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Bruno Ogeda1
Contexto Histórico
A tradição bíblica aponta Israel como a nação eleita de Deus, povo que Ele
tirou da escravidão no Egito. Porém, ao longo de sua história vemos que os israelitas
foram subjugados por diversos povos. Todas essas dominações estrangeiras
causaram choques culturais, principalmente no quesito religioso, devido à
especificidade do judaísmo. Entre os diversos momentos em que os judeus lutaram
pela sua independência e para manter sua religião, podemos destacar a Revolta dos
Macabeus em 167 a.C. que os libertou do domínio dos selêucidas. Apesar da grande
vitória, cem anos mais tarde, os judeus cairiam nas mãos dos romanos, que ocuparam
a Judeia no ano de 63. Inicialmente, houve uma política de “coexistência pacífica”, os
novos senhores da Palestina criaram decretos que permitiam aos judeus “seguirem
os ensinamentos de seus pais”. Em 40 a.C. subiu ao poder Herodes considerado “rei
amigo” pelos romanos, mas contestado pelos judeus, já que era de origem edomita.
O governo de Herodes foi marcado pelas grandes obras, que agradavam aos olhos
das elites e dos estrangeiros, mas que pesavam sobre os bolsos da população que
arcou com pesados aumentos de impostos, resultando após a morte de Herodes, em
4 a.C., num terreno fértil para o acontecimento de movimentos sociais.
Banditismo social
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Bruno da Silva Ogeda é aluno do curso de pós-graduação lato sensu de História Antiga e Medieval – Religião e
Cultura da Faculdade de São Bento do Rio de Janeiro (FSB/RJ). e-mail: brunoogeda.99@gmail.com
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divina. Há registro da ação de salteadores desde o reinado de Herodes (37 a.C – 4
a.C.), onde percorriam as cidades e os campos praticando violência contra a nobreza
local. Esta era uma forma de exercer uma constante resistência ao governo. Neste
período o rei Herodes exerceu forte controle social apoiado em um grande aparelho
de repressão e do próprio exército romano. Posteriormente, no período do primeiro
século depois de Cristo, os salteadores continuaram na ativa. Um dos grupos dos
quais citam as fontes é aquele liderado por Tolomau que agia na região da Iduméia.
Outra grande “tropa de salteadores” é a comandada por Eleazar ben Dinai que agiu
cerca de vinte anos. Muitos outros surgiram durante as décadas de 40 e 50 do primeiro
século devido a grande fome que assolou a Palestina. Os bandidos não agiam apenas
contra a exploração econômica e as desigualdades sociais, durante o governo do
procurador Cumano houve um incidente em que um soldado romano desrespeitou os
judeus na entrada do Templo, durante a festa dos Ázimos. Apesar dos cuidados que
os romanos procuravam ter com as particularidades religiosas dos judeus, as ofensas
acabavam ocorrendo. Em resposta a esta provocação, Josefo afirma que “(...) os
bandos de ladrões provocaram outra revolta. No caminho público que conduz a
Betorão alguns bandidos saíram ao encontro de um tal Estevão, escravo de César, e
roubaram o que ele levava.” [Guerra dos Judeus 2:228]. As tensões entre os judeus e
os romanos chegaram ao seu clímax na década de 60, culminando na revolta judaica
no ano 66 d.C. e neste enfrentamento direto, os bandidos sociais estiveram presentes
na guerrilha da zona rural, chegando inclusive a empreender algumas derrotas ao todo
poderoso exército romano. Assim, os grandes bandos se armaram com equipamentos
abandonados pelos dominadores e se fortaleceram ainda mais.
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Movimentos messiânicos
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judaica mais típica da Galileia, localidade rural” [Vermes, 1983], por isso seus
ensinamentos iam de encontro aos anseios do povo. Logo as multidões atribuíram a
ele o título de messias, aquele que lutaria e livraria Israel do julgo romano, mas Jesus
disse: “deem ao imperador o que pertence ao imperador. E deem a Deus o que
pertence a Deus! ” [Marcos 12:17]. Demonstrando assim que ele não iria comandar
nenhuma revolução armada contra Roma. O que de fato não tirava de sobre ele seu
messianismo. Quando foi levado a julgamento, “Pilatos lhe fez a seguinte pergunta:
“Você é o rei dos judeus? ” Yeshua (Jesus) lhe respondeu: “As palavras são suas.”
[Marcos 15:2] Podemos concluir que Jesus dispensava o título real no sentido político,
ele poderia ser um líder religioso, mas não um líder político. Jesus foi condenado e
morto crucificado ao lado de dois ladrões, o que faz acreditar que para os romanos e
para as elites judaicas que não aceitaram sua mensagem, ele não passava de um
agitador social, assim como aqueles que participavam do banditismo social. Após a
morte de Jesus aconteceria dois movimentos de reis messiânicos muito fortes. O
primeiro deles foi liderado pelo sicário Manaém durante o ano de 66 d.C., num
momento onde a revolta judaica estava no começo. Contrariando as características
dos sicários que não eram ligados ao messianismo, o “mestre” Manaém, como era
chamado, reivindicou para si o messianismo em um tempo onde parecia que o
cumprimento escatológico estava próximo.
O outro movimento foi liderado por Simão bar Giora que foi o principal
comandante da rebelião popular em Jerusalém. Ele começou liderando um grupo de
salteadores que “não só saqueava a as casas dos ricos, mas também maltratava as
pessoas” [Josefo apud Horsley e Hanson, 1995] Mas logo estendeu seu poderio e
consolidou o domínio sobre a Judeia e a Iduméia, antes de chegar a Jerusalém. A
cada cidade encontrava novos adeptos, segundo Horsley e Hanson [1995] ele chegou
a ter 40 mil seguidores além dos seus homens armados, Simão passava a ser
aclamado com um verdadeiro rei de todos os descontentes e oprimidos. Todo o
movimento era impulsionado pela exploração praticada pelos ricos e pelos
estrangeiros, tinha como princípio a restauração da justiça social e se inspirava no
reinado de Davi. A utopia de Simão bar Giora acabaria em 70 d.C. quando os romanos
destruíram Jerusalém, ele e seus principais colaboradores são presos e levados a
Cesareia Marítima e depois a Roma, onde Simão participa da parada triunfal como o
prisioneiro principal, sendo executado em seguida. Ele cria que de fato era o próprio
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messias e os romanos o reconheciam como líder dos judeus. O último movimento com
características messiânicas do primeiro século foi a revolta liderada por Simão bar
Kökeba que recebeu apoio do respeitado Rabi Akiba que afirmava ser Simão o
verdadeiro messias, o enviado de Deus, que libertaria o povo de Israel e de fato, ele
e seus seguidores desafiaram os romanos. Com a estratégia de guerrilha nas
fortalezas e montanhas conseguiram lutar contra o grande poderio do exército de
Roma. Porém, o movimento foi derrotado e Simão bar Kökeba foi executado,
encerrando assim as esperanças messiânicas naquele período.
Grupos sociais
Os saduceus
Os fariseus
Os essênios
Sua origem não está muito clara, mas ao que tudo indica estão ligados ao
tempo da perseguição empreendidas pelos Macabeus. Alguns descendentes da linha
sadoquita se refugiaram no deserto. Desenvolveram uma sociedade peculiar, com
grande apego as regras religiosas e constante busca pela santidade, tomavam
diversos banhos frios por dia para conservar a pureza e recusavam o Templo e seu
sumo sacerdote ilegítimo, buscavam agradar a Deus mantendo sua santidade.
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Os Zelotas
Este grupo era uma coalizão de camponeses que haviam migrado para o
banditismo, surgida durante a reconquista romana da Judeia (em 67-68 d.C.). Seu
principal palco de ações foi a cidade de Jerusalém onde atacaram pessoas da nobreza
ligada aos reis herodianos e investiram um camponês no cargo de sumo sacerdote.
Esse sumo sacerdote eleito pelos zelotas foi escolhido por sorteio, o que demonstra
que o grupo era democrático, fato corroborado pela falta de uma liderança única no
movimento. O comando era exercido de forma coletiva, o que faz lembrar à tradição
judaica anterior a realeza, onde o verdadeiro líder de Israel era Deus e por isso não
havia uma pessoa específica no comando. Dentre todas as facções da sociedade
judaica era a considerada mais política e representavam o nacionalismo judaico em
sua forma mais feroz. Praticavam crimes de toda espécie, segundo o historiador Flávio
Josefo [1986].
Os sicários
O nome do grupo vinha da palavra sica em latim que significava punhal, nome
atribuído por causa da tática utilizada por esse grupo em seus ataques contra pessoas
da elite judaico-romana. Estas pessoas também foram recrutadas no proletariado rural
da Palestina e representavam apenas uma pequena parcela da resistência judaica.
Conclusão
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esperança de se livrar do peso dos impostos e da dominação romana, o que culminou
com a grande participação de camponeses no conflito de insurreição contra os
romanos. Apesar de todo engajamento, a resistência dos oprimidos não foi capaz de
frear o avanço do maior império da antiguidade que aplicou uma derrota severa aos
insurgentes, destruindo a sua principal cidade e seu principal prédio religioso. A
destruição de Jerusalém e do Templo na trágica derrota dos judeus em 70 foi uma
grande marca do primeiro século. A ausência do Templo obrigou o judaísmo a se
“reinventar” e acabou por transformar de alguma forma a relação dos judeus com a
cidade santa.
Referências
JOSEFO, Flávio. Guerra dos Judeus: Livro II. 1ª ed. (ano 2002), 4ª tir. Curitiba:
Juruá, 2006. 122p. _____, ______. Uma testemunha do tempo dos Apóstolos. 1ª ed.
(ano 1986), 10ª tir. São Paulo: 2016.
Vermes, Geza. Jesus e o mundo do judaísmo. 1ª ed. São Paulo: Loyola, 1996.
OGEDA, Bruno da S. A Sociedade Judaica do Primeiro Século e o Domínio Romano. In: BUENO, André;
ESTACHESKI, Dulceli; CREMA, Everton; NETO, José Maria [orgs.] Vários Orientes. Rio de Janeiro/União da
Vitória; Edições Sobre Ontens/LAPHIS, 2017.
ISBN: 978-85-65996-49-5
Disponível em: www.revistasobreontens.site
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