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BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................................... 30
PROFESSORAS-AUTORAS .................................................................................................................... 33
INTRODUÇÃO AO TEMA DA LIDERANÇA
Desafios da liderança
A literatura – especialmente, a infantil – pode oferecer-nos boas aulas de Filosofia. Esse é o
caso do conto Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll, que encerra um importante dilema
existencial, estratégico e, ao mesmo tempo, operacional. Vejamos um trecho desse conto:
Lewis Carroll
“Gatinho de Cheshire”, começou Alice, bem timidamente, pois não tinha certeza se ele gostaria
de ser chamado assim: entretanto ele apenas sorriu um pouco mais. “Acho que ele gostou”,
pensou Alice, e continuou. “O senhor poderia me dizer, por favor, qual o caminho que devo
tomar para sair daqui?”
“Isso depende muito de para onde você quer ir”, respondeu o Gato.
“Não me importo muito para onde...”, retrucou Alice.
“Então não importa o caminho que você escolha”, disse o Gato.
Fonte: Disponível em: < http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/aliceNovo.html >. Acesso em: 31 out. 2016.
A lição apresentada no conto de Carroll vale não só para pessoas, mas também para
organizações e empresas. Se não sabemos aonde queremos chegar, se desconhecemos o destino que
devemos almejar, então podemos seguir qualquer caminho.
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Nesse contexto, surge um importante papel do líder: o de ajudar pessoas, grupos ou organizações
a delinearem caminhos. Apesar de ser menos visível, pois a ação de lideranças é percebida de modo mais
imediato ao dinamizar processos, organizar procedimentos e estabelecer rotinas, o delineamento de
caminhos é um aspecto muito mais profundo do que muitas atividades gerencias.
Nesse caso, o líder não é visto como um adivinho ou profeta, mas como alguém sensível às
demandas, como um bom observador, um facilitador da expressão de talentos e, principalmente,
como alguém tolerante para com as dificuldades.
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Tipos de contexto de liderança
O exercício da liderança se faz na relação entre líderes e liderados, e a existência de um
contexto propício facilita a aceitação dessa liderança.
O contágio de uma situação por outras que a precedem cria um campo perceptivo que
favorece o fenômeno da aceitação e a eficácia da liderança. Além disso, a configuração do campo
perceptivo tende a favorecer um aspecto em detrimento de outros.
A criação do campo perceptivo por meio do contágio acontece também no plano emocional.
Quando nos sentimos cansados e desanimados com alguns insucessos, é possível que ocorra o
contágio desse clima. Nessas ocasiões, pode haver uma tendência a percebermos todos os demais
acontecimentos daquele período como sendo negativos e nada promissores.
Em outras palavras, a instalação e a manutenção de um campo perceptivo consistente
favorecem o aparecimento e a consolidação de certas situações sociais. Dessa forma, podemos
compreender o surgimento de lideranças que, apesar de aparentemente naturais, são, a verdade,
resultado de forte construção.
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Processo perceptivo
O processo perceptivo, ou seja, a maneira como percebemos um objeto ou uma situação,
tende a ser influenciado por fatores internos e externos. Vejamos:
a) Fatores internos:
Os fatores internos dizem respeito a nossa história pessoal, aos valores que recebemos –
aqueles que acolhemos ou rejeitamos – e a vários episódios que, desde nossa infância, foram
construindo uma espécie de filtro por meio do qual enxergamos o mundo.
b) Fatores externos:
Os fatores externos estão na configuração, na forma e na aparência com que o mundo se
apresenta.
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Dessa forma, podemos concluir que, se a liderança fosse uma dotação natural, geneticamente
determinada, o desfecho da história da família Kennedy seria outro. Talvez as gerações seguintes –
filhos, netos, sobrinhos e sobrinhos-netos de Jonh, Bob e Ted Kennedy – estivessem na vida
política, seguindo a tradição garantida pela genética. Não foi, no entanto, o que aconteceu.
“Sou o que penso que sou, mas também sou aquilo que
penso que os outros pensam que eu sou!”
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Ao ouvirmos a frase “Ali vai um líder”, podemos imaginar diversas situações:
um médico mais experiente guiando uma equipe de recém-formados na realização de
uma cirurgia;
uma mulher que, pela primeira vez, é eleita presidente de um país importante
democraticamente;
um explorador aventureiro caminhando à frente de um grupo de jovens, em uma trilha
perigosa;
um executivo liderando uma reunião de acionistas, visando à tomada de uma importante
decisão para a empresa.
Dessa forma, é fundamental analisar os contextos envolvidos para entender uma situação de
liderança. Vejamos a análise dos contextos envolvidos em cada uma das situações vistas anteriormente:
a) Reconhecimento da competência:
No caso de um médico mais experiente que guia uma equipe de recém-formados na
realização de uma cirurgia, há um elemento importante na configuração do campo: o
reconhecimento da competência.
Nessa situação, há predominância de um fator pragmático: os médicos em situação de
treinamento podem até não ter muita simpatia pelo líder da tarefa, mas não hesitarão em obedecê-
lo. Além disso, lembrarão dele como modelo a ser seguido na profissão. O contrário também pode
acontecer, e esse mesmo líder de equipe vir a ser objeto de estima por parte de seus liderados ou
instruídos. Nesse caso, as chances de sucesso do treinamento vicariante (treinamento por exposição
ao modelo) aumentarão.
A carência do ingrediente emocional no amálgama, na mistura final, pode fazer muita
falta na hora da ação. Trata-se do aspecto motivacional, que diferencia lideranças respeitadas e
lideranças admiradas.
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b) Atributos pessoais e fatores políticos:
No caso inédito de uma mulher que é eleita presidente de um país importante
democraticamente, temos uma mistura ainda mais complexa de fatores.
Para garantir a eleição, em um país como o Brasil, a candidata precisaria alcançar um
quantitativo de votantes que superassem os 51%. Para tanto, deveria apresentar atributos pessoais
que levassem os eleitores a reconhecerem sua representatividade. Além disso, deveria superar
eventuais preconceitos contra o gênero feminino que, sabemos, ainda existem.
Aliados a esses fatores estão os variados fatores políticos, que, somados a determinada situação
histórica do País, garantiriam sua eleição.
c) Outorga de autoridade:
No caso do aventureiro que se torna guia em uma trilha, temos uma outorga de autoridade,
ou seja, uma situação psicológica envolvendo um grupo que, em certo momento e sob certas
circunstâncias, divide-se em líder e liderados.
Nesse caso, eventualmente, um dos liderados pode ser alçado à condição de líder, desde que
as regras do jogo daquele grupo permitam a alternância do posto de líder. Se, em determinado
momento, o guia da trilha, indicar um caminho que pareça estranho aos que o seguem e, mesmo
assim, suas orientações continuarem sendo observadas, estaremos diante de uma liderança
incontestável. Essa confiança no líder equivale a dizer que os demais participantes da trilha confiam,
sobretudo em sua própria capacidade de escolha.
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Apesar de, ao longo de sua vida, os sujeitos singulares reagirem a essa atuação e formarem
padrões próprios, sua base está imediatamente ligada à pressão direta de fatos sociais. Como
exemplo, podemos citar a aquisição do idioma nativo, a chamada “língua materna”, que é,
inequivocamente, um fato social.
Tendo lançado luz ao conceito de fato social, agora podemos tratar do conceito de grupo
social. Um grupo, do ponto de vista sociológico, é qualquer conjunto de pessoas que esteja
diretamente condicionado a normas que o precedem, como corporações religiosas, afiliações
étnicas, escolas e agremiações políticas, conselhos profissionais de ocupações regulamentadas, etc.
Outro exemplo está no modo como as profissões são, oficialmente, regulamentadas. Em nosso
país a prática da Medicina, da Odontologia, da Psicologia, da Engenharia e de tantas outras ocupações
obedece a normas que estão em vigor para todos os cidadãos. Tais normas são fatos sociais, pois
funcionam de forma generalizadora, além de incluírem punições caso sejam desobedecidas.
A prática dessas profissões obedece também a um outro conjunto de normas, construídas e
fiscalizadas pelos conselhos profissionais, e existentes nos níveis federal e regional. Os conselhos
profissionais são um braço do Ministério do Trabalho e cobram impostos que devem ser
obrigatoriamente pagos, sob pena de inscrição na Dívida Ativa da União.
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chapas e disputar as eleições. Além disso, as normas que regem as práticas profissionais – os
chamados Códigos de Conduta Profissional ou Códigos de Ética –, por vezes, são revistas e
debatidas entre todos, por meio de fóruns internos.
Esses dois dispositivos, as eleições e as revisões dos Códigos, têm caráter democrático e
procuram suavizar o caráter coercitivo que os caracteriza. No entanto, ainda assim, continuam
sendo exemplos de grupo do ponto de vista sociológico, pois ainda há condições a preencher e
regras a cumprir.
Já dentro de contextos com alto grau de coerção, o papel das lideranças é mediado por acertos
institucionais prévios. Desse modo, o consenso é mais racionalizado, podendo ocorrer acordos
prévios para acertos de conveniência.
Formação de grupos
A organização de grupos torna-se necessária em algumas situações. Por exemplo, se
verificamos que as pessoas de um grupo, que deveriam estar direcionadas para um mesmo propósito,
parecem dispersas, precisamos realizar o processo de organização.
O mesmo deve ocorrer quando a comunicação é precária, as relações interpessoais são frias e
o ambiente é pouco ou nada favorável à realização de projetos.
Em casos como esse, uma concepção de sistema precisa ser introduzida. Para tanto, são
necessárias estratégias que visem à percepção da necessidade de que as partes interajam. Dinâmicas
de grupo, jogos, simulações e várias outras técnicas devem ser utilizadas com essa finalidade.
Para alcançar a interação no grupo, é fundamental estabelecer metas e objetivos comuns, além
de realizar debates sobre os valores a serem compartilhados por todos. Somente dessa forma, o que
antes era apenas um conjunto de pessoas terá a chance de se transformar em um grupo. Desse modo,
podemos concluir que grupos são formados de membros cujos objetivos são comuns e que mantêm
uma forte interação entre si.
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grupo = objetivos comuns + forte interação entre seus membros
Mesmo em grupos que, aparentemente, já funcionam bem, esse movimento precisa ser
reinstalado de tempos em tempos, pois o grupo pode passar por alguma crise e, dessa forma, correr
o risco de desagregação.
Formação de equipes
Antes de passarmos ao conceito de formação de equipes, vejamos um exemplo:
Em 2010, o mundo todo acompanhou um acidente causado por uma explosão nas minas do
Chile. O deslizamento causado pela explosão bloqueou a comunicação com o exterior, e
dezenas de pessoas ficaram presas a vários metros do solo, em espaço reduzido, com poucas
provisões de alimento e água.
As próprias vítimas fizeram parte da equipe, dando informações importantes aos técnicos que
faziam a perfuração. E, sobretudo, conseguiram excelente nível de organização entre si, o que
favoreceu o bom clima psicológico e a superação dos problemas ocorridos durante o período
de isolamento.
Com todo esse aparato, antes do prazo inicialmente previsto, o resgate aconteceu e foi um enorme
sucesso. Todas as vítimas foram resgatadas em ótimas condições de saúde física e psíquica.
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No exemplo que acabamos ver, grupos que provinham de áreas diversas compuseram uma
equipe. Essa equipe foi formada de grupos com profissionais altamente qualificados, cada um em
sua especialidade, e que já tinham bom nível de funcionamento antes de formarem a equipe.
Dessa forma, podemos concluir que equipes são formadas de diversos grupos, cada um com
uma especialidade.
Em nosso exemplo, garantir a sobrevivência de todos era a missão da equipe, que, embora
formada às pressas, funcionou afinada e coesa, o que garantiu o sucesso do resgate.
Em uma organização não é diferente. Em seus diversos níveis de complexidade, há vários
grupos de profissionais. Cada grupo possui uma expertise e é acionado para a formação de equipes
que realizarão uma tarefa ou missão. O desempenho que conseguirem apresentar, enquanto equipe,
vai depender do grau de coesão que já apresentavam antes.
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mesmo que também haja semelhanças. Nesse caso, podemos concluir que, se o fator genético fosse
soberano e agisse com exclusividade, as semelhanças não deveriam ser apenas físicas, certo?
O debate sobre a importância dos fatores ambientes relacionada à importância dos fatores
biológicos deve ocorrer em outro nível. A exclusividade de um desses fatores ou a porcentagem de
influência de cada um não deveriam ser o foco. A análise das diversas interações que ocorrem entre
os variados aspectos geradores do resultado final – os seres humanos – deve ser o ponto de partida.
fatores constitucionais –
genéticos e congênitos
interação
dos fatores interação das primeiras
constitucionais experiências infantis,
com as primeiras respostas ao meio
experiências infantis familiar e exigências
mediadas pelas da socialização
circunstâncias
culturais
Veremos, a seguir, como cada um desses grupos de fatores atua na formação do ser humano.
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Fatores genéticos e congênitos
Os fatores genéticos abrangem tendências para:
o surgimento de algumas doenças autoimunes;
os ritmos biológicos;
certos padrões metabólicos;
os padrões de sono;
limitações relacionadas à altura;
a opção por determinados alimentos;
a resistência a certos fatores alergênios.
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Há dois tipos de socialização, ambos listados no quadro a seguir:
primária família
No decorrer desse processo, e durante toda a sua vida, o sujeito humano desenvolve sua
condição de sujeito social.
Nesse sentido, o ser humano sofre e faz sofrer, já que o ensinamento e o aprendizado das
normas são repressores dos impulsos e desejos. O bebê pequeno chora até ter sua necessidade
satisfeita ou ser vencido pelo sono. Mais adiante, aprende que precisa desenvolver outras formas de
comunicação além do choro. Percebe que precisa negociar para ter o que deseja ou, por vezes, trocar
um mal maior por um mal menor.
Embora os métodos e os padrões retratados sejam diferentes de uma família para outra, de
um grupo cultural para outro, a necessidade de conformação é premissa sempre presente. As
crianças aceitam algumas normas e se revoltam contra outras. Por sua vez, os adultos persistem,
cedem, punem e premiam. Esse é um jogo contínuo, em que as subjetividades vão se formando.
Mudar de um sistema de regras para outro gera uma necessidade de adaptação. Por exemplo,
quando uma criança entra para uma escola, ela terá de aprender novas regras. Nem sempre será
uma tarefa fácil.
Os padrões aprendidos no ambiente familiar são importantes e representam os alicerces para a
incorporação dos modelos que surgirão ao longo da vida. É muito comum observarmos pessoas famosas,
atletas, profissionais bem-sucedidos relatarem a importância que suas famílias tiveram em suas vidas.
Neste ponto, é importante atentarmos para o fato de que o conceito de família deve ser
entendido para além da família biológica clássica. Por exemplo, crianças que crescem em lares
abrigados, orfanatos ou espaços de convivência são propensas a escolherem substitutos para as
figuras parentais. Da mesma forma, casais divorciados que reconstroem suas vidas em outros
relacionamentos geram situações em que adaptações são necessárias. Considerando o aspecto
psicológico, esses rearranjos podem ser excelentes oportunidades para que as crianças construam
novos relacionamentos.
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Rede de interações
A imensa rede de interações entre os fatores constitucionais e o ambiente que vivemos é
responsável por determinar nossa maneira de ser.
No diagrama do funcionamento psicológico que apresentamos anteriormente, o campo que
simboliza o resultado final, o desenvolvimento propriamente dito, equivale ao espaço em que todas
as interações se interligam. Esse fato deve ser compreendido como em movimento contínuo, sempre
suscetível a novas configurações. Isso acontece porque há atuação de novos fatores, a todo tempo,
nos modos de funcionamento psicológico, como bem representa a ilustração a seguir:
fator 2
fator 1
fator 3
modos de funcionamento
psicológico
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Aos poucos, se as condições de desenvolvimento forem favoráveis, a criança caminha em
direção à autonomia. Apesar disso, é importante frisarmos que o tempo desse processo é singular,
ou seja, varia de pessoa para pessoa.
Alguns fatores criam um conjunto de condições dentro do qual as variações do
desenvolvimento ocorrem. São eles:
ambiente;
regras de convivência social;
valores e as crenças de cada grupo familiar;
estereótipos e preconceitos de cada grupo cultural.
Nesse contexto, mães acolhedoras, atentas às necessidades dos filhos e disponíveis para dar
respostas contribuem para o estabelecimento de sentimentos de autoconfiança. Esses sentimentos
são bem diferentes daqueles decorrentes de relações em que predominam a ansiedade, o
ressentimento e a desatenção.
Paralelamente ao desenvolvimento emocional, no plano da capacidade de conhecer e de se
comunicar com o mundo, ocorrem outras mudanças. A comunicação entre a criança e os demais
ganha em qualidade à medida que ela desenvolve a língua falada, tornando-se mais hábil para
expressar o que deseja e, principalmente, expressar suas emoções. Nessa mesma direção, a criança
também organiza melhor a raiva e as frustrações impostas pelas restrições do meio a suas demandas.
Algumas ações ajudam a criança na organização das emoções. Entre elas estão:
poder usar as palavras.
conseguir construir frases com sentido.
fazer-se compreender pelos outros.
A relação também se faz na direção contrária, ou seja, sob efeito de forte emoção, tanto crianças
quanto adultos podem apresentar dificuldades momentâneas para organizar o pensamento e a fala.
Como pudemos notar, existe uma estreita relação entre emoção e cognição.
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Regras de convivência social
Prosseguindo na expansão de seus conhecimentos acerca do mundo e nas relações com as
pessoas a sua volta, a criança logo descobre que ambos lhe impõem restrições. Começa a dar-se
conta da existência de proibições, horários, limitações quanto ao manuseio de certos objetos e ao
acesso a determinados espaços.
Nesse sentido, as trocas, as relações interpessoais com adultos e outras crianças são moduladas
por enquadres, reguladas por regras. E uma vez que os desejos e impulsos não podem ser
extravasados sempre e a toda hora, a experiência com a regra vem acompanhada do sentimento de
frustração. Isso acontece quando, por exemplo, o adulto tolhe algum movimento considerado
inadequado da criança. Sabemos, no entanto que, apesar de se sentir frustrada nesse momento, ela
precisa aprender a conviver com esses limites.
Inicialmente, uma imposição é vista como um cerceamento apenas autoritário, vindo de
alguém superior. Enquanto houver predominância dessa percepção, a criança poderá ter dúvidas
quanto à possibilidade de modificar as leis. Consequentemente, a rebeldia ou a submissão irrestrita
podem ser as únicas opções.
No entanto, à medida que a visão heterônoma cede lugar à visão autônoma, a criança
consegue dar-se conta de que as regras podem ser modificadas. Ela entende que existe a possibilidade
de se discutir a adequação de uma regra, sua relevância, conversar sobre o motivo pelo qual se aplica
determinada lei, debater as noções de consenso, unanimidade e contraditório.
Como pudemos notar, tanto nas relações com os pais quanto com educadores, uma
pedagogia para a autonomia deve trabalhar nesse clima de debate e consenso. Quando a criança é
convidada a debater, construir ou reconstruir as regras, observamos uma maior probabilidade de
adesão consciente. É diferente da rebeldia ou da obediência por medo da punição. A esse processo
denominamos desenvolvimento social e moral.
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O quadro geral de uma pedagogia para a autonomia envolve firmeza na imposição de limites
e abertura irrestrita ao diálogo.
Processo de descentração
A socialização resulta em um processo conhecido como descentração, a tomada de
consciência de que não se é o centro do mundo. Do ponto de vista da cognição, esse
desenvolvimento é fundamental, pois permite pensar os objetos em relação uns aos outros.
Algumas ações favorecem a descentração cognitiva. Entre elas estão as trocas interpessoais,
caracterizadas pela interação com adultos e outras crianças, por meio da linguagem, de jogos, do
intercâmbio de brinquedos, etc. A inserção das crianças pequenas em processos educativos e a
participação em grupos tendem a facilitar o desenvolvimento da linguagem, da inteligência e do
pensamento, exatamente por fortalecerem a descentração cognitiva.
O processo de descentração se expande também para os adultos, pois permite que possamos:
colocar-nos no lugar do outro;
observar a situação por outro ângulo;
ser menos injustos e parciais.
Algumas ações tendem a ser mais estáveis quando reguladas pelo princípio da troca, e não
apenas pela obediência. Entre elas, estão:
as habilidades motoras;
o manejo com jogos de construção;
a linguagem;
as trocas afetivas principalmente.
Lamentavelmente, o modelo da exigência de obediência irrestrita ainda impera nas trocas não
só entre crianças e adultos, mas também entre adultos em geral. Esse modelo dificulta o
desenvolvimento emocional das crianças, que poderão transformar-se em adultos inseguros e
incapazes de autonomia.
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Um modelo que tenha como objetivo o reconhecimento e o controle das emoções precisa
basear-se em um contexto educacional, que pode, incialmente, estar na família. Os pais podem
optar, por exemplo, por explicar o motivo da repreensão ao invés de, simplesmente, repreenderem
e exigirem obediência à punição imposta. Dessa forma, estarão contribuindo para o
desenvolvimento da inteligência emocional. Em seguida, a escola ajudará nessa empreitada.
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Vamos examinar, agora, o conjunto de inteligências múltiplas propostas por Goleman no
quadro a seguir:
Atualmente, o autor tem pesquisado uma nona inteligência, que pretende denominar de
existencial. Por ora, pensa em relacioná-la a temas como a busca da origem e do sentido da vida, e
a temas de ordem filosófica, que sempre fizeram parte das preocupações humanas.
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As pessoas apresentam diferentes níveis de desenvolvimento em cada um dos tipos de
inteligência. A predominância de um tipo de inteligência sobre os outros explicaria certas tendências
ou aptidões.
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Introdução ao tema da liderança
Para introduzirmos o tema da liderança, vamos iniciar refletindo sobre o conceito de
autoliderança.
Um gerente, por exemplo, tem a escolha de chefiar ou liderar sua equipe. Caso escolha
comportar-se como líder, sua primeira providência será iniciar uma trajetória que lhe permitirá
levar outras pessoas a escolherem o caminho do autodesenvolvimento.
Mas qual é o papel da autoliderança? Como um líder pode demonstrar-se forte, ser capaz de
influenciar os demais e conduzi-los às metas desejadas?
Sem essa certeza, o líder não conseguirá encontrar seu ponto de equilíbrio, pois não o estará
buscando, e não conseguirá enxergar o outro. Deixando de olhar para si mesmo, estará criando
impedimentos para decidir o que deseja, o que valoriza e o que está disposto a enfrentar.
Dessa forma, encontrar o ponto de equilíbrio é gerar poder pessoal para dar poder a outras
pessoas, é deixar de ser vulnerável e inseguro para ser assertivo.
Gerentes que aprendem a encontrar o “ponto zero” e trabalham, com excelência, a
autoliderança tornam-se líderes positivos, criam ambientes de confiança, respeito e lealdade, não
importando se, ao seu redor, há outros gerentes “cambaleando” como líderes.
Equilibrado, o líder transborda energia construtiva, o que será de valor imenso diante das
inevitáveis mudanças organizacionais e dos indefectíveis conflitos nos relacionamentos interpessoais.
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BIBLIOGRAFIA
CASTRO, Alfredo. P. Motivação de equipes virtuais. São Paulo: Gente, 1999.
Obra que ensina a valorizar as diferenças entre as pessoas, fazendo disso a chave do sucesso
profissional. Aborda grandes temas, como motivação, inteligência emocional e trabalho em
grupo, desenvolvendo a ideia das equipes virtuais – trabalhos terceirizados, equipes
esportivas, grupos de estudantes, etc. Busca discutir o que se deve fazer para manter a
motivação em alta em grupos informais, pouco estruturados.
DAVEL, Eduardo; VERGARA, Sylvia Constant (Orgs.). Gestão com pessoas e subjetividade. São
Paulo: Atlas, 2001.
O livro de Davel e Vergara, de maneira simples, proporciona ao leitor uma visão ampla das
relações entre gestão e subjetividade. Embora não responda sozinho a essas questões, tem o
mérito de nos levar a refletir sobre o tema. Por conta disso, o livro é fundamental aos
estudiosos da área, principalmente àqueles que pretendem abordar a Gestão de RH de modo
não convencional. A obra enfatiza a necessidade de se levar em conta a subjetividade das
pessoas, circunstância que nem sempre está na pauta das preocupações das organizações.
DRUCKER, Peter. Liderança para o século XXI. São Paulo: Futura, 1999.
O livro trata de desafios que, apesar de já estarem presentes em nosso cotidiano, também
serão questões importantes no futuro. O livro leva o leitor a uma reflexão sobre os novos
paradigmas da gerência e critica políticas gerenciais que considera anacrônicas. Não existe
apenas um jeito certo de gerenciar pessoas. Alerta também as empresas a prestarem mais
atenção ao capital intelectual do que ao capital financeiro. Essa mudança de atitude é
fundamental para que sejam encarados os desafios do século XXI.
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GOLEMAN, Daniel. Inteligência social. Rio de Janeiro: Campus, 2006.
Este livro expõe a abordagem do autor acerca da intrínseca relação entre o sujeito e seu meio
social – não apenas como uma influência mas como o próprio meio que nutre o modo de
ser de cada um. A inteligência social tem a ver com a habilidade de manejar essa relação. A
gestão das emoções, especificamente dentro das relações sociais, é a chave para a convivência
positiva e potencialmente produtiva. As relações mal gerenciadas possuem poder “tóxico”
sobre a saúde emocional e prejudicam o desempenho social em geral – em especial, o
desempenho profissional.
LEMOS, Cristina. Inovação na era do conhecimento. In: LASTRES, Helena Maria Martins;
ALBAGLI, Sarita. (Orgs.). Informação e globalização na era do conhecimento. Rio de Janeiro:
Campus, 1999. p. 122-144.
O livro, dividido em 11 capítulos escritos por autores de diferentes formações, analisa um
mundo que entrou em uma nova onda de desenvolvimento, discutindo as diferentes
dimensões em que se expressa o novo papel da informação e do conhecimento. Os artigos
discorrem sobre temas marcantes e responsáveis por profundas transformações no início
deste novo milênio. O ponto central de análise da obra refere-se à conjunção e à sinergia de
uma série de inovações sociais, institucionais, políticas, tecnológicas e econômicas.
MARRAS, Jean Pierre. Administração de recursos humanos: do operacional ao estratégico. 3. ed. São
Paulo: Futura, 2000.
Elaborado com o objetivo de atender tanto o meio acadêmico quanto o empresarial, este
livro abrange os conceitos fundamentais de RH, incluindo um histórico da evolução dessa
área de trabalho, a estrutura organizacional tradicional – recrutamento e seleção,
remuneração, benefícios, etc. Apresenta também a Administração Estratégica de Recursos
Humanos, com o objetivo de otimizar os resultados das empresas. Todos os assuntos são
exemplificados com estudos de casos reais.
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MOSCOVICI, Fela. Equipes dão certo. Rio de Janeiro: José Olimpo, 2002.
Nesta obra, de forma bem objetiva, Moscovici insiste que as empresas devem dar mais
atenção às pessoas e preocupar-se com as interações. Discorre, ainda, sobre como os grupos
se organizam, o que são subgrupos e como podem ser veículos de transformação cultural.
Moscovici enfatiza a importância do treinamento de equipes e afirma que nenhum gasto
nessa área será demais. O livro apresenta uma metodologia de desenvolvimento de equipes
(DE). Simples e objetiva, a obra é uma excelente ferramenta para a obtenção de bons
resultados na área de Gestão de Pessoas.
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PROFESSORAS-AUTORAS
Eliana Vianna é Mestre em Psicologia pela PUC do Rio de Janeiro e
psicóloga formada pela UFRJ em 1973. Atua como professora em várias
universidades particulares, como Gama Filho, Veiga de Almeida, Faculdades
Maria Thereza, além de ter sido colaboradora na Uerj. Professora concursada já
aposentada da Universidade Federal Fluminense, atuou como chefe do
Departamento de Psicologia. Participou como membro da Comissão Gestora responsável pela
direção do Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro (2003/2004), também colaborando
na Comissão de Ética da entidade. Foi diretora da Associação Brasileira de Ensino da Psicologia
(Abep) por duas gestões (2005/2007 e 2007/2009). Integrou, ainda, como psicóloga, a equipe de
suporte aos MBAs da FGV no período de 2001 a 2003.
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