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Universidade Eduardo Mondlane

Escola Superior de Negócios e Empreendedorismo de Chibuto (ESNEC)

Técnicas de Comércio Internacional


Texto de Apoio
Diferentes sectores de exportação e suas características

1. Introdução
As economias crescem há medida que o tempo passa e, é de se esperar que com elas cresçam, não
só, os volumes das suas transacções de bens, serviços e capitais com o exterior, como também a
ocorrência de mudança dos seus padrões de troca de niveís relativamente desfavorecidos para
favorecidos do ponto de vista dos ganhos a partir do comércio internacional.

Neste texto será abordada a questão da distinção dos países de acordo com os seus principais
sectores de exportação, bem como as suas características. O objectivo é encontrar respostas para
perguntas tais como: Por que é que alguns países são muito pobres que outros? Por que é que alguns
países que eram pobres antes conseguiram progredir de maneira impressionante, enquanto outros
não?

O texto está organizado em 3 secções. A primeira secção a ser abordada prende-se com a evolução
das trocas comerciais entre zonas e defende-se que, não obstante o crescimento do volume das
transacções globais, os países em vias de desenvolvimento muito pouco têm contribuido, uma vez
que os grandes pólos de comércio internacional encontram-se juntos de países desenvolvidos. A
seguir, discriminam-se os países de acordo com as exportação mais predominantes e para concluir
relacionam-se os ganhos advenientes das exportações dos produtos dos países em vias
desenvolvimento face as importações que estes fazem e a conclusão é muito simples: os países em
vias de desenvolvimento ganham muitíssimo pouco com o comércio internacional.
2. A evolução das trocas comerciais entre zonas
A evolução das trocas comerciais de bens, serviços, factores de produção e capitais conheceu um
crescimento acentuado de 1970 até aos nossos dias. À título de exemplo, GUILLOCHON (1993)
refere-se que no período de 1970 a 1990, o comércio de mercadorias teve um crescimento médio de
aproximadamente 4,7% contra os 3,2% referente à produção.

O autor acrescenta que, em parte, este rápido crescimento das transacções é explicado pela abertura
dos países ao comércio externo, apesar do incremento de barreiras impostas pelos mesmos países em
sectores sensíveis. Este paradoxo de maior abertura ao comércio externo por um lado e, incremento
de barreiras, por outro, deve-se ao aumento de zonas de integrações económicas regionais que
promovem abertura ao livre comércio entre os seus membros impoem barreiras comerciais aos
demais países que não fazem parte destas e por último ao facto da imposição de barreiras estimular a
procura de novos produtos exportáveis por parte de países que se sentem prejudicados pela sua
imposição.

A evolução das trocas comerciais em termos do peso no volume global dos produtos
transaccionáveis mostra que os países desenvolvidos mantiveram sempre um papel de destaque, na
medida em que cerca de 70% das exportações mundiais foram realizadas entre eles e acima de 75%
das importações destinam-se a este grupo de países.

Em relação aos países em vias de desenvolvimento há por salientar que os seus níveis de
contribuição no comércio mundial vem aumentado embora o comércio sul-sul é ainda insignificante.

2.1. Os pólos das trocas


A Europa Ocidental, (União Europeia) tem sido o pólo principal de trocas comerciais a nível
mundial. Estima-se que um quarto das exportações dos países desenvolvidos e em desenvolvimento
destinam-se à esta zona. GUILLOCHON (1993;111) argumenta esta realidade, escrevendo que “ (...)
tanto enquanto cliente como enquanto consumidor, a Europa Ocidental constitui um pólo de trocas
mundiais tendo intensas relações com ela própria e com regiões geograficamente próximas (Europa
do Leste, África, Médio Oriente)”.
Paralelamente à Europa Ocidental está a América do Norte, o Japão e Ásia do Sul e do Leste.
Considerado como sendo o segundo pólo de trocas comerciais, a América do Norte exporta uma
parte significativa da sua produção para ele mesma, para América Latina, Ásia do Sul, do Leste e
para o Japão’

Para concluir, há que chamar atenção para o facto de maior parte de comércio mundial ser do tipo
norte-norte, (entre países desenvolvidos); norte-sul (países desenvolvidos e subdesenvolvidos) e em
menor expressão sul-sul (entre países subdesenvolvidos). A menor relevância do comércio sul-sul
pode-se dever entre outras razões à fraca ou falta de complementaridade entre este tipo de
economias.

3. Sectores de exportação e suas características


Os países podem ser classificados de acordo com as características das suas exportações típicas. Por
este princípio, os países são organizados em três grupos: os países que se destacam na exportação de
produtos provenientes da agricultura, pecuária, manufacturados; países que exportam produtos
fabricados ou resultantes da transformação daqueles e por último, aqueles que se especializam na
exportação de produtos que requerem o uso de mão-de-obra altamente qualificada e serviços.

3.1.Sector de bens primários


De acordo com DUNN e MUTTI (2004) constituem integram este grupo, os países em vias de
desenvolvimento. A característica típica destes países é a alta dependência em relação aos países
desenvolvidos, pois, a maior parte das suas exportações destinam-se aos países desenvolvidos e
destes provêm parte significativa dos bens manufacturados importados.

A outra característica dos países que se especializam na exportação deste tipo de bens é o facto de
maior parte concentrarem-se nos chamados produtos primários tais como: produtos agrícolas,
matérias-primas, recursos florestais, energéticos e produtos manufacturados, num contexto de falta
de diversificação das exportações. Entretanto, é preciso salientar que os produtos manufacturados
por estes exportados, são por sua natureza de trabalho-intensivo (CARBAUGH;2004).

Ora, esta falta de diversificação da base de exportações faz com que o mercado de exportações deste
países seja volátil. Os autores DUNN e MUTTI (2004) escrevem, por exemplo, que à excepção do
Botswana (exportador de diamantes) quase todos os países que se especializam na exportação de
produtos primários registaram períodos de dificuldades nas economias causadas pela volatilidade
dos preços seus produtos no mercado externo.

Em outros estudos realizados pelo Banco Mundial e UNCTAD1 concluiu-se que a volatilidade dos
preços dos produtos primários é maior em relação a dos produtos manufacturados e na explicação
deste fenómeno, os estudos revelam que isto se deve ao facto dos preços dos produtos primários
serem determinados em mercados altamente competitivos (localizados em países desenvolvidos)
caracterizados por frequentes oscilações de preços.

Um outro argumento relaciona-se com a baixa elasticidade de procura e oferta dos produtos
primários no mercado mundial em relação aos produtos manufacturados. Os países em vias de
desenvolvimento, por vezes, especializam-se na exportação de produtos primários altamente
perecíveis, e por este motivo, os produtos são vendidos no mercado externo a qualquer preço por que
a curto prazo a oferta destes produtos é inelástica. Se a elasticidade preço da procura por produtos
primários é muito baixa (relativamente inelástica) devido a existência de poucos substitutos
relativos, a probabilidade de flutuações de preços é maior, isto é, um deslocamento da curva da
procura ou da oferta provoca uma maior oscilação do preço em relação àquela que ocorreria caso as
curvas da procura e da oferta fossem mais elásticas.

A questão que se pode colocar agora é: por que é que a volatidade dos ganhos advenientes das
exportações é problema para estas economias?

A volatilidade dos ganhos advenientes das exportações pode comprometer significativamente as


habilidades dos países em manter os seus padrões de vida na medida em que, por exemplo, o país
pode não só reduzir o nível de investimento interno, como ainda, enfrentar dificuldades em sector de
importação uma vez que os preços das exportações em relação às importações tenderão a deteriorar-
se.

3.2.Sector de bens secundários


Alguns países devido a vária razões passaram do estágio de dependência por exportações de
produtos primários para o estágio seguinte que se caracteriza pela exportação de uma variada gama
de produtos manufacturados, muito deles que exigem o uso de trabalho-intensivo. Países que já

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Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e Desenvolvimento
completaram a fase de transição, movimentam-se em direcção à produção e exportação de bens que
exigem o uso de capital especializado e intensivo embora mantenham alguns sectores de exportação
de produtos de trabalho-intensivo tais como: indústrias textéis, vestuário e calçado. Alguns destes
países tiveram no passado altas taxas de crescimento impulsionadas, em parte, pela desempenho do
sector de exportação. Dos casos mais conhecidos salientam-se os quatro primeiros “tigres asiáticos”
nomeadamente: Taiwan, Singapura, Coreia do Sul e Hong Kong e os recentes NIC’s (Novos Países
Industrializados) dentre estes: a Indonésia, Malásia, Tailândia e os BRICS: Brasil, Rússia, Índia,
China e África do Sul.

Uma outra questão que se pode colocar é: por que é que estes países que eram pobres antes
conseguiram progedir de forma impressionante em relação aos outros que permanecem
dependentes de exportações de produtos primários?

DUNN e MUTTI (2004) respondem à esta questão frisando que estes países conseguiram (e com
sucesso) mudar o seu padrão de comércio Apontam o caso da Malásia que por volta de 1965 era
dependente de exportação de produtos primários e volvidos 30 anos, não obstante, a importância
destes, maior parte dos ganhos do sector de exportação malaio foi conseguido a partir de produtos
diversificados da indústria electrónica. Ora, este caso de sucesso malaio (e não só) é apontado como
tendo sido possível graça à combinação de vários factores que culminaram com uma alteração no
padrão de comércio malaio e dentre esses factores, destacam-se:
 Maior abertura ao comércio internacional;
 Altos investimentos em capital humano que permitiram a atracção de firmas multinacionais
para o país e a consequente expansão do stock de capital disponível e a base tecnológica;
 A atracção do Investimento Directo Estrangeiro permitiu por sua vez o surgimento de
economias externas de escala e como resultado, os custos de produção reduziram
significativamente;
 Apostou em sectores que detinha vantagens comparativas dinâmicas e não estáticas;
 Absorção eficiente de tecnologias de produção eficientes, incentivo ao aumento da
produtividade.

Alguns economistas consideram o crescimeto rápido dos “tigres asiáticos” como um padrão de
gansos voadores de desenvolvimento económico em que um grupo determinado de “(...) países
avançam gradualmente em termos de desenvolvimento tecnológico seguindo o padrão de países à
frente deles no processo de desenvolvimento” (CARBAUGH,2004;275).O mesmo autor acrescenta
que

“ (...) em certo grau, o padrão gansos voadores é um resultado das forças do mercado: nações
com mão-de-obra abundante se tornarão globalmente competitivas nas indústrias trabalho-
intensivos, como a de calçado, e gradualmente passarão a operar indústrias mais intensivas em
capital ou conhecimento técnico à medida que a poupança e a educação aumentarem a
disponibilidade de capital e trabalhadores especializados” (pag.275)

4. A tendência da deterioração dos termos de troca das exportações dos Paises em


vias de Desenvolvimento
Foi abordado neste texto de apoio que um dos problemas que os países produtores e exportadores de
bens primários enfrentam no mercado externo tem a ver com a volatildade dos preços dos seus
produtos, uma vez que os seus preços são determinados em mercados altamente competitivos.

Por isso, a maneira como os ganhos do comércio são distribuidos entre os países em vias de
desenvolvimento por um lado e, desenvolvidos por outro tem sido algo controverso. A controvérsia
surge pelo facto dos países em vias de desenvolvimento, ou seja, exportadores de produtos primários
sentirem-se prejudicados, pois, segundo argumentam os ganhos do comércio fluem
desproporcionalmente em favor dos países desenvolvidos. Dito de outro modo, os preços das
exportações dos produtos primários expressos em termos das importações que estes países fazem,
tendem a deteriorar há medida que o tempo passa.

Esta tem sido a justificação de base que os países em vias de desenvolvimento encontram não só para
manterem a sua relutância em abrir os seus mercados ao comércio externo como também para exigir
que os países desenvolvidos adoptem tratamento preferencial às exportações de produtos primários.

Estudos feitos à volta da deterioração dos termos de troca têm sido inconclusivos e dentre alguns
factores que por detrás disto apontam-se: a falta de consenso em relação a escolha do ano que se
possa considerar como ano-base para as comparações, a inclusão de avanços tecnológicos, a
introdução de novos produtos e qualidade de produtos e a metodologia usada para avaliar tanto as
exportações como importações do ponto de vista de ponderadores dos produtos.

Face à tendência da deterioração dos termos de troca, os países em via de desenvolvimento têm vindo
a pedir a instauração de uma nova ordem económica mundial cujo objectivo seria a melhoria da
posição desfavorável que estes ocupam no comércio internacional. Foi deste contexto que as Nações
Unidas por meio da UNCTAD, criaram uma agência permanente com a finalidade de promover um
ambiente profícuo entre nações em vias de desenvolvimento e desenvolvidas.

Não obstante a agência criada pelas Nações Unidas, a União Europeia incentiva as exportações dos
países em vias de desenvolvimento por meio da iniciativa do tais como o “Comércio Justo”2 que
consiste em permitir que camponeses de alguns países extremamente pobres, reunidos em
associações, coloquem directamente os seus produtos no mercado europeu a um preço que o
consideram como o que mais espelha os seus custos de produção eliminando-se desta maneira a
existência de intermediários que vezes sem conta são acusados de promoverem um comércio injusto
porque não permitem que os camponeses conhecem o preço real dos bens no mercado externo e
aproveitando-se desta situação para praticar a especulação.

5. Bibliografia
 CARBAUGH, R. J: Economia Internacional; Pioneira Thomson Learning, Brasil 2004;

 GUILLOCHON, B.: Economia Internacional; Planeta Editora Lda, Portugal, 1993

 KRUGMAN, P. e OBSTFIELD M.: Economia Internacional; 6ª Edição, Pearson Addison
Wesley, , Brasil 2005

 DUNN, R.M e MUTTI, J. H,: International Economics;6th Edition, Routledge, London, 2004

2
Esta iniciativa é também denominada por fair trade

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