Você está na página 1de 46

Álgebra Linear II

Determinantes por indução

Maria Lúcia Torres Villela


Universidade Federal Fluminense
Instituto de Matemática
Abril de 2010
Sumário

Introdução ................................................ 3

Parte 1 - Determinantes e aplicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

Seção 1 - Determinantes sobre corpos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

Seção 2 - Determinante do produto e matrizes elementares 31

Seção 3 - Regra de Cramer . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

Parte 2 - Autovalores e autovetores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

Seção 1 - Espaços vetoriais sobre C . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

Seção 2 - Subespaços invariantes e autovetores ......... 55

Seção 3 - Operadores diagonalizáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

Seção 4 - Teorema de Hamilton-Cayley e polinômio mı́nimo 81

Parte 3 - Espaços vetoriais com produto interno . . . . . . . . . . . . . . . 95

Seção 1 - Produto interno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97

Seção 2 - A adjunta de uma transformação linear . . . . . . . . . 119

Seção 3 - Operadores auto-adjuntos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125

Seção 4 - Operadores unitários . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133

Seção 5 - Formas bilineares e formas quadráticas . . . . . . . . . 145

1 UFF
Instituto de Matemática
UFF 2
M. L. T. Villela
Introdução

O objetivo deste texto é ser um apoio aos estudantes da disciplina


Álgebra Linear II, do Curso de Graduação em Matemática da Universidade
Federal Fluminense. O objetivo principal é estudar autovalores e autove-
tores de operadores lineares de espaços vetoriais de dimensão finita, opera-
dores diagonalizavéis, espaços vetoriais com produto interno, a adjunta de
uma transformação linear, operadores auto-adjuntos, unitários e o teorema
espectral.
Pressupomos que o estudante esteja familiarizado com: a álgebra das
matrizes com coeficientes reais; a inversão de matrizes e a resolução de
equações lineares com coeficientes reais, pelo método da redução por li-
nhas; os conceitos de espaços vetorias reais finitamente gerados, dimensão
de espaços vetoriais reais finitamente gerados, subespaços vetoriais, soma
e soma direta de subespaços vetoriais reais; transformações lineares entre
espaços vetoriais reais de dimensão finita, teorema do núcleo e da imagem,
representação matricial de transformações lineares entre espaços vetoriais re-
ais de dimensão finita e a álgebra das transformações lineares.
Na Parte 1 do texto definiremos a função determinante da álgebra das
matrizes n por n com coeficientes em um corpo K e valores em K, por indução
sobre n, pelo desenvolvimento de Laplace pela primeira coluna, com ênfase
nos corpos Q, R e C. Estudaremos as suas propriedades e daremos como
aplicação a resolução de sistemas lineares pela Regra de Cramer. Apre-
sentaremos também o método do cálculo do determinante pelo processo de
triangularização da matriz, por meio da redução por linhas.
Na Parte 2 vamos trabalhar com espaços vetorias reais ou complexos
finitamente gerados. Introduziremos os espaços vetoriais sobre C e generali-
zaremos os resultados obtidos para espaços vetoriais reais finitamente gera-
dos. Daqui por diante, trabalharemos com K-espaços vetoriais, onde K = R
ou K = C. Apresentaremos os conceitos de subespaço invariante por meio
de um operador K-linear e de autovalores e autovetores de um operador K-
linear. Ensinaremos como determinar os autovalores e os autovetores de um
operador linear em um espaço vetorial de dimensão finita. Introduziremos
o conceito de operadores diagonalizáveis e daremos condições necessárias e
suficientes para um operador em um espaço vetorial de dimensão n ≥ 1 ser
diagonalizável.

3 UFF
Instituto de Matemática
Na Parte 3 estudaremos os espaços vetoriais com produto interno, o
conceito de norma e a desigualdade de Cauchy-Schwarz. Definiremos bases
ortogonais e ortonormais, complemento ortogonal de um subespaço, projeção
ortogonal sobre um subespaço e apresentaremos o processo de ortonorma-
lização de Gram-Schmidt. Definiremos a adjunta T ∗ de uma transformação
linear T entre espaços vetoriais de dimensão finita com produto interno e da-
remos a relação entre suas representações matriciais em bases ortonormais.
Estudaremos operadores auto-adjuntos, o Teorema espectral em espaços ve-
toriais reais ou complexos, operadores unitários, operadores ortogonais e fa-
remos a classificação dos operadores ortogonais do plano e do espaço. Além
disso, mostraremos que os movimentos rı́gidos ou isometrias, funções em um
espaço vetorial real de dimensão n ≥ 1 que preservam distâncias, são ope-
radores ortogonais seguidos de translações. Finalizaremos com o estudo de
formas bilineares em espaços vetoriais reais ou complexos, sua representação
matricial e relação entre as representações matriciais. Introduziremos os con-
ceitos de forma bilinear simétrica e formas quadráticas. Mostraremos que
uma forma quadrática sobre um espaço vetorial real de dimensão n ≥ 1 é
diagonalizável numa base ortonormal.

Recomendamos os seguintes textos:

- Álgebra Linear, Boldrini e outros, Harbra, 3a edição, 1974.

- Álgebra Linear e Aplicações, Carlos A. Callioli, Hygino Domingues,


Roberto C.F. Costa, Atual Editora, 1990.

- Álgebra Linear, Renato Valladares, LTC, 1990.

- Álgebra Linear, Serge Lang, Editora Edgar Blücher Ltda, 1971.

- Álgebra Linear, S. Lipschutz, Coleção Schaum, MacGraw-Hill, 1981

- Álgebra Linear-Introdução, João Pitombeira de Carvalho, LTC/EDU, 2a


edição, 1977.

Texto mais avançado:

- Álgebra Linear, K. Hoffmann, R. Kunze, Editora Polı́gono, 1971.

UFF 4
M. L. T. Villela
Parte 1

Determinantes e aplicações

Definiremos a função determinante da álgebra das matrizes n por n


com coeficientes em um corpo K e valores em K, com ênfase nos corpos Q,
R e C, por indução sobre n pelo desenvolvimento de Laplace pela primeira
coluna.
Apresentaremos as fórmulas dos determinantes das matrizes de ordens
1, 2 e 3. Estudaremos as propriedades dos determinantes de matrizes de or-
dem n e mostraremos as fórmulas de Laplace para o cálculo do determinante
pelo desenvolvimento por qualquer linha ou coluna.
Mostraremos que o determinante é uma função linear quando vista
como uma função das linhas da matriz ou como uma função das colunas da
matriz.
Apresentaremos o método do cálculo do determinante de matrizes com
coeficientes em corpos pelo processo de triangularização da matriz, por meio
da redução por linhas.
Mencionaremos que valem propriedades sobre as colunas, análogas às
propriedades sobre as linhas e, de maneira similar, poderemos calcular o
determinante de matrizes com coeficientes em corpos fazendo redução por
colunas.
Mostraremos que A e sua transposta At têm o mesmo o determinante.
Introduziremos o conceito de matrizes elementares, relacionaremos a
redução por linhas com a multiplicação à esquerda por matrizes elementares
e, usando o conceito de matrizes elementares, mostraremos que o determi-
nante de um produto de matrizes é o produto dos seus determinantes.
Introduziremos os conceitos de matrizes adjunta clássica e cofatora de
A ∈ Mn×n(K), relacionaremos esses conceitos com o de matrizes invertı́veis

5 UFF
Instituto de Matemática
e daremos como uma aplicação a resolução de sistemas lineares pela Regra
de Cramer.

UFF 6
M. L. T. Villela
Determinantes sobre corpos
PARTE 1 - SEÇÃO 1

Determinantes sobre corpos

Seja K um corpo e Mn×n(K) a álgebra das matrizes n por n com coe-


ficientes em K.
Nosso objetivo é definir a função de Mn×n(K) em K chamada de deter-
minante.
Um corpo K é um conjunto munido com operações de adição e multi-
plicação
+ : K × K −→ K · : K × K −→ K
(a, b) 7−→ a + b (a, b) 7−→ a · b

tendo as seguintes propriedades, para quaisquer a, b, c ∈ K:


A1-(Associativa) (a + b) + c = a + (b + c).
A2-(Comutativa) a + b = b + a.
A3-(Existência de elemento neutro aditivo)
Existe 0 ∈ K, tal que para todo a ∈ K, a + 0 = a.
A4-(Existência de simétrico)
Escrevemos c = −a.
Para cada a ∈ K, existe um único c ∈ K tal que a + c = 0.
M1-(Associativa) (a · b) · c = a · (b · c).
M2-(Comutativa) a · b = b · a.
M3-(Existência de elemento neutro multiplicativo)
Existe 1 ∈ K, tal que para todo a ∈ K, 1 · a = a.
M4-(Existência de inverso)
Para cada a ∈ K, a 6= 0, existe um único c ∈ K, tal que a · c = 1. Escrevemos c = a−1 .

AM-(Distributiva) a · (b + c) = a · b + a · c.

Exemplo 1
Vocês têm familiaridade com os corpos Q, dos números racionais, R, dos
números reais e C, dos números complexos. Temos Q ⊂ R ⊂ C, onde
a
Q= b
; a, b ∈ Z e b 6= 0 ,

a c a·d+b·c a c a·c
com as operações b
+ d
= b·d
e b
· d
= b·d
.

C = {a + bi ; a, b ∈ R e i2 = −1},

com as operações

7 UFF
Instituto de Matemática
Determinantes sobre corpos
Álgebra Linear II

(a + bi) + (c + di) = (a + c) + (b + d) e
(a + bi) · (c + di) = (a · c − b · d) + (a · d + b · c)i.

Seja K um corpo, onde K = Q, ou K = R, ou K = C.


Seja Mn×n(K) a álgebra das matrizes n por n com coeficientes em K.
Vamos definir e estudar as propriedades da função determinante definida em
Mn×n(K) e com valores em K. Para isto precisamos do conceito a seguir.

Definição 1 (Menor de aij)


Seja A = (aij) ∈ Mn×n(K), onde K é um corpo e n ≥ 2. A matriz Aij de
ordem n − 1 obtida de A retirando-se a sua i-ésima linha e a sua j-ésima
coluna é chamada de menor de aij em A.

Exemplo 2 !
1 2
Seja A = ∈ M2×2(R). Então, A11 = (4), A12 = (3), A21 = (2) e
3 4
A22 = (1) são matrizes em M1×1(R).
 
1 2 3
Seja A =  4 5 6  ∈ M3×3(R).
 

7 8 9
! !
1 2 4 6
Então, A23 = e A12 = são matrizes em M2×2(R).
7 8 7 9

Agora estamos prontos para definir a função determinante

det : Mn×n(K) −→ K
A 7−→ det(A).

Definição 2 (Determinante)
Seja A = (aij) ∈ Mn×n(K), onde K é um corpo. O determinante de A é
definido por indução sobre n ≥ 1.
Se A = (a11) ∈ M1×1(K), então det(A) = a11.
Se n ≥ 2, A = (aij) e Aij ∈ M(n−1)×(n−1) (K) é a matriz obtida de A
retirando-se a i-ésima linha e j-ésima coluna, então

n
X
det(A) = (−1)i+1ai1 det(Ai1),
i=1

chamado de desenvolvimento de Laplace pela primeira coluna.

UFF 8
M. L. T. Villela
Determinantes sobre corpos
PARTE 1 - SEÇÃO 1

Exemplo 3 !
a11 a12
Vamos determinar det(A), onde A = e aij ∈ K.
a21 a22
Temos que A11 = a22 e A21 = a12. Logo,
X 2
det(A) = (−1)i+1ai1 det(Ai1)
i=1 .
= (−1)1+1a11 det(A11) + (−1)2+1a21 det(A21)
= a11a22 − a21a12
!
a11 a12
Logo, det = a11a22 − a12a21.
a21 a22
Podemos visualizar o cálculo do determinante de uma matriz de ordem 2
com o seguinte diagrama, onde fazemos a soma dos produtos com os sinais
indicados pela setas.

@
@ !
a11 a12
a21@
@a
22
@
R
@
+
 
Exemplo 4 a11 a12 a13
Vamos determinar o determinante de A =  a21 a22 a23 , onde aij ∈ K.
 

a31 a32 a33


! ! !
a22 a23 a12 a13 a12 a13
Temos A11 = , A21 = e A31 = .
a32 a33 a32 a33 a22 a23
3
X
det(A) = (−1)i+1ai1 det(Ai1)
i=1
= (−1)1+1a11 det(A11)!+ (−1)2+1a21 det(A21) +!(−1)3+1a31 det(A31)
a22 a23 a12 a13
= a11 det − a21 det
a32 a33 ! a32 a33
a12 a13
+a31 det
a22 a23
= a11(a22a33 − a32a23) − a21(a12a33 − a32a13)
+a31(a12a23 − a22a13)
= a11a22a33 + a12a23a31 + a13a21a32
−a11a23a32 − a12a21a33 − a13a22a31
É claro que a fórmula acima não deve ser memorizada.
A Regra de Sarrus para o cálculo do determinante de uma matriz A = (aij)
de ordem 3 consiste em construir uma tabela com 5 colunas e três linhas, a
partir da matriz A, da seguinte maneira:

9 UFF
Instituto de Matemática
Determinantes sobre corpos
Álgebra Linear II

(1) copie após a matriz A a primeira e a segunda colunas de A, conforme a


figura abaixo;
(2) as setas na figuram indicam o sinal do produto dos elementos da tabela;
(3) faça a soma dos produtos com o respectivo sinal para obter det(A).

− − −
@@ @ @ @ @   
a11 a12 a13 a11 a12
@
@ @ @ @ @
 a21 a22 a23 a21 a22 
 

a31 a32 @
@a @@ @ @
33 a31 a32
@
R
@ @
R
@ @
R
@
+ + +

Para calcular o determinante de uma matriz 4 por 4 com coeficientes em


K, precisamos calcular a soma de 4 elementos de K, obtidos pelo cálculo de 4
determinantes de matrizes de ordem 3. Esse cálculo é bastante desgastante
e pode ser evitado.
Vamos estudar as propriedades da função determinante e, com base nas
suas diversas propriedades, desenvolver um método eficiente e simplificado
do cálculo do determinante no final desta Seção.

Proposição 1 (Propriedades das linhas)


Seja A = (aij) ∈ Mn×n(K), onde K é um corpo.
(a) Se C for obtida de A substituindo a i-ésima linha Ai de A por Ai + X
e mantendo as outras linhas; B for obtida de A substituindo a i-ésima linha
Ai de A por X = (x1, . . . , xn) e mantendo as outras linhas de A, então
det(C) = det(A) + det(B).
(b) Se B for obtida de A substituindo a i-ésima linha Ai de A por cAi, onde
c ∈ K, e mantendo as outras linhas de A, então det(B) = c det(A).
Demonstração: A demonstração é por indução sobre n.
(a) Se n = 1, então A = (a11), B = (x1) e C = (a11 + x1), logo det(C) =
a11 + x1 = det(A) + det(B).
Seja n ≥ 2 e suponhamos o resultado válido para n − 1. Sejam A, B,
C matrizes de ordem n como no enunciado. Temos ci1 = ai1 + x1 = ai1 + bi1
e, para k 6= i, ck1 = ak1 = bk1. Além disso, Ci1 = Ai1 = Bi1 e, para
k 6= i, a matriz Bk1 tem as mesmas linhas de A, exceto uma delas, que é
(x2, . . . , xn) e Ck1 também tem as mesmas linhas de Ak1, exceto uma delas,
que é (ai2 + x2, . . . , ain + xn).

UFF 10
M. L. T. Villela
Determinantes sobre corpos
PARTE 1 - SEÇÃO 1

n
X
(1) Em (1) usamos a definição
det(C) = (−1)k+1ck1 det(Ck1) de determinantes; em (2), a
k=1 comutatividade da adição em
(2) X
= (−1)k+1ck1 det(Ck1) + (−1)i+1ci1 det(Ci1) K; em (3), ci1 = ai1 + x1 ;
em (4), det(Ck1 ) =
k6=i
(3) X det(Ak1 ) + det(Bk1 ), por
= (−1)k+1ck1 det(Ck1) + (−1)i+1(ai1 + x1) det(Ci1) hipótese de indução; em (5),
k6=i ck1 = ak1 = bk1 e x1 = bi1 ;
(4) X em (6), a comutatividade da
(−1)k+1ck1 det(Ak1) + det(Bk1) + (−1)i+1ai1 det(Ai1)

= adição em K e em (7),
k6=i novamente, a definição de
determinante.
+(−1)i+1x1 det(Bi1)
(5) X
(−1)k+1ak1 det(Ak1) + (−1)k+1bk1 det(Bk1)

=
k6=i
+(−1)i+1ai1 det(Ai1) + (−1)i+1bi1 det(Bi1)
n n
(6) X k+1
X
= (−1) ak1 det(Ak1) + (−1)k+1bk1 det(Bk1)
k=1 k=1
(7)
= det(A) + det(B).
(b) Se n = 1, então A = (a11), B = (ca11) e det(B) = ca11 = c det(A).
Seja n ≥ 2 e suponhamos o resultado válido para matrizes de ordem
n − 1. Sejam A e B matrizes de ordem n como no enunciado. Nesse caso,
temos bi1 = cai1 e Bi1 = Ai1 e, para k 6= i, bk1 = ak1 e Bk1 é uma matriz
de ordem n − 1 que tem uma linha igual a c vezes uma das linhas de Ak1 e
suas outras linhas são iguais. Então,
n
X
(1)
det(B) = (−1)k+1bk1 det(Bk1) Em (1) usamos a definição
k=1 de determinante; em (2), a
(2) X
comutatividade da adição
= (−1)k+1bk1 det(Bk1) + (−1)i+1bi1 det(Bi1)
em K; em (3), bk1 = ak1 ,
k6=i bi1 = cai1 e Bi1 = Ai1 ; em
(3) X
= (−1)k+1ak1 det(Bk1) + (−1)i+1cai1 det(Ai1) (4), a hipótese de indução;
em (5), a distributividade da
k6=i
(4) X multplicação e a
= (−1)k+1ak1c det(Ak1) + (−1)i+1cai1 det(Ai1) comutatividade da adição
k6=i em K e em (6), novamente, a
n
X  definição de determinante.
(5) k+1
= c (−1) ak1 det(Ak1)
k=1
(6)
= c det(A). 

Corolário 1
Se A = (aij) ∈ Mn×n(K), onde K é um corpo, tem uma linha nula, então
det(A) = 0.
Demonstração: Segue imediatamente do item (b) da Proposição anterior. 

11 UFF
Instituto de Matemática
Determinantes sobre corpos
Álgebra Linear II

Observação 1: Da Proposição 1, segue que o determinante, como uma função


das linhas da matriz, é K-linear em cada linha.
Nesse caso, todas as linhas
diferentes da i-ésima estão
De fato, sejam B, C e A matrizes com todas as linhas iguais, exceto a
fixas. Estamos variando i-ésima, onde Bi = Xi, Ci = Yi e Ai = Xi + aYi, tal que a ∈ K, digamos que
apenas a i-ésima linha.
     
A1 A1 A1
 .   .  ..
 ..   .. 
 
   

 . 

B =  Xi , C =  Yi  e A =  Xi + aYi .
     
 .   .   .. 
 ..   ..   . 
     
An An An
Logo, pelos itens (a) e (b) da Proposição 1,
     
A1 A1 A1

 .
..


 .
 ..


 . 
 .. 
     
det(A) = det  Xi + aYi  = det  Xi  + det  aYi 
     
 ..   .
 ..
  . 
 .. 

 . 
 

  
An An An
   
A1 A1
 .   . 
 ..   .. 
   
= det  Xi  + a det  Yi 
   
 .   . 
 ..   .. 
   
An An
= det(B) + a det(C).
Veremos agora outras propriedades do determinante.
Lema 1
Se A = (aij) ∈ Mn×n(K), onde K é um corpo, tem duas linhas consecutivas
iguais, então det(A) = 0.
Demonstração: Seja h tal que Ah = Ah+1. Como 1 ≤ h < h + 1 ≤ ! n,
a b
então n ≥ 2. Faremos indução sobre n. Se n = 2, então A = ,
a b
det(A) = ab − ab = 0.
Fixemos n ≥ 3 e suponhamos o resultado válido para matrizes de ordem
n − 1. Seja A matriz de ordem n tal que Ah = Ah+1. Nesse caso, se i 6= h e
i 6= h + 1, então a matriz Ai1 de ordem n − 1 tem duas linhas consecutivas
iguais e, por hipótese de indução, det(Ai1) = 0, portanto,
Xn
det(A) = (−1)i+1ai1 det(Ai1)
i=1
= (−1)h+1ah1 det(Ah1) + (−1)h+2a(h+1)1 det(A(h+1)1 ).

UFF 12
M. L. T. Villela
Determinantes sobre corpos
PARTE 1 - SEÇÃO 1

Como Ah1 = Ah+1, temos ah1 = a(h+1)1 e Ah1 = A(h+1)1 , logo

det(A) = (−1)h+1ah1 det(Ah1) + (−1)h+2a(h+1)1 det(A(h+1)1 )


= (−1)h+1ah1 det(Ah1) + (−1)h+2ah1 det(Ah1)

= (−1)h+1 ah1 det(Ah1) − ah1 det(Ah1) = 0.

Portanto, o resultado vale para n. Assim, vale para todo n ≥ 2. 

Proposição 2
Seja A = (aij) ∈ Mn×n(K), onde K é um corpo. Se B for a matriz obtida de
A trocando de posição duas linhas de A e mantendo as outras linhas de A,
então det(B) = − det(A).
Demonstração: Sejam Ah e Ak, onde 1 ≤ h < k ≤ n, as linhas de A que são
trocadas de posição para obter B. Primeiramente, consideremos k = h + 1.
Seja C a matriz obtida de A substituindo as linhas Ah e Ah+1 por Ah +Ah+1 e
mantendo as outras linhas de A. Então, C tem duas linhasconsecutivas iguais

A1
 .. 

 . 

 A +A 
 h h+1 
e, pelo Lema anterior, det(C) = 0. Por outro lado, C =  .
 Ah + Ah+1 
..
 
.
 
 
An

Aplicando o item (a) da Proposição 1, sucessivamente, obtemos

   
A1 A1
 ..
   ..



. 


 .
 Ah   Ah+1 
det(C) = det   + det 
   

 Ah + Ah+1   Ah + Ah+1 
.. ..
   
. .
   
   
An An
     
A1 A1 A1
 ..   ..   .. 
 .   .   . 
     
 A   A   Ah+1 
 h  h 
= det   + det   + det 
  

 Ah   Ah+1   Ah + Ah+1 
 ..   ..  ..
     
 .   .  .
 
 
An An An

13 UFF
Instituto de Matemática
Determinantes sobre corpos
Álgebra Linear II

       
A1 A1 A1 A1
 ..   ..   ..   .. 
 .   .   .   . 
       
 A   A   A   A 
 h  h   h+1   h+1 
= det  + det + det + det .

     
 Ah   Ah+1   Ah   Ah+1 
 ..   ..   ..   .. 
       
 .   .   .   . 
An An An An
Novamente, pelo Lema anterior, obtemos
   
A1 A1
 ..   .. 
 .   . 
   
 A   A 
h   h+1 
0 = det(C) = det   + det   = det(A) + det(B),

 Ah+1   Ah 
 ..   .. 
   
 .   . 
An An
logo det(B) = − det(A).
Suponhamos agora que k − h ≥ 2 e B é obtida de A trocando as linhas
Ah e Ak de posição e mantendo as outras linhas.
Para que Ah fique na k-ésima linha são necessárias as trocas sucessi-
vamente de Ah com Ah+1, Ah+2, . . . , Ak, totalizando k − h trocas de linhas
consecutivas, deixando Ak na (k − 1)-ésima linha. Para Ak ficar na h-ésima
linha e obtermos a matriz B precisamos de mais (k − 1) − h trocas de linhas
consecutivas. No total fazemos (k − h) + (k − 1) − h = 2(k − h) − 1 tro-
cas de linhas consecutivas. Pela primeira parte da demonstração, em cada
troca o determinante é multiplicado por −1, logo após o total de trocas,
o determinante é multiplicado por (−1)2(k−h)−1 = −1. Portanto, temos
det(B) = − det(A). 

Esse resultado vale em Corolário 2


quaisquer corpos de
caracterı́stica 0. Se
Se A = (aij) ∈ Mn×n(K), onde K é Q, R ou C, tem duas linhas iguais, então
car(K) = p 6= 2, então 2 é det(A) = 0.
invertı́vel em K e o resultado
é válido. Demonstração: Digamos que 1 ≤ h < k ≤ n e que Ah = Ak. Seja B a matriz
Se car(K) = 2, então o
obtida de A trocando de posição Ah e Ak e mantendo as outras linhas de
resultado do Corolário
também é válido. Nesse A. Pela Proposição anterior, det(B) = − det(A). Como B = A, temos que
caso, fazemos um cálculo
det(A) = − det(A), logo 2 det(A) = 0. Assim, det(A) = 0. 
direto de det(A) e
mostramos que det(A) = 0.
Corolário 3
Seja A ∈ Mn×n(K), onde K é um corpo. Se B é obtida de A substituindo a
linha Ai por Ai + cAj, onde j 6= i e c ∈ K, e mantendo as outras linhas de
A, então det(B) = det(A).

UFF 14
M. L. T. Villela
Determinantes sobre corpos
PARTE 1 - SEÇÃO 1

Demonstração:
 Suponhamos,
 sem perda de generalidade, que i > j. Então,
A1
 .. 

 . 

Aj
 
 
 .
..

 e, pela Proposição 1 itens (a) e (b) e pelo Corolário 2,
B= 
 Ai + cAj 
 
 .. 
.
 
 
An
    
A1 A1 A1
 ..
  . 
 .. 
 . 
 .. 



.    
Aj  Aj   Aj 
     
 
 ..  = det  ...  + det  ... 
    
det(B) = det 
 .     
 Ai + cAj   Ai   cAj 
     
..  ..   .. 
     
.  .   . 
 
 
An An An
 
A1
 . 
 .. 
 
A
 
 j 
 . 
= det(A) + c det  . 
 .  = det(A) + c · 0 = det(A). 

 Aj 

 . 
 . 
 . 
An

Usando as propriedades do determinante, vistas nas Proposições 1 e 2 e


no Corolário 3, vamos desenvolver um método para o cálculo de determinan-
tes a partir do processo da redução por linhas de uma matriz com coeficientes
em um corpo K.

Lembramos o conceito de operação elementar sobre as linhas de uma


matriz.

Definição 3 (Operações elementares e equivalência por linhas)


Seja A ∈ Mn×m(K), onde K é um corpo. Há três tipos de operações elemen-
tares sobre as linhas de A:

(I) Trocar de posição as linhas Ai e Aj, onde i 6= j, e manter as outras linhas


de A. Denotamos por Ai ↔ Aj.

15 UFF
Instituto de Matemática
Determinantes sobre corpos
Álgebra Linear II

(II) Multiplicar a i-ésima linha por c ∈ K, onde c 6= 0, e manter as outras


linhas de A. Denotamos por Ai → cAi.

(III) Substituir a i-ésima linha Ai por Ai + cAj, onde c ∈ K e i 6= j, e


manter as outras linhas de A. Denotamos por Ai → Ai + cAj.

Quando a matriz B ∈ Mn×m(K) é obtida de A por uma operação


elementar o dizemos que B é equivalente por linhas a A, escrevemos B = o(A)
e denotamos por A∼oB.
Quando B ∈ Mn×m(K) é obtida de A por uma sequência finita de
operações elementares o1, . . . , os, definindo B1 = o1(A) e Bj+1 = oj+1(Bj)
para j = 1, . . . s − 1, temos que

B = os(. . . (o1(A) . . .)) e A∼o1 B1∼o2 B2∼o3 . . . ∼os−1 Bs−1∼os Bs = B.

Proposição 3
Se B ∈ Mn×n(K) é obtida de A ∈ Mn×n(K) por uma operação elementar o
sobre as linhas de A, então B = o(A) e

 − det(A), se o é do tipo (I), Ai ↔ Aj, i 6= j;

det(B) = c det(A), se o é do tipo (II), Ai → cAi, c ∈ K, c 6= 0;


det(A), se o é do tipo (III), Ai → Ai + cAj, c ∈ K, i 6= j.

Demonstração: Segue imediatamente das Proposições 2 e 1, item (b), e do


Corolário 3. 
Corolário 4
Se B ∈ Mn×n(K) é obtida de A por uma sequência finita de operações elemen-
tares o1, . . . , os, definindo B1 = o1(A) e Bj+1 = oj+1(Bj) para j = 1, . . . , s−1,
então

B = os(. . . (o1(A) . . .)) e A ∼o1 B1 ∼o2 B2 ∼o3 . . . ∼os−1 Bs−1 ∼os Bs = B

e existem constantes não nulas em K c1, . . . , cs, univocamente determinadas,


respectivamente, por o1, . . . , os, tais que det(B) = cs · . . . · c1 det(A).
Demonstração: A demonstração é por indução sobre s, o número de operações
elementares sobre as linhas de A.
Se s = 1, então B = o(A) e o resultado segue da Proposição 3. Fixemos
s ≥ 1, suponhamos o resultado válido para s e B = os+1(os(. . . (o1(A) . . .)),
onde A ∼o1 B1 ∼o2 B2 ∼o3 . . . ∼os Bs ∼os+1 Bs+1 = B. Então, B = os+1(Bs),
onde A ∼o1 B1 ∼o2 B2 ∼o3 . . . ∼os Bs. Logo, existe uma constante não nula

UFF 16
M. L. T. Villela
Determinantes sobre corpos
PARTE 1 - SEÇÃO 1

cs+1 em K, univocamente determinada por os+1 tal que det(B) = cs+1 det(Bs).
Por hipótese de indução, existem c1, . . . , cs, constantes não nulas em K uni-
vocamente determinadas pelas operações elementares o1, . . . , os, tais que
det(Bs) = cs · . . . · c1 det(A). Portanto,
det(B) = cs+1 det(Bs) = cs+1 · (cs · . . . · c1 det(A)).
Logo, o resultado vale para s + 1. Assim, vale para todo s ≥ 1. 

Com a relação estabelecida pelo Corolário 4 entre o determinante de


uma matriz A ∈ Mn×n(K) e uma matriz B ∈ Mn×n(K) obtida de A por uma
sequência finita de operações elementares, podemos descrever um método
para calcular determinantes de matrizes de ordem grande, pelo método da
redução por linhas. Esse método é baseado no seguinte resultado.

Proposição 4
Seja A ∈ Mn×n(K), onde K é um corpo. Então, existe uma sequência finita
de operações elementares sobre as linhas de A, o1, . . . , os, e uma matriz tri-
angular superior B ∈ Mn×n(K), tal que B = os(. . . (o1(A)) . . .) é equivalente
por linhas à matriz A.
Demonstração: Se A = 0 ∈ Mn×n(K), nada há a demonstrar. Suponha-
mos que A 6= 0. O seguinte algoritmo indica uma sequência de operações
elementares que resolve o problema:
(1) Vá para a primeira linha não nula L;
(2) multiplique L por uma constante c conveniente, de modo que o seu pri-
meiro elemento não nulo seja 1, fazendo L → cL = L′ ;
(3) substitua cada linha não nula subsequente por ela mais um múltiplo
conveniente de L′ , de modo que o seu elemento na mesma coluna do 1 fique
igual a 0.
(4) faça a primeira linha não nula após L′ igual a L;
(5) repita os passos (2), (3) e (4), até chegar à última linha não nula.
Para obter a matriz triangular superior equivalente por linhas à matriz
A, só precisamos de algumas trocas linhas.
(6) Se as s linhas não nulas Lj1 , . . . , Ljs , onde 1 ≤ s ≤ n, têm o primeiro
elemento não nulo, respectivamente, nas colunas k1, . . . , ks, então Lj1 tem
que ser a linha k1, . . . , Ljs , a linha ks. As outras linhas são nulas. Depois
dessa troca de linhas obtemos uma matriz triangular superior equivalente
por linhas à matriz A. 

17 UFF
Instituto de Matemática
Determinantes sobre corpos
Álgebra Linear II

Exemplo 5
Vamos determinar uma matriz B ∈ M3×3(R) triangular superior equivalente
 
1 2 3
por linhas à matriz A =  4 11 18  ∈ M3×3(R). Temos
 

7 8 24
     
1 2 3 1 2 3 1 2 3
A ∼1  0 3 6  ∼2  0 1 2  ∼3  0 1 2  = B.
     

0 −6 3 0 −6 3 0 0 15

Usamos a seguinte sequência de operações elementares:


em ∼1: L2 → L2 − 4L1 e L3 → L3 − 7L1;
em ∼2: L2 → 31 L2;
em ∼3, L3 → L3 + 6L2.
Exemplo 6
Vamos determinar uma matriz B ∈ M5×5(R) triangular superior equivalente
 
0 0 2 0 0
 1 2 3 4 5 
 
 
por linhas à matriz A =  2 4 6 8 10  ∈ M5×5(R). Temos

6 7 8 9 10
 
 
10 11 12 10 11
   
0 0 1 0 0 0 0 1 0 0
 1 2 3 4 5   1 2 0 4 5 
   
   
A ∼1  2 4 6 8 10  ∼2  2 4 0 8 10 
  
 6 7 8 9 10   6 7 0 9 10 
   
10 11 12 10 11 10 11 0 10 11
   
0 0 1 0 0 0 0 1 0 0
 1 2 0 4 5   1 2 0 4 5 
   
   
∼3 
 0 0 0 0 0  ∼4  0
  0 0 0 0 

0 −5 0 −15 −20 0 1 0 3 4
   
   
0 −9 0 −30 −39 0 −9 0 −30 −39
   
0 0 1 0 0 1 2 0 4 5
 1 2 0 4 5   0 1 0 3 4 
   
   
∼5 
 0 0 0 0 0  ∼6  0 0 1 0 =B
0 

 0 1 0 3 4   0 0 0 −3 −3 
   
0 0 0 −3 −3 0 0 0 0 0
Usamos a seguinte sequência de operações elementares:

UFF 18
M. L. T. Villela
Determinantes sobre corpos
PARTE 1 - SEÇÃO 1

em ∼1: L1 → 21 L1;
em ∼2: L2 → L2 − 3L1, L3 → L3 − 6L1, L4 → L4 − 8L1 e L5 → L5 − 12L1;
em ∼3, L3 → L3 − 2L2, L4 → L4 − 6L2 e L5 → L5 − 10L2;
em ∼4: L4 → − 15 L4;
em ∼5: L5 → L5 + 9L4.
Agora não há mais linhas não nulas. Paramos o algoritmo aqui. Para obter
a matriz B triangular superior equivalente a A, basta fazer trocas de linhas.
As linhas não nulas depois de ∼5 são L1, com k1 = 3; L2, com k2 = 1; L4,
com k4 = 2; L5, com k5 = 4.
Em ∼6 fizemos a sequência de operações elementares: L3 ↔ L4, L4 ↔ L5,
L1 ↔ L2 e L2 ↔ L3.

Para matrizes triangulares superiores ou inferiores o cálculo do deter-


minante é trivial, conforme a seguinte Proposição.
Proposição 5
Seja A = (aij) ∈ Mn×n(K), onde K é um corpo. Se A é uma matriz triangular A é triangular superior se, e
somente se, aij = 0, para
superior, então det(A) = a11a22 . . . ann. todo 1 ≤ j < i ≤ n.
Demonstração: Faremos indução sobre n ≥ 1. Se n = 1, então A = (a) e
det(A) = a = a11. Suponhamos que n ≥ 1 e o resultado válido para n. Seja
A matriz triangular superior de ordem n + 1 com coeficientes em K. Temos
que
 
a11 a12 a13 ··· a1(n+1)
0 a22 a23 ··· a2(n+1)
 
 
 
A= 0 0 a33 ··· a3(n+1) 
.. .. .. ..
 
. . . ··· .
 
 
0 0 0 · · · a(n+1)(n+1)

Pela definição do determinante, temos que

n+1
X
det(A) = (−1)i+1ai1 det(Ai1) = a11 det(A11). ai1 = 0, para todo
i=1 i = 2, . .. , n + 1.

 
a22 a23 · · · a2(n+1)
 0 a33 · · · a3(n+1) 
 
Como A11 =   .. .. ..  é uma matriz triangular
 . . ··· .


0 0 · · · a(n+1)(n+1)
superior de ordem n, pela hipótese de indução, temos que

19 UFF
Instituto de Matemática
Determinantes sobre corpos
Álgebra Linear II

det(A11) = a22 · · · a(n+1)(n+1).


Portanto, det(A) = a11 det(A11) = a11a22 · · · a(n+1)(n+1). Logo, o re-
sultado vale para n + 1. Assim, vale para todo n ≥ 1. 
Exemplo 7
 
1 2 3
Vamos determinar o determinante de A =  4 11 14  ∈ M3×3(R) do
 

7 8 24
Exemplo 5.
Obtivemos no Exemplo  5 que A é equivalente por linhas à matriz triangular supe-
1 2 3
rior B =  0 1 2 . Como det(B) = 1·1·15 = 15 e a única operação elementar
 

0 0 15
usada que altera o determinante é L2 → 31 L2, obtemos que 31 det(A) = det(B), logo
det(A) = 3 det(B) = 3 · 15 = 45.
 
0 0 2 0 0
Exemplo 8  1 2 3 4 5 
 
 
Determinaremos o determinante de A =   2 4 6 8 10  ∈ M5×5(R)

 6 7 8 9 10 
 

10 11 12 10 11
do Exemplo 6.
Obtivemos no Exemplo 6 que A é equivalente por linhas a uma matriz tri-
angular superior B com uma linha nula. Como det(B) = 0 e as operações
elementares que alteram o determinante o multiplicam por constantes não nu-
“ ” Nesse caso, las, então existe uma constante não nula c ∈ R tal que c det(A) = det(B) = 0.
1
c= · − 51 · (−1)4 = − 10
1
.
2 Logo, det(A) = c1 det(B) = 1c · 0 = 0.
Volte ao Exemplo 6 e verifique que para o cálculo do determinante de A
poderı́amos ter parado em ∼3, após L3 → L3 − 2L2, pois a matriz obtida
aqui é equivalente por linhas a A, tem uma linha nula e já concluı́mos que
det(A) = 0.

Agora destacamos que valem propriedades sobre as colunas similares


às propriedades sobre as linhas.

Proposição 6 (Propriedades das colunas)


Seja A ∈ Mn×n(K), onde K é um corpo.
(a) Se C for obtida de A substituindo a j-ésima coluna Aj por Aj + Y e
mantendo as outras colunas e B for obtida de A substituindo a j-ésima coluna
 
y1
 . 
Aj por Y e mantendo as outras colunas de A, onde Y =  .. , então
yn

UFF 20
M. L. T. Villela
Determinantes sobre corpos
PARTE 1 - SEÇÃO 1

det(C) = det(A) + det(B).


(b) Se B for obtida de A substituindo a j-ésima coluna Aj por cAj, onde
c ∈ K, e mantendo as outras colunas de A, então det(B) = c det(A).
Demonstração: A demonstração de ambas as propriedades, de maneira análo-
ga às propriedades das linhas, é por indução sobre n, devendo apenas serem Faça a demonstração do
distinguidos os casos j = 1 e j > 1. Faremos apenas a demonstração do item item (b).

(a).
Seja j = 1. Então, C1 = A1 + Y e B1 = Y, isto é, ci1 = ai1 + yi e
bi1 = yi, e Ai1 = Bi1 = Ci1, para todo i = 1, . . . , n. Temos
n
(1) X
det(C) = (−1)i+1ci1 det(Ci1) Em (1) usamos a definição
i=1 de determinante; em (2), que
n
X ci1 = ai1 + yi para
(2)
(−1)i+1 ai1 + yi det(Ci1)

= 1 ≤ i ≤ n; em (3), a
i=1 distributividade em K; em
n
X (4), a comutatividade e
(3)
(−1)i+1ai1 det(Ci1) + (−1)i+1yi det(Ci1)

= associatividade da adição em
K; em (5), Ai1 = Ci1 = Bi1
i=1
n
X n
X e bi1 = yi e em (6),
(4) i+1
= (−1) ai1 det(Ci1) + (−1)i+1yi det(Ci1) novamente, a definição de
determinante.
i=1 i=1
n
X n
X
(5)
= (−1)i+1ai1 det(Ai1) + (−1)i+1bi1 det(Bi1)
i=1 i=1
(6)
= det(A) + det(B).
Seja 2 ≤ j !≤ n. Faremos indução! sobre n ≥ 2. Se ! n = 2, então
Nesse caso, j = 2.
a11 a12 a11 y1 a11 a12 + y1
A= ,B= ,C= e
a21 a22 a21 y2 a21 a22 + y2
 
det(C) = a11 a22 + y2 − a21 a12 + y1
= a11a22 + a11y2 − a21a12 − a21y1
 
= a11a22 − a21a12 + a11y2 − a21y1
= det(A) + det(B).
Seja n ≥ 3 e suponhamos a propriedade válida para as matrizes de
ordem n − 1. As matrizes Ci1, Bi1 e Ai1 têm ordem n − 1 e a (j − 1)-ésima
coluna de Ci1 é a soma das (j − 1)-ésimas colunas de Ai1 e Bi1. Por hipótese
de indução, det(Ci1) = det(Ai1) + det(Bi1) e
n Em (1) usamos a definição
(1) X
det(C) = (−1)i+1ci1 det(Ci1) de determinante; em (2), que
A1 = C1 ; em (3), a hipótese
i=1
n de indução; em (4), a
(2) X
= (−1)i+1ai1 det(Ci1) distributividade em K; em
(5), a comutatividade e
i=1 associatividade da adição em
n
X
(3) K e em (6), que B1 = A1 e a
(−1)i+1ai1 det(Ai1) + det(Bi1)

= definição de determinante.
i=1

21 UFF
Instituto de Matemática
Determinantes sobre corpos
Álgebra Linear II

n
X
(4)
(−1)i+1ai1 det(Ai1) + (−1)i+1ai1 det(Bi1)

=
i=1
n n
(5) X i+1
X
= (−1) ai1 det(Ai1) + (−1)i+1ai1 det(Bi1)
i=1 i=1
(6)
= det(A) + det(B). 

Corolário 5
Se A ∈ Mn×n(K), onde K é um corpo, tem uma coluna nula, então det(A) =
0.
Demonstração: Segue imediatamente da Proposição anterior item (b). 

Vale propriedade análoga à Observação 1, onde linhas são substituı́das


por colunas.
Observação 2: Da Proposição 6 segue que o determinante, como uma função
das colunas da matriz, é K-linear em cada coluna.
Nesse caso, todas as colunas
diferentes da j-ésima estão
De fato, sejam B, C e A matrizes com todas as colunas iguais, exceto
fixas. Estamos variando a j-ésima, onde Bj = Xj, Cj = Y j e Aj = Xj + aY j, tal que a ∈ K. Digamos
apenas a j-ésima coluna.
que B = (A1, . . . , Xj, . . . , An) e C = (A1, . . . , Y j, . . . , An).
Seja A = (A1, . . . , Xj + aY j, . . . , An), onde a ∈ K. Então,
det(A) = det(A1, . . . , Xj + aY j, . . . , An)
= det(A1, . . . , Xj, . . . , An) + det(A1, . . . , aY j, . . . , An) .
= det(B) + a det(C)

Lema 2
Se A = (aij) ∈ Mn×n(K), onde K é um corpo, tem duas colunas consecutivas
iguais, então temos det(A) = 0.
Demonstração: Deixamos a demonstração a cargo do leitor. 

Proposição 7
Seja A = (aij) ∈ Mn×n(K), onde K é um corpo. Se B for a matriz obtida
de A trocando de posição duas colunas e mantendo as outras colunas de A,
então det(B) = − det(A).
Demonstração: Deixamos a demonstração a cargo do leitor. 

Corolário 6
Seja A = (aij) ∈ Mn×n(K), onde K é um corpo. Se A tem duas colunas
iguais, então det(A) = 0.
Demonstração: Deixamos a demonstração a cargo do leitor. 

UFF 22
M. L. T. Villela
Determinantes sobre corpos
PARTE 1 - SEÇÃO 1

Corolário 7
Seja A ∈ Mn×n(K), onde K é um corpo. Se B for obtida de A substituindo
a coluna Ai por Ai + cAj, onde j 6= i e c ∈ K, e mantendo as outras colunas
de A, então det(B) = det(A).
Demonstração: Deixamos a demonstração a cargo do leitor. 

Obtemos também o seguinte resultado muito importante.

Corolário 8 (Fórmula de Laplace por colunas)


Seja A = (aij) ∈ Mn×n(K), onde K é um corpo e n ≥ 2, e seja Aij o menor
de aij. Então, para cada j = 1, . . . , n temos que
Xn O ı́ndce j está fixo, apenas i
det(A) = (−1)i+j aij det(Aij), varia de 1 a n.
i=1
chamado de desenvolvimento de Laplace pela j-ésima coluna.
Demonstração: Se j = 1, então nada há a demonstrar. Seja n ≥ 2 e fi-
xemos j tal que 1 < j ≤ n. Seja B = (bik) a matriz obtida de A tro-
cando as colunas A1 e Aj de posição e mantendo as outras colunas. Assim,
A = (A1, . . . , Aj−1, Aj, . . . , An) e B = (Aj, A2, . . . , Aj−1, A1, . . . , An). Para
todo i = 1, . . . , n, temos bi1 = aij, a matriz Bi1 é obtida da matriz Aij pela
troca de j − 2 colunas consecutivas e det(Bi1) = (−1)j−2 det(Aij). Portanto,
da Proposição 7 e da definição do determinante,
det(A) = − det(B)
X n 
i+1
= − (−1) bi1 det(Bi1)
i=1
Xn 
i+1 j−2
= − (−1) ai1(−1) det(Aij)
i=1
n
X
= (−1)i+j aij det(Aij) 
i=1

Analogamente, usando as propriedades do determinante sobre as colu-


nas, Proposição 6 item (b), Proposição 7 e o Corolário 7, podemos calcular
o determinante a partir do processo de redução por colunas de uma matriz
com coeficientes em um corpo K.
Deixamos como Exercı́cio introduzir a definição de operação elementar
sobre as colunas de uma matriz e escrever resultados análogos à Proposição 3,
Corolário 4 e Proposição 4, substituindo operações elementares sobre linhas
por operações elementares sobre colunas.
Encerramos essa Seção com mais duas propriedades importantı́ssimas
do determinante.

23 UFF
Instituto de Matemática
Determinantes sobre corpos
Álgebra Linear II

Proposição 8
Seja A ∈ Mn×n(K), onde K é um corpo. Então, det(A) = det(At).
Demonstração: Faremos indução sobre n.
Se n = 1, então A = (a11) = At e, da definição de determinante,
det(A) = a11 = det(At).
Fixemos n > 1 e suponhamos o resultado válido para matrizes de ordem
n − 1. Seja A matriz de ordem n. Seja A1 a primeira coluna de A.
Suponhamos que A1 = 0. Então ai1 = 0, para i = 1, . . . , n, e
n
X X n
i+1
det(A) = (−1) ai1 det(Ai1) = (−1)i+1 · 0 · det(Ai1) = 0.
i=1 i=1
Como At tem a primeira linha nula, pelo Corolário 1, det(At) = 0. Logo,
det(A) = det(At).
Podemos supor que A1 6= 0. Seja k o menor inteiro positivo menor ou
igual a n, tal que ak1 6= 0. Sem perda de generalidade, podemos supor que
k = 1. De fato, caso contrário, k > 1. Tomamos à a matriz obtida de A
pela troca das linhas A1 e Ak e mantendo as outras linhas. Então, det(A) =
− det(Ã), ã11 = ak1 6= 0 e a matriz Ãt é obtida de At pela troca da primeira
e da k-ésima colunas e mantendo as outras colunas, portanto det(At) =
− det(Ãt). Basta mostrarmos que det(Ã) = det(Ãt), para concluirmos que
det(A) = det(At).
 
a11
 . 
Assim, podemos supor que A1 =  .. , com a11 6= 0. Seja B a
an1
matriz obtida de A, pela sequência de n − 1 operações elementares sobre as
linhas de A, substituindo Ai por Ai − aa11 i1
A1, para i 6= 1, e mantendo as
ai1
outras linhas. Então, Bi = Ai − a11 A1, para i 6= 1, e B1 = A1. Portanto,
 
a11 a12 · · · a1n  
b22 · · · b2n
 0 b22 · · · b2n 
 
 .. .. 
B =   .. .. ..  . Temos B11 =  . · · · . ,
 . . ··· . 
bn2 · · · bnn
0 bn2 · · · bnn
onde bij = aij − aa11
i1
a1j, para 2 ≤ j ≤ n e i 6= 1. Da Proposição 3, Corolário
4 e da definição de determinante, temos det(A) = det(B) = a11 det(B11).
 
a11
 . 
Temos que a primeira coluna de At é  .. , com a11 6= 0. Seja
a1n
A = (cij). Então, c11 = a11 6= 0. Seja D a matriz obtida de At, pela
t

sequência de n−1 operações elementares sobre as colunas de At, substituindo

UFF 24
M. L. T. Villela
Determinantes sobre corpos
PARTE 1 - SEÇÃO 1

j j c 1
(At) por (At) − c11 1j
(At) , para j 6= 1, e mantendo as outras colunas. Então,
j c1j 1 1
Dj = (At) − c11 (At) , para j 6= 1, e D1 = (At) . Portanto,
 
a11 0 · · · 0  
d22 · · · d2n
 a12 d22 · · · d2n 
 
 .. .. 
D =   .. .. .. . Temos D11 =  . · · · . ,
 . . ··· . 
dn2 · · · dnn
a1n dn2 · · · dnn
c1j
onde dij = cij − c11 ci1, para 2 ≤ i ≤ n e j 6= 1. Do Corolário 7, da definição
de determinante e do Corolário 1, temos det(At) = det(D) = a11 det(D11).
Como, para 2 ≤ i ≤ n e j 6= 1, temos que
c1j aj1
dij = cij − c11 ci1 = aji − a11 a1i = bji.
Portanto, D11 = (B11)t e, por hipótese de indução, det(B11) = det((B11)t) =
det(D11). Logo,
det(A) = a11 det(B11) = a11 det(D11) = det(At). 

Corolário 9 (Fórmula de Laplace por linhas)


Seja A = (aij) ∈ Mn×n(K), onde K é um corpo e n ≥ 2, e seja Aij o menor
de aij. Então, para cada i = 1, . . . , n temos que
Xn O ı́ndce i está fixo, apenas j
det(A) = (−1)i+j aij det(Aij), varia de 1 a n.
j=1
chamado de desenvolvimento de Laplace pela j-ésima linha.
Demonstração: Seja At = (bji). Pela Proposição 8 e aplicando o Corolário
8 para calcular o determinante de At pelo desenvolvimento de Laplace pela
i-ésima coluna, temos
det(A) = det(At)
Xn
(−1)k+i bki det (At)ki

=
k=1 A matriz (At )ki obtida de
Xn At retirando-se a k-ésima
(−1)k+i aik det (Aik)t

= linha e a i-ésima coluna é a
transposta de Aik .
k=1
n
X
= (−1)k+i aik det(Aik) 
k=1

 
Exemplo 9 3 2 4
Vamos calcular o determinante de A =  5 0 6  ∈ M3×3(R).
 

3 0 1
A segunda coluna de A, entre as linhas e colunas, tem a maior quantidade
de elementos nulos. Faremos o desenvolvimento de Laplace pela 2a coluna.
Temos que

25 UFF
Instituto de Matemática
Determinantes sobre corpos
Álgebra Linear II

3
X
det(A) = (−1)i+2ai2 det(Ai2)
i=1
a22 = a32 = 0.
= −a12 det(A12) !
5 6
= (−2) · det
3 1
= (−2) · (5 − 18) = 26.
 
1 2 3 4
Exemplo 10  
 4 5 6 −1 
Vamos calcular o determinante da matriz A =   ∈ M4×4(R).

 7 0 0 3 

1 2 3 5
Faremos esse cálculo usando a fórmula de Laplace para o desenvolvimento
pela 3a linha, pois essa linha tem o maior número de elementos nulos entre
todas as linhas e colunas de A. Então,

4
X
det(A) = (−1)3+ja3j det(A3j)
j=1
a32 = a33 = 0. = a31 det(A31) − a34 det(A34)

 
2 3 4
Temos que A31 =  5 6 −1  e, desenvolvendo pela sua primeira linha,
 

2 3 5
temos
! ! !
6 −1 5 −1 5 6
det(A31) = 2 · det − 3 · det + 4 · det
3 5 2 5 2 3
= 2 · (30 − (−3)) − 3 · (25 − (−2)) + 4 · (15 − 12)
= 66 − 81 + 12 = −3

 
1 2 3
A matriz A34 =  4 5 6  tem duas linha iguais e det(A34) = 0. Logo,
 

1 2 3
det(A) = 7 · det(A31) = 7 · (−3) = −21.

Exercı́cios

1. Sejam A ∈ Mn×n(R) e k ∈ R. Determine det(kA) em função de


det(A).

UFF 26
M. L. T. Villela
Determinantes sobre corpos
PARTE 1 - SEÇÃO 1

2. Sejam A ∈ Mn×n(C). Determine det(iA) em função de det(A).

3. Seja A ∈ M4×4(R), tal que det(A) = 2. Determine, usando as propri-


edades:
(a) det(2A) (b) det(−A)

4. Seja A ∈ M3×3(R), tal que det(A) = −3. Determine, usando as pro-


priedades:
(a) det 21 A

(b) det(−A)

5. Sejam A ∈ M3×3(R). Determine o determinante de B em função do


determinate da matriz A:
 
ka kb kc
 
a b c
 d e f 
(a) A =  d e f  e B =   onde k, s, t ∈ R e
 
 t t t 
g h i sg sh si
t 6= 0.
   
2 3 4 4 6 8
(b) A =  0 1 2/3  e B =  0 3 2 .
   

1 3/5 4/5 5 3 4
   
1 2 0 −2 0 2
(c) A =  1 3 1  e B =  −3 3 2 .
   

1 4 −1 −4 3 2
 
2a 2b 2c
6. Sabendo que det(A) = 4, onde A =  d e f  ∈ M3×3(Q),
 

3g 3h 3i
calcule det(B):
   
a b c 2d g a3
(a) B =  d e f  (b) B =  2e h b3 
   

g h i 2f i c3
7. Mostre que o determinante de A é igual a zero, sem calcular o seu
determinante, onde a, b.c, x, y, z ∈ R:
   
a b 2c sen2 x cos2 x 1
(a) A =  a + x b + x c + x  (b) A =  sen2 y cos2 y 1 
   

a+y b+y c+y sen2 z cos2 z 1

8. Mostre que se A = (aij) ∈ Mn×n(K), onde K é um corpo, é uma matriz


diagonal, então det(A) = a11a22 · · · ann.

27 UFF
Instituto de Matemática
Determinantes sobre corpos
Álgebra Linear II

9. Mostre que se A = (aij) ∈ Mn×n(K), onde K é um corpo, é uma matriz


A é triangular inferior se, e
somente se, aij = 0, para triangular inferior, então det(A) = a11a22 · · · ann.
todo 1 ≤ i < j ≤ n.

10. Calcule det(A), onde A ∈ Mn×n(R):


   
2 0 5 1 4 −1 2 −2
 3 −1 0
 3 0 3 2 
  0 
(a) A =  (b) A = 
 
 
 7 5 4 6   2 3 1 0 
6 0 6 4 0 7 1 1
 
4 8 8 8 5
 
 0 1 0 0 0  2 0 −1
 
 
(c) A =  6 8 8 8 7  (d) A =  3 0 2 
 

 0 8 8 3 0  4 −3 7
 
0 8 2 0 0

11. Calcule det(A), reduzindo por linhas a matriz A a uma matriz trian-
gular superior, onde A ∈ Mn×n(C):
   
1 −4 2 1 0 x
(a) A =  −2 8 9  (b) A =  1 1 x2 
   

−1 7 0 2 2 x3
   
3 −1 2 −5 1 −3 1 −2
 0 5 −3 −6   2 −5 −1 −2 
(c) A =  (d) A =  .
   

 −6 7 −7 4   0 −4 5 1 
−5 −8 0 9 −3 10 −6 8
   
2 −8 6 8 0 −i −2 i
 3 −9 5 10   1 −1 i 1 
(e) A =  (f) A = 
   
 
 −3 0 1 −2   0 −1 1 −i 
1 −4 0 6 1 1 1 0

12. Mostre
 que det(A) 
= (b − a)(c − b)(c − a) , onde a, b, c ∈ R e
1 1 1
A=  a b c .
 

a2 b2 c 2

Y
13. Sejam x1, . . . , xn ∈ R. Mostre que det(A) = (xk − xj), onde
1≤j<k≤n

UFF 28
M. L. T. Villela
Determinantes sobre corpos
PARTE 1 - SEÇÃO 1

 
1 1 1 ··· 1 Essa matriz n por n é
x1 x2 x3 ··· xn conhecida como matriz de
 
 
Vandermonde. O Exercı́cio
x21 x22 x23 x2n
 
A= ··· .
anterior é o caso n = 3
.. .. .. .. ..
 
. . . . .
 
 
xn−1
1 xn−1
2 xn−1
3 · · · xn−1
n

14. Calcule det(A), sabendo que det(B) = 24, B é matriz quadrada com
coeficientes reais e foi obtida de A pela seguinte sequência de operações
elementares:

(1) substituindo a primeira linha por 6 vezes ela e mantendo as outra


linhas;
(2) substituindo a terceira linha por ela mais 2 vezes a segunda linha
e mantendo as outras linhas;
(3) trocando a primeira linha e a terceira de posições e mantendo as
outras linhas.

15. Seja A ∈ M4×4(R) cuja j-ésima linha é Aj, para j = 1, 2, 3, 4. Seja


 
A1 + 2A4
 −2A 
3
B= .
 
 3A4 + 2A1 
A2 + 2A3

(a) Mostre que A pode ser obtida de B por uma sequência finita de
operações elementares.

(b) Determine det(B), sabendo que det(A) = 30 2.

16. Determine se os vetores v1 = (5, −7, 9), v2 = (−3, 3, 5) e v3 = (2, −7, 5)


são linearmente dependentes ou linearmente independentes sobre R,
usando determinantes. Justifique sua resposta.

29 UFF
Instituto de Matemática
Determinantes sobre corpos
Álgebra Linear II

UFF 30
M. L. T. Villela
Determinante do produto e matrizes elementares
PARTE 1 - SEÇÃO 2

Determinante do produto e matrizes


elementares

Primeiramente, vamos estabelecer condições necessárias e suficientes


para uma matriz de ordem n ser invertı́vel.
Definição 4 (Cofatora e Adjunta clássica)
Seja A = (aij) ∈ Mn×n(K), onde K é um corpo e n ≥ 2. A matriz cofatora de
A, denotada por cof(A), é a matriz n por n com coeficientes em K definida
por

cof(A)ij = (−1)i+j det(Aij).

A matriz adjunta clássica de A, denotada por adj(A), é a matriz n por


n com coeficientes em K definida por

adj(A) = cof(A)t.
Exemplo 11 !
1 2
Consideremos a matriz A = em M2×2(R). Vamos determinar as
3 4
suas matrizes cofatora e adjunta clássica. Então,
! !
det(A11) − det(A12) 4 −3
cof(A) = = e
− det(A21) det(A22) −2 1
!
4 −2
adj(A) = cof(A)t = .
−3 1

Teorema 1 (Propriedade da adjunta clássica)


Seja A ∈ Mn×n(K), onde K é um corpo e n ≥ 2. Então,

A · adj(A) = adj(A) · A = det(A)I,

onde I é a matriz identidade n por n.


Demonstração: A matriz det(A)I é uma matriz diagonal n por n, com todos
os elementos da diagonal iguais a det(A). Vamos determinar os elementos
da matriz A · adj(A). Temos
n
X
(A · adj(A))ij = aik adj(A)kj
k=1
Xn
= aik cof(A)jk
k=1

31 UFF
Instituto de Matemática
Determinante do produto e matrizes elementares
Álgebra Linear II

n
X
= aik(−1)(j+k)det(Ajk)
k=1 
n
X (∗) det(A), se i = j
= (−1)(j+k)aikdet(Ajk) =
k=1
0, se i 6= j.

De fato, quando i = j, vemos que a expressão à esquerda de (∗) é o de-


senvolvimento de Laplace do determinante de A pela i-ésima linha. Quando
i 6= j, seja B a matriz com todas as linhas iguais às de A, exceto a j-ésima
linha que é Ai. Então, B tem duas linhas iguais Bj = Ai = Bi. Portanto,
det(B) = 0, onde
 
a11 a12 ··· a1n
 . .. .. 
 .. . ··· . 
 
 ai1 ai2 ··· ain 
 
 . .. .. 
B= .
 . . ··· . 
 ai1 ai2 ··· ain  ← j-ésima linha
 
 . .. .. 
 .
 . . ··· . 

an1 an2 · · · ann

Bjk = Ajk , para todo Vemos que a expressão à esquerda de (∗) é o desenvolvimento de Laplace
k = 1, . .. , n.
do determinante de B pela j-ésima linha.
O produto adj(A) · A = det(A)I é análogo e será deixado como Exer-
cı́cio. 
Corolário 10
Seja A ∈ Mn×n(K), onde K é um corpo. A é matriz invertı́vel se, e somente
se, det(A) 6= 0. Nesse caso, se n ≥ 2, então A−1 = (det(A))−1 adj(A).
Demonstração: O caso n = 1 é trivial. Se n ≥ 2, então o resultado segue de
imediato do Teorema 1 e da definição de inversa de uma matriz. 

Exemplo 12 !
1 2
Consideremos A = ∈ M2×2(R), a matriz do Exemplo 11. Então,
3 4
! !
4 −2 −2 1
det(A) = −2 e A−1 = − 21 adj(A) = − 21 = 3
.
−3 1 2
− 12

Exemplo 13 !
a b
Vamos determinar as matrizes cofatora e adjunta clássica de A = ,
c d
onde a, b, c, d ∈ K. Então,

UFF 32
M. L. T. Villela
Determinante do produto e matrizes elementares
PARTE 1 - SEÇÃO 2

! !
det(A11) − det(A12) d −c
cof(A) = = e
− det(A21) det(A22) −b a
!
d −b
adj(A) = cof(A)t = .
−c a
No caso em que det(A) = ad − bc 6= 0, pelo Corolário anterior, temos que
!
d −b
A−1 = (ad − bc)−1 adj(A) = (ad − bc)−1 .
−c a

Para mostrar que o determinante do produto de duas matrizes é o pro-


duto dos determinantes introduziremos o conceito de matrizes elementares.
Definição 5 (Matriz elementar)
Uma matriz E ∈ Mn×n(K) é chamada uma matriz elementar se, e somente
se, E é obtida da matriz identidade I ∈ Mn×n(K) por meio de uma única
operação elementar o sobre as linhas do tipo (I), ou (II), ou (III), conforme
a Definição 3. Nesse caso, E = o(I).
Corolário 11
Seja E = o(I) uma matriz elementar sobre K de ordem n. Então,

 −1, se o é do tipo (I), Li ↔ Lj,

det(E) = c, se o é do tipo (II), Li → cLi, c ∈ K, c 6= 0,


1, se o é do tipo (III), Li → Li + cLj, c ∈ K, i 6= j,
onde L1, . . . , Ln são as linhas da matriz identidade n por n.
Demonstração: Segue da Proposição 3 e do fato det(I) = 1. 
Exemplo 14
Consideremos M3×3(R).
 
1 0 0
Seja I =  0 1 0 . No que segue, L1, L2 e L3 são, respectivamente, as
 

0 0 1
linhas 1, 2 e 3 da matriz I.
 
1 0 0
E1 =  0 0 1  é obtida de I pela operação elementar o1 definida por
 

0 1 0
L2 ↔ L3. Temos E1 = o1(I) e det(E1) = −det(I) = −1.
 
1 0 2
E2 =  0 1 0  é obtida de I pela operação elementar o2 definida por
 

0 0 1
L1 → L1 + 2L3. Temos E2 = o2(I) e det(E2) = det(I) = 1.

33 UFF
Instituto de Matemática
Determinante do produto e matrizes elementares
Álgebra Linear II

 
−3 0 0
E3 =  0 1 0  é obtida de I pela operação elementar o3 definida por
 

0 0 1
L1 → −3L1. Temos E3 = o3(I) e det(E3) = −3 det(I) = −3.
Proposição 9
Seja A ∈ Mn×m(K), onde K é um corpo, então
(a) Se B é obtida de A por meio de uma única operação elementar, então
B = EA, onde E é a matriz elementar obtida de I ∈ Mn×n(K) por meio da
mesma operação elementar.
(b) Se E ∈ Mn×n(K) é uma matriz elementar e A ∈ Mn×n(K), então temos
det(EA) = det(E) det(A).
Demonstração:
(a) Primeiramente, seja {e1, . . . en} a base canônica de Kn, isto é, para cada
k = 1, . . . , n, ek = (0, . . . , 1, . . . 0) ∈ M1×n(K) tem a k-ésima coluna igual a
1 e as outras colunas iguais a 0. Observamos que, se A ∈ Mn×m(K), então
 
e1
 . 
ekA = Ak é a k-ésima linha de A. Além disso, I =  .. .
en
Faremos a demonstração dividindo em três casos.
Caso 1: Seja o a operação elementar do tipo (I) sobre as linhas de A, Ai ↔ Aj,
onde 1 ≤ i < j ≤ n e seja E = o(I). Então,
     
e1 e1A A1
 .   .   . 
 ..   ..   .. 
     
e e A A
     
 j   j   j 
 .   .   . 
.   .   . 
o(I) = E =   . , EA =  .  =  .  = o(A) = B.
 ei   eiA   Ai 
     
 .   .   . 
 .   .   . 
 .   .   . 
en enA An

Caso 2: Seja o a operação elementar do tipo (II) sobre as linhas de A,


Ai → cAi, onde c =
6 0, e seja E = o(I). Então,
 
e1
 . 
 .. 
 
o(I) = E =  cei ,
 
 . 
 .. 
 
en

UFF 34
M. L. T. Villela
Determinante do produto e matrizes elementares
PARTE 1 - SEÇÃO 2

   
 
e1A e1A A1
 ..   .
..
  .
  ..


 .  
   


EA =  (cei)A  =  c(eiA)  =  cAi  = o(A) = B.
     
 ..   ..   .
  ..


 .  
  .  


enA enA An

Caso 3: Seja o a operação elementar do tipo (III) sobre as linhas de A,


Ai → Ai + cAj, onde c ∈ K, i 6= j, e seja E = o(I). Então,
 
e1
 .. 

 . 

o(I) = E =  ei + cej ,
 
 .. 

 . 

en
     
e1A e1A A1
 ..   ..   .. 

 .  
  .  
  . 

EA =  (ei + cej)A  =  eiA + (cej)A  =  Ai + cAj  = o(A) = B.
     
 ..   ..   .. 
. . .
     
     
enA enA An

(b) Segue imediatamente de o(A) = EA, da Proposição 3 e do Corolário 11,


comparando det(EA) com det(E) det(A). 
 
Exemplo 15 1 2 3
Consideremos A =  4 5 6  ∈ M3×3(R) e a operação elementar o defi-
 

7 8 9
nida por L3 → L3 − 2L1. Então,
   
1 0 0 1 2 3
E = o(I) =  0 1 0  e o(A) =  4 5 6  = EA.
   

−2 0 1 5 4 3

Corolário 12
Seja A ∈ Mn×m(K). Se B = os(. . . (o1(A) . . .)) ∈ Mn×m(K), onde o1, . . . , os
é uma sequência de operações elementares, Ej = oj(I), com I ∈ Mn×n(K),
j = 1, . . . , s, então B = Es · · · E1A.
Demonstração: Faremos indução sobre s ≥ 1. O caso s = 1 segue do item
(b) da Proposição 9. Suponhamos que s ≥ 1 e o resultado seja válido para
s. Sejam os+1 uma operação elementar, Es+1 = os+1(I), onde I ∈ Mn×n(K),
e B = os+1(os(. . . (o1(A) . . .))), A ∈ Mn×m(K), então

35 UFF
Instituto de Matemática
Determinante do produto e matrizes elementares
Álgebra Linear II

(1)
Em (1) usamos o item (a) da os+1(os(. . . (o1(A) . . .))) = Es+1(os(. . . (o1(A) . . .))
Proposição 9; em (2), a (2)
hipótese de indução; em (3), = Es+1(Es · · · E1A)
a associatividade da (3)
= Es+1Es · · · E1A.
multiplicação de matrizes.

Portanto, o resultado vale para s + 1. Logo, vale para todo s ≥ 1. 

Corolário 13
Se E1, . . . , Es ∈ Mn×n(K) são matrizes elementares e A ∈ Mn×n(K), então
det(Es · · · E1A) = det(Es) · · · det(E1) det(A).
Demonstração: A demonstração é por indução sobre s. O caso s = 1 é o item
(b) da Proposição anterior. Suponhamos que s ≥ 1 e o resultado seja válido
para s. Sejam E1, . . . , Es+1 matrizes elementares. Então,

Em (1) usamos a (1)


associatividade do produto det(Es+1Es · · · E1A) = det(Es+1(Es · · · E1A))
de matrizes; em (2), o item (2)
(b) da Proposição 9; e em = det(Es+1) det(Es · · · E1A)
(3), a hipótese de indução. (3)
= det(Es+1) det(Es) · · · det(E1) det(A).

Portanto, o resultado vale para s + 1. Logo, vale para todo s ≥ 1. 

Corolário 14
Seja E ∈ Mn×n(K) uma matriz elementar. Então, E é invertı́vel e E−1 é uma
matriz elementar.
Demonstração: Segue do Corolário 11, que se E é matriz elementar, então
det(E) 6= 0 e, pelo Corolário 10, E é invertı́vel. Para mostrar que a inversa
de E é elementar dividimos em três casos.
Caso 1: Seja E = o(I), onde o é a operação elementar do tipo (I), Li ↔ Lj.
É claro que o(E) = I. Pela Proposição anterior, EE = o(E) = I, mostrando
que E−1 = E é matriz elementar.
Caso 2: Seja E = o(I), onde o é a operação elementar do tipo (II), Li → cLi,
onde c 6= 0. Seja o′ a operação elementar, também do tipo (II), Li → c−1Li
e seja F = o′ (I). É claro que o(F) = I e o′ (E) = I. Segue da Proposição
anterior, respectivamente, que EF = o(F) = I e FE = o′ (E) = I, mostrando
que E−1 = F é uma matriz elementar.
Caso 3: Seja E = o(I), onde o é a operação elementar do tipo (III),
Li → Li + cLj, onde c ∈ K. Seja o′ a operação elementar, também do tipo
(III), Li → Li − cLj, e seja F = o′ (I). É claro que o(F) = I e o′ (E) = I. Segue
da Proposição anterior, respectivamente, que EF = o(F) = I e FE = o′ (E) = I,
mostrando que E−1 = F é uma matriz elementar. 

UFF 36
M. L. T. Villela
Determinante do produto e matrizes elementares
PARTE 1 - SEÇÃO 2

Quando A ∈ Mn×n(K) é uma matriz invertı́vel, pelo Corolário 10,


temos A−1 = det(A)−1 adj(A). Vamos agora descrever A−1 por meio de
matrizes elementares.
Corolário 15
Se A ∈ Mn×n(K) é invertı́vel, então A−1 = Es · · · E1, onde Ej é matriz ele-
mentar, Ej = oj(I), j = 1, . . . , s, e o1, . . . , os é uma sequência de operações
elementares sobre as linhas de A, tal que os(. . . (o1(A)) . . .) = I ∈ Mn×n(K)
é a matriz reduzida por linhas à forma em escada equivalente a A.
Demonstração: Quando A ∈ Mn×n(K) é uma matriz invertı́vel, os sistemas
 
x1
 . 
AX = ejt, j = 1, . . . , n têm uma única solução, onde X =  .. . Sejam
xn
 
c1j
. 
Cj =  ..  ∈ Mn×1(K) as soluções desses sistemas, para j = 1, . . . , n.

cnj
Tomando C = (C1, C2, . . . , Cn), a matriz n por n cujas colunas são Cj, para
j = 1, . . . , n, temos que

AC = (AC1, AC2, . . . , ACn) = (e1t, e2t, . . . , ent) = I.

A matriz C é a inversa de A. Nesse caso, a matriz reduzida por linhas


à forma em escada equivalente a A é a matriz identidade I, n por n. Lembre que . . .
Seja o1, . . . , os uma sequência de operações elementares sobre as linhas a matriz reduzida por linhas
à forma em escada
de A tal que os(. . . (o1(A)) . . .) = I ∈ Mn×n(K). Sejam Ej = oj(I), j = equivalente a A é única, mas
1, . . . , s, as correspondentes matrizes elementares. Então, pelo Corolário 12, a sequência de operações
elementares sobre as linhas
temos de A não é única.

I = os(. . . o1(A) . . .) = Es · · · E1A.

Logo, A−1 = Es · · · E1. 

Observação: O Corolário anterior dá uma nova justificativa para o seguinte


algoritmo bem conhecido para o cálculo de A−1, onde A ∈ Mn×n(K):
(1) Construa a matriz (A|I) ∈ Mn×2n(K), chamada matriz aumentada.
(2) Seja o1, . . . , os uma sequência de operações elementares, tal que
I = os(. . . (o1(A)) . . .).
(3) Determine os(. . . (o1(A|I)) . . .) = (I|C).
(4) Faça A−1 = C.

37 UFF
Instituto de Matemática
Determinante do produto e matrizes elementares
Álgebra Linear II

Portanto, reduzimos por linhas a matriz aumentada, de modo a obter


à esquerda a matriz identidade e à direita temos a matriz A−1.
Finalizamos com uma aplicação aos determinantes do conceito de ma-
trizes elementares.
Proposição 10
Se A, B ∈ Mn×n(K), onde K é um corpo, então det(AB) = det(A) det(B).
Demonstração: Primeiramente, suponhamos que A seja uma matriz invertı́-
vel. Então, existe uma sequência de s operações elementares o1, . . . , os sobre
as linhas de A tal que os(. . . (o1(A) . . .) = I. Sejam E1, . . . , Es matrizes e-
lementares definidas por Ej = oj(I), para j = 1,. . . , s. Pelo Corolário 12,
Es · · · E1A = I. Logo, A = E1−1 · · · Es−1. Pelo Corolário 14, Fj = Ej−1, para
j = 1, . . . , s, também é matriz elementar. Logo,
A = F1 · · · Fs (⋆)
e
det(A) = det(F1 · · · Fs) = det(F1) · · · det(Fs), (⋆⋆)
onde a última igualdade segue do Corolário 13.
Assim,

(1)
det(AB) = det((F1 · · · Fs)B)
Em (1) usamos (⋆); em (2), (2)
a associatividade da
= det(F1 · · · FsB)
(3)
multiplicação de matrizes; = det(F1) · · · det(Fs) · det(B)
em (3), Corolário 13; em (4)
(4)
e (5), (⋆⋆). = det(F1 · · · Fs) det(B)
(5)
= det(A) det(B).

Suponhamos agora que A não seja invertı́vel. Nesse caso, det(A) = 0 e A


não é equivalente por linhas à matriz I. Logo, existe uma sequência de s
operações elementares sobre as linhas de A, o1, . . . , os, tal que a matriz R,
reduzida por linhas à forma em escada equivalente a A, tem pelo menos uma
linha nula. Logo, det(R) = 0. Seja Ej = oj(I), para j = 1,. . . , s. Então,
pelo Corolário 12, R = Es · · · E1A tem pelo menos uma linha nula. Assim, a
matriz RB tem pelo menos uma linha nula e

0 = det(RB)
(1)
Em (1) usamos a definição = det((Es · · · E1A)B)
de R; em (2), a (2)
associatividade da = det((Es · · · E1)(AB))
multiplicação de matrizes; (3)
em (3), o Corolário 13.
= det(Es) · · · det(E1) det(AB).

UFF 38
M. L. T. Villela
Determinante do produto e matrizes elementares
PARTE 1 - SEÇÃO 2

Pelos Corolários 13 e 11, temos que det(Es · · · E1) = det(Es) · · · det(E1) =


c 6= 0. Logo, 0 = det(RB) = c det(AB), com c 6= 0. Portanto, det(AB) =
c−1 · 0 = 0 = det(A) · det(B). 

Exercı́cios
 
2 1 −3
1. Dada A =  0 2 1  ∈ M3×3(R), calcule adj(A), det(A) e A−1.
 

5 1 3

2. Mostre que adj(A) · A = det(A)I, para qualquer A ∈ Mn×n(K), onde


K é um corpo.

3. Seja A ∈ Mn×n(R) tal que At = A−1. Mostre que det(A) = ±1.

4. Seja A ∈ Mn×n(C). Definimos B = A ∈ Mn×n(C) por bij = aij. Se z = a + bi ∈ C, então


z = a − bi.

(a) Mostre que det(A) = det(A).


t
(b) Mostre que se A = A−1, então | det(A)| = 1. Se z = a + bi ∈ C, então
√ √
| z |= z · z = a2 + b2 .

3
5. Sejam A, B ∈ M3×3(R) tais que det(A) = −4 e det(B) = 2. Deter-
mine det(A5 · B6).

6. Seja A ∈ M2×2(R) tal que det(3A3) = −72. Calcule det(2A2).

7. Seja A ∈ Mn×n(K), onde K = Q ou K = R ou K = C.

(a) Mostre que det(Am) = (det(A))m, para todo natural m ≥ 1.


(b) Seja A invertı́vel. Mostre que det(Am) = (det(A))m, para todo
inteiro m.

8. Sejam A1, . . . , Am ∈ Mn×n(K), onde K = Q ou K = R ou K = C.


Mostre que det(A1 · . . . · Am) = det(A1) · . . . · det(Am), para todo
natural m ≥ 1.

39 UFF
Instituto de Matemática
Determinante do produto e matrizes elementares
Álgebra Linear II

UFF 40
M. L. T. Villela
Regra de Cramer
PARTE 1 - SEÇÃO 3

Regra de Cramer

Um sistema linear de n equações a n incógnitas com coeficientes em um


corpo K, cuja matriz associada A tem determinante não nulo, admite uma
única solução. Vamos expressar a única solução em termos do determinante
da matriz A, conhecida como a Regra de Cramer.
Consideremos o sistema linear com coeficientes em um corpo K,


 a11x1 + a12x2 + · · · + a1nxn = b1


 a21x1 + a22x2 + · · · + a2nxn = b2
..


 .

 a x + a x + ···+ a x = b ,
n1 1 n2 2 nn n n

onde aij ∈ K, para 1 ≤ i, j ≤ n.


Seja A = (aij) ∈ Mn×n(K) a matriz associada ao sistema linear.
Pela Proposição 6 item (b), a multiplicação da k-ésima coluna de A
pelo escalar xk ∈ K multiplica o seu determinante por xk. Logo,
 
a11 a12 · · · a1kxk · · · a1n
 a21 a22 · · · a2kxk · · · a2n 
 
xk det(A) = det  .
 .. .. .. 
 . . . ··· . ··· . 

an1 an2 · · · ankxk · · · ann

Pelo Corolário 7, a adição de xi vezes a i-ésima coluna à k-ésima coluna


se i 6= k, não altera o determinante. Fazemos, sucessivamente, essas adições
para i = 1, . . . , k − 1, k + 1, . . . , n, obtendo que
 
a11 a12 · · · a11x1 + · · · + a1nxn ··· a1n
a21 a22 · · · a21x1 + · · · + a2nxn ··· a2n
 
 

xk det(A) = det  .. .. .. .. 
. . ··· . ··· .

 
 
 an1 an2 · · · an1x1 + · · · + annxn ··· ann 
| {z }
k−ésima coluna

 
a11 a12 · · · b1 ··· a1n
a21 a22 · · · b2 ··· a2n
 
 

= det  .. .. .. .. 
. . ··· . ··· .

 
 
 an1 an2 · · · bn ··· ann 
|{z}
k−ésima coluna

Logo,

41 UFF
Instituto de Matemática
Regra de Cramer
Álgebra Linear II


det A1 · · · B · · · An
xk = ,
det(A)

 
b1
 . 
onde Aj é a j-ésima coluna de A , B =  ..  e A1 · · · B · · · An é a matriz


bn
obtida de A substituindo a k-ésima coluna por B. 

Exemplo 16
Consideremos o sistema linear com coeficientes reais

 −x + 2y + 3z = 1

y+z=2


2x + y = 3
   
−1 2 3 1
A matriz associada ao sistema é A =  0 1 1  e B =  2 . Temos
   

2 1 0 3
! !
1 1 2 3
det(A) = −1 det + 2 det = −1 · (−1) + 2 · (2 − 3) = −1.
1 0 1 1
 
1 2 3 ! !
2 1 1 2
det(BA2A3) = det  2 1 1  = 3 det − det = 2,
 
3 1 3 1
3 1 0
 
−1 1 3 ! !
2 1 1 3
det(A1BA3) = det  0 2 1  = −1 det + 2 det = −7,
 
3 0 2 1
2 3 0
 
−1 2 1 ! !
1 2 2 1
det(A1A2B) = det  0 1 2  = −1 det + 2 det = 5.
 
1 3 1 2
2 1 3

Logo, x = −2, y = 7 e z = −5.

Exercı́cios

1. Resolva os sistemas com coeficientes reais, usando a Regra de Cramer:


 
2x + 3y = 1 ax − 2by = c
(a) (b) , com a · b 6= 0
x + 4y = −2 3ax − 5by = 2c

UFF 42
M. L. T. Villela
Regra de Cramer
PARTE 1 - SEÇÃO 3

 
 2x + y = 1
  x − 2y + z = 1

(c) x + 2y + z = 0 (d) 2x + y = 3

 

y + 2z = 0 y − 5z = 4

 
 5x + 2y − 3z + 9w = 0
 2x + 3y − z = 1
 
 −3y + 9z − 1 w = 0
3
(e) 3x + 5y + 2z = 8 (f)

 

 −2z + w = 0
−x + 2y + 3z = 1 
w=1
 
 x+y+z=6
  x+y−z=4

(g) 2x − 2y − 2z = −8 (h) 2x + y + 2z = 10

 

3x − y + z = 4 3x − y − 2z = 5
 
 x + 2y + z = 4
  x + 2y = 6

(i) 2x − y = 1 (j) y−z=0

 

x + 3z = 4 2x + y − z = 4
 
b1
 . 
6 0, B =  ..  ∈ Mn×1(K),
2. Sejam A ∈ Mn×n(K), tal que det(A) =
bn
 
x1
 .. 
X =  .  matriz das incógnitas e consideremos o sistema AX = B.
xn
Com o roteiro a seguir, dê uma nova demonstração da Regra de Cramer.

(a) Usando que adj(A) · A = det(A)I, mostre que det(A)X = adj(A) · B.


(b) Mostre que (adj(A) · B)k1 = det(A1, . . . , B, . . . , An), para todo
k = 1, . . . , n, onde (A1, . . . , B, . . . , An) é a matriz de ordem n
com todas as colunas iguais às de A, exceto a k-ésima coluna que
é B.
(c) Usando o item (a) e a igualdade de matrizes, conclua que
det(A1 ,...,B,...,An )
xk = det(A)
.

43 UFF
Instituto de Matemática
Regra de Cramer
Álgebra Linear II

UFF 44
M. L. T. Villela

Você também pode gostar