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4.

TÓPICO QUATRO- A EDUCAÇÃO NA IGREJA

O contexto educacional da atualidade exige novas posturas da igreja


diante da educação que ela oferece aos seus participantes de forma
que estes sejam plenamente preparados para assumir sua condição
sócio-política como cidadãos comprometidos com a vida e com a
sociedade.
Na história da educação judaica no antigo e novo testamento, percebemos
que a educação era levado muito a sério pelos hebreus, tanto que junto a
cada sinagoga existia uma escola elementar (que corresponde ao ensino
fundamental)
A Igreja, no século II depois de Cristo, com a aderência do Império
Romano ao cristianismo por Constantino (272-337), após tornar-se a
religião oficial do Estado, passa a intervir progressivamente nas questões
administrativas, e o processo de educação na Idade Média era de total
responsabilidade da Igreja. As escolas surgiram ao lado das igrejas, das
catedrais e das escolas monásticas, muitas funcionavam nos mosteiros
(CAMBI, 1999).
Surge, ainda nesse período, o conceito de paidéia cristã. A “Paidéia” é um
conceito do ensino grego que propunha uma formação integral do ser
humano. Lembra quando falamos na semana passada sobre a concepção
dos filósofos que ligava a ideia de educação a formação do ser humano? A
Paidéia, portanto, possui origem grega, no entanto, a Paidéia Cristã, fruto
da influência helênica sobre o cristianismo, é uma releitura da Paidéia
grega. Clemente de Alexandria (153-220), um dos responsáveis pelo
aprofundamento da noção de Paidéia cristã, afirmava que esse
desenvolvimento pleno do ser humano só se realiza através do cristianismo.
A Escola de Alexandria FOI uma das primeiras escolas cristãs, Clemente e
Orígenes (185-253) foram os seus principais representantes, e eles
concebem o papel do educador como um guia espiritual e cultural que
oferece instrumento para se chegar a “sapiência” e ao crescimento
espiritual interior. Contudo, é com Basílio de Cesarea (329-379), Gregório
de Nazianzo (330-389) e Gregório de Nissa (335-394) que será delineado o
currículo da nova Paidéia cristã, através da produção de literatura
propriamente denominada de: Patrística

A patrística constitui-se de um sistema filosófico desenvolvido entre os


séculos II e V, pelos pais da igreja. Por isso recebe o nome de patrística.
Seu principal objetivo era a apologética - a defesa da fé, e conversão dos
não-cristãos. Dentre seus representantes estão Clemente de Alexandria,
Orígenes e Tertuliano (160 - 220), mas, seu principal foi Agostinho de
Hipona (354 - 430).

Quanto a Agostinho, monge e defensor da “ascese”, seu pensamento


influenciará a postura do cristianismo frente à cultura e ao processo
educativo por muitos séculos, possuindo influência, inclusive, ainda nos
dias atuais (BORGES, 2002). Seu pensamento caracterizava-se, dentre
outros aspectos, pela reinvenção dos princípios da filosofia platônica. Ele
Defendia que a razão e a fé estavam intimamente ligadas, buscando dessa
forma, uma harmonização entre ambas, a fim de conhecer a natureza de
Deus e da alma (ARANHA, 2006). Agostinho incentivava a busca de
conhecimento além do religioso, porém resguardando o objetivo de
utilizar-se do conhecimento não-religioso para propagação do cristianismo.
Para Agostinho

[...] o ser humano recebia de Deus o conhecimento das


verdades eternas, o que não significa desprezar o
próprio intelecto, pois como o sol, Deus ilumina a
razão e torna possível o pensar correto. O saber,
portanto, não é transmitido pelo mestre ao aluno, já que
a posse da verdade é uma experiência que não vem do
exterior, mas de dentro de cada um. Isso é possível por
que “Cristo habita no homem interior”, Toda educação
é, dessa forma uma auto-educação, possibilitada pela
iluminação divina (ARANHA, 2006, p. 114).

O pensamento de Agostinho segue o princípio bíblico que o conhecimento


provém de Deus, no entanto, o homem deve ser instigado a procurá-lo,
Deus daria condições ao homem para encontrar a sabedoria, a
autoeducação e a disciplina permanecem como características do
cristianismo. Essa autoeducação é, inclusive, citada pelo Apóstolo João em
uma de suas epístolas: “E a unção que vós recebestes dele fica em vós, e
não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção
vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos
ensinou, assim nele permanecereis (1 João 2:27)”. A unção recebida, de
que fala João refere-se à própria presença de Deus, onde concorda
Agostinho, ao afirmar que Cristo habita no homem interior.

Para agostinho, a educação é essencial para desenvolver as potencialidades


mais elevadas do ser humano, criado a imagem e semelhança de Deus; o
conhecimento deve objetivar uma verdadeira sabedoria, capaz de tornar
feliz aquele que a possui e a cultiva. O ser humano possuiria, portanto, uma
necessidade de completude que só pode ser preenchida em Deus, essa
necessidade o impulsionaria a buscar Deus, e essa busca, por sua vez, é o
ponto de partida para o verdadeiro conhecimento.

A idade média é conhecida como “Idade das Trevas” por muitos, isso por
ser considerada um período de retrocesso cultural, porque mais do que em
qualquer outro momento, a educação esteve fortemente ligada à fé, a
dimensão religiosa reunida em torno da figura de Cristo isso porque com o
passar do tempo a Igreja torna-se detentora da cultura intelectual, e
responsável pelo ensino, além disso, não houve nenhuma produção
relevante, porém a maioria dos historiadores, afirma que nesta época
muitas inovações surgiram como o relógio mecânico, os bancos, a
imprensa e as universidades (MOTA e BRAICK, 2002).

No início Idade Média, o nível cultural era muito baixo, apenas os clérigos,
tinham acesso a educação. Pouco tempo depois surge as universidades,
apenas para a classe burguesa, tudo sob a tutela da Igreja.

Dentro do período clássico, A escolástica representa a alta expressão da


filosofia cristã (ARANHA, 2006).

Para a argumentação da fé, a Igreja utilizava-se da lógica aristotélica,


portanto, o princípio de que a razão deve estar a serviço da fé, assim como
na patrística, permanece. Não convindo impor a crença, era necessário um
trabalho de argumentação sustentado por um sistema lógico de exposição e
defesa dos pontos de vista. (Dialética é um método oriundo da Grécia,
consiste de diálogo cujo foco é a contraposição e contradição de ideias que
levam a outras ideias)
Seu principal representante foi Tomás de Aquino, monge dominicano e
mestre em Teologia, “sumo doutor da escolástica, sintetizou suas teses num
organismo filosófico inspirado nos princípios do racionalismo aristotélico,
que funcionam como critérios de compreensão e justificação de toda a
metafísica cristã” (CAMBI, 1999, p. 188) sua obra mais famosa foi Suma
Teológica, justamente na qual se usa da lógica aristotélica, defendendo que
a razão é o principal meio de se chegar à verdade (ROSA, 1971). Para ele
“[...] a educação é uma atividade em potencial. Assim, nada mais é do que
a atualização das potencialidades da criança, processo que o próprio
educando desenvolve com o auxílio do mestre” (ARANHA, 2006, p. 116).
O ensino de Tomás de Aquino fundamenta-se na existência de Deus, um
ser ordenador de todas as coisas. A educação consiste em um meio de
superar as dificuldades causadas pelo pecado. A ordem do universo se deve
a essa inteligência, e o ser humano faz parte da essência de Deus, portanto,
seu aperfeiçoamento estaria em buscar o caráter divino,

A época moderna surge com a descoberta do Novo Mundo, o


Renascimento e a Reforma (século XV e XVI); desenvolve-se com as
Ciências Naturais no século XVII, A Modernidade rejeita a tradição,
submetendo tudo ao exame crítico da razão e à experimentação. No mundo
da Modernidade, a racionalidade impera, e se desenvolve, sobretudo a
partir do século XVIII com os pensadores iluministas, que buscaram refletir
sobre a emancipação humana, o enriquecimento da vida diária e o domínio
científico da natureza.

A Modernidade tira Deus do centro da sociedade e coloca a ciência. A


sociedade, a história, a vida individual deixam de ser vontade de um ser
supremo para serem submetidos simplesmente às leis naturais. A
centralidade do mundo é substituída de Deus para o homem. Do
teocentrismo para o antropocentrismo. A Modernidade substitui, assim, a
autoridade de Deus e da Igreja pela autoridade do ser humano considerado
como consciência ou razão; o desejo de eternidade pelo projeto de
progresso histórico; e, a beatitude celeste por um bem-estar terrestre.

4.4. REFORMA PROTESTANTE E CONTRARREFORMA


No dia 31 de outubro, comemoramos 504 anos da Reforma Protestante.
A Reforma Protestante foi um movimento intelectual religioso iniciado no século
XIV, já no período moderno. O movimento contestava a autoridade do Papa e da
Igreja (ROSA, 1971), assim como o seu papel de mediadora entre os homens e
Deus.

A importância desse acontecimento histórico para educação é inegável. No


período da Reforma Protestante, a educação foi considerada
importantíssima para a formação da Imago Dei, a imagem de Deus. Lutero
e os reformadores reivindicava o acesso direto à Bíblia, no entanto, para
que assim fosse, era necessário que a população soubesse ler; deste modo, a
Reforma “renovou o interesse pela educação dos povos, alterando a história
da educação e da própria civilização” (BORGES, 2002, p. 45), pois
promovia a “difusão da instrução a fim de que cada um pudesse ler e
interpretar pessoalmente a Bíblia sem mediação do clero”
(MANACORDA, 2010, p. 238).
Os prenúncios da Reforma, já se desenvolvia anteriormente com Wycliffe,
na Inglaterra, Huss, na Boêmia, dentre outros, a qual se consolida apenas
um século depois, tendo o seu estopim com a publicação das 95 teses de
Martinho Lutero (1483-1546), as quais foram pregadas na porta da Igreja
de Wittenberg, na Saxônia, onde criticava o papado e seus abusos, dentre
os principais: as indulgências em troca de ofertas. Tal fato levou Lutero a
ser excomungado da Igreja Católica, desencadeando o surgimento das
Igrejas Protestantes (MOTA e BRAICK, 2002).

Lutero implantou escola primária para todos (ARANHA, 2006), elaborou


códigos escolares e atuou como conselheiro educacional, sendo conhecido
como “O Mestre da Germânia” (BORGES, 2002).

“Após a Reforma Protestante a educação nunca mais foi a mesma”


(BORGES, 2002, p. 49), porque, se tornou uma prioridade para a Igreja,
embora a Igreja valorizasse a educação secular, ela não deixou de lado a
educação cristã. Pelo contrário, ela passou a ligar o processo educativo ao
cristianismo, fazendo assim consonância com os princípios da educação
hebraica, e do Novo Testamento (BORGES, 2002).

Sendo assim, destacamos a importância da EDUCAÇÃO CRISTÃ NA


IGREJA (pág. 8 da apostila) O objetivo geral da educação cristã é levar
pessoas a adquirirem uma consciência pessoal do Deus revelado em Jesus
Cristo; à relação pessoal com Ele através da fé; à obediência em seguir
Jesus no discipulado cristão; e ao crescimento contínuo até a plena
maturidade cristã.21 Particularizando, pode-se dividir esse objetivo em
três alvos progressivos: a) Participação – Crentes domingueiros- -la
desenvolver o conhecimento bíblico para o alcance da maturidade cristã;

b) Preparação – É o processo de discipulado- conduzir esta pessoa a


tornar-se membro consciente, ativo e dedicado de uma igreja fiel às
doutrinas do Novo Testamento

c) Evangelização- Uma das ordenaãs de Jesus: Ide por todo o mundo e


pregai o evagelho a toda criatura. levar a pessoa à experiência genuína da
graça salvadora de Deus através de Jesus Cristo;

Carvalho afirma que a missão e a razão de ser da igreja de Cristo é


evangelizar e a educação cristã é parte desta ação evangelizadora.

A evangelização não se reduz à educação, mas inclui a educação. A


educação cristã deve ser “evangelizadora”, ou seja, procurar que o
Evangelho de Cristo se faça matéria de vida e conduta entre os alunos.
Jesus educava evangelizando e evangelizava educando”. E para que isto
aconteça é necessário que os educadores sustentem os verdadeiros
conceitos bíblicos de Deus, do homem, do pecado, da obra redentora de
Cristo, da índole da vida cristã, da ação do Espírito Santo, etc.24

A frase “fazei discípulos” significa “fazei ou desenvolvei aprendizes”. O


próprio mandato de Cristo para o ensino cristão envolve mais do que
disseminar informações. Os mestres devem ensinar até que seus alunos
se tornem discípulos de Jesus Cristo.25 A educação inicia-se com a
experiência da conversão e deve continuar até o fim da existência
terrena do cristão. Pois educar é ensinar, é treinar e é orientar. É levar as
pessoas ao conhecimento e aceitação de Jesus como Salvador, é conduzi-
las à prática dos conceitos cristãos como padrão de vida e é treinar
para as funções da igreja e a motivação para uma vida de serviço em
nome de Cristo.26

Tópico IV. OS PROPÓSITOS DA EDUCAÇÃO RELIGIOSA-


MEIOS PARA QUE A IGREJA POSSA EXECUTAR O SEU
PROGRAMA EDUCACIONAL

A educação cristã tem como base o fato de Deus ter se revelado como
verdade infinita e que o homem é capaz de conhecê-la em parte. Isso
deve levar o ser humano a crescer na graça e no conhecimento de Cristo,
até alcançar o pleno conhecimento da verdade.35 Assim sendo, para
executar o ensino cristão é preciso considerar alguns componentes: (1) o
ensino começa com o conteúdo, e nesse caso é a revelação de Deus
através de seu filho Jesus Cristo; (2) o ensino requer objetivos, o
professor precisa saber o alvo que deseja alcançar, pois este define as
intenções do professor e permite uma avaliação correta de seu ensino; (3)
o ensino requer um processo formal, é preciso estabelecer um plano a fim
de guiá-lo durante as aulas; e (4) o ensino requer uma avaliação, que tem
o propósito de permitir o aperfeiçoamento.36

Tudo isso, no entanto, exige de uma igreja os melhores métodos


educacionais, um currículo baseado nos princípios da sã pedagogia e
material didático adequado e eficiente. A preocupação pelo bom
desempenho de cada membro do corpo de Cristo, individualmente, deve
ser uma constante na organização e no programa de educação religiosa da
igreja. Isso exigirá um estudo do desenvolvimento progressivo do ser
humano desde a infância, passando pelos anos turbulentos da
adolescência até chegar à plena maturidade, considerando-se as
características de cada período da vida e adaptando-se o currículo e os
métodos às respectivas necessidades.37

Assim, podemos cooncluir que a educação cristã deve possuir propósitos


bem definidos, sendo que em primeiro lugar e o maior deles é glorificar a
Deus. Este propósito engloba os demais que seriam a Missão básicas da
igreja(página 9): a evangelização, o ensino centrado na Bíblia, que é a)
cultuar a Deus: ajudá-la na compreensão de que o culto é uma parte
constante e vital da vida do crente; b)anunciar o evangelho por todos os
meios; c) Educar d) Ministrar no serviço bíblico

TÓPICO V. EDUCAÇÃO CRISTÃ EM RELAÇÃO AO PAI, AO


FILHO E NAO ESPÍRITO SANTO (PÁGINA 12)

A educação bíblica bíblica genuína atinge em cheio a relação do fiel com


o seu Deus. Ela é capaz de moldar o caráter do homem comum, tornando-
o um bom cidadão do reino de Cristo, que também enriquecerá a
sociedade com seus valores e modo de vida.

1► PROPÓSITOS DA EDUCAÇÃO CRISTÃ EM RELAÇÃO A DEUS

1.1 - Conhecer a Deus como criador.

1.2 - Conhecer a Deus como Pai.

1.3 - Ter comunhão com Deus.

2► PROPÓSITOS DA EDUCAÇÃO CRISTÃ EM RELAÇÃO A JESUS


2.1 - Ter Jesus como Senhor e Salvador pessoal.

2.2 - Obedecer às ordenanças de Cristo.

2.3 - Testemunhar do evangelho de Cristo que resgata a alma do pecador.

3► PROPÓSITOS DA EDUCAÇÃO CRISTÃ EM RELAÇÃO AO


ESPÍRITO SANTO 3.1 - Contar com a ajuda do Espírito Santo nas
fraquezas e limitações humanas.

3.2 - Buscar a plenitude do Espírito Santo e permitir que ele trabalhe os


corações para a produção de frutos para a glória Deus.

3.3 - Preparo da igreja para o arrebatamento.

TÓPICO VI. A EDUCAÇÃO CRISTÃ EM RELAÇÃO Á BIBLIA


SAGRADA (PÁG. 16)

4► PROPÓSITOS DA EDUCAÇÃO CRISTÃ EM RELAÇÃO À BÍBLIA


SAGRADA

4.1 - Conhecer a Bíblia Sagrada, para evangelizar com fidelidade,


autoridade e legitimidade. Manejar bem a palavra da verdade.

4.2 - Praticar e aplicar o ensino bíblico de forma dinâmica e eficaz sob a


tutela do Espírito Santo

4.5.3. Educação Cristã na atualidade

A discussão sobre o processo histórico da relação cristianismo-educação,


nos permite entender como o cristianismo vem influenciando a sociedade e
por que a expressão cristã é forte em nosso meio.
A preocupação do cristianismo quanto à educação, não permanece no
passado, mas ainda reverbera na atualidade, um exemplo dessa situação são
as escolas dominicais que surgiram a partir do princípio de estado laico, ou
seja, a partir do momento que as escolas públicas não puderam mais
favorecer qualquer religião, as Igrejas protestantes passaram a investir nas
Escolas Bíblicas Dominicais para que os princípios cristãos fossem
ensinados, fato semelhante parece ter acontecido com a Igreja Católica com
a Catequese. Todavia, embora o Estado seja laico, a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional ainda garante o direito de existência de
escolas privadas confessionais, dentre outras, como podemos ver no inciso
III do 20º Artigo:

Art. 20. As instituições privadas de ensino se


enquadrarão nas seguintes categorias:

III - confessionais, assim entendidas as que são


instituídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou
mais pessoas jurídicas que atendem a orientação
confessional e ideologia específicas e ao disposto no
inciso anterior (BRASIL, 1996).

A atual existência de escolas confessionais cristãs revela que o cristianismo


na atualidade não abandonou a sua preocupação e sua postura quanto à
educação. A concepção, portanto, de educação cristã ainda configura o
anseio de formar no ser humano a imagem de Cristo, visto como um
modelo a ser seguido. Borges (2002, p. 176) define a educação cristã como
“toda e qualquer prática educativa que considera o ser humano do ponto de
vista do Evangelho”, assim sendo, na filosofia cristã da educação, não
existe distinção entre educação cristã e vida cristã; todo cristão que deseja
assemelhar-se a Cristo viverá em constantes situações de ensino e
aprendizagem.

Em termos gerais, a educação cristã não rejeita os


alvos comumente defendidos pela perspectiva secular
sobre educação. Ela aceita aqueles valores que refletem
a nobreza da atividade educacional e acrescenta a eles
uma perspectiva mais holística do ser humano e do
universo ao seu redor, pois busca interpretá-los à luz
dos princípios do Criador, revelados nas Escrituras
Sagradas. Neste sentido, a educação cristã parece
combinar com as dimensões descritivas da educação
secular e com as dimensões normativas fundamentais a
uma cosmovisão cristã. O caráter distinto da educação
cristã é que, em seu espectro, ela se compromete com a
realização dos objetivos educacionais por meio de um
currículo que integra as variadas áreas do
conhecimento com a epistemologia bíblica e dispensa
uma atenção integral ao ser humano sempre partindo
de uma cosmovisão bíblica (SANTOS, 2008, p. 158).

Borges (2002), ainda ressalta que na atualidade, a Igreja tem sido


bombardeada por valores que não condizem com os ensinamentos cristãos,
assim as escolas cristãs são essenciais para manter esses valores. A
proposta deste tipo de educação percebe a escola como uma extensão da
família, onde aquela deve estar ao serviço desta, portanto, o envolvimento
da família é essencial para o desenvolvimento desse modelo educacional.

A Associação de Escolas Cristãs de Educação por Princípios (AECEP)


possui como método o ensino a partir de princípios gerais, assim, tudo que
é ensinado passa-se sob o viés bíblico, embora não seja desconsiderada a
pesquisa, o raciocínio e a investigação; cada descoberta deve não ser
considerada como absoluta, o aluno precisa criticar e raciocinar sobre a
própria descoberta, os pensamentos prontos e as respostas fechadas de
terceiros não podem ser aceitos como definitivos (BORGES, 2002). Esse
método de ensino gira em torno dos princípios da soberania, do trabalho, da
mordomia, da liberdade, da individualidade, da aliança e da semeadura. Ao
ensinar a letra “A”, por exemplo, leva a criança a associá-la a “Amor” (o
amor de Deus), cada letra possui uma peculiaridade, um som diferente,
assim utiliza-se o princípio da individualidade, onde cada ser é um ser
ímpar e possui uma função, só que esse ser único precisa do outro diferente
de si para formar uma aliança (o princípio da aliança), deste modo as letras
da palavra “amor” são comparadas aos diferentes tipos de pessoas, e o
conjunto das letras à necessidade destas pessoas viverem em comunhão, à
aliança.
O princípio bíblico deve ser levado para a prática, onde o educando em
suas vivências deve ser também um mestre, compartilhando humildemente
os ensinamentos tanto acadêmicos como bíblicos com os demais. As
Escolas de Educação por Princípios defendem um ensino construtivista,
onde o teor confessional deve se conservar no diálogo professor-aluno e
nas atividades extraclasses, no entanto, as demais atividades assemelham-
se às escolas comuns (BORGES, 2002).

Meier (2006) traz uma abordagem sobre a busca da identidade do educador


cristão, desfiados pelo pós-modernismo, e pelos valores capitalistas da
sociedade. Para ele, a educação religiosa é aquela que deve assim “religar”
todas as coisas, religar a humanidade, dividida e fragmentada, da mesma
forma o conhecimento também se apresenta fragmentado, cabe ao educador
cristão a transversalidade e a defesa da ética. Contudo, Santos (2008)
distingui “Educação Cristã” e “Educação Religiosa”: a primeira consiste
em uma educação relacionada aos princípios bíblicos, ou ao cristianismo; já
a segunda está a serviço de um “sistema religioso”, que pode abordar os
ensinamentos de qualquer religião.
A educação cristã é, em suma, uma filosofia da educação que vê o ser
humano numa perspectiva holística, onde o relacionamento com Deus faz
parte da necessidade de transcender, portanto, o homem, embora precise de
conhecimento, cultura, de desenvolver valores e uma postura crítica, seu
desenvolvimento é incompleto sem a fé em Deus. Diferentemente da
postura de verdade relativa proposta pela educação “secular”, a educação
cristã permanece considerando-se como verdade absoluta. Não ignora,
entretanto, as descobertas científicas, mas busca fazer ligações entre essas
descobertas e doutrina bíblica, embora defenda o criacionismo, pois
discorda da teoria evolucionista: o homem não é apenas um ser animal,
nem existe por existir, ele foi criado com responsabilidades e com um
objetivo. Embora feito de barro, o que representa sua fragilidade, consiste
na coroa da criação, destarte, a essência dos valores cristãos é representado
como um tesouro em vasos de barro, onde a ética é um clamor constante,
como também o valor dado ao papel da família. O pecado teria afastado o
homem da natureza para que fora criado, assim sendo, cada indivíduo passa
a construir seus próprios princípios morais. Para o cristianismo, entretanto,
a satisfação pessoal do ser humano só pode ser encontrada através da busca
do caráter de Deus.

Todo conhecimento é válido, e toda verdade não importando por qual meio
foi descoberta, pertence a Deus. Quanto ao ambiente de ensino, a educação
cristã pode se desenvolver em momentos variados: na leitura bíblica, na
escola, na família, nas igrejas, nas obras sociais, nos momentos devocionais
dos cristãos e etc.
O educador é também um educando e o principal método de ensino, ou
seja, o educador deve ensinar através de sua própria prática de vida, seu
anseio deve ser formar um educando-educador transcendente, livre da
opressão e da escravidão dos seus próprios instintos, capaz de renunciar a
sua própria vontade para um bem comum, pois ao adquirir uma natureza
pecaminosa, o homem assume um instinto egoísta, vencer, pois, esse
instinto, é uma tarefa básica do cristianismo.

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