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Aulas IV e V: A sociologia de Werner Sombart: o fenômeno página

histórico do capitalismo, o burguês e a sociedade capitalista

I – A noosociologia de Werner Sombart 2

II – O senso da cultura, da sociedade e da técnica para 6


Sombart

III – O espírito do capitalismo 10

IV – O burguês. Contribuição à história espiritual do homem


econômico moderno (1913) 18

“A palavra “Ocidente” oculta um singular destino. Indica a terra do


ocaso, da terra do crepúsculo. Mas em que sentido a nossa civilização é
uma chama destinada a extinguir-se, como o sol que se põe no início da
noite? Em que sentido e porquê o nosso é um mundo senil, envelhecido,
exausto? Perante à angústia da dor e do terrível nascer e morrer das
coisas, o Ocidente inventou múltiplos remédios. Primeiramente, a fé em
um Deus eterno, que sustenta o mundo e recompensa o sofrimento. E,
posteriormente, um aparato científico, que usa para vantagem própria a
transformação das coisas através da manipulação. Fé e ciência são os
dois territórios nos quais o Ocidente desenvolveu a sua força.
Atualmente, pedimos à ciência e à técnica o que outrora se pedia a um
deus: saúde, força, felicidade, salvação. A técnica é o último deus, o
último demiurgo, a última tentativa de dominar o mundo e domesticar o
horror da morte. A história do Ocidente é a história que repete um
idêntico e antigo gesto, a vontade ou a loucura com a qual Adão desejou
ser igual a Deus.”
Valerio Verra, O ocidente está em declínio?

“A Economia Política, considerada como um setor da ciência própria de


um estadista ou de um legislador, propõe-se a dois objetivos distintos:
primeiro, prover uma renda ou manutenção farta para a população ou,
mais adequadamente, dar-lhe a possibilidade de conseguir ela mesma
tal renda ou manutenção; segundo, prover o Estado ou a comunidade
de uma renda suficiente para os serviços públicos. Portanto, a
Economia Política visa a enriquecer tanto o povo quanto o soberano.”

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“Todo esbanjador é um inimigo do público, e toda pessoa frugal é um
benfeitor do público.”

“As casas, o mobiliário, o vestuário dos ricos ao fim de algum tempo


acabam por se tornar úteis às classes médias e inferiores da população.
Estas podem comprar esses bens quando os seus superiores se fartam
deles, pelo que as condições de vida de toda a população melhoram
assim gradualmente (...) Aquilo que foi em tempos uma casa da família
Seymour é hoje uma estalagem situada na estrada de Bath. O leito
nupcial de Jaime I da Grã-Bretanha, que a rainha trouxe da Dinamarca
como presente de um soberano para outro soberano, ornamentava há
poucos anos uma cervejaria de Dunfermline.”
Adam Smith, Investigação sobre a natureza e as
causas da riqueza das nações (1776)

I – A noosociologia de Werner Sombart

A sociologia como uma ciência do espírito (noo) visa observar,


refletir e compreender no ser humano suas manifestações físicas e
metais:

- do espírito
- do corpo
- da vida
- das formas de vida
- da pessoa
- da organização da sociedade
- da organização da cultura
- da organização da existência humano
- do povo.

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Em Do homem (1938) Sombart escreve que a sociologia tem como
tarefa fundamental compreender, interpretar, para poder explicar, o
humano em suas diversas formas e manifestações, organizações e
instituições. Conhecer o humano significa que,

“O homem tem desde sempre criado imagens para conhecer, ou


melhor, para conhecer-se, consciente de não ser nunca dado a si
mesmo e de uma vez por todas, mas ter que continuamente
definir, movido pela necessidade de agir, de realizar-se, de
contemplar-se através do próprio agir criativo.”

“...e está liberdade de poder decidir em plena autoridade não


pertence, portanto, ao animal, mas somente ao humano.”

Destacar

1) O ser humano é um ser que age porque pensa e pensa porque age: o
seu agir não é determinado inteiramente pelo instinto, mas composto
pela combinação de forças como as paixões, a vontade e o intelecto, o
que possibilita projetar mentalmente os meios da ação para realizar os
objetivos, as metas, os fins necessários e desejados. Para Sombart, a
diferença do agir humano e do agir animal está na essência do humano:
animal age por instinto e o humano age por objetivos.

2) O ser humano é capaz de criar o reino da liberdade (reino da vontade,


do espírito, no qual o ser humano toma uma decisão e age para realizá-
la), muitas vezes contrária ou acima do reino da necessidade (o reino da
natureza, da necessidade física da espécie que se repete continuamente).
O ser humano é um ser que cria imagens, sinais, instrumentos para
conhecer aquilo que os sentidos captaram e guardaram na memória: as
imagens das coisas e dos seres naturais. Para Sombart, o espírito do ser
humano pode ser observado em três pontos fundamentais:

a) é o ser que age livremente sobre a terra através de ações


eletivas.

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b) é o ser que se arrisca, corre riscos, que erra, que apreende, que
escolhe.

c) é o ser sempre insatisfeito.

3) A vontade e o intelecto do espírito humano são empiricamente


constatáveis. O ser humano é um ser que cria ações e imagens para
conhecer a realidade física, a cultura e a si mesmo. Na observação
curiosa das coisas e de si mesmo, o ser humano manifesta a capacidade
do agir criativo e a vontade de conhecer e de superar o indeterminado, o
vazio de sentido.

4) Se o ser humano não observar atentamente as coisas, os seres e a si


mesmo, logo, se ele não pensar e não agir, não tem a capacidade de
desenvolver a compreensão daquilo que foi, do que é e do que poderá vir
a ser.

5) O objetivo da noosociologia (noo significa em grego intelecto,


pensamento, mente, espírito) de Sombart é colher no “homem enquanto
tal” o sentido e o significado do seu pensar e do seu agir.

Para Sombart, a pergunta “que coisa é o homem” atravessa todo o


processo civilizatório. É uma pergunta que “é reposta em todo tempo e a
ela foram dadas repostas bem diversas” (Sombart, Noo-Sociologia. Obra
póstuma). Refletir sobre o homem implica em questionar as
manifestações do corpo e do intelecto: o sentido e o significado do agir
social e das formas de relacionamento, das vontades subjetivas dos
grupos e classes sociais, das instituições e das estruturas sociais.

Como uma ciência do espírito, a sociologia, deve ser capaz de


colher, explicar e interpretar a essência do ser humano no curso do
processo civilizatório, entender como a essência do ser humano pode
adquirir em diferentes espaços sociais e no curso do tempo histórico,
novas formas de vida e de relacionamento, de ação e criação cultural: a
essência do ser humano somente pode ser compreendida na

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investigação do sentido e do significado de suas ações, do seu agir
dentro do mundo, da sua intenção, vontade, desejo, necessidade,
sonho, fantasia, interesse.

A ação humana não pode ser explicada exclusivamente por


motivos psicológicos. Para Sombart, o agir humano não é determinado
exclusivamente pelas pulsões, mas também é fruto da vontade que
possui uma intenção, dos valores que sustentam e dirigem o sentido do
agir humano na natureza e na cultura. O agir humano é sempre
orientado espiritualmente, isto é, não existem motivos que não estejam
enquadrados em uma determinada conexão de sentido, em um sistema
de relações espirituais.

Para Sombart, o espírito é “aquilo que há de humano no homem”.


O espírito, contraposto ao corpo e a alma, permite ao ser humano se
contrapor a si mesmo e a natureza e, posteriormente, as próprias
objetivações realizadas no curso da vida pessoal e social. A vida é uma
existência que pode ser privada de uma dimensão espacial enquanto
zoé – a vida natural impulsionada pelo corpo –, mas pode também vir a
ser mais vida, bios – vida da pessoa como sujeito. Enquanto espírito, as
manifestações humanas podem superar os limites da dimensão espacial
e temporal, projetando-se em sempre novas formas de existência, de
vontade, de manifestações.

O espírito não é uma entidade metafísica de qualquer natureza,


nem uma coisa. O espírito é o título para as atividades humanas, para a
capacidade do ser humano em construir a si mesmo através da
experiência cada vez menos natural, sempre mais fruto da vontade
humana em querer saber, poder fazer, ser capaz de criar e transformar
a matéria das coisas em matéria-prima para novos engenhos e
edificações, instrumentos e máquinas, obras econômicas, políticas e
culturais. O espírito determina o senso da ação humana, sua
capacidade funcional de agir e criar novas coisas e sua própria
humanidade.

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O espírito em suas diversas manifestações revela que não se pode
definir o ser humano metafisicamente, mediante um princípio que
determine suas faculdades inatas e instintivas em uma forma de vida
invariável. As manifestações espirituais revelam que o ser humano não
tem uma natureza fixa, invariável, mas, ao contrário, que o ser humano
deve ser compreendido pelo senso do seu agir, por suas obras.

“Ocorre habituarmos com a ideia de que o espírito faz parte da


existência humana, a qual não é concebível sem o espírito. A
existência humana é, em todo instante, a existência do espírito.
Não existe homem sem espírito, nem pensamento, nem
sentimento, nem atividade sem espírito. O homem é impregnado
de espírito. É possível falar da onipresença ou ubiquidade do
espírito na existência humana.” (Sombart, As três economias
nacionais)

Sombart distingue a alma (ou a psique) do espírito, bem como


subordina a primeira a segunda. Os motivos do agir, no qual se baseia
a categoria causalidade e explicações formuladas através do entender
psicológico, não são jamais independentes do espírito. Como não o são
a cultura, a sociedade e a economia. As formações culturais não são
decorrentes das forças da psique, mas são essencialmente espirituais,
decorrerem das experiências subjetivas, dos valores concebidos, das
formas de vida e existência, das relações econômicas e políticas, das
simbologias culturais. Logo, o espírito humano se revela em forma
simbólica, em manifestações, em fenomenologias.

II – O senso da cultura, da sociedade e da técnica para Sombart

a) Cultura

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A cultura para Sombart tem um fundamento antropológico: é o
produto da objetivação do espírito através da ação humana. A cultura é o
espírito objetivado:

“Nós e nós somente somos os criadores da cultura e nos movemos


neste pequeno mundo como Deus no grande mundo. Neste nosso
mundo somos em realidade onipotentes e oniscientes.”

“É preciso que nos habituemos com a ideia de que o espírito faz


parte necessariamente da existência humana, a qual não é
concebível sem espírito. A existência humana é, em todo instante,
existência do espírito. Não existe homem sem espírito, nem
pensamento, nem sentimento, nem atividade sem espírito. O
homem é impregnado de espírito. Podemos falar da onipotência
ou da ubiquidade do espírito na existência humana.”

“...aquilo que produz a ato de vontade humano é o motivo.”

“Explicar de um ponto de vista genético causal um processo


cultural significa atribuir a ele um determinado motivo como seu
fundamento adequado.”

“Por cultura entendemos aqui toda a obra humana (...) Em todo


ato que deixa sinal durável, o homem produz cultura.”

“... o oposto de cultura não é a não-cultura, mas a natureza.”

Werner Sombart, Do
homem

A cultura, todas as formas de cultura, pode ser indagada e


conhecida sociologicamente:

1) explorando os elementos de sentido nos quais está contido o espírito


humano que pensou e agiu criando formas e imagens.

2) colhendo nas formas e nas imagens uma singular essencialidade, um


respectivo senso antropológico (o acúmulo de experiências) colher as

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necessidades e os interesses, as formas de experiência, as evidências
das formas de existência para poder entender o humano.

3) entendendo o senso e da essência da natureza externa, da natureza


interna e da cultura, o que passa necessariamente pelo humano.

A essência da natureza e da cultura podem ser compreendidas


cientificamente, bem como, o ser humano pode também sê-lo. Colher a
essência do humano significa colher as suas ações:

1) o significado do agir social e o sentido do agir social podem ser


colhidos e entendidos através da categoria da causalidade, das
conexões de senso e das conexões causais.

2) efetuar na investigação sociológica genética-causal: os motivos da


ação:

- os motivos não são exclusivamente psicológicos: o psicológico é


importante, mas não possui uma autonomia com relação à
realidade concreta e ao senso da sociedade;

- toda ação é sempre orientada espiritualmente: o espírito é o que


há de humano no homem.

- a economia, a política, a cultura, a religião, a arte, a


comunidade, a sociedade são formações essencialmente
espirituais: a sociologia deve se esforçar para colher as conexões
de senso que liga todo fenômeno ao todo.

b) Sociedade

A sociedade para Sombart é o conjunto de ações e relações que


tecem entre os seres humanos vínculos: 1) de estar unido (com, junto
de), 2) para (realizar um objetivo) e 3) de contradição (contra, as
necessidades e os interesses contrários dos seres sociais). Os seres
humanos estabelecem ligações, vínculos porque necessitam, mas
também, porque compreendem a importância comum das interações

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sociais: toda ação de um ser humano necessita de um outro ser humano:
logo, o ser humano somente pode se desenvolver no interior de uma
formação social. É possível dizer que o ser que se torna humano, em
toda e qualquer forma de sociabilidade, está ligado:

1) em alguma coisa: em construções coletivas como a família, os grupos


e as associações.
2) a alguma coisa: aos outros seres humanos.
3) por alguma coisa: aos meios existentes na formação sociais como a
língua, os símbolos, os valores, as ideias, as ideologias.

c) Técnica

Na investigação sociológica de Sombart das formas de cultura e


sociabilidade a técnica ocupa um lugar central. Por técnica Sombart
compreende:

1) o elemento fundamental que humanizou o ser humano e que


possibilitou a construção da cultura:

“...os homens são homens devido a técnica.”

“...a técnica é espírito.” (Do homem)

2) um processo que vincula os meios com os fins.

3) é uma força social que pode

- expandir e aperfeiçoar a ação humana, emancipando-a,


produzindo benefícios materiais para a sociedade.

- dominar o próprio ser humano, suprimir factualmente a


emancipação, tornando-o um apêndice, um objeto, um meio, um
ser que realiza atividades, um ser passivo, sem vitalidade e
espiritualidade – um funcionário.

- potencializar a lógica da destruição e criação, da criação e da


destruição de seres e de coisas, de formas de vida e de trabalho,
de seres humanos. A técnica por gerar catástrofes e tragédias na
natureza (degradação, poluição, devastação, extermínio) e na

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cultura (controle e dominação; desemprego; miséria e fome;
manipulação e extermínio).

Para Sombart, a técnica é um dos sinais mais distintivos do ser


humano, uma potencialidade que possibilita ao humano modificar a
natureza através dos próprios elementos da natureza. É uma
capacidade humana que pode gerar o progresso ou a catástrofe, o
melhor dos mundos e o mundo mais infernal.

III – O espírito do capitalismo

Para Sombart, o “capitalismo nasceu do profundo da alma


europeia” (O Burguês): do espírito de aventura, do princípio do lucro, do
racionalismo econômico, do espírito de empresa e do espírito do
burguês. O capitalismo é compreendido por Sombart como uma
formação histórica e social única, um fenômeno histórico recente, que,
como todo produto humano tende a ter um desenvolvimento e um fim.
Sombart investigou o sentido histórico e social do capitalismo uma
forma de vida econômica que, em comum com outras formas de
economia, é caracterizado por um sistema econômico particular: uma
forma particular de organização e regulamentação da vida econômica e
de técnica de produção. Para o sociólogo alemão, todo sistema
econômica está baseado em uma combinação única que envolve e
articula ordem/organização, técnica de produção e mentalidade
econômica. Com o tempo, e o acirramento das tensões e contradições, o
surgimento de uma nova mentalidade econômica, de um novo sujeito
social, tende a produzir o fenômeno histórico da decadência do antigo e
tradicional sistema econômico e o surgimento de um novo sistema
econômico

O capitalismo moderno produz:

1) a objetivação do impulso ao lucro (a função imediata da ação não é a


satisfação das necessidades).

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2) a permanente busca do aumento da soma do dinheiro.

3) a transformação da fábrica em uma entidade autônoma dotada de


vida própria.

4) a despersonalização do trabalhador e do proprietário do capital:

- o espírito do trabalhador passa a ser impessoal quando o


trabalho é abstrato;

- o espírito do proprietário do capital passa a ser impessoal


quando o capital é uma mera racionalidade econômica que visa
produzir mais-valor.

- os dois agentes econômicos deixam de possuir virtudes


espirituais enquanto pessoas no processo de trabalho e de
produção nos quais exercem apenas funções e serviços.

- A despersonalização é uma produção específica do capitalismo


moderno: a redução da pessoa do trabalhador assalariado à forma
do trabalho abstrato, à função econômica do capital variável; a
redução da pessoa do proprietário dos meios de produção à forma
do capital, à função econômica de produzir mais-valor.

5) a despersonalização, o excesso de racionalidade econômica gera os


fenômeno sociais da desintegração social (as múltiplas formas de
tensões, conflitos e contradições das lutas sociais e políticas entre os
indivíduos e, sobretudo, as classes sociais), o individualismo (a
desintegração social e a atomização social estimulam o senso da vida
particular e privado, o individualismo e o egoísmo) e a desumanização.

1) O capitalismo moderno
“Todo trabalho humano, enquanto fato social, é submetido a uma
determinada ordem. De fato, toda atividade sistemático deve ser
realizada dentro de uma ordem, na medida em que implica na
colaboração de diversas pessoas. Na ordem se objetiva o sistema.
Existindo uma ordem de trabalho humano, podemos falar da sua
organização. Na base da organização do trabalho humano estão
presentes dois – e somente dois –

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princípios: a especialização e a cooperação. Todas as outras
possibilidades de ordenar um certo modo de trabalho humano, são
derivadas destes dois princípios.”

“Chamamos “economia” a atividade humana voltada à procura dos


meios de subsistência. Em toda economia encontramos: 1) uma
determinada mentalidade econômica que compreende todos os
elementos espirituais que determinam as particulares atividades
econômicas: todos os valores, a finalidade, as normas dos indivíduos
que criam a vida econômica e que chamaremos por sujeitos
econômicos. A mentalidade econômica dos sujeitos econômicos se
objetiva nos princípios econômicos; 2) uma determinada técnica, logo,
os determinados procedimentos de que se servem os sujeitos
econômicos para alcançarem os seus interesses; 3) uma determinada
organização do trabalho, logo, uma determinada ordem a qual estão
submetidos todas as singulares operações econômicas.”
“O conceito fundamental da economia política é o sistema econômica.
Com tal termo, compreendo uma forma particular de economia, isto é,
uma determinada organização da vida econômica, na cujo âmbito reina
uma determinada mentalidade econômica e é aplicada uma
determinada técnica. No conceito de sistema econômico está contido o
caráter típico e histórico da vida econômica.”

“Em outras palavras, cada novo princípio econômico deve primeiro lutar
para se afirmar dentro do sistema econômico pré-existente. Deverá,
portanto, criar formas econômicas adequadas à sua realização, mas que
ainda estarão condicionadas pelo caráter típico de uma ordem
econômica produzida por outro princípio econômico (o dominante no
momento) e só gradualmente será capaz de moldar toda A vida
econômica de acordo com seu espírito. Do ponto de vista do novo
sistema econômico, a época em que os novos princípios econômicos
emergem no contexto da velha ordem, representa o período da aurora,
do ponto de vista do antigo sistema econômico, representa o período da
pôr do sol. Entre esses dois extremos está o período de maturidade de
um sistema econômico, durante o qual o impulso de um único sistema
econômico atinge seu pleno desenvolvimento. Essa maneira de
considerar os fenômenos geneticamente, aplicada a períodos

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econômicos determinados empiricamente, é a base da discussão a
seguir.”

“... uma organização econômica de troca (...) que é dominada pelo


princípio do lucro e pelo racionalismo econômico.”

“...a finalidade imediata do agir econômico não é mais a satisfação da


necessidade, mas exclusivamente o aumento da soma de dinheiro.”

“(o racionalismo econômico) ... a orientação fundamental de todas as


ações verso a máxima adequação do objetivo desejado.”

“...nasceu da profundidade da alma europeia.”

“(a mentalidade capitalista) dispõe de uma imensa força destrutiva


capaz de destruir as antigas formações naturais, os antigos vínculos, as
antigas barreiras.”

“(o burguês) os criadores, os vivos, os não-contemplativos, os não-


hedonistas, aqueles que não fogem e não negam o mundo.”

“O desenvolvimento do capitalismo provocou uma transformação radical


da vida econômica. Este é o fenômeno portentoso que ocorreu em nosso
tempo: baseado em um motivo dominante ou em virtude de um objetivo
que, como já compreendeu Aristóteles, no fundo não tem nada a ver
com a vida econômica, a aspiração ao ganho e ao lucro foi
desencadeada em uma vida econômica de tamanha dimensão, grandeza
e potência que nenhuma época anterior jamais havia visto; na busca da
realização de uma meta tão pouco econômica como o ganho e o lucro,
foi possível garantir a existência de centenas de milhões de homens,
transformar a cultura desde suas raízes, fundar e destruir impérios,
construir os mundos mágicos da tecnologia, mudar a própria aparência
da Terra. E tudo isso porque um pequeno punhado de homens foi
conquistado pela paixão de ganhar e lucrar.”
W. Sombart, O capitalismo moderno

“... a economia e os valores econômicos e materiais reclamam e


conquistam o predomínio sobre todos os outros valores, com a

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consequência de que a economia marque o seu sinal em todos os
campos da sociedade e da cultura.”

“...a era econômica produziu uma superabundância dos bens materiais


e com isso o primado da economia. Tal domínio deve ser rompido.
Devemos meditar novamente acerca da verdadeira hierarquia dos
valores, e compreendermos que acima dos valores da utilidade e do
conforto existem outros que são mais elevados: os valores da santidade,
os valores do espírito e os valores da vida (valores vitais) que nós
devemos nos esforçar para realizar na ordem social.”

“(o ser humano)... caminha solitário em si mesmo circundado por um


vazio infinito. O seu esforço para encontrar o significado da vida é
continuamente golpeado por um gélido sopro de não-sentido, que o
petrifica.”

W. Sombart, O socialismo alemão

“A moderna organização capitalista, como corretamente observou Max


Weber, é um cosmo imenso no qual o particular entre no momento de
nascimento e que lhe é dado, pelo menos enquanto particular indivíduo,
como um invólucro de fato imutável no qual deve viver. Isso impõe ao
particular, na medida em que é envolvido no conjunto do mercado, as
normas do seu agir econômico”.

“...toda dimensão natural, todo vínculo orgânico parece ser inadequado,


oprimente no olhar deste homens de vanguarda.”

“(o espírito do capitalismo” agora o gigante desacorrentado enfurecido


atravessa a terra pisando em sua corrida tudo aquilo que se coloca em
seu caminho.”

W. Sombart, O
burguês

Destacar:

1) a mentalidade capitalista as longas raízes na alma europeia:

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a) no espírito de empresa, aventura: o desejo e a vontade de
ganhar, adquirir, enriquecer, conquistar reconhecimento e poder.

b) no espírito do burguês: a capacidade da ação metódica


racional, da ordenação, da acumulação, da contabilidade, da
eficiência, da rentabilidade, do crescimento.

2) a mentalidade capitalista

- uma força destrutiva da tradição, do orgânico, do antigo, das


formações sociais pré-capitalistas.

- uma força mundana e profana

- uma força criativa do novo.

- a força do instinto aquisitivo ilimitado.

- produz um ser social “degenerado”, “egoísta”, “desumano”.

- domina todas as formas de vida, impõe as normas de relacionamento e


ação social, determina o sentido único dos valores, dos meios, dos
instrumentos e do fim da ação: o lucro, o ganho, a posse, a
acumulação, a maximização particular e privada.

- espírito capitalista: a avidez, a inquietação, a ansiedade, a


insaciabilidade, a vontade de potência, o egoísmo, a vontade ilimitada, o
cálculo racional, a utilidade.

- o “espírito do Fausto” de Goethe

3) O sistema econômico do capitalismo moderno

- a mentalidade: o racionalismo econômico

- a técnica: a racionalidade dos meios e do fim, do custo e do benefício.

- a organização: a economia de mercado, as classes sociais, a indústria,


o capital, o Estados nação.

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4) A posse privada

- o fato jurídico e político

- a relação social

- a força que ordena e organiza a vida material e a vida imaterial

5) A economia de mercado

- o fim da economia da casa, de subsistência e de troca simples.

- a centralidade do mercado, da fábrica, da indústria na cidade


moderna e na modernidade.

- a economia monetária.

- a troca de mercadorias.

6) O indivíduo livre e autônomo (formalmente)

- o desenraizamento do mundo rural e tradicional: o esvaziamento das


certezas metafísicas religiosos e dos pontos tradicionais de referência e
orientação.

- a desorientação do indivíduo na grande cidade.

- a atomização social.

- a proletarização do trabalho e da vida.

- a solidão do eu na metrópole.

- a debilidade do eu na sociedade capitalista moderna.

7) As classes sociais: a força-trabalho e o capital

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- as lutas sociais: as lutas por reconhecimento de direitos sociais e
políticos, as reivindicações de melhoras nas condições de trabalho e
renda salarial, férias, previdência.

- as políticas pela conquista da hegemonia e do poder de determinação


do senso e do significado da ordem social e da história.

8) As relações sociais de compra e venda de mercadoria

- a vontade de potência do capital em monetizar seres e coisas,


transformando-as em mercadorias.

- a relação social de compra e venda de mercadorias.

- a ampliação exponencial da produção e extração de mais-valor.

9) A fábrica e a produção social da mercadoria como valor de uso e de


troca

- a potência da técnica e da máquina.

- a despotencialização e desumanização do ser humano.

- a produção automática e de alto rendimento.

- o impulso do lucro.

10) A composição orgânica do capital

- a força-trabalho: o capital variável, o capital vivo, o trabalho abstrato,


a perda de prestígio do trabalho manual.

- a técnica: os progressos da ciência são transformados em


instrumentos e meios para ampliar a capacidade de produzir e extrair,
mobilizar e distribuir, trocar e consumir mercadorias e capitais.

- a máquina: o capital constante, o capital morto, a potência da técnica


em gerar o valor através da produção da mais-valia relativa.
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11) A produção social da mais-valia e processo de valorização

- a orientação da ação econômica e produzir mais dinheiro, em


multiplicar a riqueza, em gerar riqueza através do dinheiro.

- a acumulação da riqueza social e a concentração de poder.

12) O capital

- a potência do dinheiro (potência cremalítica – crema – dinheiro,


condenada por Aristóteles)

- um modo de produção e uma formação histórica e social fundada


sobre as relações sociais de classe e a riqueza abstrata que visa
produzir processos de valorização progressivos e infinitos.

- a potência em dessacralizar, dessubstancializar todos os valores do


passado e do presente: a capacidade de eliminar e neutralizar os valores
contrários à lógica da posse privada, da acumulação e expropriação
particular e privada.

- a potência absoluta do capital: a capacidade subjetiva e a


possibilidade objetiva de ser o sujeito da modernidade e a força que
produz um totalitarismo social.

13) Os novos paradoxos e contradições do racionalismo econômico

- a passagem do instrumento para a máquina.

- a despersonalização.

- a reificação do trabalho e da vida.

- a potência absoluta do dinheiro e do capital.

- a destruição do senso comum da vida e do gênero humano.

- a de-emancipação.
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- a desumanização.

- as crises econômicas e políticas.

- as guerras.

IV – O burguês. Contribuição à história espiritual do homem


econômico moderno (1913)

1) Sobre a linguagem sociológica de Werner Sombart: expressões,


categorias e conceitos acerca da vida econômica

- Fatores psíquicos ou espirituais - Fenômenos econômicos


- Faculdades e atividades - Sistema econômico
psíquicas
- Elementos espirituais - Racionalismo econômico
- Espírito da vida econômica - Moderna mentalidade
econômica
- Qualidades psíquicas - espírito burguês e capitalista
- Sujeitos econômicos - Espírito econômico geral
- Espírito concreto da vida - Formação de uma peculiar
econômica: os traços individuais, forma de mentalidade econômica:
o específico tipo de agir, o tipo de a forma calculadora que reduz o
consciência e o conjunto de mundo as cifras e ao sistema de
qualidades psicológicas de uma gastos e ingressos
figura econômica

2) O espírito e a dominação social

“Um determinado espírito “domina” em uma época quando


conhece uma grande difusão; “predomina” se determina as ações
econômicas da maioria dos sujeitos econômicos (...) o caminho
para a exploração seguinte, que se impôs como tarefa de
descobrir as modificações do espírito econômico na época
histórica da cultura ocidental europeia e americana, e em

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particular, a expressão da gênese do espírito que domina com
caráter quase exclusivo o nosso presente: o espírito capitalista.”

Werner Sombart, O
burguês

Para Sombart, a ação econômica é composta pelo fluxo de fatores


espirituais ou psíquicos que atuam na natureza, modificando-a. A vida
humana, apoiada em um corpo e em uma alma, produz ao longo do
processo evolutivo, determinadas formas de ação econômica dentro das
relações sociais. As ações econômicas são compostas por um conjunto
de faculdade e atividades psíquicas que determinam o sentido da
conduta do homem econômica. Sombart destaca a importância na
história econômica das seguintes faculdades:

- manifestações de inteligência.

- traços de caráter.

- tendências e finalidades.

- juízos de valor.

- princípios morais.

Sombart pergunta se há sempre um único espírito que impera na


vida econômica, ou se é possível afirmar que há um espírito diverso em
determinados sujeitos, épocas e países. A questão de Sombart gira em
torno de uma universalidade abstrata e metafísica que determina o
sentido único das manifestações humanas ou se as ações humanas
revelam a multiplicidade de manifestações espirituais que criam
diversos tipos de sujeitos econômicos. São dois problemas que Sombart
enfrenta sociologicamente:

a) Negar a pretensão de validade daqueles que afirmam a unicidade


espiritual da ação econômica, baseando-se em princípios

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epistemológicos oriundos de uma racionalidade abstrata e pura,
metafísica e dogmática, especulativa e a-histórica;

b) Afirmar o juízo histórico e sociológico da pluralidade de


manifestações espirituais dentro do processo histórico e evolutivo de
humanização e construção de diversas civilizações.

A tese de Sombart acerca da ação econômica e da vida econômica


está baseada nas seguintes afirmações:

“Estas mesmas pessoas se defendem com unhas e dentes contra


minha tese de que de que o espírito que domina os sujeitos
econômicos pode ser, e de fato sempre o foi, muito diverso.”

“A primeira premissa para um correto entendimento dos fenômenos


econômicos é compreender que o espírito da vida econômica pode ser
essencialmente distinto; o que significa que as qualidades psíquicas
exigidas em cada caso para a execução das ações econômicas são tão
diversas como as diretrizes e princípios pelos quais se rege esta
atividade.”

“Afirmo que o “espírito” que anima a um moderno empresário norte-


americano é distinto daquele que domina a um artesão de outrora; e
que em nossos dias existem diferenças consideráveis, desde o ponto
de vista de sua atitude perante a vida econômica, entre um
comerciante, um grande industrial e um banqueiro.”

“Segundo meu ponto de vista, as diversas épocas da vida econômica


se caracterizam pelo espírito concreto que em cada uma delas
predominou.”

W. Sombart, O espírito da vida


econômica

Destacar:

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a) A análise histórica da sociologia que investiga a diversidade das
formas de vida, das relações intersubjetivas e dos sistemas sociais. A
recusa, enfática, de qualquer tipo de determinismo axiológico
proveniente de uma filosofia da história. Afirmação da mutabilidade da
natureza humana e da criação qualitativa de sempre novas formas de
vida material e espiritual.

b) A busca da compreensão do sentido causal existentes nas


determinadas formas de ação econômica entre os princípios e diretrizes
que organizam a vida material e espiritual e as qualidades psíquicas
exigidas dos agentes econômicos para a execução das tarefas e
trabalhos.

c) A luta social entre os valores e princípios subjetivos implica na vitória


e no predomínio de uma concepção valorativa sobre os demais e na sua
capacidade de força qualitativa em sobrepor a sua vontade e gerar um
novo sistema econômico e novas estruturas de poder. A Sociologia deve
analisar e formular:

- a “extensão” e “profundidade” do valor predominante na vida


econômica concreta.

- as consequências do desenvolvimento intensivo e extensivo na


vida econômica concreta.

3) Sobre as virtudes burguesas

Sombart afirma que o “espírito do capitalismo” possui um


determinado conjunto de “qualidades psíquicas”. O burguês representa
uma nova “figura” na história, um “determinado tipo de pessoa” (p.115).
No longo processo que formou a figura do burguês, as virtudes criadas
por este determinado tipo de pessoa podem ser encontradas nas
reflexões de Leon Battiste Alberti (Gênova, 1404-1472. Foi um
arquiteto, escritor, matemático, humanista, lingüista, filósofo, artista do

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renascimento italiano) sobre como organizar a família e os negócios. A
boa economia implicava na:

a) A racionalização da econômica: o continuo aperfeiçoamento da forma


de administração dos bens; a coordenação lógica das tarefas e dos
empregados; a inteligente coordenação dos meios e dos fins
(racionalização sistêmica); prudente relação entre os gastos e os
ingressos (contabilidade administrativa). Máxima de Alberti: “Recorde
sempre isto, filhos meus; nunca permitirás que vossos gastos
sobrepassem vossos ingressos.” Para Sombart, tal máxima pode ser
compreendida como a “primeira pedra do edifício da economia
burguesa-capitalista”;

b) A racionalidade da administração: a máxima de não gastar mais do


que se arrecada era a base da segunda máxima, a saber, gastar menos
do que se tem, isto é, poupar. A poupança passava a ser uma máxima
moral própria da virtude de homem econômico burguês e capitalista. A
prudência de não permitir si mesmo gastar mais do que se arrecada,
desdobra sua potência moral em sucessivas ações prudenciais, tais
como: 1) poupar e acumular, 2) coibir gastos supérfluos e o
esbanjamento, 3) ser moderado, 4) não ser ocioso e infame, 5)
economizar as energias; 6) aproveitar adequadamente o tempo, 7) ser
diligente e honesto, 8) postura metódica, 9) a mentalidade calculadora.

O interesse de Sombart é o de compreender como as virtudes burguesas


puderam adquirir na história um desenvolvimento tão intensivo quanto
extensivo. Logo, seu interesse cognoscitivo está fincado em determinar o
sentido sociológico do desenvolvimento do espírito burguês e do espírito
do capitalismo tanto no interior da natureza humana (modos de
comportamentos e mentalidades), quanto da extensão deste ímpeto de
ganho, acumulo e investimento dentro das normas, leis e instituições.

4) Questões fundamentais contidas no capítulo “As virtudes burguesas”

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Para Sombart, as virtudes burguesas representam um elemento
fundamental para o advento do espírito do capitalista. O espírito
burguês nasce na era moderna, sobretudo em Florença, com as novas
qualidades psíquicas vinculadas à racionalização da administração
econômica:

a) a permanente busca do aperfeiçoamento da administração do


trabalho e dos negócios.

b) a racionalização sistêmica da ação: a correspondência lógica entre os


meios e os fins.
c) a prudência entre os gastos e os ganhos.
d) a economia dos gastos: a poupança, a acumulação monetária.
e) a ordenação das atividades: a economia das energias, o
aproveitamento adequado do tempo, evitar o ócio.

f) a diligência (zelo) e a aplicação.

g) a tenacidade e a perseverança.

h) a ordenação do trabalho.

i) a postura metódica.

5) Questões fundamentais contidas no capítulo “A mentalidade


calculadora”

A economia capitalista é baseada na posse privada, na troca como


relação social, no contrato entre sujeitos livres e autônomos, na
produção de mercadorias voltadas para o mercado, na economia
monetária. Em tal sistema econômico-político-cultural a mentalidade
calculadora ocupa uma posição central. Para Sombart, devemos
entender por mentalidade calculadora:

a) a tendência, o hábito ou a faculdade mental de reduzir o mundo a


valores monetários.
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b) a tendência, o hábito ou a faculdade mental de ordenar o valor
monetário em crédito e em débito (investimentos ou gastos, ganhos ou
perdas).

A mentalidade calculadora é aprimorada e aperfeiçoada na era


moderna com os progressos da aritmética e do cálculo nas cidades
mercantis. Os homens de negócios, os comerciantes, as escolas de
aritmética em Florença nos século XV e XVI aperfeiçoaram a
contabilidade com a dupla partida: de onde o dinheiro vem e para onde
o dinheiro vai. A mobilidade do dinheiro, a transação de um ponto ao
outro, possibilita

a) o maior controle do negócio.

b) a ordenação: o contínuo registro da entrada e da saída dos valores.

c) a redução da possibilidade de erro e engano.

d) a maior visibilidade dos gastos e dos ganhos.

e) a exatidão das contas.

f) a estatística, o balanço, a avaliação dos negócios.

g) a administração do negócio.

A mentalidade calculadora é uma qualidade psíquica própria e


necessária para os negócios e os comércios do espírito do capitalista. A
vontade de enriquecimento, o espírito de empresa (conquistar, ganhar,
aventurar), a atitude burguesa (a racionalização; a racionalização da
ação econômica)

6) Questões fundamentais contidas no capítulo “O sujeito econômico


moderno”
Sombart compreende o sujeito econômico moderno como um novo
tipo de capitalista dotado de novas qualidades psíquicas:

a) a redução do senso da vida ao ideal de enriquecimento sem limites.


b) a vida centrada nos negócios.

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c) a permanente preocupação com a prosperidade dos negócios e da
empresa.
d) a permanente busca pela maior eficiência, eficácia e produtividade.
e) a obsessão em bater recordes, em superar as barreiras e os limites
da produção econômica, em ampliar os negócios.

O capitalismo moderno e o empresário capitalista moderno


promoveram a supressão de uma lógica presente nas formações sociais
pré-capitalista: de que o homem é a medida de todas as coisas. A
centralidade que o ser humano ocupava na edificação dos valores e dos
ideais de vida coletiva dá lugar para a centralidade dos negócios, da
produção, do dinheiro.

A centralidade do ganho, a importância da grandeza, a inquieta


movimentação do homem de negócio, a vontade de criar o novo, são
características da mentalidade do empresário moderno.

a) o ideal da grandeza: a valorização, a maximização dos ganhos, a


concentração de renda, de recursos e de oportunidades.

b) o movimento rápido: a aceleração do processo de produção-


distribuição-troca-consumo; as inovações técnicas; a competição
sempre maior requer ações mais rápidas e eficientes, produtivas e
rentáveis, que levam o trabalhador e o empresário para esforços e
gastos de energia sempre maiores.

c) a novidade: os efeitos do progresso material gera a aceleração da


forma e do conteúdo das mercadorias; a erosão acelerada das coisas e
dos valores; o prazer pelo novo.

d) o sentimento de poder: a permanente procura de maximização do eu,


a vontade de superar os limites.

7) Os paradoxos do capitalismo moderno

1) a destruição dos valores humanos mais elevados pela racionalidade


econômica
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“...o excesso de atividade nos negócios destrói o corpo e corrompe
a alma. Todos os valores humanos são sacrificados ao Moloch do
trabalho, todas as aspirações do espírito e do coração são
voltadas para um único interesse: o do negócio.” (Sombart, “O
sujeito econômico moderno”. In O burguês).

2) a racionalidade econômica e a desumanização das relações sociais na


família, no trabalho, na sociedade

“Este desmoronamento da vida econômica do homem econômico


moderno é especialmente visível no espaço que constitui o núcleo
de sua vida natural: a relação com a mulher.” (Sombart, “O
sujeito econômico moderno”. In O burguês).

3) a racionalidade econômica como um valor em si mesmo positivo e


inquestionável

“O sujeito econômico moderno (cuja encarnação perfeita é o


empresário norte-americano) não concebe outra forma que a
puramente racional para realizar os seus negócios (...) aplica
sempre o método mais perfeito, seja ele o de organização
comercial, de técnica de produção ou de contabilidade, porque é o
mais racional...” (Sombart, “O sujeito econômico moderno”. In O
burguês).

4) a produção de mercadorias de qualquer valor de uso e a produção de


mercadorias de baixa qualidade.

5) o estímulo para o consumo de mercadorias: as diversas formas de


manipulação, sedução, incitação (a estética dos produtos, o marketing).

6) a falta de escrúpulos, a mentira, o engano, a corrupção como meios


usados pelos empresários para obter mais rapidamente o fim particular
desejado.

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