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ARTIGO ARTICLE 1

Consultório na Rua em uma capital do Nordeste


brasileiro: o olhar de pessoas em situação de
vulnerabilidade social

A Street Clinic in a state capital in Northeast Brazil


from the perspective of homeless people

Consultorio de Calle en una capital del Nordeste


brasileño: perspectiva de personas en situación
de vulnerabilidad social
Cíntia Priscila da Silva Ferreira 1
Célia Alves Rozendo 1
Givânya Bezerra de Melo 1

Resumo

O objetivo deste estudo foi avaliar a estratégia do Consultório na Rua em 1Universidade Federal de Correspondência
Alagoas, Maceió, Brasil. C. P. S. Ferreira
Maceió, Alagoas, Brasil, com base na perspectiva de seus usuários. Pesqui- Escola de Farmácia e
sa de abordagem qualitativa, cujo cenário foram os campos de atuação Enfermagem, Universidade
Federal de Alagoas.
da estratégia Consultório na Rua em Maceió. Os sujeitos da pesquisa fo- Av. Lourival Melo Mota s/n,
ram 18 pessoas em situação de rua atendidas pela estratégia, sendo dez Campus A.C. Simões, Maceió,
AL 57072-970, Brasil.
homens e oito mulheres, com idades entre 20 e 40 anos. A coleta de da-
cintiapriscila_19@hotmail.com
dos se deu entre setembro de 2014 e fevereiro de 2015, sendo empregada
a técnica de entrevista semiestruturada. Os dados foram analisados por
meio da técnica de análise de conteúdo e apontaram duas categorias: a
primeira, Consultório na Rua como ele é, revelou os nós críticos, desafios e
potencialidades dessa estratégia; a segunda, Consultório na Rua: suporte
social, afeto e perspectiva de mudança, para quem se encontra em situa-
ção de rua. Os resultados demonstraram que a estratégia é avaliada posi-
tivamente e que se constitui como suporte social não apenas em questões
relativas à saúde-doença, mas também em aspectos da vida cotidiana.

Avaliação de Serviços de Saúde; Pessoas em Situação de Rua;


Pesquisa Qualitativa

http://dx.doi.org/10.1590/0102-311X00070515 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 32(8):e00070515, ago, 2016


2 Ferreira CPS et al.

Introdução rar as características do território, assim como


seu contexto 14,15. Ademais, o Consultório na Rua
O aumento do contingente da população em si- constitui uma modalidade de atendimento aos
tuação de rua é realidade em vários países 1,2,3. diferentes problemas e necessidades de saúde
No Brasil, este fenômeno está presente princi- da população em situação de rua 11. Sua efeti-
palmente nas grandes cidades. Os censos popu- vação se dá por meio da atuação das equipes de
lacionais realizados pelo Instituto Brasileiro de consultório na rua, as quais se responsabilizam
Geografia e Estatística (IBGE) não dispõem de pelo cuidado a essa população, procurando atuar
dados reais sobre essa população, uma vez que numa abordagem integral à saúde 11.
reconhecem somente os que habitam domicí- Observa-se, nessa parcela populacional, di-
lios regulares ou coletivos 4. Contudo, levanta- ficuldade de acesso ao trabalho, aos serviços da
mentos nacionais trazem à tona questões rela- rede de saúde e de educação, além da exposição
tivas a essas pessoas: quem são, seu cotidiano, cotidiana à violência, entre outros. Entretanto,
motivos que os levaram a viver nas ruas, dentre cada cidade tem características sociais, econô-
outras 5,6,7. A realidade desse grupo populacional micas, políticas e culturais que a diferem das
aponta para pessoas vivendo em extrema vulne- outras cidades, produzindo singularidades na
rabilidade social, cujas vidas são demarcadas por população que vive em situação de rua em cada
privações de direitos, rompimento de vínculos contexto. No caso da cidade do presente estudo,
afetivos, violência, sofrimento e estigmas 8,9. a realidade social é marcada por profundas desi-
As especificidades e a complexidade dos fa- gualdades sociais e violência urbana. Acrescen-
tores envolvidos no cotidiano das pessoas em ta-se a isso quadro político conservador, pouco
situação de rua desafiam os vários setores e ser- favorável a mudanças. No âmbito da saúde, o
viços da sociedade, dentre eles o Sistema Único desafio consiste em superar indicadores desfa-
de Saúde (SUS). Nesse sentido, o Ministério da voráveis e melhorar os processos de gestão dos
Saúde vem apresentando iniciativas dirigidas à serviços de saúde e as relações intersetorias.
atenção a esse grupo, dentre elas o Plano Opera- Em qualquer contexto, a avaliação deve cons-
tivo para Implementação de Ações em Saúde da tituir-se como um procedimento habitual e coti-
População em Situação de Rua 2012-2015, o Con- diano na gestão de serviços de saúde, sendo parte
sultório de Rua e o Consultório na Rua 10,11,12. integrante e necessária ao planejamento e indis-
Com base no Consultório de Rua, surgiu o pensável ao processo de tomada de decisões 16.
Programa Saúde da Família Sem Domicílio, ex- Logo, ouvir os sujeitos a quem são dirigidas as
periência levada a cabo em algumas cidades co- ações e/ou políticas de saúde é fundamental pa-
mo Porto Alegre (Rio Grande do Sul), São Paulo e ra a avaliação. As percepções e entendimentos
Belo Horizonte (Minas Gerais) 11,13. Por sua vez, dos sujeitos e toda a complexidade envolvida não
a estratégia Consultório na Rua surgiu em 2012 são medidas por meio de inquéritos ou expressas
a partir da convergência de diferentes modali- numericamente. De fato, a avaliação qualitativa
dades e experiências, como: Redução de Danos, presta-se ao aprofundamento do objeto avalia-
Programa Saúde da Família (PSF) sem domicílio do e à incorporação da subjetividade presente
e Consultório de Rua. Vinculado à Política Na- no processo avaliativo, dando-se voz aos sujeitos
cional de Atenção Básica, o Consultório na Rua que vivem a experiência concreta dos serviços ou
incorpora práticas de prevenção de doenças e programas de saúde 17.
promoção da saúde, busca melhoria do acesso Embora não descarte a inclusão de outros as-
aos serviços de saúde e tentativa de proteção da pectos, a avaliação qualitativa “necessariamente
qualidade de vida, pautando-se nos princípios inclui os atores envolvidos na produção das práti-
do SUS 13. cas, suas demandas subjetivas, valores, sentimen-
Todavia, não basta a criação e implementa- tos e desejos” 18 (p. 150). Sendo assim, o objetivo
ção de uma estratégia, sendo necessária, tam- deste estudo foi avaliar a estratégia do Consultó-
bém, sua avaliação. Diante do exposto, o presen- rio na Rua em Maceió, Alagoas, Brasil, valendo-se
te estudo pretende ser uma contribuição para, da perspectiva de seus usuários.
especialmente, apoiar a tomada de decisões no
âmbito das políticas públicas dirigidas a esse
grupo populacional e/ou à estratégia Consultó- Metodologia
rio na Rua.
O Consultório na Rua ajusta-se à dinâmica Esta pesquisa adotou a abordagem qualitativa,
local, construindo seu setting terapêutico com com enfoque na avaliação qualitativo-participa-
base no vínculo e no acolhimento à população tiva. O processo de desvelamento da singulari-
em questão; portanto, a equipe deve conhecer dade e do sentido presente no vivido dos usu-
as especificidades do grupo atendido e conside- ários junto a determinados programas, tem na

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CONSULTÓRIO NA RUA: O OLHAR DE PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA 3

pesquisa qualitativa um profícuo caminho me- nais?; (8) Você tem espaço para conversar com a
todológico 17. Esse enfoque visa a incorporar di- equipe? Consegue expressar o que quer e o que
mensões tradicionalmente excluídas na prática precisa?; (9) Você é tratado de maneira única ou
avaliativa, tais como alteridade, subjetividade e como se fosse qualquer pessoa que vive na rua?;
participação dos distintos sujeitos envolvidos no (10) Você acha que esse atendimento contribuiu
processo avaliado 19. para melhorar sua vida na rua? Como?; e (11) Em
Os cenários foram os campos de atuação do que o Consultório na Rua precisa melhorar?
Consultório na Rua em Maceió. O município tem A escolha do espaço para realização da en-
seis equipes de Consultório na Rua, o qual tem, trevista ficou a critério de cada entrevistado,
desde 2009, um projeto chamado Fique de Boa. podendo ser feita no veículo que transportava a
Em 2010, passou a atender essa população por equipe do consultório na rua ou em outro local
meio da estratégia Consultório de Rua, vinculado que ele considerasse mais apropriado. Apenas
ao programa de Saúde Mental do município. Em uma entrevista foi realizada no veículo; as de-
2012, constituiu-se como Consultório na Rua, mais ocorreram nas ruas, a maioria em calçadas
vinculando-se à atenção básica. Maceió não dis- ou bancos. As entrevistas foram gravadas e trans-
põe de inquéritos sobre pessoas em situação de critas na íntegra. Para garantir o anonimato dos
rua, no entanto dados de junho de 2015, levan- participantes, as citações dos trechos extraídos
tados durante o período da pesquisa, indicavam das falas foram acompanhadas pela letra E, que
1.340 pessoas cadastradas pela estratégia. representa “entrevistado”, seguida de um núme-
Participaram da pesquisa 18 indivíduos em ro, do 1 ao 18, indicando a ordem da entrevista.
situação de rua atendidos pelos profissionais do Para a análise dos dados, foi utilizada a
Consultório na Rua, sendo dez homens e oito técnica de análise de conteúdo categorial por
mulheres com idades entre 20 e 40 anos; todos temática, proposta por Bardin 20. Após a trans-
foram encontrados e contactados nos cenários crição das entrevistas, foi realizada a leitura flu-
de atuação das equipes. A escolha dos sujeitos tuante, acompanhada por sucessivas leituras e
não se deu por representatividade estatística, exploração minuciosa do material. Em seguida,
mas, sim, pela possibilidade de responder aos ocorreu o tratamento dos resultados, gerando
objetivos do estudo, contemplando todos os duas categorias.
campos de atuação do Consultório na Rua. O nú- O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética
mero de participante foi delimitado pelo critério em Pesquisa da Universidade Federal de Alago-
de saturação teórica, e os critérios de inclusão as, autorização CAAE no 33529114.0.0000.5013.
foram: ser maior de 18 anos, estar em situação Os entrevistados consentiram sua participação
de rua e já ter sido atendido pelo Consultório na mediante assinatura do Termo de Consentimen-
Rua. Considerando-se a alta mobilidade das pes- to Livre e Esclarecido (TCLE), sendo fornecidas
soas que vivem em situação de rua, optou-se por informações sobre o objetivo da pesquisa, riscos,
entrevistar sujeitos que mantinham alguma per- benefícios e direito à recusa. Este trabalho é re-
manência nos cenários de atuação das equipes, sultante da dissertação de mestrado de uma das
processo facilitado pelos profissionais do Con- autoras, realizado no Programa de Pós-gradu-
sultório na Rua. ação em Enfermagem da Universidade Federal
Os dados foram coletados entre setembro de de Alagoas.
2014 e fevereiro de 2015, mediante entrevistas
realizadas por uma das autoras deste artigo. Uma
vez que a entrevistadora não tinha qualquer vín- Resultados e discussão
culo com os participantes da pesquisa, foi neces-
sária uma aproximação ao campo e aos sujeitos A análise dos resultados apontou duas catego-
antes de iniciar a coleta dos dados. Tal aproxima- rias: a primeira, Consultório na Rua como ele é,
ção se deu por um período de duas semanas, sob revela as potencialidades e os desafios dessa es-
anuência e acompanhamento das seis equipes tratégia; a segunda, Consultório na Rua: suporte
do Consultório na Rua. social, afeto e perspectiva de mudança, indica o
As entrevistas foram conduzidas conforme o que a estratégia representa para as pessoas em
roteiro a seguir: (1) Como é sua vida nas ruas?; situação de rua por ela atendidas.
(2) O que você acha do Consultório na Rua?; (3) O
consultório atende suas necessidades na rua?; (4) O Consultório na Rua como ele é
Em que o Consultório na Rua é bom? Em que não
é bom?; (5) Como você se sente com o atendimento Nessa categoria, os participantes apontaram as
dos profissionais do consultório?; (6) Como é sua potencialidades e os desafios do Consultório na
relação com os profissionais?; (7) Já teve algum Rua. Como potencialidades, destacaram-se o
acontecimento ruim na relação com os profissio- acolhimento e o vínculo, as ações desenvolvidas

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4 Ferreira CPS et al.

na rua e os “ensaios” de articulação intersetorial. “Me ajuda em tudo, com remédio, com exame,
Como desafios, foram indicados fatores relacio- conselho” (E2). “Foi uma boa vinda aqui pra Ala-
nados à estrutura organizacional do Consultório goas porque, quando não tinha ele, era pior com
na Rua e à articulação com a Rede de Atenção à certeza, eles levam a gente pra fazer exame, negó-
Saúde (RAS). cio de HIV, mama, cuida muito da saúde daqueles
Na análise das potencialidades, identificou- que querem ir, mas não obriga, mas tenta, insiste”
se o uso de tecnologias leves de cuidado no co- (E4). “Pra prevenir de doença, ajudar a gente, traz
tidiano do trabalho do Consultório na Rua. Tais preservativo, água, eles conversam” (E7).
tecnologias se caracterizam pela utilização de Esses achados condizem com um estudo rea-
ferramentas relacionais no cuidado em saúde lizado em 2013 com profissionais do Consultório
que permitem o estabelecimento de relações de na Rua da região metropolitana de Recife, cuja
confiança e diálogo entre usuários e profissio- equipe desenvolvia ações de redução de danos e
nais, além de favorecer a construção de vínculo, de atendimento básico de saúde, principalmente
compromisso e responsabilização 21,22,23. de enfermagem, como verificação de sinais vi-
Vínculo e escuta são percebidos na relação tais, pressão arterial e realização de curativos 25.
entre usuários e equipes ao longo dos relatos. Acolhimento e diálogo aparecem como ele-
Observa-se, também, que as pessoas em situa- mentos importantes na prática desses profissio-
ção de rua mostram gratidão pela existência do nais, presentes desde a implantação da primeira
Consultório na Rua: “Se não fosse eles que levas- experiência em 2009 26. Essa é uma das habili-
sem a gente ao médico, dar conselho, não existia dades mais importantes que os profissionais
ninguém, porque foi Deus que enviou vocês, pra de saúde que atuam com pessoas em situação
vir salvar a gente dessa vida. Aí agradeço a cada de rua devem exercitar e construir. É importan-
um de vocês” (E3). “É como eles entendessem o que te ressaltar que escuta e diálogo não são dons,
a gente necessita, e certas vezes a gente desabafa podem ser aprendidos como parte das atitudes
mesmo, é mais que consultório, é uma amizade” profissionais e das técnicas de comunicação que
(E7). facilitam a conversa, a aceitação do outro, a em-
Faz-se referência, ainda, à questão da singu- patia e o reconhecimento dos usuários como su-
laridade: “Eles tratam a gente como se a gente fos- jeitos que possuem direitos 27.
se única, cada um é aquele sentimentozinho que Outra potencialidade se refere ao fato de as
eles plantam” (E7). Essas potencialidades devem equipes de consultório na rua realizarem ações
ser pensadas em, pelo menos, duas perspecti- que vão além das questões de saúde-doença,
vas: por um lado, a existência de vínculo entre buscando suprir as necessidades demandadas
usuários e profissionais do Consultório na Rua; pelas pessoas atendidas. Essas ações se expres-
por outro, extrema gratidão e até certo endeu- sam especialmente pelo acesso aos serviços de
samento dos profissionais pelos usuários, o que saúde e de assistência social, como, por exem-
pode sugerir falta de acesso aos recursos sociais, plo, encaminhamento de consultas na atenção
familiares e até uma existência não cidadã. básica, internamentos hospitalares e obtenção
Observamos, assim, um contexto de margi- de documentos: “Já fizeram meu cartão do SUS.
nalização, exclusão social e expropriação de di- Chegou de um dia pro outro” (E1). “Ajudaram
reitos expresso maciçamente nesse grupo popu- com o pré-natal, em consulta para os meninos,
lacional, cuja trajetória não é marcada somente remédios, vacina em dia” (E5). “Fui internado em
pela falta de moradia, mas por uma realidade Arapiraca e passei um mês e dezenove dias, por
muito mais complexa, evidenciada pela fragili- causa do Consultório na Rua que me ajudou. Foi
dade dos vínculos sociais e familiares, pelo débil bom, eu voltei gordo e forte” (E8).
acesso às redes de atenção social e ao mundo do Essas ações indicam, por um lado, potencial
trabalho 9,24. Outro aspecto dessa fragilidade é a para a intersetorialidade, ainda que se deem
constante exposição a situações hostis, discrimi- mais como “ensaios”. Por outro lado, visibilizam
natórias, violentas e perigosas. A gratidão pode a condição de extrema vulnerabilidade das pes-
ser mais uma expressão dessa fragilidade, na me- soas em situação de rua. A compreensão dessa
dida em que encontram nos profissionais uma fragilidade requer a ampliação do olhar sobre
das poucas possibilidades de acesso aos recursos o tema, deixando de vê-lo no plano puramente
sociais, ainda que isso deixe transparecer uma individual e passando a considerá-lo no plano
visão paternalista na relação estabelecida entre das suscetibilidades socialmente configuradas.
profissionais e usuários. A atuação junto a grupos vulneráveis pressupõe
Outra potencialidade diz respeito às ações abertura para ações intersetoriais e a formação
realizadas pelo Consultório na Rua: “Sempre traz de redes de atenção, promovendo a integração
medicamento pra quem precisa, traz a água pra da saúde com outras áreas 28. Essa integração,
hidratar, claro, e dá aquela força psicológica” (E1). contudo, ainda é um desafio.

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No contexto da produção do cuidado, ob- preconizado, como contribuição à lógica de


servamos o potencial da clínica ampliada, a reversão da exclusão das pessoas em situação
qual propõe uma prática clínica mais complexa de rua. A garantia de um espaço em um serviço
e longitudinal, colocando os sujeitos como fo- público permite ampliar a resolubilidade de al-
co das ações dos profissionais. Trata-se de uma gumas ações em saúde e, ainda, reconhecer que
prática baseada na negociação, no diálogo e no a pessoa que vive na rua é um cidadão de direi-
reconhecimento do desejo das pessoas, procu- tos, que pode e deve acessar qualquer serviço de
rando distanciar-se das formas prescritivas de saúde 31. Nesse sentido, a equipe do Consultório
atuação. Pressupõe, ainda, a criação de espaços na Rua, além de garantir um espaço físico nesses
coletivos em que a produção do cuidado seja re- serviços, deve também legitimar o acesso das
sultado da análise e da intervenção do trabalho pessoas em situação de rua aos recursos dispo-
em equipe 29. níveis no sistema.
Como uma concepção epistemológica e or- No entanto, no munícipio estudado, ainda
ganizacional, a clínica ampliada projeta-se para existem entraves na gestão que dificultam a vin-
além das doenças ao inserir questões de saúde culação efetiva das equipes às unidades de saúde
que envolvem a vida e a vulnerabilidade das pes- de referência. Apenas duas das seis equipes pos-
soas. Assim, a atuação gira em torno da utilização suíam, no período do estudo, um espaço físico
dos recursos ao alcance da população e dos pro- no interior das unidades; as demais funcionam
fissionais, privilegiando o trabalho intersetorial, em locais provisórios. Essa situação dificulta a
procurando agregar diversas instâncias além das vinculação e fidelização dos usuários do Con-
instituições de saúde 30. sultório na Rua aos serviços e o acesso à equipe
Quanto aos desafios, são apontadas ques- quando necessitarem.
tões relacionadas à estrutura organizacional do Outro desafio apontado foi o transporte ina-
Consultório na Rua e à articulação com a RAS, a dequado das equipes, o qual não é de exclusivi-
qual apresenta dificuldades de acesso do usuá- dade para as atividades do Consultório na Rua.
rio quando não acompanhado de uma equipe de Em face desse problema, geralmente ocorrem
consultório na rua. Verifica-se preconceito dos atrasos, o que ocasiona demora na chegada ao
profissionais de outros serviços da RAS em rela- campo, diminuindo, assim, o tempo dispensado
ção às pessoas em situação de rua. aos usuários. Os depoimentos a seguir apontam
Na estrutura organizacional do Consultório a carência de veículos a serviço do Consultório
na Rua, ausência de sede e/ou espaço físico para na Rua: “Queria que melhorasse os veículos, por-
atendimento dos usuários, ausência de veícu- que às vezes precisa ir pra um canto e não pode,
lo próprio e de recursos humanos insuficientes porque o veículo tá ocupado” (E5). “Se tivesse
para a demanda foram referidos: “O que precisa mais veículo e apoio mais de alguém, porque só
melhorar é um espaço para eles exercer o traba- eles ainda tá muito pouco. É muita coisa, às vezes
lho deles aqui, porque tiraram eles daqui e ficou vêm no carro deles, que nem já aconteceu de vir,
ruim pra gente, porque quando eles tinham um pra trazer o remédio da pessoa, aí é um problema
espaço aqui eles vinham direto e agora só vêm não da parte deles, devia ter mais veículo, era me-
quando pode, porque eles não têm aqui só para lhor pra deslocar” (E12).
atender e ajudar” (E7). “Se tivesse um local cer- Além da necessidade de mais veículos, há
to que o pessoal soubesse, não precisava nem eles indicação da necessidade de mais profissionais
andar, que eu mesmo procuraria que tivesse um para atender o contingente de usuários: “É meio
ponto ou posto deles mesmo [...] pra mim seria mundo de coisa e às vezes não pode vir porque
melhor” (E12). está ocupado” (E12). “O prefeito devia dar condi-
Uma usuária complementa que um local fixo ção para trabalhar melhor, dar mais produto pra
beneficiaria tanto os trabalhadores do Consul- eles, não só camisinha; mais profissional, mais
tório na Rua como os usuários, pois eles pode- pessoas para trabalhar e ajudar” (E15). “Acho que
riam ir até a equipe. “Construir um espaço, mais falta uns psicólogos pra sentar com a gente, con-
conforto, onde eles possam estar aqui sempre ou a versar a parte pra saber o que o pessoal da rua
gente ir até a eles. Um espaço só pra eles eu acho, tá passando” (E17).
porque aqui tem muitos locais que dava sim pra Além das questões relativas à estrutura orga-
fazer e não tá botando eles ali ou aqui, ou em can- nizacional do Consultório na Rua, foram aponta-
tos que não é apropriado pra eles” (E7). dos desafios referentes à articulação com a RAS,
Ressaltamos que cada equipe do Consultó- os quais englobam dificuldades de acesso de pes-
rio na Rua deve estar vinculada a uma Unida- soas em situação de rua sem a companhia dos
de Básica de Saúde (UBS) no seu território de profissionais do Consultório na Rua, burocrati-
atuação. A existência de um espaço para essas zação e preconceito por parte dos profissionais
equipes dentro dos equipamentos de saúde é de outros serviços.

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6 Ferreira CPS et al.

Os usuários conseguem perceber que o tra- outro, podemos olhar e perceber a nós mesmos.
balho das equipes de consultórios na rua possi- O estigma e a discriminação representam o aves-
bilita acesso aos serviços de saúde, apontando so do reconhecimento da alteridade, é a negação
que, sem a atuação das equipes, é quase impossí- da tolerância, do respeito pelas diferenças 34. As-
vel ser atendido, principalmente porque os pro- sim, seria oportuno interrogar sobre os critérios
fissionais de saúde de alguns serviços da RAS não e as razões presentes nas escolhas feitas pelas po-
conseguem enxergá-los como pessoas que têm líticas públicas, que igualmente contribuem para
direitos, incluindo o direito à saúde, como se ob- a construção da imagem estereotipada de grupos
serva na seguinte fala: “Antes eu tinha dificuldade marginalizados e de seus problemas 24.
de ir pro posto, dificuldade de pegar remédio, de A insuficiente articulação com a RAS é um
fazer exame e hoje eu não tenho” (E5). “A ajuda dos nós críticos a ser trabalhado. A burocratiza-
deles é boa demais, somente a ajuda deles, porque, ção dos serviços de saúde, a dificuldade de aces-
se vai pro posto, não tem consulta, se não for eles so motivado pelo preconceito e os problemas de
na frente, não tem consulta” (E6). articulação com a rede de atenção ainda são uma
Esses depoimentos caminham na direção constante, embora os depoimentos demostrem
de que os profissionais dos serviços de saúde da melhoria no acesso aos serviços.
rede de atenção básica e hospitalar apresentam
preconceito em relação a esses usuários e pare- Consultório na Rua: suporte social, afeto e
cem até rejeitá-los e/ou ser indiferentes a eles, perspectiva de mudança para quem se
como aponta a seguinte declaração: “(...) porque encontra em situação de rua
antes a gente chegava lá pra se consultar ou algu-
ma coisa, o povo já olhava feio, de cara feia, e hoje Esta categoria apresenta o que o Consultório na
não, quando a gente vai com eles, a pessoa nem Rua representa para as pessoas atendidas por es-
olha praticamente” (E5). sa estratégia. Para elas, trata-se de suporte social
Chama a atenção, no depoimento E5, o fato e apoio emocional, afeto e perspectiva de mu-
de a invisibilidade ser tomada como algo posi- dança de vida.
tivo. Antes, sem a presença das equipes de con- Suporte social e apoio emocional são tecno-
sultório na rua, segundo esse usuário, os profis- logias leves de cuidado demonstradas nos depoi-
sionais o olhavam e o tratavam de modo hostil. A mentos: “A sensação é como se fosse uma família,
partir do momento em que passou a ir ao serviço porque trata a gente como se fosse um filho, não
acompanhado por um elemento das equipes de tem idade pra eles” (E4). “Eles ajudam bastante,
consultório na rua, não mais era hostilizado, se- conversam, são amigos, não são nem consultório.
quer era visto, percebido como pessoa. Pode-se É uma amizade que eles criam com a gente, são
supor que os profissionais da rede não estavam carinhosos, o que podem ajudar que a gente ne-
atendendo o usuário e sim o profissional da equi- cessita nem perguntam, a gente que já conhece,
pes de consultório na rua. O que é pior? A hos- que tem aquela intimidade, já chega neles” (E7).
tilidade evidente ou a indiferença escancarada? O respeito e a resposta às necessidades singu-
Ambas são reveladoras da discriminação lares dos usuários podem ser observados em di-
sofrida pelas pessoas em situação de rua. Am- versas situações: “É como eles entendessem o que
bas são demonstração do contexto de exclusão a gente necessita, e certas vezes a gente desabafa
social em que essa população vive e remetem à mesmo, então é mais que um consultório, é uma
perpetuação de ideias ao longo da construção da amizade que a gente criou aqui na rua” (E7). Um
sociedade brasileira, causando uma repercussão relato de um dos entrevistados denota a sensibili-
devastadora nos excluídos 9. Esses processos de dade da equipe ao realizar uma festa de aniversá-
exclusão têm origem em contextos diversos – so- rio que marcou a vida dele: “Até meu aniversário
cial, econômico e político 32. eles já fizeram. Eu tinha dito o dia do meu aniver-
Em consonância com esses achados, outra sário, aí passou vários tempos. Quando eu cheguei
pesquisa 33 realizada com equipes do Consultório um dia aqui, estava mesa, bolo, doce, meio mundo
na Rua também afirma que existem desafios para de gente, eu chorei” (E1). “Ela veio, teve todo cari-
o cuidado com as pessoas em situação de rua. nho, cuidou dele. Não aconteceu nesse consultório
Esses desafios constituem barreiras que dificul- não, mas vi em outros lugares que trata você de
tam, inibem ou até mesmo inviabilizam o acesso uma forma diferente, vai lá só exercer a profissão,
da pessoa nessa condição à rede de saúde e à re- já eles vêm como seus amigos” (E7).
de intersetorial. A barreira social foi citada como Os depoimentos sugerem que o cuidado nes-
uma das principais causas, a qual envolve estig- se contexto da rua vai além de qualquer definição
ma e reforça a invisibilidade desses indivíduos. conceitual. Respeito à autonomia dessas pessoas
Nesse sentido, é necessário entender que, a e defesa de sua integridade dependem da exis-
partir da alteridade, do olhar do outro e para o tência de uma relação pertinente, permeada pela

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CONSULTÓRIO NA RUA: O OLHAR DE PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA 7

comunicação eficaz e afetiva. Tal comunicação Depreende-se desses depoimentos, portanto,


envolve abandonar o tom paternalista 35. que a atuação das equipes de Consultório na Rua
Porém, em um contexto de tamanha vulne- faz diferença na vida das pessoas por elas aten-
rabilidade, será que a autonomia desses usuários didas. Os depoimentos indicam que, nessa atua-
é considerada, respeitada e salvaguardada? Até ção, estão presentes sensibilidade, afeto, apoio às
que ponto nós, como profissionais de saúde, es- demandas mais imediatas no campo biológico
tamos atuando numa perspectiva de resgate e/ e psicológico, assim como, tentativa de reinser-
ou de fortalecimento da cidadania? Até que pon- ção social e familiar. Diálogo e acolhimento são
to contribuímos para a perpetuação de uma ação elementos que parecem estar constantemente
política paternalista? presentes nessa atuação.
Esses questionamentos, contudo, também A reinserção familiar e/ou social de uma pes-
devem ser relativizados, tendo em vista as con- soa em situação de rua, muitas vezes, é difícil,
dições concretas e do contexto social e político pois há perda do vínculo com a família, além do
em que se dá a atuação desses profissionais. Os preconceito social e familiar, aumentando sua
usuários, por sua vez, na condição de extrema vulnerabilidade social. Em adição ao estigma so-
vulnerabilidade, são gratos por qualquer ação cial existente, a pessoa em situação de rua vive
que seja feita a seu favor, desconhecendo que privações alimentares, financeiras, afetivas, além
seus direitos, incluindo o direito à saúde, são da exposição à violência constante 25.
usurpados. São gratos porque encontram no Esse olhar sensível também dá lugar à escu-
Consultório na Rua um ponto de apoio, talvez o ta dos usuários como sujeitos, que falam de um
único espaço que os conecta à sociedade, que os espaço e experiência concretos, o que implica
faz se sentirem cidadãos. ouvir e considerar suas sugestões para melhorar
Dessa forma, alguns apontam que o Consul- o trabalho do Consultório na Rua. Nesse sentido,
tório na Rua trouxe mudança ou melhoria em alguns deles apontam que os profissionais deve-
suas vidas. Esse avanço tem relação com ações riam estar mais presentes e retomar algumas ati-
voltadas para promoção da vida, redução de da- vidades lúdicas que faziam com a comunidade:
nos sociais e melhoria das condições de saúde, “Eu queria que voltasse o projeto que eles tinham
por meio da atuação comprometida do Consul- com as crianças de fazer brincadeira, de artesana-
tório na Rua, que é baseada na construção de to e pintura” (E5). “Tem que vir mais aqui, a gente
vínculo e diálogo. No caso daqueles que usam não pode se acabar não. Acho que a galera tem
drogas, há relatos de que conseguiram diminuir outras localidades, é muito usuário, mas a gente
o uso como resultado da atuação dos profissio- precisa de mais atenção” (E1). “Ajuda [o Consul-
nais do Consultório na Rua. tório na Rua] em tudo, em companheirismo, em
A mudança de vida também se relaciona à colega, em conversar, em dar conselho, em traba-
possibilidade de resgate de papéis familiares e re- lhar psicologicamente e fisicamente. Tipo quando
inserção familiar ou social: “Às vezes você está de- eles fazem aquela aula de batuque” (E17).
sesperançado, sem rumo, a doença que nem eu es- Ao propor mudanças, o usuário torna-se su-
tava, não tinha condições de nada, eles chegaram jeito ativo e participativo. É perceptível que eles
devagarinho, fui ouvindo, os conselhos que eles têm uma visão ampliada sobre suas necessida-
dão. Eles trazem o remédio, mas não obriga você des, apontando mudanças que consideram ne-
tomar, você tem que tomar; se não tomar, a pessoa cessárias para melhorar a qualidade do Consul-
mesmo se prejudica. É uma companhia que você tório na Rua para ambos: equipe e usuários.
sabe que tem” (E12). “Melhorou um bocado viu, Nessa direção também devem se encami-
porque diminui mais a droga” (E14). “Me afastei nhar os processos avaliativos em saúde, de mo-
do mercado, botei a cabeça pra pensar. Estou cui- do a romper com a lógica de que a avaliação de
dando do meu filho. O Consultório na Rua não serviços deve ser usada somente para diminuir
pode deixar de andar na rua, porque eles são tudo gastos na esfera pública ou para controlar aque-
que a pessoa tem na rua” (E4). “Com as nossas fa- les que fazem parte do sistema avaliado. Assim,
mílias já conversaram. Já aconselharam pra voltar faz-se necessária a participação de trabalhadores
pra casa” (E15). “Com certeza, a minha vida e de e usuários nos processos avaliativos de progra-
muitos que vão pelos conselhos do consultório na mas e políticas de saúde. Tal participação implica
rua melhoraram muito, se não fosse o Consultório experimentar modos de avaliação que produzam
na Rua, tinha existido mais doença, mais mortes. possibilidades de repensar a realidade, de am-
Dá água pra hidratar, preservativo pra se prevenir, pliar a democratização dos processos pela escuta
não usa se não quiser; mas eles deixam” (E4). “Em de diversos pontos de vista e sujeitos, de articular
tudo, na minha saúde, mudou 100%, aprendi a me a necessidade do resultado com a atenção aos
prevenir, aprendi a não compartilhar o cachimbo processos subjetivos e simbólicos 36.
pra não pegar tuberculose” (E7).

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 32(8):e00070515, ago, 2016


8 Ferreira CPS et al.

Considerações finais Outro desafio diz respeito à adequação da


rede de atenção social e de saúde para o atendi-
Os resultados deste estudo demonstraram que mento apropriado a essa população, com foco no
a estratégia Consultório na Rua é avaliada posi- incremento das relações intersetoriais. O Con-
tivamente pelos usuários. Apoio social, afeto e sultório na Rua exerce um papel fundamental,
oportunidade para mudar de vida são aponta- mas sozinho não é capaz de assumir as diversas
dos pelos participantes da pesquisa. Eles desta- demandas apresentadas pelos usuários, muitas
caram, ainda, melhoria no acesso aos serviços além da capacidade resolutiva dos profissionais
de saúde, compromisso da equipe e relação de e da estratégia, visto que vários problemas têm
respeito estabelecida entre equipe e usuários. origem na questão econômica e social.
Nós críticos e desafios também foram indicados, Sendo assim, há de se pensar estrategica-
dentre eles a inadequação da estrutura organiza- mente numa ação política junto a esses usuários,
cional, o preconceito e a estigmatização das pes- para que eles compreendam e, como sujeitos e
soas em situação de rua por alguns profissionais cidadãos que são, enfrentem os desafios e assu-
de serviços da RAS. mam a luta por seus direitos. Há de se pensar,
Ressaltamos a necessidade de engajamento também, em estratégias de sensibilização e de
da gestão e dos profissionais de saúde que estão preparo dos profissionais das redes de atenção
em diversos espaços da RAS, considerando que social e de saúde, para acolher e atender essa
a atenção às pessoas em situação de rua não é população direcionando-lhes o respeito, compe-
responsabilidade exclusiva dos profissionais que tência e dignidade com que devem ser tratados.
atuam no Consultório na Rua. Um desafio im- A condição de viver na rua deve ser um fator de
portante é o enfrentamento do preconceito em inclusão, já que essa mesma condição é o reflexo
relação às pessoas que vivem em situação de rua. de extrema vulnerabilidade e de exclusão social.

Colaboradores Referências

C. P. S. Ferreira, C. A. Rozendo e G. B. Melo contribuíram 1. Moura YG, Sanchez ZM, Opaleye ES, Neiva-Silva
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Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 32(8):e00070515, ago, 2016


10 Ferreira CPS et al.

Abstract Resumen

The objective of this study was to evaluate the Street El objetivo de este estudio fue evaluar la estrategia del
Clinic strategy in Maceió, Alagoas State, Brazil, from Consultorio de Calle en Maceió, Alagoas, Brasil, desde
the perspective of its users. This was a qualitative la perspectiva de sus usuarios. Se trata de un estudio
study in coverage areas of the Street Clinic in Maceió. de enfoque cualitativo, cuyo escenario fueron las áreas
Research subjects were 18 homeless individuals assist- de actuación de la estrategia Consultorio de Calle.
ed by the clinic (10 men and 8 women), ranging from Los sujetos de la investigación fueron 18 personas sin
20 to 40 years of age. Data were collected from Septem- hogar, atendidas por la estrategia, siendo 10 hombres
ber 2014 to February 2015 using a semi-structured in- y 8 mujeres con edades entre 20 y 40 años. Los datos
terview. Content analysis was applied to the data and fueron recogidos entre septiembre de 2014 a febrero
identified two categories: the first, the Street Clinic as de 2015, mediante una técnica de entrevista semies-
such, revealed the strategy’s critical points, challenges, tructurada. Los datos analizados mediante la técnica
and potentialities; the second showed the Street Clinic de análisis de contenido, apuntaron dos categorías: la
as social support, affect, and hope for change for the primera, cómo es el Consultorio de calle, nos reveló los
homeless. The strategy was rated positively by users, nudos críticos, desafíos y potencialidades de esta estra-
providing social support on health problems and other tegia; la segunda, Consultorio de Calle: apoyo social,
daily issues. afecto y perspectiva de cambio para quien no tiene
hogar. Los resultados demostraron que la estrategia es
Health Services Evaluation; Homeless Persons; evaluada positivamente y que la misma se constituye
Qualitative Research como apoyo social, no sólo en cuestiones relativas a
salud-enfermedad, sino también en aspectos de la vi-
da cotidiana.

Evaluación de Servicios de Salud; Personas sin Hogar;


Investigación Cualitativa

Recebido em 04/Mai/2015
Versão final apresentada em 10/Out/2015
Aprovado em 18/Fev/2016

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 32(8):e00070515, ago, 2016

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