Você está na página 1de 1

FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA

Direito das Obrigações I


Prova escrita de avaliação contínua – Turma Noite – 2 de Dezembro de 2020
Duração: 90 minutos

I
Ana estacionou o seu carro, de alta cilindrada, na rua, esquecendo-se de uma janela aberta.
Bruno, jovem de 17 anos, com conhecimentos de mecânica (trabalha numa oficina) e apaixonado
por automóveis caros, conseguiu entrar no veículo e pô-lo a funcionar. Embora com intenção de
o devolver, Bruno decidiu dar umas voltas com ele. Sucede que ao passar por uma estrada das
redondezas, apercebendo-se da queda súbita de uma árvore na via, Bruno invadiu a faixa contrária
e colidiu com o carro conduzido por Daniel, evitando ser esmagado pela árvore, o que de outra
forma provavelmente sucederia. Bruno e Daniel circulavam dentro do limite da velocidade
imposto por lei. Do acidente não resultaram danos pessoais, mas o automóvel de Daniel ficou
totalmente destruído, ao passo que o de Ana apenas sofreu algumas amolgadelas. A árvore que
caiu na estrada pertencia a Celestino, proprietário de um terreno que confina com a via pública.
Passados 6 meses, Daniel propõe uma ação judicial contra Ana, Bruno, Celestino, Elsa e
Fernando (os pais de Bruno) exigindo o preço de um automóvel novo. Terá razão? (8 valores)

II
Susana, entusiasta da prática de musculação, frequenta habitualmente um pequeno ginásio
do seu bairro. Num rastreio feito na empresa onde trabalha, descobre que está infetada com o
“novo coronavírus” (SARS-Cov-2). Porém, como não tem quaisquer sintomas da doença
(COVID-19), continua a frequentar o ginásio. Alguns dos seus colegas denunciam a situação a
Tomás, proprietário do ginásio, que decide custear as análises clínicas de utentes e funcionários
que tenham estado nas instalações ao mesmo tempo em que Susana, já infetada, frequentou o
espaço. Dos 100 testes feitos, apurou-se que 25 pessoas estavam infetadas. Destas, apenas 12
tiveram sintomas da doença. Os infetados pretendem exigir uma indemnização a Susana. Também
Tomás entende que Susana, além de custear as análises realizadas, tem de compensá-lo pela quebra
de lucros entretanto sofrida: de facto, apercebendo-se do risco de contágio, vários sócios
cancelaram a sua inscrição.
Diga, fundamentadamente, se alguma destas pretensões terá sucesso (8 valores).
Na sua resposta tenha em conta o disposto no art. 3.º do Decreto n.º 9/2020, o qual dispõe:
«Artigo 3.º
Confinamento obrigatório
1 - Ficam em confinamento obrigatório, em estabelecimento de saúde, no domicílio ou, não sendo aí possível, noutro
local definido pelas autoridades competentes:
a) Os doentes com COVID-19 e os infetados com SARS-CoV-2 (…)»

III
A Pro-Vax conseguiu obter a fórmula química da vacina da COVID-19, desenvolvida pela
Astral Neca, que é titular da respetiva patente. Sem autorização desta última, a Pro-Vax tem
produzido a vacina e tem-na disponibilizado, a preços módicos, a grupos mais desfavorecidos da
população. A Astral Neca propõe uma ação judicial contra a Pro-Vax, pedindo que o tribunal a
condene a pagar o valor que seria normalmente cobrado pelo licenciamento da exploração da
patente por um terceiro (vários milhões de euros). A Pro-Vax contesta a ação. Entre outras coisas,
fica provado que o preço de venda da vacina é praticamente o que custa à Pro-Vax produzi-la e
que esta não tirou clientes à Astral Neca, já que as pessoas a quem vendeu a vacina nunca a
comprariam ao preço a que esta última a comercializa. Quem tem razão? (4 valores)

Você também pode gostar