Tribunal de 2º grau,
sendo questão do STJ o valor jurídico do fato, aplicando-se a mesma lógica
ao STF.
Ou seja, não há que se discutir matérias de fato em Recurso Extraordinário,
mas o que pode ser discutido é as consequências constitucionais de
determinado fato, tal como ele ficou estabelecido no acórdão de 2º grau.

4- Repercussão Geral: Foi incluída a repercussão geral como requisito do


Recurso Extraordinário pela Emenda 45/2004, e sendo regulamentada por
uma Lei de 2006, e tal regulação vem evoluindo com o tempo. E
consolidando-se no Código de Processo Civil de 2015, passando-se a ter
peso em questões de precedentes. É um requisito que precisa estar
presente para ser admitido.
O que é a repercussão geral: É o reconhecimento de que aquela discussão
que está sendo levada naquele Recurso Extraordinário, portanto, naquele
caso concreto transcende a relevância individual, o interesse das partes. É
uma discussão que precisa ser decidida pelo Supremo Tribunal Federal,
uma questão constitucional que precisa ser dirimida pelo Supremo porque
dirimir tal discussão é importante ou do ponto de vista jurídico, ou do
ponto de vista político, ou do ponto de vista social, ou do ponto de vista
econômico. Sendo um conceito jurídico indeterminado. Ou seja, há
alguma margem de flexibilidade para que o Supremo se manifeste a
respeito sobre se um recurso tem ou não repercussão geral. Existe uma
presunção estabelecida pelo Código de que quando se tem recursos
repetidos sobre uma determinada matéria, está-se presente a repercussão
geral, existindo a presunção de que quando eu tenho arguição de violação
à jurisprudência consolidada do Supremo Tribunal Federal, eu tenho
repercussão geral. Existe-se uma presunção de que quando eu tenho a
Declaração de Inconstitucionalidade de uma Lei Federal por um Tribunal de
2º grau, eu tenho repercussão geral. Mas quem dá a última palavra sobre
a existência de repercussão geral efetivamente, é o Supremo Tribunal
Federal.
E terá repercussão geral aquelas discussões que tiverem importância do
ponto de vista político, jurídico, econômico, social, etc.
Casos repetidos tendem a ser casos com repercussão geral ex: atualização
dos depósitos de FGTS. Existe uma discussão acerca de se a rentabilidade,
a atualização desses valores que são recolhidos como Fundo de Garantia
por Tempo de Serviço, se tal atualização, se o índice previsto pela lei é
constitucional pelo fato de considerar-se o índice muito baixo. Sendo um
dos casos de maior volume, por exemplo, que está em repercussão geral
para julgamento da Suprema Corte nos dias atuais. Gerando multiplicidade
de Recursos Extraordinários idênticos sobre a mesma controvérsia.
Quando há tal tipo de situação de impetração de diversos de Recursos
Extraordinários sobre o mesmo tema, de modo geral, se reconhece a
existência de repercussão geral.
De modo que se o Supremo julgar 1 caso, ele decidirá centenas de outros
casos sobre o mesmo assunto
Mas é importante esclarecer que o fato de não se ter uma multiplicidade
de recursos sobre o mesmo tema não significa que aquele caso que está
sendo impetrado não implica repercussão geral. Podendo se ter um único
recurso, e tal recurso ter-se repercussão geral. Ex: Discussão sobre
cabimento de candidatura avulsa nas eleições sendo que a constituição
prevê a filiação a partido político, existindo uma discussão se seria
possível a concorrência sem a filiação a partido político (candidatura
independente ou avulsa). Ou seja, pode ser que não haja uma
multiplicidade de recursos sobre a candidatura avulsa, e que só 1 sujeito
decidiu se candidatar sem se filiar a partido, tendo a candidatura
inadmitida pela Justiça Eleitoral e entrou com recurso, entrando com
Recurso Extraordinário com repercussão geral, sendo o recurso de grande
relevância temática.
Outro ex: se um membro do Ministério Púbico pode ser Ministro de
Estado, podendo ter 1 único recurso debruçando-se sobre tal matéria,
mas sendo tal matéria uma questão relevante definidora de uma carreira
de um Ministério Público Federal e consequentemente de vários
Ministérios Públicos Estaduais.

 Competência para reconhecer ou negar a repercussão geral : Só


a Suprema Corte pode fazer. NÃO CABE AO TRIBUNAL DE 2º GRAU
O Tribunal de 2º grau pode discutir matéria de fato, porque não há
prequestionamento, porque a violação é reflexa, porque discute cláusula contratual,
ou não admite porque o Supremo já disse que não tem repercussão geral. AGORA, O
TRIBUNAL DE 2º GRAU NÃO PODE DIZER ELE MESMO QUE NÃO PODE ADMITIR
PORQUE SEGUNDO O PRÓPRIO ENTENDIMENTO QUE NÃO HÁ REPERCUSSÃO GERAL.
ISSO É DE COMPETÊNCIA DO SUPREMO.
E para negar a existência de repercussão geral, o Supremo precisa de um
quórum de 08 ministros (2/3) para dizer que o Recurso Extraordinário
não possui repercussão geral.
Caso não o tenha, tem que se proceder o Recurso e admitir a repercussão geral.

Quarta, 25/08/2021

Continuação controle difuso da constitucionalidade

5- Recurso Extraordinário repetitivo: Quando há uma multiplicidade


de Recursos Extraordinários debatendo o mesmo tema, o Código de
Processo Civil prevê um procedimento específico. Antes da entrada em
vigor do Novo CPC e da Emenda 45/2004, quando havia uma multiplicidade
de recursos sobre a mesma controvérsia todos os recursos subiam para o
Supremo, julgando milhares de casos idênticos. Criando-se assim, um
procedimento de julgamento de Recurso Extraordinário repetitivo para
tentar conter o volume de casos que subia para o Supremo. Dizendo o
Código de Processo Civil que quem faz o primeiro juízo de admissibilidade
do Recurso Extraordinário é o presidente ou vice-presidente do Tribunal de
origem (duplo juízo de admissibilidade); fazendo assim, o primeiro exame
se o recurso é admissível ou não, depois, o Supremo refazendo tal exame.
Então, quando existe uma multiplicidade de recursos sobre a mesma
controvérsia, normalmente, o próprio Tribunal de origem identifica a
admissibilidade antes de o Recurso ser impetrado no Supremo
No caso da avaliação do juízo (presidente/ vice-presidente) do Tribunal de
origem, quando este recebe demandas repetitivas de Recursos sobe o
mesmo tema, o Código de Processo Civil determina que deve-se selecionar
alguns Recursos Extraordinários, que sejam bons recursos representativos
dessa controvérsia, mandando o conjunto que for necessário para
abranger os principais argumentos daquele debate via Supremo Tribunal
Federal. No caso de entender admissível tais Recursos Extraordinários.
Os demais Recursos ficam sobrestados, aguardando o posicionamento do
Supremo para decidir se determinada matéria (ex: remuneração do FGTS);
sujeito a milhares de recursos idênticos é constitucional,
infraconstitucional, se é ele o ente competente para julgar, para depois
avaliar se tem repercussão geral)

 Caso o STF se manifeste que não tem repercussão geral : Todas as tentativas
de Recurso Extraordinário perderão o objeto e todas as decisões transitarão em
julgado. Simplesmente aplicando-se a decisão do Supremo, que declara que
aquela questão não tem repercussão geral a todos os casos que ficaram
sobrestados no Tribunal a quo
 Caso o STF se manifeste que tem repercussão geral : Continuam-se os
processos sobrestados, em aberto, esperando a decisão do Supremo sobre o
mérito da questão. Após o Supremo decidir sobre o mérito, o Presidente/vice-
presidente do Tribunal de 2º grau é cientificado de que o Supremo decidiu
sobre a repercussão geral, portanto, sendo cientificado de que ele firmou uma
TESE VINCULANTE a respeito de uma determinada questão jurídica (art. 988,
§5º do CPC)

As teses firmadas pelo Supremo Tribunal Federal em repercussão geral produzem


efeitos obrigatórios para todo o judiciário.

 O presidente do Tribunal pegará todos aqueles processos sobrestados,


devolvendo-os para as respectivas turmas, órgãos fracionários, câmaras, órgãos
julgadores, dizendo que tal decisão foi objeto de Recurso Extraordinário, e que
o Supremo Reconheceu a repercussão geral e decidiu de X forma. Agora, cabe
olhar para a decisão do órgão julgador dos processos que estiveram
sobrestados para ver se tal decisão é convergente ou divergente do
entendimento firmado pelo Supremo.
Caso seja convergente -> a decisão simplesmente transitará em julgado.
Se entenderem que a decisão é divergente -> Tem de se exercer o juízo de retratação,
ou seja, reformar a decisão e aplicar o entendimento firmado pelo Supremo Tribunal
Federal.

Não se terá o reconhecimento da repercussão geral caso 2/3 (08) dos


ministros votarem contra o reconhecimento da repercussão geral
 Após avaliar, e caso reconheça a repercussão geral, será avaliado o
mérito da questão em um momento posterior.

Depois, o Recurso volta para o relator, que irá avaliar/estudar o caso. Pedindo pauta
para julgamento em um momento oportuno, levando o mérito do recurso.

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