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UNILA-CAU DOCENTE: Mariana Barbosa De Souza

ESTUDOS DO TERRITÓRIO DISCENTE: Jhennifer Kava

URBANIZAÇÃO. SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL. CONFLITOS SOCIAIS.


Relatório do Seminário

1. a produção espacial

A produção da cidade, local de relações sociais tal como conhecemos, é


uma cadeia de ações geolocalizadas realizadas por agentes sociais. É
impossível deslocar os conflitos sociais do espaço e tão pouco o espaço e sua
apropriação desses conflitos. Cada grupo social, compreendido pelos mais
variados recortes, interfere diretamente em seu meio, colocando em vista seus
interesses e objetivos e resultando, consequentemente, em sua emancipação
e/ou dominação de outros grupos.
As ações sistematizadas de apropriação e de uso dos agentes sociais que
produzem o espaço social são feitas de acordo com o poder e autonomia destes
dentro do território. Sendo assim, as práticas de uso do espaço social passam
por uma peneira de recortes tendo grupos sociais com maior poder e autonomia
de interferência socioespacial que outros. Esses conflitos de uso evidenciam a
fragmentação do território, algo que podemos observar e exemplificar a partir da
trilogia de “Jogos Vorazes”.
Nos livros e filmes da saga observamos a fragmentação, estratificação social
e como a apropriação do espaço se faz a partir do objetivo de dominação de uma
classe sobre as outras. A capital, classe dominante e detentora dos meios de
produção e de poder aquisitivo, divide os demais grupos em 12 distritos
fragmentados pelo território conforme seus interesses econômicos e produtivos,
eximindo-os de sua subjetividade a partir da objetificação do sujeito. A
segregação desses grupos em distritos é uma ferramenta fundamental para a
manutenção do status quo do sistema. A dificuldade de circulação, comunicação
e de acesso aos recursos produzidos entre os grupos dominados enfraquece as
chances de resistência e aumenta o controle da Capital, classe dominante.
Um destaque nesse jogo de conceitos teóricos e literatura é a percepção de
um sistema que dita as regras de como se dá o uso do espaço para os grupos
ali presentes. Isso é, em “Jogos Vorazes” temos um sistema de produção, de
mercantilização, objetificação da classe trabalhadora, e uma classe dominante a
partir da concentração dos meios de produção e da acumulação do capital.
Temos o conflito de classes, conceito marxista que conversa diretamente com a
discussão de direito a cidade hoje e toda a produção espacial e segregacionista.

2. os conceitos e trabalhos teóricos

Os mais conhecidos autores sobre segregação socioespacial são Flávio


Villaça, Eduardo Marques e Roberto Lobato Corrêa. Eles veem a fragmentação
da cidade a partir dos conflitos de classe dentro do sistema econômico e,
portanto, a renda e poder aquisitivo como maior fator de ocupação do território.
Assim, a segregação pode ser vista como segregação induzida, segregação
imposta ou auto segregação, seja voluntária ou involuntária. Os autores
apresentam diferentes modos de classificar essas “formas” de produzir o espaço,
mas é comum a ideia de que quando um grupo é segregado, outro também
acaba por ser. Voltando ao nosso exemplo de “Jogo Vorazes”, quando a
população é segregada em distritos a capital acaba por se auto segregar, o que
pode ocorrer de modo contrário também, quando a classe dominante ao se
segregar define os espaços de outros grupos. De qualquer forma, a apropriação
e uso se dá sob os interesses de quem tem maior poder ali.
Além disso, a segregação socioespacial é compreendida na cidade a partir
de acessos e limitações/restrições. A mobilidade, zoneamento, infraestrutura,
segurança são fatores a serem observados e que delimitam a área de circulação
e atuação de um grupo social no espaço, bem como seu acesso à cidade.
Autoras como Mariana Barbosa De Souza, Tuize Silva Rovere Hoff e
Diana Helene Ramos, trabalham com o tema da segregação socioespacial não
apenas a partir dos conflitos de classe, mas evidenciando recortes de gênero,
raça, orientação sexual, entre outros, que conformam os grupos sociais. Os
principais trabalhos usados na apresentação são: “Norma e Território: O
Processo De Normatização Dos Condomínios Horizontais Fechados No Litoral
Norte Do Rio Grande Do Sul”, “A Cidade E A Mulher: Segregação Urbana
Feminina Em Santa Cruz Do Sul/Rs” e “Preta, Pobre E Puta: a segregação
urbana da prostituição em Campinas – Jardim Itatinga”, respectivamente. Cada
trabalho aborda um processo de segregação em uma escala de cidade e grupos
diferentes e nos levam a discutir o direito à cidade bem como o papel do poder
público quanto a formação desses processos segregacionistas.
A tese de doutorado da Diana Helene Ramos, ganhadora do prêmio
Capes em 2016, fala do bairro Jardim Itatinga, em Campinas, uma das maiores
áreas de prostitução da América Latina. Este começou a se formar a partir de
1966 com uma iniciativa do poder público de retirar as prostitutas do centro, bem
como da cidade, e realocá-las em um bairro periférico. O discurso de controle e
saúde pública, acordos com casas de prostituição e a violência policial foram as
estratégias utilizadas pela prefeitura nessa política de higienização social. Além
disso, é abordada a experiência das prostitutas que trabalham no centro e sua
resistência, assim como a demarcação simbólica entre os grupos sociais nesse
espaço em comum e suas performances que os permitem coexistir.
Diana, que é arquiteta, também descreve seu percurso desde sua casa
em Barão Geraldo, bairro nobre no norte de Campinas, até sua chegada no
Jardim Itatinga, no extremo sul. A mudança dos cenários, a forma de circulação
e paisagem são descritas e nos colocam como observadores desse espaço.
Esse capítulo em particular é essencial para especializar e compreender as
dimensões físicas da segregação em Campinas, e enfim como opera a
marginalização, a misoginia e a repressão para a população nesse recorte de
raça, gênero e classe. Como se compõe os limites e barreiras físicas de
mobilidade, zoneamento, infraestrutura e segurança que classificam quem tem
e quem não tem acesso a esses espaços.

3. discussões

Por fim, na apresentação trouxemos imagens, exemplos pessoais e de


filmes que conversem sobre o tema. Refletir como a segregação pode estar em
pequenas escalas, como desde a planta e organização espacial da casa, como
esboço no filme “A Que Horas Ela Volta?”, o quarto da empregada que vem a
ser discutido em trabalhos teóricos também. A área vip e as entradas (circulação)
de serviço que tem esse mesmo caráter de divisão espacial, mas diferença nos
grupos sociais. Outro exemplo, é a segregação a partir da especulação
imobiliária que aumenta os preços de uma área e pressiona a saída (expulsa) os
moradores locais, e isso evidenciado a partir de recortes de jornal bem como do
filme “Aquarius”. Também apontamos as diferentes rotas dentro da cidade em
busca de segurança feita por diferentes grupos sociais, como a criação do
“vagão rosa” no metrô de São Paulo. Discutimos a privatização do espaço e a
formação dos condôminos em busca de exclusividade de serviços. Assim, como
há toda uma estrutura social que solidifica e reforça esses processos
segregacionistas nas cidades.

REFERÊNCIAS

HOFF, Tuize Silva Rovere. A cidade e a mulher: segregação urbana feminina


em Santa Cruz do Sul/RS. 2018. Dissertação (Programa de Pós-Graduação em
Desenvolvimento Regional -Mestrado e Doutorado) -Universidade de Santa Cruz
do Sul, Santa Cruz do Sul.

RAMOS, Diana Helene. “PRETA, POBRE E PUTA”. 2015. Tese de Doutorado.


Universidade Federal do Rio de janeiro. Disponível em:
https://feminismurbana.files.wordpress.com/2017/07/planejamento-urbano-
regional-demografia-diana-helene-ramos.pdf , acesso em 20 de abril de 2021.

Souza, M. B. D. Norma e território: o processo de normatização dos


condomínios horizontais fechados no Litoral Norte do Rio Grande do Sul.
IV Seminario Latinoamericanode Geografía, Género y Sexualidades,
2019. Disponével em: https://repositorio.unisc.br/jspui/handle/11624/2440,
acesso em 20 de abril de 2021.

Souza, M. B. D; ORNAT, M. Segregação urbana, gênero e sexualidades:


caminhos de reflexão em tempos de retrocessos. 2019. Disponével
em:https://www.researchgate.net/publication/340388710_Segregacao_urbana_
genero_e_sexualidades_caminhos_de_reflexao_em_tempos_de_retrocessos,
acesso em 20 de abril de 2021.

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