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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Curso – Licenciatura em História – EaD


Polo: Resende Consórcio CEDERJ
Aluno: ARTHUR ALEXANDRE CAETANO SILVA DE SOUZA
Matrícula: 17116090216

A desconstrução de preconceitos e os desafios da educação ética


INTRODUÇÃO
A presente atividade buscará refletir de forma crítica acerca das posturas ativas
assumidas por um professor consciente de seu papel enquanto educador e de suas
responsabilidades para promover um ambiente propício ao aprendizado. Para que isso
ocorra, o professor deve “contornar” uma série de situações que marcam os espaços
escolares, sobretudo, ao que se refere a solução de conflitos. Será objeto de nossa
análise, a proposta de número 3, onde nos é apresentado o seguinte caso: “Durante a
exibição de um documentário um grupo de alunos(as) da turma insistiu em ironizar a
participação de um determinado grupo social de uma determinada região retratados
na exibição. Após o documentário o professor solicitou a turma que observasse as
questões propostas no roteiro elaborado previamente e determinou/conduziu a
realização de um debate exclusivamente voltado para as questões dispostas no
roteiro”.

 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Um dos grandes desafios da educação para a atualidade, é transformar a prática


docente, muita das vezes “burocratizada” em paradigmas tradicionais, num processo
educativo significativo voltado para a construção ética, moral e de outros valores que
permitam aos educandos a emancipação capaz de levá-los ao pleno desenvolvimento de
suas capacidades para o exercício da cidadania. Por se constituir um dos exemplos no
qual os alunos se inspiram, o professor deve assumir constantemente uma postura auto
reflexiva acerca de suas atitudes quanto a sua prática de ensino, visando estimulá-los ao
diálogo e a um ambiente acolhedor, características essas fundamentais para uma
educação democrática.

Passando a estudar o problema, a primeira postura assumida pelo professor de


ignorar a ironia da turma frente aos preconceitos raciais e culturais observados em sala
remete-nos a uma postura pouco crítica-reflexiva do professor. Tal atitude assumida,
relembra uma educação tradicional de matriz conteudista, no qual a
transmissão\exposição de conteúdos é o fator primordial e exclusivo a se alcançar,
relegando assim, o caráter transformador do conhecimento frente as suas adaptações,
criações e recriações oriundas do próprio fazer-se (isto é, no próprio processo
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A desconstrução de preconceitos e os desafios da educação ética


construtivo). Desse modo, ao ignorar os acontecimentos, o conhecimento deixa de ter o
seu caráter significativo (transformador) e passa a se tornar “mecânico”, seguindo
apenas um roteiro padronizado, desvinculado dessas múltiplas realidades que cercam os
espaços escolares.

Problematizando o abismo existentes entre teoria e prática, observamos que


faltou na postura do professor a integração das múltiplas dimensões acerca das
vivências humanas, como os valores, as atitudes e as convicções que permeiam o
processo de ensino. Mais do que meras teorias, é preciso ir além, estabelecendo um
espaço de diálogo atento para as questões que cercam as distintas realidades de nossos
alunos. Educar-se para a cidadania envolve uma postura prática, um processo que é
construído coletivamente. Como nós podemos contribuir para a construção de uma
educação cidadã?

Analisando as considerações do referido estudo de caso, acredito que o pilar para


essa questão resida no compromisso ético e a mobilização assumida pelo professor em
trazer esse debate para suas aulas. Falar sobre Direitos Humanos envolve empenho do
profissional, pois é um assunto que causa polêmicas e controvérsias sociais (como
observamos no exemplo de caso) e envolve “sair da zona de conforto” e do
conformismo, ao passo em que lidamos (problematizamos, questionamos) com certos
aspectos da vida social que são como “feridas históricas” não cicatrizadas. Somente por
meio desse debate ético (e na maioria das vezes difícil) é que podemos conscientizar
nossos alunos, levando-os ao pensamento crítico tão necessários ao mundo
contemporâneo.

Quanto a pertinência do conhecimento, podemos observar que uma educação


baseada em valores é intrínseca a ação social (prática) e por isso, essa se constitui mais
relevante para a formação humana, se comparada a exposição de meras teorias que são
muitas das vezes, desvinculadas das realidades imediatas de nossos alunos. Levar
nossos alunos a compreender o mundo que o cercam é fundamental, pois conforme
conclui PIAGET (1982, p. 246) acerca da importância de uma educação crítica-
reflexiva:
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A desconstrução de preconceitos e os desafios da educação ética


[...]a principal meta da educação é criar homens que sejam capazes
de fazer coisas novas não simplesmente repetir o que outras
gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores,
descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes que
estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que a
elas se propõe.
Diante disso, o professor deve desconstruir qualquer forma de preconceitos que
surgem nos espaços escolares, promovendo um debate ético, que os permitam “pensar
por si mesmos”, refletirem acerca de suas atitudes enquanto membros de uma sociedade
marcada por múltiplas distinções e especificidades. Seria cabível ao professor,
problematizar as afirmações (preconceituosas) feitas pelo determinado grupo
imediatamente ao acorrido, e com isso, articular as reflexões desenvolvidas com a
situação a matéria (conteúdo), se possível. Caso não seja, o professor deve ser capaz de
avaliar qual abordagem seria mais significativa para a “construção” do indivíduo: uma
mera abordagem teórica, por vezes distante do “universo presente” dos alunos ou a
manifestação de uma realidade imediata como pressupõe os preconceitos – ideias
generalistas que refletem a sociedade que as produzem e as perpetuam - ?
Feito essa autoanálise, suponhamos que o professor opte por recriar todo o
processo de ensino ousando romper com o que anteriormente havia planejado com a
proposta de exercício. O professor poderia ajustar os objetivos da atividade visando a
aquisição de competências e habilidades que visam sobretudo a formação humana e
individual ética por meio da desconstrução desses preconceitos. Uma das situações
possíveis para que isso ocorra é o professor utilizar-se de perguntas e problemas úteis,
dirigidas não somente ao grupo que fez tais afirmações preconceituosas, mas a toda a
classe, para assim estimular o pensamento crítico-reflexivo de todos no ambiente
escolar. Tal recurso, é bastante significativo ao processo de ensino-aprendizagem, pois
conforme PIAGET (1977, p. 18):
[...]o educador continua indispensável, a título de animador, para criar
as situações, e armar os dispositivos iniciais capazes de suscitar
problemas úteis à criança, e para organizar, em seguida,
contraexemplos que levem à reflexão e obriguem ao controle das
situações demasiado apressadas: o que se deseja é que o professor
deixe de ser apenas um conferencista e que estimule a pesquisa e o
esforço, ao invés de se contentar com a transmissão de soluções já
prontas.
Por estimular os alunos a “servir-se de seus próprios entendimentos”, o professor
contribui para promover a democratização dos espaços escolares, além de contribuir
significativamente para o desenvolvimento do indivíduo, pois conforme observamos,
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A desconstrução de preconceitos e os desafios da educação ética


para Piaget, uma das principais competências que o professor deve incentivar é o
“aprender a aprender”, e tal método de ensino é dado em direção as individualidades
dos alunos. As experiências que os mesmos constituem são superiores as meras
intervenções ou exposições de conteúdos pelo professor. A construção do conhecimento
coletivo, baseado no diálogo entre alunos e professores e demais participantes do
processo escolar são vitais para a autonomia humana e para incentivar nossos educandos
a “sair da minoridade” nas palavras de Immanuel Kant, tornando-os seres pensantes e
autônomos, livres da tutela dos preconceitos advindos do senso comum. PIAGET
(1977, p. 62) reitera a importância do indivíduo como ser ativo na construção de seus
próprios conhecimentos:
Conquistar por si mesmo um certo saber, com a realização de
pesquisas livres, e por meio de um esforço espontâneo, levará a retê-
lo muito mais; isso possibilitará sobretudo a aquisição de um método
que lhe será útil  por toda a vida e aumentará permanentemente a sua
curiosidade, sem o risco de estancá-la; quanto mais não seja, ao
invés de deixar que a memória prevaleça sobre o raciocínio, ou
subverter a inteligência a exercícios impostos de fora, aprenderá ele a
fazer por si mesmo funcionar a sua razão e construirá livremente suas
próprias noções.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme buscamos evidenciar, educar-se para ética requer uma postura ativa
do professor em criar e recriar os seus métodos de ensino e condições propícias ao
diálogo e a interação com seus alunos por meio do olhar específico e atento a suas
distintas realidades. Do mesmo modo, envolve uma postura ativa do aluno, enquanto
peça fundamental na construção de seus próprios conhecimentos.

Ao lidarmos com os preconceitos, devemos trabalhar de forma ética, visando a


desconstrução dos mesmos e não fugir em nenhum momento dos debates acerca dos
Direitos Humanos. Como educadores, e principalmente, enquanto professores de
história (meu caso em específico), devemos assumir como missão a célebre frase do
historiador francês Peter Burke que diz que “A função do Historiador é lembrar a
sociedade daquilo que ela quer esquecer”. E para que isso ocorra, “feridas abertas”
precisam vir à tona para serem superadas, como é o caso dos preconceitos ainda
enraizados na história de nossa sociedade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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A desconstrução de preconceitos e os desafios da educação ética


PIAGET, Jean. O nascimento da inteligência na criança. 4. Ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1982,
p.246.

PIAGET, J. Para onde vai a educação? Rio de Janeiro: José Olympio, 1977, p. 18-62.

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