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#direito-previdenciario

Princípios da seguridade social

I. Princípios constitucionais da seguridade social (194, p. único)

Elencados como objetivos específicos da seguridade, dentro da Ordem Social.


Por sua vez, a ordem social tem como base o primado do trabalho (193, CF).
E como objetivos "gerais" o bem-estar e a justiça sociais.

1. Universalidade da cobertura e do atendimento

a) Prisma objetivo. Cobertura ao maior número possível de riscos sociais.


b) Prisma subjetivo. Atendimento ao maior número possível de pessoas.

O princípio da universalidade deve ser conjugado com o da seletividade e distributividade na


prestação dos benefícios e serviços, tratado adiante.
Outra limitação importante é o princípio (ou regra) da prévia fonte de custeio.

A universalidade é mais restrita na previdência, por força do caráter contributivo próprio


desse ramo.

2. Uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços das populações urbanas e


rurais

Benefício: prestação econômica; serviço: obrigação de fazer.

Consequência do princípio da igualdade.


O art. 7º, caput, da CF elenca direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, sem diferenciá-los.

Veda a discriminação negativa em desfavor dos rurais, em razão da memória histórica, mas
permite a discriminação positiva.
Impõe que, para os mesmos eventos, sejam estabelecidos os mesmos benefícios.

3. Seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços

Seletividade: deve-se seguir um critério de relevância dos riscos sociais, tendo como
objetivos gerais o bem-estar e a justiça sociais.
Distributividade: instrumento de distribuição de renda e bem-estar social.

4. Irredutibilidade do valor dos benefícios

Decorre da segurança jurídica.


Equivalente à intangibilidade do salário e dos vencimentos do servidor público.
Todavia, a garantia é mais ampla, pois acrescida do direito ao reajustamento dos benefícios
previdenciários para preservar seu valor real (art. 201, § 4º, EC 20/98).

A Lei 8.213/91 dispõe sobre o critério de reajustamento (art. 41-A): INPC-IBGE

O STF já teve oportunidade de manifestar-se sobre a constitucionailidade do índice para esse


fim.
Dediciu que a utilização do INPC é constitucional e preserva o valor real dos benefícios.

5. Equidade na forma de participação no custeio

Custeio: orçamento dos entes + contribuições sociais (195, CF).


Consequência da igualdade e da capacidade contributiva (econômica)
(art. 145, § 1º CF, adotada, sempre que possível, para os impostos).
6. Diversidade da base de financiamento

Veda o recurso à fonte única.


Impõe a ampliação da base contributiva (exemplo: concursos de prognósticos).

A EC 103/19 reformulou o dispositivo, exigindo rubricas contábeis específicas para a saúde,


previdência e assistência tanto nas receitas quanto nas despesas.

7. Caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão


quadripartite nos órgãos colegiados.

Trabalhadores, empregadores, aposentados e governo.

O princípio impõe a composição paritária? O caso do CNPS: art. 3º LBPS.


O princípio é da seguridade? O caso CNAS (LOAS) e do CNS (Lei 8.142/90)

(perceba-se que só há aposentado no sistema previdenciário).

Além dos princípios acima, expressos na CF, a doutrina elenca (cria) alguns que chama de
princípios gerais do Direito Previdenciário.

II. Princípios gerais do Direito Previdenciário

1. Solidariedade

O sistema previdencário [e também os demais] somente é possível com o aporte dos frutos
das atividades econômicas individuais.
Funda-se na ideia de que também existem, para além dos direitos, os "deveres" sociais.
Uma "sociedade livre justa e solidária" é um dos objetivos fundamentais da RFB (art. 3º).
A solidariedade, no plano jurídico, mostra-se como uma força contramajoritária, na medida
em que impõe à maioria o atendimento de interesses de uma minoria (os necessitados).

Contribuição direta e indireta.

A tese da desaposentação
Tema 503 de RG:
"A Constituição de 1988 desenhou um sistema previdenciário de teor solidário e distributivo.
inexistindo inconstitucionalidade na aludida norma do art. 18, § 2º, da Lei nº 8.213/91, a qual
veda aos aposentados que permaneçam em atividade, ou a essa retornem, o recebimento de
qualquer prestação adicional em razão disso, exceto salário-família e reabilitação
profissional."

Ou, seja, inexiste caráter propriamente contraprestacional dos benefícios recebidos em


relação às contribuições pagas.

2. Vedação ao retrocesso social (efeito cliquet)

Impossibilidade de retroceder na implementação de direitos fundamentais implementados


por via legislativa ou material.

No aspecto subjetivo, abrange as pessoas cobertas; no objetivo, os riscos sociais atendidos.


Costuma-se extrair do art. 5º, § 2º, da CF.

Mas pode-se argumentar a partir do art. 3º, III, que elenca como objetivo da RFB "erradicar a
pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais."

O STF já aplicou interpretativamente de modo favorável, quando julgou inconstitucional sem


redução de texto o art. 14 da EC 20/1998 (ADI 1936) (salário maternidade acima do teto)
E desfavorável, quando julgou constitucional revogação de lei que aumentava a base de
cálculo do adicional de insalubridade de trabalhadores em energia.
"(...) VEDAÇÃO AO RETROCESSO SOCIAL – IMPROPRIEDADE. Tendo em conta avanço na
tutela de direitos mediante norma infraconstitucional, é impróprio, considerado tratamento
estrito dado à matéria pela Constituição Federal, potencializar o princípio da vedação ao
retrocesso social, a ponto de, invertendo a ordem natural, transformar em cláusula pétrea
legislação ordinária ou complementar."

"(...) à falta de norma constitucional derivada, revogadora do art. 7º, XVIII, a pura e simples
aplicação do art. 3º da EC 20/1998, de modo a torná-la insubsistente, implicará um
retrocesso histórico, em matéria social-previdenciária, que não se pode presumir desejado.

3. Proteção ao hipossuficiente

Trata-se de uma diretriz interpretativa que prescreve a interpretação in dubio pro misero
quando houver dúvida entre duas ou mais interpretações possíveis.

Vários são, porém, os casos em que a jurisprudência aplica o princípio como uma presunção
para fim de decisão sobre as provas, da mesma maneira que a presunção de inocência no
direito penal.

Se a perícia é (...) conclusiva em arredar a existência de nexo causal entre a atividade laboral
com o quadro patológico da obreira, não há lugar para a aplicação do princípio ‘in dubio pro
misero’, apropriado apenas à solução de casos em que a prova é duvidosa ou conflitante’
(TJSC, Apelação Cível n. 2010.059108-3)

Princípio do qual decorre a regra de interpretação “in dubio pro misero”, a partir do qual
tanto o legislador quanto o intérprete (...) dentre as várias formulações possíveis para um
mesmo enunciado normativo, [deve] buscar aquela que melhor atenda à função “social”,
protegendo, com isso, aquele que depende das políticas sociais para a sua subsistência,
porquanto o segurado é o principal destinatário da norma previdenciária (STF, ARE 803147)
Além dos princípios da seguridade social expressos no art. 194, p. único, existem outros
próprios da previdência social extraíveis do texto constitucional.

III. Princípios do custeio da seguridade social

1. Orçamento diferenciado

A seguridade social deve possuir orçamento próprio, distinto daquele da União (art. 195,
§§1º e 2º).

2. Precedência da fonte de custeio

Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido
sem a correspondente fonte de custeio total (art. 195, §5º)

Já havia sido estabelecido pela CF 67. Tem íntima relação com o princípio do equilíbrio
financeiro e atuarial.

Recentemente, o STF aplicou o "princípio" ao suspender, por decisão monocrática, o


aumento do critério de "miserabilidade" para efeito de deferimento do BPC-LOAS.

Concedo, em parte, a medida cautelar postulada, ad referendum do Plenário, apenas para


suspender a eficácia do art. 20, § 3º, da Lei 8.742, na redação dada pela Lei 13.981, de 24 de
março de 2020, enquanto não sobrevier a implementação de todas as condições previstas no
art. 195, §5°, da CF, art. 113 do ADCT, bem como nos arts. 17 e 24 da LRF e ainda do art. 114
da LDO (ADPF 662 MC/DF, relator Gilmar Mendes)

3. Compulsoriedade da contribuição

Contribuição social (art. 149, CF) é, em todos os aspectos, tributo, ou seja, "prestação
pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua
sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa
plenamente vinculada" (art. 3º, CTN).

4. Anterioridade tributária em matéria de contribuições sociais

As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas após decorridos
noventa dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se
lhes aplicando o disposto no art. 150, III, "b" (art. 195, § 6º.)

Atenção: não devem respeito à anterioridade nonagesimal:

Leis que reduzam, extingam ou isentem as contribuições sociais.


Leis que instituam benefícios ou serviços previdenciários, haja vista que se trata de um
princípio do custeio.

IV. Princípios específicos da previdência social

1. Contributividade, ou caráter contributivo

Vigente tanto no RGPS quanto no RPPS.


Significa que o regime deve ser financiado (entre outras fontes) por contribuições sociais.

O caráter contributivo não se confunde com exigência efetiva de contribuição para gozar de
um benefício ou serviço, pois a contribuição pode ser presumida. , como no caso do
segurado empregado.

Além disso, inexiste vinculação entre o montante total recolhido em contribuições e o


montante a ser pago ao beneficiário, haja vista que o sistema é de repartição simples.
Exemplo: aposentadoria por invalidez acidentária de um velho e um jovem segurados.

2. Obrigatoriedade da filiação
Válido tanto para os regimes próprios quanto para o regime geral.
Todo trabalhador que não estiver filiado a regime próprio estará, obrigatoriamente, filiado ao
regime geral.

O vínculo previdenciário não tem natureza optativa, sob pena de estreitar demasiado a base
contributiva.
Não impede a existência de segurados facultativos, que, aliás, servem para alargar a base
contributiva e cuja existência está amparada pelo princípio (objetivo) da universalidade da
cobertura e do atendimento, elencado no art. 194.

Não confundir com a compulsoriedade/obrigatoriedade da contribuição, que é um princípio


de custeio. O sujeito passivo da obrigação tributária pode ser diverso do sujeito ativo da
obrigação previdenciária.

3. Equilíbrio financeiro e atuarial

Incluído pela EC 20/1998.


A gestão do sistema deve manter-se equilibrada, i. é., superavitária, levando em
consideração fatores demográficos. Principalmente, a estrutura etária. Tanto do lado do
custeio quanto do lado dos benefícios.

A ciência atuarial é o ramo das ciências exatas que visa, por meio de conhecimentos da
matemática e da estatística, prever, identificar e gerenciar riscos financeiros.

4. Garantia do valor mínimo

Também incluído pela EC 20/98.


Todo benefício substitutivo da remuneração do trabalho ou salário-de-contribuição terá
valor mínimo de um salário mínimo. Art. 201, § 2º e art. 2º, VI, da LBPS.
Não obedece à regra, por exemplo, o auxílio-acidente, por ter natureza indenizatória.
5. Facultatividade da previdência complementar privada (202 CF) e pública (40 CF, § 14
a 16)

A previdência complementar privada é um serviço prestado por instituições financeiras,


enquanto a previdência complementar pública (art. 40, § 14) é operada por instituições
criadas por ato do poder executivo, com natureza de "fundação ou sociedade civil, sem fins
lucrativos" (LC 108).

O "princípio" elencado diz apenas que a previdência complementar é facultativa.

6. Correção dos salários de contribuição

Incluído pela EC 20/98 (art. 40, § 17 e 201, § 3º, CF). Todos deverão ser atualizados, "na forma
da lei."

7. Indisponibilidade dos direitos dos beneficiários

O benefício não está sujeito à penhora, arresto, sequestro, exceto pensão alimentícia,
autorização de empréstimos consignados, cartão de crédito e pagamento de benefício
indevido, etc (art. 115 LBPS)

Em razão de sua natureza alimentar, uma vez cumpridos todos os requisitos para a aquisição
do direito ao benefício, não há"prescrição do fundo de direito".

O art. 102, § 1º trata da concessão de aposentadoria a quem tenha cumprido os requisitos


independentemente da perda posterior da qualidade de segurado.

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