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Oriel Herrera Bonilla

Eliseu Marlônio Pereira de Lucena

Fundamentos em Ecologia

2011
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Germana Costa Paixão
COORDENADORA DE TUTORIA E DOCÊNCIA DA LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Jeanne Barros Leal de Pontes Medeiros
Apresentação........................................................................................................................ 9

Capítulo 1
Noções gerais........................................................................................................................ 11
Introdução........................................................................................................................... 13
Definições de Ecologia........................................................................................................ 14
Histórico da ecologia........................................................................................................... 14
Primeiros trabalhos relacionados à ecologia......................................................................... 16
As primeiras sociedades de ecologia..................................................................................... 16
Os movimentos ecológicos....................................................................................................18
Áreas de estudo.....................................................................................................................19
Interações da Ecologia com outras áreas de estudo........................................................... 21
Ecologia: ciência de síntese e de análise............................................................................. 23
A ecologia vegetal no Brasil...................................................................................................24

Capítulo 2
Fatores ecológicos................................................................................................................. 27
Fatores abióticos: climáticos e hídricos............................................................................... 29
Fatores climáticos..................................................................................................................29
Fatores hídricos................................................................................................................... 48

Capítulo 3
Fatores ecológicos................................................................................................................. 57
Fatores abióticos: fatores edáficos...................................................................................... 59
Conceitos básicos...................................................................................................................59
As fases do solo......................................................................................................................62
Ação do clima na formação do solo....................................................................................... 64
Ação do relevo na formação do solo...................................................................................... 65
Processos mecânicos do intemperismo................................................................................. 66
Processos químicos do intemperismo................................................................................... 69
Água do solo..........................................................................................................................70
Salinidade do solo..................................................................................................................70
pH do solo..............................................................................................................................72
Nutrientes inorgânicos ..........................................................................................................72
Capítulo 4
Fatores ecológicos................................................................................................................. 77
Fatores bióticos................................................................................................................... 79
Introdução..............................................................................................................................79
Definição................................................................................................................................80
Tipos de simbiose..................................................................................................................81
Predação................................................................................................................................ 85
Tipos de predação..................................................................................................................86
Estratégia de fuga das presas.................................................................................................87
Amensalismo..........................................................................................................................90
Parasitismo.............................................................................................................................90
Protocooperação....................................................................................................................92
Mutualismo............................................................................................................................93
Síndromes Florais...................................................................................................................93
Comensalismo........................................................................................................................94

Capítulo 5
Dinâmica das populações e dos ecossistemas........................................................................ 99
Dinâmica das populações................................................................................................... 101
Distribuição espacial dos indivíduos...................................................................................... 101
Atributos biológicos das populações..................................................................................... 102
Fatores que regulam o tamanho das populações.................................................................. 104
Oscilações que limitam o crescimento populacional............................................................. 105
Dinâmica dos ecossistemas....................................................................................................105
Cadeia alimentar....................................................................................................................106
Produtividade nos ecossistemas............................................................................................ 108

Capítulo 6
Ecossistemas versus Sucessão ecológica................................................................................ 117
Componentes do ecossistema............................................................................................ 119
Sucessão ecológica.................................................................................................................120
Sucessão primária e secundária............................................................................................. 121
Ecese...................................................................................................................................... 122
Sere........................................................................................................................................ 123
Climax.................................................................................................................................... 123

Capítulo 7
Biosfera................................................................................................................................. 129
Origem e definição.............................................................................................................. 131
Por que se interessar pela biodiversidade?........................................................................... 131
Os genes vs. ecossistemas.....................................................................................................132
A diversidade biológica é o produto da evolução?................................................................ 132
A teoria sintética da evolução................................................................................................133
A conservação da natureza e o papel ecológico da diversidade biológica.............................134
Os recursos biológicos...........................................................................................................134
As relações homem-natureza................................................................................................135
Concepção integrada da diversidade biológica...................................................................... 136
Mutações e diversidade genética.......................................................................................... 136
A seleção natural....................................................................................................................137
A noção de espécie................................................................................................................137
A especiação..........................................................................................................................138
A seleção natural leva à criação de novas espécies?............................................................. 139
O inventário das espécies .....................................................................................................140
Diversidade vs. funcionamento dos ecossistemas................................................................. 143
Características dos ecossistemas e riqueza das populações..................................................143
A diversidade das espécies vs. espécies chave...................................................................... 144
Diversidade e estabilidade dos ecossistemas........................................................................ 145
A diversidade e a produtividade dos ecossistemas................................................................ 146
Causas da perda da biodiversidade em florestas tropicais....................................................147
Importância ecológica da cobertura vegetal na conservação da biodiversidade...................156
Biodiversidade da caatinga....................................................................................................157
Contrastes..............................................................................................................................159
Dispersão...............................................................................................................................160

Dados dos Autores................................................................................................................ 166


A Ecologia é uma ciência relativamente nova, mas seu princípios e conhecimen-
tos são antigos, sendo objeto de muitas praticas conservacionistas por nossos ante-
passados. Para preservaro biodiversidade existentes nos Ecossistemos é necessário
conhecer primeiro como são realizadas as delicadas interações que ocorrem entre os
organismos e seu ambiente.
O ser humano faz parte dessa intrincada rede de relações e tem a responsabilida-
de principal de manter o equilíbrio, zelando pela manutenção dele, a fim de que todos
possam continuar vivendo harmoniosamente.
Neste livro, elaborado em sete capítulos, apresentamos noções básicas sobre Eco-
logia, conceito, seu histórico, subdivisões e interações com outras ciências. São tam-
bém abordados os fatores ecológicos e a maneira como estes estão relacionados com a
distribuição e ocorrência natural dos seres vivos em seus ambientes. São analisados
como a alteração dos fatores ecológicos abióticos principalmente os de índole climáti-
cosestão causando mudanãs na dinâmica das populações e na estrutura das comuni-
dades com a consequente perda de biodiversidade.
Nos capítulos 5 e 6 são tratados o ecossistema e a sucessãõ de ecológicadas
espécies em seus ambientes, podendo estes conhecimento auxiliar ao prifissional de
biologia nos programas de recomposição de ecossistemas degradados. Finalmente no
capítulo 7, tratamos da biosfera e a biodiversidade,discutindo pontos relevantes que
nos orientam a interessar-nos e a cuidar dos bancos de gemoplasma presentes nos pa-
íses de faixa tropical. Neste caoítulo mostramos quais são as causas que estão levando
esses países a perder espécies de plantas e animais desconhecidos ou não catalogados
pela ciência, incluindo aqui o bioma caatinga, entre os biomas brasileiros ameaçados.
Intencionamos comm este livro, oferecer ao aluno os fundamentos em ecologia,
de forma tal, que abra o caminho para um aprofundamento maior, com base nos novos
avanços e descobertas que são feitas diariamente e aprendam a respeitar e amar a vida.

Os Autores
Capítulo

1
Noções gerais

Objetivos:
• Oferecer ao aluno fundamentos sobre Ecologia, sua origem e histórico como a
ciência do meio ambiente.
• Mostrar como a Ecologia tem se subdividido e como interage com outras áreas de
conhecimento.
Introdução
A palavra Ecologia, derivada do idioma grego (oikos/casa - logos/
estudo), foi criada no século XIX, pelo zoólogo alemão Ernst Haeckel (Fi-
gura 1.1), para designar “a relação dos animais com seu meio ambiente
orgânico e inorgânico”. A ecologia também já foi definida como “o estudo
Ernst Heinrich Philipp
das inter-relações dos organismos e seu ambiente”, como “a economia da August Haeckel
natureza” e como “a biologia dos ecossistemas”. A expressão meio ambien- Nasceu Potsdam, Prús-
te inclui tanto outros organismos quanto o meio físico circundante, sendo sia (1834). Formou-se em
que as relações entre indivíduos de uma mesma população e entre indiví- medicina pela Universi-
dade de Berlim, em 1857.
duos de diferentes populações, em um determinado ambiente, compõem Entre suas diversas obras
os sistemas ecológicos ou ecossistemas. científicas, destacam-se
“Morfologia Geral dos Or-
Desde um ponto mais simples, a ganismos” (1866) e “His-
ecologia seria o ramo da Biologia que es- tória Natural da Criação”
tuda a relação dos seres vivos entre si e (1868). Faleceu em Jena,
Alemanha (1919).
com o meio ambiente; sendo assim funda-
mentada no conceito de ecossistema, que Teoria Evolucionista
demonstra a impossibilidade de sobrevi- “A Origem das Espécies
por meio da Seleção Natu-
vência isolada dos elementos da natureza ral” foi a obra que abalou o
e a necessidade de eles se relacionarem mundo moderno. Publica-
em sistemas complexos. da em 1859, pelo biólogo
e naturalista Charles Ro-
Realizador de uma obra notá- bert Darwin (1809-1882).
vel pela amplitude de temas tratados e
pela profundidade das pesquisas, Ernst
Haeckel formulou hipóteses polêmicas
sobre a teoria evolucionista de Charles
Figura 1.1 Haeckel, E. H. P. A. Darwin. O interesse pela zoologia resul-
Fonte: http://www.greenspirit.org.uk/
tou em trabalhos sobre a natureza dos
organismos inferiores, protozoários e esponjas; além de estabelecer rela-
ções entre esses organismos e espécies superiores, na classificação ani-
mal. Esses trabalhos garantiram-lhe o cargo de professor de zoologia na
Universidade de Jena, em 1862.
Haeckel tentou reconstituir o ciclo completo de evolução dos seres vivos
desde os animais unicelulares até o homem. A partir desses estudos, enun- Darwin, C. R.
ciou sua lei biogenética fundamental, segundo a qual os seres vivos, ao longo Fonte: GOOGLE, 2011.
do processo individual de desenvolvimento (ontogênese), recapitulam estágios
do desenvolvimento da espécie (filogênese). Possuidor de sólida formação fi-
losófica buscou aplicar o evolucionismo de Darwin à religião e à filosofia. Na
obra Die Welträtsel (1899; Os enigmas do universo) divulgou a teoria monista,
que defende a união essencial da natureza orgânica e inorgânica e a tese de
que espírito e matéria são aspectos diferentes da mesma substância.

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 13
Definições de Ecologia
As bases conceituais em ecologia são bastante amplas e, por causa
disso, tem sido definida de várias maneiras:
I. Ecologia é o estudo das relações totais dos animais no seu ambien-
te orgânico como inorgânico e em particular o estudo das relações
do tipo positivo ou amistoso ou do tipo negativo (inimigos) entre
plantas e animais no ambiente em que vive ( HAECKEL, 1866).
Universidade Friedrich-
Schiller de Jena II. Ecologia é o estudo do “ambiente da casa”, incluindo todos os or-
Foi fundada em 02 de fe- ganismos contidos nela (incluindo o homem) e todos os processos
vereiro de 1558, na cidade
de Jena, Alemanha.
funcionais que a tornam habitável (ODUM, 1983).
III. Ecologia é a ciência que estuda as condições de existência dos seres
vivos e as interações, de qualquer natureza, existentes entre seres
vivos e seu meio (DAJOZ, 1983).
IV. Ecologia é a ciência das relações dos seres vivos com o seu meio.
Termo usado freqüentemente e erradamente para designar o meio
ou o meio ambiente (DANSEREAU, 1978).
V. Ecologia é a ciência que estuda a dinâmica dos Ecossistemas. É
a disciplina que estuda os processos, interações e a dinâmica de
Escudo da Universidade todos os seres vivos com os aspectos químicos e físicos do meio am-
de Jena. Fonte: http:// biente, incluindo também aspectos econômicos, sociais, culturais e
upload. wikimedia.org/ psicológicos peculiares ao homem, que de maneira interativa deve
sintetizar e gerar informações para a maioria dos demais campos
do conhecimento (WICKERSHAM, 1975).
VI. Ecologia é o modelo ou a totalidade das relações entre os organis-
mos e seu ambiente (WEBSTER’S, 1976).
VII. Ecologia é o ramo da ciência humana que estuda a estrutura e o
desenvolvimento das comunidades humanas em suas relações com
o meio ambiente e sua conseqüente adaptação a ele, assim como
os novos aspectos que os processos tecnológicos ou os sistemas de
organização social possam acarretar para as condições de vida do
O João-de-barro (Furna- homem (FERREIRA, 1985).
rius rufu): constrói e re-
constrói sua casa levando VIII. Ecologia é a disciplina da Biologia que lida com o estudo das inter-
em consideração fatores -relações dinâmicas dos fatores bióticos e abióticos do meio am-
ambientais. Fonte: GOO-
GLE, 2011.
biente (USDT, 1983).

Histórico da ecologia
A ecologia não apresenta um início bem delineado. Os primeiros an-
tecedentes, na história natural dos gregos, foi um dos discípulos de Aristó-
teles, Teofrasto, que foi o primeiro a descrever as relações dos organismos
entre si e com o meio. As bases posteriores para a ecologia moderna foram
lançadas nos primeiros trabalhos dos fisiologistas sobre plantas e animais.
Durante muito tempo desconhecida do grande público e relegada a
Relações ecológicas. segundo plano, por muitos cientistas, a ecologia surgiu no século passado
Fonte: GOOGLE, 2011. como um dos mais populares aspectos da biologia. Em meados do século
XX, a ecologia, até então restrita aos meios acadêmicos, ganha dimensões
sociais devido às crescentes preocupações mundiais com a degradação do
meio ambiente. Isto porque se tornou evidente que a maioria dos problemas

14 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
que o homem vem enfrentando, como crescimento populacional, poluição
ambiental, fome e todos os problemas sociológicos e políticos atuais, são em
grande parte ecológicos.
O aumento do interesse pela dinâmica das populações recebeu impul-
so especial no início do século XIX e depois que Thomas Malthus chamou
atenção para o conflito entre as populações em expansão e a capacidade
Teofrasto
da Terra de fornecer alimento. Raymond Pearl (1920), A. J. Lotka (1925), e Nasceu no ano de 372
Vito Volterra (1926) desenvolveram as bases matemáticas para o estudo das a.C., oriundo de Eressos,
populações, o que levou a experiências sobre a interação de predadores e em Lesbos. Filósofo e su-
cessor de Aristóteles na
presas, as relações competitivas entre espécies e o controle populacional. O
escola peripatética. Fale-
estudo da influência do comportamento sobre as populações foi incentivado ceu em 287 a.C..
pelo reconhecimento, em 1920, da territorialidade dos pássaros. Os con-
ceitos de comportamento instintivo e agressivo foram lançados por Konrad
Lorenz e Nikolaas Tinbergen, enquanto V. C. Wynne-Edwards estudava o
papel do comportamento social no controle das populações.
No início e em meados do século XX, dois grupos de botânicos, um na
Europa e outro nos Estados Unidos, estudaram comunidades vegetais de
dois diferentes pontos de vista. Os botânicos europeus preocuparam-se em
estudar a composição, a estrutura e a distribuição das comunidades vege-
tais; enquanto os americanos estudaram o desenvolvimento dessas comu-
nidades, ou sua sucessão. As ecologias, animal e vegetal, desenvolveram-se
separadamente, até que os biólogos americanos deram ênfase à inter-rela-
ção de comunidades vegetais e animais como um todo. Teofrasto. Fonte:http://
wa2.www.artehistoria.
Alguns ecologistas detiveram-se na dinâmica das comunidades e po- jcyl.es/Teofrasto
pulações, enquanto outros se preocuparam com as reservas de energia. Em
Thomas Robert Malthus
1920, o biólogo alemão August Thienemann introduziu o conceito de níveis
Nasceu em Rookery, Sur-
tróficos, ou de alimentação, pelos quais a energia dos alimentos é transferi- rey, Inglaterra (1766). Es-
da, por uma série de organismos, das plantas (produtoras) aos vários níveis tudou no Jesus College,
de animais (consumidores). Em 1927, C. S. Elton, ecologista inglês espe- Cambridge, e em 1797
foi ordenado sacerdote da
cializado em animais, avançou nessa abordagem com o conceito de nichos Igreja anglicana. A partir
ecológicos e pirâmides de números. Dois biólogos americanos, E. Birge e C. de 1805 ensinou economia
Juday, na década de 1930, ao medir a reserva energética de lagos, desenvol- política em Haileybury.
Publicou, anonimamente,
veram a idéia da produção primária, isto é, a proporção na qual a energia é a obra Essay on Popula-
gerada, ou fixada, através da fotossíntese. tion (1798) - Ensaio sobre
a população, no qual afir-
A ecologia moderna atingiu a maioridade em 1942, com o desenvol- ma que a população cresce
vimento pelo americano R. L. Lindeman, do conceito tróficodinâmico de em progressão geométrica,
ecologia, que detalha o fluxo da energia através do ecossistema. Esses estu- enquanto a produção de
alimentos aumenta em
dos quantitativos foram aprofundados pelos americanos Eugene e Howard progressão aritmética.
Odum. Um trabalho semelhante sobre o ciclo dos nutrientes foi realizado Morreu em Saint Catheri-
pelo australiano J. D. Ovington. ne, Somerset (1834).

O estudo do fluxo de energia e do ciclo de nutrientes foi estimulado


pelo desenvolvimento de novas técnicas (radioisótopos, microcalorimetria,
computação e matemática aplicada) que permitiram, aos ecologistas, ro-
tular, rastrear e medir o movimento de nutrientes e energias específicas
através dos ecossistemas. Esses métodos modernos deram início a um novo
estágio no desenvolvimento dessa ciência (a ecologia dos sistemas), que es-
tuda a estrutura e o funcionamento dos ecossistemas.
Sua popularização ocorre especialmente após 1967, ano de um gran-
de acidente com o petroleiro Torrey Canyon, na França. Nesse período,
além do estudo do mundo natural, a ecologia incorpora sua reflexão na re-
lação: homem e natureza. Emerge assim, ao lado de outras ciências, como
instrumento indispensável para a compreensão e solução das principais Malthus, T. R. Fonte:
http://upload.wikimedia.
questões ambientais.

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 15
Primeiros trabalhos relacionados à ecologia
Entre os primeiros trabalhos relacionados à ecologia, destacam-se:
• Forbes (1843) - Estudou a distribuição dos animais no mar Egeu;
• Möbius (1877) - Introduziu por ocasião do seu estudo sobre os ban-
cos de ostras, o termo BIOCENOSE;
• Final do século XIX e início do XX - Foram publicados diversos tra-
Biótopo balhos tratando das relações entre seres vivos e o ambiente;
Corresponde a uma deter-
minada região que apre- • Entre 1900 e 1944 - Começou o estudo da ecologia separado da Bio-
senta regularidade nas logia. Acumularam-se os primeiros trabalhos relacionados à ecolo-
condições ambientais, e gia, dentre os quais devem ser destacados os seguintes:
nas populações de ani-
mais e vegetais. • Shelford (1913) - Estudo das comunidades animais na Amé-
rica temperada;
Nicho ecológico
Representa o conjunto de • Adams (1913) - Guia para o estudo da ecologia animal;
atividades que a espécie
desempenha, incluindo
• Davenport (1915) - Estudo ecológico das pradarias e inverte-
relações alimentares, ob- brados das florestas;
tenção de abrigos e locais • Volterra (1926) - Variações e flutuações do número de indivídu-
de reprodução; ou seja, é
o modo de vida de cada os em convivência animal;
espécie, no seu habitat. • Elton (1927) - Ecologia animal (primeira tentativa de definição
das bases teóricas da ecologia);
• Chapman (1931) - Ecologia animal com especial referência
aos insetos;
• Uvarov (1931) - Insetos e o clima;
• Gause (1935) - Verificações experimentais da teoria matemáti-
ca da luta pela vida;
• Ferri (1944) - No Brasil, primeira tese de ecologia (Ecologia
do Cerrado).
Biocenose, Biota ou
Comunidade biológica
Representa os organismos As primeiras sociedades de ecologia
vivos que habitam uma
determinada região. No transcurso da segunda década de 1900 são fundadas as primei-
ras sociedades ecológicas, dentre as quais devem ser destacadas as duas
seguintes:
• British Ecological Society (1913);
• Ecological Society of America (1916).

Os primeiros periódicos de ecologia


Entre os primeiros periódicos especializados em temas ecológicos que
foram editados, destacam-se:
• Journal of Ecology (1913);
• Ecology (1920);
• Ecological Monographs (1931);
• Journal of Animal Ecology (1932).

O conceito básico unificador


Até o fim do século XX, faltava à ecologia uma base conceitual. A eco-
logia moderna, porém, passou a se concentrar no conceito de ecossistema

16 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
(Figura 1.2) - uma unidade funcional composta de organismos integrados,
e em todos os aspectos do ambiente, em qualquer área específica. Envolve
tanto os componentes abióticos quanto os componentes bióticos, através
dos quais ocorrem o ciclo dos nutrientes e os fluxos de energia. Os ecos-
sistemas precisam conter algumas inter-relações estruturadas entre solo,
água e nutrientes, de um lado, e entre produtores, consumidores e decom-
positores, do outro.

Petroleiro Torrey Canyon


Petroleiro de bandeira li-
beriana foi construído
em 1958, no estaleiro de
Newport News Shipbuil-
ding (Virgínia, EUA). No
Japão, em 1964, houve
uma operação de aumen-
to de porte – tinha em
média 267,30m de com-
primento por 41,25m de
largura maior (boca). Em
1967, o navio tomou o
caminho de Milford Ha-
ven, Grã-Bretanha, onde
deveria entregar um car-
regamento de petróleo.
Próximo ao destino final,
o navio encalhou (colidiu)
nos rochedos de Pollard's
Rock, situados ao largo
das ilhas Scilly. Ocorreu,
imediatamente, o vaza-
mento de 30.000 galões
de petróleo, que, devido
à ação das marés e dos
ventos, começaram a po-
luir os litorais ingleses e
franceses. Por falta de ex-
periência, no domínio so-
bre métodos antipoluido-
res, britânicos e franceses
usaram, em suas praias,
produtos de limpeza ain-
da mais tóxicos do que o
líquido derramado pelo
petroleiro naufragado.
De fato, isso se tornou a
maior catástrofe ecológica
marítima européia.
Figura 1.2 Esquema da composição de um ecossistema. Fonte: GOOGLE (2011).

Os ecossistemas funcionam graças à manutenção do fluxo de energia


e do ciclo de materiais, desdobrados numa série de processos e relações
energéticas, chamadas cadeia alimentar, que agrupa os membros de uma
comunidade natural. Existem cadeias alimentares em todos os habitats, por
menores que sejam esses conjuntos específicos de condições físicas que cer- Petroleiro Torrey Canyon.
cam um grupo de espécies. As cadeias alimentares são complexas e várias Fonte: http://toxipedia.
cadeias se entrecruzam de diversas maneiras, formando uma teia alimen- org/
tar que sustenta o equilíbrio natural de plantas, herbívoros e carnívoros.
Os ecossistemas tendem à maturidade (estabilidade) e ao atingí-la,
passa de um estado menos complexo para um mais complexo. Essa mudan-
ça direcional é chamada sucessão. Sempre que um ecossistema é utilizado,
e que a exploração se mantém, sua maturidade é adiada.

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 17
A principal unidade funcional de um ecossistema é sua população,
a qual ocupa um nicho funcional específico, relacionado à sua função no
fluxo de energia e ciclo de nutrientes. Tanto o ambiente quanto a quantida-
de de energia fixada em qualquer ecossistema são limitados. Quando uma
população, numericamente, atinge os limites impostos pelo ecossistema,
seu tamanho precisa ser estabilizado e, caso isso não ocorra, deve declinar
em conseqüência de doença, fome, competição, baixa reprodução e outras
Meio abiótico reações comportamentais ou psicológicas. Mudanças e flutuações no meio
Representa o componente
não vivo do meio ambien-
ambiente representam uma pressão seletiva sobre a população, que deve se
te. Inclui as condições fí- ajustar. O ecossistema tem aspectos históricos: o presente está relacionado
sicas e químicas do meio. com o passado e o futuro com o presente. Assim, o ecossistema é o conceito
Meio biótico que unifica a ecologia vegetal e animal, a dinâmica, o comportamento e a
Representa o componente evolução das populações.
vivo do meio ambiente. In-
clui as interações entre os
organismos.
Cadeia alimentar
Os movimentos ecológicos
Sequência hierárquica de
organismos que se ali-
O crescimento acelerado e desorganizado da sociedade urbanoindus-
mentam uns dos outros. trial tem provocado graves impactos ao ambiente, especialmente, no que tan-
Sucessão
ge à poluição do ar, das águas e do solo; gerando os desmatamentos descon-
A circunstância em que trolados, a desertificação, a extinção de espécies, o efeito estufa, a destruição
uma espécie se desenvol- da camada de ozônio e a ocorrência de chuvas ácidas. Em última instância,
ve sobre um determinado
ambiente, proporcionan-
os estudiosos acreditam num colapso total dos sistemas naturais, uma vez
do o surgimento de outras que o modelo capitalista de crescimento ilimitado é incompatível com a fi-
espécies. nitude de recursos do planeta. Os ecossistemas também são incapazes de
População assimilar e processar a enorme quantidade de detritos produzidos pelas in-
O conjunto de organismos dústrias. Segundo os mais brilhantes e frutuosos ecologistas, a superação do
de uma mesma espécie
problema do esgotamento e do colapso da natureza envolve uma redefinição
que habitam uma deter-
minada área, num espaço da idéia de progresso, que carece tornar-se ecologicamente sustentável. A in-
de tempo definido. tervenção do homem no ambiente, ao longo da história, principalmente após
Pressão seletiva a revolução industrial, foi sempre no sentido de agredir e destruir o equilí-
É o termo designado para brio ecológico, não raro com conseqüências desastrosas. Nesse sentido, a luta
relacionar o papel do meio
pela preservação do ambiente intensifica-se a partir da década de 40, com a
ambiente na seleção dos
genes de uma população. criação de uma série de organizações governamentais e não-governamentais,
Assim, dependendo de as ONGs de atuação mundial. Em 1948 é fundada a União Internacional
qual for o ambiente onde para a Conservação da Natureza (UICN), com sede na Suíça. A partir de en-
os organismos estão inte-
ragindo, através da sele- tão, as entidades conservacionistas difundem-se pelo mundo, com destaque
ção natural, alguns genes para o Fundo Mundial para a Natureza (WWF), surgido em 1961 e sediado na
terão maior chances de Suíça; para o Greenpeace e para os Amigos da Terra Internacional, fundada
sobreviver do que outros.
nos EUA, em 1971. O movimento também se institucionaliza nos partidos
políticos, os chamados Partidos Verdes, que disputam eleições em vários lu-
gares do mundo, como Alemanha, França e Brasil.
Existem basicamente três tipos de recursos naturais: os renováveis,
como os animais e vegetais; os não-renováveis, como os minerais e fósseis;
e os recursos livres, como o ar, a água, a luz solar e outros elementos que
Um dos maiores proble- existem em grande abundância. O movimento ecológico reconhece os recur-
mas ambientais do Brasil
é a destinação inadequa-
sos naturais como a base da sobrevivência das espécies e defende garantias
da de resíduos sólidos ge- de reprodução dos recursos renováveis e de preservação das reservas de
rados, sendo que, muitas recursos não-renováveis.
vezes, estes são deposita-
dos em lixões, onde não No Brasil, o movimento conservacionista está em ascensão. Em 1934,
há nenhum tratamento foi realizada no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, a I Conferência Brasilei-
preliminar. Atualmente, ra de Proteção à Natureza. Três anos mais tarde criou-se o primeiro parque
no país, ocorrem cerca de
180 mil toneladas de resí- nacional brasileiro, na região de Itatiaia - RJ.
duos por dia.

18 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
Além dos grupos conservacionistas, surgiu, no movimento ecológico
um novo tipo de grupo - os ecologistas. A linha divisória entre eles nem sem-
pre está bem demarcada, pois muitas vezes os dois tipos de grupos se con-
fundem em alguma luta específica comum. Os ecologistas, porém, apesar
de mais recentes, têm peso político cada vez maior. Vertente do movimento
ecológico que propõe mudanças globais nas estruturas sociais, econômicas
e culturais, esse grupo nasceu da percepção de que a atual crise ecológica
é conseqüência direta de um modelo de civilização insustentável. Embo-
ra seja também conservacionista, o ecologismo caracteriza-se por defender
não só a sobrevivência da espécie humana, como também a construção de
formas sociais e culturais que garantam essa sobrevivência.
Um marco nessa tendência foi a Conferência das Nações Unidas sobre
o Ambiente Humano, realização em Estocolmo, da em 1972, que oficializou
o surgimento da preocupação ecológica internacional. Seguiram-se relató-
rios sobre esgotamento das reservas minerais, aumento da população etc.,
que tiveram grande impacto na opinião pública, nos meios acadêmicos e
nas agências governamentais.
Em 1992, 178 países participaram da Conferência das Nações Unidas
para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro.
Embora com resultados muito aquém das expectativas dos ecologistas, foi
mais um passo para a ampliação da consciência ecológica mundial. Apro-
Fonte: http://www.wwf.
vou documentos importantes para a conservação da natureza, como a Con- org
venção da Biodiversidade e a do Clima, a Declaração de Princípios das Flo-
restas e a Agenda 21.
A Agenda 21 é talvez o mais polêmico desses documentos. Tenta unir
ecologia e progresso num ambicioso modelo de desenvolvimento sustentá-
vel, ou seja, compatível com a capacidade de sustentação do crescimento
econômico, sem exaustão dos recursos naturais. Prega a união de todos os
países com vistas à melhoria global da qualidade de vida.
Uma das conclusões da conferência é que se os avanços tecnológicos
em curso não foram suficientes para assegurar a integridade da biosfera,
será necessário diminuir os padrões de produção e consumo, especialmente
nos países industrializados - os maiores consumidores dos recursos natu-
rais. A constatação está expressa no 4º capítulo da Agenda 21, o documento
mais importante da reunião, ao lado da Carta da Terra.
O tema tem sido abordado nos encontros anuais da Comissão das Na- Fonte: http://www.foe.
co.uk/
ções Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (CDS), criada para acom-
panhar a implementação das políticas ambientais firmadas na ECO-92. O
balanço até 1995 mostrava que os países enfrentariam enormes dificulda-
des políticas, econômicas e sociais para atingir essa meta.

Áreas de estudo
A ecologia se desenvolveu perlongando duas vertentes: a do estudo das
plantas e a do estudo dos animais. A ecologia vegetal aborda as relações das
plantas entre si e com seu ambiente. A abordagem é altamente descritiva da
composição vegetal e florística de uma área e normalmente ignora a influên-
cia dos animais sobre as plantas. Diversamente, a ecologia animal envolve
o estudo da dinâmica, distribuição e comportamento das populações, e das
Fonte: http://www.mma.
inter-relações de animais com seu ambiente. Como os animais dependem gov.br
das plantas para sua alimentação e abrigo, a ecologia animal não pode ser
totalmente compreendida sem um conhecimento considerável sobre a ecolo-

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 19
gia vegetal. Isso é verdade, especialmente, nas áreas aplicadas da ecologia,
tal como a de manejo da vida selvagem.
A ecologia vegetal e a animal podem ser vistas como o estudo das in-
ter-relações de um organismo individual com seu ambiente (autoecologia),
ou como o estudo de comunidades de organismos (sinecologia).
A autoecologia, ou estudo clássico da ecologia, é experimental e indu-
Carta da Terra Disponível tiva. Por estar, normalmente, interessada no relacionamento de um organis-
em: http://www.cartada-
terra.com.br/
mo com uma ou mais variáveis, é facilmente quantificável e útil nas pesqui-
sas de campo e de laboratório. Algumas de suas técnicas são tomadas de
ECO-92 empréstimo da química, da física e da fisiologia. A autoecologia contribuiu
A ECO-92, Rio-92, Cúpu-
la, Cimeira da Terra ou,
com, pelo menos, dois importantes conceitos: a constância da interação
mais conhecida como a entre um organismo e seu ambiente, e a adaptabilidade genética de popula-
Conferência das Nações ções às condições ambientais do local onde vivem.
Unidas sobre o Meio Am-
biente e o Desenvolvimen- A sinecologia é filosófica e dedutiva, sendo largamente descritiva, não
to (CNUMAD), realizada é facilmente quantificável e contém uma terminologia muito vasta. Apenas
entre 3 e 14 de junho de recentemente, com o advento da era eletrônica e atômica, a sinecologia de-
1992, no Rio de Janeiro.
O seu objetivo principal senvolveu os instrumentos para estudar sistemas complexos e dar início a
foi buscar meios de conci- sua fase experimental. Os conceitos importantes desenvolvidos pela sine-
liar o desenvolvimento só- cologia são aqueles ligados ao ciclo de nutrientes, reservas energéticas, e
cioeconômico com a con-
servação e proteção dos desenvolvimento dos ecossistemas; tendo ligações estreitas com a pedologia,
ecossistemas da Terra. a geologia, a meteorologia e a antropologia cultural.
A sinecologia pode ser subdividida de acordo com os tipos de ambien-
te, como terrestre ou aquático. A ecologia terrestre, por conter subdivisões
para o estudo de florestas e desertos, por exemplo, abrange aspectos dos
ecossistemas terrestres como microclima, química dos solos, fauna dos so-
los, ciclos hidrológicos, ecogenética e produtividade.
Segundo Schröter (1896), quem estuda as relações de uma espécie in-
dividual, como o seu ambiente, estuda autoecologia. Esta é que estabelece
os limites de tolerância e a preferência de cada espécie em relação a cada
Fisiologia fator ambiental.
Do grego physis/natureza
e logos/palavra ou estudo; Assim, autoecologia é, praticamente, sinônimo de ecologia fisioló-
É o conjunto de todos os gica. Alguns autores acentuam que ela despreza as interações da espécie
processos físicos e bioquí-
micos que ocorrem no in- considerada com as demais, isto é, a interferência dessa espécie com as ou-
terior de cada organismo tras com as quais convive e vice-versa. Não vemos como isso possa ser feito,
vivo. Por exemplo: a ati- a não ser, retirando a espécie de seu ambiente para estudá-la com maior
vidade cerebral, o funcio-
namento dos músculos, o
rigor, não no ambiente que lhe é peculiar, mas num outro, completamente
transporte de gases, a di- artificial. Ora, quem fizer isso não estará, a nosso ver, estudando autoeco-
gestão dos alimentos etc.. logia, mas fisiologia. Se, depois fizer ilações de natureza ecológica, estará,
então, estudando fisiologia ecológica, ou ecofisiologia.
A sinecologia é, por assim dizer, a sociologia de todos os seres vi-
vos, integrados em seus diversos ambientes, não apenas do homem. Assim
como temos grupos humanos com diferentes características, vivendo em
ambientes específicos, temos grupos de animais e grupos de plantas. Em
uma concepção menos antropocêntrica temos grupos de animais (incluin-
do o homem) e de plantas, vivendo em ambientes determinados. Quando
se observa mudança ambiental, por causas espontâneas (naturais) ou por
interferência do homem, geralmente, ocorrem alterações nos conjuntos de
seres da região considerada. Assim, quando um pântano é drenado, certas
espécies de plantas e animais desaparecem; outras aí surgem, onde antes
não existiam; e algumas podem resistir às novas condições estabelecidas -
são as que persistem.
Os ecossistemas terrestres são mais influenciados por organismos e
sujeitos a flutuações ambientais muito mais amplas do que os ecossistemas

20 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
aquáticos. Estes são mais afetados pelas condições da água e possuem
resistência à variáveis ambientais, como temperatura. Por ser o ambiente
físico tão importante no controle dos ecossistemas aquáticos, dá-se muita
atenção às características físicas do ecossistema, como as correntes e a
composição química da água. Por convenção, a ecologia aquática, denomi-
nada Limnologia, limita-se à ecologia de cursos da água, que estuda a vida
em águas correntes, e à ecologia dos lagos, que se detém sobre a vida em
águas relativamente estáveis. A vida em mar aberto e estuários é objeto da
Limnologia
Ecologia marinha. Do grego limne/lago e lo-
De outro modo, podem-se estudar, especificamente, as correlações re- gos/estudo; É a ciência
que estuda as águas inte-
cíprocas entre as espécies e as relações destas com o ambiente físico que riores, independentemente
ocupam. Quem isso fizer estará estudando Sinecologia (do grego: Syn sig- de suas origens, mas ve-
nifica conjunto, oikos, casa e logos estudo). Assim, Sinecologia é a Ecologia rificando as dimensões e
concentração de sais, em
dos conjuntos de seres vivos, podendo ser praticada de modo estático ou relação aos fluxos de ma-
dinâmico. No primeiro caso limita-se a descrever os grupos de seres vivos téria e energia e as suas
que ocorrem em certo ambiente; no segundo, procura examinar as razões comunidades bióticas.
pelas quais, por exemplo, em determinado ambiente, grupos de seres vivos
se substituem em tempos mais ou menos longos. Também se pode abordar
a Sinecologia sob dois aspectos: por exemplo, estudando as relações do am-
biente com os agrupamentos vegetais - Sinecologia mesológica; ou estu-
dando as reações (o comportamento) desses agrupamentos as condições
do ambiente - Sinecologia etológica.
Outras abordagens ecológicas se concentram em áreas especializadas.
O estudo da distribuição geográfica das plantas e animais denomina-se
Geografia ecológica animal e vegetal. Crescimento populacional, morta-
lidade, natalidade, competição e relação predador-presa são abordadas na
Ecologia populacional. O estudo da genética e a ecologia das raças locais e
espécies distintas é a Ecologia genética. As reações comportamentais dos
animais ao seu ambiente, e as interações sociais que afetam a dinâmica
das populações são estudadas pela Ecologia comportamental. As inves-
tigações de interações entre o ambiente físico e o organismo se incluem na
Ecoclimatologia e na Ecologia fisiológica.
A parte da Ecologia que analisa e estuda a estrutura e a função dos
ecossistemas pelo uso da matemática aplicada, modelos matemáticos e aná-
lise de sistemas é a Ecologia dos sistemas. A análise de dados e resultados,
feita pela Ecologia dos sistemas, incentivou o rápido desenvolvimento da eco-
logia aplicada, que se ocupa da aplicação de princípios ecológicos ao manejo
dos recursos naturais, produção agrícola, e problemas de poluição ambiental.

Interações da Ecologia com outras áreas de estudo


A ecologia é uma ciência multidisciplinar, que envolve biologia vegetal
e animal, taxonomia, fisiologia, genética, comportamento, meteorologia, pe-
dologia, geologia, sociologia, antropologia, física, química, matemática, ele-
trônica etc. (Figura 1.3). Quase sempre se torna difícil delinear a fronteira Pedologia
entre a ecologia e qualquer dessas ciências, pois todas têm influência sobre Do grego pedon/solo,
ela. A mesma situação existe dentro da própria ecologia. Na compreensão terra e logos/estudo; É o
nome dado ao estudo dos
das interações entre o organismo e o meio ambiente ou entre organismos,
solos, no seu ambiente
é quase sempre difícil separar comportamento de dinâmica populacional, natural. Faz parte da Ge-
comportamento de fisiologia, adaptação de evolução e genética, e ecologia ografia Física, e é um dos
animal de ecologia vegetal. Portanto, se pode dizer que o ecólogo é um cien- dois ramos das Ciências
do solo, sendo o outro a
tista eclético, que tenta integrar conceitos que interpretam o mundo. edafologia.

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 21
Caatinga
Vegetação típica da região
semiárida do Nordeste
brasileiro, constituída por
plantas cujas principais
características são folhas Figura 1.3 Interações da Ecologia.
pequenas, às vezes trans-
formadas em espinhos, A utilização de uma base multidisciplinar torna a ecologia uma ciên-
casca grossa, formação
de uma camada de cera e
cia pautada em raízes lógicas e metodológicas múltiplas. Huggett (1995) usa
raízes com capacidade de o termo geoecologia para definir uma ciência que se concentra no estudo
armazenar água. da interação entre os animais, plantas, fungos e microrganismos com a
pedologia, geografia e geologia. Outro termo utilizado seria a Ecologia da
Pampas
Denominação dada às paisagem, que integraria os conceitos da formação, modificação e organi-
vastas planícies do Rio zação dos ambientes.
Grande do Sul, cobertas
de excelentes pastagens, Pode-se observar que o campo da ecologia é muito vasto e Margalef
que servem para criação (1989) extrapola seu campo de atuação para áreas onde se trabalham ques-
de gado, principalmente tões do tipo: (1) descrição e ordenação geográfica da paisagem; (2) questões
bovino, cavalar e lanígero.
prática de agricultura e pecuária; (3) interação do ambiente com a fisiologia
Araucária e a etologia das espécies; (4) demografia, com introdução de pontos de vista
É um gênero de árvores matemáticos. Cada uma dessas questões indica que a ecologia é, intrinse-
coníferas, da família Arau-
cariaceae. Existem 19
camente, multidisciplinar.
espécies no gênero, com A ciência da Ecologia trabalha algumas questões básicas, dentre as
distribuições, altamente,
separadas na Nova Cale-
quais podem ser citadas as seguintes:
dônia (onde 13 espécies a) Como e por que os organismos estão distribuídos em um determi-
são endêmicas), Ilha Nor- nado ambiente?
folk, sudeste da Austrália,
Nova Guiné, Argentina, b) Qual o efeito de determinado parâmetro ambiental sobre os orga-
Chile, e sul do Brasil.
nismos?
c) Qual a razão de se ter no ambiente um conjunto de espécies e como
se processam as interações entre estas?
d) Qual o efeito das alterações no ambiente sobre o homem?
Em termos formais, o produto deste espectro, faz com que a Ecologia
possua diferentes divisões, com limites às vezes não muito nítidos. Assim
A Ecologia é, ao mesmo
tempo, uma ciência de sendo, diferentes pesquisadores se dedicam a várias subáreas, dentre as
análise e de síntese. quais é importante destacar (Figura 1.4):

22 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
Feliz Rawitscher
Figura 1.4 Subdivisões da Ecologia. Organizador do Depar-
tamento de Botânica, da
Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras da Uni-
Ecologia: ciência de síntese e de análise versidade de São Paulo,
fundada em 1934, no go-
A Ecologia é uma ciência de síntese de conhecimento, pois, para des- verno de Armando de Sal-
les Oliveira.
crever e explicar a distribuição dos diferentes seres vivos, nos vários am-
bientes, tem que buscar conhecimento nas ciências mais diversas. Mário Guimarães Ferri
Nasceu em São José
Liga-se, naturalmente, aos ramos da Zoologia e da Botânica, bem dos Campos, São Paulo
como da Microbiologia, da Fisiologia, da Genética, da Física, da Quími- (1918). Foi professor da
ca, e ainda, entre outras, também a Estatística - esta pode fornecer méto- Universidade de São Pau-
lo (USP). Foi um ecólogo
dos que dirão da validade dos resultados obtidos; e a Fitogeografia - esta pioneiro no Brasil. Pro-
parece mais estática, quando descreve a atual distribuição dos conjuntos curava informar o público
vegetais na Terra. Entretanto, se considerarmos, como é imprescindível a através de livros e artigos
de divulgação sobre eco-
história geológica do planeta e a distribuição dos grupos vegetais, que se
logia e poluição: em lin-
sucederam através do tempo geológico, observa-se que esta ciência também guagem clara e precisa
encara, dinamicamente, a evolução das comunidades vegetais. apresentava informações
necessárias pra compre-
A procura da razão, de certos fenômenos, faz da Ecologia uma ciên- ender a importância da
cia de análise. Por exemplo, no Nordeste brasileiro há predominância do conservação do ambiente.
bioma caatinga. No Sul, encontramos os campos que se prolongam nos Morreu em São Paulo ca-
pital (1985).
pampas uruguaios e argentinos, bem como matas de Araucária. Por que
estes campos e estas matas não ocorrem no Nordeste e por que faltam, no Cedrela fissilis (Cedro)
Sul, as caatingas nordestinas? Para tentar explicar problemas como estes Espécie rara, que ocorre
em diversas formações
são necessários uma soma enorme de dados fornecidos pela Climatologia, florestais brasileiras. Essa
Pedologia e pela Geomorfologia, entre muitas outras ciências. É preciso árvore frondosa produz
analisar o comportamento das diferentes espécies que compõem os diversos uma das madeiras mais
apreciadas no comércio,
grupos que ocorrem em vários ambientes. tanto brasileiro quanto in-
ternacional.

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 23
A ecologia vegetal no Brasil
Deve-se considerar o Brasil como um dos países pioneiros no campo
da Ecologia Vegetal. O fato de um livro básico, pioneiro em Ecologia, Lagoa
Santa, de Warming, conter estudos levados a cabo no que era, na época,
um “lugarejo miserável”, próximo de Belo Horizonte, não foi casual o fato
de Feliz Rawitscher, vindo da Alemanha, ter introduzido, no País, estudos
experimentais de Ecologia.
Em 1942 iniciou a divulgação de Problemas de Fitoecologia com
Considerações Especiais sobre o Brasil Meridional. Este trabalho foi com-
pletado dois anos mais tarde quando considerou, particularmente, os de-
mais fatores climatológicos: luz, oxigênio, vento, fatores pedológicos e gás
carbônico. Ao mesmo tempo em que se divulgavam, em nossa língua, co-
nhecimentos dessa nova ciência, também estimulava o desenvolvimento
de trabalhos experimentais.
Em 1942 publicou Algumas Noções sobre a Transpiração e o Balanço
d’Água de Plantas Brasileiras, e no mesmo ano, com Ferri, publicou um
trabalho sobre a metodologia para estudo da transpiração cuticular em Ce-
drela fissilis, trabalho esse que contém algumas considerações ecológicas.
E em 1943, Rawitscher, Ferri e Rachid; publicaram o primeiro trabalho ex-
perimental sobre a vegetação dos nossos cerrados, correlacionando-a com
as reservas de água contidas em seus solos profundos.
Em 1944 Ferri elaborou e defendeu a primeira tese de documento no
campo da Botânica, no Brasil, versando sobre a Transpiração de Plantas
Permanentes dos Cerrados, tese essa de cunho eminentemente ecológico-
experimental. Daí em diante, expandiram-se muito as pesquisas ecológicas
entre nós, especialmente no referido Departamento, onde inúmeras teses de
mestrado, doutoramento livre-docência e cátedra foram elaboradas sobre a
ecologia de cerrados (Ferri, Rachid, colaboradores e discípulos), caatingas
nordestinas (Ferri), caatingas do Alto Rio Negro, no Amazonas (Ferri), mata
pluvial tropical (Coutinho), dunas (Andrade), manguezais (Lambert); mata
de Araucária, no Rio Grande do Sul (Backes); a vegetação do Vale do Itajai,
Santa Catarina (Klein).

Esse capítulo apresentou as noções gerais sobre o surgimento da Eco-


logia como ciência que se preocupa com o estudo do meio ambiente, desde
sua origem até as subdivisões mais recentes. Em comparação com outras
ciências correlatas podemos afirmar que ela é uma ciência jovem que pas-
sou a se desenvolver rapidamente com o aumento da população humana e
o aumento dos problemas ambientais que preocupam hoje a humanidade,
como as mudanças climáticas e o aquecimento global com todas suas re-
percussões. A Ecologia interage com a maioria das áreas de conhecimento,
visto que o meio ambiente é de interesse difuso pelo fato de todos os seres vi-
vos precisarem de um determinado habitat com pretensão de uso diferente,
daí a necessidade de analisar a Ecologia e sua interfase com os problemas
modernos. Neste capitulo também é abordado o surgimento de movimentos
e organizações ambientalistas que militam em prol da conservação da na-
tureza, a preservação da biodiversidade e os impactos que são causados nos
ecossistemas em conseqüência das ações de degradação. Também é versado
superficialmente o desenvolvimento da ecologia no Brasil.

24 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
1. Explique como surgiu o vocábulo “Ecologia”.
2. Procure em cinco dicionários de autores diferentes a definição para a
palavra Ecologia.
3. Descreva de forma sucinta o histórico da Ecologia.
4. Como surgiram os movimentos ecologistas no mundo?
5. Explique cinco maneiras de como a Ecologia interage com outras ciên-
cias correlatas.
6. Por que podemos dizer que a Ecologia é uma ciência multidiscplinar?

A ecologia acústica
Apreciar os sons da natureza é algo comum no ser humano desde tem-
pos mais remotos, porém, apenas no final dos anos 60 surgiu o primeiro pro-
jeto que se tem noticia com finalidade específica de estudar o meio ambiente
sonoro, o World Soundscape Project (WSP), como foi chamado, foi formado
por pesquisadores da Simom Fraser University. Assim surgiu o conceito da
Ecologia Acústica e das Paisagens Sonoras.
A ecologia acústica seria o estudo da relação entre os organismos vivos
e o seu ambiente sônico (paisagem sonora ou soundscape), tendo como prin-
cipais atributos, chamar a atenção para os desequilíbrios desta relação, otimi-
zar a qualidade acústica sempre que possível, manter e proteger as paisagens
sonoras acusticamente balanceadas onde quer que as mesmas existam.
O profissional que milita nesta área se preocupa em auxiliar na áudio-
preservação dos ambientes naturais ameaçados, registrando a identidade eco
acústica dos mais variados ecossistemas, o ambiente sônico de cada habitat,
através do registro digital da musicalidade da natureza e utilizá-la nos mais
diversos espaços com a finalidade de se criar uma atmosfera sônica mais
saudável, harmoniosa e equilibrada; auxiliando na purificação auditiva contra
as estressantes arritmias sonoro-urbanas. Dessa forma, os sons ambientais
propiciam uma maior sensibilização e interiorização de conceitos e valores na-
turalísticos essenciais; promovendo aos ouvintes, um maior interesse e cons-
cientização ecológica quanto às questões ambientais.
Fonte: http://ecoterrabrasil.com.br/paisagesn-
sonoras; http://www.playnature.com.

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 25
Leitura
Artigo
• CAVALCANTI, R. B. Ecologia teórica e conservação biológica. In:
Atas do Encontro de Ecologia Evolutiva, Universidade Estadual
Paulista, Rio Claro, maio 1989. Anais... Rio Claro: Academia de Ci-
ências de São Paulo. 1990. p. 18-25.

Sites
• http://www.cartadaterra.com.br/

BEGON, M.; HARPER, J. L.; TOWSEND, C. R. Ecology. 4 ed. Oxford: Bla-


ckwell Science, 2004.
DAJOZ, R. Princípios de ecologia. Porto Alegre: Artmed, 2005.
FELDMANN, F. Guia da ecologia para entender e viver melhor a relação
homem-natureza. São Paulo: Guias Abril, Editora Abril. 1982.
PRIMACK, R. B.; RODRIGUES, E. Biologia da conservação. Londrina:
Gráfica e Editora Midiograf, 2001.

26 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
Capítulo

2
Fatores ecológicos

Objetivos:
• Aprimorar conceitos relacionados com a distribuição dos seres vivos em função
dos parâmetros climáticos, hídricos e edáficos.
• Mostrar como o clima influencia a ocupação dos espaços físicos nos ecossistemas;
• Determinar como atuam e como são expressos os fatores ecológicos.
• Discorrer sobre as ações relacionadas com o solo e sua formação na ocorrência das
diversas formas de vida presentes num ecossistema.
Fator ecológico é todo elemento do ambiente susceptível a agir direta-
mente sobre os seres vivos, pelo menos em uma das fases de seu ciclo de
desenvolvimento e eles atuam eliminando certas espécies dos territórios, e
conseqüentemente, intervindo na distribuição geográfica dos mesmos; mo-
dificam as taxas de fecundidade e de mortalidade; atuam sobre os ciclos
de desenvolvimento; provocam migrações, agindo na densidade das popu-
lações; favorecem o aparecimento de modificações adaptativas (hibernação, O pluviômetro é um apa-
relho utilizado na mete-
reações fotoperiódicas etc.). orologia para medir, ge-
Os fatores ecológicos podem ser divididos em dois grupos: o dos que ralmente, em milímetros
(mm), a quantidade de
compõem o ambiente físico (Fatores abióticos) e o dos que integram o am-
chuva durante um deter-
biente biológico (Fatores bióticos). minado tempo e local.
a) Fatores abióticos: integrados pelos fatores físicos, tais como lu-
minosidade, temperatura, pressão atmosférica, ventos, umidade e
pluviosidade, e pelos fatores químicos como quantidade relativa
dos diversos elementos químicos presentes na água e no solo.
b) Fatores bióticos: representados pelos seres vivos e suas intera-
ções intraespecíficas de predação, competição, parasitismo, entre
outros; assim como dos fatores alimentares.

Fatores abióticos: climáticos e hídricos


Devem ser considerados três grandes conjuntos de fatores: a) os fato-
res climáticos (pluviosidade, temperatura, umidade atmosférica, ventos,
luz); b) os fatores hídricos, representados máxime pela composição quími-
ca da água; e c) os fatores edáficos (Capítulo 3), isto é, ligados aos solos
(textura, estrutura, composição química, pH, umidade, capacidade de re-
tenção da água, permeabilidade).

Fatores climáticos O relevo exerce uma fun-


ção ponderável na distri-
• Clima buição da precipitação,
provocando as chuvas
Clima é o conjunto de estados da atmosfera próprios de um lugar orográficas ou ilhas de
que, em contato com as massas continentais ou oceânicas, provocam fe- umidade. No Ceará, pode-
-se observar os enclaves
nômenos como aridez, umidade e precipitação. Portanto, é o ramo da Ge- de altitude que se erguem
ografia física que trata dos climas da Terra, analisando-os quer do ponto no meio da Caatinga: Ser-
de vista estático, quer através de suas principais manifestações, tais como ra da Meruoca, Serra de
Baturité, Serra da Ibiapa-
as condições de tempo. ba, Chapada do Araripe ,
Climatologia é a ciência que descreve os climas e traça sua formação; Chapada do Apodi, entre
outros.
proporcionando dados para as ciências aplicadas como a Meteorologia. O
clima de uma região é determinado por variáveis como temperatura, dire-

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 29
ção e velocidade dos ventos, pressão atmosférica, umidade, latitude, altitu-
de, pluviosidade e insolação.
A climatologia divide-se em diversos ramos, segundo suas aplicações
práticas. A Climatologia aeronáutica se aplica à determinação de rotas de
navegação aérea e à escolha dos lugares adequados à construção de aero-
portos. A Climatologia marítima serve a finalidades análogas. Os estudos
climatológicos agrícolas visam estabelecer as melhores relações entre o
clima e as atividades de plantio e colheita. A Bioclimatologia analisa a
relação entre elementos climáticos e fenômenos biológicos e inclui a Biocli-
matologia humana. Esta se subdivide em ramos como a Climopatologia,
que estuda a relação entre o clima e as doenças, e a Climototerapia, que se
ocupa da influência das variações climáticas na cura ou erradicação de en-
fermidades. A Climatologia urbana investiga o microclima das cidades e a
influência exercida sobre o clima pela contaminação atmosférica produzida
por grandes núcleos populacionais.
Entre os fatores que mais influenciam na classificação do clima,
exemplifica-se: a pluviosidade e a temperatura. Estes dois fatores afetam,
principalmente, os sentidos e enseja ao homem ter uma idéia rápida e con-
dutiva na formação de opinião a respeito de um clima.
O Brasil apresenta várias regiões climáticas (Figura 2.1).

Figura 2.1 Clima brasileiro. Fonte: www.brasil.gov.br.

• Pluviosidade
A pluviosidade é a quantidade de chuva que cai numa determinada
área ou região em um determinado lapso de tempo, medida em milímetro
(mm). A pluviosidade é um parâmetro extremamente importante, pois pos-
sibilita quantificar o volume de água disponível em um determinado local.
No Nordeste brasileiro é grande a correlação entre o bioma Caatinga
e o clima, ao qual se deve atribuir à maior parte das características deste
ambiente. Em quase toda a área da Caatinga está presente o clima quente e
semiárido (Bsh na classificação de Köppen). Na Caatinga chove pouco, geral-
mente não mais do que 3 ou 4 meses por ano e, mesmo assim, com bastante

30 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
irregularidade. A pluviometria média oscila entre 350 e 800 mm/ano, sendo
menor em algumas áreas específicas. Uma particularidade quanto às chuvas
é que às vezes é possível cair num só dia, chuvas violentas, de até 150 mm.

Experimente
Pluviômetro caseiro
Material:
• Garrafa PET de 2 litros;
• Tesoura;
• Régua;
• Haste de madeira;
• Fita adesiva;
• Mamadeira (ou recipiente similar que marque a quantidade de líquido
em mililitros-ml);
Preparo
• Corte a garrafa PET no sentido transversal a uma altura de 20cm,
formando um recipiente;
• Prenda a garrafa a uma haste de madeira com fita adesiva; fixando
a haste no solo;
Pronto! Já está criado o seu pluviômetro caseiro simples e eficiente.
Após a chuva despeje a água do pluviômetro caseiro em copo de medi-
da (ex: mamadeira) para medir a quantidade de água de chuva precipitada,
em mililitros (ml). Depois, divida a quantidade de água (ml), pela área da
boca do pluviômetro caseiro, multiplicado por 1.000 (mil). Assim você terá a
quantidade de chuva precipitada, em mm (milímetros).
CÁLCULOS: Área da abertura do pluviômetro: PI x R² ou (PI x D²) / 4;
onde PI=3,14, R=raio D=diâmetro.
Exemplo:
Diâmetro do PET= 0,10 m -- (3,14 x 0,01) / 4 = 0,00785 X 1000= 7,85;
ou
Raio do PET = 0.05 m -- 3,14 x 0,0025 = 0,00785 x 1000 = 7,85.
Quantidade de chuva=120 ml -- 120 / 7,85 = 15,28 mm.
OBSERVAÇÃO: Procure colocar o seu pluviômetro caseiro em um local
aberto, distante de goteiras. Faça a medição em um período chuvoso.

As estações secas, que se fazem sentir pela intensidade e duração irre-


gular, não raro se prolongam por vários meses, tornando a região, uma ver-
dadeira estufa climática. A temperatura média do ar é de 27o C e de grande
regularidade, com exceção das áreas litorâneas e com altitudes superiores
a 300m, onde ocorrem os ventos alísios (os quais amenizam o clima). Os
ventos são bastante regulares (o ano todo) e a umidade relativa do ar fica em
torno de 70%. A insolação normal é de 2.800 horas/ano o que favorece as
altas taxas de evaporação que se situam entre 1.500 e perto de 3.000 mm/
ano. As taxas de evapotranspiração potencial variam entre 1.300 e 1.900
mm/ano. Isso significa que as taxas de evaporação ou evapotranspiração
potencial anual são superiores as quantidades de chuvas anuais o que pro-
voca um déficit hídrico regional em torno de 1.000 mm, que é o principal
fator limitante ao crescimento da vegetação.
Neste sentido, quanto à precipitação, o Nordeste pode ter o ano divi-
dido em quatro trimestres: o primeiro, de novembro a janeiro, com chuvas

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 31
no oeste da Bahia; o segundo, de fevereiro a abril, com chuvas no norte da
região Nordeste, onde caem 70% das chuvas do Ceará; o terceiro, de maio
a julho, com a precipitação no litoral do Rio Grande do Norte, Alagoas, Ser-
gipe e Bahia; finalmente o quarto trimestre que é o mais seco, com apenas
1% de chuva, pouca precipitação no oeste da Bahia.
Evapotranspiração: o termo é empregado para designar a transferên-
Déficit hídrico designa cia de vapor de água para a atmosfera a partir de um solo com vegetação.
uma situação na qual as
precipitações exibem valo-
A evapotranspiração representa, portanto, duas contribuições distintas: a
res inferiores aos da eva- evaporação da água contida no solo e a transpiração, resultante da ativida-
poração e a transpiração de biológica da comunidade vegetal presente.
das plantas.
Evapotranspiração potencial: o termo traduz a máxima quantidade
de água capaz de ser transferida para a atmosfera, em uma extensa área
inteiramente vegetada, com plantas em pleno vigor vegetativo e recobrindo
inteiramente o solo que, por sua vez, deve possuir água suficiente para não
causar limitação hídrica sobre algumas espécies de vegetal.
A Figura 2.2 mostra a distribuição espacial da precipitação no Nor-
deste brasileiro no primeiro quadrimestre do ano, por intermédio do sis-
tema de isoietas. Esse método é o mais preciso de todos, pois independe
das características de topografia do terreno e das precipitações. Os pontos
de mesma precipitação estabelecem as curvas que serão utilizadas para a
estimativa do valor médio da altura pluviométrica em qualquer ponto. O
produto desse valor médio, pela área correspondida, entre as isoietas, pos-
sibilita a estimativa do volume precipitado naquela superfície. A soma dos
volumes parciais dividido pela área total resulta no valor ponderado médio
da altura de água precipitada. O método das isoietas é mais utilizado para
grandes superfícies.
As chuvas mal distribuídas e muito intensas provocam enchentes,
causando grandes escoamentos superficiais e, consequentemente, acentu-
ando a erosão dos solos. Em diferentes anos pode-se ter o mesmo valor de
precipitação, porém com distribuições irregulares, provocando anos melho-
res ou piores nas condições de aridez.
Existem as chamadas chuvas orográficas, sendo aquelas que se for-
mam por efeito topográfico. O processo resume-se no seguinte: quando uma
massa de ar quente e úmida, em seu deslocamento encontra-se com uma
montanha, aquela mesma massa de ar é forçada a se elevar. Esta ascensão
resulta em nuvens do tipo cúmulos que ocasionam as chuvas nas zonas
serranas. Este processo de precipitação é muito comum na região litorânea
e nas zonas serranas do Nordeste, como na Chapada do Araripe, Serra da
Ibiapaba, Maranguape, Baturité entre outras. Este tipo de chuva promove
geralmente nas zonas serranas a ocorrência de determinadas formações flo-
rísticas que promovem a sua vez o apare-
cimento de espécies endêmicas, que não
caracterizam a região (Figura 2.3).

Figura 2.2 Precipitação pluviométrica no NE


brasileiro. A escala da direita (cores no mapa)
representa o percentual de contribuição do qua-
drimestre em relação ao total anual.
Fonte: GOOGLE (2011).

32 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
Figura 2.3 Aspecto da Serra da Ibiapaba (Ceará) apresentando vegetação característica da
Mata Atlântica.

Em Ecologia, o objeto de uma classificação climática é definir em termos


de: temperatura; umidade relativa do ar e suas distribuições estacionais; e os
limites dos diferentes tipos climáticos que ocorrem na superfície do globo.
Existem vários sistemas de classificação do clima, cuja nomenclatu-
ra varia conforme o autor e conforme o tipo de elemento climático consi-
derado. A classificação mais utilizada, atualmente, é a Classificação Cli-
mática de Köppen.
Wladimir Peter Köppen ao estabelecer sua classificação climática fez
significante avanço quando identificou as regiões de clima da Terra através
do estudo da vegetação, associando depois, valores numéricos de tempera-
tura e precipitação a essas regiões. Com base nas zonas térmicas são esta-
belecidos os seguintes tipos de clima: tropicais, subtropicais, temperados,
frio e polar. Esta classificação destaca-se por ser de uso frequente no Brasil
e ter aplicação à Biologia. Descreve-se: Wladimir Peter Köppen
a) Zona tropical: com temperatura média mensal sempre superior a Geógrafo, meteorólogo,
climatólogo e botânico
20ºC, e com dupla oscilação anual. Isto é, não existem estações; alemão. Foi considera-
do precursor da ciência
b) Zona subtropical: com temperatura média mensal em pelo menos meteorológica moderna,
um mês, e no máximo oito, inferior a 20º C. Não há inverno. A flu- suas descobertas influen-
tuação térmica apresenta um só máximo e a latitude bem como as ciaram profundamente os
rumos das ciências da at-
distâncias do mar, têm grande influência sobre os valores térmicos; mosfera.
c) Zona temperada: nesta existem as quatro estações do ano e, po-
dem ser subdivididas duas subzonas, nas quais existem pelo me-
nos 08 meses com temperaturas inferiores a 20º;
c1) Subzona cálida: com verão tropical de três meses, e temperatura
superior a 20ºC;
c2) Subzona fria: com inverno marcado;
d) Zona fria: sem verão. Existem somente quatro meses com tempera-
turas médias superiores a 10ºC;
e) Zona polar: nesta, durante todo o ano as temperaturas são inferio- Köppen, W. P. Fonte:
res a 10ºC. Não existem estações. GOOGLE, 2011.

Em sua classificação Köeppen designa com letras maiúsculas as zo-


nas climáticas principais, compreendendo desde a letra “A”, até a “F”, e com
minúsculas as subdivisões. Ademais, emprega também as letras maiúscu-
las S, W, H, e T, para representar: S = climas de estepes; W = climas desér-
ticos; H = climas de altura; e T = temperatura do mês mais cálido entre 0ºC
e 10ºC (Figura 2.4 e Tabela 2.1).

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 33
O clima pode agir direta-
mente ou indiretamente
sobre outros aspectos na-
turais. Por exemplo: dire-
tamente sobre os vegetais;
Figura 2.4 Zonas climáticas do Brasil. Fonte: MIZUGUCHI et al. (1982).
indiretamente sobre a mo-
dificação do solo.
Tabela 2.1 Classificação climática de Köppen aplicada ao Brasil.
Folha perene ou pereni- Fonte: Koeppen-geiger.vu-wien.ac.at
fólia é um atributo à fo-
lhagem das plantas que
mantém as suas folhas
durante todo o ano.

Fotoperíodo é o intervalo
de tempo decorrido entre
o nascimento e o ocaso
do Sol. Também chama-
do de duração efetiva do
dia, o fotoperíodo depen-
de da latitude local e da
inclinação do Sol na data
considerada. Sazonalida-
de refere-se aos períodos
climáticos durante o ano
(estação climática).

A climatologia baseia-se principalmente em médias, quando conside-


ra os diversos fatores do clima. Mas, isso só não satisfaz, pois um período
apenas, extremamente frio, ou muito seco, basta para restringir ou mesmo
eliminar certas espécies e os mínimos dos componentes climáticos.
Na região amazônica, por exemplo, prevalecem temperaturas elevadas
como no Nordeste, mas na Amazônia predominam altas temperaturas alia-
das à grande pluviosidade e à umidade atmosférica constantemente. Tudo
isso, condiciona a existência das florestas amazônicas que são exuberantes
e ricas em espécies de folhas perenes. O Nordeste, com exceção de uma
estreita faixa úmida próxima do litoral, caracteriza-se por temperaturas
elevadas, baixa pluviosidade (vários meses seguidos de estiagem), e baixa
umidade atmosférica. Este conjunto de fatores exclui a floresta do tipo que
se constata na Amazônia, e propicia a existência de diversos tipos de vege-
tação, inclusive da floresta baixa, rala e espinhenta, de folhas caducas, isto
é, da Caatinga arbórea.

34 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
Os diversos componentes do clima não têm o mesmo papel em todas
as partes. Nas regiões temperadas e frias, geralmente, é a temperatura o
fator condicionante da vegetação. Nas regiões tropicais, no entanto, é a umi-
dade (em estreita dependência da pluviosidade) que limita e condiciona a
vegetação. Isso é valido no primeiro (temperatura) e no segundo caso (umi-
dade), tanto no que concerne à área de distribuição das espécies individuais
quanto no que respeita à distribuição dos grandes tipos de vegetação. As
condições climáticas e edáficas associadas às bacias hidrográficas e ao re-
levo do terreno constituem barreiras ecológicas e geográficas à distribuição
de animais e plantas sobre o território brasileiro.

• Temperatura
As variações de temperatura na superfície terrestre são, principalmente,
resultado do efeito da latitude e da altitude ou da influência das grandes mas-
sas continentais. A temperatura, na dependência da latitude, varia segundo
as estações do ano e durante o dia e a noite (a sazonalidade e o fotoperíodo).
Além disso, são levados em consideração, os efeitos microclimáticos das con-
dições locais - relacionadas com a geologia, a topografia e o relevo. Em am-
biente marinho e no solo ocorrem os efeitos da profundidade; no solo, ocorre o Devido ao aquecimento
aumento da temperatura com a profundidade e, de modo oposto nos oceanos global e outros motivos,
alguns cientistas prevêem
tem-se uma diminuição de temperatura com o aumento da profundidade. que, até o ano de 2100,
A maior parte dos seres vivos, que se conhece, ocorre no intervalo em a temperatura média da
Terra pode subir em até 3
que a água é líquida (acima de 0 ºC). Nos casos extremos, as cianobactérias ºC. Isso proporcionará um
podem suportar temperaturas de até 75 ºC, podendo ocorrer também em desequilíbrio global entre
fontes termais bem próximas do ponto de ebulição. Algumas bactérias con- as ações físicas, químicas
e biológicas da biosfera.
seguem viver em temperaturas antárticas menores de –60 ºC.
A temperatura tem efeito oposto nos processos vitais. Se por um lado,
aumenta a energia cinética das moléculas acelerando os processos vitais, por
outro, temperaturas elevadas tornam as proteínas e enzimas instáveis. A par-
tir de um determinado limiar estas passam a não funcionar e a perder sua
estrutura (desnaturação proteica). Todos os organismos possuem pontos óti-
mos de funcionamento no que diz respeito à temperatura (Figuras 2.5 e 2.6).
O nível de energia necessária para os processos internos das células
depende de um limiar de temperatura ideal para que os organismos fun-
cionem. A sobrevivência de um organismo necessita de condições ideais
de temperatura.
Diferentes organismos desenvolveram adaptações para sobreviver tanto
em regiões com frio extremo (regiões polares), como em regiões de calor (áreas
próximas a vulcões) e em áreas de grandes variações diárias de temperaturas
(como desertos, onde faz muito frio à noite e muito calor durante o dia).

O clima mesotérmico não


apresenta estação seca e
Figura 2.5 Relação de vetores da doença de
depende da Massa Polar
Chagas e temperatura.
Atlântica (inverno e outo-
Fonte: MIZUGUCHI et al. (1982). no) e da Massa Tropical
Atlântica (verão e prima-
vera) para as mudanças
de estação e temperatura.
Apresentam temperaturas
médias que variam entre
-3 ºC e +18 ºC.

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 35
Os organismos euritérmi-
cos são aqueles que resis-
tem grandes amplitudes
de térmicas. Já os esteno-
térmicos são organismos
que resistem poucas va-
riações extremas de tem-
peratura (Ex: urso polar).

Figura 2.6 Distribuição dos insetos em função da temperatura. Triatoma infestans (▬▬),
(clima mesotérmico). Anopheles darlini (–– - ––) e Anopheles aquasalis (––●––●––) em fun-
ção da tempertura. Fonte: MIZUGUCHI et al. (1982).

Os animais possuem duas estratégias principais para evitar os pro-


blemas fisiológicos relacionados com a temperatura. (Figuras 2.7 e 2.8). Um
grupo de animais regula sua temperatura adquirindo calor diretamente da
radiação solar e, perdendo-o pela evaporação da água ou procurando locais
onde possa ocorrer perda de calor por condução para o ambiente, ficando
longe de fontes de radiação solares. Estes animais são denominados ecto-
térmicos e sua temperatura interna depende de processos de captação ou
perda de calor para o ambiente. Já os organismos endotérmicos produzem
calor metabólico interno, mantendo suas temperaturas corporais relativa-
mente constantes (geralmente entre 35 a 40 ºC).
Outros autores utilizam
os termos homeotérmicos
(mantém a temperatura
corporal constante) e peci-
lotérmicos (alteram a tem-
peratura em relação à do
ambiente). Esta classifi-
cação teve dificuldades de
aceitação, pois os peixes
(classificados anterior-
mente como pecilotérmi-
cos) que habitam grandes
profundidades, nos oce-
anos, quase não alteram
sua temperatura corporal
– já que a temperatura
das águas oceânicas, nes-
sas condições, não sofre
mudanças significativas. Figura 2.7 Relação entre atividade e temperatura de organismos euritérmicos e estenotér-
micos. Fonte: BONILLA; PORTO (2001).

36 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
Joel Asaph Allen (1838-
1921), zoólogo e ornintó-
logo, foi o primeiro cura-
dor de aves e mamíferos
no American Museum of
Natural History (1885) e,
posteriormente, o primei-
ro diretor do Departamen-
to de Ornitologia dessa
Figura 2.8 Relação entre temperatura e atividade de vôo de lepidóptera Amphipyra trago-
mesma instituição.
pogonis - Dreux (1974). Fonte: http://www.latvijasdaba.lv/

Um exemplo de como a variação de temperatura afeta os organismos


pode ser dado através da Lei de Allen (Figuras 2.9 e 2.10) - a pressão seleti-
va (para que as perdas de calor fossem minimizadas) faz com que, mamífe-
ros de clima mais frio tenham as extremidades menores do que aqueles que
habitam climas mais quentes. Além disso, fez também com que mamíferos
de extensa distribuição geográfica (como raposas, veados, outros) sejam
maiores em áreas mais frias (lei de Bergman).
Nos climas frios, os animais endotérmicos têm um gasto muito grande
de energia para manter a temperatura constante. Este problema poderia in- Allen, J. A. Fonte: http://
viabilizar a sobrevivência dos organismos, já que, para gerar o calor neces- www.thefullwiki.org/

sário, os animais teriam que consumir uma grande quantidade de recursos


de alta qualidade, durante os longos períodos de frio das altas latitudes e
altitudes. Os animais desenvolveram algumas estratégias para minimizar
este efeito. Duas das principais são uma comportamental, que é a migração
e o fisiológico-comportamental, a hibernação.

Os hidrocarbonetos são
compostos químicos cons-
tituídos apenas por áto-
mos de carbono (C) e de
hidrogênio (H). Estes, em
conjunto, podem se ligar
aos átomos de oxigênio
(O), nitrogênio (N), enxofre
(S), entre outros; originan-
do diferentes compostos.

As correntes marítimas
contribuem para espalhar
pelo planeta o calor que a
Figura 2.9 Mapa de distribuição dos recifes de coral nas zonas tropicais; locais onde a Terra recebe do Sol.
maioria se concentra devido à pouca variação da temperatura da água dos oceanos. A tem- Os raios solares são res-
peratura mínima de 21 oC no inverno pode comprometer sua existência. ponsáveis por 99% de
Fonte: MIZUGUCHI et al. (1982). toda a energia da térmica
que chega a superfície da
Terra, provocando a eva-
poração diária de milhões
de toneladas de água dos
oceanos.

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 37
Figura 2.10 As grandes correntes oceânicas são dirigidas pelos ventos e pela rotação da
Terra originando as zonas de ressurgência (em escuro) que são áreas de alta produtividade
Carotenoides marinha, próximas as plataformas continentais. Fonte: RIKLEFTS (2003).
São pigmentos de cor
vermelha, alaranjada ou
amarela, encontrados nas • Radiação Solar
células de todos os vege-
tais, atuando na fotossín- A radiação solar é o recurso básico usado por plantas que, por meio
tese. Eles são importantes da fotossíntese, transformam energia luminosa em energia química. Todas
na alimentação humana,
sendo que os tipos: beta- as plantas dependem dos pigmentos de clorofila para a fixação de carbono.
-caroteno, alfa-caroteno, (Figura 2.11) Através do processo fotossintético a energia da radiação solar
gama-caroteno e beta- é convertida em compostos químicos hidrocarbonatos, ricos em energia.
-criptoxantina são os pre-
cursores da Vitamina A Esta transformação em compostos de carbono é a base de produtividade da
que, e dentre outras fun- maior parte dos ecossistemas. Na fotossíntese, a água (H2O) e o dióxido de
ções, atuam diretamente carbono (CO2), procedentes da atmosfera, trazem os elementos necessários
na respiração celular e
sintetiza pigmentos da re-
para que a planta sintetize glicose (C6H12O6) por ação solar e para que libere
tina. Outros carotenoides na atmosfera oxigênio molecular (O2).
podem ser poderosos an-
tioxidantes, especialmente
a astaxantina, encontrada
em algas.

Fitoplâncton
É o conjunto dos organis-
mos aquáticos microscó-
picos que contém capaci-
dade fotossintética e que
vivem dispersos flutuando
na coluna de água. É con-
siderado a base da cadeia
alimentar aquática.

Zona eufótica
É a parte de um corpo de
água que recebe luz solar
suficiente para que ocorra
a fotossíntese - a luz pe-
netra com grande inten-
sidade, possibilitando um Figura 2.11 O ciclo da fotossíntese. Fonte: www.portaldoprofessor.mec.gov.br
ambiente favorável à vida
de organismos fotossinte- A radiação solar ou insolação é vital para os seres vivos, não só do ponto
tizantes (algas) - a profun-
didade da zona eufótica é de vista fisiológico, mas também morfológico, tendo as mais diversas formas
bastante afetada pelas va- de vida animal; também do ponto de vista físico, pois propicia a distribuição
riações que possam ocor- diferencial da energia em um mesmo ambiente, ao longo do ciclo anual.
rer na turbidez da água

38 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
A luz possui um grande espectro, que vai do ultravioleta ao infraver-
melho. O espectro visível abrange comprimentos de onde que vão de 380 nm
a 710 nm. As plantas contêm vários tipos de pigmentos, principalmente a
clorofila e carotenoides. A clorofila absorve a luz vermelha e azul enquanto
reflete o verde; e os carotenoides absorvem, principalmente, o azul e o verde,
refletindo os comprimentos de onda entre o laranja e o violeta.
No ambiente aquático a radiação é um fator que afeta profundamente
a distribuição dos organismos que fazem fotossíntese (o fitoplâncton) - Figu-
No Brasil o Sertão Cen-
ra 2.12. Na água do mar, o conteúdo energético do espectro visível diminuiu tral do Nordeste é uma
cerca de 50% em 10 metros, caindo para menos de 7% na profundidade de das áreas mais quentes
100 metros. Além disto, os tipos de comprimentos de onda de luz são absor- da Terra, pois a isolação
que aí chega é muito alta.
vidos de forma diferenciada em relação à profundidade, fazendo com que or- Em média, nesta Região
ganismos, com pigmentos adaptados a determinados tipos de comprimento incidem diariamente 5,5
de onda, habitem regiões diferentes. quilowatt-hora por metro
quadrado, o que equivale
a aproximadamente 0,39
cal/cm2/min de ondas
curtas e 0,3 cal/cm2/min
de ondas longas, que in-
fluenciam decisivamente
na pouca amplitude de
variação da temperatura
anual e mensal.
a)

Figura 2.12 Fotossíntese vs. luz no fitoplâncton marinho. Fonte: RYTHER (1970).

A estreita faixa de oceano onde a luz consegue chegar e onde ocorrem


os processos fotossintéticos é denominada de zona eufótica. Em termos de
profundidade esta zona varia bastante, dependendo das condições da águas
(Figura 2.12), por conseqüência da variação da fotossíntese no fitoplâncton
marinho. Na vegetação terrestre observar-se-ia uma curva análoga, com
seu máximo deslocado para a direita. Em rios e lagos a zona eufótica pode
estar a 01 metro de profundidade.
Segundo muitos especialistas, o que foi mencionado no parágrafo an-
terior, é um índice que perde apenas para o Deserto do Saara. É verdade, b)
que a temperatura não é maior que 38ºC nas cotas acima de 300m de al-
titude, (a média anual situa-se entre 26ºC a 28ºC), - na região do Saara, a
temperatura pode ser até mais alta que 45ºC - mas no Nordeste as noites
são também muito quentes. A diferença da temperatura entre o dia e a noite
durante o ano inteiro é de alguns graus. Os afloramentos rochosos, abun-
dantes na Região, ao ficarem expostas às altas isolações, refletem o calor
aquecendo terrivelmente o ar, principalmente durante o dia.

• Padrões climáticos globais


Os organismos vivos estão localizados em uma tênue camada denomi-
nada biosfera. Ao comparar a ocorrência de vida no planeta usando, como
parâmetro de referência, o tamanho de uma laranja, a camada abrigando
as formas de vida estaria restrita, no máximo, à casca. Praticamente a tota- Valores médios da radia-
ção global no Nordeste
lidade da biomassa está concentrada na superfície. Nesta delgada película brasileiro no mês de (a) ju-
onde se desenvolve, a vida produz uma imensa variabilidade de ambiente. nho; (b) dezembro. Fonte:
As condições de temperatura, luz, nutrientes disponíveis, umidade, salini- AZEVEDO et al. (1981).
dade, tipo de solo variam de forma extrema em todo o globo, e essa variação
altera, profundamente, a distribuição geográfica dos organismos vivos.

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 39
A não continuidade existente entre as superfícies que formam o globo
(rocha nua, grandes massas de água, cobertura vegetal, relevo) faz com que
a absorção solar ocorra diferentemente de lugar para lugar, gerando modos
diferentes de aquecimento e resfriamento, o que por sua vez gera desloca-
mento de massas de ar e grandes transferências de energia térmica.
É sobejamente conhecida a diminuição de temperatura ao longo dos
meridianos quando ocorrem deslocamentos do Equador em direção aos pó-
Biosfera los. Um dos fatores mais importantes na determinação global do clima é a
É o conjunto de todos os
ecossistemas existentes posição da incidência dos raios solares sobre a superfície terrestre. A terra
no planeta. É a visão “mais está levemente inclinada em sua órbita em relação ao sol. Esta inclinação
macro” de composição en- faz com que os raios solares incidam de forma mais verticalizada no Equa-
tre o vivo e o não vivo.
dor e mais inclinada em direção aos pólos. A incidência vertical resulta em
maior calor, pois quanto mais inclinada está a superfície em relação aos
raios solares incidentes, maior será a área que estes atingem e percorrendo
uma distância maior na atmosfera, o que desborda em menor concentração
de energia. As regiões tropicais e equatoriais recebem os raios solares em
um ângulo de incidência que resulta em uma maior entrada de calor.
Meridianos são círculos A alteração do eixo de inclinação da terra em relação ao sol durante o
máximos da esfera ter- ano afeta a intensidade de radiação recebida nas diferentes partes do glo-
restre que passam pelos bo. Em latitudes maiores de 30o Norte e Sul os efeitos dessa variação dão
pólos.
origem às estações do ano. Essa inclinação faz que, nos diferentes períodos
do ano, os hemisférios recebam quantidades de radiação diferentes (por
exemplo, quando é verão no hemisfério Sul é inverno no hemisfério Norte).
O ar quente possui uma maior capacidade de reter vapor d’água [(a
taxa de evaporação dobra a cada 10 ºC), é o Q10]. Os trópicos são úmidos,
não porque têm maior quantidade de d’água, mais porque a reciclagem
de água nestes locais é maior. Outro fator importante na distribuição das
chuvas é o vento, que pode distribuir a umidade para outras áreas. Jun-
tamente com o padrão de ventos, outro fator determinante da precipitação
é a presença de grandes massas de terra. Áreas continentais estão longe
das grandes massas de água onde ocorre a evaporação. O somatório dos
deslocamentos de água quente e fria, somada aos padrões de ventos (as
áreas de convergências tropicais) e da geografia do oceano dão origem às
grandes correntes marinhas, que vão ser outro fator de alteração climática
importante. No Atlântico Sul ocidental tem-se a Corrente das Malvinas e
a Corrente do Brasil, respectivamente, que são grandes deslocamentos de
águas frias e quentes.
A rotação da terra sobre seu eixo leva às variações de fotoperíodo e à
ocorrência do dia e da noite (Figura 2.13). O fotoperíodo é o período, em tem-
Meridianos em função da po, em que existe luz naquele local, é sinônimo de máxima insolação possível.
latitude e da longitude. É a fase de maior claridade de um ciclo que envolve a alternância de períodos
Fonte: GOOGLE (2011). de maior e menor luminosidade. Para as plantas, o fotoperíodo condiciona o
aparecimento em um grande número delas, principalmente, em elevadas la-
titudes. Alguns tipos de hormônios, relacionados com o seu desenvolvimento,
possibilitam estágios fenológicos como função exclusiva do fotoperíodo. As-
sim sendo, a fenologia pode também ser aceita como a parte da Botânica que
estuda vários fenômenos periódicos das plantas, como a brotação, a floração
e a frutificação, marcando-lhes as épocas e os caracteres.
Em artrópodes e insetos predadores, o fotoperiodismo ocasiona in-
Fenologia festações diferenciais no decorrer do ano, estabelecendo os de hábitos
É o estudo das relações diurnos e noturnos.
dos processos biológicos
periódicos com o clima.

40 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
Solstício (do latim sol +
sistere, que não se mexe)
é o momento em que o
Sol, durante seu movi-
mento aparente na esfe-
ra celeste, atinge a maior
declinação em latitude,
medida a partir da linha
do equador. Já o equinó-
cio (palavra que deriva do
latim aequinoctium e sig-
nifica “noite igual”, refere-
Figura 2.13 Movimento relativo sol/terra e as estações. Fonte: GOOGLE (2011). -se ao momento do ano
em que a duração do dia é
De acordo com a posição da terra no plano da eclíptica (plano da ór- igual à da noite sobre toda
a Terra.
bita terrestre), o qual possui um ângulo de 23o27’ em relação ao equador
solar, tem-se na Terra locais com diferentes quantidades de horas de brilho
solar, em um mesmo dia. Os valores extremos de iluminação contínua ocor-
rem nos pólos (seis meses), enquanto que no equador a insolação é um valor
constante durante todo o tempo (duração de 12 horas). Isto explica o motivo
de existirem as quatro estações do ano no globo em locais ao sul e norte do
equador. Ainda na Figura 2.13, é possível verificar como varia o fotoperíodo
no decorrer de um ciclo anual.
Outro efeito dos ciclos astronômicos que afeta os organismos, prin-
cipalmente os marinhos, é o da posição da lua, que dá origem aos ciclos
lunares que vão reger as flutuações de marés.

• Principais efeitos locais


Apesar dos padrões de radiação solar, descritos no item anterior, ocorre
neve na região equatorial e tropical (por exemplo, nos Andes). Além dos efeitos
planetários e astronômicos, o clima de uma determinada região é influencia-
do por fatores locais, sendo um desses fatores a topografia. Em região onde
a temperatura, no nível do mar, é de 30 ºC, as temperaturas abaixo de zero
são atingidas aos 5.000 metros de altitude. Além disto, as montanhas servem
como barreiras à circulação de ar quente e úmido. Desertos e regiões áridas
são formados em grande parte, por estes acidentes orográficos.
A modificação do gradiente altitudinal cria o que se chama de zona da
vida, que são as diferentes comunidades de plantas e animais relacionadas
com a variação de temperatura, condições edáficas e de umidade propicia-
das pela variação de altitude.

• Umidade relativa do ar
A umidade relativa é a quantidade de água presente em um dado vo-
lume de ar, expressa como uma porcentagem da quantidade que o ar pode
reter, quando saturado, à mesma temperatura. Ou diversamente, é razão
entre a pressão de vapor de água na atmosfera e a pressão de vapor satura-
do na mesma temperatura, multiplicada por cem.

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 41
O vapor de água é um dos constituintes variáveis do ar atmosférico,
chegando a ter até 4% em volume. Esse volume é determinado pela tempe-
ratura do ambiente, pois “a capacidade de contenção do vapor de água na
atmosfera é função da temperatura do ar”. Como o vapor de água é oriundo
da superfície, a sua concentração é máxima na proximidade da superfície
evaporante, e diminui à medida que se observam pontos mais apartados
dessa superfície. Também, há interações físicas e fisiológicas com o ambien-
te, incluindo vegetais e animais, as quais permitem que o vapor de água
Evaporação
é perda de água em forma
seja considerado um elemento muito importante nos estudos em Ecologia.
de vapor por superfícies A água existe em estado de vapor, na atmosfera, provinda da evapora-
sem vida, por mecanis- ção de todas as superfícies úmidas: mares, rios, lagoas, entre outras. Boa
mos físicos. Enquanto a
transpiração é a perda de parte da água atmosférica provém da transpiração dos animais e plantas,
água em forma de vapor, sendo que também, através da respiração, os seres vivos fornecem ao am-
por superfícies de seres biente uma pequena quantidade de água. Quanto mais calor estiver fazen-
vivos, por mecanismos re-
guláveis fisiologicamente. do tanto maior será a quantidade de água que o ar poderá reter, em forma
de vapor. Resfriando-se a atmosfera, essa quantidade decresce. O excesso
Percolação condensa, assumindo a forma líquida, precipitando-se como: orvalho, ne-
Refere-se ao movimento
subterrâneo da água atra-
voeiro, chuva ou neve, em conformidade com outras condições reinantes.
vés do solo, especialmen- É por isso que, frequentemente, uma frente fria é acompanhada de chuva.
te, em solos saturados ou Entrando em contato com o ar com certa temperatura e mantendo determi-
próximos da saturação.
Quando a quantidade de
nada quantidade de vapor de água, resfria-o; ele fica, em consequência, su-
água da chuva, infiltrada persaturado; a quantidade de vapor de água que agora pode manter torna-
no solo, torna-se maior -se menor; o excesso precipita-se como chuva.
que a capacidade de ab-
sorção deste, pode ocor- O ar que contém o máximo de água que pode reter diz-se saturado.
rer perdas de água por Muitas vezes ele não está saturado e pode absorver o que falta. Esta dife-
percolação. As perdas por rença entre o que o ar pode conter, em vapor de água, e aquilo que realmen-
percolação são influencia-
das pelo regime de chuva te contém, chama-se déficit de saturação. Quanto maior esse déficit tanto
e sua distribuição, pelo maior será a rapidez da evaporação e por transpiração.
escoamento do solo, pela
evaporação, pelas carac- Na prática, os ecólogos usam, com maior frequência, não os valores do
terísticas do solo e pela déficit de saturação, mas valores complementares desses, isto é, os valores
camada vegetal. de umidade relativa. Isto é, se chamarmos de umidade absoluta (U.A.) a
quantidade de água presente no ar em dado instante, acharemos a porcen-
tagem umidade relativa (% U.R.) dividindo o valor da umidade absoluta pelo
da unidade no estado de saturação (U.S.) aquela temperatura, e exprimindo
o resultado como porcentagem da umidade no estado de saturação. Assim
sendo, ter-se-á o seguinte.

Os valores de umidade relativa são muito utilizados pelos ecólogos


na tentativa de explicar certos comportamentos de espécies individuais
ou buscando conhecer as razões da distribuição de grupamentos vegetais
com um todo.

• Relevo
Embora o relevo de uma região seja em grande parte dependente do
clima predominante, pode-se verificar que o relevo propriamente, quando
instalado, vai exercer apreciável influência no bioma regional. Dele depende
a velocidade de escorrimento de água caída ao solo e, consequentemente, a
sua infiltração, percolação e toda a circulação da água no interior do solo.
Interfere na distribuição da temperatura e da umidade atmosférica e, como
consequência, exerce efeitos diretos e indiretos sobre os organismos vivos
ali instalados ou em via de instalação.

42 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
É bem conhecida a influência que o relevo exerce na distribuição das
chuvas. Se tivermos uma área (Figuras 2.14 e 2.15) perfeitamente plana
(A) e outra de relevo mais ou menos acentuado (B), a pluviosidade se efe-
tuará nessas duas áreas de formas bem diversas, mesmo que ocorram
massas de ar em igualdade de condições nessas duas áreas. Por que sobre
a área A as correntes aéreas se deslocarão de modo diverso daquela da
área B? Na área A, as correntes aéreas se desenvolverão preferencialmente
horizontais e paralelas, até certo ponto ao solo, na dependência, no entan-
to, da grande circulação atmosférica, o que daria uma distribuição razoa-
velmente uniforme da precipitação. Diversamente, as correntes aéreas na
área B, tão logo encontrem as irregularidades do terreno, vão modificar
o seu nível, tendendo sempre a se amoldar ao relevo. Essas mudanças de
nível vão determinar variações no comportamento da umidade ou totais de
água que elas contenham.

Figura 2.14 Formação de chuvas orográficas. Fonte: BONILLA; PORTO (2001).

Figura 2.15 Influência do relevo na formação de massas de ar que dão origem as chuvas.
Fonte: BONILLA; PORTO (2001).

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 43
Havendo umidade relativa, como o percentual de conteúdo de vapor
d’água que um volume de ar pode suportar a uma determinada temperatu-
ra, e sabendo-se que uma ascensão provoca um abaixamento de tempera-
tura, a umidade relativa nesses níveis superiores tende a crescer e, conse-
quentemente, vai haver mais possibilidades de condensação e precipitação
nesses níveis mais altos do que nos níveis mais baixos.
Uma montanha torna-se A vertente voltada para o lado de onde vem os ventos úmidos (barla-
uma barreira para o des-
locamento das massas de
vento) recebe maior precipitação (chuvas orográficas) e resulta num relevo
ar que carregam a umida- ou modelado mais suave com solos mais profundos; a vertente oposta (a
de. Sendo que o ar que vai sotavento) recebe menor volume de chuva, é mais abrupto e de solo mais
em direção à montanha rasos. Esse, o fato que ocorre na Serra Negra (Município de Floresta, Per-
– barlavento - é forçado a
subir e condensa-se, de- nambuco), na Chapada do Araripe (entre o Ceará, Pernambuco e o Piauí) e
vido à redução adiabática em vários outros “brejos” do Nordeste brasileiro com vegetação exuberante
da temperatura, podendo nos níveis mais altos, porque naquele ponto há uma possibilidade de preci-
causar chuva. Após pas-
sar sobre a montanha, já pitação maior que nos níveis inferiores.
desprovido de umidade,
o ar desce – sotavento - e
aquece adiabaticamente. • Os ventos
Costuma-se encontrar flo-
restas a barlavento e áre- Os ventos constituem importante fator ecológico, tanto por impulsio-
as semiáridas, áridas ou
desertos, a sotavento. narem as massas de vapor de água, quanto como elemento de modelação
das paisagens. Assim sendo, é de todo importante que se aprecie, embora
superficialmente, as suas ações: mecânica e fisiológica.
a) Ação mecânica
Foi referida, anteriormente, a ação de sotavento e barlavento das cor-
rentes aéreas. Deve ser verificada também, a ação mecânica dos ventos, que
é muito importante. Ela é sensível, mesmo nas condições aqui do Brasil em
que as correntes aéreas não são muito intensas, porém bem mais em outras
áreas, como na região do Caribe, no Sul dos Estados Unidos etc.; onde há
Caule reptante ou caule os tornados e outros fortes ventos. Essa ação mecânica pode se desenvolver
prostrado é, tipicamente, simplesmente, quebrando as copas das árvores ou então, derrubando-as.
um caule muito alongado,
produzindo raízes nos nós. É comum encontrar nas matas certos buracos e, ao lado, um montícu-
lo; é o local onde estava o raizame levantado pela queda de árvores. Essa é
uma ação mecânica direta e violenta, uma ação rápida. Há uma outra mo-
derada, que se exerce lentamente com vegetais que vivem à beira da praia.
Isto é, certas espécies, que vivendo mais para o interior tomam um porte
ereto; à beira-mar, pela ação constante, embora pouco intensa, do vento,
apresentam-se como verdadeiras plantas rastejantes, quando, em verdade,
não o são; resultam da ação dos ventos. Um bom exemplo é o guajiru, Chry-
sobalanus icaco. Indivíduos dessa espécie, quando habitando as proximida-
des do mar, das dunas, sob o efeito do vento, são sempre encontrados com
caule reptante (Figura 2.16), mas em ambientes livres dos ventos marinhos,
eles podem chegar à forma ereta, típica da grande maioria das espécies da
família a que pertence (Chrysobalanaceae).

44 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
Figura 2.16 A feição da copa do guajiru, pode mudar em função da ação dos ventos,
tornando-se reptante. Fonte: OHB (2010).

Outro aspecto desse fato é apreciado nas altas montanhas. Em seus


níveis mais baixos, as árvores são eretas; nos níveis intermediários podem
chegar a reduzir o seu porte médio, porém continuam eretas; nos níveis
superiores, onde a ação das correntes aéreas é mais intensa, os vegetais le-
nhosos passam a se apresentar bem encurvados, chegando mesmo à forma
reptante, não alcançando, realmente, a posição horizontal devido ao relevo,
mas demonstrando claramente a ação mecânica lenta dos ventos.

b) Ação fisiológica
As correntes aéreas, ao se deslocarem, levam consigo umidade etc. Se
uma folha transpira e não há corrente aérea, essa umidade tende a perma-
necer saturando a atmosfera que envolve a folha. Mas, na presença de cor-
rentes aéreas, essa umidade provinda das folhas é arrastada possibilitando
a saída de novos volumes de água, que resulta em maior dessecação da
folha e, consequentemente, de todo o vegetal. Esse fato é ainda mais acen-
tuado com os ventos secos. Isto é, com baixo teor de umidade.
Por outro lado, as correntes aéreas interferem ativamente nos proces-
sos de migração quer vegetal quer animal. No primeiro caso, é grande sua
ação no transporte de determinados dissemináculos (sementes e frutos ala-
dos ou dotados de pêlos longos, grãos de pólen, esporos etc.).

• O fogo agindo como um fator ecológico


O fogo é um fator de perturbação de muitos ecossistemas terrestres
onde, geralmente, determina a estrutura da vegetação e sua biodiversidade.
Seu efeito imediato é a redução da cobertura vegetal e mineralização da ma-
téria orgânica, mas o fogo, dependendo de sua intensidade, também pode
afetar a sobrevivência das partes aéreas, a germinação após a queimada, a
regeneração vegetativa, a reprodução sexuada e a mortalidade.
A resposta de cada espécie ao fogo dependerá de sua demografia, pa-
drão de alocação, e forma de crescimento. Se duas espécies que diferem Demografia estuda as
numa variável demográfica são capazes de manter populações num local variações em relação à
com um regime particular de fogo, elas deverão também diferir em alguma abundância das popula-
ções de seres vivos.
outra variável, que lhes permita coexistir neste local.

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 45
A queimada é a técnica comum, uma prática cultural muito arraiga-
da, em algumas populações, para a limpeza de pastos, campos agrícolas e
a roça. Não há duvida de que a cinza, acrescentada ao terreno, provoca uma
fertilidade maior durante dois a três anos, segundo o tipo e a textura do
solo. Verifica-se que há um aumento de potássio e cálcio e uma diminuição
de alumínio trocável pela cinza acrescentada ao solo. Sabe-se que a cinza
acrescenta, especialmente, cátions ao solo e somente muitos poucos ânions,
que se volatilizam pelo calor do fogo. O efeito do fogo faz-se sentir, princi-
palmente, nas áreas de vegetação herbácea, sujeitas a uma periodicidade de
seca e de umidade. Isto é, áreas com aproximadamente seis meses de chuva
e outros seis meses de estiagem. Nos meses de chuva, a vegetação herbá-
cea, geralmente graminoide, desenvolve-se; nos seis meses de estiagem ela
murcha e o fogo, então, a elimina, do que decorre uma série enorme de mo-
dificações resultantes dessa ação do fogo, pela queima não só dos elementos
macroscópicos, mas também dos elementos microscópicos, os quais para
uns são até mais importantes. Pela eliminação mencionada, enseja-se uma
seleção para certas formas que têm em si mesmas uma estrutura capaz de
resistir à ação desse fogo. Este é, realmente, um fator físico que desenvolve
grandes modificações em determinadas áreas do globo. O efeito das quei-
madas sobre o solo pastoril é negativo com queda significativa de produção
1 a 2 anos após a queimada. Portanto, é um método barato em curto prazo
e muito caro em longo prazo.
Ao contrário da opinião popular, o fogo na natureza não constitui um
fator artificial completamente criado pelo homem, nem é sempre prejudi-
cial aos interesses humanos. O fogo é um fator ambiental importante em
muitos ecossistemas terrestres, mesmo muito antes que o homem tentas-
se o seu controle. Por isso é considerado um fator tanto limitante quanto
regulador. Por exemplo, em regiões quentes e secas, tais como as do sul
dos Estados Unidos e da África Central, os incêndios aplicam uma pressão
seletiva que favorece a sobrevivência e o crescimento de algumas espécies
a expensas de outras.
Apesar de que maiores esclarecimentos devem ser obtidos neste cam-
po, parece que, em regiões secas ou quentes, o fogo age como decompositor
que produz a libertação de nutrientes minerais a partir de velhos detritos
acumulados e que se tornam tão secos que as bactérias e os fungos não
podem agir sobre eles. Assim o fogo pode até aumentar a produtividade ace-
lerando a circulação dos minerais.
Certamente as grandes manadas de animais de caça da África ou os
veados do “chaparral” da Califórnia não sobrevivem, a menos que pequenos
incêndios periódicos tragam uma nova cobertura de capim ou folhagem.
Ainda mais, pequenos incêndios periódicos previnem o desencadeamento
dos grandes incêndios, mantendo reduzidos a um mínimo os detritos que
servem de combustível.
No caso particular das savanas, o fogo exerce uma ação considerável
eliminando, praticamente a porção herbácea e algumas vezes atingindo a
vegetação arbórea. Se essa eliminação fosse total, haveria, depois de al-
gum tempo, completa ausência da porção de pequeno porte da vegetação.
No entanto, isso não ocorre, havendo uma substituição todo ano, daquela
porção de pequeno porte da vegetação. O que acontece é que o fogo, como
todos os outros fatores, atinge algumas espécies enquanto outras não são
afetadas, conseguindo ficar vivas mesmo com ação do fogo, vindo a rebrotar
no ano seguinte. Apenas a porção aérea é eliminada; a que fica abaixo do
nível do solo, caule e raízes, consegue fugir à ação do fogo (Figura 2.17). Isto

46 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
é, os incêndios, quando controlados e de pequena intensidade, do ponto de
vista ecológico, têm algumas vantagens para os ecossistemas ao promover
a rebrota de plantas, o controle de algumas pragas e doenças, promover a
germinação de sementes e favorecer a mineralização do solo; mas carecem
ser muito bem avaliados, devido aos efeitos negativos que podem trazer para
a fauna e microbiota do solo.

Chaparral da Califórnia
é um tipo de vegetação
constituído de arbustos,
que são adaptados ao fogo.

No Brasil, a Caatinga e o
Cerrado apresentam di-
versas espécies vegetais
que resistem bem às quei-
madas; Ex. A Lixadeira
(Curatela americana L.) e
a Janaguba (Himatanthus
drasticus Mart.), as quais
apresentam um tronco co-
berto por tecidos suberi-
zados, resistentes ao fogo.

O xilopódio - tubércu-
lo lenhoso e gemífero de
muitas plantas subar-
Figura 2.17 Os incêndios e seus efeitos. Fonte: www.alertatierra.com bustivas - originam-se do
hipocótilo ou da raiz pri-
No caso de dicotiledôneas com cascas delgadas, o fogo normalmente mária, raramente englo-
mata as células delicadas do câmbio e de outros tecidos meristemáticos. bando parte do caule; ar-
mazena água e alimento;
Mas, se o caule for envolvido por uma camada espessa de cortiça, que é má durante a época seca per-
condutora de calor e pouco combustível, a ação do fogo será muito reduzi- siste no solo e, ao volta-
da, com pouca penetração, ficando os caules apenas chamuscados, ou seja, rem às chuvas rebrotam,
refazendo a parte aérea,
sapecados na superfície, enquanto os tecidos meristemáticos internos ficam que é anual. O xilopódio é
perfeitamente protegidos. um órgão perene, que per-
A presença da cortiça é uma forma eficiente de proteção contra a ação mite às plantas resistirem
a condições ambientais
do fogo. Outro caso, por exemplo, é o de certas plantas que tem uma porção inclementes.
aérea muito delicada, como é o caso dos capins, que se queima na estiagem,
e que, no entanto, na época chuvosa seguinte rebrota da porção que ficou Sóbole é um ramo que
se origina de uma gema
subterrânea; é esta também uma forma efetiva de proteção contra o fogo. subterrânea e que forma
Esses órgãos com capacidade de regeneração, que permanecem abaixo da uma nova planta, quando
linha do solo, recebem nomes diversos conforme a sua morfologia. se desenvolve e liberta-
-se da planta de origem.
Assim temos: o xilopódio, que se desenvolve verticalmente, e o sóbole, Os sóboles podem consti-
que cresce quase paralelamente à superfície do solo, com ramificação in- tuir um intricado sistema
subterrâneo radiciforme,
tensa, de tal maneira que, se olhando de cima para baixo, se apresenta com mas de origem e estrutura
uma distribuição inicialmente radial, que se pode ir prolongando e nova- caulinar, como em Andira
mente se ramificando e emitindo novos brotos. Estes conjuntos foca de tal humilis, do cerrado.
forma que, em certos casos, é impossível se reconhecer qual o primeiro dos
caules. Pelo corte ou pela incidência do fogo, há, eventualmente, a morte da
porção aérea, e novos brotos voltam a se formar.
Estas são uma excelente forma de defesa contra o fogo, e está bem
representada no “angelim do tabuleiro” (Andira laurifolia). Outro tipo de de-
fesa contra o fogo é o recobrimento do caule aéreo, pelo menos em sua por-
ção basal, pelas bainhas das folhas, que permanecem depois da queda do
limbo, revestindo completamente o caule. O fogo queima apenas superficial-
mente, pois que passa rapidamente, pela força dos ventos. Um bom exemplo
é o da ciperácea Bulbostylis paradoxa.

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 47
As plantas lactescentes, como a mangabeira (Hancornia speciosa),
também apresentam resistência à ação do fogo. Outra forma, ainda, é a mu-
dança do vegetal da forma verde, ativa, para a forma de vida semilatente. A
planta se mete dentro de uma semente, ficando à espera de novas condições
propícias para voltar à superfície, em nova vida ativa. Estas sementes que
resistem à ação do fogo possuem cascas muito espessas, o que impede que
o calor afete a plantinha ali contida (embrião).
É possível que ainda se encontrem outras formas indiretas, como a de
certos vegetais que só se desenvolvem em grutas, passando o fogo por cima
e não os afetando.
Mas, se não há qualquer um desses dispositivos, que anulem a ação
do fogo, as espécies assim desprotegidas serão eliminadas. Depois de al-
gum tempo, encontrar-se-á, nas áreas atingidas pelo fogo, somente as es-
pécies que tenham artifícios capazes de eliminar a ação danosa desse fator.
Também as queimadas, provocam outros danos, como a morte de animais,
principalmente após o evento, devido à indisponibilidade de alimento para
os sobreviventes.

Fatores hídricos
Água
Sem cor, sem cheiro, sem sabor e sem calorias, a água é vital para
todas as formas de vida na Terra. Nenhum humano, animal ou planta pode
viver sem ela. Do elefante ao micróbio, a água é essencial; e não tem subs-
tituto. Para manter-se saudável, cada um dos mais de seis bilhões de ha-
bitantes da Terra precisa consumir, em bebidas e alimentos, cerca de 2,5
litros de água por dia. Sem água, é impossível plantar ou criar gado. Sem
“O consumo de água sau-
dável é fundamental à água, não há alimentos e, por via de conseqüência, não há vida.
manutenção de um bom A água toma parte nos mais importantes processos que ocorrem em
estado de saúde. Existem
estimativas da Organi- nosso organismo: a digestão, a circulação, a absorção de nutrientes e diver-
zação Mundial da Saúde sos outros. O homem, como qualquer outro animal, resiste de 30 a 45 dias
de que cinco milhões de sem alimentação. Mas não consegue sobreviver a uma semana sem água.
crianças morrem todos os
anos de diarréia, e estas Através de algumas funções fisiológicas como suor, a respiração e,
crianças habitam de modo acima de tudo, para a eliminação de resíduos do metabolismo celular, per-
geral o Terceiro Mundo.
Existem alguns cuidados
demos diariamente de 2 a 2,5 litros de água, que devem ser repostos em
que são fundamentais. igual quantidade todos os dias, com a ingestão de frutas e legumes e de
O acesso a água trata- água “in natura”.
da nem sempre existe na
nossa população – princi-
palmente na população de
periferia. Deve-se tomar
muito cuidado porque a
contaminação dessa água
nem sempre é visível....”
Fonte: UNGLERT. C. - Fa-
culdade de Saúde Pública
da USP.

Figura 2.18 Distribuição da águas no globo terrestre. Fonte: UNESCO/PHI/REDES (1994).

48 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
A água constitui 70 por cento da superfície da terra (Figura 2.18).
Poderia parecer que se tem uma reserva inesgotável, mas não bem assim,
pois apenas 3 por cento é água potável. Destes, menos de 1 por cento se
acha disponível ao homem para beber, cozinhar, banhar-se, para irriga-
ção e outros usos. A água remanescente, em sua maior parte é salgada,
posto fazer parte de oceanos, mares e banquisas, ou se encontra em de-
pósitos subterrâneos. Banquisas caracteriza-se
como um campo de gelo
Naturalmente, a maior parte da água da Terra está nos oceanos e ma- glacial flutuante, prove-
res, sendo, portanto salgada. A pessoa que bebesse apenas água do mar logo niente do congelamento
morreria de sede e desidratação, à medida que seu corpo tentasse livrar-se da água do mar.

do excesso de sal. A água do mar tampouco serviria para a agricultura ou


a indústria, pois mataria a maioria das culturas e logo enferrujaria quase
todo maquinário. Assim, em geral, os humanos só podem usar a água do
mar depois de extraído o sal, e esse é um processo oneroso.
A disponibilidade de água no ambiente exerce um importante efeito
na distribuição das plantas. Assim sendo, plantas adaptadas a viver em
locais secos não podem sobreviver por muito tempo em ambientes úmidos
e vice-versa. As espécies são classificadas em quatro grupos, com base na
quantidade de água disponível para elas, e cada grupo é caracterizado por
um elenco de adaptações estruturais ao seu ambiente. Desse modo, há que
se destacar o seguinte.
a) Hidrófitas
As hidrófitas (Figura 2.19) crescem total ou parcialmente submersas
na água. Este grupo inclui algas marinhas e a angiosperma submersa, co-
nhecida como capim-enguia (Zostera marina), as quais são também adap-
tadas a suportar alta salinidade (isto é, são halófitas). Outros exemplos de
hidrófitas são as espécies aquáticas de água doce que variam desde algas
unicelulares móveis, tais como Chamydomanas, até pteridófitas fluentes,
como, por exemplo, Azolla filiculoides, e angiospermas, como a lentilha-
-d’água (Lemna minor). Algumas hidrófitas emergentes, tais como os nenú-
fares (Nymphaea alba e Nuphar lútea), a cauda-de-água (Hippuris vulgaris)
e muitas plantas marinhas, são firmemente fixadas ao substrato de tal
modo que elas não são carregadas facilmente pelas correntes de água. As
folhas submersas de plantas aquáticas em geral são finamente divididas (p.
ex. em Myriophyllum spp.) e isto reduz a resistência ao fluxo de água.

Figura 2.19 Aspectos das hidrófitas. Fonte: GOOGLE (2011).

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 49
A perda de água, normalmente, não é problema para as hidrófitas e não
há cutícula bem desenvolvida nos órgãos submersos ou na superfície inferior
das folhas flutuantes. A superfície superior, entretanto, é fortemente cutini-
zada, o que as ajuda a prevenir a supersaturação e as folhas emergentes têm
ainda estômatos funcionais que controlam a transpiração. As hidrófitas têm
geralmente xilema pouco desenvolvido e sua sustentação depende principal-
mente da água que está ao seu redor. Elas têm grandes espaços aéreos que
aumentam a sua flutuabilidade e facilitam a difusão do O2 e do CO2 através
dos tecidos. As hidrófitas geralmente não sobrevivem ao dessecamento, ex-
ceto quando estão em estado dormente; folhas flutuantes de Chamaegigas
intrepidus, uma pequena planta aquática da África do Sul, podem resistir à
seca entrando em equilíbrio com ar de até 5% de umidade relativa, enquanto
estiverem protegidas no botão vegetativo, ao passo que, morrem se a umidade
do ar estiver abaixo de 95% quando estiverem maduras.

b) Higrófitas
As higrófitas, como por exemplo, muitos musgos, as hepáticas e algu-
mas samambaias (Figura 2.20), são plantas terrestres de ambientes úmi-
dos, onde o ar é muito úmido e o solo é permanentemente saturado de água.
Tais habitats são geralmente sombreados e, assim sendo, as higrófitas são
plantas adaptadas a fotossintetizar eficientemente em baixas intensidades
luminosas. Elas comumente têm uma grande área superficial em relação
ao volume, e as suas folhas freqüentemente têm apenas uma camada de
células de espessura. O seu conteúdo de água é controlado em grande parte
pela umidade do ar.
Muitas higrófitas podem suportar dessecamento prolongado, voltando
a crescer novamente tão logo recebam suprimento de água.

Figura 2.20 Samambaias e musgos vivem em ambientes úmidos e sombreados, fator tam-
bém necessário a sua reprodução. Fonte: GOOGLE (2011).

c) Mesófitas
As mesófitas são plantas que crescem normalmente em solos bem dre-
nados e que cujas folhas ficam expostas ao ar moderadamente seco (Figura
2.21). A maioria das espécies cultivadas e muitas das plantas nativas de
regiões tropicais e temperadas estão enquadradas nesta categoria. Elas têm
cutícula impermeável e regulam a perda de água pelo controle da abertura
dos estômatos. Nas mesófitas os estômatos freqüentemente se fecham por

50 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
um período, na metade do dia, quando as condições são geralmente favo-
ráveis para a evaporação, e também à noite, quando a fotossíntese pára e a
penetração de CO2 não é necessária. Como as mesófitas têm que substituir
grandes quantidades de água transpirada pelas folhas, elas possuem um
sistema radicular extenso e xilema bem desenvolvido.
Muitas mesófitas perenes são decíduas, perdendo suas folhas para
economizar água quando as condições são desfavoráveis, isto é, durante o
inverno, nas latitudes temperadas e árticas, e durante as estações secas,
Heliófita: palavra de raiz
nos trópicos. As partes aéreas de algumas mesófitas herbáceas morrem grega Helio – sol, e phyta
completamente nessa época e as plantas sobrevivem através de seus órgãos – planta. Plantas de am-
perenes subterrâneos, tais como rizomas e bulbos. bientes ensolarados.

Figura 2.21 As mesófitas são particularmente e em sua maioria heliófitas. Ex.: O cajueiro
(Anacardium occidentale) Fonte: www.jardineiro.net.

d) Xerófitas
As xerófitas ocorrem principalmente nos desertos, nas campinas se-
cas e nos lugares rochosos onde a água é geralmente escassa. Essas plan-
tas poderiam, algumas vezes, se desenvolver melhor em ambiente úmido
que seco, se fossem protegidas contra a competição das mesófitas. Sua so-
brevivência sob condições secas depende de certo número de adaptações,
incluindo um extenso sistema radicular que penetre ampla e profundamen-
te no solo para obter a água disponível. As células dessas raízes têm poten-
ciais hídricos excepcionalmente baixos, o que possibilita, a sua absorção de
água em solos muito secos (Figura 2.22).

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 51
Figura 2.22 As xerófitas apresentam características adaptativas de alta eficiência no uso
da água em ambientes áridos e semiáridos. Fonte: GOOGLE (2011).

A água pode ser armazenada em raízes, caules ou folhas suculentas


para ser usada durante períodos de seca intensa. A erva-prateada (Mesem-
bryanthemum crystallinum) tem, nas folhas, células epidérmicas alongadas,
semelhantes a câmeras de ar, que funcionam como depósitos de água. O
desenvolvimento de suculência em folhas e caules conduz a uma redução
na razão superficial para o volume, o que ajuda a reduzir a perda de água.
Uma situação extrema ocorre nas chamadas plantas “seixos” ou “pedras”
(Lithops spp.), nas quais as folhas nascem junto ao chão, sobre caules cur-
tos, e são circulares ou em forma de clava semelhantes a pedras.
Em muitas xerófitas, inclusive nos cactos, as folhas são pequenas, al-
gumas vezes reduzidas à simples escamas ou transformadas em espinhos
e o principal órgão fotossintetizante é o caule. Este é frequentemente acha-
tado e parecido com folha ou estriado. Um interessante exemplo de reversão
evolutiva é visto em plantas como a vassoura-de-açogueiro (Rucus aculea-
tus), onde as folhas verdadeiras são reduzidas a escamas e partes do caule
se expandem em estruturas semelhantes a folhas, chamadas cladódios. A
região central de um cladódio é ocupada por grandes células armazena-
doras de água. Uma modificação semelhante ocorre em espécies de Acacia
onde o limbo é reduzido e um pecíolo achatado (filódio) assume seu papel.
Algumas xerófitas, especialmente monocotiledôneas, perdem suas fo-
lhas e outras partes aéreas em períodos de seca severa e sobrevivem por
meio de bulbos subterrâneos. O arbusto-creosoto (Covillea glutinosa), dos
desertos da América do Norte, tem pequenas folhas coriáceas, as quais,
quando ocorre uma seca, tornam-se marrons e secam até seu conteúdo
de água cair para menos de 10% do normal. Nessas condições, quando a
maioria de outras folhas morreria, elas podem permanecer vivas por meses
e, quando a água se torna novamente disponível elas se expandem rapida-
mente, tornando-se novamente verdes e fotossintetizantes.
A cutícula das xerófitas é frequentemente mais fina que a das mesó-
fitas, mas sua impermeabilidade à água depende principalmente de sua
composição que inclui uma alta proporção de cutina e outras ceras. Muitas
xerófitas têm uma alta proporção de cutina e outras ceras, têm uma densa
cobertura de pêlos ou escamas que não interrompem a continuidade da
cutícula nem aumentam sua permeabilidade. Pelo fato dessa cobertura de

52 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
pêlos produzir uma camada de ar ao redor da planta, argumenta-se que os
pêlos ajudam a reduzir a transpiração. Por refletirem a luz, eles ajudam a
amenizar o aumento da temperatura causado pela radiação solar.
A transpiração é também reduzida nas xerófitas pelo número, dispo-
sição e modo de função dos estômatos. O número de estômatos por unidade
de área superficial de folha ou caule é geralmente mais baixo que nas me-
sófitas e os poros são frequentemente menores. Algumas xerófitas têm es-
tômatos situados em depressões ou lado a lado em saliências na superfície
da folha e acredita-se que isto reduza a transpiração por criar uma camada
de ar acima de cada estômato. É possível também que as células-guarda
dos estômatos situados nessas depressões, estando próximas de células
fotossintetizantes, sejam mais sensíveis às mudanças dos níveis de CO2 nos
espaços intercelulares. Da mesma maneira, argumenta-se que o sentido do
enrolamento das folhas de gramíneas xerófitas, como, por exemplo, em Am-
mophila arenaria, seja de aumentar a concentração de CO2 nas vizinhanças
das células-guarda, mais do que reter a umidade do ar.
Os estômatos da maioria das xerófitas se abrem, durante o dia, por
um período de tempo menor que os das mesófitas. Em algumas suculen-
tas, como por exemplo, em espécies de Crassulas e Opuntia, eles se abrem
durante a noite quando as plantas assimilam CO2 por reações que não en-
volvem energia solar, formando ácidos orgânicos, tais como ácido málico
(metabolismo ácido das crassuláceas). Esses ácidos são convertidos em
açucares na luz, com desprendimento de CO2 que pode ser usado para fo-
tossíntese mesmo que os estômatos estejam fechados.
Tem havido muita discussão sobre se angiospermas halófitas, tais
como Sarcocornia ambigua (Figura 2.23) e Suaeda marítima, que habitam
pântanos salinos, são ou não xerófitas. Elas partilham com as xerófitas ca-
racterísticas de suculência e foram identificadas células de reserva de água
com paredes finas, em suas folhas. O fitogeográfico Schimper sugeriu que
tais plantas podem sofrer de “seca fisiológica” mesmo quando a água seja
abundante no solo, devido à alta concentração de sais. Entretanto, tem sido
demonstrado que o suco celular de halófitas é correspondentemente mais
concentrado, e assim a entrada de água por osmose não seria impedida.
Todavia, é mais provável que algumas halófitas, especialmente aque-
las que habitam faixas superiores de mangues e dunas, estejam expostas
a períodos de seca severa e talvez esta seja a razão da frequência com que
ocorrem células de reserva de água. Quando a água ocorre em quantidade
suficiente, a razão da transpiração por unidade de área superficial não é
muito diferente entre as halófitas e as mesófitas.

Figura 2.23 Sarcocornia ambigua (Michx) Alonso & Crespo é uma halófita extrema por tole-
rar concentrações extremas de sais no solo. Fonte: OHB (2011).

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 53
Este capítulo abordou os fatores ecológicos como elementos que de-
terminam a distribuição e ocorrência dos seres vivos em seus ambientes,
a forma como são expressos e sua ação no comportamento de muitos ani-
mais. São tratados por separados o clima e os componentes que definem
tipos climáticos específicos que ajudam na determinação de padrões cli-
máticos próprios dos biomas. Elementos do clima como a temperatura,
pluviosidade, luminosidade e os ventos que deslocam as massas de ar
pelo planeta, permitem a formação de complexos grupos florísticos e fau-
nísticos. Esses componentes não desempenham o mesmo papel em todas
as partes, mas quando suas particularidades são alteradas em conjunto
terminam causando o processo de aquecimento global com todas as reper-
cussões negativas para todas as formas de vida. Este capítulo falou tam-
bém da água, bem de uso comum e necessária à vida. Essa enorme massa
liquida ocupa cerca de ¾ da superfície terrestre, ou 360 milhões de km2,
e tem um papel da maior importância na alimentação do vapor atmosfé-
rico, na regulação térmica do planeta e nos processos de intercâmbio de
energia. A disponibilidade de água nos ecossistemas terrestres termina
favorecendo o aparecimento de plantas com características metabólicas e
morfoanatômicas especiais que as habilitam para viver em ambientes com
gradientes de umidade diferenciado.

1. Que são fatores ecológicos e como interferem na vida?


2. Quais são os principais componentes do clima e como ele contribui na
distribuição dos seres vivos?
3. Como a temperatura afeta a vida dos insetos?
4. Que é evapotranspiração?
5. Qual a diferença entre chuva e umidade relativa?
6. Como se formam as chuvas orográficas?
7. O fogo é bom ou ruim para os ecossistemas? Explique
8. Porque podemos dizer que o Nordeste do Brasil é uma das regiões mais
quentes do planeta?
9. Como a água interfere na ocorrência dos seres vivos em ambientes
terrestres?
10. Quais são as características das plantas tidas como halófitas e higrófitas?

54 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
Amazônia absorve excesso de CO2 da atmosfera
Estudo aponta que o saldo pode chegar a 5 toneladas anuais por hectare.
A Floresta Amazônica retira todos os dias uma quantidade significativa
de dióxido de carbono (CO2) da atmosfera. Medições recentes indicam que a
diferença entre o CO2 absorvido e liberado por cada hectare de floresta pode
chegar a 5 toneladas anuais. Esta é uma das principais conclusões de uma pes-
quisa desenvolvida pelo Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera
na Amazônia (LBA), uma frente internacional de estudos sobre o ecossistema
amazônico liderada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Durante seu processo de fotossíntese, as plantas absorvem gás carbôni-
co da atmosfera. Na ausência de luz, os vegetais emitem CO2 pela respiração.
O carbono da floresta também pode ser liberado sob a forma de queimadas
ou desmatamento. Até agora, havia um consenso entre os cientistas segundo
o qual a floresta não perturbada seria neutra. “Acreditava-se que a Amazônia
não perdesse nem ganhasse carbono durante os processos de fotossíntese e
respiração, apresentando apenas uma pequena perda para os rios, compen-
sada pelos ganhos atmosféricos”, relata Carlos Nobre, chefe do Centro de
Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do INPE.
No entanto, a expectativa não foi confirmada pela pesquisa do LBA.
Dados coletados por torres colocadas sobre a copa das árvores para moni-
torar as trocas de carbono na Amazônia mostram que, no cômputo geral, a
floresta absorve um percentual expressivo de gás carbônico. Esse resultado
caracteriza o ecossistema como um sorvedouro de carbono. Os pesquisadores
ainda não sabem a causa desse comportamento. Uma hipótese foi levantada
durante a I Conferência do LBA, realizada em Belém entre 25 e 28 de junho:
com o excesso de gás carbônico lançado na atmosfera por desmatamentos e
queimadas, as plantas estariam executando o processo de fotossíntese com
maior eficiência.
Segundo Carlos Nobre, a descoberta pode mudar a imagem da Amazô-
nia. “A floresta talvez passe a ser reconhecida não apenas por sua biodiver-
sidade, mas pela possibilidade de contribuir para contrabalancear o efeito es-
tufa.” Esse efeito, caracterizado pelo aquecimento da atmosfera, é provocado
por gases como o CO2 que retém o calor solar.
Fonte: Revista Ciência Hoje/RJ - 04/07/2000.

Leitura
Livro
• FLANNERY T. Os senhores do clima (como o homem esta alteran-
do as condições climáticas e o que isso significa para o futuro
do planeta). Rio de Janeiro/São Paulo: Editora Record, 2007. 388p.

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 55
Filmes
• Uma verdade inconveniente (www.youtube.com/laboeco).
• Escurecimento Global (www.youtube.com/laboeco).
• Um dia depois do amanhã: alugar em vídeo locadoras.

BEGON, M.; HARPER, J. L.; TOWSEND, C. R. Ecology. 4 ed. Oxford: Bla-


ckwell Science, 2004.
DAJOZ, R. Princípios de ecologia. Porto Alegre: Editora Artmed. 2005.
FELDMANN, F. Guia da ecologia para entender e viver melhor a relação
homem-natureza. São Paulo: Guias Abril, Editora Abril. 1982.
PRIMACK, R. B.; RODRIGUES, E. Biologia da conservação. Londrina:
Gráfica e Editora Midiograf. 2001.
RICKLEFS, R. E. A economia da natureza. 5 ed. Rio de Janeiro: Guana-
bara Koogan. 2003.
TOWNSEND, C. R.; BEGON, M. E.; HARPER, J. L. Fundamentos de ecolo-
gia. 2 ed. Porto Alegre: Artmed. 2006. 592 p.

56 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
Capítulo

3
Fatores ecológicos

Objetivos:
• Oferecer noções sobre a formação do solo.
• Mostrar a importância do solo desde o ponto de vista ecológico.
• Identificar os fatores que contribuem na formação dos solos.
• Mostrar como o solo determina a distribuição das plantas nos ambientes.
Fatores abióticos: fatores edáficos
Conceitos básicos
• Pedologia: é a ciência que estuda a formação do solo, e foi iniciada
na Rússia por Dokuchaiev no ano de 1880. Os solos correspondem a
camada viva que recobre a superfície da terra, em evolução perma-
nente, por meio da alteração das rochas e de processos pedogenéti-
cos comandados por agentes físicos, biológicos e químicos.
• Edafologia: é o estudo do solo, do ponto de vista dos vegetais su-
periores. Considera as diversas propriedades do solo à medida que
elas se relacionam com a produção vegetal.
• Solo: é a camada superficial da crosta terrestre resultante da ação
combinada dos fatores de formação: material de origem (rocha), cli-
ma, organismos vivos, relevo e tempo.
Em uma acepção mais geral, solo é a porção de material, na superfície
da Terra, derivada, direta ou indiretamente da rocha matriz, em associação
com água, ar, restos orgânicos e organismos vivos.

O solo e sua formação


O solo representa o produto final de fenômenos físicos, químicos e bio-
lógicos; constitui-se a porção da crosta terrestre onde as plantas crescem. É
composto de uma mistura de materiais inorgânicos (os fragmentos da rocha Regolito
desintegrada) e de substâncias orgânicas. Alguns dos materiais orgânicos do É o conjunto do material
solo, tais como raízes e animais pequenos, são vivos; ao passo que outros são superficial, que recobre a
superfície do planeta, ori-
mortos e, frequentemente, em processo de desintegração. Os espaços entre os
ginado das rochas e dos
componentes do solo podem estar ocupados por ar ou água. Logo, o solo é um depósitos inconsolidados,
complexo mosaico formado por numerosos materiais inter-relacionados. Pode- que foi afetado pelo intem-
-se, ainda, definir o solo de diversas maneiras. Os pedólogos (do grego paedon = perismo químico e físico.

solo e logos = estudo), em geral, denominam solo: a parte superior do regolito


não alterada, não decomposta. “Se a profundidade em que a rocha se encon-
tra é pequena”, o regolito todo é o solo. “Porém, se a espessura do regolito for
muito grande, apenas a sua parte superior é considerada como solo”.
O ecólogo prefere admitir que solo é a camada da superfície da crosta
terrestre capaz de abrigar raízes de plantas, representando, pois, o substra-
to para a vegetação terrestre.
O solo representa um contínuo na paisagem, sendo interrompido apenas
por, afloramentos de rochas, águas e geleiras. Porém, apesar de ser contínuo,
o solo é classificado de acordo com o predomínio de certas características.
Os processos de formação do solo começam a operar a partir da su-
perfície da rocha exposta. Quando as rochas se tornam expostas, sofrem

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 59
a ação do clima e dos organismos, originando processos que modificam a
rocha. Tais processos são chamados de intemperismo e podem ser tanto
físicos quanto químicos, predominando os físicos em climas secos e os quí-
micos em climas úmidos. O intemperismo físico provoca a desintegração da
rocha e altera o tamanho e o formato dos minerais primários (já presentes
na rocha), ao passo que o intemperismo químico provoca a decomposição
da rocha e altera sua composição química. Durante a alteração química
da rocha podem ser formados minerais secundários (que não existiam na
rocha), que são as argilas cristalinas.
Considera-se que a pedogênese (formação do solo) se inicia quando as
argilas cristalinas começam a ser formadas. Por isso, a primeira camada
de solo que se forma é a camada superficial. A camada mais superficial do
solo é chamada de horizonte A e é a mais influenciável pela variação da
cobertura vegetal, do clima e do tipo de manejo. Num solo pedologicamente
muito jovem, logo abaixo do horizonte A localiza-se a rocha que está sendo
intemperizada. Quando fazemos um corte vertical no solo podemos ver es-
sas camadas. Chamamos esse corte de perfil do solo (Figura 3.1A e 3.1B).

Solos eluviais: quando


formados pela alteração
da rocha que se encontra
abaixo, ou seja, o solo foi
formado no local onde se Figura 3.1 Perfil do solo. A) Imagem realística; B) Imagem esquematizada.
encontra. Ex. terra-roxa. Fonte: GOOGLE (2011).

Solos aluviais: são forma- O perfil de um solo, ou seja, sua secção vertical desde a superfície até
dos pela ação dos agentes a rocha de origem mostra certo número de camadas compostas por carac-
naturais de transporte
(rios, vento, etc.) Ex. solos terísticas diferentes. Essas características permitem separar os horizontes
de várzea. superficiais (eluviais, lixiviados) que por convenção são simbolizados com
a letra “A”. No horizonte A se pode ter subdivisões: A0 (nesta subdivisão,
Solos orgânicos: são for-
mados a partir de matéria
encontram-se grandes quantidades de folhas em decomposição, partes ve-
orgânica, por isso são fér- getais mortas, insetos e outros pequenos artrópodes, vermes, protozoários,
teis e tem alto valor agrí- nematódeos, fungos e bactérias), A1, A 2; aos horizontes superficiais, A, se-
cola. Ex. solos humíferos.
guem-se os horizontes eluviais, de acumulação, simbolizados pela letra “B”,
podendo, igualmente, abranger subdivisões (B1, B2). O horizonte B contém
muito menos material orgânico e, em geral sofre menos desintegração que
o horizonte A, mas pode acumular materiais formados no horizonte A e
transportados pelas águas das chuvas. Finalmente chega-se aos horizontes
mais profundos, em contato com a rocha mãe, alterada em diversos graus
nos diferentes níveis: horizonte C (C1, C2) - Figura 3.2.

60 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
Todos os solos possuem
pelo menos dois horizon-
tes, mas nem todos apre-
sentam, obrigatoriamen-
te, todos os horizontes.
Os solos compõem-se de
substâncias intactas ou
alteradas e de substân-
cias orgânicas, mais ou
menos estruturadas, ou
então coloidais.

Albert Mauritz Atterberg


Figura 3.2 Perfil de solo do Grupo Barreiras. Fonte: OHB (2009). (1846-1916) foi o criador
dos limites de consistên-
Ao ecólogo interessa conhecer a composição do solo, sua textura, sua cia do solo também co-
nhecidos como Limites
estrutura, e outras características, pois todos esses fatores pedológicos in- de Atterberg e que são
fluem sobre a vegetação. A composição química importa, pois dela depende a referência até os dias de
capacidade do solo para fornecer nutrientes à vegetação. A estrutura do solo hoje para a engenharia
geotécnica e a geologia.
é o modo de arranjo de seus componentes. Da estrutura dependem diversas Na Suécia ele é conhecido
qualidades importantes do solo como, por exemplo, seu arejamento. A textura por criar a escala granu-
indica a proporção de componentes de maiores dimensões e de menores. lométrica Atterberg, que
ainda permanece em uso.
Para o estuda da textura do solo, usa-se, desde 1926, uma escala (Es- O trabalho de Atterberg
cala de Attenberg) recomendada pela Associação Internacional da Ciência na classificação dos solos
ganhou reconhecimento
do Solo, qual seja:
formal da Sociedade In-
• Cascalho: quando as partículas têm um diâmetro superior a 2mm; ternacional de Ciências
dos Solos em Berlim, na
• Areia grossa: quando as partículas têm um diâmetro entre 0,2 e conferência de 1913.
2mm.
• Areia fina: quando as partículas têm um diâmetro entre 0,02 e
0,2mm;
• Limo: quando as partículas têm um diâmetro entre 0,002 e 0,02m;
• Coloides minerais: (argilas) quando as partículas têm um diâme-
tro inferior a 0,002mm.
Quanto maior a porcentagem de partículas menores, no solo, tanto
maior sua capacidade de reter água e nutrientes. Estes ficam misturados à
superfície das partículas que o compõem.
Em um mesmo volume de solo cabe tanto maior número de partículas
quanto menor for o tamanho destas. Assim, num solo em que há predomi-
nância da fração limo, há mais partículas por unidade de volume que num Atterberg, A. M. Fonte:
solo em que predominam as frações areia fina e areia grossa e menos que GOOGLE, 2011.
num solo em que predomina a fração de argilas. A superfície da interface
dos componentes da textura dos solos será tanto maior, quanto maior o nú-
mero de partículas de pequeno tamanho. E, como já foi dito, aumentará a
capacidade de retenção de água e de nutrientes, nesses solos, o que é muito
importante para a distribuição da vegetação.

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 61
As fases do solo

O solo apresenta três fases bem distintas: gasosa, líquida e sólida; sendo
esta última, constituída de material mineral e orgânico. Volumetricamente, essas
fases variam entre si (acontecendo o mesmo entre: as relações materiais minerais/
materiais orgânicos) de solo para solo e, mesmo num determinado solo, as relações
entre as fases gasosa e líquida sofrem constantes alterações. Na Figura 3.4 está
representada a composição volumétrica da fase de dois solos, mineral e orgânico.
A fase gasosa, também chamada ar do solo, varia até num mesmo local
devido à variação da fase líquida. A sua composição é diferente da do ar atmosférico,
sendo mais rica em água e mais pobre em oxigênio.

A) Solo mineral B) Solo orgânico


Figura 3.4 Composição volumétrica de dois tipos de solos: A) Mineral; B) Orgânico.

Entre as partículas que compõem o solo há espaços que podem ser


ocupados por ar ou por água. Quanto mais água penetrar, tanto mais ar
será expulso desses espaços. Os nutrientes solúveis encontram-se dissol-
vidos na água que ocupa tais espaços. Assim, mais próprio é dizer que os
espaços entre as partículas do solo são ocupados por uma solução diluída.
Quando o solo torna-se seco, maior quantidade de ar, da atmosfera sobre-
jacente, nele penetra.
Os elementos minerais do solo, quando combinados, em forma inso-
lúvel, não podem ser utilizados pelas plantas. Se dissolvidos ou absorvidos
às partículas coloidais do solo, em forma a se libertarem facilmente (forma
trocável), podem ser absorvidos pela vegetação.
As substâncias orgânicas se encontram em diversas formas no solo: 1)
como detritos vegetais em diversos estágios de decomposição; sua quantida-
de aumenta em certas condições (frio, altitude, meio ácido); 2) como húmus
(coloides) de diversos tipos, apresentando relação variável entre o C e o N
que entram em sua composição.
O pH do solo é um elemento de grande importância ecológica, seja por
sua ação direta sobre certas espécies, seja por agir indiretamente, modifi-
cando outros fatores edáficos.
É fácil compreender a importância dos solos nos processos ecológicos.
Neles se fixam os vegetais que, igualmente deles retiram alimentos; nos so-
los, habitam os microrganismos que desdobram as complexas substâncias
constitutivas dos detritos orgânicos neles depositados; tanto na superfície
quanto no interior do solo, habitam animais ou circula a água, a qual pos-
sibilita todos esses processos.

62 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
Num estudo sumário de um solo, podemos admiti-lo em seu estágio
mais jovem, ou seja, quando constituído apenas de partículas resultantes
da fragmentação da rocha-mãe, ou mesmo em certos casos, a própria rocha-
-mãe intacta. Posterior instalação de organismos (principalmente vegetais)
pouco exigentes, ou seja, capazes de viver com o mínimo de condições que
aquele solo jovem lhes pode dar resulta num processo de desenvolvimento
ou edafização, pela incorporação de matéria orgânica e pela ação dos mi-
crorganismos, resultando nos chamados solos maduros ou adultos.
Edafização refere-se a
A evolução desses solos depende, a princípio, da natureza da rocha- todo o processo de forma-
-mãe, podendo então, tomar rumos diversos conforme o clima em que se de- ção do solo, através das
ações físicas, químicas e/
senvolve o processo edafizante. Através da ação mecânica de mudanças de ou biológicas.
temperatura que resulta na dilatação e contração das rochas, aumento de
volume de água ao congelar e retorno ao volume original, quando de volta ao
estado líquido, bem como pela ação, também mecânica da chuva e dos ven-
tos, dão-se as primeiras fragmentações da superfície sólida da terra. Outras
ações juntam-se a essas no prosseguimento da fragmentação e edafização.
Ações químicas: solubilização, hidratação, oxidação, etc. Ações biológicas:
ações mecânicas de raízes, separando fragmentos da rocha, galerias forma-
da pela morte de raízes ou por animais de vida subterrânea, decomposição A matéria orgânica ou
dos detritos orgânicos, animais ou vegetais por fungos, bactérias etc. serrapilheira ocorre sobre
o horizonte A, representa-
O solo, assim formado, poderá permanecer no próprio local em que da pela queda de folhas,
se originou, ou sofrer transporte, ao se ir formando ou mesmo depois de galhos, flores, frutos, se-
mentes, cadáveres de ani-
formado, sob a ação simples da gravidade ou, a maiores distâncias, pelas mais etc., constituindo
águas ou pelos ventos. o horizonte O (orgânico),
produzindo um perfil O-A.
Os componentes minerais do solo podem permanecer no local de ori-
gem, ou ser deslocados. No mais simples dos casos, o deslocamento é ape-
nas vertical, quando, sob a ação da água de gravitação os minerais solubi-
lizados são levados a níveis mais profundos. Posteriormente, esses minerais
podem ser absorvidos pelo sistema radicial dos vegetais transportados à
superfície e depositados temporariamente no corpo da planta, sob a forma
de compostos mais ou menos complexos, resultantes de sua combinação
com os produtos da fotossíntese. Fragmentos dos vegetais (folha, ramos,
casca, etc.) vão, através do envelhecimento, sendo lançados ao solo. O des-
dobramento dessa matéria orgânica, pelos microrganismos do solo irá fazer As regiões pilíferas, das
voltar à forma anterior, aqueles minerais retirados pelo vegetal. Este círculo raízes dos vegetais, são
responsáveis pela grande
pode, ainda ser feito indiretamente, com o concurso de animais que, após absorção dos minerais na
se alimentarem de vegetais, devolvem ao solo o supérfluo para sua nutrição. composição do solo.
A continuação desse processo vai enriquecendo gradativamente os solos,
dando melhores condições para a vida vegetal, e assim sucessivamente.
Um solo adulto, assim formado terá dependido de dois fatores: a rocha
de que se originou e o clima em que se desenvolveram os processos eda-
fizantes. O solo pode apresentar partículas de grande calibre ou partícu-
las de calibre médio ou pequeno, essas características produzem diferentes
texturas, pois os espaços entre essas partículas variam e os volumes totais
desses espaços são diversos. Logo, ocorrem diferentes variações do grau de
infiltração de um solo para outro.
A cor do solo vai influir, principalmente, na absorção da luz e, conse-
Localização da região pi-
quentemente, na temperatura, o que irá interferir no processo de evapora- lífera. Fonte: GOOGLE,
ção e numa série de outros processos. Solos claros se aquecem relativamen- 2011.
te menos que os escuros.
Nem sempre é positivo o saldo dos processos bioquímicos do solo, po-
dendo, também, ser negativo, resultando num empobrecimento desses so-
los, com prejuízo para os seres vivos neles instalados.

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 63
Ação do clima na formação do solo
O clima é sem dúvidas um dos fatores que mais exercem influência
na formação dos solos, pois, condicionam os fluxos de energia e matéria
necessários para os processos de intemperismo e os mecanismos e proces-
sos pedogenéticos que ocorrem na formação dos solos. Assim, os solos de
regiões cujo clima confere temperaturas médias mais elevadas e farta dis-
ponibilidade de água pluvial, tendem a ter maior evolução pedogenética em
Jacobus Henricus van't comparação com os solos de regiões onde o clima apresenta deficiência de
Hoff (1852-1911) foi um umidade (semiaridez). Maiores volumes de água, infiltrando e percolando
químico neerlandês. Em
seus estudos, mediante a
através dos perfis dos solos das regiões mais úmidas, promovem a hidrata-
aplicação de conceitos ter- ção dos constituintes e favorece a remoção de cátions liberados dos mine-
modinâmicos ao conhe- rais por hidrólise acelerando os processos de transformação dos solos.
cimento dos equilíbrios
químicos, determinou a Assim, em climas úmidos e quentes (altas temperaturas) há uma ace-
relação entre a constante leração dos processos pedogenéticos, tendendo à formação de solos muito
de equilíbrio e a tempe- intemperizados, evoluídos e profundos, com reações ácidas e pobres quimi-
ratura absoluta (equação
isocórica de Van’t Hoff). camente. São solos cuja mineralogia reflete uma predominância de mine-
rais secundários como as argilas (caulinita) e óxidos de ferro e alumínio.

Lei de Van Hoff


“É uma lei muito antiga, dos primórdios do estudo da Cinética: “Um
aumento de 10ºC na temperatura de reação provocará na duplicação de sua
velocidade”. Esta Lei hoje serve apenas como referencial, não possuindo
precisão na maior parte das reações, mas a sua idéia está correta, ou seja,
um aumento de temperatura provoca um aumento de velocidade da reação
e um aumento significativo na velocidade em que as ações de intemperiza-
ção, promovem a formação dos solos.

Van't Hoff, J. H. Fonte: Ação da biosfera na formação do solo


GOOGLE, 2011.
Outro fator considerado ativo, os organismos vivos (vegetação, fauna,
microorganismos e mesofauna edáfica) também têm relevante papel na for-
mação dos solos, sobretudo pelos processos de adição de compostos orgâ-
nicos. Têm, também, efetiva ação de complexação de compostos químicos
favorecendo translocações seletivas internas no perfil do solo. A atividade
metabólica da biota do solo altera as condições químicas da solução edáfica
e composição do ar do solo, afetando as reações de oxiredução e carbonata-
ção, e, condicionando a solubilização dos compostos químicos inorgânicos
derivados dos minerais das rochas. Atuam ainda na mineralização da ma-
téria orgânica e tem essencial influência na reciclagem de nutrientes.
As principais funções da vida animal e vegetal em relação ao desen-
volvimento do solo são:
a) Fornecimento de matéria orgânica para o solo;
b) Transporte dos nutrientes das camadas inferiores para as superiores;
c) Ação mecânica destrutiva, através das rochas, das raízes;
d) Agregação granulométrica por exudação, desenvolvimento fila-
mentoso etc.
A cobertura vegetal tem um papel importante na formação dos solos
(Figura 3.5), a saber:
a) Fornecimento de matéria orgânica pelos detritos vegetais que caem
sobre o solo;

64 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
b) Transporte das substancias nutritivas dos horizontes profundos à
superfície do solo, compensando as perdas por lixiviação;
c) Ação mecânica e química exercida pelo sistema radicular, sobretu-
do pela vegetação arbórea, principalmente nos trópicos úmidos, e;
d) Controle dos efeitos da erosão.

Intemperismo: são os
processos de natureza fí-
sico, química ou biológica
de desagregação e decom-
posição mineralógica que
influenciam os processos
de formação dos solos a
partir dos quais tem
ocorrência a pedogênese.

Figura 3.5 Influência da cobertura vegetal na formação, proteção e conservação de um solo.


Fonte: OHB (2011).

Os microorganismos são responsáveis na formação do solo ao in-


fluenciar:
a) Transporte de material – atividade escavadora e criação de galerias
com efeito na homogeneização de perfis;
b) Ação na subdivisão dos materiais grosseiros (folhas, galhos e ou-
tros, facilitando o ataque microbiano);
c) Exportação de substâncias pelo deslocamento no perfil do solo e
adição local por morte de microorganismos;
d) Influencia na porosidade do solo;
e) Decomposição dos resíduos orgânicos.

Ação do relevo na formação do solo


O relevo, por sua vez, é considerado um fator de controle, pois, sua
ação se reflete sobre a dinâmica da água, tanto no sentido de infiltração e
percolação dentro do perfil de solo quanto no controle da erosão pelo def-
lúvio pluvial. Ou seja, o relevo controla a partição da água que escorre su-
perficialmente e a que penetra no perfil do solo, possibilitando, em maior ou
menor grau, os processos descritos e discutidos anteriormente. Além disso,
o relevo condiciona a orientação das encostas em relação ao posicionamento
do sol, determinando uma incidência diferencial da radiação solar.
Dentro de uma perspectiva regional, o relevo também exerce forte in-
fluência no clima, notadamente na temperatura e regime pluviométrico que,
como se sabe, são fatores importantes no processo de formação dos solos.

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 65
Ação do material de origem na formação do solo
A natureza constitutiva do material de origem, de composição mineral
ou orgânica, apresenta determinante influência nos resultados dos proces-
sos formação de solos, constituindo-se em um fator dos mais relevantes. Os
materiais de origem são provenientes do substrato rochoso ou sedimentos
cuja natureza mineralógica influencia os processos de meteorização e in-
temperismo, conferindo a diversidade material da qual derivam os diversos
tipos de solos. A natureza química e o grau de resistência das rochas e dos
minerais aos processos intempéricos, relacionados a um determinado clima,
em um dado período de tempo, determinam não somente o grau de transfor-
mação e evolução de um solo como também a sua riqueza química e disponi-
bilidade de nutrientes. Assim, o material de origem, condiciona a morfologia
dos solos, notadamente, deixando sua impressão na textura, na cor e na
natureza químico-mineralógica dos constituintes minerais de um solo.
Assim sendo, na formação do solo, são consideradas as seguintes ca-
racterísticas das rochas:
a) Composição mineralógica e química, que tem influência na riqueza
nutricional do solo, e;
b) Textura e resistência mecânica que se relacionam com a velocidade
do processo de formação do solo.
Com efeito, cabe salientar que todos os solos resultam do condiciona-
mento dos processos inerentes aos fatores ambientais em conjunto. Con-
tudo, a importância relativa de cada fator de formação de solo, pode variar
para cada tipo de solo. No Quadro 1, a seguir, apresenta-se uma síntese dos
fatores de formação de solos.
Quadro 1 Fatores de formação do solo.
Fatores Ambientais Tipo de Fator Atuação
Termoclastia denomina-se
a fragmentação ou desa- Clima
gregação das rochas pela Fatores ativos Fornecem matéria e energia.
Biosfera (Organismos)
variação de temperatura.
Controla o fluxo de matérias:
superfície; erosão; profundidade;
Relevo Fator controlador
infiltração; lixiviação e
translocação.
Diversidade do material
Material de Origem Fator passivo constituinte sobre o qual ocorrerá
a pedogênese.
Determina o tempo cronológico de
Tempo Fator passivo
atuação do processo.

Processos mecânicos do intemperismo


a) Influência da temperatura (causa desfolhação nas rochas)
A variação de temperatura atua sobre as rochas provocando dilatação
(aquecimento/dia) e contração (resfriamento/noite). A dinâmica de dilatação
e contração provoca a termoclastia. Esse fenômeno é mais acentuado em
climas secos (desertos – Figura 3.7) onde ocorre grande variação de tempe-
ratura diária e anual. Observa-se também que, os diferentes minerais - que
compõem uma mesma rocha - possuem diferentes coeficientes de dilatação,
o que provoca o deslocamento relativo entre os cristais, rompendo a coesão
inicial entre os grãos.

66 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
Figura 3.7 Deserto do Saara – região mais clara do mapa. O Saara se estende desde o Ocea-
no Atlântico ao Mar Vermelho para um comprimento de 5.200 km e uma largura de 1.500
km ou 9 milhões de km² de deserto. O Saara é permanentemente alterado pela erosão dos
ventos quentes, sendo desprovido de vegetação. Esse deserto apresenta as regiões mais
quentes do mundo, superior a 50°C. O recorde de temperatura foi registrado no Saara, com
58°C na Líbia Al Azizia. Sendo que, durante a noite, podem ser registradas temperaturas
abaixo de 0 ºC. Essa grande variação de temperatura é devida a baixa umidade dessa região.
Fonte: GOOGLE (2011).
b) Influência da água congelada
Em regiões frias, o congelamento da água acumulada nas fendas das
rochas aumenta seu volume em aproximadamente 9% exercendo forte pres-
são para o alargamento dessas fendas podendo causar aumento das fratu-
ras e fragmentar as rochas (crioclastia – Figuras 3.8 e 3.9).

Figura 3.8 Esquematização do processo de crioclastia. Fonte: GOOGLE (2011).

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 67
Feldspato é um grupo de
rochas que se caracteri-
zam por apresentar silica- Figura 3.9 Rocha com fissuras provenientes do processo de crioclastia.
tos de alumínio contendo Fonte: GOOGLE (2011).
diferentes proporções de
cálcio, potássio e sódio.
Eles ocorrem em rochas c) Influência dos ventos
pegmatíticas, associados
a diversos outros mine- A ação eólica provoca o desprendimento das partículas soltas das ro-
rais, o que torna bastante chas e, consequentemente, causa modificações superficiais no relevo (Fi-
difícil a quantificação de
suas reservas com alto
gura 3.10). Os ventos, carreados de partículas, vão polindo as rochas até
grau de precisão. transformá-las em pequenos grãos de areia.
Existem dois mecanismos diferentes: 1º) Deflação - ação direta do
vento sobre as rochas, retirando delas as partículas soltas e 2º) Corrosão -
ataque do vento carregado de partículas em suspensão, provoca o desgaste
das rochas e, também, dos próprios fragmentos.

Representante do grupo
feldspato. Fonte: GOO-
GLE, 2011.

Mica é um grupo de ro-


chas diversas, sendo es-
tas compostas por várias
lâminas paralelas, umas
sobre as outras.

Figura 3.10 Erosão provocada pela ação eólica.


Rocha muscovita. Fonte: Fonte: www.controleambiental.webnode.com.br
www.esrf.eu

d) Influência dos vegetais


A ação mecânica das raízes dos vegetais pode provocar a fratura ou a

68 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
fragmentação das rochas. Observe, na Figura 3.11, as raízes de árvores que
exercem pressão sobre o solo, causando rachaduras no mesmo.

Figura 3.11 Erosão do solo provocada pela ação das raízes. Fonte: GOOGLE (2011).

O desenvolvimento de musgos e liquens (Figura 3.12) sobre as rochas


também desempenham processos erosivos, porém em menor grau.

Figura 3.12 Erosão do solo provocada pela ação dos liquens. Fonte: GOOGLE (2011).

Processos químicos do intemperismo


O intemperismo químico compreende as fases de decomposição quí-
mica dos minerais primários e a síntese de minerais secundários.
a) Hidrólise é a reação de decomposição dos minerais sob efeito da
água, resultando no desdobramento de elementos minerais que
constituem o próprio solo. Tem grande importância no intemperis-
mo de variada faixa de minerais, inclusive feldspatos e micas;
b) Hidratação consiste na incorporação de água ao mineral. Abrange a
fixação rígida dos íons H+ e OH- ao composto que esta sendo atacado;
c) Carbonização é a reação de íons hidrogeniocarbonatos com íons
dos minerais, consistindo em uma modalidade de hidrólise.
d) Oxidação consiste na mudança do estado de oxidação de um ele-
mento, normalmente, através da reação com o oxigênio.

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 69
Água do solo
No estudo dos fatores ecológicos, é de máxima importância a partici-
pação da água, principalmente, na região atmosférica. No ciclo da água há
uma etapa que se realiza no solo, sendo esta, tão importante quanto àquela,
para o desenvolvimento dos processos ecológicos.
De um modo geral, pode-se dividir a água do solo em: água de super-
fície (oceanos, lagos, rios, outros) e água subterrânea (ocupando os espa-
ços entre as partículas do solo ou em depósitos de maior volume, abaixo
da superfície). A água de superfície fornece, por evaporação, grande parte
da umidade atmosférica, por escorrimento laminar ou pela força dos rios,
arrasta consigo os materiais fragmentados da superfície, sendo a maior res-
ponsável pela erosão dos solos; influência a distribuição das temperaturas;
é utilizada para dessedentar os animais.
A vegetação do manguezal
A água subterrânea tem sua maior importância na solubilização de
desenvolveu uma adapta-
ção foliar para excretar o minerais do solo, formando a “solução do solo”, que será absorvido pelos
excesso de sal que é ab- vegetais. A circulação mais ou menos fácil da água no solo e sua perma-
sorvido pelas raízes. A es- nência mais ou menos longa estão em função das características do solo,
trutura é denominada de
glândulas de sal. como também delas depende a concentração de elementos minerais na
“solução do solo”. Dessa concentração depende o maior ou menor fluxo
osmótico para o interior dos vegetais (endosmose) ou, em casos especiais,
para o exterior (exosmose).
Confira agora neste site:
www.cricketdesign.com. Parte da água, incorporada pelos vegetais, é lançada à atmosfera por
br/abril/ciclodaagua uma transpiração, permitindo, num restabelecimento do equilíbrio osmótico, a
animação sobre o ciclo da
água.
entrada de novos volumes da solução do solo e assim sucessivamente. Um
bom suprimento de água, com um ótimo de concentração de sais, são con-
dições indispensáveis para o bom desenvolvimento da cobertura vegetal.
Mas, o ideal de concentração e teor de cada um dos elementos contidos na
“solução do solo” é variável para cada espécie vegetal, fato este que interfere
decisivamente, nas relações solo/planta.
Glândulas de sal localiza-
das na folha da espécie La-
guncularia racemosa. Fon- Salinidade do solo
te: www.projetomanguezal.
ufsc.br
Salicornia e Suaeda são Os organismos também são afetados pela salinidade do meio. A con-
halófitas genuínas. As centração de sais no solo faz com que diminua a resistência osmótica de
espécies halófitas não
desenvolvem o seu cresci- perda de água para o meio, o que leva à incapacidade de manter a concen-
mento, sem a presença de tração necessária de água para as atividades metabólicas.
algum tipo de sal, princi-
palmente, o cloreto de só-
Várias plantas possuem adaptações para viver em ambientes com alta
dio (NaCl). salinidade, principalmente aquelas que vivem sob influência do Cloreto de
Sódio (NaCl) e são conhecidas como halófitas (Figura 3.13). Esta figura mos-
tra o crescimento relativo de três plantas que crescem em solos salinos,
cultivadas em solos com diferentes concentrações de NaCl. Estas plantas
compensam o excesso de sal do meio com mecanismos necessários aos pro-
cessos de osmoregulação. Alguns animais, como aves e iguanas marinhas,
apresentam glândulas de sal, por onde eliminam os excessos. Alguns orga-
nismos como a Artemia estão tão adaptados a viver em ambientes salinos
que conseguem sobreviver à concentração de sais próxima à cristalização
(cerca de 300g por litro).

70 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
Figura 3.13 Crescimento de três plantas em solo salino. Fonte: BONILLA; PORTO (2001).

O NaCl é de difícil metabolização, no entanto, há vegetais como “bredo-


-da-praia” (Sersuvium portulacastrum) e “pirrixiu” (Batis maritima), comuns
no Nordeste brasileiro, que têm essa capacidade e conseguem viver bem na-
queles ambientes, e só neles onde um vegetal normal não teria capacidade
de fazer penetrar no seu corpo a água de que necessita (Figura 3.14).
Sendo elevada a concentração do sal no solo, precisaria que este ve-
getal tivesse em suas células uma concentração ainda maior, para que,
através da osmose, houvesse penetração da água nos seus tecidos. Podem
ser observados, então, dois casos: com um maior volume de água no solo,
durante a época das chuvas, diminui a concentração da solução salina:
nesse momento é possível que haja penetração de certa quantidade de solu-
ção nutritiva para o vegetal.

Figura 3.14 Sersuvium portulacastrum. A) Disposição sobre o solo; B) Imagem macro.


Fonte: A) www.botany.hawaii.edu e B) www.hear.org

No entanto, no período de menor pluviosidade, o aumento pronuncia-


do da concentração da solução do solo vai impedir que o vegetal se beneficie
dessa solução. Então, para que o vegetal não morra precisaria ter armaze-
nado água na época das chuvas, que fica então, num estado de “seca fisio-
lógica”. Para aquele armazenamento o vegetal precisa ter uma estrutura es-
pecial tal como folhas e caules carnosos, semelhantes aos daqueles vegetais O bredo-de-porco ou bre-
do-salgado (S. portulacas-
que vivem em ambientes realmente secos. trum L.) é uma halófita
Nos dois exemplos anteriormente citados (Sersuvium e Batis) bem típica de solos salinos, no
Nordeste semiárido.
como em outros correspondentes, as espécies submetidas a condicionamen-
to idêntico apresentam bastante semelhança morfológica, embora, perten-
çam a grupos botânicos diversos.
Nessas condições, a cobertura vegetal vai assumir uma fisionomia
bem diferente daquelas de áreas com água sem excesso de NaCl. O número
de espécies que pode atender aquela condição é muito pequeno, ocorren-

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 71
do então, comunidades uniespecíficas. Esses vegetais podem, assim, servir
como indicadores de solos salinos.

pH do solo
Dentre os fatores do solo deve, ainda, ser referido o pH (concentração
de íons Hidrogênio). O pH da água e do solo pode ser um fator que exerce
uma poderosa influência na distribuição dos organismos. O protoplasma de
As bactérias desempe- plantas é afetado drasticamente por altas concentrações de íons OH- e H+,
nham uma importante
função na decomposição
que se tornam tóxicas em um pH abaixo de 3 (ácidos) e de um pH acima
de resíduos orgânicos e na de 9 (básico). Além disto, efeitos indiretos do pH afetam a concentração dos
formação do húmus, in- nutrientes disponíveis e/ou a formação e concentração de toxinas.
cluindo organismos fixa-
dores de azoto amoniacal Em pH’s abaixo de 4.0 a 4.5, por exemplo, os solos apresentam geral-
(NH3 ou NH4+) em azoto mente uma alta concentração de íons de Alumínio (Al+3), que pode ser muito
nítrico (NO2- ou NO3-) - tóxico para a maior parte das plantas. Alguns nutrientes essenciais para as
nitrificação. Das bactérias
fixadoras de azoto, um plantas, como Manganês (Mn+2) e Ferro (Fe+3) podem ser tóxicos em baixos
grupo (Rhizobium) vive níveis de pH. O aumento da acidez pode afetar os organismos de três manei-
em simbiose com legumi- ras: (i) diretamente, alterando a osmoregulação, a atividade enzimática e a
nosas, fixando azoto em
nódulos das raízes destas. trocas gasosas. (ii) indiretamente, pelo aumento da concentração de íons tó-
xicos (iii) indiretamente, reduzindo a qualidade e distribuição dos recursos.
Embora se tenha atribuído grande importância a esse fator, chegando-
-se a admitir que a simples leitura do pH seria suficiente para orientar sobre
as características ecológicas de uma determinada área, principalmente por
sua importância nos processos de respiração e de ação enzimática nos ve-
getais, no entanto, essa fase já está superada e se reconhece que respostas
ao pH só se fazem sentir intensamente quando aquele fator atinge valores
A escala do pH representa extremos: pH muito elevado e pH muito baixo.
uma variação numérica A maioria das espécies parece ter uma ampla tolerância para as va-
de 0 a 14, onde há um
gradiente de acidez má- riações de pH que normalmente ocorrem. Certas espécies mais tolerantes a
xima (0) e uma gradiente pH elevado são chamadas espécies basófilas; de certos ambientes ricos em
de alcalinidade máxima gipsita (gypsum, sulfato de cálcio).
(14). Sendo que o valor in-
termediário (7) é definido Organismos com alta tolerância ao cálcio são denominados calcífilos
como neutro. ou calcícolas. Solos com pH baixo, geralmente tem carência de nutrientes,
resultando em baixa produtividade.

Nutrientes inorgânicos
Os organismos necessitam de uma série de elementos químicos para
Representação da escala do seu metabolismo. No caso das plantas, por exemplo, pode-se dividir este
pH. Fonte: GOOGLE, 2011.
requerimento entre os macronutrientes, como Nitrogênio (N), Fósforo (P), Po-
tássio (K), Magnésio (Mg), Cálcio (Ca) e Enxofre (S) Além dos micronutrien-
tes ou elementos traço, como Ferro (Fe), Manganês (Mn), Zinco (Zn), Cobre
(Cu), Boro (B), Molibdênio (Mb) e Níquel (Ni). Na Figura 3.15
estão relacionados os principais nutrientes requeridos pelos organis-
mos, e suas mais importantes funções primárias e, outros minerais com
função importante em determinados organismos, segundo Ricklefs, 1996 e
Begon et al. 1996.

72 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
Figura 3.15 Nutrientes e suas funções biológicas.
Fonte: RICKLEFS (1996); BEGON et al. (1996).

Os macronutrientes são elementos essenciais para o desenvolvimento


das plantas e demandados em quantidades significativas. Diversamente, os
micronutrientes são requeridos em quantidades muito pequenas.
O oxigênio (O2) e o gás carbônico (CO2) são recursos importantes para
boa parte dos organismos. A fixação do CO2 atmosférico é o único processo
onde as plantas verdes conservam e capturam a energia da radiação solar
transformando-a em compostos químicos. Já o O2 é um recurso utilizado por
plantas e animais e, apenas alguns procariontes (organismos formados por
uma única célula desprovida de membrana nuclear) podem sobreviver sem
ele. Em ambientes terrestres ele normalmente não é um recurso limitante. Já
nos ambientes aquáticos, sua difusão e solubilidade é menor e sua disponi-
bilidade no meio pode ser um importante fator limitante para os organismos.
Quando ocorrem processos de decomposição de matéria orgânica em
ambientes aquáticos a respiração microbiana consome uma grande quanti-
dade de oxigênio, diminuindo O2 disponível no meio, inviabilizando a ocor-
rência de animais superiores que necessitem deste recurso (como peixes e
crustáceos). Outro problema para vários organismos é que abaixo da zona
eufótica não existem organismos que produzam oxigênio através da fotos-
síntese, e a respiração microbiana pode consumir oxigênio disponível rapi-
damente. Também fundos lodosos de lagos e pântanos são desprovidos de
oxigênio e nestes ocorre apenas processos anaeróbios.

Recobrindo a maior parte das terras emersas, os solos constituem


sistemas complexos formados pela interseção da litosfera, biosfera e a at-
mosfera terrestre. Como componente básico das paisagens, os solos apre-
sentam funções estruturais enquanto suporte físico dos ecossistemas, além
de constituir diversas funcionalidades ecológicas, como a produção bioló-

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 73
gica e a regulação do ciclo hidrológico de superfície. Neste capítulo foram
vistos quais são os fatores ambientais e os processos que concorrem para
a formação dos solos, seus atributos e propriedades físicas, químicas e mi-
neralógicas do solo, e, como estes se relacionam com a morfologia e o com-
portamento físico, hídrico e edáfico. Buscou-se responder como os solos se
formam para se entender como eles se tornam sistemas complexos, com
diversas características e propriedades das quais dependem as suas funcio-
nalidades. De forma simples, o assunto é abordado, a princípio, fazendo-se
uma breve conceituação e discussão sobre os processos conhecidos como:
pedogênese e intemperismo. Depois, são discutidos os fatores ambientais
que condicionam a pedogênese, introduzindo os conceitos de mecanismos
de formação de solos e finalizando pela descrição sucinta dos principais
processos de formação de solos e como eles determinam formas de cresci-
mento das plantas em seus ambientes. Também é apresentada a classifica-
ção dos principais tipos de solos que se encontram no território nacional.

1. Em seu entendimento, na Biologia como se deve conceituar o solo?


2. Como se forma o solo?
3. Quais são as fases constituintes do solo?
4. De que forma os organismos contribuem na formação do solo?
5. Como os nutrientes podem limitar o crescimento das plantas?
6. Descreva os processos mecânicos de intemperismo que contribuem com
a formação do solo.

Mineralização e humificação da matéria orgânica do solo


Sob sistemas ecológicos naturais, ocorre sobre o horizonte A deposição
de matéria orgânica, representada pela queda de folhas, galhos, flores, frutos,
sementes, cadáveres de animais etc., constituindo o horizonte O (orgânico),
produzindo um perfil O-A-(E)-B-C-R. No horizonte orgânico detritos orgânicos
são continuamente apostos. Tais detritos orgânicos são chamados de serrapi-
lheira. A serrapilheira representa um ambiente no qual vivem muitos grupos
animais, como, por exemplo, platelmintos, anelídeos, moluscos, artrópodes,
anfíbios, répteis, mamíferos, além de muitos outros grupos de animais mui-
to pequenos. Esses animais estabelecem complexas interrelações: uns são
detritívoros, outros são predadores, outros ainda são parasitas etc. Ocorrem
também muitos fungos e bactérias. Na serrapilheira os detritívoros agem de
duas maneiras: ao comerem os detritos, diminuem seu tamanho facilitando
sua decomposição; e ao fazer a digestão, e defecarem, mineraliza a matéria
orgânica. Suas fezes são consumidas por outros organismos, aumentando a

74 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
mineralização da matéria orgânica. A ação da biota que vive na serrapilheira
implica na formação de camadas horizontais reconhecíveis a olho nu. A cama-
da mais superficial é constituída por estruturas (folhas, ramos, flores, frutos,
sementes, cadáveres) inteiras. Essas estruturas inteiras são consumidas pelos
detritívoros, que as transformam em pequenos pedaços (as estruturas inteiras
são “picadas” em pedacinhos). Disso resulta uma segunda camada logo abai-
xo, constituída por pedaços menores de detritos. Pequenos pedaços têm uma
relação superfície/volume muito maior que pedaços grandes. A maior superfí-
cie facilita sua decomposição. Da decomposição resulta uma terceira camada,
que constitui uma massa informe de matéria orgânica.
A serrapilheira é constituída por uma gama enorme de substâncias or-
gânicas muito diferentes, cujas moléculas apresentam diferentes naturezas e
graus de complexidade, indo desde moléculas muito simples e de decompo-
sição fácil e rápida, como açúcares simples (glicose, por exemplo), até molé-
culas extremamente complexas e de decomposição difícil e muito lenta, como
a lignina. A aposição de detritos representa a entrada de materiais, ao passo
que a decomposição representa a saída de materiais da serrapilheira. Cada
substância orgânica é decomposta numa velocidade diferente, e durante a
decomposição, diferentes compostos orgânicos intermediários são produzi-
dos. Por exemplo, moléculas simples são totalmente decompostas, produzindo
água, gás carbônico e minerais (como Ca++, K+, Mg++), num processo cha-
mado mineralização. Porém, moléculas complexas são apenas parcialmente
decompostas, gerando diferentes radicais orgânicos. Esses radicais orgânicos
reagem especialmente com moléculas de lignina parcialmente decompostas,
produzindo novas substâncias orgânicas, que não existiam na serrapilheira
antes desse processo. Essas substâncias orgânicas neossintetizadas são ge-
nericamente chamadas de húmus, e o processo que leva à sua produção é
chamado de humificação.
Fonte: MARTINS, F. R. Depto. Biologia Vegetal/IB/UNICAMP

Leituras
Livros
• EMBRAPA. Sistema brasileiro de classificação de solos. 2 ed. Rio
de Janeiro: Centro Nacional de Pesquisa de Solos, 2006. 306 p.
• REICHARDT, K.; TIMM, L. C. Solo, planta e atmosfera - con-
ceitos, processos e aplicações. Editora: Manole, 2003. 500 p.

Filme
• Agroflorestação – outro jeito de fazer agricultura no semiárido.

Sites
• http://www.cnps.embrapa.br
• http://www.sbcs.org.br

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 75
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA PARA PESQUISA DA POTTASSA E DO FOSFA-
TO. Manual internacional de fertilidade do solo. 2 ed. Piracicaba: POTA-
FOS, 1998.
DEMATTÊ, J. L. I. Manejo de solos ácidos dos trópicos úmidos – região
amazônica. Campinas: Fundação Cargill, 1988.
EMBRAPA - EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Sis-
tema brasileiro de classificação de solos. Rio de Janeiro: Centro Nacional
de Pesquisa de Solos, 2006. 306 p.
KIEHL, E. J. Manual de edafologia. Relações solo-planta. São Paulo:
Editora Agronômica Ceres, 1979.
LUCENA, T. S. R. Curso de recuperação de áreas degradadas: a visão da
ciência do solo no contexto do diagnóstico, manejo, indicadores de monito-
ramento e estratégias de recuperação. EMBRAPA Solos. Série Documentos,
103. Rio de Janeiro. 2008. 228 p.
MONIZ, A. C. (Coord.) Elementos de pedologia. São Paulo: Polígono,
EDUSP, 1972.
OLIVEIRA, J. B. de; JACOMINE, P. K. T.; CAMARGO, M. N. Classes gerais
de solos do Brasil. Guia auxiliar para seu reconhecimento. 2 ed. Jaboti-
cabal: FUNEP. 1992.
PRADO, H. do. Manual de classificação de solos do Brasil. 3 ed. Jaboti-
cabal: FUNEP, 1996.
WILLIS, A. J. Introduction to plant ecology. London: George Allen &
Uwin. 1973.

76 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
Capítulo

4
Fatores ecológicos

Objetivos:
• Descrever as relações de convivência que se processam entre os organismos no
ambiente em que vivem.
• Mostrar as principais associações simbióticas que ocorrem entre os seres vivos;
• Identificar as estratégias de fuga e escape das presas.
• Discutir os principais mecanismos de defesa das plantas contra a herbivoria.
Fatores bióticos
Introdução
Em ecologia, existem estruturas funcionais (Figura 4.1) que estabele-
cem uma hierarquia natural dos sistemas ecológicos.

O organismo é a unidade básica da Ecologia, o sistema ecológico ele-


mentar. O agrupamento de indivíduos de mesma espécie, em um determi-
nado local, denomina-se população. A interação entre várias populações
determinam as comunidades. A junção entre diferentes comunidades in-
teragindo com o meio físico-químico, proporcionando o fluxo de energia e

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 79
o ciclo de nutrientes, formam os ecossistemas. O intercâmbio entre todos
os ecossistemas do planeta constituem a biosfera. A Figura 4.2 esquema-
tiza essas relações.

Figura 4.2 Esquematização dos agrupamentos naturais de espécies até


a constituição da biosfera.

Todos os organismos interagem de diversas maneiras originando


um conjunto de associações e inter-relações que podem ser de vários ti-
pos, definidos entre indivíduos da mesma espécie ou entre organismos de
espécies diferentes.

Definição
Fatores bióticos representam todos os efeitos causados pelos organis-
Os organismos agem mos presentes em um determinado ecossistema e suas relações.
como profundos modifica-
dores do ambiente e, por-
A presença ou ausência de determinados tipos de organismos pode
tanto, são determinantes constituir um fator determinante para a ocorrência ou não de outro tipo de
para as paisagens. organismos no ambiente. Por exemplo, para uma população de predadores,
a presença ou não de uma população de presas, determina a ocorrência ou
não da mesma (população de predadores), em um determinado ambiente;
sendo, portanto, um fator preponderante na sua distribuição. Outros orga-
nismos alteram as condições do meio, de forma a permitir que determina-
dos organismos colonizem o ambiente. Essas interações entre os organis-
mos originam um conjunto de associações e inter-relações que podem ser
definidas, de uma maneira geral, como simbiose.

80 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
O Quadro 4.1 mostra as principais interações entre os seres vivos:
Quadro 4.1 Principais tipos de interações entre os organismos. Fonte: DAJOZ, 2005.
Considerando as interações entre duas espécies: Espécie A e Espécie B;
Legenda:
0 : as espécies não são afetadas
+ : a vida da espécie tornou-se possível ou melhorou
- : a vida da espécie é reduzida ou impossível
Interação Espécie A Espécie B Simbiose (palavra ori-
Neutralismo 0 0 ginada do grego: syn -
juntos, e bios - vida) é o
Competição - - termo que define uma
Amensalismo (B amensal inibe A) - 0 associação entre duas ou
mais espécies distintas,
Parasitismo (A parasita B) + -
permitindo-lhes viver com
Predação (A e o predador e B, a presa) + - vantagens recíprocas.
Comensalismo (A é comensal e B, o hospedeiro) + 0 Esse termo foi criado, em
1879, pelo alemão Heinri-
Cooperação (Interação não obrigatória) + + ch Anton de Bary (1831
Mutualismo (Interação obrigatória) + + - 1888) - foi pioneiro no
estudo dos cogumelos e
das algas.
Tipos de simbiose
A palavra simbiose significa literalmente “viver junto”. É empregada
usualmente também para descrever a biologia de pares de organismos que
vivem juntos e não se maltratam.

Competição
Competição é uma interação entre indivíduos que compartilham uma
quantidade de recursos limitada, que leva a diminuição ou redução da so-
Bary, H. A. Fonte: www.
brevivência, crescimento e/ou reprodução destes indivíduos. A competição nndb.com
ocorre em duas circunstâncias: 1ª) quando indivíduos da mesma espécie
ou de espécies diferentes buscam e exploram o mesmo recurso, que está
presente em quantidade limitada; 2ª) quando os indivíduos se prejudicam,
mesmo quando não há recursos limitados. Pode-se dizer que o efeito final
da competição seria a diminuição da constituição individual do organismo
para próxima geração. O uso ou defesa de um recurso por um indivíduo re-
duz a utilização deste mesmo recurso por outro. Portanto, tem-se um efeito
que depende da densidade dos indivíduos, pois quanto mais indivíduos en-
volvidos maior será a utilização, per capita dos recursos, e mais deletérios
Os recursos procurados
serão os efeitos sobre a totalidade dos indivíduos. entre os indivíduos podem
O efeito da competição entre espécies é negativo sobre as populações ser: alimento, abrigo, local
de nidificação, água entre
de ambas. A espécie que será mais prejudicada será a que tiver a menor outros.
capacidade de utilizar os recursos em comum. Se as espécies não tive-
rem habilidades iguais para explorar determinados recursos uma vai ser
necessariamente mais eficiente que a outra, gerando o que chamamos de
competição assimétrica.
Pode-se dividir a competição em dois tipos básicos. Por exploração (por
recurso): quando uma espécie consegue obter o recurso de modo mais efi-
ciente, fazendo com que outras não consigam chegar a explorar os mesmos
recursos. Por exemplo, formigas que fazem recrutamento em massa (isto é,
muitas operárias forrageando de forma organizada com trilhas químicas e/
ou físicas) exploram um inseto morto de tal modo que outras espécies de
formigas, que utilizam forrageamento solitário, podem não ter nem tempo
de encontrar o recurso. Competição por interferência ou explotativa: ocorre

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 81
quando os organismos envolvidos na interação causam algum tipo de ma-
lefício ou prejuízo, mesmo que o recurso disputado não esteja necessaria-
mente em falta, sendo que os indivíduos protegem o seu recurso por meio
físicos e/ou químicos.
A competição intraespecífica condiciona a regulação do tamanho
populacional dentro da espécie, num efeito dependendo de densidade. A
competição interespecífica altera a capacidade suporte das populações em
competição; ou seja, a quantidade de indivíduos de cada espécie, em um
ambiente limitado, poderá proporcionar a exclusão de alguns indivíduos,
modificando a estrutura das comunidades.
• Subdivisões da competição
Schoener e Rickfels (1996) subdividiram a competição em outras cate-
gorias mais específicas, a saber:
a) Competição de consumo: quando ocorre uma acentuada competi-
ção em recursos que são renováveis;
b) Competição de ocupação: quando o recurso em questão é a utili-
zação de espaços livres;
c) Competição de crescimento: quando o processo competitivo ocor-
re sobre recursos (luz, água e nutrientes) que fazem com que orga-
nismos cresçam em taxas maiores do que outro;
d) Competição química: através da produção de substâncias quími-
cas que vão agir à distância no ambiente, impedindo ou dificultan-
do a ocupação da área por outros indivíduos (alelopatia);
e) Competição territorial: defesas do espaço;
f) Competição de encontro: interação transitória em torno de um
recurso que pode resultar em perda de tempo e/ou energia, roubo
de comida ou dano físico.
A competição e a predação são as interações que mais têm atraído a
atenção dos ecólogos, talvez pelo fato de serem frequentemente observáveis
na natureza. Por isto, é comum, em muitos livros encontrar algumas defi-
nições tais como:
I) Competição intraespecífica: ocorre entre os membros de uma
mesma espécie ou mais precisamente entre os membros de uma
dada população vivendo em uma área geográfica definida.
II) Competição interespecífica (difícil de estabelecer): ocorre en-
tre organismos pertencentes a espécies diferentes, disputando um
mesmo recurso e meio. O recurso disputado é, na maioria das ve-
zes, alimento, água, luz, espaço físico para reprodução, descanso,
entre outras coisas.
• A Competição entre vegetais
Nas florestas tropicais, tais como a mata atlântica, e a mata amazô-
nica, é conhecido o fenômeno para o qual Schimper, em 1898, chamou a
atenção do mundo científico: a luta pela luz.
A luta mencionada é fácil de perceber, pois as plantas travam-na de-
senvolvendo mecanismos que fazem as copas de umas se colocarem sobre
as de outras, tornando-se esguias, pouco ramificadas e assim economizan-
do material que é então utilizado na construção do tronco, ou eixo princi-
pal, que eleva rapidamente as folhas sobre as demais plantas; ou, como nas
trepadeiras, não formando um tronco espesso e forte, mas caules flexuosos,

82 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
que usam como suporte os troncos e ramos de outras plantas, nas quais se
fixam pelos mais diversos mecanismos, como gavinhas, raízes adventícias
curtas, ramos numerosos e curtos, voltando para trás, que se enroscam fa-
cilmente etc.; ou, ainda, dispensando totalmente os troncos porque suas se-
mentes são colocadas no cimo de uma árvore alta, e aí germinam (epífitas,
como Bromeliáceas, Orquidáceas, Aráceas entre tantas outras) formando
raízes aéreas que descem em procura do solo, e, do lado oposto, ramos com Competição intra-espe-
folhas que captam luz (Figuras 4.3 e 4.4). cífica acontece entre indi-
víduos da mesma espécie.
Interespecífica ocorre
entre indivíduos de espé-
cies diferentes.

A competição e a preda-
ção são as interações que
mais têm atraído a aten-
ção dos ecólogos, talvez
pelo fato de serem fre-
qüentemente observáveis
na natureza.

Andreas Franz Wilhelm


Schimper (1856 – 1901)
Figura 4.3 Competição entre espécies de plantas em bosque tropical. foi um botânico francês de
Fonte: Larcher (1973). origem alemã. Contribuiu
nos campos da histologia
vegetal e ecologia.

Schimper, A. F. W. Fonte:
GOOGLE, 2011.

O solo encharcado é caren-


Figura 4.4 Competição subterrânea entre raízes de plantas em um ambiente semiárido. te de oxigênio, pois a água,
Fonte: Larcher (1973). ao penetrar em seus poros,
ocupa o espaço do ar.
Nas matas citadas, porém, trava-se outra luta menos aparente, me-
nos fácil de perceber: a luta pelos nutrientes, pela água e por oxigênio, às
vezes tudo ocorrendo simultaneamente, outras em separado. Essa luta é
menos aparente por motivos óbvios; é travada pelas raízes no interior do
solo. Vejam alguns exemplos: na Amazônia, pode-se encontrar alguns tipos
de formações vegetais muito densas, ricas em espécies, tendo as árvores
um porte médio relativamente elevado. O solo, muitas vezes, é paupérrimo
e coberto de água permanentemente (igapós), ou por um longo período, são
as várzeas baixas. As plantas, que vegetam nesse solo pobre e encharcado, Alelopatia é a produção e
formam uma trama de raízes que disputam espaço umas com as outras, adifusão no ambiente de
substâncias químicas ca-
estendendo-se muito, superficialmente. Isso proporciona a ampliação do pazes de matar ou impe-
sistema de captação de nutrientes e do sistema de fixação. Muitas raízes dir o desenvolvimento de
crescem para fora do solo, coladas aos troncos, numa altura de alguns me- outros organismos.
tros, como enormes tábuas (raízes tabulares ou sapopembas – Figura 4.5);

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 83
tais raízes, em contato com o ar atmosférico, retiram dele, diretamente, o
oxigênio necessário a sua respiração.
Em outras matas do Brasil pode-se ter um período de seca relativa,
de vários dias sem chuvas. As plantas que são não adaptadas a isto po-
dem perder a competição para outras capazes de suportarem tal período de
seca. Naturalmente, como no caso da luta pela luz e da luta por nutrientes:
água e oxigênio; vencem as espécies melhores adaptadas para essa luta ou
Sapopembas: o nome é competição. A competição pode verificar-se, não pela procura, por duas ou
originário da árvore Sapo- mais espécies, do mesmo fator, mas pela tentativa (consciente no caso do
pema, espécie comum na Homo sapiens sapiens, inconscientemente no caso das demais espécies de
Amazônia que desenvol-
ve raízes de até 2 metros
animais, de vegetais e de microrganismos) de eliminação de uma pela ou-
de altura ao redor de seu tra. A secreção de substâncias que uma espécie agressora produz e tolera;
tronco. Mesmo que raízes a outra espécie atingida não suporta. Por exemplo, os microorganismos que
tabulares.
produzem álcool etílico, em seus processos fermentativos, eliminam vários
outros tipos de microorganismos.

Depoimento: “Muitas ár-


vores das matas de terra
firme e de transição pos-
suem raízes tabulares
que, devido ao solo pobre,
as lançam pela superfí-
cie, como tentáculos de
um polvo, na camada de
folhas mortas, galhos e
outros detritos orgânicos,
em busca de nutrientes. A
captura destes nutrientes
acontece em associação
simbiótica com fungos e in-
setos. Há no solo uma ca-
mada espessa de raízes, Figura 4.5 Raízes tabulares de uma árvore amazônica. Fonte: www.amazonia.org.br
como uma rede que captu-
ra todo e qualquer nutrien- Conhecem-se muitos casos de plantas que eliminam, no solo, por suas
te que cai, antes que este
seja lixiviado. As raízes
folhas caídas ou por suas raízes, substâncias inibidoras do crescimento
tabulares também têm a de outras espécies; elas mesmas não são inibidas por essas substâncias,
função de oferecer melhor ao menos nas concentrações em que elas habitualmente se encontram. Às
sustentação para a árvore vezes há competição por espaço somente. Se isso se nota melhor entre os
durante tempestades”.
Fonte: www.amazonia. animais, em muitas espécies dos quais o macho delimita e defende o seu
org.br território, sem o que não se acasalará, isso não quer dizer que tal fenômeno
não ocorra, também entre as plantas.
Nos desertos, muitas vezes, os arbustos ficam muito distantes uns dos
outros, distribuídos quase uniformemente, como se tivessem sido planta-
dos. Provavelmente o suprimento de água, muito limitado, permite a sobre-
vivência de um indivíduo apenas, em determinada área. Como é de supor
que mais de uma semente dessa espécie tenha sido depositada na área
considerada, deve ter havido uma competição entre os indivíduos oriundos
dessas sementes, tendo sobrevivido apenas um.
Extração do látex de uma O que foi apontado no parágrafo anterior é uma competição intra-
seringueira (Hevea brasi- específica. Em outros casos, como nas matas antes citadas, geralmente se
liensis). trata de competição interespecífica. É claro que não se exclui na mata o pri-
Fonte: www.kew.org
meiro tipo de competição. Ao contrário, quem conhece as florestas pluviais

84 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
sabe que elas são muito densas e ricas em espécies. Em geral, os indivíduos
de uma espécie se distribuem no território, a certa distância (às vezes consi-
derável) uns dos outros. Na Amazônia, por exemplo, os coletores de látex de
seringueira (Hevea brasiliensis) têm que fazer grandes percursos colocan-
do as canequinhas em que o látex é recolhido, e, depois, novamente, para
recolher o látex exsudado das feridas feitas nos vários indivíduos, muito
distantes uns dos outros.
• Julgando a ocorrência de competição
Alguns critérios podem ajudar a estabelecer se duas espécies estão em
competição. Tal como a existência de padrão biogeográfico do tipo “tabulei-
ro-de-xadrez” (checkerboard pattern) no qual a presença de uma espécie
em dado local praticamente garante a ausência da outra, devido, sobretudo
ao seguinte, pois outras hipóteses não podem explicar satisfatoriamente os
padrões biogeográficos observados:
I) Existência de sobreposição no uso de recurso potencialmente limitante;
II) Existência de competição intraespecífica;
III) O uso do recurso por uma espécie dificulta seu uso pela outra;
IV) Uma ou mais espécies é (são) negativamente afetada(s).
A competição pode ainda ser subdividida de acordo com a forma como
se manifesta nos organismos em competição. Assim, poderá ser: por recur-
sos e por interferência ou explotativa, conforme mencionado anteriormente.

Predação
O predatismo é a relação em que uma espécie animal predador se
alimenta de indivíduos de outra espécie animal, as presas. Contudo, du-
rante o seu ciclo biológico, o predador consome sempre mais de um espé-
cime da presa.
Pode-se definir predação de maneira clássica como a captura, a morte
e o consumo da presa. Todavia, de modo geral, a predação seria o consumo
da presa e sua utilização como fonte de energia (Quadro 4.2). Nesta de-
finição herbivoria e parasitismo seriam tipos especializados de predação.
Alguns autores ainda definem predação de forma ainda genérica, como um
processo onde ocorre fluxo de energia entre uma espécie e outra.
Quadro 4.2 Relações de predatismo entre espécies.
Predador Presa
Gavião Morcego frut
Urubu Tartaruga jovem
Jararaca verde Tartaruga jovem
Louva-a-deus Gafanhoto
Jacaré-açu Tartaruga
Piranha Tartaruga jovem
Gambá Jararaca verde
Coruja Rato
Guarua-guaru Larva de culicídio
Anu Mosquito culicídio
Beija-flor Mosquito culicídio
Morcego insentívoro Borboleta noturnas

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 85
A predação envolve vários aspectos adaptativos do predador para cap-
tura das presas e várias adaptações da presa para fugir do predador. Este
jogo biológico de caça e caçador dos organismos é denominado de “corri-
da armamentista” (ou army race). Um exemplo típico disto é a gazela de
Thompson e o guepardo (cheetah) em que ambos, predador e presa estão
literalmente apostando uma corrida entre a explosão de arranque e velo-
Assista o documentário: cidade do predador e da agilidade velocidade e capacidade de perceber a
Vida Selvagem: O Prínci- aproximação do felino (Figura 4.6).
pe da Savana. Site: www.
youtube.com/laboeco

Krill é o nome coletivo


dado a um conjunto de
espécies de animais inver-
tebrados semelhantes ao
camarão. Estes pequenos
crustáceos são importan-
tes organismos do zoo-
plâncton, especialmente Figura 4.6 A luta pela sobrevivência entre a gazela de Thompson e o guepardo.
porque servem de alimento Fonte: GOOGLE (2011).
a baleias, jamantas, tuba-
rões-baleia, entre outros. Geralmente pensa-se em predadores e presas nesta relação de tama-
O termo krill é de origem
norueguesa, sendo deri-
nho (antílope-felino, foca-orca, coelho-raposa), mas existem grandes pre-
vado do neerlandês kriel, dadores que se alimentam de presas muito pequenas, como, por exemplo,
que designa peixes acaba- baleias que caçam krill. O mais importante nesta relação são as adaptações
dos de nascer ou em fase
juvenil.
morfológicas e comportamentais que os predadores desenvolvem para se es-
pecializarem em determinados tipos de presa e as adaptações que as presas
desenvolvem para escapar da predação.
A predação pode ser também genericamente definida como sendo
o ato de um animal consumir outro organismo para dele alimentar-se.
Esse ato envolve sempre a morte da presa, a qual pode ser imediata ou
Espécie de animal que faz acontecer durante um processo de exaustão (consumo das reservas da
parte do grupo denomina- presa pelo predador. Isto se tendo em vista o caso específico, mormente
do Krill. dos insetos parasitóides).
Fonte: www.pt.
wikipedia.org

Tipos de predação
Existem cinco tipos diferentes de predação, quais sejam:
a) Carnívoros de primeira ordem: são os predadores típicos, consu-
midores de herbívoros;
b) Carnívoros de topo de cadeia (ou de segunda ordem): predadores
de carnívoros;
c) Herbívoros: podem consumir uma planta inteira ou partes dela,
tais como sementes, frutos, flores ou raízes;
d) Insetos parasitoides: predadores que depositam seus ovos sobre
ou próximos ao hospedeiro que será subsequentemente consumido
(exaurido) pelas larvas (formas jovens) do parasitoide. [Nota: aqui,
tratando-se dos insetos, há alguns pesquisadores tal como J. H.
R. Santos, que fazem restrição à classificação preferindo adotar a

86 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
classificação de parasitos, os dividindo em endoparasitos (postura
efetivada dentro do corpo do hospedeiro) e exoparasitos (postura
consumada fora do corpo do hospedeiro). Neste caso específico o
hóspede usa apenas um espécime do hospedeiro para completar o
seu ciclo biológico];
e) Canibais: são predadores que consomem indivíduos da própria
espécie.
A predação é um dos fatores ecológicos mais importantes, pois afeta Presa palatável significa
um animal de gosto agra-
não somente as populações, mas também toda a comunidade. dável ao paladar de um
predador. Já um animal
impalatável significa um
Estratégia de fuga das presas organismo que não tenha
um sabor agradável para
um predador.
Proporcionalmente ao número de estratégias de caça dos predadores
existem estratégias de fuga da presa. No caso da baleia e do krill fica difícil
imaginar que este último possa ter alguma estratégia de defesa. Mas as
presas menores podem se esconder, lutar, fugir, ter gosto ruim, ou produzir
substâncias químicas que afastem os predadores (Figura 4.7). Por exemplo,
em locais abertos, onde não se pode fugir, ou se esconder; manter-se atento
e ser capaz de detectar o predador torna-se imprescindível.

A região pelágica abrange


o alto mar e as águas que
cobrem a plataforma con-
tinental.

Figura 4.7 Coleóptero bombardeiro. Exemplo de presas que têm adaptações para escapar
dos predadores, através da emissão de substâncias químicas. Fonte: RICKLEFT (2001).

Uma adaptação muito interessante das presas e a de possuir colora-


ção de advertência, como que avisando ao predador que possui toxinas de-
fensivas. Este processo é denominado aposematismo e segue padrões bas-
tante constantes na natureza. Geralmente, envolvem a presença de listras
avermelhadas, amareladas e/ou pretas. Um pássaro (predador inexperien-
te) que prova uma borboleta com um padrão aposemático (com sabor desa-
gradável), não comerá novamente, algo com um padrão semelhante. Diz-se
que esse padrão passou a ser evitado pela imagem de procura do predador.
Este tipo de associação, padrões de cores com sabores ruins é frequente em
predadores que se orientam visualmente na procura da presa (aves, lagar-
tos, mamíferos etc.).
Como na natureza cada estratégia bem sucedida (leva a uma maior
reprodução diferencial de quem a possui) pode acabar favorecendo táticas
alternativas oportunistas, alguns grupos de animais que não possuem as
defesas químicas e, consequentemente, não tem o gosto ruim, imitam os
padrões de cores dos animais tóxicos. Com esse padrão de aposematismo
presente passa a não ser comidos, mesmo pelos predadores experientes.
Chama-se este processo de mimetismo batesiano, em homenagem ao

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 87
seu descobridor, o grande naturalista Henry Walter Bates. Esse processo
adaptativo oferece vantagem se as densidades da presa palatável forem
mais baixas que as densidades dos animais impalatáveis. Porém, se as
densidades forem semelhantes, ou a presa palatável for mais abundante,
os predadores não chegam a associar cor/forma com impalatabilidade e
ambas as populações (modelo e mímico) serão prejudicadas. Outro tipo de
mimetismo, o mimetismo mulleriano (em homenagem a Johann Friedrich
Henry Walter Bates Theodor Müller) diferentes grupos próximos de animais impalatáveis re-
(1825 - 1892) foi entomó- petem os mesmos padrões de coloração. Neste caso as espécies miméticas
logo e naturalista inglês. reforçam o modelo de advertência.
Realizou uma viagem à
Amazônia, junto com Al- A estratégia oposta ao “olha que eu estou aqui, mas sou ruim de virar
fred Russel Wallace, com almoço”, é o da camuflagem e coloração crítica. Na coloração crítica, a presa
o objetivo de recolher ma-
terial zoológico e botânico ou o predador se confunde com as características da paisagem, por exem-
para o Museu de Histó- plo, a coloração e disposição da vegetação. Boa parte dos peixes pelágicos
ria Natural de Londres, é escura, na parte dorsal do corpo, para serem confundidos com o fundo
permanecendo no Brasil
durante onze anos. Cata-
por predadores que olham por cima; e claro na parte ventral, para diminuir
logou cerca de 14.712 es- o contraste com a superfície do corpo d’água, dificultando o seu encontro
pécies, as quais foram en- junto aos predadores de fundo.
viados para a Inglaterra.
A camuflagem é muito comum em insetos. Um exemplo típico é o bi-
cho-pau (Figura 4.8A e B), que dificulta o encontro pelos predadores tornan-
do-se quase invisível em relação aos galhos da planta em que se encontra.
Algumas mariposas apresentam um complexo padrão de defesa quando em
situação normal com o meio; a partir de um determinado estímulo, abrem
suas asas, apresentando padrões de falsos olhos, o que assustaria o pre-
dador, afastando-o. As estratégias de defesa das presas podem ter muitas
outras táticas, utilização de refúgios, agregação em cardumes, bandos e
ninhais entre outras.

Bates, H. W. Fonte: www.


pt.wikipedia.org

Johann Friedrich Theo-


dor Müller (1822 - 1897)
foi professor de Ciências
Naturais e de Matemáti-
ca, sendo o pioneiro em
apoiar a teoria da evo-
lução apresentada por
Charles Darwin.
Figura 4.12 (A) O bicho-pau pode ser confundido com galhos secos. (B) A borboleta se con-
funde com o substrato de rochas de granitos. Fonte: OHB, 2008.

Defesa das plantas contra herbívoros


As plantas, por serem imóveis, estabelecem estratégias de defesa que
se baseiam em evitar a predação dos herbívoros (Figura 4.13). Entre as de-
fesas físicas ou estruturais, que impedem ou dificultam a ação dos herbívo-
ros, tem-se: espinhos; pêlos; dureza e textura da folha; proteção externa da
semente, por invólucro resistente; sendo que a maior defesa das plantas está
no seu arsenal químico. Estes compostos tóxicos, denominados de subs-
tâncias secundárias, inibem ou impedem o consumo dos herbívoros sobre
a planta. Os compostos secundários mais importantes são os taninos, os
Müller, J. F. T. Fonte:
GOOGLE, 2011.
alcaloides (entre estes a morfina, atropina e nicotina), e os terpenoides (resi-
nas vegetais, óleos essenciais e látex), sendo estes, compostos de grande im-
portância para o ser humano, que os utiliza para diversos fins industriais

88 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
e farmacêuticos. Outra defesa muito utilizada é o baixo conteúdo nutritivo
dos tecidos vegetais, pois os herbívoros selecionam seus recursos pelo seu
conteúdo nutricional (Figura 4.14). Tecidos com alto conteúdo de celulose
só podem ser explorados por organismos adaptados para digerir e retirar
energia deste polímero.

Figura 4.13: Resposta das plantas a herbivoria.

Figura 4.14: A herbivoria pode ser benéfica para os vegetais.

Os herbívoros, em reação à adaptação das plantas, desenvolveram me-


canismos de digestão e excreção de substâncias secundárias, tornando-se
especialistas em plantas que são venenosas, para a maioria das espécies. O
resultado do efeito desses “especialistas” sobre concentração de populações
de plantas, utilizadas como recurso, é bastante conhecido pelo homem. As
monoculturas são grandes áreas onde estão concentrados recursos que um

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 89
herbívoro especialista pode transformar rapidamente em novas gerações de
especialistas. Boa parte das pragas agrícolas é resultado dessa binômia es-
pecialização-concentração de recursos. Em uma área natural, os recursos
geralmente estão em um grande espaço e muitas vezes dispersos de forma
variável no tempo, sendo necessário um grande gasto energético para en-
contrá-los. Além disto, as quantidades de recursos, nestes ambientes hete-
rogêneos, não comportam o desenvolvimento e crescimento de uma grande
prole. Através das condições ideais, criadas nas monoculturas, o inesperado
seria o não surgimento do que denominamos pragas.

Amensalismo
O amensalismo, também chamado antibiose, ocorre quando os mem-
bros de uma espécie eliminam substâncias que prejudicam o crescimento
ou a reprodução de outras espécies com as quais convivem. Geralmente, há
vantagens indiretas para o organismo que provoca inibição de outro. Diver-
sas espécies de fungos presentes no solo, por exemplo, liberam substâncias
antibióticas, que atacam bactérias. Dessa forma evitam a competição com
as bactérias por alimento. Certas plantas, como o eucalipto, por exemplo,
Diversas espécies de fun- liberam, em suas raízes, substâncias que impedem a germinação de semen-
gos presentes no solo tes ao redor, evitando-se que outras plantas venham a competir com elas
liberam substâncias an- pela água e outros recursos do solo.
tibióticas que atacam
bactérias. Dessa forma O amensalismo é conhecido também como a interação, onde uma das
evitam a competição com espécies causa efeitos negativos em um segundo organismo. Este primeiro
as bactérias por alimento.
organismo não tem qualquer efeito (bom ou ruim) sobre o primeiro. Dife-
rente de outras relações, no amensalismo, o organismo que causa o efeito
negativo, em muitos casos, não tem qualquer vantagem neste fato, nem em
termos de benefícios de obtenção e recursos, nem em termos competitivos.
Um rebanho bovino, por exemplo, ao caminhar sobre uma pastagem piso-
teia inúmeras plantas, nas quais não possui nenhum interesse alimentar.
Contudo, ao serem pisoteadas estas plantas perdem, em termos de capaci-
dade de sobrevivência e reprodução, em relação às não pisoteadas.

Parasitismo
Alguns autores consideram o parasitismo como algo diferente da pre-
dação, porém algumas características particulares devem ser ressaltadas.
No parasitismo, o parasito (predador) é, geralmente, menor do que o hospe-
deiro e apresenta uma relação de especialidade variável, podendo ser endo-
Endoparasito é o termo parasito ou ectoparasito (Figura 4.15). Contudo, sempre consome um único
dado ao parasito que vive espécime do hospedeiro para completar o seu ciclo biológico.
no interior do corpo do
seu hospedeiro (ex.: soli-
tária, lombriga). Já o ter-
mo ectoparasito é dado ao
parasito que vive externo
ao corpo do hospedeiro Figura 4.15 A erva-de-passarinho (Tripo-
(ex.: pulga, percevejo das danthus acutifolius Ruis & Pav), possui ra-
camas). ízes sugadoras ou haustórios que penetram
no tronco do hospedeiro, retirando deles
a seiva elaborada, debilitando a árvore,
podendo lhe causar a morte. Fonte: www.
plantasonya.com.br/plantas-parasitas/.

90 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
O parasito deve conter adaptações específicas que fazem com que tenha
esta grande especialidade para com seu hospedeiro. As principais dificulda-
des encontradas por um parasita, para completar seu complexo ciclo de vida,
estão na localização e infecção de novos hospedeiros. Uma interessante situ-
ação criada por esta associação é a que o parasita retira parte da capacidade
de sobrevivência em gerações do hospedeiro, mas sua própria sobrevivência
em gerações depende deste para não se extinto. A especificidade desta inte-
ração é interessante para o homem quando o hospedeiro é uma praga. Esta Controle biológico con-
siste no emprego de um
espécie, que se desenvolve rapidamente numa monocultura, pode ter sua
organismo (predador, pa-
população controlada quando se descobre que há um parasita específico da rasita ou patógeno) que
praga. Um pequeno aumento do grau de infestação, pelo parasita, reduz con- ataca outro que esteja
sideravelmente a infestação pela praga (por exemplo, o controle biológico). causando danos econômi-
cos às lavouras. Essa téc-
O modo de vida parasitário é muito mais comum na natureza do que se nica é muito utilizada em
imagina, sendo que algumas famílias de insetos são inteiramente parasitas sistemas agroecológicos.
(por exemplo, os himenópteros da família Braconidae). Nos Quadros 4.3 e Os himenópteros, inse-
4.4 são apresentados exemplos de algumas interações entre seres vivos. tos altamente evoluídos,
destacam-se pela especia-
Quadro 4.3 Relações de parasitismo entre espécies. lização para a vida social.
Constituem uma ordem
Parasito Hospedeiro com mais de 120.000 es-
Vermes Jacaré-açu pécies já reconhecidas,
ocorrem em todas as fau-
Protistas Gambá nas e compreendem as
Sanguessuga Tartaruga abelhas, vespas, formigas
e outros insetos, muitos
Fungo Ovos de tartaruga chamados microimenóp-
teros. Os himenópteros
Carrapato Gaviões de penacho
se caracterizam pela me-
Piolho Gaviões de penacho tamorfose completa que
sofrem, pelo aparelho bu-
Pulga Rato cal dotado de mandíbulas,
abdome com o primeiro
Quadro 4.4 Resumo das relações entre seres vivos. segmento incorporado ao
tórax e quatro asas mem-
Relações Harmônicas Colônia Sociedade branosas de nervulação
intra-específica Desarmônicas Competição ultra-específica reduzida, embora em al-
guns casos sejam ápteros,
Protocooperação ou seja, desprovidos de
Inquilinismo asas. Em certas espécies
Harmônicas
Comensalismo a nervulação das asas
Mutualismo reduz-se tanto que desa-
Relações parece, o que pode coin-
interespecíficas Competição cidir com modificações na
Amensalismo estrutura do tórax.
Desarmônicas Herbivorismo Fonte: www.
Predatismo biomania.com.br
Parasitismo

Resumo descritivo das relações entre seres vivos


I) Intraespecíficas harmônicas:
a) Colônia: indivíduos unidos, atuando em conjunto; às vezes repar-
tem funções. Ex.: corais;
Vespa (Trissolcus basalis).
b) Sociedade: indivíduos independentes, organizados cooperativa- Fonte: http://www.wes-
mente. Ex.: abelhas. ternsare.org/

II) Intraespecífica desarmônica:


Competição intraespecífica: indivíduos concorrem pelos mesmos re-
cursos do meio. Esse tipo de relação existe em praticamente todas
as espécies.

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 91
III) Interespecíficas harmônicas:
a) Protocooperação: indivíduos associados se beneficiam e a associa-
ção não é obrigatória. Ex.: caranguejo-eremita e anêmona-do-mar;
b) Inquilinismo: indivíduo usa outro, como moradia, sem prejudicá-lo.
Ex.: plantas epífitas sobre árvores;
O conhecimento de todas c) Comensalismo: indivíduo usa restos da alimentação de outro, sem
as interações pode auxi-
liar na hora da tomada de
prejudicá-lo. Ex.: hienas, que aproveitam restos das presas dos leões;
decisões quanto à escolha d) Mutualismo: indivíduos associados se beneficiam e a associação
de áreas a serem protegi-
das através de Unidades é fundamental à sobrevivência de ambos. Ex.: algas e fungos que
de Conservação ou na formam liquens.
elaboração dos planos de
manejo dessas unidades,
protegendo principalmen-
te espécies endêmicas ou
IV) Interespecíficas desarmônicas:
aquelas ameaçadas ou em
a) Competição interespecífica: indivíduos com nichos ecológicos
risco de extinção.
similares competem por recursos do meio. Ex.: animais que se ali-
mentam do mesmo tipo de planta;
b) Amensalismo: relacionamento na qual os indivíduos liberam subs-
tâncias que inibem o crescimento de outro. Ex.: fungos que liberam
antibióticos contra bactérias;
c) Herbivorismo: animais (herbívoros) devoram outros animais. Ex.:
gado, que se alimenta de capim;
A interação mantida en-
tre a anêmona-do-mar d) Predatismo: animais (carnívoros) matam de devoram outros ani-
(cnidário) e o caranguejo-
-eremita (crustáceo) não mais. Ex.: gavião, que devora outros pássaros e roedores;
é obrigatória, ou seja,
eles podem viver inde-
e) Parasitismo: indivíduo vive à custa de outro, causando prejuízos,
pendentemente, porém a geralmente sem levar à morte. Ex.: lombrigas que parasitam o in-
associação traz benefícios testino humano.
maiores aos dois. Esse
caranguejo vive no inte-
rior de conchas vazias de
gastrópodes, permitindo
a existência de anêmo-
Protocooperação
nas sobre a estrutura das
conchas. Neste caso a
Surge quando algumas espécies formam associação que não é indis-
anêmona-do-mar propor- pensável, pois cada uma pode viver isoladamente. São os casos de simbio-
ciona, ao caranguejo-ere- ses, por exemplo, entre o caranguejo-eremita e as anêmonas-do-mar (Fi-
mita, proteção contra pre- gura 4.17); as plantas e seus polinizadores ou seus agentes dispersores; a
dação, devido à presença
de substâncias urticantes acácia e suas formigas; os pássaros que comem piolhos em ruminantes; e,
contidas em seus tentá- as formigas e alguns ectoparasitos em vegetais, tal como as cochonilhas.
culos. Já o caranguejo-
-eremita, ao se deslocar
no substrato marinho,
possibilita à anêmona-
-do-mar maior chance de
obtenção de alimento e
propagação, mesmo que
através da reprodução, o
desenvolvimento indireto
da forma larval de vida
livre, proporciona maior
dispersão.

Figura 4.17 Relação cooperativa entre o caranguejo-eremita e as anêmonas-do-mar.


Fonte: GOOGLE (2011).

92 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
Mutualismo
Tipo de associação entre organismos de espécies diferentes e na qual
há benefícios para uns e outros, (ex.: algas e fungos que formam liquens;
os cupins e sua fauna intestinal de protozoários - Figura 4.18); a rêmora e
o tubarão; e as micorrizas. As associações podem variar de duas ou várias
espécies. A interação obrigatória ou facultativa entre duas espécies com be-
O papel das cores e a
nefícios mútuos, proporciona uma maior aptidão dos indivíduos de ambas percepção pelos insetos:
as espécies (vespas e pássaros alfaiates; besouros em ninhos de insetos • Borboletas são atra-
sociais, peixes limpadores, aves limpadores etc.). ídas por flores de cor
Um tipo de mutualismo muito importante é a polinização. Entre o vibrante;
polinizador e a planta são utilizados inúmeros sinais químicos atrativos e • Mariposas preferem as
estímulos visuais. Para o polinizador ocorre a recompensa em termos de flores de cor vermelha,
obtenção de energia, através do pólen. Para as plantas esse é um método púrpura, branca ou
eficiente de manter e aumentar a variabilidade genética das populações e rosa claro;
realizar a fecundação dos óvulos.
• Vespas preferem cores
monótonas, escuras e
pardacentas;
• Moscas são atraídas
por flores de cor escu-
ra, marrom, púrpura
ou verde;
• Alguns besouros são
visualmente inertes à
cor e dependem de ou-
tro tipo de sinais para
serem levados às flores.

Figura 4.18 Representação do protozoário que habita o intestino do cupim (associação


mutualística). Os cupins abrigam, em seu intestino, protozoários flagelados ou bactérias
(em algumas espécies) que lhes permitem digerir a celulose e, em troca, fornecem abrigo
aos microorganismos, sem o qual estes não podem sobreviver. Fonte: GOOGLE (2011).

Síndromes Florais • Preferem o que para


nós é amarela ou azul
Reunião de características que se desenvolveram em conjunto, provo-
cadas por um mesmo mecanismo e que caracterizam as flores e os insetos • Percebem a região UV
que as polinizam. É um importante processo de comunicação que garante do espectro
a sobrevivência de ambas espécies. No Quadro 4.5 apresentamos algumas • Insensíveis ao vermelho
dessas síndromes que mostram a profunda harmonia desta relação. • Sensíveis a Flavonas.
Quadro 4.5 Algumas síndromes florais e respectivos polinizadores.

Síndrome Polinizador
Cantarofilia Besouros
Melitofilia Abelhas
Miofilia Moscas
Saprofilia Moscas
Fanelofilia Mariposas
Psicofilia Borboletas
Quiropterofilia Morcegos
Ornitofilia Aves

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 93
Muitas plantas precisam de animais para realizar a dispersão de suas
sementes. Muitos dos frutos utilizados pelo homem como alimento são re-
sultados dessa associação. Ao comer a polpa do fruto o animal pode carre-
gar as sementes realizando a dispersão. O tipo de fruto, seu tamanho, sua
estrutura, cor e aroma vão atrair dispersores específicos. A dispersão das
sementes elimina a competição que as plantas jovens, enfrentariam, por es-
tar próximas da planta mãe, além de ter a possibilidade de atingirem locais
adequados para sua germinação e crescimento. Nos trópicos, os processos
Rêmora é o nome vul-
de polinização e dispersão apresentam uma infinidade de associações entre
gar dos peixes da família plantas, mamíferos, aves e insetos. Um requisito importante para se enten-
Echeneidae, os quais pos- der a ecologia da floresta tropical passa pelo entendimento de como estas
suem a barbatana dorsal
transformada numa ven-
interações mutualísticas ocorrem.
tosa, com a qual se fixam
a outros animais como tu-
barões ou tartarugas, po-
dendo assim viajar gran-
Comensalismo
des distâncias.
Relação entre dois tipos de organismos, na qual um deles, o comensal,
Inquilinismo é definido recebe benefício, sem que o outro seja prejudicado, sendo que todas essas
como uma associação in- relações contribuem para manter a harmonia da comunidade.
terespecifica harmônica,
na qual apenas uma es- Um exemplo dessa interação é a o tubarão e a rêmora (Figura 4.19)
pécie é beneficiada, sem Esta se alimenta dos restos de comida deixados pelo tubarão, sendo que
existir prejuízo para a nessa associação o tubarão não ganha e nem perde benefícios, com a pre-
outra espécie associada.
O inquilino obtém abrigo sença da rêmora. Outro exemplo, um homem de cerca de 70kg possui apro-
(proteção) ou ainda su- ximadamente 2,5kg de simbiose no seu corpo. Para nossa sorte, a grande
porte no corpo da espécie maioria, desta quantidade ilimitada de microrganismos, não nos causa mal
hospedeira. Também pode
ser definido como um
e boa parte destes são comensais.
caso específico do comen-
salismo.

Figura 4.19 Várias rêmoras fixam-se neste tubarão para obtenção de alimento e desloca-
mento. Fonte: www.horta.uac.pt

O inquilinismo pode ser considerado uma das mais frequentes formas


de comensalismo. A convivência de uma espécie, como por exemplo, um
besouro em ninhos de formigas ou cupins é bastante comum na natureza.
Vários casos de inquilinismo acabam gerando relações mais complexas.

94 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
Neste capitulo são tratados as relações que são estabelecidas pelos or-
ganismos com outras espécies dentro de um habitat. Nessas relações recí-
procas, as formas de vida animal, vegetal ou ao nível de microorganismos
terminam exercendo reações e coações onde esses organismos se beneficiam
ou prejudicam mutuamente, mas deixa em evidência a necessidade dessas
relações se realizarem para manter as populações em equilíbrio. Considera-
se também a herbivoria como uma relação que contrário ao que se pensa, ela
termina beneficiando os vegetais, quando são atacados pelo predador.

1. Que são fatores bióticos e como afetam os organismos?


2. Quais são os tipos de competição mais freqüentes?
3. Que tipos de competição podem ocorrer numa mata fechada?
4. Mencione e descreva os tipos de predação conhecidos e cite um exemplo
para cada tipo.
5. Por que a herbivoria pode ser benéfica para os vegetais?
6. Cite três exemplos de mutualismo.

O controle biológico de pragas


O controle biológico consiste no emprego de um organismo (predador,
parasita ou patógeno) que ataca outro que esteja causando danos econômicos
às lavouras. Trata-se de uma estratégia muito utilizada em sistemas agroeco-
lógicos, assim como na agricultura convencional que se vale do Manejo Inte-
grado de Pragas (MIP).
No que diz respeito às iniciativas políticas de redução no uso de agrotó-
xicos, atualmente, o exemplo cubano é o mais contundente. Desde 1982, Cuba
tem-se voltado para o MIP, com ênfase no controle biológico. Em decorrência
do embargo econômico imposto pelos Estados Unidos que impossibilita a com-
pra de agrotóxicos e fertilizantes sintéticos, os agricultores cubanos aprende-
ram a substituir o uso de agrotóxicos por um programa maciço de controle
biológico. O Programa cubano envolve cerca de 14 laboratórios regionais, 60
estações territoriais de defesa vegetal espalhadas pelo país, 27 postos de
fronteira equipados com laboratórios de diagnósticos e 218 Unidades do Cen-
tro para Reprodução de Entomófagos e Entomopatógenos, responsáveis pelo
controle biológico de 56% da área agrícola do país.

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 95
Um dos aspectos importantes da estratégia cubana é a desencentraliza-
ção da produção dos agentes de controle biológico, graças a técnicas simples
e de baixo custo que foram desenvolvidas nas duas últimas décadas, possibi-
litando, simultaneamente, uma produção artesanal e de alto padrão de quali-
dade. Essa produção é feita pelos próprios filhos de agricultores associados às
cooperativas que trabalham na elaboração de modernos produtos biotecnoló-
gicos em escala local.
No Brasil, embora o uso do controle biológico não seja uma prática ge-
neralizada entre os agricultores, há avanços significativos em alguns cultivos,
devido aos esforços de órgãos estaduais de pesquisa e da Embrapa – Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Um exemplo de sucesso é o controle da
lagarta da soja (Anticarsia gemmatallis) por meio do Baculovirus anticarsia.
Essa prática foi lançada pelo Centro Nacional de Pesquisa da Soja em 1983
e, desde então, o produto foi utilizado em mais de dez milhões de hectares,
proporcionando ao país uma economia estimada em cem milhões de dólares
em agrotóxicos, sem considerar os benefícios ambientais resultantes da não
aplicação de mais de onze milhões de litros desses produtos.
Para alcançar esses resultados, todo programa de controle biológico
deve começar com o reconhecimento dos inimigos naturais da “praga-chave
da cultura” (principal organismo que causa danos econômicos às lavouras).
Uma vez identificada a espécie e o comportamento da “praga” em questão,
o principal desafio dos centros de pesquisa diz respeito à reprodução desse
inimigo natural em grandes quantidades e com custos reduzidos. Outra es-
tratégia, consiste no desenvolvimento dentro da propriedade de práticas cul-
turais (consórcio e rotação de culturas, uso de plantas como “quebra-vento”,
cultivos em faixas entre outros) que aumentem a diversidade de espécies e
a estabilidade ecológica do sistema, dificultando a reprodução do organismo
com potencial para se tornar uma “praga”.
Atualmente, nos programas de Manejo Integrado de Pragas (MIP), existe
uma tendência de caracterizá-lo não apenas como uma prática que propõe um
manejo racional de agrotóxicos, mas também como um conjunto de práticas
que inclua, além do próprio controle biológico, a rotação de culturas e o uso de
variedades resistentes. Embora o controle biológico traga respostas positivas
na redução ou abandono do uso de agrotóxicos e na melhoria de renda dos
agricultores, analisando o conjunto de experiências realizadas mundialmen-
te, verifica-se que os resultados ainda estão concentrados em apenas alguns
cultivos e, principalmente, no controle de insetos. Em outras palavras, ainda
existe muito que desenvolver nas áreas de controle de pragas e doenças.
Vale ressaltar que, segundo os princípios da Agroecologia a superação
do problema do ataque de pragas e doenças só será alcançada por meio de
uma abordagem mais integrada dos sistemas de produção. Isso significa in-
tervir sobre as causas do surgimento de pragas e doenças e aplicar o princípio
da prevenção, buscando a relação do problema com a estrutura e fertilidade
do solo, e com o desequilíbrio nutricional e metabólico das plantas. O controle
biológico, assim como qualquer estratégia dentro de um sistema agroecológi-
co de produção jamais poderá ser um “fim em si mesmo”, deve ser apenas o
veículo para que o conhecimento e a experiência acumulados se manifestem
na busca de soluções específicas para cada propriedade. Em outras palavras,
nas propriedades agroecológicas em vez dos microorganismos é o ser humano
que deve atuar como o principal agente de controle biológico.
Fonte: Jornal “A Folha de São Paulo”, caderno “Agrofolha”, 1998.

96 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
Leituras
Livros
• REIS, N. R. dos; PERACCCHI, A. L.; PEDRO, W. A.; LIMA, I. P. de.
Mamíferos do Brasil. Londrina: Universidade de Londrina, 2006.
• __________. Morcegos do Brasil. Londrina: Universidade de Lon-
drina, 2007.

Filmes
• Os predadores do Mar (BBC Worldwide Ltda).
• Os pequenos e grandes carnívoros (BBC Worldwide Ltda).
• Os predadores solitários (BBC Worldwide Ltda).
• Criaturas da Amazônia (BBC Worldwide Ltda).

BEGON, M.; HARPER, J. L.; TOWSEND, C. R. Ecology. 4 ed. Oxford: Black-


well Science, 2004.
CHAPMAN, J. L.; REISS, M. J. Ecology: principes and applications. Cam-
bridge: Cambridge University Press. 1992.
DAJOZ, R. Princípios de ecologia. Porto Alegre: Artmed, 2005.
LÉVÊQUE, C. A biodiversidade. Editora Edusc. 1999. 245p
ODUM, E. P. Ecologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1988.
PINTO-COELHO, R. M. Fundamentos da ecologia. Porto Alegre: Artmed,
2000. 252p.
PRIMACK, R. B.; RODRIGUES, E. Biologia da conservação. Londrina:
Gráfica e Editora Midiograf. 2001.
PURVES, W. K; SADAVA, D.; ORIANS, G. H.; HELLER H. C. Vida – a ciência
da Biologia. 5 ed. Porto Alegre: Artmed, 2002. 1126 p.
RICKLEFS, R. E. A economia da natureza. 5 ed. Rio de Janeiro: Guana-
bara Koogan. 2003.
TOWNSEND, C. R.; BEGON, M. E.; HARPER, J. L. Fundamentos de ecolo-
gia. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. 592 p.

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 97
Capítulo

5
Dinâmica das populações e
dos ecossistemas

Objetivos:
• Estudar as populações e as causas de suas variações.
• Determinar as características ou atributos das populações.
• Apresentar os fatores que regulam o tamanho das populações.
• Mostrar o efeito do crescimento da população humana e as consequências para o
meio ambiente.
• Compreender a dinâmica dos ecossistemas e como se realiza o ciclo da matéria e
o fluxo de energia.
Dinâmica das populações
A distribuição de uma população é a sua abrangência geográfica. È
uma unidade de estudo importante na Ecologia porque ela pode mudar e
adaptar-se de forma continua, conforme as mudanças do ambiente, com-
portando-se assim de forma dinâmica no ecossistema em que se encontra.

População é o conjunto
Distribuição espacial dos indivíduos de todos os indivíduos de
uma mesma espécie, que
A presença ou ausência de habitats adequados frequentemente habita uma área determi-
determina a extensão da distribuição de uma população, embora outros fa- nada
tores, como competidores, organismos patogênicos e barreiras à dispersão,
também tenham influência.
Os indivíduos de uma população podem ser distribuídos no espaço
conforme três modalidades principais: uniforme, ao acaso ou em forma
agregada ou agrupada (Figura 5.1).

O peixe esgana-gata vive


em águas doces dos lagos
e troços baixos dos rios,
sempre que as águas se-
jam tranquilas e ricas em
vegetação. Pode ocorrer
em águas salobras e no
litoral marinho. Ele pode
surgir em zonas de cor-
rente fraca. A pluviosida-
de parece estar associa-
Figura 5.1 Tipos de distribuição dos indivíduos de uma população.
da positivamente com a
Fonte: Adaptação de DAJOZ, 2005.
abundância desta espécie.

A distribuição uniforme é rara, sendo um indicador de uma intensa


competição entre os indivíduos que tendem a manter-se a igual distância
um dos outros. O peixe esgana-gata, por exemplo, apresenta uma distri-
buição uniforme. Esgana-gata (Gasteros-
teus aculeatus). Fonte:
A distribuição ao acaso existe em meios muito homogêneos, em que www.aguaonline.net
as espécies não têm nenhuma tendência a agrupar-se e, para as quais, a
posição de cada indivíduo no espaço independe da de outros indivíduos.
Os ovos dos insetos são, em geral, distribuídos ao acaso, assim como o
Tribolium castaneum.
A distribuição em agregados é a mais comum, devendo-se a variações
de características do meio ou ao comportamento de seres vivos que tendem
a agrupar-se. As aves freqüentemente viajam em grandes grupos para gerar
segurança através da quantidade.

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 101


Atributos biológicos das populações
a) Densidade: é o tamanho da população em relação a alguma uni-
dade de espaço. É expressa como o número de indivíduos de uma
mesma espécie (ou biomassa) por unidade de área ou de volume.

Os insetos, do gênero Tri-


bolium spp., muitas ve-
zes, são responsáveis di-
retos pela perda total em
São exemplos de densidade: 200 árvores/ha; 5 milhões de diatomá-
armazéns em todo o mun- ceas/cm3; 200 kg de peixe/ha de superfície aquática. Existem dois tipos
do. O besouro-castanho de densidade:
ataca todos os tipos de
cereais moídos, como fa- • Densidade bruta: é o número (ou biomassa) por unidade de es-
relo, rações farinhas, fubá paço total.
e grãos quebrados, defei-
tuosos ou já atacados por • Densidade específica ou ecológica: é o número (ou biomassa)
outras pragas, além de • Por unidade de espaço ou habitat. isto é a área/volume disponível
raízes de gengibre, frutos
secos, chocolate, nozes,
que pode ser colonizada (o) pela população.
grãos de leguminosas. Muitas vezes, é mais significativo saber se a população está mudando
Fonte: www. (quantitativo) do que conhecer o seu tamanho, em um dado momento. Na prá-
biocontrole.com.br
tica, é difícil calcular a densidade, pode-se então falar de índices, tais como:
Abundância relativa ou Freqüência da ocorrência. Por isso ocorre a utilização
dos seguintes termos: freqüente, raro, abundante, comum, escasso etc.
Os índices de abundância relativa são largamente usados para deter-
minar populações de animais e plantas terrestres, sem gastos excessivos
de tempo e dinheiro. Através desses índices é possível planejar o tempo de
caça e pesca de animais. Ocorrem, por exemplo, no estado do Ceará, certos
Besouro castanho (Tribo- períodos de proibição da pesca da lagosta, sendo estes períodos definidos
lium castaneum). através da Secretaria da Pesca do Governo do Estado do Ceará.
Fonte: www.dpd.cdc.gov
Os métodos utilizados para calcular densidades populacionais num
ecossistema classificam-se nas seguintes categorias:
a1) Censos totais ou contagem total: válido para organismos gran-
des ou bem visíveis localizadas em áreas pequenas. Exemplo: uma
população de bisões, elefantes ou indivíduos que se agregam em
colônias.
a2) Amostragem: a amostragem pode ser determinada pelo método
dos transectos, talhões ou quadrados. O tamanho dos quadrados é
função do tipo de comunidade ou porte dos indivíduos e da comple-
xidade de sua distribuição na área. Os quadrados podem ser tran-
sitórios, ou seja, mantidos somente durante os trabalhos de con-
tagem e medidas ou permanentes quando se deseja acompanhar
de tempo em tempo a seqüência dos fatos, ou seja, a dominância
daquela comunidade.

Amostragem de insetos em florestas


O método do transecto consiste na marcação de uma linha imaginária
principal de comprimento predeterminado e na contagem da população de
insetos em uma largura predefinida ao longo do transecto. Pode ser utilizado
para amostrar formigas cortadeiras, cupins, besouros e lagartas desfolhado-
ras em áreas de plantio, contando-se as mudas atacadas ao longo do tran-
secto, que geralmente corresponde à linha de plantio.
Fonte: Ronald Zanetti - DEN/UFLA

102 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA


a3) Métodos de marcação e recaptura: método próprio para animais
móveis, na qual são capturados exemplares de uma população,
marcados e liberados; sendo, posteriormente, tomadas amostras
para determinação das populações.
a4) Amostragem por retirada: o número de organismos retirados de
uma área, em amostras sucessivas, e o número anteriormente re-
movido são plotados nas abscissas. O número de indivíduos
numa população pode va-
a5) Método sem área: é o método que se aplica a organismos sésseis, riar com o suprimento de
tais como árvores. O método do ponto e quadrantes é um exemplo: alimento, a taxa de pre-
a partir de uma série de pontos aleatórios, mede-se a distância até o dação, a disponibilidade
de lugares para ninho e
indivíduo mais próximo em cada um de quatro quadrantes. A den- outros fatores ecológicos
sidade por unidade de área é estudada a partir da distância média. naquele habitat.

b) Natalidade: é a capacidade de uma população aumentar em núme- Exemplificando:


ro de indivíduos. A taxa de natalidade é equivalente à taxa de nas- Abundância relativa -
quantidade de aves obser-
cimento na terminologia do estudo da população humana (demo- vadas por hora;
grafia). O termo engloba também a produção de novos indivíduos, Freqüência da ocorrên-
seja por nascimento, eclosão, germinação ou divisão. Neste sentido cia - porcentagem das
tem-se que diferenciar dois termos que parecem estar muito liga- áreas de amostra ocupada
por uma espécie.
dos. Assim tem-se a natalidade máxima que é a produção máxi-
ma teórica de novos indivíduos sob condições ideais (sem fatores Os ecologistas florestais
ecológicos limitantes) e a natalidade ecológica a qual se refere ao usam a área basal (AB)
como medida de densida-
aumento populacional sob condição real específica do ambiente. de de árvores (AB = área
total da seção transver-
A natalidade geralmente é expressa como uma taxa determinada pela sal dos troncos das árvo-
divisão entre o número de novos indivíduos produzidos e o tempo, ou como res em uma determinada
o número de novos indivíduos produzidos por unidade de tempo, por unida- área).
de de população (Taxa de natalidade específica). Os bisões são grandes
mamíferos ungulados e
ruminantes do género Bi-
son, da família Bovidae,
com duas espécies ainda
Existem algumas espécies de animais (aves) que geralmente não existentes, o bisão-euro-
cuidam ou protegem seus ovos, nem filhotes quando estes nascem e ge- peu, Bison bonasus, e o
ralmente estas espécies de animais apresentam uma taxa de natalidade bisão-americano, Bison
bison.
potencial elevada.
c) Mortalidade: refere-se à morte dos indivíduos da população. É a
antítese da natalidade. Os cálculos sobre natalidade e mortalidade
devem levar em conta o tamanho de cada população. Costuma-se
expressar a taxa de mortalidade como o número de mortes no ano
dividido pelo tamanho da população na metade do período.
Bisão-americano, Bison
bison.
Fonte: www.pt.
wikipedia.org
d) Distribuição etária: a distribuição etária influencia tanto a nata-
lidade como a mortalidade. As proporções entre os vários grupos
etários de uma população determinam o estado reprodutivo atual
da população e indicam o que poderá ser esperado no futuro. Geral-
mente, uma população em crescimento rápido conterá uma grande
proporção de indivíduos jovens, uma distribuição mais uniforme
das classes de idade, e uma população em declínio que apresentará
maior número de indivíduos velhos e em declínio.
e) Potencial biótico (Pb) ou potencial reprodutivo: é a propriedade
inerente a um indivíduo ou organismo de se reproduzir, de sobrevi-
ver, ou seja, de aumentar quantitativamente, não levando em con-

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 103


sideração a resistência do meio em que ele vive. É a soma algébrica
da quantidade de prole produzida em cada ato de reprodução, da
quantidade de atos de reprodução, em dado período de tempo. Em
poucas palavras, seria o potencial que indica quão prolífico é um
indivíduo. Exemplo: um único casal de pássaros chocando 6 ovos/
ano, deverá produzir 14.348.907 de descendentes ao final de 15
As anilhas possuem uma anos, desde que a resistência do ambiente (Ra) seja igual a zero e
codificação diferente para a razão sexual (Rs) seja igual a 0,5. Assim o é porque o potencial
cada animal capturado.
biótico, neste caso, tem a seguinte expressão:

f) Dispersão populacional: a dispersão como termo usado na Esta-


tística refere-se à distribuição de itens em torno da média, e mais
amplamente, ao padrão de distribuição de itens de uma popula-
Nas aves essas anilhas
ção, o que é conhecido como dispersão estática, que não deve ser
são colocadas em uma confundida com a dispersão ativa, a qual está relacionada com os
das patas. movimentos de emigração, imigração e migração. A emigração
afeta a forma local de crescimento, da mesma maneira que a mor-
talidade. A imigração age como a natalidade.
A determinação do tipo de distribuição (aleatória, uniforme ou
agregada) é importante na seleção de métodos de amostragem e ela
é muito influenciada por barreiras e pela capacidade de movimento,
inerente aos indivíduos ou as formas disseminantes. A dispersão é
o meio de se colonizarem áreas novas ou despovoadas.
g) Formas de crescimento populacional: as populações apresentam
padrões característicos de aumento denominados formas de cresci-
mento populacional. Para fins de comparação, pode-se designar dois
padrões básicos, segundo as formas de curvas de crescimento dese-
nhadas em escalas aritméticas: curva de crescimento em forma de
Águia com uma anilha em “J” e a curva de crescimento sigmoidal ou em forma de “S”. Na curva
uma das patas.
em forma de “J”, a densidade aumenta rapidamente, de forma expo-
Fonte: http://www.
cbers.inpe.br/
nencial, parando abruptamente quando a resistência ambiental se
torna efetiva. Na forma sigmoidal, a população aumenta lentamente
no início, depois, mais rapidamente (aproximando-se, talvez de uma
fase logarítmica), mas logo a taxa de aumento vai diminuindo, aos
poucos, à medida que a percentagem de resistência ambiental vai
aumentando, até o equilíbrio ser alcançado e mantido.

A fitossociologia é o estu-
Fatores que regulam o tamanho das populações
do das comunidades ve-
getais, responsável pela Entre os fatores que regulam o tamanho das populações tem-se:
inter-relação das espécies a) O alimento como fator limitante do crescimento: cada tipo de
vegetais no espaço e de
certa forma no tempo. ambiente pode suportar uma quantidade máxima de indivíduos.
Apresenta como objetivos
o estudo quantitativo da b) Carga biótica máxima: é o tamanho máximo de determinada po-
composição florística, pulação que um ambiente pode suportar.
estrutura, funcionamento
dinâmico, distribuição e c) Competição entre populações de diferentes espécies: quando
relações ambientais da duas populações competem pelo mesmo espaço ou alimento, uma
comunidade vegetal,
terminará eliminando a outra, ou então a obrigará a emigrar. Uma
mantendo relações estrei-
tas com a fitogeografia e demonstrará maior eficiência na utilização dos alimentos. Esse
as ciências florestais. princípio foi denominado por cientista russo G. F. Gause, em 1932,
como princípio da exclusão competitiva.

104 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA


d) A densidade e tamanho da população: a taxa de crescimento
de certas populações é autoregulada por sua própria densidade.
A natalidade diminui muito quando a densidade populacional au-
menta. Isto decorre devido a fatores como: aumento da competição
alimentar entre os membros da população e da competição entre os
casais por locais de procriação. Exemplo 1; a briga dos jaburus no
Pantanal, pelo espaço para nidificar. Exemplo 2; em experimentos
com ratos, verifica-se que, quando as gaiolas de criação se tornam
Emigração - mudança
superpovoadas, mesmo que haja alimento em abundância, a taxa periódica de certos ani-
de natalidade pode cair a zero. Os filhotes morrem no interior do mais de uma região para
corpo da mãe. Isso, provavelmente, se deve ao estresse causado outra.
pela forte tensão emocional gerada pelo superpovoamento. Imigração – entrada de
um organismo em um
novo ambiente.

Oscilações que limitam o crescimento populacional Migração - deslocamen-


tos, periódicos ou irregu-
Sob influência de fatores dependentes da densidade, as populações lares, feitos por certas es-
tendem a aumentar ou diminuir em direção a valores de equilíbrio determi- pécies de animais de um
ambiente para outro.
nados pelas capacidades de suporte de seus ambientes. Contudo, também
sabemos que as populações variam ao longo do tempo. Esta variação é cau-
sada por diferentes tipos de fatores.
Os principais fatores ambientais que limitam o crescimento de uma
população são: a densidade populacional; o suprimento de alimentos; a
competição interespecífica; a predação; o parasitismo e as doenças. É im-
portante ressaltar que alguns sistemas biológicos são inerentemente instá-
veis e resultam em oscilações nos tamanhos populacionais.

Dinâmica dos ecossistemas


Os organismos que vivem num mesmo lugar não apenas apresentam
tolerâncias semelhantes aos fatores físicos, mas também interagem uns com
os outros, e, o mais importante; estabelecem sistematicamente, relações ali-
O crescimento exponen-
mentares que diferenciam basicamente dois grandes grupos: os autótrofos cial resulta numa curva
ou produtores (produzem seu próprio alimento e tem como fonte de energia de crescimento continua-
a luz do sol) e os heterótrofos ou consumidores (não conseguem fabricar seu mente acelerado. Ocorre
quando os recursos não
próprio alimento e por isso precisam obtê-lo do meio em que vivem). são limitantes. A popula-
Os diferentes ecossistemas são caracterizados através de seus atri- ção cresce cada vez mais
rápido com o tempo. Não
butos e interações peculiares relacionadas com as interações de seus com- ocorre para sempre.
ponentes bióticos e abióticos. Entretanto, há dois processos básicos que
são comuns a todos: o fluxo de energia e matéria e a reciclagem de nu-
trientes. (Figura 5.2). Todo ecossistema natural, principalmente os terres-
tres, apresentam uma fonte de energia que alimenta o ecossistema (o sol),
fazendo com que os produtores (as plantas) assimilem esta energia e pelo
processo fotossintético, produzem matéria (biomassa) que vai servir para os
consumidores (animais) em seus vários níveis como alimento. Os resíduos
produzidos pelos consumidores vão ser reaproveitados pelos decomposito-
res (microrganismos do solo), que irão devolver novamente todos os elemen-
tos químicos presentes na matéria (fósforo, potássio, cálcio, magnésio, cobre
etc.) ao solo, de onde as plantas novamente os irão retirar. Este ciclo se
repete naturalmente e de forma indefinida.

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 105


Em 1932, Georgii Frant-
sevich Gause publicou o
que se tornou conhecido
como o princípio de exclu-
são competitiva, baseada
no trabalho experimental
feito com uma mistura de
culturas de levedura e es-
pécies de Paramecium. O
princípio afirma que duas
espécies com semelhantes
nichos ecológicos não po-
dem coexistir em um equi-
líbrio estável. Pois, quando
duas espécies competem
exatamente pelos mesmos Figura 5.2 Perfil esquemático de um Ecossistema terrestre e seus constituintes.
requisitos, uma será um Fonte: HERRERA; PORTO (2001).
pouco mais eficiente do
que a outra. Logo, o des-
tino da espécie menos efi- Cadeia alimentar
ciente será a extinção local.
Cadeia alimentar ou cadeia trófica é a seqüência de relações alimenta-
res entre os seres vivos, onde um serve de alimento ao seguinte (Figura 5.3).
Praticamente, toda a cadeia alimentar inicia-se por um vegetal, seguindo-se
de animais herbívoros, predadores de herbívoros, predadores de carnívoros
e assim por diante.

Gause, G. F.
Fonte: www.nceas.
ucsb.edu

Figura 5.3 Representação de uma cadeia alimentar.

Existem dois tipos de cadeias alimentares: umas começam pelos ve-


getais vivos, que são devorados pelos herbívoros; outras começam pela ma-
téria vegetal ou animal, morta e mais ou menos decomposta, que é consu-
mida pelos detritívoros. No caso de uma cadeia alimentar que começa por
vegetais vivos é possível distinguir as diversas categorias seguintes:
a) Os produtores são os vegetais clorofilianos, isto é, os organismos
capazes de fabricar e acumular energia potencial sob forma de energia quí-
mica presente nas matérias orgânicas sintetizadas (glicídios, lipídios, pro-
tídeos). Esta síntese é essencialmente obra dos fanerógamos nos ecossiste-
mas terrestres, e acessoriamente das pteridófitas e das briófitas. No meio
marinho é obra das algas microscópicas do plâncton (diatomáceas, peri-

106 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA


díneas) e acessoriamente das algas macroscópicas do bento litorâneo e de
alguns raros fanerógamos. Na água doce, são as algas ou os fanerógamos
(ou então ambos ao mesmo tempo) que são os produtores, conforme os tipos
de coleções de água considerados.
b) Os consumidores de primeira ordem comem os produtores auto-
tróficos, sendo, por conseguinte em geral herbívoros. Outros consumidores
de primeira ordem, mais raros, são os parasitos animais e vegetais das
plantas verdes, que exploram seu hospedeiro sem matá-lo, de imediato. No
meio terrestre os herbívoros são, sobretudo insetos e, entre os mamíferos,
roedores e ungulados. No meio marinho e na água doce são, crustáceos de
pequeno tamanho e moluscos que vivem a expensas do fitoplâncton.
c) Os consumidores de segunda ordem sobrevivem à custa dos herbí-
voros, sendo, portanto, carnívoros e se encontram em grupos muito variados.
d) Os consumidores de terceira ordem são carnívoros que se alimen-
tam de carnívoros, isto é, de consumidores de segunda ordem. Os consumi-
dores de segunda e terceira ordem podem ser predadores, que capturam as
presas, matando-as de imediato, antes de devorá-las; ou então parasitos,
que não matam de imediato o hospedeiro; ou ainda comedores de cadáve-
res. Estes últimos devem ser divididos em saprófagos e necrófagos.
e) Os decompositores ou bioredutores formam o termo final da cadeia
trófica. São principalmente microrganismos (bactérias, levedos, cogumelos
saprófitos) que atacam os cadáveres e os excrementos decompondo-os pou-
co a pouco, assegurando assim o retorno progressivo ao mundo mineral dos
elementos contidos na matéria orgânica. Os cogumelos atuam, sobretudo,
na decomposição da celulosa de origem vegetal, enquanto as bactérias ata-
cam os cadáveres de animais. Esses decompositores têm também outras
funções, como a produção de substâncias inibidoras (como os antibióticos)
ou substâncias estimulantes (como certas vitaminas), cujo papel ecológico Em 1935, o ecólogo vege-
tal Arthur George Tansley
é certamente importante, mas ainda mal conhecido. (1871 - 1955), utilizou o
Esquematicamente, podemos distinguir nas cadeias alimentares que termo ecossistema, pela
primeira vez, para desig-
começam por vegetais autotróficos vivos, as cadeias de predadores e as ca- nar o conjunto de organis-
deias de parasitos. mos que interagem com
o ambiente físico, onde
Em alguns casos as cadeias alimentares começam pela matéria or-
residem. Sendo que as
gânica morta e os consumidores primários são denominados detritívoros. plantas, os animais e os
Estes últimos podem pertencer a variados grupos sistemáticos. Podem ser microorganismos consti-
animais de pequeno tamanho, como os numerosos invertebrados que vivem tuem os componentes bi-
óticos; enquanto a água, o
no solo e subsistem a expensas da camada de folhas mortas, ou então são ar, o solo, o clima, entre
bactérias e cogumelos que decompõem a matéria orgânica. Na maioria dos outros, representam os
casos esses dois grupos trabalham independentemente, mas acham-se ao componentes físicos ou
abióticos.
contrário estreitamente associados.
Os animais preparam o trabalho dos microrganismos fragmentando
a matéria orgânica em elementos de pequena dimensão. As cadeias alimen-
tares com base nos herbívoros e as que têm base nos detritívoros coexistem
quase sempre nos ecossistemas, mas há uma que predomina largamente
sobre a outra. Contudo, em alguns ambientes muito especiais, por exemplo,
abissal ou cavernícola, onde os organismos clorofilianos não podem subsis-
tir por falta de luz só existem cadeias tróficas tendo por base os detritívoros.
Tansley, A. G., botânico
Em razão de tudo que foi colocado, nos parágrafos anteriores, podem inglês, pioneiro na ecolo-
ser estabelecidas as relações mostradas na Figura 5.4, como exemplos de gia das plantas.
cadeias alimentares bem simples. Portanto, há que se deixar bem claro que Fonte: http://i24.pho-
na realidade dos ambientes essas cadeias muito mais complexas, compor- tobucket.com/albums/
c15/Hempress/th_180px-
tando muitas ramificações e interligações. -Arthur_Tansley1.png

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 107


A raiz grega da palavra
trófico significa alimento.

Figura 5.4 Exemplos de cadeias alimentares.


Nestas relações está implícita a transferência de matéria e energia de
um nível a outro. Esta passagem de energia forma um fluxo de energia que
é unidirecional. Em cada nível (produtor e consumidor) há perda de energia.
A quantidade de energia captada pelas plantas é maior que a transferência
para o consumidor.

Produtividade nos ecossistemas


As pirâmides ou fluxos
de energia nos ecossis- Nos ecossistemas, a produtividade refere-se à quantidade de maté-
temas nos mostram que
nas cadeias alimentares a
ria orgânica produzida em certa área, em determinado intervalo de tempo.
energia é perdida em cada Chama-se produtividade primária á produtividade dos seres vivos autotró-
nível trófico, por causa ficos, (isto é, capazes de fotossíntese ou de quimiossíntese) e a sua taxa é
do trabalho realizado pe-
los organismos naquele
quantificada como produtividade primária. Os ecólogos estão interessados
nível e pela ineficiência na taxa de produção primária porque ela determina a energia total dispo-
das transformações bio- nível para o ecossistema.
lógicas de energia. Desse
modo, as plantas assimi- A energia total assimilada pela fotossíntese é chamada de Produção
lam apenas uma porção Primária Bruta (PPB), sendo que a maior fração da produtividade primária
da energia luminosa dis- é derivada da fotossíntese através dos seres clorofilados: plantas terrestres
ponível. Os herbívoros
assimilam menos ainda e aquáticas (água doce e salgada). Quanto maior for a taxa de fotossíntese
dessa energia porque as realizada pelos produtores da região, maior será sua produtividade primá-
plantas usam uma fração ria bruta. As plantas usam parte desta energia para sustentar a síntese de
delas que assimilam para
se manterem, e essa ener-
compostos biológicos e para se manterem, logo sua biomassa contém subs-
gia não esta disponível tancialmente menos energia do que a total assimilada (Figura 5.5). Vários
para os herbívoros como fatores ambientais interferem na produtividade. Entre esses fatores estão:
biomassa vegetal. O mes-
mo pode ser dito sobre os
luz, temperatura, água, sais minerais e gases.
consumidores dos herbí- A floresta amazônica (Figura 5.6A) recebe grande quantidade de água
voros e sobre cada nível
e luz durante o ano, de modo que a vegetação pode realizar muita fotos-
acima que se segue na ca-
deia alimentar. síntese e produzir grande quantidade de compostos orgânicos e oxigênio.
Isso contribui para a grande riqueza de vida desse ecossistema. A caatinga
Pesquisadores calculam (Figura 5.6B) do Nordeste brasileiro, por outro lado, recebe praticamente a
que os herbívoros apro-
veitam apenas 10% das mesma quantidade de energia luminosa, porém recebe pouca água, cuja
substâncias orgânicas escassez é responsável pela menor biodiversidade e pela pequena produtivi-
do alimento que ingerem, dade primária bruta do local. Isso vale dizer que a água é um fator limitante
sendo o restante elimi-
nado como fezes. Desses para o desenvolvimento de vida na caatinga.
10%, parte ainda será de-
grada para obter energia
metabólica, de forma tal
que apenas uma peque-
na parte será assimilada
como matéria constitutiva
do corpo dos herbívoros,
para o crescimento e re-
posição de perdas.

108 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA


Os necrófagos consomem
os cadáveres antes da sua
putrefação e, os saprófa-
gos consomem os cadáve-
res em putrefação.

Figura 5.5 A produção primária bruta pode ser dividida em respiração e produção primária Exemplo de fungo,
líquida. Fonte: RICKLEFS (2003). Amylostereum areola-
tum., decompondo um
tronco de madeira caído
ao chão.
Fonte GOOGLE, 2011.

Os herbívoros, como no
Figura 5.6 (A) Representa a floresta amazônica. Fonte www.brasilescola.com. B) Represen- caso desta lagarta que se
ta a caatinga. Fonte: www.infoescola.com. alimenta da folha de uma
planta, transforma a bio-
Sabemos que os produtores não retêm toda a matéria orgânica que fa- massa verde em fragmen-
tos menores.
bricam na fotossíntese. Uma parte é utilizada em sua própria manutenção;
os produtores degradam matéria orgânica na respiração celular e liberam
energia na forma de calor.
O restante é a parcela disponível que pode ser utilizada pelos heteró-
trofos da região, os quais também utilizam parte da matéria em sua res-
piração celular. Descontando do total de matéria orgânica produzida pela
fotossíntese (PPB) a parcela consumida na respiração celular dos produto- Supondo que, em 24h um
res, temos a Produtividade Primaria Líquida (PPL). Em outras palavras, a vegetal sintetizou uma
PPL corresponde à produtividade bruta menos a quantidade de matéria viva quantidade X de fotoas-
similados (energia). Du-
degradada pelos fenômenos respiratórios. Isso significa que a PPL é o “saldo rante essas mesmas 24h,
disponível” da matéria orgânica produzida pelos autótrofos de uma região o vegetal precisou gastar
em certo intervalo de tempo, como um ano, por exemplo. Y (energia) para manter
seu próprio metabolismo
Muitas plantas podem adquirir grande porte e apresentar superfí- (realizando fotossíntese/
cies enormes. Mas, de modo aparentemente paradoxal, não são estas que respiração; sintetizando
respondem pela maior produtividade primária. São, ao contrário, espe- proteínas estruturais e
funcionais; DNA; anticor-
cialmente os organismos microscópicos clorofilados do fitoplâncton os res- po; organelas eoutros).
ponsáveis pela maior parcela de toda a produtividade primária que ocorre Através disso, pode-se ob-
na Terra. E que, se seu tamanho é ínfimo, seu número é imensamente ter um saldo a partir de:
X – Y = Z; conclui-se que Z
grande. Sua capacidade de reprodução é fantástica, e com isso a reposição é a quantidade de energia,
daqueles que são retirados do meio pelos seres que deles se alimentam faz- em um dia, que um herbí-
-se com extrema rapidez. voro poderá consumir.

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 109


Produtividade secundária é a que se opera em outros níveis tróficos,
ou seja, dos consumidores de diversas ordens e dos decompositores (muitos
autores preferem falar de produção quando se trata de produtividade dos
vários níveis tróficos dos consumidores). É possível investigar o número de
calorias que passam de um elo para outro de uma cadeia (teia) alimentar,
ou de um nível trófico para outro, de uma pirâmide. Naturalmente, pode-se
também exprimir a produtividade em termos de biomassa acrescida. Qual-
quer que seja a forma de expressão, matéria ou energia, é indispensável
Denomina-se Produtivi-
dade Bruta (PB) a quan-
referir-se ao tempo e à superfície ou ao volume a que se refere à produtivi-
tidade de matéria viva dade primária ou secundária.
produzida durante a uni-
O que foi dito referiu-se aos vários ecossistemas que ocorrem na Terra,
dade de tempo por um
nível trófico determinado compondo a biosfera. Claro que o mesmo pode aplicar-se, quanto à produ-
ou por um de seus cons- tividade, a um só ecossistema, a uma associação desse ecossistema, à po-
tituintes. pulação de uma espécie dessa associação e, finalmente, a um só indivíduo
Produtividade Líquida dessa população. Naturalmente, descendo dos ecossistemas e indo ao nível
(PL) corresponde à pro- dos indivíduos diminui a importância ecológica do estudo, embora seja pos-
dutividade bruta menos sível ganhar mais precisão no conhecimento fisiológico do mesmo.
a quantidade de matéria
viva degradada pela respi-
ração (R).
Súmula da tomada de alimento pelos consumidores
Os consumidores podem ser divididos em várias categorias, caracte-
rizadas pelos tipos de alimento utilizados. A classificação sumária citada
a seguir, inicialmente distribui os consumidores segundo a quantidade de
tipos de alimento, e posteriormente, segundo a origem dos mesmos.

Quanto à quantidade de tipos de alimentos


a) Consumidores atróficos: não se alimentam, como os adultos da
ordem Ephemerida;
b) Consumidores monófagos: tomam um só tipo de alimento, como
as saúvas;
c) Consumidores heterófagos: tomam vários tipos de alimentos,
como as traças;
d) Consumidores onívoros: também chamados pantófagos, tomam
qualquer tipo de alimento, como as baratas, o porco e o homem.

Quanto à origem do alimento


Consumidores fitófagos
São os que tomam alimento de origem vegetal. Distribuem-se nos se-
guintes subtipos:
a) Herbívoros: utilizam como alimento partes vivas das plantas.
Exemplo: curuquerê do algodão.
b) Algófagos: utilizam as algas como alimento. Exemplo: certas larvas
aquáticas.
c) Liquenófagos: utilizam liquens como alimento. Exemplo: muitos
besouros.
d) Micetófagos: tomam os fungos como alimento. Exemplo: as saúvas.
e) Xilófagos: consomem madeira como alimento. Ex.: os cupins.

110 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA


f) Carpófagos: tomam frutos e sementes como alimento. Ex.: a lagarta
rosada, a broca pequena do tomate.
g) Polenófagos: usam o pólen como alimento. Ex.: muitos besouros
que vivem nas flores.
h) Melífagos: consomem o mel como alimento. Ex.: as larvas das
abelhas. A produção primária varia
entre os ecossistemas
i) Fitossucívoros: sugam a seiva da planta como alimento. Ex.: os A combinação favorável
pulgões. de grande insolação, tem-
peratura quente, precipi-
j) Rizófagos: consomem as raízes dos vegetais como alimento. Ex: a tação abundante e grande
broca da raiz do coqueiro. quantidade de nutrientes,
em algumas partes dos
l) Cletrófagos: ingerem grãos, farinha e outros produtos secos como trópicos úmidos, resulta
alimento. Ex.: os gorgulhos (Figura 5.20) e as traças. na maior produtividade
terrestre do planeta. Em
m) Necrofitófagos: consomem vegetais mortos como alimento. Ex.: ecossistemas temperados
e árticos, as baixas tem-
certos besouros. peraturas e as longas noi-
tes de inverno reduzem a
n) Saprofitófagos: tomam substancias vegetais podres. Ex.: muitos produção. Dentro de uma
besouros. determinada faixa de lati-
tude, onde a luz não va-
o) Galívoros: são insetos que vivem em cecídias que causam galhas em ria sensívelmente de uma
plantas tomando-as como alimento. Ex.: muitas larvas de mosca. localidade para outra, a
produção líquida estaádi-
Consumidores zoófagos retamente relacionada à
temperatura e à produção
a) Carnívoros: consomem carne como alimento. Ex.: larvas de certas anual.
moscas. A produção da vegetação
terrestre é máxima nos
b) Predadores: consomem animais capturados como alimento. Ex.: trópicos úmidos e míni-
baratas d’água. ma nos habitats de uma
tundra e de deserto. Os
c) Canibais: ingerem outros indivíduos da mesma espécie como ali- ecossistemas brejosos e
mento. Ex.: lagartas da prefoliação do milho. paludosos que ocupam a
interface entre os habitas
d) Entomófagos: devoram outros insetos. Ex.: louva-a-deus. terrestres e aquáticos, po-
dem produzir tanta bio-
e) Hematófagos: ingerem sangue como alimento. Ex.: piolhos da ca- massa anualmente quan-
to às florestas tropicais,
beça, muriçoca, barbeiro.
por causa da contínua
f) Ectoparasitas: desenvolvem-se sobre o corpo do hospedeiro toman- disponibilidade de água e
da rápida regeneração de
do-o como alimento. Ex.: larvas de certas vespas. nutrientes nos sedimen-
tos lodosos em volta das
g) Endoparasitos: desenvolvem-se dentro do corpo do hospedeiro to- raízes das plantas.
mando-o como alimento. Ex.: larva de certas moscas e vespas.
h) Zoonecrófagos: consomem animais mortos como alimento. Ex.:
muitos besouros.
i) Zoosaprófagos: consomem animais podres como alimento. Ex.: lar-
vas de muitos besouros.
j) Detritívoros: consomem detritos de animais como alimento. Ex.:
certos piolhos de aves.
l) Coprófagos: utilizam os excrementos dos animais como alimento.
Ex.: certos besouros, os rola-bosta, principalmente.

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 111


Neste capítulo são mostrados a natureza do crescimento populacional
e os fatores que limitam o seu tamanho. É mostrado como esses efeitos
As formigas de rosa ou aumentam com o aumento da densidade populacional de forma a colocar
saúvas são consumidores o crescimento sob controle. Mostra-se que as populações não crescem in-
monófagos.
definidamente, pois se isto acontecer, colocaria em risco a existência de
muitas outras espécies. Também é apresentada a questão do aumento da
população humana e as estimativas de quando esta poderá se estabilizar.
Os ambientes sofrerão com as ações antrópicas, que visam satisfazer as de-
mandas alimentares da população, deixando claro, a necessidade de ações
que visem à conservação, o manejo e o planejamento das atividades huma-
nas. O ecossistema é também objeto de consideração, bem como a descrição
de sua estrutura e funcionamento e sua produtividade.

1. O que é uma população e que formas de distribuição podem assumir?


Os consumidores de ali-
mentos de origem vegetal
2. Descreva quais são os atributos biológicos das populações.
(fitófagos) são consumi- 3. Que fatores regulam o tamanho das populações?
dores primários e, os con-
sumidores de alimento de
4. Quais são as conseqüências de um aumento descontrolado da população
origem animal (zoófagos) humana para os ecossistemas?
são consumidores de se-
gunda ordem em diante.
5. O que é um ecossistema e quais seus componentes?
6. Descreva as características da produtividade de um ecossistema?

A população humana
Moradias deterioradas, condições insalubres, escassez de alimentos e de
A barata doméstica é cos- água potável, doenças, e desnutrição. Estas, e inúmeras outras dificuldades
molita e por tanto tem há- são a realidade do dia-a-dia de grande parte da população mundial. Todavia,
bito onívoro. como pode ser visto a maioria das pessoas que vivem em tais condições con-
segue, de algum jeito, enfrentá-las e continuar vivendo.
Que dizer, porém, do futuro? Será que as pessoas terão de suportar in-
definidamente estas duras realidades da vida?
Para complicar a situação, o que dizer do quadro desalentador e sombrio
que os cientistas ambientalistas e outros predizem em resultado do contínuo
crescimento demográfico?
Os cientistas e ambientalistas dizem que estamos destruindo nosso pró-
prio ninho, através da poluição do ar, da água e do solo; de que dependemos.
Eles também apontam o efeito estufa, que é a emissão de gases, tais como
o gás carbônico, o metano, os clorofluorcarbonos (agentes de refrigeração e

112 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA


de espuma) que resultarão no aquecimento da atmosfera e em mudanças no
padrão do clima global, com funestas consequências. A população humana ul-
trapassou a marca de 6 bilhoes em 12 de outubro de 1999, tão precisamente
quanto os demógrafos das Nações Unidas podem chegar. Será que é isso, por
fim, extinguirá a civilização como a conhecemos?
Examinemos mais de perto as conseqüências da superpopulação humana.

Conseqüências da superpopulação
Estimativas do tamanho da população humana em tempos antigos são
imprecisas. Entretanto, um dos mais marcantes aspectos do crescimento da
população humana é que sua taxa continuou a crescer mesmo quando a popu-
lação se tornou amontoada. Será que a população mundial continuará expan-
dindo-se indefinidamente? Existe algum indício de até que ponto ela chegará?
Será que há gente demais?

As α- amilases presentes
em sementes agem no
metabolismo do gorgulho,
promovendo seu desen-
volvimento.
Fonte: http://www.azo-
resbioportal.angra.uac.pt

A população humana aumentou rapidamente com o desenvolvimento da tecnologia. Vespas parasitóides desen-
Fonte: RICKLEFS 2003. volvem-se dentro de larvas
ou das pupas de outros in-
Naturalmente, é um fato que a população do mundo está crescendo, setos.
apesar dos esforços de planejamento familiar. O crescimento anual atualmen- Fonte: RICKLEFS (2003)
te é de cerca de 90 milhões (o equivalente à população do México a cada ano).
Parece que não existe nenhuma perspectiva imediata de se estancar esse
crescimento. Olhando adiante, contudo, a maioria dos demógrafos concorda
que a população terráquea por fim se estabilizará. Todavia, restam duas inda-
gações: a) em que nível, e b) quando?
Segundo projeções do Fundo Populacional da ONU, a população terrá-
quea poderá atingir 14 bilhões antes de estabilizar-se. Outros, contudo, es-
timam que ela irá variar entre 10 e 11 bilhões. Seja qual for o caso, as per-
guntas cruciais são: a) Haverá gente demais? b) Pode a Terra comportar e
suportar, uma população duas a três vezes maior que a atual?
Segundo um ponto de vista estatístico, 14 bilhões de pessoas na Terra
dariam uma média de 104 pessoas por quilômetro quadrado. Como se sabe,
a densidade populacional de Hong Kong é de 5.592 habitantes por quilômetro
quadrado. Outrossim, atualmente a densidade populacional dos Países-Baixos
é de 430 pessoas, ao passo que a do Japão é de 327, e estes são países que
gozam de um padrão de vida acima da média. É evidente que, mesmo que a
população do mundo cresça na dimensão predita, o problema não é o número

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 113


de pessoas. Há outros enfoques que devem ser pensados. Que dizer, então,
dos estoques de alimentos? Pode a Terra produzir o suficiente para alimentar
10 bilhões, ou 14 bilhões de pessoas?
Obviamente, a atual produção mundial de alimentos (tanto do ponto de
vista da massa física produzida quanto da sua forma de distribuição) não é
suficiente para tal população. De fato, amiúde ouve-se falar de fome, de des-
nutrição e de morte por inanição. Significa isto que não se está produzindo
suficientes alimentos para sustentar a presente população. O que pensar de
uma situação em que a população seja o dobro ou o triplo da atual?
Trata-se de uma pergunta difícil de responder, porque depende do que
se entende por “suficiente”. Isto é, centenas de milhões de pessoas nas na-
ções mais pobres do mundo não conseguem o alimento suficiente para manter
sequer uma dieta mínima e saudável, enquanto as pessoas nas nações ricas
e industrializadas estão sofrendo as conseqüências de uma dieta demasiada-
mente rica (obesidade, derrames, doenças do coração, e assim por diante).
Como isto, influi no quadro alimentar mundial?
Há evidências de que são necessários aproximadamente cinco quilos de
cereais para produzir um quilo de bife. Portanto, apenas a quarta parte dos
habitantes da Terra, que são os que comem carne, consome quase a metade
da produção total de cereais.
No que se refere à soma total de alimentos produzidos, observe-se o
que o livro Bread for the World (Pão Para o Mundo) diz: “Se a atual produção
mundial de alimentos fosse distribuída igualmente entre todas as pessoas do
mundo, com o mínimo de desperdício, todos teriam o suficiente. Talvez apenas
o suficiente, porém o suficiente”. Essa declaração foi feita em 1975, há mais
de 25 anos. Qual é a situação atual? Segundo o Instituto dos Recursos Mun-
diais, “nas últimas duas décadas, as produções mundiais, totais, de alimentos
se expandiu, ultrapassando a demanda. Em resultado, nos anos recentes,
diminuíram, em termos reais, os preços dos principais alimentos básicos nos
mercados internacionais”. Outros estudos mostram que os preços dos ali-
mentos básicos, tais como arroz, milho, soja e outros cereais, caíram para a
metade ou mais, nesse período.
O significado de tudo isso é que o problema dos alimentos reside não
tanto na quantidade produzida, mas no nível e nos hábitos de consumo. A nova
tecnologia genética encontrou meios de produzir variedades de arroz, de trigo
e de outros cereais que podem dobrar a atual produção. No entanto, grande
parte da tecnologia nesta área acha-se concentrada em cultivos comerciais,
tais como o fumo e o tomate, que não servem para atender as necessidades
reais da grande maioria.
Fonte: RICKLEFS 2003.

Leituras
Livros
• BEGON, M.; MORTIMER, M. Population ecology. 2 ed. Oxsford:
Black-well Scientific Publications, 1986.

114 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA


• EHRLICH, P. R.; EHRLICH, H. A. The population explosion. New
York: Simon and Schuster, 1990.

Filmes
• Criaturas da Amazônia (BBC Worldwide Ltda)

Sites
• IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (http://www.
ibge.gov.br/)
• ICMBio - Instituto Chico Mendes (http://www.icmbio.gov.br/)
• IPECE - Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará.
• (http://www2.ipece.ce.gov.br/)
• MMA - Ministério do Meio Ambiente (http://www.mma.gov.br/)

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FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 115


Capítulo

6
Ecossistemas versus
Sucessão ecológica

Objetivos:
• Conhecer fatores que afetam a estrutura dos ecossistemas.
• Descrever os componentes dos ecossistemas.
• Estudar os processos de sucessão ecológica nos ambientes.
• Mostrar como os estudos de sucessão podem nos auxiliar na recomposição de
ecossistemas degradados.
Os ecossistemas podem ser considerados sistemas abertos que man-
têm intercâmbios de matéria e de energia com o meio. Por esta razão, ten-
dem a um estado estável, no qual a composição de diversos elementos do
sistema permanece constante a despeito da existência de processos irrever-
síveis, assim como da importação e da exportação de matéria.
Nos ecossistemas naturais (terrestres ou aquáticos) existem duas fon-
tes naturais de energia: o sol e os combustíveis químicos (ou nucleares). A
fonte e a qualidade da energia disponível determinam, a um grau maior ou Bioinvasão: é caracteriza-
menor, os tipos e a abundância dos organismos, o padrão dos processos da pela chegada, estabe-
funcionais e de desenvolvimento, e a forma de vida dos seres vivos, já que lecimento e expansão de
uma espécie exótica em
a energia é um denominador comum e a função motriz final em todos os um local onde não é o seu
ecossistemas, classificando-os em: habitat natural. Segundo
especialista é a segunda
• Ecossistemas Naturais: dependem da energia solar, como princi- maior causa de perda da
pal fonte de energia; biodiversidade em ecos-
sistemas tropicais, após
• Ecossistemas Antropogênicos: que dependem da energia solar e os desmatamentos e quei-
química, com subsídios de outras formas naturais de energia e da madas.
intervenção do homem;
Resiliência: é a capacida-
• Ecossistemas Artificiais: são sistemas urbanoindustriais, movi- de que determinada coisa
dos a combustíveis fósseis, orgânicos ou nucleares. ou situação tem de retor-
nar a situação de equilí-
Os ecossistemas sofrem alterações constantes pela ação das condi- brio após uma mudança.
ções climáticas, biológicas e geológicas que refletem nas comunidades aí
existentes, resultando em duas situações possíveis:
a) A comunidade é auto-suficiente para suportar o processo, mantendo-
-se em equilíbrio dinâmico, mesmo por um período longo de tempo;
b) Essas mudanças ambientais influenciam de tal modo às ativida-
des dos organismos da comunidade, que conduzem à extinção ou
migração de algumas espécies, ou seja, modificam a comunidade.
Com a eliminação ou migração de certas espécies, naturalmente que
alguns nichos ecológicos ficarão desocupados, além de novos nichos surgi-
rem em razão de mudanças geoclimáticas e bióticas. Outras espécies pode-
rão invadir e ocupar os nichos (bionvasoras), causando muitas vezes o desa-
parecimento de espécies nativas. Enquanto o ambiente, passa pelo processo
de recuperação natural (ou resiliência), muitas vezes é necessária a inter-
venção humana para acelerar esse processo e onde é necessário conhecer
bem os componentes desse ambiente e sua sucessão natural.

Componentes do ecossistema
Se pensarmos numa parte limitada de certa região, devemos pensar,
igualmente, que aí temos o que se chama um ecossistema, do qual fazem
parte dois componentes: um físico, que chamamos biótopo; outro vivo que

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 119


povoa o primeiro, designado por biocenose. (Estas palavras têm origem no
grego e significam: bios - vida, topos - lugar; assim, biótopo = o lugar onde
há vida; e koinos - conjunto; assim, biocenose = o conjunto dos seres vivos).
Um ecossistema apresenta certa homogeneidade do ponto de vista to-
pográfico, climático, botânico, zoológico, pedológico, hidrológico e geoquími-
co. As trocas de matéria e de energia entre seus constituintes fazem-se com
intensidade característica. Do ponto de vista termodinâmico o ecossistema é
um sistema relativamente estável no tempo e aberto. Os constituintes que en-
Biocenose = biota = co-
munidade biológica. tram são a energia solar, os elementos minerais e os da atmosfera, e a água.
Os elementos que saem são o calor, o O2, o CO2 e diversos outros gases, os
Biocenose: é um conjun- compostos húmicos e as substâncias biogênicas carregadas pela água etc.
to de seres vivos reuni-
dos pela atração que os O ser humano faz parte de muitas biocenoses, e, portanto, de muitos
diversos fatores do meio ecossistemas. Assim, sua interferência num ecossistema, alterando-o deve
exercem sobre eles. Esse
agrupamento é caracteri- ser considerada tão natural quanto à interferência de insetos, fungos e bac-
zado por uma composição térias que atacam madeira.
específica determinada,
pela existência de fenô-
Podemos dizer também que a biocenose é um agrupamento em equi-
menos de interdependên- líbrio estável no tempo. Em escala biológica, isto não é assim, porque as
cia (competição, simbiose, variações climáticas muitas vezes bastam para provocar o desaparecimento
predação, etc.) e ocupa
um espaço bem determi-
das biocenoses que existiam em um lugar determinado e a sua substitui-
nado, conhecido como bi- ção por outras. Desta maneira podemos distinguir: biocenoses estáveis, que
ótopo. são aquelas que em escala humana duram dezenas de anos e biocenoses
Fonte: Dajoz, 2005. cíclicas, nas quais a evolução pode ser rápida e fazer-se em alguns dias ou
mesmo em horas (ex.: as espécies de artrópodes acima de um cadáver de
mamífero, no tronco de uma árvore etc.).

Sucessão ecológica
O conceito de sucessão ecológica foi inicialmente desenvolvido pelos
botânicos, dentre eles Frederic Clements (1916) e Eugenius Warming.
Os organismos que integram uma comunidade biológica sofrem ações
Frederic E. Clements de seu biótopo, o qual, por sua vez, é alterado localmente em função da
(1874-1945), botânico, foi atividade desses mesmos organismos. A atuação dos organismos da comu-
o primeiro em arguir so-
bre sucessão ecológica.
nidade sobre o biótopo pode provocar alterações no substrato e em outras
condições abióticas locais, tais como, luz, temperatura e umidade.
Uma das mais interessantes características observadas nas comuni-
dades é o fato de que elas mudam continuamente de estado, como, por
exemplo, a sua composição específica. Este fato é muito evidente quando há
um distúrbio externo, como fogo ou enchente. Mesmo quando as comunida-
des estão em equilíbrio, tal estado é dinâmico.
Sucessão ecológica é uma seqüência de alterações ou mudanças es-
truturais e funcionais que ocorrem para que haja um ajuste ou uma recom-
posição nos ecossistemas. Mudanças essas que, em muitos casos seguem
Clements, F. E.
Fonte: GOOGLE, 2011. padrões mais ou menos definidos, mais que culminando com a formação de
uma comunidade estável.
Sucessão secundária pode ocorrer em uma lagoa, que, sem a interfe-
rência humana, tender a desaparecer. (Figura 6.1). Aos poucos, o diâmetro
e a profundidade da lagoa se reduzirão. No seu lugar, pode formar-se uma
floresta. As águas das chuvas vão arrastando sedimentos para a lagoa,
que vão se depositando no fundo. Plantas flutuantes ocupam as margens
e, a seguir, plantas emersas desenvolvem-se no solo criado no local antes
ocupado pela água. O desaparecimento completo da lagoa é apenas uma
questão de tempo.

120 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA


Descrição dos cinco momentos representados na Figura 6.1: (m-1), é a
fase inicial do processo, quando o fundo é nu e a cadeia alimentar é susten-
tada pelo plancton; (m-2), representado pelo desenvolvimento da vegetação
submersa e deposição de material no fundo e nas margens; (m-3), nesta
fase a vegetação emergente aflora na superfície impedindo, muitas vezes, a
penetração de luz para a vegetação submersa que principia a desaparecer;
(m-4), é a fase em que a continuação do processo de aterro transforma a Karl August Möbius
Oceanógrafo nascido na
lagoa em um. Isto é, um bioma de transição; (m-5), é fase final, em que os Alemanha, que introduziu
representantes herbáceos e graminoides vão progressivamente sendo subs- em 1877 o termo bioceno-
tituídos por vegetação de floresta (comunidade clímax). se, hoje, comunidade bio-
lógica.

Möbius, K. A.
Fonte: GOOGLE, 2011.

Eqüifinalidade de um
Figura 6.1 Processo de sucessão ecológica que pode ocorrer num ecossistema de lagoa.
ecossistema: é quando
Aos poucos o diâmetro e a profundidade da lagoa se reduzirão. No seu lugar, pode formar-
este atinge o mesmo esta-
-se uma floresta. Fonte: MIZUGUCHI et al. (1982).
do final a partir de condi-
ções iniciais diferentes ou
seguindo caminhos dife-
Sucessão primária e secundária rentes. Na evolução dos
ecossistemas, o estado es-
A sucessão é dita primária quando sua primeira fase se inicia numa tável é o estado de clímax
e a seqüência de estágios
área nunca antes povoada, onde não havia seres vivos. Ex.: Uma rocha; de seu desenvolvimento,
uma ilha marítima; uma faixa recente de praia. sucessão ecológica.
Os primeiros organismos a se instalarem são chamados pioneiros. Por
exemplo, um derramamento de lava vulcânica é capaz de matar animais e
plantas. Na área queimada ou sobre a lava resfriada, podem surgir liquens,
musgos, avencas e outras plantas; posteriormente, chegam vários tipos de
animais. Finalmente, essas áreas estarão ocupadas por novas comunidades.
A sucessão secundária é a sucessão que surge num local ou lugar
anteriormente ocupado por outra comunidade. Ex.: pastos abandonados em
margens de estradas. Assim a regeneração da comunidade clímax, após
uma perturbação também é conhecida como sucessão secundária.
As sucessões secundárias aparecem em um meio que já foi povoado,
mas do qual foram eliminados os seres vivos por modificações climáticas
(glaciações, incêndios), geológicas (erosão) ou pela intervenção do homem
(desmatamento), por exemplo. Uma sucessão secundária conduz muitas
vezes à formação de um disclimax diferente do clímax que existia primi-

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 121


tivamente. Assim sendo, deve-se entender disclimax como uma formação
vegetal, perturbada ou degradada por agentes externos desfavoráveis como
a seca e o fogo, tal o cerrado no Brasil.
De acordo com a forma como ocorre à sucessão secundária tem-se:
a) Sucessão ecológica temporal: é aquela que se sucede num mesmo
local, num espaço de tempo.
Características básicas de
uma sucessão ecológica: b) Sucessão ecológica espacial: é aquela sucessão ecológica que
• É um processo ordena-
ocorre em vários estágios, num espaço de tempo, estando todos
do e dirigido;
• Ocorre como resposta às
os integrantes presentes ao mesmo tempo e em seqüência numa
modificações nas condi- mesma área.
ções ambientais locais,
provocada pelos pró- As condições ambientais no microambiente são modificadas pelas ati-
prios organismos; vidades das populações pioneiras e a ação continua de agentes intempe-
• Termina com o estabele- rizantes como: as do clima, ação química das águas, ação biológica etc.
cimento de uma comu- (Figura 6.2).
nidade clímax, que não
mais sofre alterações em
sua estrutura, desde que
o macroclima na seja al-
terado. A biomassa atin-
ge seu valor máximo.

Figura 6.2 Esquema representativo de formação de uma comunidade pioneira


a partir de um microambiente.

O processo de sucessão ecológica numa rocha se divide em três fases:


ecese, sere (ou séries) e clímax.

Ecese
Uma rocha vulcânica representa um ambiente hostil ao desenvolvimen-
to de vida: a temperatura varia muito e a água não pode ser retida, escorren-
do ou evaporando-se. Nessas condições adversas são poucos os seres vivos
capacitados a sobreviver. Os liquens, contudo, toleram essas condições.
Em sua atividade metabólica, os liquens produzem ácidos orgânicos,
que vão lentamente corroendo a rocha. Gradativamente, novas camadas
de liquens vão-se formando, constituindo um delgado “solo vivo” sobre a
rocha. A partir de então, as condições do local deixam de ser tão difíceis,
possibilitando o desenvolvimento de musgos, pequenas plantas do grupo
das briófitas. Portanto, os liquens desbravam um novo nicho ecológico, que,
a partir deles, pode ser ocupado pelos musgos.
As condições, porém, tornam-se menos favoráveis à sobrevivência dos
próprios liquens, que não resistem à competição e cedem lugar a outras
espécies. Essa é a grande importância das espécies pioneiras, toleram
condições difíceis, modificam o ambiente e permitem o desenvolvimento de
outras espécies, que também vão modificar o meio e facilitar o desenvolvi-
mento de outras.

122 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA


Sere
É caracterizada como fase de transição. Sobre a rocha, agora com
uma camada mais espessa de solo, espécies de plantas maiores, como sa-
mambaias e gramíneas, poderão desenvolver-se (Figura 6.3). Essas espécies
mudam o ambiente. As plantas, por exemplo, sombreiam a superfície da
terra, contribuem para os detritos no solo e alteram seu nível de umidade. Espécies pioneiras: são
as primeiras plantas que
ocupam espaços desabi-
tados, tem alta rustici-
dade, produzem grande
quantidade de sementes
pequenas que germinam
facilmente e geralmente
são de ciclo de vida curto.
Estas plantas têm brotos
intolerantes à sombra.

Espécies de ocorrência
tardia: tem característi-
cas opostas ás pioneiras.

Figura 6.3 Avencas, musgos e liquens sobre a lava vulcânica. Esses organismos represen-
tam a primeira etapa (pioneiros) de ocupação sobre a lava fresca.
Fonte: TURK et al. (1981).

Estas mudanças freqüentemente inibem o sucesso continuado das


espécies pioneiras que as causam, mas tornam o ambiente mais adequado
para as espécies que se seguem, as quais então excluem aquelas respon-
sáveis pelas mudanças iniciais. Nesse sentido, o caráter da comunidade
muda com o tempo.

Climax
Nessa fase, a comunidade estabiliza-se e conta com grande número
de espécies. Sobre a rocha, há o desenvolvimento de plantas de maior por-
te, constituindo uma comunidade com o aspecto de uma pequena floresta, Comunidade clímax é
mais estável e menos sujeita a mudanças em curto prazo. aquela que surge no final
do processo da sucessão.
No processo da sucessão ecológica, ocorre aumento no número de É uma comunidade com
espécies e na biomassa. O nítido crescimento na quantidade de matéria alta estabilidade (home-
orgânica é comprovado, pelo aumento da comunidade vegetal. Na fase clí- ostase), capaz de pronta
resposta a flutuações nos
max, a biomassa torna-se estável porque a comunidade passa a consumir fatores abióticos, onde
tudo o que produz. não ocorre muita subs-
tituição de espécies. Ela
A noção de clímax tem sido muito criticada. Para continuar válida e está em equilíbrio com os
poder ser conservada, essa noção deve assumir um caráter dinâmico. Uma fatores abióticos (clima
floresta que chegou ao estágio clímax não é um sistema uniforme e imutável e tipo de solo principal-
(Figura 6.4). É um conjunto heterogêneo de parcelas de idade diferentes que mente). Um exemplo dis-
so são as florestas.
foram criadas por perturbações e que coexistem ao lado de parcelas que
efetivamente ao estágio clímax.

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 123


Figura 6.4 Sucessão ecológica em estágio clímax numa floresta tropical úmida e num bos-
que sob influência da maré. Fonte: Larcher (1973).

Concluindo, o fenômeno de sucessão ecológica pode ser sumarizado


da maneira seguinte:
a) É um processo ordenado, dirigido e previsível;
b) Resulta das modificações impostas ao meio pelas próprias comuni-
dades;
c) Termina por uma biocenose clímax na qual a biomassa atinge o va-
lor máximo, onde a diversidade é mais elevada e por consequência
onde existe o maior número de relações entre os diversos organis-
mos para um determinado fluxo de energia.
A observação das sucessões ecológicas mostra que certas caracterís-
ticas das biocenoses evoluem numa direção constante qualquer que seja o
tipo de sucessão (Figura 6.5). Verifica-se assim que:
a) As cadeias alimentares, a princípio lineares são dominadas pelos
herbívoros, tornam-se redes alimentares complexas, nas quais os
detritívoros tomam um lugar cada vez mais importante.
b) Os nichos ecológicos tornam-se cada vez mais estreitos, especia-
lizados. O tamanho dos organismos tende a aumentar e os ciclos
biológicos tendem a se alongarem e complicarem.
c) A quantidade total de matéria orgânica acumulada no ecossistema
é inicialmente pequena, depois vai se tornando cada vez mais con-

124 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA


siderável, ao mesmo tempo a diversidade específica e a diversidade
bioquímica aumentam cada vez mais.
d) A relação Produtividade bruta/ Respiração é geralmente superior
a 1 nas biocenoses e a Respiração das pioneiras tende para 1 na
biocenose clímax.
e) A relação Produtividade bruta/ Biomassa, elevada no começo torna-
-se cada vez menor. Essa relação corresponde à taxa de renovação
ou turnover da biocenose.
f) Inversamente, a relação Biomassa/ Fluxo de energia aumenta à me-
dida que se aproxima da biocenose clímax.
O Quadro 6.1 sumariza as características comuns a todas as formas
na sucessão ecológica.

Figura 6.5 Esquema evolutivo da sucessão ecológica das espécies vegetais


em qualquer ambiente.

Quadro1: Características comuns a todas as formas na sucessão ecológica.

Caracteres Ecese (antes) Clímax (depois)


Cadeias alimentares Herbívoros Dominam Detritívoros Dominam
Tamanho Pequenos Grandes
Nichos ecológicos Amplo, sem especialidade Estreitos, Especializados
Ciclos biológicos Curtos Longos
Quantidade total de matéria
Pequena Mais Considerável
orgânica
Diversidade específica
Pequena Grande
Diversidade bioquímica
Produtividade bruta /
Elevada Menor
Biomassa
Biomassa / Fluxo de energia Baixa Elevada
Respiração Quase 0 Tende a 1

Produtividade bruta /
Menor que 1 Superior a 1
Respiração

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 125


A primeira atitude para proteger o ambiente é conhecer as intricadas
redes que interligam os seres vivos e o meio. Neste capítulo, continuamos
estudando os ecossistemas e seus componentes e vemos como este conhe-
cimento pode nos ajudar na compreensão dos estudos das sucessões eco-
lógicas. O fenômeno das sucessões ecológicas justifica as medidas que são
tomadas para a gestão de certos ecossistemas interessantes, cuja flora e
fauna pretendem-se conservar. A noção de série progressiva e previsível é
útil na medida em que o conhecimento de um estágio dentro de uma série
(sob a forma de um agrupamento vegetal característico) permite prever to-
dos os agrupamentos da série. Desta maneira pode-se conhecer o futuro
de uma colonização, e, por exemplo, sua eventual utilização agrícola ou
florestal. O conhecimento das regras que regem as sucessões é útil quando
se pretende restaurar locais impactados por atividades humanas, tais como
incêndios, desmatamentos, de mineração etc. Ele permite, em particular,
determinar quais são as espécies vegetais a serem plantadas em primeiro
lugar para chegar o mais seguro e rapidamente possível ao estágio desejado.

1. Em função da energia, como são classificados os ecossistemas?


2. Descreva os componentes dos ecossistemas.
3. O que é sucessão ecológica e, quantas conhecemos?
4. Quais são as fases de uma sucessão ecológica?
5. Mostre como o conhecimento das sucessões ecológicas pode lhe ajudar
na recuperação de ambientes degradados.

A resiliência ecológica
Os estudos e pesquisas referentes às mudanças ambientais e à dinâmica
evolutiva tratam das transformações que os sistemas ambientais têm sofrido
ao longo dos últimos séculos. As atividades econômicas e sociais empreendi-
das pelas sociedades ocasionaram repercussões nos sistemas geomorfológi-
cos e hidrológicos e mudanças significativas nos sistemas ambientais. Os efei-
tos mencionados são as chamadas mudanças dos impactos antropogênicos
associadas às mudanças nos componentes ou variáveis climáticas.
A estrutura dos sistemas ambientais normalmente respeita uma orga-
nização cujo funcionamento depende das forças externas que afetam o equi-
líbrio ou a estabilidade a que os ecossistemas estão normalmente ajustados.

126 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA


Diante desse contexto, resiliência poderia ser definida como a capacidade do
ecossistema em manter ou retornar às suas condições originais após um dis-
túrbio provocado por forças naturais ou pela ação humana, ou seja, os impac-
tos antropogênicos.
A resiliência refletiria a persistência das relações internas do sistema, a ca-
pacidade de o sistema voltar às condições originais após ser impactado por forças
externas a ele. O conceito de resiliência é muito importante para os cientistas,
formadores de políticas e tomadores de decisão em razão do manejo dos sistemas
ambientais e em relação à reversibilidade do impacto ambiental ou antropogênico.
Observar e administrar a resiliência ecológica de ecossistemas específicos,
como a Floresta Amazônica, mais que otimizar recursos envolve a compre-
ensão das vulnerabilidades e incertezas que podem ocorrer e que devem in-
formar políticas de desenvolvimento e proporcionar evidências mais seguras
para a tomada de decisão. O conhecimento da resiliência dos ecossistemas
é extremamente importante por focalizar os limiares além dos quais os sis-
temas ecológicos não podem mais se recuperar ou voltar ao estado original,
além de que a readequação dos fatores será em relação a um novo equilíbrio,
que significa a estabilidade rompida, e a impossibilidade de recuperação dos
sistemas naturais.
 Fonte: ARAÚJO, G. F. de. Disponível em:
http://www.consumidor-rs.com.br

Leituras
Livro
• MACHADO, E. L. M.; GONZAGA, A. P. D.; MACEDO, R. L. G.; VEN-
TURIN, N.; GOMES, J. E. Importância da avifauna em programas
de recuperação de áreas degradadas. Revista Científica Eletrôni-
ca de Engenharia Florestal. Ano IV, n.7. 2006.

Filmes
• Recuperação de Nascentes

Sites
• IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (http://www.
ibge.gov.br/)
• ICMBio - Instituto Chico Mendes (http://www.icmbio.gov.br/)
• IPECE - Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará.
(http://www2.ipece.ce.gov.br/)
• MMA - Ministério do Meio Ambiente (http://www.mma.gov.br/)

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 127


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Gráfica e Editora Midiograf, 2001.
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128 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA


Capítulo

7
Biosfera

Objetivos:
• Estudar a biodiversidade, sua origem e conceito.
• Mostrar quais são os motivos que devem induzir-nos a se interessar pela conservação
da biodiversidade.
• Valorizar a biodiversidade em termos econômicos, sociais e ecológicos.
• Considerar aspectos que levam à extinção das espécies.
• Conhecer os avanços mais recentes no contexto do conhecimento da biodiversidade
da caatinga.
Origem e definição
O termo “biodiversidade”, contração da diversidade biológica, foi intro-
duzido, na metade dos anos 80, pelos naturalistas que se inquietavam pela
rápida destruição dos ambientes naturais e de suas espécies. Esse termo
logo foi popularizado, durante a assinatura da convenção sobre a diversida-
de biológica, na época da conferência Rio de Janeiro, em 1992.
Segundo a convenção mencionada, a biodiversidade pode ser definida Biosfera (do grego βίος,
como “a variabilidade dos organismos vivos de qualquer origem, compreen- bíos/vida; e σφαίρα, sfai-
ra/esfera. É o conjunto
dendo entre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossis- de todos os ecossistemas
temas aquáticos e os complexos ecológicos dos quais eles fazem parte. Isso da Terra, incluindo todas
compreende a diversidade nos ambientes das espécies e entre as espécies, as suas interações físicas,
químicas e biológicas. O
bem como aquela dos ecossistemas”. Mais simplesmente, a biodiversidade termo foi introduzido em
está constituída pelo conjunto dos seres vivos, pelo seu material genético e 1875, pelo geólogo austrí-
pelos complexos ecológicos dos quais eles fazem parte. aco Eduard Suess.

Por que se interessar pela biodiversidade?


Motivos econômicos
a) Contribui para o fornecimento de numerosos produtos alimenta-
res, matérias primas para a indústria, medicamentos, materiais de
construções e de uso doméstico.
b) Está na base de toda a produção agrícola, tanto do ponto de vista do Suess, E.
número de espécies utilizadas como das numerosas variedades pa- Fonte: www.wired.com
cientemente selecionadas; ela é indispensável para o melhoramento
dos vegetais e dos animais domésticos.
c) Oferece importantes perspectivas de valorização no domínio das
biotecnologias, mas também dentro do domínio das manipulações
genéticas.
d) Suscita uma atividade econômica ligada ao turismo e à observa-
ção das espécies dentro do seu meio ou ligada à atração das belas
paisagens.

Motivos ecológicos
a) É indispensável para manter os processos de evolução do mundo vivo.
b) Apresenta função dentro da regulação dos grandes equilíbrios fí-
sico-químicos da biosfera, notadamente ao nível da produção e da
reciclagem do carbono e do oxigênio.

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 131


c) Contribui para a fertilidade do solo e sua proteção, bem como para
a regulação do ciclo hidrológico.
d) Absorve e decompõe diversos poluentes orgânicos e participa, por
exemplo, da purificação das águas.

Realizada de 03 a 14 de ju-
nho de 1992, a Conferência Motivos éticos e patrimoniais
das Nações Unidas sobre o
Ambiente e o Desenvolvi- a) Os homens têm o dever moral de não eliminar as outras formas
men-to (também conheci- de vida.
da como Cúpula da Terra,
Eco 92 ou Rio 92) reuniu b) Segundo o princípio de igualdade entre gerações, nós devemos
108 chefes de Estado para transmitir aos nossos filhos a herança que recebemos.
buscar mecanis-mos que
rompessem o abismo de c) Os ecossistemas naturais e suas espécies são verdadeiros laborató-
desenvolvimento entre o
norte e o sul do planeta,
rios para compreender os processos da evolução.
mas preservando os re-
d) A biodiversidade está carregada de normas de valor: aquilo que é
cursos naturais da Terra.
A intenção era introduzir natural, aquilo que é vulnerável, aquilo que é bom para o homem e
a idéia do desenvolvimen- para a sobrevivência da humanidade etc.
to sustentável, um modelo
de crescimento econômico
menos consumista e mais
adequado ao equilíbrio Os genes vs. ecossistemas
ecológico. As bases para
Rio 92 foram lançadas em A biodiversidade refere-se em especial a três níveis interligados da
1972, quando a ONU orga-
nizou sua primeira confe- hierarquia biológica.
rência ambiental. a) A diversidade das espécies: a identificação das espécies e seu
Fonte: www. inventário constituem a maneira mais simples de apreciar a diver-
estadao.com.br
sidade biológica de uma área geográfica. Foi a evolução biológica
que deu forma, no decorrer do tempo, a esta imensa diversidade de
formas e de espécies.
b) A diversidade genética: cada espécie é diferente das outras do
ponto de vista da sua constituição genética (genes, cromossomos).
Da mesma forma, as pesquisas em biologia molecular colocaram
em evidência a existência de uma variabilidade genética entre po-
Fonte: www. pulações isoladas pertencentes a uma mesma espécie, bem como
revistadehistoria.com.br entre indivíduos no seio de uma população. A diversidade genética
é o conjunto da informação genética contida dentro de todos os se-
res vivos, correspondendo à variabilidade dos genes e dos genótipos
entre espécies e no seio de cada espécie.
c) A diversidade ecológica: os ecossistemas estão constituídos pelos
complexos de espécies (ou biocenoses) e seu ambiente físico. Distin-
guimos numerosos tipos de ecossistemas naturais, como as florestas
tropicais, os recifes de coral, os manguezais, as savanas, as tundras
etc., bem como os ecossistemas agrícolas. Cada um destes ecossiste-
mas abriga uma combinação característica de plantas e de animais.
Esses próprios ecossistemas evoluem em função do tempo, sob o
efeito das variações climáticas sazonais ou em longo prazo.

A diversidade biológica é o produto da evolução?


A biodiversidade não é um simples catálogo de genes, espécies ou am-
bientes. Ela deve ser percebida como um conjunto dinâmico e interativo
entre os diferentes níveis da hierarquia biológica. Segundo as teorias atuais

132 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA


da evolução, é graças à existência de uma diversidade genética no seio das
espécies que estas últimas podem se adaptar às mudanças do meio ambien-
te, que sempre marcaram a história da Terra. Reciprocamente, a diversida-
de genética de uma espécie evolui em função do tempo, em resposta a essas
mudanças do meio ambiente, bem como em razão das mutações. O mesmo
ocorre com as comunidades vegetais e animais, que constituem os ecossis- O homem
temas e que respondem por meio de mudanças qualitativas e quantitativas contra a natureza
às flutuações do meio no qual elas vivem. Essa dinâmica dos sistemas bio- “Hoje, são os humanos
que têm de aceitar a res-
lógicos e das condições ecológicas, às quais eles são confrontados, explica a ponsabilidade pelo au-
evolução e diversidade das espécies. mento no índice de extin-
ção de espécies.”
A diversidade biológica é, portanto, uma versão moderna das ciências Por Jane Goodall, Conser-
da evolução, que realiza a síntese entre as aquisições recentes da biologia vacionista.
molecular e da ecologia. A VIDA na Terra é dinâ-
O estudo da genética e da biologia molecular deu origem a uma nova mica e interdependente.
Nós, humanos, somos
indústria muito lucrativa: a biotecnologia. Como o nome indica, ela funde parte intrínseca disso.
a biologia e a tecnologia moderna por meio de técnicas como a engenharia Dependemos de outros
genética. Algumas das novas companhias de biotecnologia se especializam organismos vivos para
obter alimento, remédios,
em agricultura e trabalham, por exemplo, intensamente para patentear se-
o oxigênio que respira-
mentes de alta produtividade, resistentes a doenças, secas e geadas, e que mos e os elementos que
reduzem o uso de substâncias químicas perigosas. Se conseguissem atingir compõem nosso corpo. Ao
essas metas, haveria grandes benefícios. Mas alguns têm dúvidas em rela- longo de um dia normal,
a população humana do
ção às plantações transgênicas. planeta utiliza- se de mais
“Na natureza, a diversidade genética é criada dentro de certos limites”, de 40.000 outras espécies
de organismos vivos. To-
diz o livro Genetic Engineering, Food, and Our Environment (A Engenharia das as espécies da Terra
Genética, os Alimentos e o Nosso Ambiente). “É possível fazer o cruzamento formam uma cadeia bioló-
de uma rosa com outra espécie de rosa, mas não de uma rosa com uma gica complexa, surpreen-
dente e intrincada. Con-
batata... Por outro lado, a engenharia genética envolve transferir genes de tudo, muitos especialistas
uma espécie para outra na tentativa de obter uma peculiaridade ou carac- que estudam essa cadeia
terística desejada. Isso pode significar, por exemplo, pegar o gene que con- complexa chegam à con-
clusão de que ela está sob
trola a produção de uma substância química anticongelante em um peixe ataque. Talvez você já te-
do Ártico (como algumas espécies de linguado) e inseri-lo numa batata ou nha ouvido falar que rino-
morango para torná-lo resistente ao frio. Atualmente, é possível modificar cerontes, tigres, pandas e
baleias estão ameaçadas
a estrutura genética de plantas acrescentando genes tirados de bactérias,
de extinção. Alguns cien-
vírus, insetos, animais e até humanos.” Basicamente, então, a biotecnologia tistas afirmam que 50%
permite que os humanos derrubem as barreiras que separam as espécies. das espécies de plantas e
animais podem desapare-
cer da Terra nos próximos
75 anos. Os pesquisado-
A teoria sintética da evolução res temem que algumas
espécies desapareçam
As mutações genéticas ou as recombinações cromossômicas, produzi- 10.000 vezes mais rápido
das frequentemente, criam uma diversidade genética. O meio ambiente é di- do que aquilo que os cien-
tistas chamam de índice
nâmico, o qual estabelece condições diversas à sobrevivência das espécies, ao natural de extinção. Um
passo que estas devem apresentar características fundamentais para resistir especialista calcula que,
às mudanças ambientais. As espécies menos adaptadas tenderão à extinção. em média, uma espécie
desapareça a cada 10 a
Na base da teoria sintética da evolução está a atitude de levar em con- 20 minutos. Os cientistas
ta o fato de que a simultaneidade das mutações criadoras de variabilidade acham que, no passado
distante, a extinção de es-
e da seleção natural assegura a triagem, em cada geração, dos genótipos pécies era desencadeada
mais aptos a viverem e a se reproduzirem, dentro das condições de um principalmente por cau-
dado ambiente. Esta teoria aparece, então, como uma síntese das teorias sas naturais. Mas, dizem,
a causa principal da crise
darwinistas e mutacionistas. Dentro de um ambiente que se modifica per-
atual é outra. Evidente-
manentemente, os seres vivos são levados a fixar as soluções (psicológicas, mente, as extinções mo-
bioquímicas ou morfológicas) aos problemas colocados pelas mudanças do dernas são causadas pela
ambiente no qual eles vivem, senão desaparecem. ação humana, principal
“espécie exterminadora”.

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 133


Portanto, a grande variedade dos organismos vivos é o resultado da di-
fusão das mutações favoráveis que tiveram lugar após a origem da vida. Os
ajustes permanentes e a busca de compromisso são as respostas adaptativas
do mundo vivo, na busca de um equilíbrio dinâmico com os fatores físicos e
químicos do ambiente. Mas cada ajuste bem sucedido modifica o genótipo e o
fenótipo da espécie. Desta forma, a acumulação dessas modificações conduz
à especiação, ou seja, à formação de espécies novas, diferentes das espécies
ancestrais das quais elas são provenientes. Esta evolução progressiva explica,
igualmente, porque se podem distinguir subgrupos que são qualificados como
raças, troncos, variedades e populações, no seio de uma mesma espécie.

A conservação da natureza e o papel ecológico da diversidade


biológica
A diversidade biológica não se resume às pesquisas sobre o inventário
A Teoria Sintética da e a origem das espécies. Para os partidários da conservação da natureza, a
Evolução ou Neodarwi- maior preocupação, que esteve na origem da elaboração da Convenção do
nismo baseia-se na teo- Rio de Janeiro, sobre a diversidade biológica, foi a de salvar numerosas es-
ria proposta por Charles
Darwin e reconhece como pécies da extinção ou certos ambientes da destruição. Freqüentemente, este
principais fatores evoluti- enfoque, associa um componente ético, mesmo nos seus aspectos filosóficos
vos a mutação, a recom- e religiosos, fixando como princípio que a biodiversidade é uma herança da
binação gênica e a sele-
ção natural. Na verdade,
humanidade e que é nosso dever protegê-la. Assim sendo, algumas nações
o neodarwinismo é uma que hoje são ricas e desenvolvidas têm um alto débito com a humanidade,
complementação da teo- pois, durante o seu desenvolvimento, destruíram grande parte da diversida-
ria de Darwin em relação
às fontes de variabilidade
de em seus territórios e ainda são grandes emissores de poluentes ambien-
das populações, possibi- tais. Esse é um dos aspectos que deve estar na ordem do dia, em todos os
litando a partir de 1910 foros em que se discuta a proteção da biodiversidade, pois a dívida mencio-
com o desenvolvimento da nada é imprescritível, e há que remida.
Genética e o conhecimen-
to do material hereditário Inúmeros cientistas concluem igualmente que a biodiversidade de-
(ácidos nucleicos). sempenha um papel essencial na regulação dos ecossistemas naturais e,
Fonte: www. mais globalmente, da biosfera. Eles se perguntam quais poderiam ser as
biomania.com.br
conseqüências ecológicas de uma redução desta diversidade, especialmente
naquilo que se refere às capacidades dos sistemas biológicos de se adapta-
rem às perturbações, quer sejam de origem natural ou ligadas às atividades
humanas. Essas preocupações relativas ao papel ecológico e funcional da
diversidade biológica, particularmente no nível dos grandes processos de
regulação dos ciclos biogeoquímicos, vêm, freqüentemente, apoiar o enfoque
dos movimentos de conservação da natureza, dando uma dimensão e uma
justificação planetária à necessidade de proteger a diversidade biológica.

Os recursos biológicos
A biodiversidade é, igualmente, um conjunto de recursos biológicos e
genéticos que o homem extrai do ambiente natural ou que soube domesticar
para seu proveito e, do qual, ele continua a extrair segundo as suas necessi-
dades. Sob o termo “recursos biológicos”, são identificados os componentes
da biodiversidade que têm uma utilização direta ou indireta ou potencial
para a humanidade.
Os usos da biodiversidade são muito numerosos e dizem respeito à
vida cotidiana de cada humano, bem como aos diversos aspectos da sua
atividade econômica. Os recursos biológicos constituem o “capital vívido”,
a fonte de muitos produtos alimentares, farmacêuticos. Da mesma forma,

134 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA


é um conjunto de “recursos genéticos” para o melhoramento das espécies
cultivadas que os países detentores poderão valorizar. Foi esta colocação
econômica que esteve no coração das discussões da Conferência do Rio de
Janeiro. A proteção dos ecossistemas e das espécies ameaçadas encontra
outros argumentos de peso, dentro da perspectiva de uma valorização mo-
netária dos recursos naturais. É possível, às vezes, demonstrar que os cus-
tos das medidas de conservação não são proibitivos, levando-se em conta os Bancos de sementes: um
benefícios econômicos esperados. seguro contra a extinção?
Os Jardins Botânicos Re-
ais em Kew, Inglaterra, ini-
ciaram o que afirmam ser
As relações homem-natureza “um dos maiores projetos
internacionais de conser-
Atualmente, a questão do devir da diversidade biológica se coloca de vação já feitos”: o Projeto
maneira insistente, porque o homem destrói e modifica os ambientes natu- Banco de Sementes do Mi-
lênio. Os principais objeti-
rais em um ritmo sem precedente. Se as causas da erosão da biodiversi- vos do projeto são: (1) até
dade residem no desenvolvimento das atividades humanas, consumidoras 2010, coletar e conservar
de espaços e de recursos, é, portanto, exatamente no contexto das relações 10% (mais de 24.000 es-
pécies) da flora do mundo
homem-natureza que é preciso situar as preocupações atuais e buscar as todo, que produz semente,
soluções eventuais. O uso, assim como a conservação da biodiversidade, está e (2) bem antes disso, co-
na origem dos conflitos de interesses do que é preciso gerir. Nessas condições, letar e conservar sementes
o futuro da biodiversidade depende dos modos de desenvolvimento que serão de toda a flora nativa do
Reino Unido. Outros paí-
privilegiados e da evolução dos circuitos econômicos, tanto em nível nacional ses também criaram ban-
quanto em nível internacional. O homem, nas suas escolhas sociais, e dentro cos de sementes, ou ban-
do seu comportamento, frente à natureza e seus recursos, é um elemento cos de genes, como são às
vezes chamados.
chave. É isso que faz a originalidade do conceito atual de biodiversidade em O biólogo John Tuxill de-
relação ao enfoque naturalista anterior. Não existe solução técnica que possa clara que pelo menos 90%
ser contemplada, sem que ela seja desejada e aceita pela sociedade. dos milhões de sementes
armazenados nesses ban-
Alguns avaliam que os conhecimentos e as culturas tradicionais po- cos são de valiosas plantas
dem contribuir para a conservação em longo prazo, da biodiversidade dos alimentícias ou de outras
plantas valorizadas no
ecossistemas. De fato, dentro das numerosas situações, esses conhecimen- mercado, como trigo, ar-
tos são o resultado de uma evolução conjunta, em longo prazo, das socieda- roz, milho, sorgo, batata,
des e de seu ambiente natural, o que permitiu conservar um equilíbrio entre cebola, alho, cana-de-açú-
car, algodão, soja e outras
os dois. Isso conduz a interessar-se pela diversidade cultural, ela também
leguminosas, só para citar
fortemente ameaçada pela globalização dos modelos culturais dominantes. algumas. Mas as semen-
O fato de se abordar a biodiversidade, com mais frequência, sob o as- tes são organismos vivos
que só continuam viáveis
pecto dos ambientes naturais, não deve fazer esquecer que o homem tam- enquanto durarem suas
bém deu forma às paisagens, recorreu a sistemas agrícolas, domesticou e reservas internas de ener-
diversificou numerosas espécies animais e vegetais. Um campo de trigo, de gia. Assim, será que os
bancos de sementes são
milho ou de soja atual, onde quer que esteja, tem uma diversidade genética confiáveis? Naturalmente,
muito pobre, o que condiciona sua eficácia técnica e econômica, mas na a melhor maneira de re-
realidade, é o produto de uma biodiversidade muito grande, se for levado duzir a extinção é proteger
os habitats nativos e rein-
em conta o conjunto do material genético que permitiu atingir a variedade troduzir a diversidade nas
atualmente cultivada. Este é o aspecto que não pode ser perdido de vista. plantações.
Quase 120 chefes de Estado assistiram à Cúpula da Terra, em 1992, Fonte: Revista Despertai,
set. 2001, p. 3-11.
durante a qual foram tomadas algumas medidas para proteger a atmosfera
e os minguantes recursos da Terra. A maioria dos países assinou um tra-
tado sobre o clima, em que concordaram criar um sistema de informações
sobre mudanças nas emissões de carbono, visando tornar inalterável o total
de emissões no futuro próximo. Considerou também maneiras de preservar
a biodiversidade do planeta, a totalidade de espécies de plantas e de ani-
mais. Não se chegou a um acordo sobre a proteção das florestas do mundo,
mas, mesmo assim, a cúpula produziu dois documentos — a “Declaração do
Rio” e “Agenda 21”, com diretrizes sobre como os países podem conseguir o
“desenvolvimento sustentável”.

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 135


Concepção integrada da diversidade biológica
Alguns vêem na biodiversidade um conceito obscuro cuja interpreta-
ção varia consideravelmente segundo os grupos de interesse presentes e dá,
às vezes, lugar à polêmica. Na verdade, os taxonomistas, os geneticistas, os
agrônomos, os biólogos, os protetores da natureza, os economistas, os soci-
A Lei nº 9.985, de 18 de ólogos ou outros, frequentemente, têm uma visão setorial da biodiversidade,
julho de 2000, institui o
Sistema Nacional de Uni-
em razão de suas preocupações disciplinares. De forma muito sistemática,
dades de Conservação da os cientistas privilegiam os inventários e a dimensão ecológica, ao passo
Natureza - SNUC. que os políticos preocupam-se mais com a dimensão econômica, e as orga-
O SNUC tem os seguintes
objetivos:
nizações de conservação da natureza, com a dimensão ética. Esses diferen-
I - contribuir para a manu- tes enfoques não são, na realidade, independentes e perseguem um mesmo
tenção da diversidade bio- objetivo, que é aquele da conservação dos ambientes naturais e das espécies
lógica e dos recursos gené- que eles abrigam, com a adesão e a participação dos homens e para o seu
ticos no território nacional
e nas águas jurisdicionais; benefício em longo prazo. Ao se colocar a questão do impacto de fatores
II - proteger as espécies de origem natural e/ou antrópica sobre a biodiversidade e ao pesquisar os
ameaçadas de extinção no meios a serem implantados para preservá-la, é que se toma posição direta
âmbito regional e nacional;
III - contribuir para a pre- na perspectiva do desenvolvimento durável que esteve no centro dos debates
servação e a restauração da Conferência do Rio de Janeiro.
da diversidade de ecossis-
temas naturais;
A biodiversidade é, portanto, um conceito federativo, faz a medição
IV - promover o desenvolvi- entre os sistemas ecológicos e sociais, a fim de abordar a valorização e a
mento sustentável a partir gestão dos ambientes e dos recursos.
dos recursos naturais;
V - promover a utilização
dos princípios e práticas
de conservação da nature- Mutações e diversidade genética
za no processo de desen-
volvimento; É preciso pesquisar no nível genético as origens da diversidade do
VI - proteger paisagens na-
turais e pouco alteradas de
mundo vivo e do potencial adaptativo das espécies. Com efeito, a vida come-
notável beleza cênica; ça no nível molecular e depende estreitamente das propriedades dos ácidos
VII - proteger as carac- desoxirribonucleicos (DNA) que são moléculas gigantes, constituídas de mi-
terísticas relevantes de
lhões de bases nucleicas. Os cromossomos, constituídos de longas cadeias
natureza geológica, geo-
morfológica, espeleológica, de DNA, são portadores da informação hereditária que é transmitida aos
arqueológica, paleontológi- descendentes, quando da reprodução. Os genes são segmentos de DNA situ-
ca e cultural; ados nos cromossomos e são portadores da informação biológica necessária
VIII - proteger e recupe-
rar recursos hídricos e para a fabricação das proteínas. A estrutura em hélice dupla do DNA permi-
edáficos; te a transmissão dos caracteres hereditários, quando da multiplicação dos
IX - recuperar ou restaurar genes que intervêm no curso da divisão dos cromossomos.
ecossistemas degradados;
X - proporcionar meios e O genótipo é o conjunto do patrimônio genético de um organismo,
incentivos para atividades constituído pela soma de um par de cromossomos de origem paterna e de
de pesquisa científica, es-
tudos e monitoramento
um par de origens materna. Uma bactéria contém ao redor de 1.000 genes,
ambiental; alguns cogumelos, cerca de 10 mil, ao passo que muitas plantas com flores
XI - valorizar econômica e e certos animais possuem ao redor de 400 mil. A maior parte dos mamífe-
socialmente a diversidade
biológica;
ros tem cerca de 100 mil. Recentemente, foi feito o inventário dos genes da
XII - favorecer condições levedura da panificação, Saccharomyces cerevisiae: existem 6.100 genes,
e promover a educação e divididos em 16 cromossomos, o que corresponde a 12 milhões de pares de
interpretação ambiental, bases nucleicas. A função precisa de cerca de um terço desses genes per-
a recreação em contato
com a natureza e o turis- manece desconhecida.
mo ecológico; Os progressos da biologia molecular e da genética colocaram em evi-
XIII - proteger os recur-
sos naturais necessários dência que uma espécie estava composta de indivíduos ligeiramente dife-
à subsistência de popula- rentes uns dos outros, no plano genético. É o resultado de mutações pontu-
ções tradicionais, respei- ais que são os eventos modificadores da estrutura do DNA. Esse gênero de
tando e valorizando seu co-
nhecimento e sua cultura “erro”, que não criou duas cópias estritamente semelhantes da informação
e promovendo-as social e genética existente, intervém quando da replicação do DNA, no momento em
economicamente. que as células se dividem. Assim, as mutações estão na origem das varia-

136 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA


ções de um mesmo gene, também chamadas de alelos, que, em seguida,
são copiados e transmitidos na descendência. A título de exemplo, encon-
tramos, em média, um novo alelo a cada 100 mil indivíduos de uma nova
geração, mas essa cifra é muito variável de um gene para outro e de uma
espécie para outra. Essa mescla dos patrimônios genéticos provoca, perma-
nentemente, uma diversificação genética e a produção de uma multidão de
genótipos variados. Há algumas décadas ape-
nas, pensava-se que a
maioria dos mamíferos
(animais dotados de pêlo,
A seleção natural de sangue quente e que
amamentam) do mun-
A mutação é uma propriedade dos seres vivos, independentemente do do já estava catalogada.
ambiente no qual o organismo está localizado. Certas mutações são letais, Hoje, sabe- se que não,
diz a revista U.S.News &
em curto ou médio prazo, de tal forma que os indivíduos não podem sobre- World Report. “Entre as
viver, nem se reproduzir. Muitas outras mutações não têm efeitos visíveis no edições de 1983 e 1993 da
funcionamento da célula ou do organismo. Por fim, algumas são viáveis e os publicação Mammal Spe-
cies of the World (Espécies
indivíduos portadores desse caráter recém adquirido poderão transmiti-lo de Mamíferos no Mundo),
à sua descendência. acrescentaram-se 459
entradas. Nos últimos
O que opera aqui é a influência do ambiente, no qual vive a espécie. A quatro anos, biólogos des-
mutação terá tanto maior chance de propagar-se, que ela conseguirá uma cobriram outras dezenas
vantagem psicológica ou biológica sobre os indivíduos que a possuam, em — entre roedores, mor-
cegos, cervos, antílopes,
relação aos indivíduos, que são desprovidos dela e que vivem nas mesmas búfalos selvagens e até
condições ecológicas. Dizendo de outra forma, se uma mutação hereditária macacos.” Prediz-se que a
consegue uma vantagem que se traduz por um melhor sucesso na reprodu- lista de 4.600 espécies de
mamíferos hoje reconheci-
ção do grupo que é portador dela, este último terá tendência a se propagar
dos aumentará para perto
dentro da população, eliminando, progressivamente, os indivíduos portado- de 8.000. Alguns “mamí-
res do caractere menos vantajoso. É o princípio da seleção natural: em uma feros são ‘descobertos’ em
população ocupando um ambiente qualquer, a frequência de indivíduos que museus, quando os cien-
tistas examinam melhor
apresentam performances superiores no plano reprodutor, aumenta regu- um espécime coletado
larmente no curso das gerações, após os ajustes sucessivos. Como essas anos atrás”. Além disso,
performances estão controladas pelo genótipo, é a variabilidade genética, “muitas espécies novas
hospedam uma comuni-
portanto, que estará na origem de uma evolução, que se traduz, por um dade de parasitas e outras
lado, na busca permanente de um melhor ajustamento entre o genoma e minúsculas criaturas que
suas manifestações biológicas e, pelo outro, as condições do ambiente no também são desconheci-
dos à ciência’, diz o artigo,
qual a espécie vive. e “1 em cada 3 mamíferos
As mutações são processos aleatórios, a seleção, pelo contrário, é um recém-descritos é um ani-
mal nunca antes visto por
processo adaptativo e oportunista. É por isso que François Jacob, prêmio um cientista”. A maioria
Nobel em 1965, ressaltou que “a evolução é uma sucessão de subterfúgios”. das descobertas está sen-
do feita em florestas tro-
picais e em outras regiões
A noção de espécie isoladas do mundo.

Durante muito tempo, a noção de espécie esteve baseada na descrição


morfológica do tipo (chamado de holótipo), considerado como a referência
para a caracterização da espécie. Uma concepção mais moderna baseia-se
na possibilidade de produzir ou não descendentes fecundos: dois indivíduos
pertencentes a espécies diferentes poderão, eventualmente, reproduzir-se,
mas seus descendentes são estéreis. É o caso da mula, resultado do cruza-
mento do asno com o cavalo.
Na realidade, a noção moderna de espécie é difícil de ser aplicada, já
que é materialmente impossível cruzar a maior parte das espécies selvagens.
Além disso, ela somente se aplica com todo o rigor às espécies de reprodução
bissexual, já que numerosas plantas e animais possuem uma reprodução
partenogênica (fenômeno de reprodução sexuada, na ausência do macho).

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 137


Assim, continua-se a utilizar a descrição morfológica para identificar
as espécies, apelando, se necessário, às ferramentas da biologia molecular,
para verificar se um conjunto de indivíduos tem as mesmas características
externas correspondem, no plano genético, a uma só espécie.
Foi colocada em evidência a existência de complexos de espécies mor-
fologicamente similares, chamadas espécies gêmeas. Para certos grupos,
Segundo o modelo pro- como as bactérias e os vírus, só os critérios genéticos são utilizáveis.
posto por Watson e Cri-
ck, a molécula de DNA
é constituída por duas
cadeias polinucleotídicas A especiação
dispostas em hélice ao
redor de um eixo imaginá- A especiação é o fenômeno que leva à formação de espécies novas
rio, girando para a direi-
ta (uma hélice dupla). As
a partir de uma espécie ancestral. Em geral, é um fenômeno muito lento
duas cadeias polinucleo- que nem sempre é acompanhado por uma diferenciação morfológica. Além
tídicas mantêm-se unidas disso, em longo prazo, a especiação conduz à diferenciação dos grupos ta-
por pontes de hidrogênio,
que se estabelecem entre
xonômicos (gêneros, famílias, etc.). Os trabalhos com os fósseis mostram
pares de bases específi- que todas as espécies aparecem, se desenvolvem e depois desaparecem; ou
cos: adenina com timina e seja, cada espécie tem uma duração de vida limitada. Isto é, numerosas
citosina com guanina. As-
espécies, que existiram sobre a Terra desapareceram. Tomando-se como
sim, as duas cadeias que
constituem um segmento exemplo, os dinossauros.
de DNA, são complemen- Há muito tempo, os mecanismos da especiação suscita o interesse
tares entre si: onde em
uma cadeia existir uma dos cientistas. De maneira geral, um pré-requisito ao processo de especia-
timina, na outra existirá ção parece ser o isolamento das populações que irão, em seguida, evoluir
uma adenina, e onde em de maneira independente. No modo de especiação alopátrico, duas popula-
uma existir uma guanina,
na outra existirá uma ci- ções de uma mesma espécie, isoladas geograficamente durante um lapso de
tosina. tempo suficiente, terminam por se diferenciar suficientemente a ponto de
Fonte: www.biomol.org não mais serem interfecundáveis (Figura 8.2). Mais frequentemente, o iso-
lamento geográfico é conseqüência de processos climáticos ou geológicos ou
de eventos acidentais que terminam na colonização de um ambiente novo
ou isolado (uma ilha, por exemplo). A acumulação de micromutações e a
ação da seleção natural nos diferentes ambientes conduzem, num primeiro
momento, à diferenciação de raças ou ecotipos, ou seja, de subpopulações
geneticamente diferenciadas, mas capazes de interfecundação, se forem
reunidas novamente. Com o tempo, se o isolamento geográfico prossegue,
essas raças geográficas divergem e não são mais interfecundáveis: as duas
subpopulações tornaram-se, agora, duas espécies. Outras teorias conside-
ram que a especiação pode, da mesma forma, ocorrer nas populações que
ocupam um mesmo conjunto geográfico contínuo. Isto é, enfocar-se-á agora
a especiação simpátrica. Esta situação pode ser encontrada entre as espé-
Fonte: GOOGLE, 2011.
cies muito sedentárias, que ocupam um mosaico de habitats específicos,
para as quais as probabilidades de cruzamento são limitadas, em razão do
comportamento da espécie.

138 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA


Saccharomyces cere-
visiae é um organismo
eucariota unicelular que
pertence ao Reino dos
Fungos. A levedura é uti-
lizada na produção de pão
e de cerveja, além de ser
usada para a produção de
etanol.

Fonte: www.microbiolo-
gyonline.org.uk

Figura 8.2 Suponha que a espécie 1 ocorra nas áreas A e B, e que a espécie 2 ocorra nas
áreas B e C. As populações das duas espécies na área B são simpátricas, e a população da
espécie 1 na área A é alopátrica com a espécie 2 na área C. Se as áreas A, B e C todas ti-
verem condições ambientais e habitats semelhantes, e se a competição causa divergência,
esperaríamos que as populações simpátricas das espécies 1 e 2 na área B diferissem mais
umas das outras do que as populações alopátricas daquelas espécies nas áreas A e C. Este
fenômeno é conhecido como deslocamento de caractere. Fonte: RICKLEFS (2005).

Existem outros modos de especiação, cujos mecanismos são bem co-


nhecidos. Admite-se, por exemplo, que a hibridação interespecífica é um
dos principais mecanismos de criação de novidades evolutivas no reino ve-
getal. Também existem as mutações cromossômicas, relativas a porções
dos cromossomos ou aos cromossomos inteiros: as seções dos cromossomos
podem quebrar-se, colocar-se de novo em posição inversa ou intercambiar-
-se entre os cromossomos; os próprios cromossomos podem se fundir ou
se dividir, de tal forma que seu número seja modificado. Um fenômeno co-
nhecido entre as plantas e alguns grupos animais é a poliploidia: o estoque
de cromossomos é duplicado ou triplicado, após anomalias no decorrer da
divisão dos gametas. Essas diversas modificações cromossômicas criam os
isolamentos reprodutivos que levam, às vezes, à aparição de novas espécies.

A seleção natural leva à criação de novas espécies?


Darwin acreditava que aquilo que ele chamou de seleção natural favore-
ceria as formas de vida que melhor se adaptassem ao ambiente, enquanto as
formas de vida menos adaptadas acabariam se extinguindo. Os evolucionistas
modernos ensinam que, ao passo que as espécies se espalharam e se isolaram
a seleção natural escolheu as espécies cujas mutações genéticas as tornaram
mais adaptadas ao novo ambiente. Eles afirmam que, em resultado disso, es-
ses grupos isolados, por fim, evoluíram para espécies totalmente novas.
Conforme observado anteriormente, as provas obtidas pelas pesquisas
científicas indicam fortemente que mutações não podem produzir espécies

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 139


de animais e plantas totalmente novas. Mesmo assim, que provas são dadas
pelos evolucionistas para apoiar sua afirmação de que a seleção natural
escolhe as mutações mais favoráveis para produzir novas espécies? Uma
brochura publicada em 1999 pela Academia Nacional de Ciências (NAS),
nos Estados Unidos, diz: “Um forte exemplo de especiação [a evolução de
novas espécies] envolve as 13 espécies de tentilhões estudadas por Darwin
François Jacob nasceu nas ilhas Galápagos, conhecidos como os tentilhões de Darwin.”
em 17 de junho de 1920
em Nancy, França. É um Nos anos 70, um grupo de pesquisa liderado por Peter e Rosemary
biólogo que, juntamen- Grant começou a estudar esses tentilhões e descobriu que, depois de um
te com Jacques Monod,
originou a idéia de que o
ano de seca, os tentilhões que tinham o bico ligeiramente maior sobrevi-
controle da enzima em to- viam com mais facilidade que os de bico menor. Visto que o tamanho e o
das as células ocorre atra- formato do bico é uma das principais maneiras de classificar as 13 espé-
vés do processo conheci-
cies de tentilhões, essas descobertas foram encaradas como significativas.
do como transcrição. Ele
compartilhou, em 1965, A brochura prossegue: “O casal Grant calculou que, se houvesse uma seca
o Prêmio Nobel de Medici- a cada dez anos nas ilhas, uma nova espécie de tentilhão poderia surgir em
na com Jacques Monod e apenas cerca de 200 anos.”
Lwoff André.
No entanto, a brochura da NAS deixou de mencionar alguns fatos
significativos, mas embaraçosos. Nos anos que se seguiram à seca, os ten-
tilhões com bicos menores voltaram a dominar a população. Assim, Peter
Grant e o universitário Lisle Gibbs escreveram na revista científica Nature,
em 1987, que eles haviam observado “uma inversão da seleção natural”.
Em 1991, Grant escreveu que “a população, sujeita à seleção natural, oscila
entre um tipo de tentilhão e outro” cada vez que o clima muda. Os pes-
quisadores também perceberam que algumas das diferentes “espécies” de
tentilhões estavam cruzando entre si e produzindo descendência que sobre-
vivia melhor do que as suas “espécies” de origem. Peter e Rosemary Grant
concluíram que, se esse cruzamento continuasse, o resultado poderia ser a
fusão de duas “espécies” em apenas uma, dentro de 200 anos.
Jacob, F.
Em 1996, o biólogo evolucionista George Christopher Williams escre-
Fonte: nobelprize.org veu: “Considero lamentável que a teoria da seleção natural tenha sido de-
senvolvida inicialmente para explicar os processos da evolução. Ela é mui-
to mais relevante para explicar a preservação das adaptações.” O teórico
evolucionista Jeffrey Schwartz escreveu, em 1999, que se as conclusões
de Williams estiverem corretas, a seleção natural pode estar ajudando as
espécies a se adaptar às exigências variáveis da existência, mas “não está
criando nada novo”.
De fato, os tentilhões de Darwin não estão se transformando em “nada
novo”. Ainda são tentilhões. E o cruzamento entre eles lança dúvidas so-
Os animais gerados a bre os métodos usados por alguns evolucionistas para definir uma espécie.
partir de cruzamentos Além disso, fica exposto o fato de que mesmo academias científicas de pres-
híbridos são estéreis. Por
exemplo, o cruzamento tígio não estão imunes a apresentar provas de maneira tendenciosa.
de um jumento com uma
égua: filhote macho – bur-
ro; filhote fêmea – égua. O inventário das espécies
Ninguém sabe quantas espécies existem na terra. O inventário das
espécies é o enfoque mais antigo e o mais clássico para caracterizar a di-
versidade biológica de uma região ou de um sistema ecológico.
De maneira geral, é um trabalho de longo alento que está bem longe
de estar terminado, mesmo que numerosos cientistas tenham a isso con-
sagrado suas carreiras, há vários séculos. Havia nove mil espécies inde-
xadas na metade do século XVIII, ao passo que, em nossos dias, existem
cerca de 1,7 milhão. No entanto, segundo estimativas recentes, existiriam

140 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA


entre 7 e 20 milhões de espécies vivas. Certas extrapolações falaram até
mesmo de 100 milhões de espécies. A Tabela 8.1 demonstra a extensão do
que resta para descobrir (estimativa), especialmente nas regiões tropicais
mais ricas em espécies.
Tabela 8.1 Inventários de espécies conhecidas por grandes grupos taxonômicos e avalia-
ção do número potencial de espécies em cada um dos grupos. Fonte: LÉVÊQUE (1997).
N° de espécies
Grupos N° de espécies
recenseadas Holótipo representa o or-
taxonômicos (potencial)
(aprox.) ganismo modelo utilizado
Vírus 4 mil 500 mil? por um taxonomista para
descrevê-lo e classificá-lo
Bactérias 4 mil 1,0 milhão? em um grupo taxonômico.
O holótipo pode ser um
Fungos 72 mil 1 a 2 milhões?
organismo vivo ou um or-
Protozoários 40 mil 200 mil ganismo inanimado (ima-
gem, modelagem, fósseis,
Algas 40 mil 400 mil? outros).
Plantas 270 mil 320 mil
Invertebrados 1,4 milhão ?
Aracnídios 75 mil 750 mil
Crustácios 40 mil 150 mil
Insetos 950 mil 8 milhões
Outros artrop. 125 mil ?
Moluscos 70 mil 200 mil
Outros 135 mil 650 mil
Vertebrados ? ?
Peixes 19 mil 21 mil
Anfíbios 4 200 4 500
Répteis 6 300 6 500
Pássaros 9 000 ― 9 200 9 200
Mamíferos 4 000 ― 4 200 4 200

O grupo dos vertebrados é aquele que está mais bem estudado, bem
como certos grupos (moluscos, orquídeas, borboletas) pelos quais numero-
sos amadores se interessaram. Mas, em relação aos outros grupos, notada-
mente o dos insetos, que tem numerosas espécies, ainda mal explorados,
pode-se esperar também numerosas descobertas. Dessa forma, o número
de espécies de cogumelos poderá situar-se entre 1 e 2 milhões.
A maioria dos sistematas concorda que este quadro é ainda muito
incompleto, com exceção de alguns grupos bem estudados, como os verte-
brados e plantas com flores. Se incluirmos os insetos, de todos os grupos
principais o mais rico em espécies, acredita-se que o número absoluto seja
maior que 8 milhões.
Alguns habitats são muito pouco estudados e explorados, os recifes de
coral, o solo do fundo do mar e o solo das florestas tropicais e savanas são
alguns exemplos. Assim, notavelmente, não sabemos o verdadeiro número
das espécies sobre a Terra, nem mesmo temos um número aproximado de
sua magnitude.
Em anos recentes, biólogos, ecologistas e conservacionistas voltaram
suas atenções para as florestas tropicais, por duas razões principais. Pri-
meiro, embora esses habitats cubram apenas 7% da superfície terrestre,
eles contêm mais da metade das espécies da biota mundial (Tabela 8.2) e o
Brasil ocupa um dos primeiros lugares em riqueza de espécies. Segundo, as

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 141


florestas estão sendo destruídas tão rapidamente que, provavelmente desa-
parecerão dentro do próximo século, levando com elas centenas de milhares
de espécies à extinção. Outros biomas ricos em espécies também estão em
perigo, mais notadamente os recifes tropicais de corais, lagos geologicamen-
te antigo e terras úmidas costeiras, cada qual merecendo atenção especial.
As florestas tropicais, ou mais precisamente, as florestas tropicais fe-
chadas, são definidas como habitats com um topo relativamente fechado e
uma maioria de árvores sempre verdes e de folhas largas, que são sustenta-
A taxonomia consiste em
nomear e descrever os se-
das por um índice pluviométrico anual de 1000 mm ou mais. Tipicamente,
res vivos. Sistemática é o duas ou mais camadas de árvores e arbustos ficam embaixo da cobertura
estudo da diversidade dos superior. Uma vez que pouca luz do sol chega ao solo da floresta, o cresci-
organismos e das relações mento da parte de baixo é esparso e os seres humanos podem andar através
entre os organismos. Ela
tem por objetivo classifi- dela com alguma facilidade.
car as espécies e buscar Apesar de sua extraordinária riqueza, as florestas tropicais estão en-
quais são as filogenias,
ou seja, os graus de pa- tre os mais frágeis dos habitats. Elas crescem nos chamados desertos úmi-
rentesco entre espécies. dos, um solo de base frágil castigado por muita chuva. O equivalente a dois
A classificação consiste terços da área da superfície da floresta consiste de terra tropical vermelha
em reconhecer e definir os
grupos ou taxa (ou seja,
e amarela, que são tipicamente acídicas e pobres em nutrientes. Altas con-
um conjunto de organis- centrações de ferro e alumínio formam compostos insolúveis com o fósforo,
mos que possuem um ca- diminuindo assim a disponibilidade de fósforo para as plantas. O cálcio e o
ráter particular). As bases
foram formalizadas por
potássio são lixiviados no solo, pela chuva, assim que seus compostos são
Carl von Linné, no século separados. Apenas 0,1% dos nutrientes aí existentes, vão além dos 5 cm,
XVIII. abaixo da superfície do solo.
Cada espécie é designada
por um nome científico, Quando o homem começa a explorar o espaço mediante recursos mui-
formado por dois nomes to sofisticados, a informação relativa à descrição e o recenseamento da di-
latinos ou latinizados. O versidade das espécies terrestres são, muito freqüentemente, esparsa e não
primeiro corresponde ao
gênero ao qual pertence existe ainda sistema coordenado que permita facilmente o acesso.
à espécie e o segundo é o Tabela 8.2 Classificação mundial em diversidade (riqueza) total.
nome da espécie. Assim, Fonte: CONSERVATION INTERNATIONAL (2007).
Cyprinus carpio corres-
ponde à espécie carpio (a Plantas
País Mamíferos Aves Répteis Anfíbios
carpa), que pertence ao gê- Superiores
nero Cyprinus ao qual são
Brasil 1 1 3 5 2
ligadas outras espécies.
Colômbia 2 4 1 3 1
Indonésia 3 2 5 4 6
China 4 3 8 7 5
México 5 5 10 2 4
África do Sul 6 14 11 9 15
Venezuela 7 10 6 13 9
Equador 8 13 4 8 3
Peru 9 9 2 12 7
Estados Unidos 10 6 12 16 12
Linné (1707-1778), bo- Papua Nova Guiné 11 15 13 10 10
tânico, zoólogo e médico
Índia 12 8 7 6 8
sueco; foi o criador da
nomenclatura binomial e Austrália 13 12 14 1 11
da classificação científica. Malásia 14 11 5 14 14
Considerado o “pai” da ta-
xonomia moderna. Madagascar 15 17 17 11 13
Fonte: www. Congo (ex Zaire) 16 7 9 14 16
linnaeus.uu.se
Filipinas 17 16 16 7 17

142 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA


Diversidade vs. funcionamento dos ecossistemas
Dentro de um ecossistema, o papel funcional da diversidade biológica
se expressa nos diversos níveis da hierarquia do mundo vivo. A diversidade
intraespecífica repousa na variabilidade genética das populações que per-
tencem a uma mesma espécie. É graças a esta diversidade genética que as
espécies poderão responder às mudanças do meio ambiente, selecionando
os genótipos melhor adaptados às condições do momento.
A diversidade das espécies vista sob o ângulo de suas funções ecoló-
gicas no seio do ecossistema proporciona a existência de uma grande varie-
dade de formas, tamanhos e de características biológicas entre as espécies.
Cada uma dessas espécies, individualmente ou por grupo de espécies que
exerçam as mesmas funções ecológicas, tem uma influência sobre a nature-
za e a importância dos fluxos de matéria e de energia no seio do ecossistema,
devido ao seu papel dentro das redes tróficas. Por exemplo, as interações
entre espécies, consideradas sob o ângulo do mutualismo e das simbioses, Muitos cientistas nota-
constituem igualmente outro aspecto do papel funcional da biodiversidade. ram que, com o passar
do tempo, os descenden-
Assim sendo, vale salientar que os ecossistemas, graças a sua diversidade tes dos seres vivos podem
biológica, têm um papel na regulação dos ciclos geoquímicos (fixação, es- sofrer leves mudanças.
tocagem, transferência e reciclagem do carbono e dos elementos nutritivos Charles Darwin chamou
esse processo de “descen-
etc.), do ciclo de água e influenciam na composição dos gases da atmosfera. dência com modificações
posteriores”. Tais mudan-
ças têm sido observadas
Características dos ecossistemas e riqueza das populações diretamente, registradas
por meio de experiências
científicas e usadas enge-
O número de espécies presentes em um ecossistema é o resultado de nhosamente por criadores
um equilíbrio dinâmico, no qual intervêm numerosos fatores: de plantas e de animais.
Essas mudanças podem
a) As limitações ecológicas de natureza física, química ou biológica.
ser consideradas como
Há muito tempo, os ecologistas estudam as relações entre as ca- fatos. No entanto, os cien-
racterísticas dos meios e a composição das comunidades animais tistas chamam essas le-
e vegetais, tentando estabelecer as correlações entre a presença ou ves mudanças de “micro-
evolução”. Até mesmo o
a abundância de certas espécies e as condições ecológicas ofere- nome sugere o que muitos
cidas pelo ambiente. Esse controle da composição e da estrutura cientistas afirmam — que
das populações, através das características do ambiente, é um dos essas pequenas mudan-
ças fornecem prova de um
principais elementos que estruturam a distribuição e a abundância fenômeno totalmente di-
da diversidade biológica. ferente, um que ninguém
observou e que eles cha-
b) Interações biológicas, que se expressam notadamente no marco das mam de macroevolução.
competições entre espécies (o comportamento predatório, a compe- O ensino da macroevolu-
ção se baseia em três su-
tição pelos recursos alimentícios, a competição pela ocupação do posições principais:
espaço etc.). Esses tipos de interações podem ser observados quan- 1. As mutações suprem
do da introdução de espécies dentro de novos ambientes, provocan- a matéria prima ne-
do a eliminação das espécies autóctones como uma das consequên- cessária para se criar
cias. Essas interações podem corresponder, igualmente, às relações novas espécies.
2. A seleção natural leva
de tipo hospedeiro-parasitas, quando a presença do parasita está
à formação de novas
ligada à presença do hospedeiro. espécies.
c) Os fenômenos históricos, sabendo que a biografia é a ciência que 3. O registro fóssil com-
prova modificações
busca compreender e explicar a história da distribuição das espé- macroevolucionárias
cies, bem como as origens da especiação, à luz das mudanças geo- em plantas e animais.
morfológicas que ocorreram no passado. Esta necessidade de levar
em conta a história dos ambientes, para compreender a composição
atual de sua flora e de sua fauna, é uma aquisição relativamente re-
cente da ecologia. Por um lado, trata-se de compreender, sobretudo,
qual foi a freqüência e a amplitude dos processos de colonização e

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 143


de dispersão que tendem a aumentar a riqueza específica. O modelo
de biogeografia insular, originário dos trabalhos dos americanos
McArthur e Wilson, popularizou a noção do equilíbrio dinâmico da
riqueza em espécies.
d) Da mesma forma, os ecologistas colocaram em evidência a existên-
cia de uma relação entre a riqueza em espécies de um ecossistema
e a sua superfície. Esta relação ar/espécie já foi verificada antes
nas ilhas oceânicas, depois nos habitats continentais, como lagos e
bacias fluviais, maciços montanhosos, ilhotas arborizadas etc., que
estão isoladas umas das outras, da mesma forma que as ilhas oce-
O PLANETA Terra abriga
uma enorme quantidade e ânicas. A relação ar/espécie esteve na origem de numerosos traba-
variedade de organismos lhos para responder às questões levantadas pela fragmentação dos
vivos — talvez incontá- habitats e das suas conseqüências, do ponto de vista da conserva-
veis milhões de espécies.
Muitos deles, que se pro- ção da biodiversidade, dentro das áreas protegidas. Esta fragmen-
liferam no solo, no ar e tação, consequência de uma pressão crescente sobre a ocupação
na água, são pequenos dos solos, se traduz na extinção de certas espécies e uma redução
demais para serem vistos
a olho nu. Por exemplo, da diversidade específica dentro dos pequenos espaços divididos.
constatou-se que apenas
1 grama de terra contém
10 mil espécies de bacté-
rias, sem mencionar todos A diversidade das espécies vs. espécies chave
os micróbios. Algumas es-
pécies foram encontradas As redes tropicais que se estabelecem num ecossistema são proporcio-
até um pouco mais de 3 nalmente mais complexas, conforme o sistema que seja mais rico em espé-
quilômetros abaixo no
solo.
cies. Às vezes, coloca-se a questão de saber se todas as espécies são realmente
O ar também está repleto necessárias para o funcionamento do sistema. Com um objetivo pedagógico,
de vida — e não estamos utiliza-se a seguinte comparação: em um veículo existem os elementos indis-
falando apenas de pássa-
pensáveis para o funcionamento (pistões, carburador etc.) e outros que não
ros, morcegos e insetos.
Dependendo da época do servem mais que melhorar o conforto (amortecedores, retrovisores...), mas
ano, ele também fica cheio que não são essenciais para que o veículo possa rodar. No entanto, não é
de pólen e outros esporos, suficiente ter boas peças, ainda falta que elas sejam corretamente montadas.
bem como de sementes e,
em algumas regiões, de Outros elementos, como buzina ou o estepe, só são úteis em certas circuns-
milhares de tipos de mi- tâncias e outras peças não servem mais do que para decoração. Enfim, certos
cróbios. “Com isso, a di- componentes podem ser substituídos por outros: existem pneus de diferente
versidade de micróbios no
ar equipara-se à encon- natureza, que cumprem, mais ou menos, a mesma função.
trada no solo”, diz a revis- A analogia colocada no parágrafo anterior, que, no entanto, não deve
ta Scientific American.
E que dizer dos oceanos?
ser generalizada, permite compreender que os diferentes componentes de
Eles continuam sendo um um ecossistema podem ter uma importância variável dentro do funciona-
grande mistério, porque mento de tal ecossistema. Por outro lado, os ecologistas abordam às vezes, a
para estudar suas pro-
fundezas é preciso em ge-
questão do rol funcional da diversidade biológica da seguinte maneira: para
ral uma tecnologia muito que serve a existência de numerosas espécies, das quais algumas preen-
cara. Até recifes de coral, chem funções que parecem equivalentes no plano ecológico? Mas, os admi-
que são relativamente
nistradores colocam a questão em outros termos: que proporção de espécies
de fácil acesso e bem es-
tudados, podem abrigar pode-se deixar que desapareçam, sem que o funcionamento do ecossistema
milhões de espécies ainda seja profundamente modificado? Para eles, trata-se de determinar a partir
desconhecidas. de que limite deve intervir imperativamente, a fim de evitar as disfunções.
Se for possível pensar, razoavelmente, que a diminuição do número de es-
pécies comprometerá, no limite, os serviços prestados pelos ecossistemas, é
difícil prever, no entanto, quando e em que nível de redução isso ocorrerá,
tendo em conta a complexidade dos problemas abordados.
Para simplificar o enfoque dessas questões, se é levado a pesquisar as
espécies ou grupos de espécies que parecem desempenhar um papel mais
importante que outras nos ecossistemas. Existem espécies que exercem,
uma influência determinante sobre a estrutura e o funcionamento dos sis-

144 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA


temas biológicos (espécies dominantes ou espécies chave) e cuja perda tra-
ria múltiplas consequências, notadamente sobre a subsistência de outras
espécies? Ou todas as espécies possuem um rol equivalente, ou seja, redun-
dante? É difícil responder a esta questão, em razão da complexidade das
interações que existem entre os diferentes constituintes dos ecossistemas
e, em especial, entre o conjunto das espécies que ocupam o mesmo habitat.
Desse modo se é levado a distinguir alguns grandes grupos, quais sejam:
a) Predadores chave: essas são as espécies cuja presença limita for-
A teoria de biogeografia
temente a presença de outras espécies. Assim, certas espécies de de ilhas foi desenvolvi-
peixes que se alimentam de plâncton, limitam a abundância, até da por MacArthur e Wil-
a própria presença de zooplâncton de grande tamanho, nos lagos. son (1963 e 1967) para
explicar como o número
A desaparição dos grandes predadores, na Europa, teve como con- de espécies numa ilha se
sequências à proliferação de certos destruidores de culturas. Mas mantém aproximadamen-
freqüentemente, a existência de predadores permite a coexistência te constante enquanto a
composição taxonômica
de um grande número de espécies ao controlarem o desenvolvimen-
desse conjunto de espé-
to das espécies invasoras. cies muda ao longo do
tempo. Eles sugeriram
b) Presas chave: que constituem os recursos decisivos nos momentos que os organismos numa
críticos do ciclo anual, ou que garantem a sobrevivência das es- ilha estão em um equilí-
pécies específicas. É o caso igualmente, dos parasitas que devem brio dinâmico, isto é, en-
quanto algumas espécies
poder reencontrar os seus hospedeiros, em certos momentos de seu estão colonizando a ilha,
ciclo biológico. outras estão se extinguin-
do. Segundo esses auto-
c) Modificadores chave: certo número de espécies é capaz de agir di- res, a taxa de colonização
retamente sobre o ambiente e modificá-lo. Dessa forma, os castores, depende da distância en-
tre a ilha e a fonte das es-
ao criarem barragens sobre as margens dos rios, modificam o fun-
pécies potenciais coloni-
cionamento hidrológico do rio. Da mesma forma, calcula-se que o zadoras, logo, ilhas mais
elefante é responsável pelas mudanças espetaculares na vegetação, próximas da fonte pos-
ao transformar as zonas arborizadas em zonas de savanas. suem uma taxa mais alta
de colonização. Já a extin-
d) Mutualistas chave: que são direta ou indiretamente necessários ção depende do tamanho
da ilha, ilhas menores
à manutenção de outras populações associadas. É o caso dos po- possuem taxas mais altas
linizadores, que exercem um papel essencial para muitas plantas de extinção. Propuseram
selvagens ou cultivadas, na medida em que eles asseguram sua fe- que a taxa de coloniza-
ção e a taxa de extinção,
cundação. A presença de polinizadores variados e abundantes que quando consideradas si-
são os insetos, essencialmente, condiciona, geralmente, o volume e multaneamente, fornecem
a qualidade das colheitas de frutas, hortaliças e de oleaginosas. Ou um número previsível de
espécies em equilíbrio,
então, os polinizadores, para cumprirem seu ciclo biológico, neces- mantido ao longo do tem-
sitam também de uma grande diversidade de meios. po e uma taxa de turnover
(troca) das espécies tam-
Outro papel da diversidade biológica, no seio dos ecossistemas, é o bém previsível e mantida
de assegurar a dispersão dos vegetais, através uma grande quantidade de ao longo do tempo.
sistemas de zoocoria. Em certos casos, os grãos são ingeridos, mas não Desde sua proposição ori-
ginal, a teoria já passou
digeridos, para serem arrojado a uma distância mais ou menos importante por algumas transforma-
do seu lugar de origem. Os pássaros, os morcegos e os mamíferos assegu- ções que relacionaram a
ram, dessa forma, uma disseminação indispensável dos grãos para a rege- taxa de colonização tam-
bém com o tamanho da
neração das plantas nos sistemas florestais. Da mesma forma, a dispersão ilha e a taxa de extinção
dos organismos animais é assegurada pelos pássaros ou pelos mamíferos. também com a distân-
Assim, explica-se a colonização de meios aquáticos temporários pelos orga- cia da fonte potencial de
colonizadores, dado que
nismos que são transportados enganchados nas plumas ou nos pêlos. a imigração de indivídu-
os de uma espécie que já
está presente na ilha pode
Diversidade e estabilidade dos ecossistemas retardar a extinção local
da espécie.
Qual é o papel da diversidade biológica na viabilidade dos ecossistemas Fonte: uc.
socioambiental.org
e na sua aptidão para reencontrar um estado de equilíbrio, após perturbações
de origem externa ou interna? Certos ecologistas afirmam que a perda da di-

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 145


versidade biológica pode reduzir a capacidade dos ecossistemas de responder
às perturbações do ambiente. Efetivamente, pode-se pensar de formas intui-
tivas, que os sistemas mais diversificados são mais estáveis que os sistemas
simplificados, na medida em que, a multiplicidade das presas, dos predadores,
e das redes tróficas, permite amortecer as flutuações eventuais. Assim, uma
espécie que explora, potencialmente, um grande número de presas diferentes,
pode manter as populações relativamente estáveis, utilizando alternativamen-
te as diferentes presas, à medida que elas se tornam abundantes. Na realida-
de, não se dispõe de informações suficientes para se avaliar ser ou não esta
hipótese verdadeira. Existe até um debate sobre o papel real da biodiversidade
na estabilidade dos ecossistemas. Com efeito, diversas observações dão resul-
tados contraditórios e a estabilidade pode aumentar ou diminuir com a redu-
ção do número de espécies em um dado sistema. Além disso, os efeitos podem
Elefantes modificam zo- ser diferentes nos ambientes árticos, temperados ou tropicais.
nas arborizadas em zonas
de savanas na África. Ao se darem como objetivo em evidenciar o papel da diversidade bioló-
Fonte: http://animais. gica sobre a estabilidade dos ecossistemas, os ecologistas também se inter-
com.sapo.pt/elefante2.jpg rogam sobre o papel que poderiam jogar as espécies raras que, às vezes, são
numerosas nas populações. Elas são vestígios do passado ou possuem um
rol funcional na dinâmica dos sistemas? Segundo uma hipótese geralmente
admitida, elas podem constituir uma alternativa, uma forma de seguran-
ça, uma vez em que elas possam substituir as espécies abundantes dentro
das populações, se essas últimas vierem a faltar, após uma mudança nas
condições ecológicas. Nesse sentido, as espécies raras são potencialmente
importantes para a sobrevivência das comunidades dentro dos ambientes
flutuantes. Guardada a devida proporção, se poderia pensar que esta diver-
sidade específica é equivalente, em termos funcionais, à diversidade genéti-
ca e permite às populações se adaptarem às mudanças do ambiente.
Uma das aquisições das pesquisas em ecologia foi mostrar que as
perturbações (incêndios, doenças, ataques predatórios, condições tempora-
riamente extremas) contribuem para manter uma grande diversidade bio-
Zoocoria é um sistema lógica, com a condição que não sejam, nem muito importantes, nem muito
de dispersão de grãos que frequentes, pois, impedem o estabelecimento de espécies dominantes, cuja
utiliza os animais como
vetores.
presença excluiria as outras espécies que são piores competidoras.

A diversidade e a produtividade dos ecossistemas


A produtividade dos ecossistemas depende, estritamente, da dispo-
nibilidade de elementos nutritivos que controlam a produção primária na
base das cadeias tróficas. A circulação dos elementos nutritivos ou da ma-
téria viva dentro dos ecossistemas depende, portanto, de numerosos com-
Uma arara alimentando-
ponentes biológicos destes, que irão regular a natureza e a complexidade
se de um fruto, sendo as dos circuitos, bem como a importância dos fluxos. A função das espécies,
sementes dispersas atra- tomadas individualmente é importante para manter o ciclo dos elementos
vés da defecação.
nutritivos, dentro de um ecossistema, mas o mesmo não é verdadeiro em
relação ao número total de espécies. Dessa forma, a bactéria Nitrobacter
assegura sozinha, a função de nitrificação nos solos. Numerosas funções,
como a nitrificação e desnitrificação, a fixação do nitrogênio, a metanogêne-
se, a despoluição, são asseguradas somente pelos microorganismos, sobre
os quais ainda mal conhecemos o papel desempenhado nos processos e na
diversidade biológica.
Para os gestores, é importante conhecer as relações entre a diversidade
biológica, por um lado, e a biomassa ou a produtividade do sistema, por ou-
tro. Os meios pobres em espécies, como os desertos e as tundras, são igual-

146 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA


mente sistemas fracamente produtivos, em comparação com as florestas tro-
picais úmidas, ricas em espécies. Mas, inversamente, as zonas úmidas, ou os
sistemas agrícolas, mostram fortes produtividades biológicas, possuindo um
número pequeno de espécies. Os resultados preliminares obtidos nos meios
aquáticos parecem mostrar, igualmente, que não existe correlação direta en-
tre a riqueza específica, o comprimento das cadeias tróficas e a produtividade
dos meios, estimada pela produção pesqueira, por exemplo. Nitrobacter: bactérias
essenciais no ciclo do
O que ocorre no interior de um ecossistema, se a diversidade biológica azoto, oxidando os nitri-
é reduzida? A teoria ecológica prevê que o empobrecimento da diversidade tos do solo em nitratos.
acarreta uma diminuição dos fluxos de matéria e de energia, mas a demons- Esta ação é chamada de
Nitrificação, fundamen-
tração não foi feita realmente, sabendo que ela é muito difícil e que necessita tal para decompo-sição
de um enfoque experimental. Igualmente encontram-se exemplos no sentido do material orgânico a ser
contrário, tal como no caso do lago Vitória, em que a extrema simplificação utilizado pelos vegetais.
da rede trófica, resultante de quase desaparição de numerosas espécies de
peixes endêmicos, foi acompanhada por um crescimento importante da pro-
dução pesqueira, que teria quintuplicado em uma dezena de anos. Pode ser
concluído, nos níveis atuais dos conhecimentos, que a diversidade biológica
não é um elemento determinante na produtividade dos ecossistemas.

Causas da perda da biodiversidade em florestas tropicais Fonte: genome.jgi-psf.org

A destruição cada vez mais rápida da floresta tropical é uma conse-


quência direta das diferentes formas de utilização (transformação) de áreas
florestais para fins não silvícolas, ou ainda, formas de exploração abusiva
dos recursos naturais que de país para país ou de região para região podem
assumir importância diferente (Figura 8.3). Mas, seja qual for a situação
(local ou motivo), o desmatamento das florestas esta levando os ecossiste-
mas, sobretudo, os tropicais, pela razão óbvia de sua grande diversidade,
a perda de grande parte de sua biodiversidade. Há necessidade de grandes
esforços e apoios para que, nos trópicos, também o significado ecológico de
áreas florestais e naturais seja tido em conta ao nível de processos de deci-
são e formas de comportamento.

Figura 8.3 Efeito do desmatamento na Amazônia. Fonte: www.jm1.com.br

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 147


As florestas tropicais cobrem 8% da superfície do planeta e, segundo es-
timativas, cerca de 50% de toda a madeira em crescimento que existe sobre a
face do planeta está nelas localizadas. Aproximadamente 40% da diversidade
biológica que conhecemos para os ambientes terrestres também aí se encon-
tram. Os impactos sobre as florestas existem desde épocas antigas. Todavia,
as florestas modificam-se em maior intensidade e extensão à medida que as
Metanogênese é a etapa relações econômicas, sociais, culturais e tecnológicas se globalizam.
final no processo global Até o surgimento da agricultura, cerca de 8 mil anos atrás, o efeito
de degradação anaeróbica
de compostos orgânicos do homem sobre as florestas foi muito pequeno. Mas, é importante lembrar
em metano e CO2, efetu- que, mesmo quando as populações humanas eram migratórias, em razão
ada pelas Archaebactérias das necessidades de caça e coleta, já ocorriam pequenos desmatamentos
metanogênicas.
em forma de clareiras (diz-se dos espaços sem árvores, ou quase, em mata
ou bosque), ocasionados pelas queimadas (Figura 8.4).

A perca do Nilo (Lates ni-


loticus) foi introduzida no
Lago Vitória, para aumen-
tar o abastecimento de
peixe local, a dieta bási-
ca da população nativa,
e desenvolver o comércio Figura 8.4 Visão de uma queimada. Fonte: GOOGLE (2011).
pesqueiro regional. Tal
espécie causou desequilí- A primeira mudança significativa no impacto humano sobre as flores-
brio biológico, pois o pei-
xe além de ser predador,
tas se deu com a expansão da agricultura e a simplificação do ecossistema
desenvol-veu-se tanto que para o cultivo de poucas espécies. As florestas, de modo geral, deram lugar
chegou a atingir ± 1,5 a 2 à agricultura tornando-se sempre alvo de desmatamentos ocasionando de
m de comprimento. Como
uma maneira ou de outra, distúrbios nos ecossistemas (Figura 8.5).
conse-quência, aproxima-
damente 250 das 500 es-
pécies nativas de Ciclíde-
os foram dizima-das.
Fonte: GOOGLE, 2011.

148 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA


Figura 8.5 Distúrbios ecológicos causados pelo desmatamento.
Fonte: BONILLA; PORTO (2001).

O desmatamento de florestas tropicais e a perda da biodiversidade são


temas complexos (Figura 8.6). Compreender e analisar suas múltiplas cau-
sas requer uma visão de conjunto da rede de casualidades, com a multifária
interconexão, entre os fatos.

Figura 8.6 Registro da perda de biodiversidade desde 1600 até o ano 2000: a) no mar e
ilhas oceânicas; b) nas mais importantes regiões geográficas; c) em invertebrados e d) em
vertebrados (Fonte: SMITH et al. 1993).

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 149


A Figura 8.7, por exemplo, procura demonstrar a relação que existe
entre o desmatamento e o insucesso das culturas. Quando as causas atu-
am em rede, qualquer ação no seu interior pode afetar outros pontos e in-
terconexões. As quatro causas imediatas são: diminuição da fertilidade do
solo, infestação permanente de plantas invasoras, rápida proliferação das
pragas e crescente deterioração do microclima.

Figura 8.7 Relação entre o desmatamento e o insucesso das culturas.


Fonte: BONILLA; PORTO (2001).

Quando é aberta uma clareira na floresta, a fertilidade do solo entra


em declínio, a qual se vai acelerando na medida em que decresce o volume
total de transpiração. Quanto menor a quantidade de água pura, liberada
pela transpiração dos vegetais, maior será o volume de água contendo subs-
tancias nutritivas que se escoa para os rios. Subsequentemente, os raios do
sol, atingindo um solo até então protegido pelas copas das árvores, fazem
secar e oxidar os detritos e o húmus, primeiro acelerando a decomposi-
ção, em seguida destruindo os microorganismos, para no final, interromper
grande parte dos processos vitais. Com isso fica reduzido o fluxo das subs-
tâncias nutrientes que vão dos detritos para as raízes.
As chuvas precipitando-se em clareira mais ou menos aberta, carreiam
para os cursos de água, certas substâncias nutritivas que talvez constituam
o único sustento de algumas partes do ecossistema. Ademais, com a retirada
da cobertura florestal, a superfície do solo fica exposta à ação da chuva (agora
as gotas chocam-se diretamente com a superfície do solo, desagregando-o) e
dos raios solares, e com isto o circuito vital é rompido.

150 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA


Estimativas a nível mundial chegaram à conclusão que, na maioria
dos casos, a destruição das florestas se deve:
a) Em 60% das ocorrências, às queimadas, levadas a cabo por agricul-
tores (população local e colonos vindos de outras partes).
b) Em 30% dos casos, a projetos agropecuários (sobretudo) e de de-
senvolvimento em grande escala (projetos de assentamento e colo-
nização, represas, grandes plantações de cultivo industrializado,
pastagens, projetos industriais etc.).
c) Os 10% restantes, às formas inadequadas de extração de madeiras.
A despeito de representar, a menor cifra (10%,), a extração de madeira
merece um cuidado especial e uma abordagem em destaque. Assim o é, por A Unha-do-cão (Cryptos-
constituir uma forma insidiosa de degradação. Isto é, o madeireiro (pessoa tegia madagascariensis) é
uma planta invasora ori-
física) ou a madeireira (empresa), adentra na mata e colhe espécimes no- ginária da ilha de Mada-
bres. Em uma situação como esta o dano pode passar despercebido, mas gascara na Africa. Foi in-
a tendência geral é de empobrecimento, uma vez que as espécies colhidas troduzida no Nordeste do
Brasil e hoje está compro-
restam com uma probabilidade muito baixa ou nula de se restabelecerem. metendo os bosques nati-
A mata remanescente impede, por sombreamento, o desenvolvimento das vos da Carnaúba (Coper-
plantinhas jovens das espécies removidas. Há formas de se fazer a explora- nicia prunifera), palmeira
nativa, da qual dependem
ção e aproveitamento dos espécimes nobres antes mencionados, mas a sua
cerca de 40 mil famílias,
descrição foge ao escopo deste livro. Contudo, é de todo importante que a só no estado do Ceará.
legislação florestal leve isto em consideração com o devido rigor. Fonte: OHB, 2010.
As queimadas têm por efeito concentrar as substâncias nutritivas
existentes nas madeiras e folhagens, tornando-as solúveis e depositando-as
sob forma de cinza na superfície do solo. Dois elementos essenciais, o nitro-
gênio e o enxofre se volatilizam com a ação do fogo e se perdem. Juntamente
com outras substâncias nutrientes que evolam com a fumaça e a poeira, o
nitrogênio e o enxofre são levados para longe daquele determinado pedaço
de terra, embora novamente, possam tornar-se úteis se recaírem ao solo
em outra parte. A maioria dos elementos nutritivos carreados para os rios
torna-se irremediavelmente perdidos para o ecossistema da floresta.
A primeira queima libera a maior parte dos elementos nutritivos ar-
mazenados, diminuindo bastante a sua quantidade nos anos subsequentes,
uma vez que, os nutrientes que não forem aproveitados pelas plantas são
prontamente lavados pelas primeiras chuvas, que extraem os seus últimos
vestígios do folhedo ou serrapilheira (camada de folhas, galhos etc., de mis-
tura com terra, que cobre o solo da mata) e do húmus, os quais, a partir daí,
ficam totalmente expostos aos rigores do tempo, restando pouca fertilidade
residual no trecho desmatado.
Os desmatamentos e queimadas exterminam muitos animais, tanto
diretamente como indiretamente, ao destruírem seus habitats.
O fogo destrói inevitavelmente a rica fauna do solo da floresta, e o
aumento da luminosidade, juntamente com a áspera secura do ambiente,
é prejudicial a uma enorme variedade de bichos da floresta. É de máxima
importância o papel representado pelos animais, principalmente os inver-
tebrados que vivem na serrapilheira e nas camadas superficiais do solo,
no que se refere à ciclagem de nutrientes para as plantas e para a manu-
tenção da fertilidade.
O efeito mais desastroso trazido pelo rompimento do equilíbrio da
fauna é a proliferação anormal de certas espécies animais, por falta de
controle biológico. Com os predadores mortos ou afugentados, os insetos
fitófagos aumentam rapidamente, principalmente se encontram a sua dis-

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 151


posição os brotos tenros das plantas. Esses insetos são geralmente nu-
merosos nos vários níveis do dossel das árvores, mas sua proliferação é
mantida sob controle, por seus inimigos naturais, representados em sua
maior parte por morcegos, pássaros, anfíbios, répteis e insetos entomó-
fagos. Com o desaparecimento de seus maiores predadores, e devido à
rapidez dos seus ciclos de desenvolvimento, esses insetos se propagam
espantosamente em curto lapso de tempo.
Em muitos casos, e no devido tempo, as plantas invasoras ou exó-
ticas, se encarregam de apressar o empobrecimento do solo, fazendo com
Espécies exóticas
Quando o homem intro- que o trecho cultivado seja abandonado em prazo mais curto ainda. Es-
duz uma espécie exótica sas plantas são altamente especializadas em explorar condições fortuitas e
num ecossistema, ela tal- transitórias, e seus mecanismos de disseminação são tão eficientes que as
vez ocupe nichos ecológi-
cos que eram ocupados suas sementes já se encontram no local antes de ser aberta a clareira, ou
por outras espécies. Às aparecem logo depois. Seu crescimento é às vezes mais rápido do que o das
vezes, a espécie exótica plantas cultivadas, e seu ciclo de vida mais breve. Essas plantas não des-
indiretamente muda tanto
o ecossistema que supera viam grandes quantidades de energia e de recursos para a manufatura de
espécies nativas, ou então reservas alimentares, como ocorre nas plantas cultivadas. Sua especialida-
traz doenças contra as de é a reprodução precoce, produzindo em pouco tempo, vastas quantidades
quais as espécies nativas
não têm defesa imunológi-
de sementes. Do ponto de vista da nutrição, muitas plantas invasoras são
ca. Em especial em ilhas, oligotróficas e conseguem desenvolver-se em solo de baixa fertilidade, tendo
onde as espécies ficaram menos a oferecer aos fitófagos, em matéria de alimento. Outras são dota-
isoladas por muito tempo
e não tiveram de dispu-
das de estratégicos recursos nutricionais, como, por exemplo, a fixação do
tar o espaço com recém nitrogênio, por meio das micorrizas (diz-se da associação simbiôntica entre
chegados, os habitantes raízes de uma planta superior e micélio de um fungo especializado, com
originais talvez sejam in-
benefícios para ambos os organismos), e dessa maneira se tornam menos
capazes de se adaptar e
sobreviver. Um exemplo dependentes da fertilidade do solo do que as plantas cultivadas.
típico é uma alga “assas- Os instrumentos mecânicos de aço tornam possível ao agricultor abrir
sina”, a Caulerpa taxifolia,
que está acabando com clareiras muitos maiores do que seria necessário para manter sua família.
outras espécies marinhas Uma vez que o desmatamento destrói os habitats dos animais e afugenta
no mar Mediterrâneo. In- os predadores, os roedores proliferam livremente, causando prejuízos às
troduzida acidentalmente
ao largo da costa de Mô- colheitas e às propriedades e ao mesmo tempo fornecendo mais alimento
naco, ela já começou a se aos insetos hematófagos. O afastamento das aves contribui também para
espalhar pelo leito oceâni- aumento dos insetos (Figura 8.8).
co. É tóxica e não tem pre-
dadores conhecidos. As agressões e sulcos das rodas dos veículos nas estradas, além das
valetas de drenagem ao longo delas, constituem locais ideais de procriação
de insetos. O lixo doméstico, as latas e cascas de coco também servem para
isso, enquanto que as próprias habitações oferecem ótimas oportunidades
para a proliferação de vermes. Os homens, gatos, cães, galinhas, pássaros
engaiolados e o gado são as suas vítimas. Isso leva a habitual observação
dos que viajam pelos trópicos, segundo a qual a floresta virgem é relati-
vamente livre de insetos pestilentos e pragas, ao passo que as habitações
Caulerpa taxifolia.
Fonte: GOOGLE, 2011.
humanas são comumente infestadas por eles.

152 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA


O Pacu (Piaractus mesopo-
tamicus) peixe comum nos
rios da bacia amazônica.
É uma espécie onívora
com tendência a herbivo-
ria; alimenta-se de frutos/
sementes, folhas, algas e,
mais raramente, de pei-
xes, crustáceos e molus-
cos. É comum capturá-lo
debaixo de árvores quan-
do os frutos/sementes
caem na água. Fica nos
rios durante a época seca
e entra nos lagos/lagoas e
matas inundadas durante
Figura 8.8 Relação entre ambiente e doenças. Fonte: BONILLA; PORTO (2001). as cheias. É considerado
peixe bastante esportivo,
Uma pesquisa realizada na década dos 70 na Região Amazônica sobre principalmente o pacu
do Pantanal, além de ser
as principais doenças transmissíveis revelou que doenças como a tubercu- muito importante comer-
lose, lepra e as de origem venérea costumam ocorrer na região, mas não se cialmente.
supõe que sua iniciativa venha a aumentar criticamente devido às rodovias. Fonte: GOOGLE, 2011.
A malária é endêmica em toda a região e parece intensificar-se com o au- Eutrofização (ou eutro-
mento da presença humana. Os pássaros e os morcegos, predadores natu- ficação): é um processo
rais dos mosquitos, tendem a se retirar com a presença do homem, ao passo normalmente de origem
antrópica ou raramente
que os insetos e seus locais de proliferação aumentam dramaticamente.
de ordem natural, tendo
Um dos maiores empecilhos para a disseminação da esquistossomose como princípio básico a
na Amazônia era constituído pelas condições limnológicas adversas das gradativa concentração de
matéria orgânica acumu-
águas dos rios da região, quase todas ácidas e oligotróficas. O foco de es- lada nos ambientes aquá-
quistossomíase mais conhecido na área é de Fordlândia, onde no ano de ticos.
1953 verificou-se que a água era quase neutra, o que levou a concluir que Entre os fatores impac-
tantes, contribuindo com
havia pouca possibilidade de disseminação da doença. a crescente taxa de po-
Essa situação, entretanto, já não existe mais, uma vez que os colonos luição neste ecossistema,
estão: os dejetos domés-
se vêem incentivados pelo INCRA, em toda a Amazônia, a colocar calcário, ticos (esgoto), fertilizan-
e também fertilizantes em suas culturas. As chuvas pesadas logo carreiam tes agrícolas e efluentes
essas substâncias para os poços criados pelas rodovias e as valetas de industriais, diretamente
despejados ou percolados
drenagem, acelerando a eutrofização e elevando o seu pH. À medida que em direção aos cursos
cresce a população nas colônias agrícolas, seus moradores vão criando, de hídricos (rios e lagos, por
um modo geral, condições propícias ao aparecimento dos caramujos vetores exemplo).
da doença, ao ponto que, na atualidade muitos moradores das margens das
rodovias já se acham infectados pelo mal.

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 153


O muito conhecido pardal doméstico (Passer domesticus) espalhou-se
pela rodovia Belém-Brasília numa extensão de 1.500 km e já alcançou Ma-
rabá. Esses prolíficos pássaros já se acham implicados na propagação dos
vetores da doença de Chagas na região Norte.
A raposa Cerdocyon tende a aumentar de número onde há a presença
do homem e já está sendo também responsabilizada pela disseminação da
leishmaniose.
As verminoses, causadas por parasitas fecais e orais em geral, acham-
-se associadas a condições primitivas de vida e a falta de higiene, caracte-
rísticas em toda a Amazônia, sendo, portanto comuns em toda a região. A
estrongiloidíase e a amebíase são igualmente comuns. Todas essas doenças
mostram-se mais exacerbadas em pessoas debilitadas ou mal nutridas.
Nas regiões que são cortadas por rodovias na Amazônia, há presu-
mivelmente muitas doenças ainda não registradas ou pouco conhecidas,
particularmente micoses e viroses. A febre hemorrágica, por exemplo, que
ocorre em Roraima e na região compreendida entre os rios Purus e Juruá,
pode ser uma hepatite, altamente letal, mas de etiologia completamente
desconhecida, sendo tidas como suspeitas até mesmo as plantas usadas
pelos indígenas para atordoar peixes.
Muito se tem debatido em torno dessas questões. Dentro das desigual-
dades sociais e das dificuldades estruturais, as políticas de planejamento
ambiental, podem ser uma ferramenta para governos e sociedades começa-
rem a resolver seus problemas ambientais. O planejamento ambiental deve
cumprir metas sociais, ser democrático, justo e indiscriminatório e, do pon-
to de vista técnico, carece partir de problemas locais e regionais.
O valor da fauna amazônica é incalculável, devido às propriedades e
hábitos que os animais possuem, embora a maior parte dessas qualidades
seja ainda desconhecida. Por exemplo, provavelmente existe na Amazônia um
animal capaz de manter sob controle o aguapé (Eichhornia crassipes), que
atualmente causa enormes prejuízos financeiros em várias regiões do mundo.
A fundamental importância dos animais nas florestas está no papel
que eles representam dentro do ecossistema. A vegetação e a fauna cria-
ram um mutualismo inseparável; uma não pode existir sem a outra. Essa
dependência mútua é essencial para o equilíbrio das florestas. Algumas
árvores, por exemplo, na Amazônia, são protegidas pelos animais, e se não
fosse isso seriam rapidamente exterminadas pelas pragas. Além do mais, a
fauna é essencial para a manutenção dos ciclos de nutrição, tão precário no
ecossistema amazônico quanto no da Mata Atlântica brasileira.
É possível encontrar mais espécies de peixes num lago amazônico me-
nor do que uma quadra de tênis do que em todos os rios da Europa juntos.
O Amazonas possui a fauna ictiológica mais rica do mundo, provavel-
mente mais de 3.500 espécies. Ao passo que, a que mais se aproxima disso,
a do Rio Congo, conta com cerca de 1.000 espécies de peixes. E no Rio Mis-
sissipi só é possível observar 250 espécies.
O desmatamento (Figura 8.9) irá inevitavelmente diminuir a quanti-
dade de alimentos para os peixes. A pesca irá a aumentar drasticamente
com a elevação da densidade populacional, mas se ficar restrita ao uso de
anzóis, redes de malha, estupefacientes vegetais e arpão não irá, provavel-
mente, causar danos à fauna ictiológica.

154 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA


Figura 8.9 Mudanças na floresta e suas repercussões sobre os peixes.
Fonte: BONILLA; PORTO (2001).

Os peixes desempenham um papel primordial no ecossistema amazô-


nico, por exemplo, e reside nisso a sua grande importância. Para a sua sub-
sistência eles dependem, em última instância, de dois elementos: matéria ve-
getal, tais como folhas e frutos que caem no rio, e; substâncias nutrientes do
solo, principalmente as provenientes da erosão andina, trazidas pela água. Crescimento da população
humana. Em meados do
Nos locais onde os elementos nutritivos e a luz são abundantes, século 19, a família hu-
a fotossíntese combina esses fatores para manter o desenvolvimento do mana tinha uma popula-
ção de um bilhão. Um sé-
plâncton e algas, fornecendo uma base permanente para o sustento de culo e meio depois e tendo
grandes quantidades de peixes. Isso ocorre, até certo grau, na maior par- a população da Terra al-
te dos rios da Amazônia. cançado os seis bilhões,
os humanos começam a
Os cursos de água no interior da floresta ativam o crescimento de uma se perguntar se não vão
exuberante vegetação ciliar, a qual é beneficiada por substâncias nutrientes acabar ultrapassando os
fornecidas pela água e por maior quantidade de luz solar. Essa vegetação é limites de seus recursos.
Cada ano, à medida que
uma verdadeira fábrica de elementos nutritivos sob a forma de folhas, flores a população humana con-
e frutos, que se acumulam no solo ou são varridos para a água. Esse pro- tinua a crescer, espécies
cesso ajuda a sustentar um grande número de peixes. se extinguem a um ritmo
alarmante.
Muitos insetos passam parte de seu período de vida na água, forne-
cendo uma rica fonte de alimentos para os peixes. Moluscos, crustáceos e
outros artrópodes, bem como anelídeos, nematoides e platelmintos são en-
contrados em grande quantidade nas águas dos rios da Amazônia e outros
rios das regiões tropicais e propiciam uma enorme variedade de alimentos
para a fauna ictiológica. A maior parte desses alimentos se localiza no fun-
do dos rios, sob a forma de lodo orgânico, ou em árvores submersas.
Há evidências marcantes que demonstram ser baixa a produtividade
dos rios amazônicos, mesmo nas partes mais férteis da bacia. Já ficou pro-
vado que a enorme biomassa de peixes e invertebrados depende, para sua
subsistência, das matérias orgânicas e nutrientes trazidas da floresta pelas
enchentes. O extermínio da floresta irá diminuir esse suprimento.

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 155


Importância ecológica da cobertura vegetal na conservação
da biodiversidade
Está provado cientificamente que a cobertura vegetal tem efeitos múl-
tiplos no clima da região, no papel regulador das chuvas e no impedimento
da erosão e assoreamento dos rios.
Neste contexto, as florestas implantadas ou em regime de preservação,
contribuem para a saúde do planeta ou de qualquer ecossistema terrestre,
quando colabora para a existência de um ambiente produtivo (pelo menos
nas atividades agrícolas).
As florestas estrategicamente preservadas e/ou implantadas consti-
Ameaça de tuem uma barreira, ou um filtro, que atenua os efeitos traumatizantes,
aquecimento global
É outra causa de perda de estressantes e contaminantes dos ventos e das águas. A floresta ainda har-
biodiversidade. Segundo o moniza ciclos biológicos, à medida que, aumenta a diversidade biológica
Painel Intergovernamen- e estimula as relações entre seres vivos, minimizando o aparecimento de
tal sobre Mudanças Cli-
máticas, é possível que a
pragas e doenças. Ela também corrige desequilíbrios biológicos através das
temperatura suba 3,5 °C plantas fitossanitárias, ou seja, que servirão como remédios para algumas
durante este século. Esse pragas e doenças de outras plantas.
aumento talvez ocorra tão
rápido que algumas espé- Além disso, a cobertura vegetal tem especial influência no controle e
cies não sobreviverão. Se- manutenção do equilíbrio ecológico de um ecossistema quando atua:
gundo os pesquisadores,
parece que um fator que a) No controle de enchentes, pela quantidade e sequência do rendi-
contribui para a morte mento da água pelas pedras de interrupção, evitando o assorea-
dos recifes de coral (que mento de rios, lagos e estuários.
abrigam boa parte da bio-
diversidade marinha) é o b) Indicadora biológica de processos de alterações dos ecossistemas.
aquecimento da água.
Os cientistas afirmam que c) Na manutenção da umidade relativa do ar e na regularidade das
o aumento de um metro
precipitações atmosféricas, visto que atuam como elemento mul-
no nível do mar elimi-
naria uma grande parte tiplicador, acelerador e facilitador na transferência da umidade do
dos mangues costeiros solo para a atmosfera.
no mundo, que abrigam
uma enorme biodiversi- d) Na preservação da fauna nativa e do ecossistema natural, já que
dade. Alguns acreditam mantém as condições essenciais à alimentação e proteção das áre-
que o aquecimento global
está afetando as calotas
as e dos outros animais.
glaciais da Groenlândia e
da Antártida. Se elas der-
e) Na amenização da temperatura ambiente e no combate à poluição,
retessem, causariam uma uma vez que absorve CO2 e libera O2 através da fotossíntese. Por ou-
catástrofe ambiental. tro lado, as árvores filtram as partículas de poeira no ar e refletem
para cima a poluição sonora.
f) Como transformador do escoamento superficial em escoamento sub-
terrâneo, interceptando parte da precipitação, evitando com isso os
sérios processos erosivos do solo, tornando-os mais porosos e, me-
diante seu sistema radicular, ajuda na fixação do mesmo.
Ainda dos benefícios acima citados, podemos obter benefícios indi-
retos quando utilizamos a cobertura vegetal de forma equilibrada e bem
planejada. Dentro destes benefícios, além da função decorativa, podemos
ressaltar que as árvores:
a) diminuem a poluição sonora;
b) oferecem sombreamento pela absorção dos raios solares;
c) oferecem proteção contra os ventos;
d) são meios de lazer;

156 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA


e) sua presença em praças e parques em geral tem ação sobre o bem-
estar físico e psíquico do homem;
f) purificam o ar através do fornecimento do O2 e neutralização do
excesso de CO2 resultante da combustão que exerce efeitos noci-
vos à vida humana.
Esses fatores são essenciais ao equilíbrio ecológico de qualquer região,
sendo também importantes para a sociedade, quando ajudam a manter o
equilíbrio em benefício das gerações futuras. Neste sentido, foram identifi-
cadas áreas críticas para conservação da biodiversidade (Figura 8.9). Nor-
man Myer, da Universidade Oxford, e seus colegas identificaram 25 pontos
críticos de biodiversidade em todo o mundo que merecem atenção especial.
Karl Friedrich Philipp
von Martius (1794- 1868)
nasceu em Erlangen, na
Baviera (Alemanha). O
interesse por botânica
surgiu no fim da facul-
dade de medicina. Tanto
que defendeu sua tese de
doutorado nessa área e
participou de um curso de
aperfeiçoamento da Real
Academia de Ciências de
Munique, na Alemanha.
Sua paixão por botânica
também se revela na de-
terminação de pesquisar
a flora do Brasil em uma
viagem recheada de difi-
culdades. As províncias de
Rio de Janeiro, São Pau-
lo, Minas Gerais, Bahia,
Figura 8.9 Vinte e cinco pontos críticos de biodiversidade foram identificados em todo o Maranhão, Pernambuco,
mundo. Estas áreas estão recebendo esforços especiais de conservação. Piauí, Pará e Amazonas
Fonte: RICKLEFS (2003). foram percorridas na
maior parte do tempo em
lombos de burros ou em
As fronteiras destes pontos críticos correspondem às fronteiras das canoas, com auxílio de
grandes regiões biogeográficas. Para se qualificar como ponto crítico, uma tropeiros e guias nativos.
região deve ter um alto nível de endemismo.

Biodiversidade da caatinga
Os primeiros estudos sobre a biodiversidade no semiárido nordestino
remontam-se à viagens feitas por George Marcgraf, que em 1638 visita pela
primeira vez o Nordeste do Brasil, durante a ocupação holandesa no Recife.
Este naturalista holandês de ascendência alemã colheu os primeiros dados
sobre flora e fauna brasileiras, direcionadas à Mata Atlântica. Posterior- von Martius, K. F. P.
mente o Príncipe Maximilian von Wied (1815 -1817) fez sua primeira visita Fonte: http://
pelo Semiárido, viajou pela costa da Bahia e também no interior, incluindo florabrasiliensis.
cria.org.br/info?history
Vitória da Conquista e Jequié, colhendo, amostras de plantas, registrando
as paisagens e costumes da população.
Em 1817, chegava ao Brasil uma missão austríaca que trazia a arqui-
duquesa Leopoldina para se casar com Dom Pedro I. Nessa expedição, vie-
ram também diversos cientistas e artistas europeus, entre eles o jovem bo-
tânico alemão de 23 anos Karl Friedrich Philipp von Martius. Seu trabalho
durante a viagem renderia a obra Flora brasiliensis, que levou 66 anos para
ser concluída e é ainda hoje o mais completo e abrangente levantamento da
flora nacional, com 22.767 espécies catalogadas.

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 157


Durante cerca de três anos, von Martius percorreu, ao lado do zoólogo
alemão Johann Baptiste von Spix (1781-1826), aproximadamente dez mil
quilômetros pelo interior do Brasil, recolhendo informações sobre a flora e
a sociedade brasileiras. Em 1820, voltaram à Alemanha, onde começaram
um esforço de catalogação e publicação do material aqui recolhido.
Esse trabalho resultou na obra Reise in Brasilien (Viagem pelo Brasil),
concluída pelos cientistas em 1831, além da Flora Brasiliensis, conduzida
por von Martius até sua morte, em 1868, e continuada por outros 65 cien-
tistas até a publicação, em 1906. “A Flora Brasiliensis ainda é a maior obra
de flora já feita no mundo, com o maior número de espécies e gêneros des-
critos”. Em seus 15 volumes, subdivididos em 40 partes, estão catalogadas
A coleção Flora Brasilien-
sis é uma obra prima no todas as espécies vegetais brasileiras conhecidas na época.
estudo da biodiversidade A pesar desse começo, ter sido bastante animador, o Bioma Caatinga,
florística do Brasil e da
Caatinga. Fonte: Imagem
entre os biomas brasileiros é hoje um dos menos estudados; mas revela-se
de Rodrigo Carvalho. muito mais rico em espécies exclusivas de plantas e animais, como peixes,
lagartos, aves e mamíferos, do que se imaginava. Conforme salientado pela
Profa. Verônica Sampaio (pesquisadora da FAPESP) e também como regis-
tra o livro Ecologia e Conservação da Caatinga, desfaz de uma vez por todas
a noção de que esse ecossistema é homogêneo, pobre e desinteressante.
Como na região mais seca da Caatinga há anos em que chove apenas
cerca de 300 mm por ano - seis vezes menos que na Mata Atlântica ou na
Amazônia - as plantas e animais adaptaram-se de modo a sobreviver com o
mínimo de água, sem por isso perder em beleza ou diversidade.
Entre os peixes, pelo menos 25 das 240 espécies identificadas con-
seguem adiar o nascimento à espera das chuvas: passam a maior parte
do tempo na forma de ovos, que só eclodem quando as águas chegam, em
algum momento entre fevereiro e maio. Esses peixes - chamados anuais -
têm de 5 a 15 cm de comprimento e vivem em lagoas ou poças d’água de
até 1 m de diâmetro, que secam durante a estiagem. Mas há tempo para
criar uma nova geração.
Antes de a seca chegar, os machos cortejam as fêmeas e as atraem para
o fundo dessas pequenas lagoas, revestidas de lama e areia. Em seguida,
dão um mergulho na lama, a fêmea solta os ovos que serão fecundados pelo
macho. Durante a estação seca, que pode durar quase um ano, o embrião se
desenvolve lentamente dentro do ovo, sem romper a casca. “O embrião per-
manece em uma espécie de hibernação”, o que explica o que os sertanejos
chamam de peixes de nuvem, por acreditarem que nascem nas nuvens, antes
das primeiras chuvas, como se fossem frutos de geração espontânea.
Entre as síndromes de dispersão de sementes na Caatinga destaca-se
o que é realizado pelas formigas.
Desse processo que permite às sementes germinarem longe da planta-
mãe, evitando a competição por nutrientes, participam pelo menos 18 es-
pécies de formigas e se beneficiam 28 espécies de plantas, entre elas 11 da
família das euforbiáceas, a mesma da faveleira (Cnidosculus phyllacanthus),
uma árvore cujo fruto, ao amadurecer, abre-se com um estalo e lança as
sementes para longe.
As formigas, de forma geral, preferem as sementes com um corpo gor-
duroso, o elaiossomo, que lhes serve de alimento, ao mesmo tempo, que
facilita o transporte das sementes, permite serem carregadas a lugares dis-
tantes. Formigas como as saúvas (Atta ssp.), as quenquens (Acromyrmex ),
as lavapés (Solenosis) e as tocandiras (Odontomachus e Ectatomma ) tam-
bém comem a polpa dos frutos de cinco tipos de cactos e três espécies da

158 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA


família das anacardiáceas, a mesma do umbu (Spondias tuberosa). Elas re-
tiram toda a polpa dos frutos caídos no chão da mata e deixam as sementes
completamente limpas. Esse comportamento diminui o ataque de fungos e
aumenta as taxas de germinação das sementes.

Contrastes
A Caatinga não é uma só: existem ao menos seis tipos de composições
vegetais distintas - das mais abertas e baixas, com árvores de 1 m de altura,
até a fechada, com árvores de 20 m. Por esse mosaico de paisagens se mis-
turam 932 espécies de plantas, das quais um terço é endêmico. Junto a esse
endemismo arbóreo, não pode deixar de ser mencionado o grupo das aves.
Vivem na Caatinga 510 espécies de aves, quase um terço do total encon-
trado no país e quase o dobro do levantamento feito em 1965 pelo ornitólogo
alemão Helmut Sick. Algumas espécies que durante a estação chuvosa vivem
na Caatinga retornam para essas áreas úmidas durante os longos períodos
de estiagem. A ararinha azul (Cyanopsitta spixii), por exemplo, costumava
deixar a região de Curaçá, na Bahia, e voar quilômetros até os brejos de alti-
tude (matas serranas) para se alimentar quando já não frutificavam o pinhão
(Jatropha mollissima), a faveleira ou a baraúna (Schinopsis brasiliensis). Hoje,
as ararinhas azuis vivem apenas em zoológicos e criadouros - há apenas 60
exemplares pelo mundo - e a espécie é considerada extinta na natureza: o
último exemplar de vida livre foi visto em outubro de 2000.
Pela importância ecológica, os brejos de altitude estão entre 82 áre-
as prioritárias para a conservação da Caatinga assim como as dunas do
São Francisco, outro espaço igualmente rico em espécies exclusivas (Figu-
ra 8.10). As dunas de até 60 metros que se erguem às margens do rio São
Francisco, o maior rio perene da região, concentram cerca de um terço das
espécies do semiárido, entre elas 16 espécies de lagartos, oito de serpentes,
quatro de anfisbenas e uma de anfíbio, exemplos de animais exclusivos dali.
Anfisbenas são répteis aparentados das serpentes, sem olhos nem escamas
visíveis, também chamados de cobras de duas cabeças ou cobras cegas.
Entre os mamíferos, o número total de espécies que vivem na Caa-
tinga saltou de 80 para 143 e o de endêmicas, de três para pelo menos 20,
como resultado das pesquisas mais recentes. Sabia-se que só na Caatinga
vive o mocó (Kerodon rupestris), um ratão de até 40 cm; o rato bico de lacre
(Wiedomys pyrrhorhinos), de 10 a 13 cm, sem contar a longa cauda, que ser-
ve de apoio na hora de escalar as árvores; e o tatu bola (Tolypeutes tricinc-
tus), o menor tatu brasileiro, de 22 a 27 cm, que enrola o corpo e fica pare-
cido com uma bola quando se sente ameaçado. A lista dos endêmicos agora
inclui o morcego insetívoro Micronycteris sanborni, o marsupial Thylamys
karimii, de dorso cinza claro e ventre creme, e um macaco sauá (Callicebus
barbarabrownae), descrito com base em material coletado no início do sécu-
lo passado e encontrado recentemente no interior da Bahia. Mesmo assim,
segundo especialistas, o endemismo de mamíferos da Caatinga ainda é pelo
menos três vezes menor que o da Mata Atlântica ou da Amazônia, em vista
da própria extensão de cada ecossistema.
Essas descobertas ajudam a desfazer o mito de que a Caatinga é pobre
em espécies e fenômenos exclusivos, mostrando que é necessário realizar
mais pesquisas e encaminhar mais recursos econômicos, para patrocinar
esses estudos e preservar o que temos nesse bioma, antes de ter só que la-
mentar o desaparecimento das espécies.

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 159


Figura 8.10 Biodiversidade da Caatinga: 82 áreas são consideradas prioritárias para a pro-
teção e conservação das espécies, visto ser a maioria, endêmica.
Fonte: BIODIVERSITAS (2000).

Dispersão
Nome dado aos mecanismos ou meios utilizados pelas plantas para
atingir novos locais.
UNIDADES DE DISPERSÃO ou DIÁSPOROS: sementes, frutos, planta
inteira (Tillandsia usneoides), ou partes da planta.
AGENTES DE DISPERSÃO:
1. ANIMAIS (zoocoria): - endozoocoria - ingestão e posterior liberação
do diásporo. - sinzoocoria - diásporos carregados deliberadamente.
- epizoocoria - diásporos carregados acidentalmente.
1A. Répteis (SAUROZOOCORIA): Ex.: Jacarés e iguanas comem, no
mangue, frutos de Annona glabra, realizando a dispersão. Os répteis
são sensíveis às cores laranja e vermelho e têm olfato desenvolvido.

160 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA


1B. Peixes (ICTIOCORIA): Ex.: Pacu e Piranjuba: comem frutos de Inga
(Leguminosae), dispersando as sementes.
1C. Pássaros (ORNITOCORIA): Aqui, a epizoocoria é rara, acontecen-
do por exemplo com Pisonia, uma árvore com fruto pegajoso. A
sinzoocoria ocorre em Araucária angustifolia, da qual a gralha azul
carrega os pinhões para vários locais. É comum a existência de
mimetismo, como a presença de arilo em sementes de testa dura,
atraindo os pássaros. Ex.: Adenanthera pavonina.
1D- Mamíferos (MAMALIOCORIA): Comum em regiões tropicais. Di-
ásporos semelhantes aos dos pássaros. Aqui, a epizoocoria é re-
presentada pela presença de “carrapichos” - Bidens pilosa (picão),
ganchos - Xanthium e substâncias viscosas - Desmodium. A sin-
zoocoria ocorre em Berthalettia excelsa (Castanha-do-Pará), onde
o fruto, uma cápsula pixidiária é aberta por roedores que comem
o arilo e enterram as sementes. A endozoocoria pode ser acidental
ou adaptativa e, neste caso, os mamíferos têm olfato desenvolvido,
dentes, mas não enxergam cores. Características dos diásporos: -
CASCA RESISTENTE - PROTEÇÃO DA SEMENTE (SUBSTÂNCIA
TÓXICA OU AMARGA) - ODOR * MAMÍFEROS DISPERSORES: A-
Morcegos (QUIROPTEROCORIA) Noturnos, não enxergam cores,
mas têm olfato aguçado e apreciam odores como o de mofo. Comem
apenas a parte macia do fruto, jogando fora as sementes. Exem-
plos de frutos dispersos por morcegos: jaca, sapoti (Achras), manga
(Mangifera), goiaba (Psidium) B- Primatas: Macacos enxergam co-
res e são pouco olfativos. Exemplo: Macacos gigantes da América
do Sul comem a polpa de frutos gigantes de Cassia (leguminosae),
livrando-se das sementes.
1F- Formigas (MIRMECORIA): As formigas preferem as sementes com
elaiossomo (parte macia contendo óleos). Ex.: a carúncula das se-
mentes de mamona (Ricinus comunis).
A- VOADORES: - diásporos-poeira: em plantas micofitas, saprófitas
e parasitas. Ex.: Orchidaceae, Balanophoraceae. - balões: quando
há uma parte inflada. Ex.: Colutea arborescens (legumes inflados).
- diásporos plumosos: geralmente ocorrem em plantas de lugares
abertos. Ex.: Compositae, com cipselas peludas (dente de leão).
B. ROLADORES: Rolam, soprados pelo vento. Podem ser grandes par-
tes da planta toda ela. Ex.: nos desertos Norteafricanos, a rosa de
Jericó (Anastatica hierochuntia) percorre grandes distâncias.
C. LANÇADORES (anemobalísticos): A balística é efetuada pelo vento.
Ex.: Papaves somniferum, lança seus diásporos até 15 m de distância.
2. HIDROCORIA: Dispersão pela água: a) das chuvas - enxurradas -
pluviobalísticos (em regiões secas, onde a umidade provoca a balís-
tica) b) correntes de água: - transporte submerso, onde a correnteza
atua sobre estruturas como pêlos (Pepis) ou ariloides (Nymphaea
alba). - diásporos flutuantes: com peso específico baixo, devido à
leveza do endosperma, espaços aéreos internos ou tecidos subero-
sos. Em Água salgada, os diásporos são mais pesados. Ex. Coco da
Bahia (Cocus nucifera). Características: - Endocarpo duro protege o
embrião; - Mesocarpo fibroso serve para flutuação; - Endosperma
líquido é a provisão nutritiva.
Fonte: http://professores.unisanta.br/maramagenta/dispersao.asp

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 161


O conceito de biodiversidade surgiu durante a década de 1970, quan-
do ecólogos e conservacionistas tomaram consciência de que o desapare-
cimento de espécies, que ocorreria até então diante de uma indiferença,
quase geral, estava se acelerando, e que era consequência do crescimento
demográfico, como também da destruição de numerosos ambientes entre
os mais ricos em recursos biológicos. Neste capítulo é abordado o conceito
sobre biodiversidade e a importância, de porque, qualquer cidadão comum
deve interessar-se pela biodiversidade e sua conservação, pois deste proces-
so dependem a sobrevivência, não só de outras espécies animais e vegetais,
mas também a própria existência humana. No capítulo também são con-
siderados aspectos filosóficos, econômicos e sociais sobre a biodiversidade,
o que implica entender, que, conhecer a biodiversidade é mais do que ape-
nas conhecer o número de espécies por nome, implica também saber que o
desaparecimento irremediável e um patrimônio natural que levou milhões
de anos em estabelecer-se, podem comprometer o funcionamento dos ecos-
sistemas e toda a cadeia alimentar dos mesmos. Na parte final, é aborda-
da a biodiversidade do Bioma Caatinga, que para surpresa de muitos, que
acham que o bioma é pobre em espécies, mostra-se o contrário, ele é rico em
espécies e há nele muitos organismos endêmicos. Pobre é o conhecimento
que temos a respeito dele.

1. Faça um histórico do surgimento das discussões em torno do conceito


biodiversidade.
2. Diferencie diversidade genética de diversidade ecológica.
3. As mutações podem dar origem a novas espécies? Explique.
4. O que é especiação?
5. Por que as florestas tropicais são objeto de preocupação por parte dos
ecologistas e conservacionistas?
6. Que são espécies-chave e quantas conhece?
7. Quais são as causas das perdas da biodiversidade nas florestas tropicais?
8. Que medidas podem ser tomadas para evitar perda da biodiversidade
9. Quais são os efeitos da introdução de espécies exóticas nos ecossistemas?
10. Por que a cobertura vegetal é importante na conservação da biodiversidade?
11. Estabeleça algumas características e contrastes sobre a biodiversida-
de da caatinga.

162 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA


“Se detemos 20% da biodiversidade, nossas coleções deveriam ter cerca
de 400 milhões de exemplares, mas têm apenas cerca de 10% disso”
As estimativas sobre o número de espécies animais e vegetais que habi-
tam a Terra hoje variam de 1 a 100 milhões, refletindo, na verdade, a falta de
uma base confiável para estimativas mais próximas da realidade.
No entanto, os cientistas convergem na avaliação de que devemos co-
nhecer apenas cerca de 10% da biota, estimada, em termos mais realistas,
em cerca de 10 milhões de espécies de animais apenas.
Os 90% que falta conhecer são animais, em geral, de menor porte,
vivendo em populações com densidade relativamente baixa, em áreas ainda
hoje de difícil acesso, ou com hábitos muito peculiares.
Grande parte dos organismos que ainda não foram descritos habita as flo-
restas e savanas tropicais do globo, fortemente concentradas no território bra-
sileiro, onde ocorre cerca de 20% das espécies animais e vegetais do planeta.
O Brasil, como signatário da Convenção da Biodiversidade, assumiu o
compromisso de estudar e proteger a biota dentro de seu território.
Para isso, convocou a comunidade científica para diagnosticar o quanto
já se conhece e a capacidade instalada no país, em termos de infra-estrutura
para pesquisa, coleções e pessoal técnico-científico capaz de atribuir nomes
científicos aos animais e plantas que aqui ocorrem.
Reunimos até hoje cerca de 40 milhões de exemplares em acervos zoo-
lógicos e herbários no País. Entretanto, um dos mecanismos da CBD, o GBIF
(Global Biodiversity Information Facility) estima que existam em acervos no
mundo, aproximadamente dois bilhões de exemplares.
Ora, se detemos 20% da biodiversidade, nossas coleções deveriam ter
cerca de 400 milhões de exemplares, mas têm apenas cerca de 10% disso.
Estima-se que uma árvore de grande porte na Amazônia seja capaz de man-
ter uma população de até dois milhões de indivíduos de espécies de insetos.
Numa comparação grosseira, tudo o que a comunidade brasileira conseguir
reunir em acervos do país todo,
corresponde à fauna de 20 árvores.
Ainda que de pouco valor científico, tais comparações mostram como a
atividade de coleta de organismos para estudos de biodiversidade tem efeito
negligenciável sobre o ambiente, quando se lembra o número de árvores der-
rubadas ou queimadas anualmente do Brasil, oficial ou oficiosamente.
Sabemos também quais os grupos mais e, o que é fundamental, os
menos estudados - aqueles que merecem intensificação de estudo e esforços
especiais na formação de pessoal.
Sabemos quais são as áreas e biomas menos conhecidos e mais frágeis,
pela iminência de ações antrópicas, conhecemos as deficiências regionais em
infra-estrutura e de pessoal qualificado. Falta organizar essa enorme deman-
da em uma real política nacional para enfrentar o desafio de conhecer e usar
de forma sustentável a biodiversidade brasileira.
O mesmo GBFI estima que mais da metade dos nomes em rótulos e
catálogos de coleção no mundo estejam desatualizados.

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 163


Mesmo as instituições mais importantes e tradicionais não contam com
pessoal suficiente para manter correntes informações sobre todos os acer-
vos que detêm, dada a enorme riqueza e diversidade que as coleções pre-
tendem representar.
Para dar conta dessa questão, museus, herbários e outras instituições
que mantém coleções de organismos construíram, coletivamente, um impor-
tante sistema de intercâmbio de material e experiência, baseado na coopera-
ção e generosidade, e que está em grande perigo no Brasil e no mundo, em
nome da proteção ao valor monetário e estratégico recente que a biodiversi-
dade adquiriu, aliado aos mecanismos de proteção contra o terrorismo, que
vem dificultando o tráfego de material biológico nas fronteiras.
Fonte: CARLOS ROBERTO FERREIRA BRANDÃO,
Professor titular do Museu de Zoologia da USP.

Leituras
Livros
• MMA – Ministério do Meio Ambiente, Secretaria de Biodiversidade e
Florestas. Áreas prioritárias para conservação, uso sustentável
e repartição de benefícios da biodiversidade brasileira: atualiza-
ção. Brasília: MMA (Série Biodiversidade, 31). 2007.
• LEAL, I. R; TABARELLI, M.; SILVA, J. M. C. Ecologia e conserva-
ção da Caatinga. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2003. 822 p.
Artigo
• MACHADO, E. L. M.; GONZAGA, A. P. D.; MACEDO, R. L. G.; VEN-
TURIN, N.; GOMES, J. E. Importância da avifauna em programas
de recuperação de áreas degradadas. Revista Científica Eletrôni-
ca de Engenharia Florestal. Ano IV, n. 7, 2006.
Filmes
• Floresta Amazônica (BBC Worldwide Ltda.)
• Uma Verdade Inconveniente
• África Selvagem (BBC Worldwide Ltda.)

Sites
• Conservation International: (http://www.conservation.org.br/)
• COLEÇÃO FLORA BRASILIENSIS: (http://florabrasiliensis.cria.
org.br/)
• IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística: (http//www.
ibge.gov.br/)
• ICMBio - Instituto Chico Mendes: (http://www.icmbio.gov.br/)
• IPECE - Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará:
• (http://www2.ipece.ce.gov.br/)
• MMA - Ministério do Meio Ambiente: (http://www.mma.gov.br/)

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FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 165


Oriel Herrera Bonilla
Possui graduação em Engenharia Florestal pela Universidade Federal
Rural de Pernambuco (1983), graduação em Licenciatura Agrícola pela Uni-
versidade Federal Rural de Pernambuco (1992), mestrado em Botânica pela
Universidade Federal Rural de Pernambuco (1991) e doutorado em Ecologia -
Bielefeld Universitat (1997). Atualmente é professor titular da Universidade
Estadual do Ceará. Tem experiência na área de Ecologia, com ênfase em
Ecossistemas, atuando principalmente nos seguintes temas: Biodiversidade
da Caatinga, Ecologia Aplicada, Bioprospecção de plantas do Bioma Caa-
tinga, Reflorestamento, Bioremediação com halófitas, Fitossociologia, Fisio-
logia de Halófitas, Recuperção de áreas degradadas, Salinidade, Recursos
Hídricos, Conservacionismo e Estudos de Impacto Ambiental.

Eliseu Marlônio Pereira de Lucena


Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal do Ceará, Mestre
em Fitotecnia pela Universidade Federal de Viçosa e Doutor em Agronomia
(Fitotecnia) pela Universidade Federal do Ceará. Desde 2004 é Professor
Adjunto do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Estadual do Cea-
rá, onde ministra aulas de Botânica. Desenvolve pesquisas sobre Fisiologia
vegetal, Ecofisiologia, Fisiologia de sementes e Fisiologia de pós-colheita,
tendo escrito livros e publicado regularmente estudos em periódicos de cir-
culação nacional e internacional. Atualmente coordena o Curso de Ciências
Biológicas da UECE.

166 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA

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