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Coerção e Posse
Presume-se frequentemente que a força e somente a força garantem
contra a invasão de propriedade. Isso pode ter sido verdade em até certo ponto nos primórdios da humanidade. Mas
à medida que as propriedades se multiplicam, a oportunidade para
o roubo excedeu em muito a capacidade dos defensores físicos, tanto no tempo quanto no
número. A não invasão de propriedade privada tornou-se um dos mais antigos tabus, substituindo tabus ainda anterio
res contra a invasão tribal.
Aqui está a origem inicial da Regra de Ouro (reciprocidade), e mesmo do desenvolvimento tardio do Decálogo (os D
ez Mandamentos). O comportamento moral era, em essência, o
reconhecimento da posse de outra pessoa sobre uma determinada propriedade mesmo
que proprietário esteja presente ou ausente. Era o tipo de comportamento
esperado obter de outros. Desse modo, num dos primeiros conceitos de quid pro quo (Toma-lá-dá-cá)
, o indivíduo absteve-se de invadir com a garantia implicíta
de que, se assim fosse, os outros se conteriam da
mesma forma.
Hoje, a maioria dos homens acredita que o estado é absolutamente necessário para
proteger a propriedade e os proprietários e que o homem deve confiar
no estado por este serviço. Curiosamente, economistas clássicos e
keynesianos modernos, bem como outros socialistas de vanguarda, concordam aqui.
Tão difundida é esta crença de que é comum ouvi-la dizer que
a utilidade tradicional do estado, ou a justificação da
a existência do estado reside exclusivamente nesta área. O estado deve
limitar-se, ou por algum processo deve ser limitado à função de
proteger a vida e a propriedade. Além disso, não é para se aventurar. Ainda,
com base neste conceito, as aplicações desta função limitada nos
levaram repetidamente ao que agora poderia ser chamado de "estado moderno",
com o seu enorme aparato de contabilidade e de registro, essa
erosão constante da privacidade dos homens e o lançamento e condução da guerra moderna. Todas estas funções são
nada mais
nada menos do que a função de proteção sobre a propriedade.
A visão tradicional dos classicistas é que se eles têm o
poder do estado à sua disposição, usarão o estado para o
A FILOSOFIA DA POSSE
o bem da economia, inibindo a venda agressiva e a fixação discriminatória de preços, e mantendo uma força policial
que maximize a proteção para os proprietários, grandes e pequenos.
Os pontos de vista dos socialistas variam de acordo com a complexidade particular da teoria socialista que está send
o oferecida. Alguns socialistas, incluindo os ramos anarquista e comunista, vêem o estado como
um perigo, ou a ser eliminado imediatamente, uma vez que a sua conservação protege a
propriedade (do ponto de vista anarquista), ou a ser eliminado em última instância, após
o estado ter sido empregado para "arrancar aos poucos" toda a propriedade dos
proprietários produtivos. (Depois de tudo ser expropriado,
teoricamente, não haverá mais requisitos para uma agência de
expropriação; mas com a ditadura há muito anunciada do proletariado, haverá necessariamente uma autoridade centr
al autorizada a
controlar e gerir a produção e a distribuição.)
Os socialistas consideram que apenas eles próprios são sensíveis às necessidades dos
pobres e somente eles empregarão o poder do estado para a eliminação da pobreza e o controle da ganância.
Nesse contexto, tanto os economistas clássicos quanto os socialistas procuram muito
a mesma solução a partir da mesma base. Ainda que discordem
quem deve possuir bens, ambos vêem o estado como essencial para
a posse e a proteção da propriedade. Ambos acreditam que as condições de benefício serão maximizadas se estivere
m no comando. As condições de benefício serão maximizadas, de acordo com os classicistas, se
a economia é protegida e se a ganância é controlada por leis que
tendem a incentivar a concorrência e a desencorajar práticas desleais e inibidoras, incluindo ações criminosas. Os so
cialistas, entretanto, afirmam que as condições de benefício serão maximizadas quando a distribuição
de bens com base na necessidade é encorajada, ao invés da produção de bens com fins lucrativos. Os anarquistas, qu
e são os mais independentes dos socialistas, argumentam que se eles tomarem esse caminho, o estado
desaparecerá e com ele toda a capacidade de qualquer um de proteger sua propriedade; assim, a propriedade como ta
l, exceto em quantidades
bastantes escassas, desaparecerão. Mas fundamental tanto para o socialista quanto para as
posições clássicas é a suposição de que o estado é o instrumento, e o único instrumento, que fornece a proteção da pr
opriedade.
O importante é a verdade. E curiosamente, tanto os classicistas quanto
os socialistas de diferentes correntes não compreenderam a importância do fato de a propriedade não ser uma invenç
ão do
estado, mas, pelo contrário, que o estado era uma invenção dos
detentores de propriedade. A posse da propriedade precedeu a construção dos estados e
COERÇÃO E POSSE
(Sublinhado nosso.)
De Coulanges insiste:
Entre a maior parte das sociedades primitivas, foi pela religião que se estabeleceu o direito de propriedade
. . . . A primeira religião que teve poder sobre
suas almas foi também a que instituiu entre eles
a propriedade.
. . . A religião, e agora as leis, garantiram primeiro o direito de
propriedade.4
Não nos resta nada além de autoridades ancestrais sobre as quais
confirmam esta afirmação. A antropologia moderna, arqueologia e outros
investigadores da área inclinam-se a demonstrar que a instrução instruída
às crianças, sob costumes tribais ou incentivos religiosos,
resultou no respeito pela propriedade e o autocontrole necessário para
a posse privada de propriedade permanecer.
O que não é facilmente compreendido é o fato de que a posse de propriedade
e a sua conservação em mãos privadas dependem da compreensão e crença, e não da força. A única proteção real qu
e temos
surge da relutância dos indivíduos em cometer transgressão, e
não sobre a vontade de certos homens, contratados como polícia, para
perseguir aqueles que violaram direitos de propriedade, a fim de trazer
restituição e/ou punir os infratores.
No centro do pensamento moderno está a suposição de que a propriedade
não pode ser protegida e que o estado deve agir após o fato,
buscando um equilíbrio tardio após violação criminal. Quando há
pequenas propriedades, assim como em sociedades pobres ou primitivas, a descoberta,
punição de ladrões e recuperação de bens são possíveis. Uma vez que a produção industrial moderna multiplica bens
e propriedades em sua própria posse 8
H.
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A FILOSOFIA DA POSSE
Oscar W. Cooley, " What Is Property?" Rampart Journal, Vol. I (1965), No. 4,
28.
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