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BRASILEIRA
E-book 3
Neste E-Book:
INTRODUÇÃO����������������������������������������������������������� 3
HISTÓRIA DA HISTORIOGRAFIA – A
CONSTRUÇÃO DA IDEIA DE BRASIL NO
SÉCULO 19������������������������������������������������������������������ 4
A construção da nacionalidade e o Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro (IHGB)����������������������������������������������������4
Von Martius e o manual da escrita da História���������������������11
Varnhagen e a “História Geral do Brasil” (1854-1857,
reeditada em 1877)�����������������������������������������������������������������16
Capistrano de Abreu e a nova forma de se escrever o
Brasil����������������������������������������������������������������������������������������22
Oliveira Vianna e uma interpretação do Brasil����������������������30
CONSIDERAÇÕES FINAIS����������������������������������� 35
SÍNTESE��������������������������������������������������������������������36
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS &
CONSULTADAS������������������������������������������������������� 37
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INTRODUÇÃO
Neste e-book você aprenderá sobre o desenvolvimen-
to historiográfico brasileiro na época do Modernismo
e do surgimento das vanguardas. A República Velha
(1889-1930) se caracterizou por ser um período con-
flituoso na História brasileira, ao mesmo tempo em
que foi muito fértil.
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A IDENTIDADE BRASILEIRA:
OS INTÉRPRETES DO
BRASIL
Com a Proclamação da República, em 1889, o Brasil
começou um novo regime político que, mesmo com
pouca participação popular, teve que se consolidar.
Isso ocorreu por meio da construção do “imaginário
da República”, como argumenta o historiador José
Murilo de Carvalho. A identidade nacional é um pro-
cesso sistematizado por diferentes agentes, isto é,
construído a partir de um ideal.
O Modernismo e a identidade
nacional brasileira – a influência
no fazer historiográfico
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pavimentando o caminho para a autonomia política
que ocorreu em 1822. Com o advento da República,
a disputa em relação ao controle da narrativa acerca
do passado e do presente se manteve. A busca era
por educar a população sobre o novo regime, por isso
que foi caracterizado a partir de símbolos, rituais e
mitos. A historiografia teve um grande papel nesse
momento de mudanças.
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zava ações pragmáticas contra a escravidão, como a
compra de cartas de alforria, por exemplo. O mesmo
Nabuco apresentou à Câmara dos Deputados, em
1879, um projeto para a abolição. Além disso, novas
correntes políticas surgiram questionando o poder
monárquico.
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FIQUE ATENTO
É fundamental você compreender que identidade
nacional, o próprio conceito de nação e as narrati-
vas patrióticas são uma construção do momento.
Por isso que o uso de literatura, por exemplo, é
fundamental para se estudar a História de qualquer
país. A dica para se aprofundar no Brasil Imperial e
no contexto do início da República é buscar os ex-
poentes do Naturalismo (como Aluísio de Azevedo)
e do Realismo (como Machado de Assis). Depois
de lê-los (indico O Cortiço, de 1890, e Memórias
Póstumas de Brás Cubas, de 1881), compare-os
com o movimento Parnasiano, que surgiu na dé-
cada de 1880. Esse exercício é ótimo para a sala
de aula e a interdisciplinaridade com a disciplina
de Português e Literatura Brasileira.
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espelhava nos Estados Unidos, enquanto os positivis-
tas mantinham o ideal progressista e causal. Dessa
forma, apesar do esforço da época de construir uma
narrativa conciliatória, a realidade era a do confronto.
Os primeiros presidentes enfrentaram problemas
constantes com a população e as elites provinciais.
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passado pré-colombiano, das civilizações, como as-
tecas, incas e maias, foi o norte argumentativo da
historiografia oitocentista. Dentre tantos pormenores,
a “grandeza” de determinados grupos foi escolhida
para representar o país. Se um povo era louvado,
outro era silenciado. Outro ponto importante é que
o indígena valorizado era o do passado e não o do
presente, pois as condições dessa população não
eram debatidas no século 19, apesar de seus ante-
passados serem exaltados nas páginas dos roman-
ces e dos textos historiográficos.
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Von Martius (1794-1868) mencionara a assimilação
das raças para se estudar a História brasileira. A in-
tegração dos indígenas à sociedade civilizada foi a
tônica do século 19, e parte desse esforço foi feito
pela literatura e pela historiografia. Assim, eles se
viam como “reabilitadores” da condição indígena.
Percebe-se, portanto, que os ecos de Von Martius
e do direcionamento do IHGB ainda se faziam pre-
sentes no início do século 20, no início do período
republicano.
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aprendeu que a identidade nacional é um processo
construtivo e estudar as especificidades da narrativa
é entender a historicidade da escrita da História.
SAIBA MAIS
Continuando as dicas literárias: Machado de
Assis (1839-1908) é considerado o maior escri-
tor brasileiro por vários motivos. Para a História,
sua descrição da época se torna um valioso docu-
mento acerca da sociedade imperial. Em todos os
seus romances existem personagens que se rela-
cionam às atividades comuns, sejam advogados,
confeiteiros, caixeiros viajantes etc. Para entender
melhor o papel de Machado como um “observador
do seu tempo”, confira a obra Machado de Assis,
historiador, de Sidney Chalhoub.
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O movimento Modernista e
os contextos históricos das
décadas de 1920 e 1930
Podcast 1
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Grande número dessas confissões, 45 em 120, refe-
rem-se ao pecado sexual. Na população relativamente
escassa da cidade do Salvador e do seu recôncavo, a
repetição dos casos de anormalidade patológica põe
claramente em evidência em que ambiente de dissolu-
ção e aberração viviam os habitantes da colônia. São
reinóis, franceses, gregos, e a turba mesclada da mes-
tiçagem – mamelucos, curibocas e mulatos – trazendo
ao tribunal da Inquisição os depoimentos dos seus
vícios: sodomía, tribadismo, pedofilia erótica, produtos
da hiperestesia sexual a mais desbragada, só própria
em geral dos grandes centros de população acumulada
(PRADO, 1981, p. 37).
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A década de 1920 foi um momento de transforma-
ções. O café já não gerava o mesmo lucro que anti-
gamente, tanto pela diminuição da demanda quan-
to pelo aumento da concorrência. A urbanização e
o crescimento das cidades também marcaram o
período. O Modernismo inspirava a crítica, o ques-
tionamento, mas propunha novos caminhos para a
política, a economia, a sociedade e a cultura. Para a
emergência de uma nova sociedade, uma nova visão
deveria se estabelecer.
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deu início aos confrontos diretos entre patrões e
operários, além de elucidar o processo de regula-
mentação do trabalho. O mesmo ocorreu no Brasil.
O ano de 1922 ficou marcado não só pela Semana de
Arte, mas também pela criação do Partido Comunista
Brasileiro, que trouxe uma nova face ideológica para
o cenário político. Para finalizar os exemplos, em
1924 surgiu a Academia Brasileira de Educação, um
local de debate sobre o desenvolvimento educacional
do país. Ou seja, um novo Estado era debatido desde
suas bases. A produção historiográfica foi atingida
por essa movimentação.
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ganharam força, ditando a tendência da centralização
política até o estabelecimento de um estado sem
direitos políticos. O Brasil experimentou isso com
a Ação Integralista Brasileira, que foi fundada em
1932 e se baseou nas premissas fascistas. A partir
de 1937, o país experimentou uma ditadura.
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Centros investigativos, como a Universidade de São
Paulo, foram formados, abrangendo a premissa das
ciências humanas, inclusive a História. Você viu até
aqui como a produção historiográfica ficava nas
mãos do IHGB, que representava a maneira tradi-
cional de fazer História, exaltando o documento e a
objetividade do historiador.
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Gilberto Freyre: o patriarcalismo,
a questão das raças e a
“democracia racial”
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patriarcado, que nada mais é do que a dominação do
homem tanto no âmbito cultural como social, político
e econômico. Além disso, Freyre destaca que a falta
de mulheres brancas ajudou no processo de miscige-
nação e manteve a hierarquia – é a “Casa Grande” – e
os filhos de escravas com seus senhores significa a
conexão com a “Senzala”. A dominação e a subordi-
nação foram as raízes da sociedade brasileira.
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volvida mais adiante. Em 1532 começou de fato a
colonização brasileira e, com ela, a monocultura e a
mão de obra escrava, daí entende-se sua base para
a construção do patriarcalismo.
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tífico, por deixar suas elucubrações falarem mais
alto do que as fontes, por exemplo. Contudo, sua
contribuição para os estudos brasileiros é inegável.
Sua obra se tornou um clássico por, entre outros pon-
tos, expor o patriarcalismo no Brasil. Sua abordagem
foi considerada original por destacar características
brasileiras, próprias do país, sem adaptar conceitos
internacionais.
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cial na sociedade brasileira. Foram os colonos, as
pessoas que vieram à América que mudaram seus
hábitos e construíram uma vida que deu espaço para
a colonização. Ele enfatiza, dessa forma, as relações
pessoais, o dia a dia, o laço entre senhores, empre-
gados e escravos.
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Vianna, que escreveu o livro Raça e assimilação em,
1932, no qual abordava a figura do negro e a misci-
genação como danosas ao desenvolvimento do país.
Ele pode ser classificado como parte dos estudos
eugenistas sobre as diferentes raças, perspectiva
que surgiu na Europa no século 19.
Podcast 2
23
Brasil não existisse a mesma brutalidade de outros
locais, como os Estados Unidos.
FIQUE ATENTO
Entre 1861 e 1865 os Estados Unidos viveram sua
única Guerra Civil. Nesse processo, Norte e Sul
entraram em conflito por diversos motivos, sendo
a escravidão um deles. O questionamento evoluiu
e, em nome da democracia e da liberdade, o pre-
sidente Abraham Lincoln (1809-1865) proclamou
a Emancipação dos escravizados. Porém, isso só
foi outorgado a partir de muita discussão em 1865
com a inserção da 13ª emenda na Constituição
Federal. Para entender as consequências da emen-
da e dos movimentos tomados posteriormente,
confira o documentário 13th, na Netflix.
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cada por décadas, mas apenas em 1964 a Lei dos
Direitos Civis foi assinada pelo presidente Lyndon
B. Johnson (1908-1973). Nesse período de conflitos
diretos pelo fim da segregação, o interesse sobre a
situação racial no Brasil cresceu entre os intelectuais
americanos. Aqui, uma antiga colônia escravocrata,
teria conseguido sair do sistema sem instituir uma
legislação da diferença. Porém, essa visão partia da
premissa legalista. Havia (e há) segregação no Brasil.
Em 2019, o IBGE divulgou algumas pesquisas que
solidificam as consequências de três séculos de es-
cravidão agravadas com a ideia de democracia racial.
Primeiro, 54% da população do Brasil se declara preta
ou parda, ao mesmo tempo que 68,6% dos cargos
de gerência são ocupados atualmente por brancos
e apenas 24,4% dos representantes políticos eleitos
em 2018 são pretos ou pardos.
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Em suma, assim se deu o surgimento das favelas,
e quem se destinou para esses locais eram, em sua
maioria, pretos e pardos (ou mestiços, como falavam
na época).
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vanguarda modernista, como Menotti del Picchia
(1892-1988) e Guilherme de Andrade de Almeida
(1890-1969). A intenção da publicação, como está
explícito no primeiro volume, era de ser atual, ela
mesma e a cara do novo país. Nas primeiras páginas
os editores explicitam que buscavam expandir e cor-
rigir conceitos expostos na Semana de Arte Moderna.
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Paraíso, sua principal tese, e se tornou professor da
Universidade de São Paulo.
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não era mais tão atrasado, mas havia um abismo
cultural que só era entendido por meio da História.
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ideia sobre a herança colonial. Neste caso, as rela-
ções entre público e provado são tão próximas que
o Estado não se distancia do homem e vice-versa.
O patriarcalismo da sociedade brasileira se funde
ao Estado burocrático, embaralhando as funções e
desequilibrando a relação. Isso significa que as ques-
tões de foro privado se tornam públicas porque essa
é a característica do cidadão brasileiro. O problema
se aprofunda quando as vontades particulares se
tornam a baliza para a esfera pública. O autor diz:
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inclusive no prefácio feito por Antonio Cândido – o
brasileiro aparenta ser gentil e bondoso, mas isso
se relaciona mais com o desequilíbrio emocional do
que com um traço de caráter. A grande consequên-
cia, para o autor, é a incapacidade do brasileiro de
desenvolver uma sociedade democrática, pois esta
pressupõe estipular e seguir regras.
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Caio Prado Júnior: a História e a
visão econômica sobre o Brasil
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imemoriais, porém, entregou uma “solução”. O comu-
nismo, levado depois de uma revolução que quebrava
com o modo de produção capitalista, seria o estado
no qual o povo governaria sem ser explorado pelos
detentores dos meios de produção. Mesmo que sua
teoria já tenha sido debatida profundamente, ela bus-
cava solucionar o problema vivido naquele presente.
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Todo povo tem na sua evolução, vista à distância, um
certo “sentido”. Êste se percebe não nos pormenores
de sua história, mas no conjunto dos fatos e acon-
tecimentos essenciais que a constituem num largo
período de tempo [...]. Se forma de uma linha mestra
e ininterrupta de acontecimentos que se sucedem em
ordem rigorosa, e dirigida sempre numa determinada
orientação (PRADO JÚNIOR, 1961, p. 13).
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cidade, ainda que fosse impactada por um todo. No
Brasil, a colonização foi a propulsora da exploração
agrária e da escravidão, duas atividades econômicas
que sustentavam o Antigo Regime português. Ou
seja, o autor aponta que o empreendimento portu-
guês não foi isolado ou um “golpe de sorte”.
FIQUE ATENTO
A matriz explicativa que contrapunha o tipo de co-
lonização exploratória e de povoamento foi contes-
tada por vários autores, sendo um deles Leandro
Karnal na compilação de textos encontrada em
História dos Estados Unidos. Ele discute como
a construção dos Estados Unidos se relaciona à
ideia de prosperidade e riqueza por mérito, o que se
refletiu nos estudos historiográficos. Vale a pena
ler os capítulos iniciais para entender tanto o caso
americano quanto o brasileiro, por comparação.
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A escravidão, outra parte da sua argumentação,
foi a principal característica na formação social do
Brasil. Seu uso está inserido no contexto da alta lu-
cratividade dos grandes latifúndios monocultores.
Novamente, o materialismo e a economia são as
bases da formação brasileira, expressa por ser es-
cravista. Um dos impactos dessa relação foi a falta
de trabalhos de médio porte, manuais, na colônia, já
que a maioria dos esforços se voltavam para a mo-
nocultura – principalmente do açúcar –, a atividade
lucrativa. Porém, a sociedade era diversa, com indí-
genas, mestiços, sertanejos e boa parte não tinham
função ali. As profissões liberais, como advogados
e médicos, eram ocupadas por uma minoria.
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mais se queria dele, e nada mais se pediu e obteve que
a sua fôrça bruta, material. Esfôrço muscular primá-
rio, sob a direção e açoite do feitor. Da mulher, mais a
passividade da fêmea na cópula. Num e noutro caso,
o ato físico apenas, com exclusão de qualquer outro
elemento ou concurso moral. A “animalidade” do ho-
mem, não a sua “humanidade” [grifo do texto] (PRADO
JÚNIOR, 1961, p. 270).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Movimento Modernista da década de 1920 pavi-
mentou o caminho da contestação, do questiona-
mento e das soluções para um Brasil em transfor-
mação. Os grandes intelectuais da década de 1930
assumiram a partir desse processo de transição.
Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Caio
Prado Júnior formam a tríade das ciências humanas
que abordou a História e debateu raça, sociedade,
economia e cultura. Freyre ficou conhecido por sua
ideia de democracia racial. O conceito determinou
a forma como o brasileiro lidou com a questão das
diferenças raciais, como elas se estendem às classes
sociais e afetam o desenvolvimento do país.
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SÍNTESE
HISTORIOGRAFIA
BRASILEIRA
A IDENTIDADE BRASILEIRA:
OS INTÉRPRETES DO BRASIL
• “Redescobrimento do Brasil”
• Identidade Nacional: construção de uma ideia de Brasil�
• Geração Modernista de 1930: Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado
Júnior