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RESUMO
ABSTRACT
This article aims to discuss the connections between the concepts of rationality and
administrative discretionarity. In order to achieve that purpose, it is necessary to
Trabalho publicado nos Anais do XVII Congresso Nacional do CONPEDI, realizado em Brasília – DF
nos dias 20, 21 e 22 de novembro de 2008.
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understand how different theories of law are related to different conceptions of
rationality. According to a normativist point of view, sustained for instance in Kelsen’s
theory of law, there is not such thing as practical rationality, so the concept of
rationality is reduced to the concept of theorical rationality, which serves only to
describe the law. From a different perspective, which may be called post-positivist, it is
recognized that practical reason guides the interpreter to decide correctly. However, in
the post-positivist field, there is no consensus about practical reason’s role, since
Dworkin believes it is possible to find always only one correct answer, while
discoursive theories deny that possibility. By studying the evolution of administrative
discretionarity concept, it is found three elements: margin of free decision, juridical
duty-power and balance. Comparing those elements with the different conceptions of
rationality, it can be remarked that a positivist conception of rationality makes the
margin of free decision stronger, while a post-positivist conception may reduce it until
zero. Therefore, in accordance with the conception of rationality adopted, there are
different practical consequences with regard to judicial review of discretionary activity.
A positivist judge would allow himself to invalidate a administrative act, but would
refuse to replace it. A post-positivist judge, for his part, would consider perfectly
possible not only to invalidate, but also to replace a admnistrative act, if it is rationaly
required. After critical evaluation, it is concluded that the post-postivist point of view
based on a discoursive theory should be accepted.
Introdução
Este artigo tem por objetivo discutir as relações entre as concepções de racionalidade
presentes em teorias do direito positivistas e pós-positivistas e o conceito de
discricionariedade administrativa.
1 Concepções de racionalidade
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A relação entre racionalidade e decisão jurídica constitui um dos temas mais relevantes
da teoria do direito. Conforme o referencial teórico adotado, o papel da racionalidade no
discurso de aplicação do direito apresenta contornos distintos. Propõe-se, neste estudo,
destacar as concepções de racionalidade nas perspectivas do positivismo jurídico
normativista, assim como no âmbito das teorias pós-positivistas.
De forma semelhante, Hart entende que a aplicação do direito, dada a textura aberta das
normas jurídicas, não prescinde da complementação discricionária do órgão aplicador, o
que caracteriza a doutrina da legislação intersticial.[3]
Com seus estudos sobre a tópica, Viehweg explora uma técnica de argumentação
jurídica orientada aos problemas,[6] que são examinados a partir de diversos pontos de
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vista, a fim de que se extraiam soluções. Dessa maneira, torna-se claro o caráter
controvertido dos casos difíceis.
Por sua vez, Perelman procura conferir racionalidade às discussões jurídicas, que se
situam no terreno da argumentação,[7] ao predicar caráter materialmente lógico à
retórica. Uma determinada solução, para a uma questão jurídica difícil ou não, seria
racional se conseguisse obter a adesão espiritual do auditório universal. Supera-se,
assim, a concepção cartesiana de racionalidade.
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2.1 Evolução histórica do conceito de discricionariedade
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Ora, se o exercício da discricionariedade administrativa deve ser pautado pela força
normativa das normas com estrutura de princípios, freqüentemente será necessário o
recurso a ponderações entre os princípios,[16] cujas possibilidades jurídicas de
realização se restringem mutuamente.
Prestigia o elemento da margem de livre decisão o conceito proposto por Maria Sylvia
di Pietro, que é vazado nos seguintes termos:
faculdade que a lei confere à Administração para apreciar o caso concreto, segundo
critérios de oportunidade e conveniência, e escolher uma entre duas ou mais soluções,
todas válidas perante o direito.[19]
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Se se admite que a administração pode escolher entre alternativas juridicamente válidas,
qualquer solução por ela adotada será conforme ao direito, desde que se atenha a uma
das possibilidades jurídicas válidas. Conseqüentemente, haverá vício de
discricionariedade, se a solução eleita pelo administrador desbordar os limites da
moldura normativa.
Nesse sentido, a definição elaborada por Celso Antônio Bandeira de Mello, em cujos
termos:
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3 Concepções de racionalidade e discricionariedade administrativa
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Sendo assim, no conceito de discricionariedade, não estaria presente o elemento da
margem de livre decisão, sempre que a competência discricionária se deixasse regular
por princípios. Não disporia, portanto, o administrador de qualquer faculdade para a
eleição das possibilidades de decisão, já que somente uma delas seria, na realidade,
juridicamente válida.
Nos casos em que a atuação administrativa fosse pautada por princípios, em verdade
não haveria discricionariedade, vez que seria reduzida a zero,[26] haja vista que
somente uma solução seria correta, de modo a suprimir-se por completo a margem de
apreciação da administração pública.
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soluções, mesmo com as limitações promovidas pelo procedimento legislativo e pelo
discurso jurídico.
Uma vez expostas as conseqüências da adoção de cada uma das teorias mencionadas
com referência ao conceito de discricionariedade administrativa, importa asseverar qual
teoria deve ser aceita.
Por sua vez, o racionalismo solipsista presente na teses dos direitos dworkiniana padece
de confiança excessiva na capacidade da racionalidade prática estabelecer qual a
solução correta. Somente uma teoria substantiva poderia fundamentar a prevalência de
certos princípios em relação a outros, mas esse tipo de teorização não se combina com
as sociedades pluralistas contemporâneas, regidas por Constituições democráticas.
Assim, o racionalismo hercúleo não deixa de ser uma idealização.
Conclusões
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1. No âmbito do positivismo normativista, reduz-se racionalidade à razão teórica, de
modo que a escolha das possibilidades jurídicas se dá por um ato de vontade.
Referências
ALEXY, Robert. Begriff und Geltung des Rechts. 4. ed. München: Karl Alber GmbH,
2005.
5640
. La institucionalización de la justicia. Trad. de José Antoneo Seoane, Eduardo
Roberto Sodero e Pablo Rodríguez. Granada: Comares, 2005.
HABERMAS, Jürgen. Faktizität und Geltung: Beiträge zur Diskurstheorie des Rechts
uns des demokratischen Rechtsstaats. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1998.
HART, H.L.A. The concept of law. 2. ed. New York: Oxford, 1997.
5641
KELSEN, Hans. Teoria geral das normas. Trad. de José Florentino Duarte. Porto
Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1986.
. Teoria pura do direito. Trad. de João Baptista Machado. São Paulo: Martins
Fontes, 2000.
5642
TOURINHO, Rita. Discricionariedade administrativa: ação de improbidade e controle
principiológico. Curitiba: Juruá, 2006.
[1] KELSEN, Hans. Teoria geral das normas. Trad. de José Florentino Duarte. Porto
Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1986. p. 10, “Por meio da razão podem-se conhecer as
normas estabelecidas por uma autoridade através de atos de vontade, podem-se produzir
conceitos, mas não se podem produzir normas”.
[2] Id. Teoria pura do direito. Trad. de João Baptista Machado. São Paulo: Martins
Fontes, 2000. p. 393, “A questão de saber qual é, de entre as possibilidades que se
apresentam nos quadros do Direito a aplicar, a ‘correta’, não é sequer – segundo o
pressuposto de que se parte – uma questão de conhecimento dirigido ao Direito
positivo, não é um problema de teoria do direito, mas um problema de política do
Direito”.
[3] HART, H.L.A. The concept of law. 2. ed. New York: Oxford, 1997. p. 272.
[5] ALEXY, Robert. Begriff und Geltung des Rechts. 4. ed. München: Karl Alber
GmbH, 2005. p. 17.
5643
[10] ALEXY, Robert. Theorie der juristischen Argumentation: die Theorie des
rationalen Diskurses als Theorie der juristische Begründung, Baden-Baden: Suhrkamp,
1991. p. 256.
[11] HABERMAS, Jürgen. Faktizität und Geltung: Beiträge zur Diskurstheorie des
Rechts uns des demokratischen Rechtsstaats. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1998. p.
187 e ss.
[15] Além das regras e dos princípios, o sistema jurídico é composto por procedimentos,
que são necessários, por exemplo, para aplicação da proporcionalidade, cf. ALEXY,
Robert. El concepto y la validez del derecho. Trad. de Jorge M. Seña. 2. ed. Barcelona:
Gedisa, 2004. p. 173.
[16] A estrutura da ponderação pode ser descrita com o auxílio de uma fórmula de peso,
cf. Id. Constitucionalismo discursivo. Trad. de Luís Afonso Heck. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2007. p. 131-153.
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[21] POLTRONIERI, Renato. Discricionariedade dos atos administrativos e a
ambigüidade da norma jurídica positiva. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002. p. 117,
“A discricionariedade seria pura e simplesmente o resultado da impossibilidade da
norma jurídica positiva poder determinar sempre, em todos os casos, qual a providência
que atende com precisão capilar à finalidade da regra de direito público. Tendo em vista
que a norma é finita em suas contingências, não pode identificar sempre, em todo e
qualquer caso, a providência idônea para atender com exatidão absoluta às necessidades
do administrado em comum”.
[22] Na mesma linha, José dos Santos Carvalho Filho sustenta: “o poder discricionário
reflete, ao mesmo tempo, um dever de agir (facere), ou seja, o poder e o dever de
escolher a conduta mais adequada à satisfação do interesse público”, cf. CARVALHO
FILHO, José dos Santos. A discricionariedade: análise de seu delineamento jurídico. In:
GARCIA, Emerson (Coordenador). Discricionariedade administrativa. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2005. p. 41.
[23] Nesse sentido, Juarez Freitas salienta: “Importa reiterar que as escolhas são
igualmente válidas somente em abstrato, presumida a constitucionalidade da norma que
as admite como tais. Já na justificativa das opções assumidas, no plano concreto,
impende verificar se a escolha, aparentemente válida, não se mostra transgressora dos
princípios, especialmente tendo em mente o direito fundamental à boa administração
publica”, cf. FREITAS, Juarez. Discricionariedade administrativa e o direito
fundamental à boa administração pública. São Paulo: Malheiros, 2007. p. 124.
[24] Para lidar com as normas com estrutura de princípios, o positivista, então, teria de
sustentar uma tese mais fraca que a tese da separação, precisamente a tese da
separabilidade, segundo a qual o direito poderia conter elementos morais, mas essa
circunstância seria meramente contingente, não seria conceitualmente necessária, como
defenderia um pós-positivista, como um representante não-positivista. Nesse sentido, v.
ALEXY, Robert. La institucionalización de la justicia. Trad. de José Antoneo Seoane,
Eduardo Roberto Sodero e Pablo Rodríguez. Granada: Comares, 2005. p. 20.
[26] MAURER, Hartmut. Allgemeines Verwaltungsrecht. 16. ed. München: C.H. Beck,
2006. p 142-143, “Discricionariedade significa que a Administração tem a escolha sobre
diferentes tipos de comportamento. No caso particular pode todavia a possibilidade de
escolha reduzir-se a uma alternativa. Então esse é o caso, quando somente uma decisão
é livre de vícios de discricionariedade, ao passo que todas as outras decisões conteriam
vícios de discricionariedade. O administrador é portanto obrigado a ‘escolher’ aquela
decisão remanescente. Fala-se nesses casos de ‘redução de discricionariedade a zero’,
ou de ‘diminuição da discricionariedade“. Traduziu-se. No original: “Ermessen
bedeutet, daβ die Verwaltung die Wahl zwischen verschiedenen Verhaltensweise hat. Im
Einzelfall kann sich jedoch die Wahlmöglichkeit auf eine Alternative reduzieren. Das ist
dann der Fall, wenn nur noch eine Entscheidung ermessensfehlerfrei ist, alle anderen
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Entscheidungen ermessensfehlerhaft wären. Die Behörde ist dann verpflichtet, diese
eine ihr noch verbleibende Entscheidung zu ‚wählen’. Man spricht in diesen Fällen von
‚Ermessensreduzierung auf Null’ oder ‚Ermessensschurumpfung’“.
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