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Instituto Federal do Espírito Santo – Campus Vila Velha

Doutorado Profissional em Educação em Ciências e Matemática


Seminário de Pesquisa de Doutorado
Professores(as): Dr. Attico Chassot; Dra. Manuella Amado; Dra. Marcia Gonçalves
Doutorando: Robson Vinicius Cordeiro

Data: 11/03/2021
Palestra: As grandes revoluções científicas
Palestrante: Prof. Dr. Attico Chassot

Pensar a ciência como uma construção humana tem se tornado um pressuposto


fundamental para a transformação das ações de homens e mulheres frente as realidades tão
complexas e urgentes do mundo. Tal perspectiva, porém, não deveria ser vista como uma
novidade no âmbito da educação científica, mas uma constatação básica que traz em seu bojo
a nossa responsabilidade ética e nossa participação na produção e utilização de saberes,
técnicas e tecnologias desenvolvidas pela ciência no tempo e no espaço. Dessa forma,
compreender a historicidade do conhecimento científico e seus processos constitutivos e
construtivos coloca-se como uma demanda presente para a sociedade, a fim de que tenhamos
consciência do quão somos responsáveis por fazer desse mundo melhor ou pior.
Esses apontamentos iniciais estão em diálogo com a análise feita pelo professor Attico
Chassot ao apresentar-nos as cinco grandes revoluções científicas da história ocidental, que
forma capazes de transformar essa linguagem construída pelos homens e pelas mulheres para
explicar o nosso mundo natural, chamada ciência. Tais revoluções corroboram a ideia de que
o conhecimento humano está em processo de construção, sendo capaz de romper paradigmas
muitas vezes cimentados e cercados de um teor de misticismo que retira a característica
humana da ciência, lançando-a num universo quase que revelado, imutável, inacessível.
A partir de uma linha histórica, Chassot nos apresenta as cinco revoluções científicas a
começar por aquela que abalou o século XVI: a Revolução Copernicana. Tal descoberta
astronômica, no âmbito da física, estremeceu as bases do pensamento não somente científico,
mas religioso ao apontar para a mudança do modelo geocêntrico de compreensão do universo,
para um modelo heliocêntrico: não era mais a Terra o centro do Universo, mas o Sol. É
evidente que hoje compreendemos a revolução copernicana como um marco fundamental para
a desmistificação do saber e seu atrelamento à religião, bem como para o avanço da
astronomia e das ciências físicas, mas na época tal proposição foi uma afronta à ordem e o
poderio, o que se torna uma recorrência quando pensamos as revoluções científicas e os
impactos sociais causados por elas.
No século XVIII, quase dois séculos após a revolução copernicana, encontramos
Lavoisier propondo a substituição do flogismo pela combustão no âmbito da Química: seria a
segunda revolução científica, a revolução lavoisierana. Assim como ocorre no século XVI, tal
descoberta se pauta no abandono de uma explicação insuficiente da natureza para uma que
atende com mais adequação, clareza e distinção, nas palavras cartesianas, a realidade natural.
De forma similar, no século XIX, no contexto da Biologia, Darwin propõe um
entendimento da realidade que até hoje, apesar das múltiplas evidências científicas, parece
esbarrar na experiência religiosa da nossa ancestralidade cosmogônica: a revolução
darwiniana propôs a substituição do modelo criacionista de explicação dos surgimentos dos
entes vivos, por uma compreensão evolucionista.
Chassot apresenta essas três primeiras revoluções como exemplos de ruptura e
substituição de paradigmas científicos, que vem ditando até o presente nossa maneira de lidar
a realidade, nenhum outro modelo se tornou mais adequado que os apresentados para explicar
nosso mundo natural. Em contrapartida, as duas últimas e mais recentes revoluções não estão
marcadas pela superação dos paradigmas, mas pela coexistência de seus contrapontos. A
primeira delas, que marca o século XX, por exemplo, foi a descoberta de Freud acerca do
inconsciente em oposição ao consciente. É a revolução freudiana no âmbito da Psicologia
impactando toda sociedade e as explicações acerca do ser humano como ser racional e
controlador de si e da natureza.
Por fim, Chassot apresenta a revolução do século XXI: a díade disciplina-indisciplina
nos diversos âmbitos da realidade e tentativa presente de reconstruir uma unidade perdida na
divisão do mundo disciplinar por meio da transgressão dos limites impostos. Essa
problemática está relacionada também com as nossas formas de lidar com o conhecimento
científico na virada dos séculos, pois se antes vivíamos no âmbito das certezas, das
descobertas capazes de substituir e ditar novos paradigmas para a realidade, agora estamos
num século de incertezas, ante a incapacidade da ciência em responder todas as demandas e
questões do mundo.
A apresentação desses pontos de debate e referência nos mostra como (re)conhecer os
processos fundantes e transformadores do conhecimento científico precisa ser entendido como
parte basilar de uma alfabetização científica, na medida em que humaniza a ciência e a
aproxima de quem a constrói e a experimenta no dia-a-dia.

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