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All content following this page was uploaded by Jônatas Ferreira de Lima Souza on 22 November 2020.
ORIENTALISMO:
O Oriente como invenção do Ocidente (Resenha)
NATAL
2009
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 7
CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................... 22
SOBRE O AUTOR
Edward Wadie Said nasceu em Jerusalém na Palestina (na época, província britânica)
em 1935. De família árabe cristã rica, viveu também no Cairo em 1947 e depois foi estudar
nos Estados Unidos em 1951 na cidade Massachusetts. Estudou na Universidade de Princeton
e terminou doutorado em Harvard. Critico literário e ativista da causa palestina, Said lecionou
na Universidade de Columbia em Nova Yorque (1963), ministrando por 40 anos Inglês e
Literatura Comparada. Também lecionou em Harvard, Johns, Hopkins e Yale.
Em 1970 casou com Mariam Cortas, com quem teve um filho e uma filha. Em 1977,
Said entrou para o Conselho Nacional Palestino. Era voltado para promover uma solução para
os conflitos árabe-israelense. No ano de 1978, Edward Said publica sua principal obra
intitulada “O Orientalismo”. Em 1988, Said mostrou-se a favor da criação de um estado
“binacional” envolvendo Israel, Cisjordânia e a Faixa de Gaza, no qual judeus e árabes
pudessem viver harmonicamente, gozando dos mesmos direitos.
No ano de 1991, demitiu-se do Conselho Nacional Palestino em protesto pelo apoio de
Yasser Arafat a Saddam Hussein durante a Guerra do Golfo. Ouvinte de música orquestral,
Said, junto com o israelita Daniel Barenboim em 1999, fundou a West-Eastern Divan
Orchestra, cujo principal objetivo era unir músicos israelenses e árabes. Em 2002, Said uniu-
se a Haidar Abdel-Shafi, Ibrahim Dakak e Mustapha Barghouti para desenvolver a criação da
Iniciativa Nacional Palestina (Al-Mubadara), para torná-la uma terceira força política
palestina como nova alternativa à Autoridade Nacional Palestina e ao Hamas.
Edward Said faleceu, vítima de leucemia aos 67 anos em Nova Yorque, setembro de
2003. Outras de suas obras são “Cultura e Imperialismo” e “Representações do Intelectual”.
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Orientalismo:
O conceito segundo Edward W. Said.
Cultura:
Uma discussão segundo Norbert Elias e Clifford Geertz.
Identidade, memória e cultura, são conceitos que estão vinculados ao espírito social. O
ser humano só se sente humano ao se distinguir do outro, ou seja, saber que não é outra coisa,
além de uma pessoa, um homem ou uma mulher e que ambos possuem construções
ideológicas, de certa forma, distintas. Se não fosse pelo o que Norbert Elias chamou de
“processo civilizador”, o homem não passaria de um ser de atitudes primarias, como um
animal – cumpriria seus instintos assim que os sentisse vontade. O homem é educado desde
sua infância para ser humano e aprender a controlar suas vontades instintivas. Em caso de
sucesso em seu processo civilizador, o mesmo será aceito pelos demais que participam desse
mesmo jogo; em caso de falha, por qualquer que seja o motivo, este se tornará marginalizado,
será chamado de “louco”, pois não é capaz de jogar o jogo estabelecido. Essa é uma
concepção fundamentada no século XIX e início do XX, que influenciou a mentalidade de
algumas nações europeias neoimperialistas e a posteriori, suas colônias. Essas discussões, que
geraram a idéia de Kultur na mentalidade alemã, idealizada por Kant, que discutia a distinção
de algo que fosse genuinamente alemão e algo que estava ganhando espaço na sociedade
(burguesa) que era a ideia de Civilisation. Este era um temo francês e inglês determinado para
designar tudo que constituía uma nação, desde seus valores, folclore, etc., até as relações
políticas e econômicas. Pensadores alemães como Goethe e Nietzsche criticavam a maneira
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que a aristocracia dos principados alemães estavam se portando diante dessa homogeneização
do modo de viver francês (principalmente). A critica focava-se em mencionar que os
“alemães”, além de não tomarem uma postura quanto a essa “invasão” de normas de éticas
francesas, quando às aderiam, não faziam direito, tornando-os “má cópia de franceses”. Esses
filósofos temiam uma sociedade que nunca se unificaria, pois nem era francesa e nem tinha o
Zeitgeist (o espírito alemão). Mesmo com a unificação na década de 1860, os alemães
continuaram sendo uma má copia de franceses, contudo a ideia do termo Kultur idealizado
por Kant, havia se difundido entre os intelectuais dos principados, agora unificados
geopoliticamente. Essa primeira idéia de Cultura, ganhou novos termos em seu conceito,
ampliou sua abrangência territorial e passou a ser levada pelos ocidentais a todos os povos.
Mas a antropologia “geertzciana” (de C. Geertz) descarta essa excessiva preocupação
com os conceitos. Para Geertz o que realmente importa, não é conceituar a cultura, mas
buscar através do trabalho de campo os mais íntimos significados das ações de uma
sociedade. Essas ações para serem consideradas Cultura, necessitam necessariamente serem
reconhecidas por todos o membros da comunidade. Portanto a concepção de Geertz, é de
cultura como semiótica, isto é, de significados simbólicos. Mas são os conceitos de cultura
que abrangem todo o fazer humano que está nas concepções sociais. A ideia de que “tudo é
cultura.” Toda essa discussão sobre cultura está vivamente ligada às concepções que formam
a Identidade de um indivíduo e/ou de um povo, bem como suas memórias.
Identidade:
O conceito segundo Zygmunt Bauman.
certos elementos culturais, tomados como referência pelo grupo em relação a outro(s)
grupo(s), tais como: a língua, religião, rito, etnia, nação, símbolos, etc.
Então, podemos afirmar que o conceito de identidade, entendido como
reconhecimento de pessoas ou grupos sociais, pressupõe, mesmo que inconscientemente, a
idéia de alteridade, pois aquele só se constrói a partir desta. E se há um “eu” e um “outro” há
a possibilidade de conflito, ou disputa de poder. Neste sentido, não haveria sentido para os
grupos se identificarem a partir de certos elementos culturais próprios e diferenciados se não
houvesse um conjunto de “outros” em contraposição, ou seja, identificar-se como grupo é
diferenciar-se em relação a outros grupos – como no caso dos terráqueos e os extra-
terrestres apresentado no exemplo inicial. Embora reconheça e defenda essa característica
conflitante da identidade, Bauman a considera essencial como fator de referência para os
grupos sociais, mesmo que une na diversidade e permanece na mudança.
Logo, o conceito “identidade” não é algo estático e atemporal, e sim dinâmico e
socialmente construído e negociado em resposta às necessidades dos grupos em um
determinado contexto histórico, assim como a própria identidade, que é abstrata, e sem
existência concreta.
Representação:
O conceito segundo Roger Chartier.
INTRODUÇÃO
Ainda no segundo momento, Said faz uso dos conceitos de Gramsci de sociedade
política (exército, polícia, burocracia central, entre outras instituições estatais) e sociedade
civil (escolas, famílias, sindicatos, e outros grupos da sociedade organizada) para tentar
explicar a longa durabilidade dos ideais Orientalistas, focando-se na ideia de hegemonia
cultural, já que ela é indispensável para compreender a realidade cultural da sociedade
ocidental. Nesta perspectiva, a sociedade política age sobre ecom a sociedade civil para
divulgar o ideal de hegemonia cultural, justificando as ações das “instituições autorizadas a
lidas com o Oriente” a partir da posição de que “eles, os orientais, precisam ser civilizados”.
Partindo desses ideais, Said aponta que uma das estratégias utilizadas pelo Ocidente,
principalmente França e Grã-Bretanha nos séculos XVIII e XIX e EUA no XX, é a da
“superioridade flexível”, em que se estabelece uma série de relações com o Oriente, mas sem
perder o relativo domínio sobre esse.
Ao fim dessa segunda parte da introdução, Said faz alguns questionamentos acerca de
como ele procederia metodologicamente para analisar as produções orientalistas: se seria
estudando um grupo geral de ideias que dominam a massa de material, ou o trabalho muito
mais variado de autores individuais em suas ideias? Frente a essa questão Edward Said se
preocupa ainda se não haveria um perigo de distorção se um nível demasiado geral ou
demasiado específico de descrição fosse mantido sistematicamente. O que o leva a atentar
para os perigos da “distorção e/ou da imprecisão”. Percebemos que, no decorrer da obra, Said
termina por fazer um misto dos dois, tanto analisa as ideias mais gerais presentes no
orientalismo, como também visões mais individuais.
Na terceira parte da introdução o autor se atém a explicar três aspectos
contemporâneos que estão presentes nas discussões de sua obra.
O primeiro diz respeito “a distinção entre o conhecimento puro e político”, já que para
Said todos os homens estão influenciados pelos valores, crenças, ideologias, culturas e outros
aspectos da sociedade em que estão inseridos, logo, todos esses fatores os influenciam no
exercício da escrita, assim como no de qualquer outra profissão. Said afirma isso ao tentar
responder a seguinte questão : “Como foi que a filologia, a lexicografia, a história, a biologia,
a teoria política e a sociologia, a criação de romances e a poesia lírica se colocaram a serviço
da visão amplamente imperialista do mundo apresentada pelo Orientalismo?” Mas aponta que
tais produções são produtos da realidade social em que estavam inseridos os estudiosos da
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cada uma dessas áreas de conhecimento, sendo influenciados pela ideia de hegemonia
cultural, defendida por Gramsci.
Já o segundo aspecto contemporâneo está ligado “a questão metodológica”, pois ao se
pensar em delimitar um recorte para a pesquisa que tem o Orientalismo como objeto de
estudo, Said afirma que não há apenas o problema de encontrar o ponto de partida, a
problemática da pesquisa, mas também, e principalmente, a questão de designar que textos,
autores e períodos são os mais adequados ao estudo, ou seja, quais serão as fontes
selecionadas para serão “submetidas” a uma análise.
O terceiro é “a dimensão pessoal”, pois, sendo Said um “oriental” que teve uma
formação ocidental, mas que se reconhece enquanto oriental, suas motivações pessoais o
influenciaram na produção de sua obra, pois assim como os homens são influenciados pela
sociedade em que estão inseridos, também são influenciado pelas suas experiências pessoais.
Neste sentido, devido alguns vivencias no período de formação, tanto escolar como
acadêmica, no qual se sentia Fora do lugar – título de outra obra desse autor –, ele buscou
pesquisar esse mecanismo de dominação ocidental sobre o Oriente, chamado Orientalismo.
Assim, motivado por interesses humanísticos, políticos e pessoais é que Edward W. Said
escreve Orientalismo.
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1 O ALCANCE DO ORIENTALISMO
Uma das primeiras preocupações de Said nesse capítulo é designar quem era esse
oriental no início do século XVIII e o que fazia vê-los como apenas habitantes da porção
Leste da Europa (excluindo assim, a China, Japão e Índia). Estes eram basicamente descritos
em textos de cunho literário, textos eclesiásticos e em obras de Shakespeare.
Nessa “geografia” excludente esses orientais sempre foram vistos como uma
sociedade à parte, como inferior uma vez que sob a justificativa utilizada para dominá-los era
“nós o conhecemos mais”, e esse conhecimento implicava em “examinar uma civilização
desde suas origens, ao seu apogeu e declínio – introduzir-se no estrangeiro e distante; negar a
autonomia a ele por que o conhecemos mais e ele existe assim como o conhecemos”.
Dominar por quem os conhece é um benefício concedido tanto ao dominado quando
ao dominador “Ocidente civilizado”. A lógica para dominar dava-se em conhecer suas
limitações, não aplicar o uso da força, mas fazê-los entender essa própria lógica. O
orientalismo como corpo de saberes sobre esse “Oriente”, utiliza-se em seus discursos e se
justificam a partir da própria historia real desse oriente – reforçados ainda pelo regime
colonial, a divisão do mundo, as demarcações Leste/Oeste, as viagens de descobrimentos.
Além disso, os próprios estudos orientalistas coincidem com o período da expansão européia
e as brigas entre as duas grandes potências, França e Inglaterra que viam suas expansões três
caminhos: renunciar, monopolizar ou partilhar. Escolheram então um caminho mais
“benéfico” às partes, a “partilha”.
O que Said observa, é que tal partilha não foi somente de terra, lucro ou governo, mas
de um poder intelectual (orientalismo). A relação entre o Ocidente e orienta foi consolidada,
na visão de Said, a partir da ocupação do Egito por Napoleão. Estava assim, representada a
força ocidental versus fraqueza oriental.
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Houve também duas outras figuras que contribuíram para o Orientalismo, Silvestre
Sacy e Ernest Renan. Sacy é tido como referencial quando se fala em Orientalismo. Ele se
utilizou da antologia, a crestomatia e, toda sua obra é essencialmente uma compilação e
elaboradamente revisionista e é também conhecido como pai do Orientalismo. A obra de Sacy
canonizou o Oriente. Já Renan é proveniente da segunda geração do Orientalismo, sendo sua
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Said também revela a visão que o europeu tinha do Oriente; uma visão sub-
humanizado, antidemocrático atrasado, bárbaro, e assim por diante. Ele diz que o próprio
projeto de restrição e reestruturação associado ao Orientalismo pode ser ligado diretamente à
desigualdade pela qual a pobreza comparativa do Oriente pedia um tratamento erudito e
científico do tipo a ser encontrado em disciplina como a filologia, a biologia, a história, a
antropologia, a filosofia ou a economia. Said diz que a sua preocupação ficou focada em
mostrar como no século XIX foram criadas terminologias e práticas profissionais modernas,
cuja existência dominava o discurso sobre o Oriente, tanto o de orientalistas como o de não-
orientalistas, onde eles domesticaram o conhecimento para o Ocidente, filtrando-o através de
códigos reguladores, classificações, revistas periódicas, dicionários, gramáticas, comentários,
traduções, todos juntos formavam um simulacro do Oriente e reproduziam-no materialmente
no Ocidente, para o Ocidente.
Sacy e Renan foram exemplos disso, de como se moldava um corpo de textos e um
processo de raízes filológicas, pelos quais o Oriente assumia uma identidade discursiva que o
tornava desigual ao Ocidente.
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De acordo com Said, para os peregrinos, o Oriente dos eruditos orientalistas, era um
desafio a ser enfrentado. Chateaubriand, Disraeli, Burton e outros proporcionaram uma base
estrutural de estudo sobre o Oriente, através do Orientalismo. Assim também a Inglaterra e a
França contribuíram com o Orientalismo através da dominação. Para o inglês, o Oriente era a
Índia, claro, uma possessão britânica real; passar pelo Oriente Próximo era, portanto, passar a
caminho de uma colônia de grande importância. Já para o francês estava imbuído de um senso
de perda aguda no Oriente. Ele chegava a um lugar em que a França, ao contrário da Grã-
Bretanha, não tinha presença soberana.
Assim Edward Said aponta as estruturas e reestruturas que o Orientalismo se apoiou
como base para a sua construção. As ciências aqui mencionadas, os personagens e Estados, as
obras, todos formaram um contexto que proporcionou a estruturação e reestruturação desse
termo chamado Orientalismo.
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3 ORIENTALISMO HOJE
Isso é observado por Gibb no período entre guerras, onde a crise ideológica no
ocidente aflorava diante dos traumas da Primeira Guerra Mundial, pois o sonho de uma
sociedade em progresso técno-científico-cultural, a ocidental, estava abalada.
Sobre o estudo referente ao islã, segundo Said, o francês, católico devoto, Massignon,
mostra que, a imagem alimentada desse islã é a de uma religião incessantemente implicadas
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nas suas recusas, no seu caráter tardio (com referência a outros credos abraâmicos), no seu
senso relativamente árido da realidade mundana, nas suas estruturas maciças de defesa contra
“comoções psíquicas” do tipo praticado por al-Hallaj e outros místicos sufistas, na solidão de
única religião “oriental” restante dos três grandes monoteísmos.
O que Said quer mostrar, na verdade, é que, apesar do conteúdo orientalista dessa
primeira metade do século XX parecer com aquele produzido no XIX pelos anglo-franceses,
não há “hostilidade” desses eruditos para com o Oriente. Para o autor
Observemos como Said destaca esse Oriente como uma representação do Ocidente,
no qual o Ocidente fala, imagina, descreve, orienta, caricatura o oriental.
No ponto final deste terceiro capítulo intitulada “A fase mais recente”, Said destacara a
nova ordem orientalista liderara pelos Estados Unidos. A França e a Grã-Bretanha já não
ocupam o palco central na política mundial pois o império americano as desalojou. Esta parte
final da discussão orientalista, esta dividida em quatro pontos: 1) Imagens populares e
representações da ciência social. Em suma, o autor mostra como esse oriental passa a ser
caricaturado pelos E. U. A., pós-Segunda Guerra. Na visão norte-americana, oriental agora
passa a ser malvado, o inimigo do Ocidente. Esse Oriente resume-se ao Oriente Próximo. Os
Estados Unidos reforçam o estereótipo do oriental através de novas mídias que não eram
acessíveis no século passado como: rádio, televisão – filmes, desenhos animados,
documentários, telejornais, etc. – e posteriormente a Internet. Todos são meios de
comunicação de massas, o que torna essa visão pejorativa do oriental, mas especificamente do
Oriente Próximo, mais globalizada, não somente no Ocidente – Europa e América – , mas
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para todo o mundo; 2) A Política de relações culturais. Said mostra que a América, desde
1843, apresenta-se disposta a estudar o Oriente, assim como fizeram as potencias europeias.
Segundo o autor, uma política de relações culturais, idealizada em meados do século XX,
propunha um diálogo com o oriente, uma vez que de lá vinham as principais forcas a serem
combatidas pelo ocidente: o Comunismo e o Islã. Estudos realizados por eruditos americanos
como Von Grunebaum, afirmam e divulgam na academia os estereótipos pejorativos orientais,
mostrando que o Islã, por exemplo, “é um fenômeno unitário, diferente de qualquer outra
religião ou civilização, [...] é anti-humano, incapaz de desenvolvimento, autoconhecimento ou
objetividade, além de não ser criativo.” Said mostra como a Visão de Grunebaum é
semelhante aquela do século XIX, no qual essa visão do islã é inteiramente obstruída pela
noção de uma cultura incapaz de analisar ou fazer justiça à sua própria realidade existencial
na experiência de seus adeptos; 3) Simplesmente islã. Este ponto resume as relações do
Ocidente, o estado de Israel e o islã (o árabe). De acordo com o autor, o “Orientalismo rege
completamente a política de Israel para com os árabes, [...] há bons árabes (aqueles que
obedecem) e maus árabes (os que não obedecem e são, portanto, terroristas).” (SAID, p. 409).
Menciona Said que Bernard Lewis, importante estudioso do oriente nos Estados Unidos pós-
década de 1950, diz que “o islã não se desenvolve, nem os mulçumanos; eles meramente são,
e devem ser vigiados por causa dessa sua pura essência, que inclui por acaso um ódio
duradouro aos cristãos e aos judeus.” (SAID, p. 423). Said mostra que Lewis tenta evita fazer
essas declarações inflamadas de forma categórica; ele sempre toma cuidado de dizer que, é
claro, os mulçumanos não são anti-semitas assim como foram os nazistas, mas a sua religião
pode facilmente acomodar-se ao anti-semitismo, e tem se acomodado. O mesmo pode se dizer
com relação ao islã e ao racismo, à escravidão e a outros males mais ou menos “ocidentais”.
O autor mostra que, de acordo com Lewis,
Lewis mostra a postura que o historiador deve ter, não somente diante de temáticas como o
Orientalismo, mas em relação a toda a sua vida de historiador; 4) Orientais Orientais
Orientais. O mundo árabe de nossos dias é um satélite intelectual, político e cultural dos
Estados Unidos. De acordo com o autor, o orientalista agora tenta ver o Oriente como um
Ocidente de imitação que, segundo B. Lewis, só pode melhorar quando seu nacionalismo
“estiver preparado para chegar a um acordo com o Ocidente”. Se nesse meio-tempo os árabes,
mulçumanos ou o Terceiro e o “Quarto Mundo” trilharem caminhos inesperados, não será
surpresa que um orientalista nos diga que isso atesta o caráter incorrigível dos orientais,
provando assim que eles não merecem confiança.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
No decorrer de toda a sua obra Edward Said investiga os vínculos profundos entre o
imperialismo europeu e norte-americano e a constituição de um imenso corpo de saberes
literários, eruditos e científicos sobre o Oriente. Percebendo esse Oriente mais que apenas um
espaço geográfico, mas como uma invenção ocidental, um selo que marca essas populações a
“leste” da Europa sob o signo do exotismo e da inferioridade. Para analisar essa construção
histórico-social e cultural, o orientalismo, que apresenta-se nas formas de disciplina
acadêmica, gosto literário e mentalidade dominadora, Said inicia seus estudos remetendo-se
ao século XVIII, com os imperialismos colonialista francês e britânico, chegando até o novo
imperialismo do século XX, o estadunidense.
Porém, Said questiona-se se seu “livro é apenas um argumento contra algo, e não a
favor de alguma coisa positiva?”, e para respondê-la afirmou que sua pretensão é descrever e
analisar um sistema de idéias usadas para justificar uma dominação ocidental, e não criar um
novo sistema.
Com a leitura de Orientalismo podemos perceber como outras culturas são percebidas
e representadas, mas Said não se limitou a entende essa questão e em uma pseudo-conclusão
da sua obra ele nos lançou diversas questões sobre “o que é uma outra cultura?”, por exemplo,
e não só essa, mas diversas outras que não encerram as discussões acerca desse tema. O que
abriu precedente para futuras análises dessa construção ocidental.
Utilizando-nos das ideias defendidas nessa obra podemos perceber como, por
exemplo, a mídia brasileira veicula a imagem do Oriente Médio, só entrando nas manchetes
dos jornais, televisivos ou impressos, quando noticia tragédias e violência: e após o “11 de
setembro de 2001” isso vem se intensificando, com a política internacional do último
presidente estadunidense, Georg W. Bush, de combate ao terrorismo todos os islâmicos
passaram a ser terroristas e quando não, continuam a ser aqueles exóticos, que usam vestidos
e tem barbas enormes, e que as mulheres tem que se cobrir toda por conta de uma sociedade
machista e sexista. Com essa leitura podemos expandir nosso olhar crítico para a própria
sociedade em que estamos inseridos, estranhando nossos próprios costumes e representações.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SILVA, Kalina Vanderlei; Silva, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. São
Paulo: Contexto, 2008.