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Fundamentos em Ecologia
2011
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(SEAD/UECE). Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer
meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, dos autores.
EXPEDIENTE
Design instrucional
Antonio Germano Magalhães Junior
Igor Lima Rodrigues
Pedro Luiz Furquim Jeangros
Projeto gráfico
Rafael Straus Timbó Vasconcelos
Marcos Paulo Rodrigues Nobre
Coordenador Editorial
Rafael Straus Timbó Vasconcelos
Diagramação
Marcus Lafaiete da Silva Melo
Ilustração
Marcos Paulo Rodrigues Nobre
Capa
Emilson Pamplona Rodrigues de Castro
PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Dilma Vana Rousseff
MINISTRO DA EDUCAÇÃO
Fernando Haddad
VICE-REITOR
Antônio de Oliveira Gomes Neto
PRÓ-REITORA DE GRADUAÇÃO
Josefa Lineuda da Costa Murta
Capítulo 1
Noções gerais........................................................................................................................ 11
Introdução........................................................................................................................... 13
Definições de Ecologia........................................................................................................ 14
Histórico da ecologia........................................................................................................... 14
Primeiros trabalhos relacionados à ecologia......................................................................... 16
As primeiras sociedades de ecologia..................................................................................... 16
Os movimentos ecológicos....................................................................................................18
Áreas de estudo.....................................................................................................................19
Interações da Ecologia com outras áreas de estudo........................................................... 21
Ecologia: ciência de síntese e de análise............................................................................. 23
A ecologia vegetal no Brasil...................................................................................................24
Capítulo 2
Fatores ecológicos................................................................................................................. 27
Fatores abióticos: climáticos e hídricos............................................................................... 29
Fatores climáticos..................................................................................................................29
Fatores hídricos................................................................................................................... 48
Capítulo 3
Fatores ecológicos................................................................................................................. 57
Fatores abióticos: fatores edáficos...................................................................................... 59
Conceitos básicos...................................................................................................................59
As fases do solo......................................................................................................................62
Ação do clima na formação do solo....................................................................................... 64
Ação do relevo na formação do solo...................................................................................... 65
Processos mecânicos do intemperismo................................................................................. 66
Processos químicos do intemperismo................................................................................... 69
Água do solo..........................................................................................................................70
Salinidade do solo..................................................................................................................70
pH do solo..............................................................................................................................72
Nutrientes inorgânicos ..........................................................................................................72
Capítulo 4
Fatores ecológicos................................................................................................................. 77
Fatores bióticos................................................................................................................... 79
Introdução..............................................................................................................................79
Definição................................................................................................................................80
Tipos de simbiose..................................................................................................................81
Predação................................................................................................................................ 85
Tipos de predação..................................................................................................................86
Estratégia de fuga das presas.................................................................................................87
Amensalismo..........................................................................................................................90
Parasitismo.............................................................................................................................90
Protocooperação....................................................................................................................92
Mutualismo............................................................................................................................93
Síndromes Florais...................................................................................................................93
Comensalismo........................................................................................................................94
Capítulo 5
Dinâmica das populações e dos ecossistemas........................................................................ 99
Dinâmica das populações................................................................................................... 101
Distribuição espacial dos indivíduos...................................................................................... 101
Atributos biológicos das populações..................................................................................... 102
Fatores que regulam o tamanho das populações.................................................................. 104
Oscilações que limitam o crescimento populacional............................................................. 105
Dinâmica dos ecossistemas....................................................................................................105
Cadeia alimentar....................................................................................................................106
Produtividade nos ecossistemas............................................................................................ 108
Capítulo 6
Ecossistemas versus Sucessão ecológica................................................................................ 117
Componentes do ecossistema............................................................................................ 119
Sucessão ecológica.................................................................................................................120
Sucessão primária e secundária............................................................................................. 121
Ecese...................................................................................................................................... 122
Sere........................................................................................................................................ 123
Climax.................................................................................................................................... 123
Capítulo 7
Biosfera................................................................................................................................. 129
Origem e definição.............................................................................................................. 131
Por que se interessar pela biodiversidade?........................................................................... 131
Os genes vs. ecossistemas.....................................................................................................132
A diversidade biológica é o produto da evolução?................................................................ 132
A teoria sintética da evolução................................................................................................133
A conservação da natureza e o papel ecológico da diversidade biológica.............................134
Os recursos biológicos...........................................................................................................134
As relações homem-natureza................................................................................................135
Concepção integrada da diversidade biológica...................................................................... 136
Mutações e diversidade genética.......................................................................................... 136
A seleção natural....................................................................................................................137
A noção de espécie................................................................................................................137
A especiação..........................................................................................................................138
A seleção natural leva à criação de novas espécies?............................................................. 139
O inventário das espécies .....................................................................................................140
Diversidade vs. funcionamento dos ecossistemas................................................................. 143
Características dos ecossistemas e riqueza das populações..................................................143
A diversidade das espécies vs. espécies chave...................................................................... 144
Diversidade e estabilidade dos ecossistemas........................................................................ 145
A diversidade e a produtividade dos ecossistemas................................................................ 146
Causas da perda da biodiversidade em florestas tropicais....................................................147
Importância ecológica da cobertura vegetal na conservação da biodiversidade...................156
Biodiversidade da caatinga....................................................................................................157
Contrastes..............................................................................................................................159
Dispersão...............................................................................................................................160
Os Autores
Capítulo
1
Noções gerais
Objetivos:
• Oferecer ao aluno fundamentos sobre Ecologia, sua origem e histórico como a
ciência do meio ambiente.
• Mostrar como a Ecologia tem se subdividido e como interage com outras áreas de
conhecimento.
Introdução
A palavra Ecologia, derivada do idioma grego (oikos/casa - logos/
estudo), foi criada no século XIX, pelo zoólogo alemão Ernst Haeckel (Fi-
gura 1.1), para designar “a relação dos animais com seu meio ambiente
orgânico e inorgânico”. A ecologia também já foi definida como “o estudo
Ernst Heinrich Philipp
das inter-relações dos organismos e seu ambiente”, como “a economia da August Haeckel
natureza” e como “a biologia dos ecossistemas”. A expressão meio ambien- Nasceu Potsdam, Prús-
te inclui tanto outros organismos quanto o meio físico circundante, sendo sia (1834). Formou-se em
que as relações entre indivíduos de uma mesma população e entre indiví- medicina pela Universi-
dade de Berlim, em 1857.
duos de diferentes populações, em um determinado ambiente, compõem Entre suas diversas obras
os sistemas ecológicos ou ecossistemas. científicas, destacam-se
“Morfologia Geral dos Or-
Desde um ponto mais simples, a ganismos” (1866) e “His-
ecologia seria o ramo da Biologia que es- tória Natural da Criação”
tuda a relação dos seres vivos entre si e (1868). Faleceu em Jena,
Alemanha (1919).
com o meio ambiente; sendo assim funda-
mentada no conceito de ecossistema, que Teoria Evolucionista
demonstra a impossibilidade de sobrevi- “A Origem das Espécies
por meio da Seleção Natu-
vência isolada dos elementos da natureza ral” foi a obra que abalou o
e a necessidade de eles se relacionarem mundo moderno. Publica-
em sistemas complexos. da em 1859, pelo biólogo
e naturalista Charles Ro-
Realizador de uma obra notá- bert Darwin (1809-1882).
vel pela amplitude de temas tratados e
pela profundidade das pesquisas, Ernst
Haeckel formulou hipóteses polêmicas
sobre a teoria evolucionista de Charles
Figura 1.1 Haeckel, E. H. P. A. Darwin. O interesse pela zoologia resul-
Fonte: http://www.greenspirit.org.uk/
tou em trabalhos sobre a natureza dos
organismos inferiores, protozoários e esponjas; além de estabelecer rela-
ções entre esses organismos e espécies superiores, na classificação ani-
mal. Esses trabalhos garantiram-lhe o cargo de professor de zoologia na
Universidade de Jena, em 1862.
Haeckel tentou reconstituir o ciclo completo de evolução dos seres vivos
desde os animais unicelulares até o homem. A partir desses estudos, enun- Darwin, C. R.
ciou sua lei biogenética fundamental, segundo a qual os seres vivos, ao longo Fonte: GOOGLE, 2011.
do processo individual de desenvolvimento (ontogênese), recapitulam estágios
do desenvolvimento da espécie (filogênese). Possuidor de sólida formação fi-
losófica buscou aplicar o evolucionismo de Darwin à religião e à filosofia. Na
obra Die Welträtsel (1899; Os enigmas do universo) divulgou a teoria monista,
que defende a união essencial da natureza orgânica e inorgânica e a tese de
que espírito e matéria são aspectos diferentes da mesma substância.
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 13
Definições de Ecologia
As bases conceituais em ecologia são bastante amplas e, por causa
disso, tem sido definida de várias maneiras:
I. Ecologia é o estudo das relações totais dos animais no seu ambien-
te orgânico como inorgânico e em particular o estudo das relações
do tipo positivo ou amistoso ou do tipo negativo (inimigos) entre
plantas e animais no ambiente em que vive ( HAECKEL, 1866).
Universidade Friedrich-
Schiller de Jena II. Ecologia é o estudo do “ambiente da casa”, incluindo todos os or-
Foi fundada em 02 de fe- ganismos contidos nela (incluindo o homem) e todos os processos
vereiro de 1558, na cidade
de Jena, Alemanha.
funcionais que a tornam habitável (ODUM, 1983).
III. Ecologia é a ciência que estuda as condições de existência dos seres
vivos e as interações, de qualquer natureza, existentes entre seres
vivos e seu meio (DAJOZ, 1983).
IV. Ecologia é a ciência das relações dos seres vivos com o seu meio.
Termo usado freqüentemente e erradamente para designar o meio
ou o meio ambiente (DANSEREAU, 1978).
V. Ecologia é a ciência que estuda a dinâmica dos Ecossistemas. É
a disciplina que estuda os processos, interações e a dinâmica de
Escudo da Universidade todos os seres vivos com os aspectos químicos e físicos do meio am-
de Jena. Fonte: http:// biente, incluindo também aspectos econômicos, sociais, culturais e
upload. wikimedia.org/ psicológicos peculiares ao homem, que de maneira interativa deve
sintetizar e gerar informações para a maioria dos demais campos
do conhecimento (WICKERSHAM, 1975).
VI. Ecologia é o modelo ou a totalidade das relações entre os organis-
mos e seu ambiente (WEBSTER’S, 1976).
VII. Ecologia é o ramo da ciência humana que estuda a estrutura e o
desenvolvimento das comunidades humanas em suas relações com
o meio ambiente e sua conseqüente adaptação a ele, assim como
os novos aspectos que os processos tecnológicos ou os sistemas de
organização social possam acarretar para as condições de vida do
O João-de-barro (Furna- homem (FERREIRA, 1985).
rius rufu): constrói e re-
constrói sua casa levando VIII. Ecologia é a disciplina da Biologia que lida com o estudo das inter-
em consideração fatores -relações dinâmicas dos fatores bióticos e abióticos do meio am-
ambientais. Fonte: GOO-
GLE, 2011.
biente (USDT, 1983).
Histórico da ecologia
A ecologia não apresenta um início bem delineado. Os primeiros an-
tecedentes, na história natural dos gregos, foi um dos discípulos de Aristó-
teles, Teofrasto, que foi o primeiro a descrever as relações dos organismos
entre si e com o meio. As bases posteriores para a ecologia moderna foram
lançadas nos primeiros trabalhos dos fisiologistas sobre plantas e animais.
Durante muito tempo desconhecida do grande público e relegada a
Relações ecológicas. segundo plano, por muitos cientistas, a ecologia surgiu no século passado
Fonte: GOOGLE, 2011. como um dos mais populares aspectos da biologia. Em meados do século
XX, a ecologia, até então restrita aos meios acadêmicos, ganha dimensões
sociais devido às crescentes preocupações mundiais com a degradação do
meio ambiente. Isto porque se tornou evidente que a maioria dos problemas
14 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
que o homem vem enfrentando, como crescimento populacional, poluição
ambiental, fome e todos os problemas sociológicos e políticos atuais, são em
grande parte ecológicos.
O aumento do interesse pela dinâmica das populações recebeu impul-
so especial no início do século XIX e depois que Thomas Malthus chamou
atenção para o conflito entre as populações em expansão e a capacidade
Teofrasto
da Terra de fornecer alimento. Raymond Pearl (1920), A. J. Lotka (1925), e Nasceu no ano de 372
Vito Volterra (1926) desenvolveram as bases matemáticas para o estudo das a.C., oriundo de Eressos,
populações, o que levou a experiências sobre a interação de predadores e em Lesbos. Filósofo e su-
cessor de Aristóteles na
presas, as relações competitivas entre espécies e o controle populacional. O
escola peripatética. Fale-
estudo da influência do comportamento sobre as populações foi incentivado ceu em 287 a.C..
pelo reconhecimento, em 1920, da territorialidade dos pássaros. Os con-
ceitos de comportamento instintivo e agressivo foram lançados por Konrad
Lorenz e Nikolaas Tinbergen, enquanto V. C. Wynne-Edwards estudava o
papel do comportamento social no controle das populações.
No início e em meados do século XX, dois grupos de botânicos, um na
Europa e outro nos Estados Unidos, estudaram comunidades vegetais de
dois diferentes pontos de vista. Os botânicos europeus preocuparam-se em
estudar a composição, a estrutura e a distribuição das comunidades vege-
tais; enquanto os americanos estudaram o desenvolvimento dessas comu-
nidades, ou sua sucessão. As ecologias, animal e vegetal, desenvolveram-se
separadamente, até que os biólogos americanos deram ênfase à inter-rela-
ção de comunidades vegetais e animais como um todo. Teofrasto. Fonte:http://
wa2.www.artehistoria.
Alguns ecologistas detiveram-se na dinâmica das comunidades e po- jcyl.es/Teofrasto
pulações, enquanto outros se preocuparam com as reservas de energia. Em
Thomas Robert Malthus
1920, o biólogo alemão August Thienemann introduziu o conceito de níveis
Nasceu em Rookery, Sur-
tróficos, ou de alimentação, pelos quais a energia dos alimentos é transferi- rey, Inglaterra (1766). Es-
da, por uma série de organismos, das plantas (produtoras) aos vários níveis tudou no Jesus College,
de animais (consumidores). Em 1927, C. S. Elton, ecologista inglês espe- Cambridge, e em 1797
foi ordenado sacerdote da
cializado em animais, avançou nessa abordagem com o conceito de nichos Igreja anglicana. A partir
ecológicos e pirâmides de números. Dois biólogos americanos, E. Birge e C. de 1805 ensinou economia
Juday, na década de 1930, ao medir a reserva energética de lagos, desenvol- política em Haileybury.
Publicou, anonimamente,
veram a idéia da produção primária, isto é, a proporção na qual a energia é a obra Essay on Popula-
gerada, ou fixada, através da fotossíntese. tion (1798) - Ensaio sobre
a população, no qual afir-
A ecologia moderna atingiu a maioridade em 1942, com o desenvol- ma que a população cresce
vimento pelo americano R. L. Lindeman, do conceito tróficodinâmico de em progressão geométrica,
ecologia, que detalha o fluxo da energia através do ecossistema. Esses estu- enquanto a produção de
alimentos aumenta em
dos quantitativos foram aprofundados pelos americanos Eugene e Howard progressão aritmética.
Odum. Um trabalho semelhante sobre o ciclo dos nutrientes foi realizado Morreu em Saint Catheri-
pelo australiano J. D. Ovington. ne, Somerset (1834).
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 15
Primeiros trabalhos relacionados à ecologia
Entre os primeiros trabalhos relacionados à ecologia, destacam-se:
• Forbes (1843) - Estudou a distribuição dos animais no mar Egeu;
• Möbius (1877) - Introduziu por ocasião do seu estudo sobre os ban-
cos de ostras, o termo BIOCENOSE;
• Final do século XIX e início do XX - Foram publicados diversos tra-
Biótopo balhos tratando das relações entre seres vivos e o ambiente;
Corresponde a uma deter-
minada região que apre- • Entre 1900 e 1944 - Começou o estudo da ecologia separado da Bio-
senta regularidade nas logia. Acumularam-se os primeiros trabalhos relacionados à ecolo-
condições ambientais, e gia, dentre os quais devem ser destacados os seguintes:
nas populações de ani-
mais e vegetais. • Shelford (1913) - Estudo das comunidades animais na Amé-
rica temperada;
Nicho ecológico
Representa o conjunto de • Adams (1913) - Guia para o estudo da ecologia animal;
atividades que a espécie
desempenha, incluindo
• Davenport (1915) - Estudo ecológico das pradarias e inverte-
relações alimentares, ob- brados das florestas;
tenção de abrigos e locais • Volterra (1926) - Variações e flutuações do número de indivídu-
de reprodução; ou seja, é
o modo de vida de cada os em convivência animal;
espécie, no seu habitat. • Elton (1927) - Ecologia animal (primeira tentativa de definição
das bases teóricas da ecologia);
• Chapman (1931) - Ecologia animal com especial referência
aos insetos;
• Uvarov (1931) - Insetos e o clima;
• Gause (1935) - Verificações experimentais da teoria matemáti-
ca da luta pela vida;
• Ferri (1944) - No Brasil, primeira tese de ecologia (Ecologia
do Cerrado).
Biocenose, Biota ou
Comunidade biológica
Representa os organismos As primeiras sociedades de ecologia
vivos que habitam uma
determinada região. No transcurso da segunda década de 1900 são fundadas as primei-
ras sociedades ecológicas, dentre as quais devem ser destacadas as duas
seguintes:
• British Ecological Society (1913);
• Ecological Society of America (1916).
16 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
(Figura 1.2) - uma unidade funcional composta de organismos integrados,
e em todos os aspectos do ambiente, em qualquer área específica. Envolve
tanto os componentes abióticos quanto os componentes bióticos, através
dos quais ocorrem o ciclo dos nutrientes e os fluxos de energia. Os ecos-
sistemas precisam conter algumas inter-relações estruturadas entre solo,
água e nutrientes, de um lado, e entre produtores, consumidores e decom-
positores, do outro.
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 17
A principal unidade funcional de um ecossistema é sua população,
a qual ocupa um nicho funcional específico, relacionado à sua função no
fluxo de energia e ciclo de nutrientes. Tanto o ambiente quanto a quantida-
de de energia fixada em qualquer ecossistema são limitados. Quando uma
população, numericamente, atinge os limites impostos pelo ecossistema,
seu tamanho precisa ser estabilizado e, caso isso não ocorra, deve declinar
em conseqüência de doença, fome, competição, baixa reprodução e outras
Meio abiótico reações comportamentais ou psicológicas. Mudanças e flutuações no meio
Representa o componente
não vivo do meio ambien-
ambiente representam uma pressão seletiva sobre a população, que deve se
te. Inclui as condições fí- ajustar. O ecossistema tem aspectos históricos: o presente está relacionado
sicas e químicas do meio. com o passado e o futuro com o presente. Assim, o ecossistema é o conceito
Meio biótico que unifica a ecologia vegetal e animal, a dinâmica, o comportamento e a
Representa o componente evolução das populações.
vivo do meio ambiente. In-
clui as interações entre os
organismos.
Cadeia alimentar
Os movimentos ecológicos
Sequência hierárquica de
organismos que se ali-
O crescimento acelerado e desorganizado da sociedade urbanoindus-
mentam uns dos outros. trial tem provocado graves impactos ao ambiente, especialmente, no que tan-
Sucessão
ge à poluição do ar, das águas e do solo; gerando os desmatamentos descon-
A circunstância em que trolados, a desertificação, a extinção de espécies, o efeito estufa, a destruição
uma espécie se desenvol- da camada de ozônio e a ocorrência de chuvas ácidas. Em última instância,
ve sobre um determinado
ambiente, proporcionan-
os estudiosos acreditam num colapso total dos sistemas naturais, uma vez
do o surgimento de outras que o modelo capitalista de crescimento ilimitado é incompatível com a fi-
espécies. nitude de recursos do planeta. Os ecossistemas também são incapazes de
População assimilar e processar a enorme quantidade de detritos produzidos pelas in-
O conjunto de organismos dústrias. Segundo os mais brilhantes e frutuosos ecologistas, a superação do
de uma mesma espécie
problema do esgotamento e do colapso da natureza envolve uma redefinição
que habitam uma deter-
minada área, num espaço da idéia de progresso, que carece tornar-se ecologicamente sustentável. A in-
de tempo definido. tervenção do homem no ambiente, ao longo da história, principalmente após
Pressão seletiva a revolução industrial, foi sempre no sentido de agredir e destruir o equilí-
É o termo designado para brio ecológico, não raro com conseqüências desastrosas. Nesse sentido, a luta
relacionar o papel do meio
pela preservação do ambiente intensifica-se a partir da década de 40, com a
ambiente na seleção dos
genes de uma população. criação de uma série de organizações governamentais e não-governamentais,
Assim, dependendo de as ONGs de atuação mundial. Em 1948 é fundada a União Internacional
qual for o ambiente onde para a Conservação da Natureza (UICN), com sede na Suíça. A partir de en-
os organismos estão inte-
ragindo, através da sele- tão, as entidades conservacionistas difundem-se pelo mundo, com destaque
ção natural, alguns genes para o Fundo Mundial para a Natureza (WWF), surgido em 1961 e sediado na
terão maior chances de Suíça; para o Greenpeace e para os Amigos da Terra Internacional, fundada
sobreviver do que outros.
nos EUA, em 1971. O movimento também se institucionaliza nos partidos
políticos, os chamados Partidos Verdes, que disputam eleições em vários lu-
gares do mundo, como Alemanha, França e Brasil.
Existem basicamente três tipos de recursos naturais: os renováveis,
como os animais e vegetais; os não-renováveis, como os minerais e fósseis;
e os recursos livres, como o ar, a água, a luz solar e outros elementos que
Um dos maiores proble- existem em grande abundância. O movimento ecológico reconhece os recur-
mas ambientais do Brasil
é a destinação inadequa-
sos naturais como a base da sobrevivência das espécies e defende garantias
da de resíduos sólidos ge- de reprodução dos recursos renováveis e de preservação das reservas de
rados, sendo que, muitas recursos não-renováveis.
vezes, estes são deposita-
dos em lixões, onde não No Brasil, o movimento conservacionista está em ascensão. Em 1934,
há nenhum tratamento foi realizada no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, a I Conferência Brasilei-
preliminar. Atualmente, ra de Proteção à Natureza. Três anos mais tarde criou-se o primeiro parque
no país, ocorrem cerca de
180 mil toneladas de resí- nacional brasileiro, na região de Itatiaia - RJ.
duos por dia.
18 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
Além dos grupos conservacionistas, surgiu, no movimento ecológico
um novo tipo de grupo - os ecologistas. A linha divisória entre eles nem sem-
pre está bem demarcada, pois muitas vezes os dois tipos de grupos se con-
fundem em alguma luta específica comum. Os ecologistas, porém, apesar
de mais recentes, têm peso político cada vez maior. Vertente do movimento
ecológico que propõe mudanças globais nas estruturas sociais, econômicas
e culturais, esse grupo nasceu da percepção de que a atual crise ecológica
é conseqüência direta de um modelo de civilização insustentável. Embo-
ra seja também conservacionista, o ecologismo caracteriza-se por defender
não só a sobrevivência da espécie humana, como também a construção de
formas sociais e culturais que garantam essa sobrevivência.
Um marco nessa tendência foi a Conferência das Nações Unidas sobre
o Ambiente Humano, realização em Estocolmo, da em 1972, que oficializou
o surgimento da preocupação ecológica internacional. Seguiram-se relató-
rios sobre esgotamento das reservas minerais, aumento da população etc.,
que tiveram grande impacto na opinião pública, nos meios acadêmicos e
nas agências governamentais.
Em 1992, 178 países participaram da Conferência das Nações Unidas
para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro.
Embora com resultados muito aquém das expectativas dos ecologistas, foi
mais um passo para a ampliação da consciência ecológica mundial. Apro-
Fonte: http://www.wwf.
vou documentos importantes para a conservação da natureza, como a Con- org
venção da Biodiversidade e a do Clima, a Declaração de Princípios das Flo-
restas e a Agenda 21.
A Agenda 21 é talvez o mais polêmico desses documentos. Tenta unir
ecologia e progresso num ambicioso modelo de desenvolvimento sustentá-
vel, ou seja, compatível com a capacidade de sustentação do crescimento
econômico, sem exaustão dos recursos naturais. Prega a união de todos os
países com vistas à melhoria global da qualidade de vida.
Uma das conclusões da conferência é que se os avanços tecnológicos
em curso não foram suficientes para assegurar a integridade da biosfera,
será necessário diminuir os padrões de produção e consumo, especialmente
nos países industrializados - os maiores consumidores dos recursos natu-
rais. A constatação está expressa no 4º capítulo da Agenda 21, o documento
mais importante da reunião, ao lado da Carta da Terra.
O tema tem sido abordado nos encontros anuais da Comissão das Na- Fonte: http://www.foe.
co.uk/
ções Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (CDS), criada para acom-
panhar a implementação das políticas ambientais firmadas na ECO-92. O
balanço até 1995 mostrava que os países enfrentariam enormes dificulda-
des políticas, econômicas e sociais para atingir essa meta.
Áreas de estudo
A ecologia se desenvolveu perlongando duas vertentes: a do estudo das
plantas e a do estudo dos animais. A ecologia vegetal aborda as relações das
plantas entre si e com seu ambiente. A abordagem é altamente descritiva da
composição vegetal e florística de uma área e normalmente ignora a influên-
cia dos animais sobre as plantas. Diversamente, a ecologia animal envolve
o estudo da dinâmica, distribuição e comportamento das populações, e das
Fonte: http://www.mma.
inter-relações de animais com seu ambiente. Como os animais dependem gov.br
das plantas para sua alimentação e abrigo, a ecologia animal não pode ser
totalmente compreendida sem um conhecimento considerável sobre a ecolo-
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 19
gia vegetal. Isso é verdade, especialmente, nas áreas aplicadas da ecologia,
tal como a de manejo da vida selvagem.
A ecologia vegetal e a animal podem ser vistas como o estudo das in-
ter-relações de um organismo individual com seu ambiente (autoecologia),
ou como o estudo de comunidades de organismos (sinecologia).
A autoecologia, ou estudo clássico da ecologia, é experimental e indu-
Carta da Terra Disponível tiva. Por estar, normalmente, interessada no relacionamento de um organis-
em: http://www.cartada-
terra.com.br/
mo com uma ou mais variáveis, é facilmente quantificável e útil nas pesqui-
sas de campo e de laboratório. Algumas de suas técnicas são tomadas de
ECO-92 empréstimo da química, da física e da fisiologia. A autoecologia contribuiu
A ECO-92, Rio-92, Cúpu-
la, Cimeira da Terra ou,
com, pelo menos, dois importantes conceitos: a constância da interação
mais conhecida como a entre um organismo e seu ambiente, e a adaptabilidade genética de popula-
Conferência das Nações ções às condições ambientais do local onde vivem.
Unidas sobre o Meio Am-
biente e o Desenvolvimen- A sinecologia é filosófica e dedutiva, sendo largamente descritiva, não
to (CNUMAD), realizada é facilmente quantificável e contém uma terminologia muito vasta. Apenas
entre 3 e 14 de junho de recentemente, com o advento da era eletrônica e atômica, a sinecologia de-
1992, no Rio de Janeiro.
O seu objetivo principal senvolveu os instrumentos para estudar sistemas complexos e dar início a
foi buscar meios de conci- sua fase experimental. Os conceitos importantes desenvolvidos pela sine-
liar o desenvolvimento só- cologia são aqueles ligados ao ciclo de nutrientes, reservas energéticas, e
cioeconômico com a con-
servação e proteção dos desenvolvimento dos ecossistemas; tendo ligações estreitas com a pedologia,
ecossistemas da Terra. a geologia, a meteorologia e a antropologia cultural.
A sinecologia pode ser subdividida de acordo com os tipos de ambien-
te, como terrestre ou aquático. A ecologia terrestre, por conter subdivisões
para o estudo de florestas e desertos, por exemplo, abrange aspectos dos
ecossistemas terrestres como microclima, química dos solos, fauna dos so-
los, ciclos hidrológicos, ecogenética e produtividade.
Segundo Schröter (1896), quem estuda as relações de uma espécie in-
dividual, como o seu ambiente, estuda autoecologia. Esta é que estabelece
os limites de tolerância e a preferência de cada espécie em relação a cada
Fisiologia fator ambiental.
Do grego physis/natureza
e logos/palavra ou estudo; Assim, autoecologia é, praticamente, sinônimo de ecologia fisioló-
É o conjunto de todos os gica. Alguns autores acentuam que ela despreza as interações da espécie
processos físicos e bioquí-
micos que ocorrem no in- considerada com as demais, isto é, a interferência dessa espécie com as ou-
terior de cada organismo tras com as quais convive e vice-versa. Não vemos como isso possa ser feito,
vivo. Por exemplo: a ati- a não ser, retirando a espécie de seu ambiente para estudá-la com maior
vidade cerebral, o funcio-
namento dos músculos, o
rigor, não no ambiente que lhe é peculiar, mas num outro, completamente
transporte de gases, a di- artificial. Ora, quem fizer isso não estará, a nosso ver, estudando autoeco-
gestão dos alimentos etc.. logia, mas fisiologia. Se, depois fizer ilações de natureza ecológica, estará,
então, estudando fisiologia ecológica, ou ecofisiologia.
A sinecologia é, por assim dizer, a sociologia de todos os seres vi-
vos, integrados em seus diversos ambientes, não apenas do homem. Assim
como temos grupos humanos com diferentes características, vivendo em
ambientes específicos, temos grupos de animais e grupos de plantas. Em
uma concepção menos antropocêntrica temos grupos de animais (incluin-
do o homem) e de plantas, vivendo em ambientes determinados. Quando
se observa mudança ambiental, por causas espontâneas (naturais) ou por
interferência do homem, geralmente, ocorrem alterações nos conjuntos de
seres da região considerada. Assim, quando um pântano é drenado, certas
espécies de plantas e animais desaparecem; outras aí surgem, onde antes
não existiam; e algumas podem resistir às novas condições estabelecidas -
são as que persistem.
Os ecossistemas terrestres são mais influenciados por organismos e
sujeitos a flutuações ambientais muito mais amplas do que os ecossistemas
20 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
aquáticos. Estes são mais afetados pelas condições da água e possuem
resistência à variáveis ambientais, como temperatura. Por ser o ambiente
físico tão importante no controle dos ecossistemas aquáticos, dá-se muita
atenção às características físicas do ecossistema, como as correntes e a
composição química da água. Por convenção, a ecologia aquática, denomi-
nada Limnologia, limita-se à ecologia de cursos da água, que estuda a vida
em águas correntes, e à ecologia dos lagos, que se detém sobre a vida em
águas relativamente estáveis. A vida em mar aberto e estuários é objeto da
Limnologia
Ecologia marinha. Do grego limne/lago e lo-
De outro modo, podem-se estudar, especificamente, as correlações re- gos/estudo; É a ciência
que estuda as águas inte-
cíprocas entre as espécies e as relações destas com o ambiente físico que riores, independentemente
ocupam. Quem isso fizer estará estudando Sinecologia (do grego: Syn sig- de suas origens, mas ve-
nifica conjunto, oikos, casa e logos estudo). Assim, Sinecologia é a Ecologia rificando as dimensões e
concentração de sais, em
dos conjuntos de seres vivos, podendo ser praticada de modo estático ou relação aos fluxos de ma-
dinâmico. No primeiro caso limita-se a descrever os grupos de seres vivos téria e energia e as suas
que ocorrem em certo ambiente; no segundo, procura examinar as razões comunidades bióticas.
pelas quais, por exemplo, em determinado ambiente, grupos de seres vivos
se substituem em tempos mais ou menos longos. Também se pode abordar
a Sinecologia sob dois aspectos: por exemplo, estudando as relações do am-
biente com os agrupamentos vegetais - Sinecologia mesológica; ou estu-
dando as reações (o comportamento) desses agrupamentos as condições
do ambiente - Sinecologia etológica.
Outras abordagens ecológicas se concentram em áreas especializadas.
O estudo da distribuição geográfica das plantas e animais denomina-se
Geografia ecológica animal e vegetal. Crescimento populacional, morta-
lidade, natalidade, competição e relação predador-presa são abordadas na
Ecologia populacional. O estudo da genética e a ecologia das raças locais e
espécies distintas é a Ecologia genética. As reações comportamentais dos
animais ao seu ambiente, e as interações sociais que afetam a dinâmica
das populações são estudadas pela Ecologia comportamental. As inves-
tigações de interações entre o ambiente físico e o organismo se incluem na
Ecoclimatologia e na Ecologia fisiológica.
A parte da Ecologia que analisa e estuda a estrutura e a função dos
ecossistemas pelo uso da matemática aplicada, modelos matemáticos e aná-
lise de sistemas é a Ecologia dos sistemas. A análise de dados e resultados,
feita pela Ecologia dos sistemas, incentivou o rápido desenvolvimento da eco-
logia aplicada, que se ocupa da aplicação de princípios ecológicos ao manejo
dos recursos naturais, produção agrícola, e problemas de poluição ambiental.
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 21
Caatinga
Vegetação típica da região
semiárida do Nordeste
brasileiro, constituída por
plantas cujas principais
características são folhas Figura 1.3 Interações da Ecologia.
pequenas, às vezes trans-
formadas em espinhos, A utilização de uma base multidisciplinar torna a ecologia uma ciên-
casca grossa, formação
de uma camada de cera e
cia pautada em raízes lógicas e metodológicas múltiplas. Huggett (1995) usa
raízes com capacidade de o termo geoecologia para definir uma ciência que se concentra no estudo
armazenar água. da interação entre os animais, plantas, fungos e microrganismos com a
pedologia, geografia e geologia. Outro termo utilizado seria a Ecologia da
Pampas
Denominação dada às paisagem, que integraria os conceitos da formação, modificação e organi-
vastas planícies do Rio zação dos ambientes.
Grande do Sul, cobertas
de excelentes pastagens, Pode-se observar que o campo da ecologia é muito vasto e Margalef
que servem para criação (1989) extrapola seu campo de atuação para áreas onde se trabalham ques-
de gado, principalmente tões do tipo: (1) descrição e ordenação geográfica da paisagem; (2) questões
bovino, cavalar e lanígero.
prática de agricultura e pecuária; (3) interação do ambiente com a fisiologia
Araucária e a etologia das espécies; (4) demografia, com introdução de pontos de vista
É um gênero de árvores matemáticos. Cada uma dessas questões indica que a ecologia é, intrinse-
coníferas, da família Arau-
cariaceae. Existem 19
camente, multidisciplinar.
espécies no gênero, com A ciência da Ecologia trabalha algumas questões básicas, dentre as
distribuições, altamente,
separadas na Nova Cale-
quais podem ser citadas as seguintes:
dônia (onde 13 espécies a) Como e por que os organismos estão distribuídos em um determi-
são endêmicas), Ilha Nor- nado ambiente?
folk, sudeste da Austrália,
Nova Guiné, Argentina, b) Qual o efeito de determinado parâmetro ambiental sobre os orga-
Chile, e sul do Brasil.
nismos?
c) Qual a razão de se ter no ambiente um conjunto de espécies e como
se processam as interações entre estas?
d) Qual o efeito das alterações no ambiente sobre o homem?
Em termos formais, o produto deste espectro, faz com que a Ecologia
possua diferentes divisões, com limites às vezes não muito nítidos. Assim
A Ecologia é, ao mesmo
tempo, uma ciência de sendo, diferentes pesquisadores se dedicam a várias subáreas, dentre as
análise e de síntese. quais é importante destacar (Figura 1.4):
22 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
Feliz Rawitscher
Figura 1.4 Subdivisões da Ecologia. Organizador do Depar-
tamento de Botânica, da
Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras da Uni-
Ecologia: ciência de síntese e de análise versidade de São Paulo,
fundada em 1934, no go-
A Ecologia é uma ciência de síntese de conhecimento, pois, para des- verno de Armando de Sal-
les Oliveira.
crever e explicar a distribuição dos diferentes seres vivos, nos vários am-
bientes, tem que buscar conhecimento nas ciências mais diversas. Mário Guimarães Ferri
Nasceu em São José
Liga-se, naturalmente, aos ramos da Zoologia e da Botânica, bem dos Campos, São Paulo
como da Microbiologia, da Fisiologia, da Genética, da Física, da Quími- (1918). Foi professor da
ca, e ainda, entre outras, também a Estatística - esta pode fornecer méto- Universidade de São Pau-
lo (USP). Foi um ecólogo
dos que dirão da validade dos resultados obtidos; e a Fitogeografia - esta pioneiro no Brasil. Pro-
parece mais estática, quando descreve a atual distribuição dos conjuntos curava informar o público
vegetais na Terra. Entretanto, se considerarmos, como é imprescindível a através de livros e artigos
de divulgação sobre eco-
história geológica do planeta e a distribuição dos grupos vegetais, que se
logia e poluição: em lin-
sucederam através do tempo geológico, observa-se que esta ciência também guagem clara e precisa
encara, dinamicamente, a evolução das comunidades vegetais. apresentava informações
necessárias pra compre-
A procura da razão, de certos fenômenos, faz da Ecologia uma ciên- ender a importância da
cia de análise. Por exemplo, no Nordeste brasileiro há predominância do conservação do ambiente.
bioma caatinga. No Sul, encontramos os campos que se prolongam nos Morreu em São Paulo ca-
pital (1985).
pampas uruguaios e argentinos, bem como matas de Araucária. Por que
estes campos e estas matas não ocorrem no Nordeste e por que faltam, no Cedrela fissilis (Cedro)
Sul, as caatingas nordestinas? Para tentar explicar problemas como estes Espécie rara, que ocorre
em diversas formações
são necessários uma soma enorme de dados fornecidos pela Climatologia, florestais brasileiras. Essa
Pedologia e pela Geomorfologia, entre muitas outras ciências. É preciso árvore frondosa produz
analisar o comportamento das diferentes espécies que compõem os diversos uma das madeiras mais
apreciadas no comércio,
grupos que ocorrem em vários ambientes. tanto brasileiro quanto in-
ternacional.
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 23
A ecologia vegetal no Brasil
Deve-se considerar o Brasil como um dos países pioneiros no campo
da Ecologia Vegetal. O fato de um livro básico, pioneiro em Ecologia, Lagoa
Santa, de Warming, conter estudos levados a cabo no que era, na época,
um “lugarejo miserável”, próximo de Belo Horizonte, não foi casual o fato
de Feliz Rawitscher, vindo da Alemanha, ter introduzido, no País, estudos
experimentais de Ecologia.
Em 1942 iniciou a divulgação de Problemas de Fitoecologia com
Considerações Especiais sobre o Brasil Meridional. Este trabalho foi com-
pletado dois anos mais tarde quando considerou, particularmente, os de-
mais fatores climatológicos: luz, oxigênio, vento, fatores pedológicos e gás
carbônico. Ao mesmo tempo em que se divulgavam, em nossa língua, co-
nhecimentos dessa nova ciência, também estimulava o desenvolvimento
de trabalhos experimentais.
Em 1942 publicou Algumas Noções sobre a Transpiração e o Balanço
d’Água de Plantas Brasileiras, e no mesmo ano, com Ferri, publicou um
trabalho sobre a metodologia para estudo da transpiração cuticular em Ce-
drela fissilis, trabalho esse que contém algumas considerações ecológicas.
E em 1943, Rawitscher, Ferri e Rachid; publicaram o primeiro trabalho ex-
perimental sobre a vegetação dos nossos cerrados, correlacionando-a com
as reservas de água contidas em seus solos profundos.
Em 1944 Ferri elaborou e defendeu a primeira tese de documento no
campo da Botânica, no Brasil, versando sobre a Transpiração de Plantas
Permanentes dos Cerrados, tese essa de cunho eminentemente ecológico-
experimental. Daí em diante, expandiram-se muito as pesquisas ecológicas
entre nós, especialmente no referido Departamento, onde inúmeras teses de
mestrado, doutoramento livre-docência e cátedra foram elaboradas sobre a
ecologia de cerrados (Ferri, Rachid, colaboradores e discípulos), caatingas
nordestinas (Ferri), caatingas do Alto Rio Negro, no Amazonas (Ferri), mata
pluvial tropical (Coutinho), dunas (Andrade), manguezais (Lambert); mata
de Araucária, no Rio Grande do Sul (Backes); a vegetação do Vale do Itajai,
Santa Catarina (Klein).
24 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
1. Explique como surgiu o vocábulo “Ecologia”.
2. Procure em cinco dicionários de autores diferentes a definição para a
palavra Ecologia.
3. Descreva de forma sucinta o histórico da Ecologia.
4. Como surgiram os movimentos ecologistas no mundo?
5. Explique cinco maneiras de como a Ecologia interage com outras ciên-
cias correlatas.
6. Por que podemos dizer que a Ecologia é uma ciência multidiscplinar?
A ecologia acústica
Apreciar os sons da natureza é algo comum no ser humano desde tem-
pos mais remotos, porém, apenas no final dos anos 60 surgiu o primeiro pro-
jeto que se tem noticia com finalidade específica de estudar o meio ambiente
sonoro, o World Soundscape Project (WSP), como foi chamado, foi formado
por pesquisadores da Simom Fraser University. Assim surgiu o conceito da
Ecologia Acústica e das Paisagens Sonoras.
A ecologia acústica seria o estudo da relação entre os organismos vivos
e o seu ambiente sônico (paisagem sonora ou soundscape), tendo como prin-
cipais atributos, chamar a atenção para os desequilíbrios desta relação, otimi-
zar a qualidade acústica sempre que possível, manter e proteger as paisagens
sonoras acusticamente balanceadas onde quer que as mesmas existam.
O profissional que milita nesta área se preocupa em auxiliar na áudio-
preservação dos ambientes naturais ameaçados, registrando a identidade eco
acústica dos mais variados ecossistemas, o ambiente sônico de cada habitat,
através do registro digital da musicalidade da natureza e utilizá-la nos mais
diversos espaços com a finalidade de se criar uma atmosfera sônica mais
saudável, harmoniosa e equilibrada; auxiliando na purificação auditiva contra
as estressantes arritmias sonoro-urbanas. Dessa forma, os sons ambientais
propiciam uma maior sensibilização e interiorização de conceitos e valores na-
turalísticos essenciais; promovendo aos ouvintes, um maior interesse e cons-
cientização ecológica quanto às questões ambientais.
Fonte: http://ecoterrabrasil.com.br/paisagesn-
sonoras; http://www.playnature.com.
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 25
Leitura
Artigo
• CAVALCANTI, R. B. Ecologia teórica e conservação biológica. In:
Atas do Encontro de Ecologia Evolutiva, Universidade Estadual
Paulista, Rio Claro, maio 1989. Anais... Rio Claro: Academia de Ci-
ências de São Paulo. 1990. p. 18-25.
Sites
• http://www.cartadaterra.com.br/
26 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
Capítulo
2
Fatores ecológicos
Objetivos:
• Aprimorar conceitos relacionados com a distribuição dos seres vivos em função
dos parâmetros climáticos, hídricos e edáficos.
• Mostrar como o clima influencia a ocupação dos espaços físicos nos ecossistemas;
• Determinar como atuam e como são expressos os fatores ecológicos.
• Discorrer sobre as ações relacionadas com o solo e sua formação na ocorrência das
diversas formas de vida presentes num ecossistema.
Fator ecológico é todo elemento do ambiente susceptível a agir direta-
mente sobre os seres vivos, pelo menos em uma das fases de seu ciclo de
desenvolvimento e eles atuam eliminando certas espécies dos territórios, e
conseqüentemente, intervindo na distribuição geográfica dos mesmos; mo-
dificam as taxas de fecundidade e de mortalidade; atuam sobre os ciclos
de desenvolvimento; provocam migrações, agindo na densidade das popu-
lações; favorecem o aparecimento de modificações adaptativas (hibernação, O pluviômetro é um apa-
relho utilizado na mete-
reações fotoperiódicas etc.). orologia para medir, ge-
Os fatores ecológicos podem ser divididos em dois grupos: o dos que ralmente, em milímetros
(mm), a quantidade de
compõem o ambiente físico (Fatores abióticos) e o dos que integram o am-
chuva durante um deter-
biente biológico (Fatores bióticos). minado tempo e local.
a) Fatores abióticos: integrados pelos fatores físicos, tais como lu-
minosidade, temperatura, pressão atmosférica, ventos, umidade e
pluviosidade, e pelos fatores químicos como quantidade relativa
dos diversos elementos químicos presentes na água e no solo.
b) Fatores bióticos: representados pelos seres vivos e suas intera-
ções intraespecíficas de predação, competição, parasitismo, entre
outros; assim como dos fatores alimentares.
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 29
ção e velocidade dos ventos, pressão atmosférica, umidade, latitude, altitu-
de, pluviosidade e insolação.
A climatologia divide-se em diversos ramos, segundo suas aplicações
práticas. A Climatologia aeronáutica se aplica à determinação de rotas de
navegação aérea e à escolha dos lugares adequados à construção de aero-
portos. A Climatologia marítima serve a finalidades análogas. Os estudos
climatológicos agrícolas visam estabelecer as melhores relações entre o
clima e as atividades de plantio e colheita. A Bioclimatologia analisa a
relação entre elementos climáticos e fenômenos biológicos e inclui a Biocli-
matologia humana. Esta se subdivide em ramos como a Climopatologia,
que estuda a relação entre o clima e as doenças, e a Climototerapia, que se
ocupa da influência das variações climáticas na cura ou erradicação de en-
fermidades. A Climatologia urbana investiga o microclima das cidades e a
influência exercida sobre o clima pela contaminação atmosférica produzida
por grandes núcleos populacionais.
Entre os fatores que mais influenciam na classificação do clima,
exemplifica-se: a pluviosidade e a temperatura. Estes dois fatores afetam,
principalmente, os sentidos e enseja ao homem ter uma idéia rápida e con-
dutiva na formação de opinião a respeito de um clima.
O Brasil apresenta várias regiões climáticas (Figura 2.1).
• Pluviosidade
A pluviosidade é a quantidade de chuva que cai numa determinada
área ou região em um determinado lapso de tempo, medida em milímetro
(mm). A pluviosidade é um parâmetro extremamente importante, pois pos-
sibilita quantificar o volume de água disponível em um determinado local.
No Nordeste brasileiro é grande a correlação entre o bioma Caatinga
e o clima, ao qual se deve atribuir à maior parte das características deste
ambiente. Em quase toda a área da Caatinga está presente o clima quente e
semiárido (Bsh na classificação de Köppen). Na Caatinga chove pouco, geral-
mente não mais do que 3 ou 4 meses por ano e, mesmo assim, com bastante
30 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
irregularidade. A pluviometria média oscila entre 350 e 800 mm/ano, sendo
menor em algumas áreas específicas. Uma particularidade quanto às chuvas
é que às vezes é possível cair num só dia, chuvas violentas, de até 150 mm.
Experimente
Pluviômetro caseiro
Material:
• Garrafa PET de 2 litros;
• Tesoura;
• Régua;
• Haste de madeira;
• Fita adesiva;
• Mamadeira (ou recipiente similar que marque a quantidade de líquido
em mililitros-ml);
Preparo
• Corte a garrafa PET no sentido transversal a uma altura de 20cm,
formando um recipiente;
• Prenda a garrafa a uma haste de madeira com fita adesiva; fixando
a haste no solo;
Pronto! Já está criado o seu pluviômetro caseiro simples e eficiente.
Após a chuva despeje a água do pluviômetro caseiro em copo de medi-
da (ex: mamadeira) para medir a quantidade de água de chuva precipitada,
em mililitros (ml). Depois, divida a quantidade de água (ml), pela área da
boca do pluviômetro caseiro, multiplicado por 1.000 (mil). Assim você terá a
quantidade de chuva precipitada, em mm (milímetros).
CÁLCULOS: Área da abertura do pluviômetro: PI x R² ou (PI x D²) / 4;
onde PI=3,14, R=raio D=diâmetro.
Exemplo:
Diâmetro do PET= 0,10 m -- (3,14 x 0,01) / 4 = 0,00785 X 1000= 7,85;
ou
Raio do PET = 0.05 m -- 3,14 x 0,0025 = 0,00785 x 1000 = 7,85.
Quantidade de chuva=120 ml -- 120 / 7,85 = 15,28 mm.
OBSERVAÇÃO: Procure colocar o seu pluviômetro caseiro em um local
aberto, distante de goteiras. Faça a medição em um período chuvoso.
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 31
no oeste da Bahia; o segundo, de fevereiro a abril, com chuvas no norte da
região Nordeste, onde caem 70% das chuvas do Ceará; o terceiro, de maio
a julho, com a precipitação no litoral do Rio Grande do Norte, Alagoas, Ser-
gipe e Bahia; finalmente o quarto trimestre que é o mais seco, com apenas
1% de chuva, pouca precipitação no oeste da Bahia.
Evapotranspiração: o termo é empregado para designar a transferên-
Déficit hídrico designa cia de vapor de água para a atmosfera a partir de um solo com vegetação.
uma situação na qual as
precipitações exibem valo-
A evapotranspiração representa, portanto, duas contribuições distintas: a
res inferiores aos da eva- evaporação da água contida no solo e a transpiração, resultante da ativida-
poração e a transpiração de biológica da comunidade vegetal presente.
das plantas.
Evapotranspiração potencial: o termo traduz a máxima quantidade
de água capaz de ser transferida para a atmosfera, em uma extensa área
inteiramente vegetada, com plantas em pleno vigor vegetativo e recobrindo
inteiramente o solo que, por sua vez, deve possuir água suficiente para não
causar limitação hídrica sobre algumas espécies de vegetal.
A Figura 2.2 mostra a distribuição espacial da precipitação no Nor-
deste brasileiro no primeiro quadrimestre do ano, por intermédio do sis-
tema de isoietas. Esse método é o mais preciso de todos, pois independe
das características de topografia do terreno e das precipitações. Os pontos
de mesma precipitação estabelecem as curvas que serão utilizadas para a
estimativa do valor médio da altura pluviométrica em qualquer ponto. O
produto desse valor médio, pela área correspondida, entre as isoietas, pos-
sibilita a estimativa do volume precipitado naquela superfície. A soma dos
volumes parciais dividido pela área total resulta no valor ponderado médio
da altura de água precipitada. O método das isoietas é mais utilizado para
grandes superfícies.
As chuvas mal distribuídas e muito intensas provocam enchentes,
causando grandes escoamentos superficiais e, consequentemente, acentu-
ando a erosão dos solos. Em diferentes anos pode-se ter o mesmo valor de
precipitação, porém com distribuições irregulares, provocando anos melho-
res ou piores nas condições de aridez.
Existem as chamadas chuvas orográficas, sendo aquelas que se for-
mam por efeito topográfico. O processo resume-se no seguinte: quando uma
massa de ar quente e úmida, em seu deslocamento encontra-se com uma
montanha, aquela mesma massa de ar é forçada a se elevar. Esta ascensão
resulta em nuvens do tipo cúmulos que ocasionam as chuvas nas zonas
serranas. Este processo de precipitação é muito comum na região litorânea
e nas zonas serranas do Nordeste, como na Chapada do Araripe, Serra da
Ibiapaba, Maranguape, Baturité entre outras. Este tipo de chuva promove
geralmente nas zonas serranas a ocorrência de determinadas formações flo-
rísticas que promovem a sua vez o apare-
cimento de espécies endêmicas, que não
caracterizam a região (Figura 2.3).
32 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
Figura 2.3 Aspecto da Serra da Ibiapaba (Ceará) apresentando vegetação característica da
Mata Atlântica.
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 33
O clima pode agir direta-
mente ou indiretamente
sobre outros aspectos na-
turais. Por exemplo: dire-
tamente sobre os vegetais;
Figura 2.4 Zonas climáticas do Brasil. Fonte: MIZUGUCHI et al. (1982).
indiretamente sobre a mo-
dificação do solo.
Tabela 2.1 Classificação climática de Köppen aplicada ao Brasil.
Folha perene ou pereni- Fonte: Koeppen-geiger.vu-wien.ac.at
fólia é um atributo à fo-
lhagem das plantas que
mantém as suas folhas
durante todo o ano.
Fotoperíodo é o intervalo
de tempo decorrido entre
o nascimento e o ocaso
do Sol. Também chama-
do de duração efetiva do
dia, o fotoperíodo depen-
de da latitude local e da
inclinação do Sol na data
considerada. Sazonalida-
de refere-se aos períodos
climáticos durante o ano
(estação climática).
34 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
Os diversos componentes do clima não têm o mesmo papel em todas
as partes. Nas regiões temperadas e frias, geralmente, é a temperatura o
fator condicionante da vegetação. Nas regiões tropicais, no entanto, é a umi-
dade (em estreita dependência da pluviosidade) que limita e condiciona a
vegetação. Isso é valido no primeiro (temperatura) e no segundo caso (umi-
dade), tanto no que concerne à área de distribuição das espécies individuais
quanto no que respeita à distribuição dos grandes tipos de vegetação. As
condições climáticas e edáficas associadas às bacias hidrográficas e ao re-
levo do terreno constituem barreiras ecológicas e geográficas à distribuição
de animais e plantas sobre o território brasileiro.
• Temperatura
As variações de temperatura na superfície terrestre são, principalmente,
resultado do efeito da latitude e da altitude ou da influência das grandes mas-
sas continentais. A temperatura, na dependência da latitude, varia segundo
as estações do ano e durante o dia e a noite (a sazonalidade e o fotoperíodo).
Além disso, são levados em consideração, os efeitos microclimáticos das con-
dições locais - relacionadas com a geologia, a topografia e o relevo. Em am-
biente marinho e no solo ocorrem os efeitos da profundidade; no solo, ocorre o Devido ao aquecimento
aumento da temperatura com a profundidade e, de modo oposto nos oceanos global e outros motivos,
alguns cientistas prevêem
tem-se uma diminuição de temperatura com o aumento da profundidade. que, até o ano de 2100,
A maior parte dos seres vivos, que se conhece, ocorre no intervalo em a temperatura média da
Terra pode subir em até 3
que a água é líquida (acima de 0 ºC). Nos casos extremos, as cianobactérias ºC. Isso proporcionará um
podem suportar temperaturas de até 75 ºC, podendo ocorrer também em desequilíbrio global entre
fontes termais bem próximas do ponto de ebulição. Algumas bactérias con- as ações físicas, químicas
e biológicas da biosfera.
seguem viver em temperaturas antárticas menores de –60 ºC.
A temperatura tem efeito oposto nos processos vitais. Se por um lado,
aumenta a energia cinética das moléculas acelerando os processos vitais, por
outro, temperaturas elevadas tornam as proteínas e enzimas instáveis. A par-
tir de um determinado limiar estas passam a não funcionar e a perder sua
estrutura (desnaturação proteica). Todos os organismos possuem pontos óti-
mos de funcionamento no que diz respeito à temperatura (Figuras 2.5 e 2.6).
O nível de energia necessária para os processos internos das células
depende de um limiar de temperatura ideal para que os organismos fun-
cionem. A sobrevivência de um organismo necessita de condições ideais
de temperatura.
Diferentes organismos desenvolveram adaptações para sobreviver tanto
em regiões com frio extremo (regiões polares), como em regiões de calor (áreas
próximas a vulcões) e em áreas de grandes variações diárias de temperaturas
(como desertos, onde faz muito frio à noite e muito calor durante o dia).
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 35
Os organismos euritérmi-
cos são aqueles que resis-
tem grandes amplitudes
de térmicas. Já os esteno-
térmicos são organismos
que resistem poucas va-
riações extremas de tem-
peratura (Ex: urso polar).
Figura 2.6 Distribuição dos insetos em função da temperatura. Triatoma infestans (▬▬),
(clima mesotérmico). Anopheles darlini (–– - ––) e Anopheles aquasalis (––●––●––) em fun-
ção da tempertura. Fonte: MIZUGUCHI et al. (1982).
36 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
Joel Asaph Allen (1838-
1921), zoólogo e ornintó-
logo, foi o primeiro cura-
dor de aves e mamíferos
no American Museum of
Natural History (1885) e,
posteriormente, o primei-
ro diretor do Departamen-
to de Ornitologia dessa
Figura 2.8 Relação entre temperatura e atividade de vôo de lepidóptera Amphipyra trago-
mesma instituição.
pogonis - Dreux (1974). Fonte: http://www.latvijasdaba.lv/
Os hidrocarbonetos são
compostos químicos cons-
tituídos apenas por áto-
mos de carbono (C) e de
hidrogênio (H). Estes, em
conjunto, podem se ligar
aos átomos de oxigênio
(O), nitrogênio (N), enxofre
(S), entre outros; originan-
do diferentes compostos.
As correntes marítimas
contribuem para espalhar
pelo planeta o calor que a
Figura 2.9 Mapa de distribuição dos recifes de coral nas zonas tropicais; locais onde a Terra recebe do Sol.
maioria se concentra devido à pouca variação da temperatura da água dos oceanos. A tem- Os raios solares são res-
peratura mínima de 21 oC no inverno pode comprometer sua existência. ponsáveis por 99% de
Fonte: MIZUGUCHI et al. (1982). toda a energia da térmica
que chega a superfície da
Terra, provocando a eva-
poração diária de milhões
de toneladas de água dos
oceanos.
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 37
Figura 2.10 As grandes correntes oceânicas são dirigidas pelos ventos e pela rotação da
Terra originando as zonas de ressurgência (em escuro) que são áreas de alta produtividade
Carotenoides marinha, próximas as plataformas continentais. Fonte: RIKLEFTS (2003).
São pigmentos de cor
vermelha, alaranjada ou
amarela, encontrados nas • Radiação Solar
células de todos os vege-
tais, atuando na fotossín- A radiação solar é o recurso básico usado por plantas que, por meio
tese. Eles são importantes da fotossíntese, transformam energia luminosa em energia química. Todas
na alimentação humana,
sendo que os tipos: beta- as plantas dependem dos pigmentos de clorofila para a fixação de carbono.
-caroteno, alfa-caroteno, (Figura 2.11) Através do processo fotossintético a energia da radiação solar
gama-caroteno e beta- é convertida em compostos químicos hidrocarbonatos, ricos em energia.
-criptoxantina são os pre-
cursores da Vitamina A Esta transformação em compostos de carbono é a base de produtividade da
que, e dentre outras fun- maior parte dos ecossistemas. Na fotossíntese, a água (H2O) e o dióxido de
ções, atuam diretamente carbono (CO2), procedentes da atmosfera, trazem os elementos necessários
na respiração celular e
sintetiza pigmentos da re-
para que a planta sintetize glicose (C6H12O6) por ação solar e para que libere
tina. Outros carotenoides na atmosfera oxigênio molecular (O2).
podem ser poderosos an-
tioxidantes, especialmente
a astaxantina, encontrada
em algas.
Fitoplâncton
É o conjunto dos organis-
mos aquáticos microscó-
picos que contém capaci-
dade fotossintética e que
vivem dispersos flutuando
na coluna de água. É con-
siderado a base da cadeia
alimentar aquática.
Zona eufótica
É a parte de um corpo de
água que recebe luz solar
suficiente para que ocorra
a fotossíntese - a luz pe-
netra com grande inten-
sidade, possibilitando um Figura 2.11 O ciclo da fotossíntese. Fonte: www.portaldoprofessor.mec.gov.br
ambiente favorável à vida
de organismos fotossinte- A radiação solar ou insolação é vital para os seres vivos, não só do ponto
tizantes (algas) - a profun-
didade da zona eufótica é de vista fisiológico, mas também morfológico, tendo as mais diversas formas
bastante afetada pelas va- de vida animal; também do ponto de vista físico, pois propicia a distribuição
riações que possam ocor- diferencial da energia em um mesmo ambiente, ao longo do ciclo anual.
rer na turbidez da água
38 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
A luz possui um grande espectro, que vai do ultravioleta ao infraver-
melho. O espectro visível abrange comprimentos de onde que vão de 380 nm
a 710 nm. As plantas contêm vários tipos de pigmentos, principalmente a
clorofila e carotenoides. A clorofila absorve a luz vermelha e azul enquanto
reflete o verde; e os carotenoides absorvem, principalmente, o azul e o verde,
refletindo os comprimentos de onda entre o laranja e o violeta.
No ambiente aquático a radiação é um fator que afeta profundamente
a distribuição dos organismos que fazem fotossíntese (o fitoplâncton) - Figu-
No Brasil o Sertão Cen-
ra 2.12. Na água do mar, o conteúdo energético do espectro visível diminuiu tral do Nordeste é uma
cerca de 50% em 10 metros, caindo para menos de 7% na profundidade de das áreas mais quentes
100 metros. Além disto, os tipos de comprimentos de onda de luz são absor- da Terra, pois a isolação
que aí chega é muito alta.
vidos de forma diferenciada em relação à profundidade, fazendo com que or- Em média, nesta Região
ganismos, com pigmentos adaptados a determinados tipos de comprimento incidem diariamente 5,5
de onda, habitem regiões diferentes. quilowatt-hora por metro
quadrado, o que equivale
a aproximadamente 0,39
cal/cm2/min de ondas
curtas e 0,3 cal/cm2/min
de ondas longas, que in-
fluenciam decisivamente
na pouca amplitude de
variação da temperatura
anual e mensal.
a)
Figura 2.12 Fotossíntese vs. luz no fitoplâncton marinho. Fonte: RYTHER (1970).
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 39
A não continuidade existente entre as superfícies que formam o globo
(rocha nua, grandes massas de água, cobertura vegetal, relevo) faz com que
a absorção solar ocorra diferentemente de lugar para lugar, gerando modos
diferentes de aquecimento e resfriamento, o que por sua vez gera desloca-
mento de massas de ar e grandes transferências de energia térmica.
É sobejamente conhecida a diminuição de temperatura ao longo dos
meridianos quando ocorrem deslocamentos do Equador em direção aos pó-
Biosfera los. Um dos fatores mais importantes na determinação global do clima é a
É o conjunto de todos os
ecossistemas existentes posição da incidência dos raios solares sobre a superfície terrestre. A terra
no planeta. É a visão “mais está levemente inclinada em sua órbita em relação ao sol. Esta inclinação
macro” de composição en- faz com que os raios solares incidam de forma mais verticalizada no Equa-
tre o vivo e o não vivo.
dor e mais inclinada em direção aos pólos. A incidência vertical resulta em
maior calor, pois quanto mais inclinada está a superfície em relação aos
raios solares incidentes, maior será a área que estes atingem e percorrendo
uma distância maior na atmosfera, o que desborda em menor concentração
de energia. As regiões tropicais e equatoriais recebem os raios solares em
um ângulo de incidência que resulta em uma maior entrada de calor.
Meridianos são círculos A alteração do eixo de inclinação da terra em relação ao sol durante o
máximos da esfera ter- ano afeta a intensidade de radiação recebida nas diferentes partes do glo-
restre que passam pelos bo. Em latitudes maiores de 30o Norte e Sul os efeitos dessa variação dão
pólos.
origem às estações do ano. Essa inclinação faz que, nos diferentes períodos
do ano, os hemisférios recebam quantidades de radiação diferentes (por
exemplo, quando é verão no hemisfério Sul é inverno no hemisfério Norte).
O ar quente possui uma maior capacidade de reter vapor d’água [(a
taxa de evaporação dobra a cada 10 ºC), é o Q10]. Os trópicos são úmidos,
não porque têm maior quantidade de d’água, mais porque a reciclagem
de água nestes locais é maior. Outro fator importante na distribuição das
chuvas é o vento, que pode distribuir a umidade para outras áreas. Jun-
tamente com o padrão de ventos, outro fator determinante da precipitação
é a presença de grandes massas de terra. Áreas continentais estão longe
das grandes massas de água onde ocorre a evaporação. O somatório dos
deslocamentos de água quente e fria, somada aos padrões de ventos (as
áreas de convergências tropicais) e da geografia do oceano dão origem às
grandes correntes marinhas, que vão ser outro fator de alteração climática
importante. No Atlântico Sul ocidental tem-se a Corrente das Malvinas e
a Corrente do Brasil, respectivamente, que são grandes deslocamentos de
águas frias e quentes.
A rotação da terra sobre seu eixo leva às variações de fotoperíodo e à
ocorrência do dia e da noite (Figura 2.13). O fotoperíodo é o período, em tem-
Meridianos em função da po, em que existe luz naquele local, é sinônimo de máxima insolação possível.
latitude e da longitude. É a fase de maior claridade de um ciclo que envolve a alternância de períodos
Fonte: GOOGLE (2011). de maior e menor luminosidade. Para as plantas, o fotoperíodo condiciona o
aparecimento em um grande número delas, principalmente, em elevadas la-
titudes. Alguns tipos de hormônios, relacionados com o seu desenvolvimento,
possibilitam estágios fenológicos como função exclusiva do fotoperíodo. As-
sim sendo, a fenologia pode também ser aceita como a parte da Botânica que
estuda vários fenômenos periódicos das plantas, como a brotação, a floração
e a frutificação, marcando-lhes as épocas e os caracteres.
Em artrópodes e insetos predadores, o fotoperiodismo ocasiona in-
Fenologia festações diferenciais no decorrer do ano, estabelecendo os de hábitos
É o estudo das relações diurnos e noturnos.
dos processos biológicos
periódicos com o clima.
40 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
Solstício (do latim sol +
sistere, que não se mexe)
é o momento em que o
Sol, durante seu movi-
mento aparente na esfe-
ra celeste, atinge a maior
declinação em latitude,
medida a partir da linha
do equador. Já o equinó-
cio (palavra que deriva do
latim aequinoctium e sig-
nifica “noite igual”, refere-
Figura 2.13 Movimento relativo sol/terra e as estações. Fonte: GOOGLE (2011). -se ao momento do ano
em que a duração do dia é
De acordo com a posição da terra no plano da eclíptica (plano da ór- igual à da noite sobre toda
a Terra.
bita terrestre), o qual possui um ângulo de 23o27’ em relação ao equador
solar, tem-se na Terra locais com diferentes quantidades de horas de brilho
solar, em um mesmo dia. Os valores extremos de iluminação contínua ocor-
rem nos pólos (seis meses), enquanto que no equador a insolação é um valor
constante durante todo o tempo (duração de 12 horas). Isto explica o motivo
de existirem as quatro estações do ano no globo em locais ao sul e norte do
equador. Ainda na Figura 2.13, é possível verificar como varia o fotoperíodo
no decorrer de um ciclo anual.
Outro efeito dos ciclos astronômicos que afeta os organismos, prin-
cipalmente os marinhos, é o da posição da lua, que dá origem aos ciclos
lunares que vão reger as flutuações de marés.
• Umidade relativa do ar
A umidade relativa é a quantidade de água presente em um dado vo-
lume de ar, expressa como uma porcentagem da quantidade que o ar pode
reter, quando saturado, à mesma temperatura. Ou diversamente, é razão
entre a pressão de vapor de água na atmosfera e a pressão de vapor satura-
do na mesma temperatura, multiplicada por cem.
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 41
O vapor de água é um dos constituintes variáveis do ar atmosférico,
chegando a ter até 4% em volume. Esse volume é determinado pela tempe-
ratura do ambiente, pois “a capacidade de contenção do vapor de água na
atmosfera é função da temperatura do ar”. Como o vapor de água é oriundo
da superfície, a sua concentração é máxima na proximidade da superfície
evaporante, e diminui à medida que se observam pontos mais apartados
dessa superfície. Também, há interações físicas e fisiológicas com o ambien-
te, incluindo vegetais e animais, as quais permitem que o vapor de água
Evaporação
é perda de água em forma
seja considerado um elemento muito importante nos estudos em Ecologia.
de vapor por superfícies A água existe em estado de vapor, na atmosfera, provinda da evapora-
sem vida, por mecanis- ção de todas as superfícies úmidas: mares, rios, lagoas, entre outras. Boa
mos físicos. Enquanto a
transpiração é a perda de parte da água atmosférica provém da transpiração dos animais e plantas,
água em forma de vapor, sendo que também, através da respiração, os seres vivos fornecem ao am-
por superfícies de seres biente uma pequena quantidade de água. Quanto mais calor estiver fazen-
vivos, por mecanismos re-
guláveis fisiologicamente. do tanto maior será a quantidade de água que o ar poderá reter, em forma
de vapor. Resfriando-se a atmosfera, essa quantidade decresce. O excesso
Percolação condensa, assumindo a forma líquida, precipitando-se como: orvalho, ne-
Refere-se ao movimento
subterrâneo da água atra-
voeiro, chuva ou neve, em conformidade com outras condições reinantes.
vés do solo, especialmen- É por isso que, frequentemente, uma frente fria é acompanhada de chuva.
te, em solos saturados ou Entrando em contato com o ar com certa temperatura e mantendo determi-
próximos da saturação.
Quando a quantidade de
nada quantidade de vapor de água, resfria-o; ele fica, em consequência, su-
água da chuva, infiltrada persaturado; a quantidade de vapor de água que agora pode manter torna-
no solo, torna-se maior -se menor; o excesso precipita-se como chuva.
que a capacidade de ab-
sorção deste, pode ocor- O ar que contém o máximo de água que pode reter diz-se saturado.
rer perdas de água por Muitas vezes ele não está saturado e pode absorver o que falta. Esta dife-
percolação. As perdas por rença entre o que o ar pode conter, em vapor de água, e aquilo que realmen-
percolação são influencia-
das pelo regime de chuva te contém, chama-se déficit de saturação. Quanto maior esse déficit tanto
e sua distribuição, pelo maior será a rapidez da evaporação e por transpiração.
escoamento do solo, pela
evaporação, pelas carac- Na prática, os ecólogos usam, com maior frequência, não os valores do
terísticas do solo e pela déficit de saturação, mas valores complementares desses, isto é, os valores
camada vegetal. de umidade relativa. Isto é, se chamarmos de umidade absoluta (U.A.) a
quantidade de água presente no ar em dado instante, acharemos a porcen-
tagem umidade relativa (% U.R.) dividindo o valor da umidade absoluta pelo
da unidade no estado de saturação (U.S.) aquela temperatura, e exprimindo
o resultado como porcentagem da umidade no estado de saturação. Assim
sendo, ter-se-á o seguinte.
• Relevo
Embora o relevo de uma região seja em grande parte dependente do
clima predominante, pode-se verificar que o relevo propriamente, quando
instalado, vai exercer apreciável influência no bioma regional. Dele depende
a velocidade de escorrimento de água caída ao solo e, consequentemente, a
sua infiltração, percolação e toda a circulação da água no interior do solo.
Interfere na distribuição da temperatura e da umidade atmosférica e, como
consequência, exerce efeitos diretos e indiretos sobre os organismos vivos
ali instalados ou em via de instalação.
42 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
É bem conhecida a influência que o relevo exerce na distribuição das
chuvas. Se tivermos uma área (Figuras 2.14 e 2.15) perfeitamente plana
(A) e outra de relevo mais ou menos acentuado (B), a pluviosidade se efe-
tuará nessas duas áreas de formas bem diversas, mesmo que ocorram
massas de ar em igualdade de condições nessas duas áreas. Por que sobre
a área A as correntes aéreas se deslocarão de modo diverso daquela da
área B? Na área A, as correntes aéreas se desenvolverão preferencialmente
horizontais e paralelas, até certo ponto ao solo, na dependência, no entan-
to, da grande circulação atmosférica, o que daria uma distribuição razoa-
velmente uniforme da precipitação. Diversamente, as correntes aéreas na
área B, tão logo encontrem as irregularidades do terreno, vão modificar
o seu nível, tendendo sempre a se amoldar ao relevo. Essas mudanças de
nível vão determinar variações no comportamento da umidade ou totais de
água que elas contenham.
Figura 2.15 Influência do relevo na formação de massas de ar que dão origem as chuvas.
Fonte: BONILLA; PORTO (2001).
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 43
Havendo umidade relativa, como o percentual de conteúdo de vapor
d’água que um volume de ar pode suportar a uma determinada temperatu-
ra, e sabendo-se que uma ascensão provoca um abaixamento de tempera-
tura, a umidade relativa nesses níveis superiores tende a crescer e, conse-
quentemente, vai haver mais possibilidades de condensação e precipitação
nesses níveis mais altos do que nos níveis mais baixos.
Uma montanha torna-se A vertente voltada para o lado de onde vem os ventos úmidos (barla-
uma barreira para o des-
locamento das massas de
vento) recebe maior precipitação (chuvas orográficas) e resulta num relevo
ar que carregam a umida- ou modelado mais suave com solos mais profundos; a vertente oposta (a
de. Sendo que o ar que vai sotavento) recebe menor volume de chuva, é mais abrupto e de solo mais
em direção à montanha rasos. Esse, o fato que ocorre na Serra Negra (Município de Floresta, Per-
– barlavento - é forçado a
subir e condensa-se, de- nambuco), na Chapada do Araripe (entre o Ceará, Pernambuco e o Piauí) e
vido à redução adiabática em vários outros “brejos” do Nordeste brasileiro com vegetação exuberante
da temperatura, podendo nos níveis mais altos, porque naquele ponto há uma possibilidade de preci-
causar chuva. Após pas-
sar sobre a montanha, já pitação maior que nos níveis inferiores.
desprovido de umidade,
o ar desce – sotavento - e
aquece adiabaticamente. • Os ventos
Costuma-se encontrar flo-
restas a barlavento e áre- Os ventos constituem importante fator ecológico, tanto por impulsio-
as semiáridas, áridas ou
desertos, a sotavento. narem as massas de vapor de água, quanto como elemento de modelação
das paisagens. Assim sendo, é de todo importante que se aprecie, embora
superficialmente, as suas ações: mecânica e fisiológica.
a) Ação mecânica
Foi referida, anteriormente, a ação de sotavento e barlavento das cor-
rentes aéreas. Deve ser verificada também, a ação mecânica dos ventos, que
é muito importante. Ela é sensível, mesmo nas condições aqui do Brasil em
que as correntes aéreas não são muito intensas, porém bem mais em outras
áreas, como na região do Caribe, no Sul dos Estados Unidos etc.; onde há
Caule reptante ou caule os tornados e outros fortes ventos. Essa ação mecânica pode se desenvolver
prostrado é, tipicamente, simplesmente, quebrando as copas das árvores ou então, derrubando-as.
um caule muito alongado,
produzindo raízes nos nós. É comum encontrar nas matas certos buracos e, ao lado, um montícu-
lo; é o local onde estava o raizame levantado pela queda de árvores. Essa é
uma ação mecânica direta e violenta, uma ação rápida. Há uma outra mo-
derada, que se exerce lentamente com vegetais que vivem à beira da praia.
Isto é, certas espécies, que vivendo mais para o interior tomam um porte
ereto; à beira-mar, pela ação constante, embora pouco intensa, do vento,
apresentam-se como verdadeiras plantas rastejantes, quando, em verdade,
não o são; resultam da ação dos ventos. Um bom exemplo é o guajiru, Chry-
sobalanus icaco. Indivíduos dessa espécie, quando habitando as proximida-
des do mar, das dunas, sob o efeito do vento, são sempre encontrados com
caule reptante (Figura 2.16), mas em ambientes livres dos ventos marinhos,
eles podem chegar à forma ereta, típica da grande maioria das espécies da
família a que pertence (Chrysobalanaceae).
44 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
Figura 2.16 A feição da copa do guajiru, pode mudar em função da ação dos ventos,
tornando-se reptante. Fonte: OHB (2010).
b) Ação fisiológica
As correntes aéreas, ao se deslocarem, levam consigo umidade etc. Se
uma folha transpira e não há corrente aérea, essa umidade tende a perma-
necer saturando a atmosfera que envolve a folha. Mas, na presença de cor-
rentes aéreas, essa umidade provinda das folhas é arrastada possibilitando
a saída de novos volumes de água, que resulta em maior dessecação da
folha e, consequentemente, de todo o vegetal. Esse fato é ainda mais acen-
tuado com os ventos secos. Isto é, com baixo teor de umidade.
Por outro lado, as correntes aéreas interferem ativamente nos proces-
sos de migração quer vegetal quer animal. No primeiro caso, é grande sua
ação no transporte de determinados dissemináculos (sementes e frutos ala-
dos ou dotados de pêlos longos, grãos de pólen, esporos etc.).
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 45
A queimada é a técnica comum, uma prática cultural muito arraiga-
da, em algumas populações, para a limpeza de pastos, campos agrícolas e
a roça. Não há duvida de que a cinza, acrescentada ao terreno, provoca uma
fertilidade maior durante dois a três anos, segundo o tipo e a textura do
solo. Verifica-se que há um aumento de potássio e cálcio e uma diminuição
de alumínio trocável pela cinza acrescentada ao solo. Sabe-se que a cinza
acrescenta, especialmente, cátions ao solo e somente muitos poucos ânions,
que se volatilizam pelo calor do fogo. O efeito do fogo faz-se sentir, princi-
palmente, nas áreas de vegetação herbácea, sujeitas a uma periodicidade de
seca e de umidade. Isto é, áreas com aproximadamente seis meses de chuva
e outros seis meses de estiagem. Nos meses de chuva, a vegetação herbá-
cea, geralmente graminoide, desenvolve-se; nos seis meses de estiagem ela
murcha e o fogo, então, a elimina, do que decorre uma série enorme de mo-
dificações resultantes dessa ação do fogo, pela queima não só dos elementos
macroscópicos, mas também dos elementos microscópicos, os quais para
uns são até mais importantes. Pela eliminação mencionada, enseja-se uma
seleção para certas formas que têm em si mesmas uma estrutura capaz de
resistir à ação desse fogo. Este é, realmente, um fator físico que desenvolve
grandes modificações em determinadas áreas do globo. O efeito das quei-
madas sobre o solo pastoril é negativo com queda significativa de produção
1 a 2 anos após a queimada. Portanto, é um método barato em curto prazo
e muito caro em longo prazo.
Ao contrário da opinião popular, o fogo na natureza não constitui um
fator artificial completamente criado pelo homem, nem é sempre prejudi-
cial aos interesses humanos. O fogo é um fator ambiental importante em
muitos ecossistemas terrestres, mesmo muito antes que o homem tentas-
se o seu controle. Por isso é considerado um fator tanto limitante quanto
regulador. Por exemplo, em regiões quentes e secas, tais como as do sul
dos Estados Unidos e da África Central, os incêndios aplicam uma pressão
seletiva que favorece a sobrevivência e o crescimento de algumas espécies
a expensas de outras.
Apesar de que maiores esclarecimentos devem ser obtidos neste cam-
po, parece que, em regiões secas ou quentes, o fogo age como decompositor
que produz a libertação de nutrientes minerais a partir de velhos detritos
acumulados e que se tornam tão secos que as bactérias e os fungos não
podem agir sobre eles. Assim o fogo pode até aumentar a produtividade ace-
lerando a circulação dos minerais.
Certamente as grandes manadas de animais de caça da África ou os
veados do “chaparral” da Califórnia não sobrevivem, a menos que pequenos
incêndios periódicos tragam uma nova cobertura de capim ou folhagem.
Ainda mais, pequenos incêndios periódicos previnem o desencadeamento
dos grandes incêndios, mantendo reduzidos a um mínimo os detritos que
servem de combustível.
No caso particular das savanas, o fogo exerce uma ação considerável
eliminando, praticamente a porção herbácea e algumas vezes atingindo a
vegetação arbórea. Se essa eliminação fosse total, haveria, depois de al-
gum tempo, completa ausência da porção de pequeno porte da vegetação.
No entanto, isso não ocorre, havendo uma substituição todo ano, daquela
porção de pequeno porte da vegetação. O que acontece é que o fogo, como
todos os outros fatores, atinge algumas espécies enquanto outras não são
afetadas, conseguindo ficar vivas mesmo com ação do fogo, vindo a rebrotar
no ano seguinte. Apenas a porção aérea é eliminada; a que fica abaixo do
nível do solo, caule e raízes, consegue fugir à ação do fogo (Figura 2.17). Isto
46 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
é, os incêndios, quando controlados e de pequena intensidade, do ponto de
vista ecológico, têm algumas vantagens para os ecossistemas ao promover
a rebrota de plantas, o controle de algumas pragas e doenças, promover a
germinação de sementes e favorecer a mineralização do solo; mas carecem
ser muito bem avaliados, devido aos efeitos negativos que podem trazer para
a fauna e microbiota do solo.
Chaparral da Califórnia
é um tipo de vegetação
constituído de arbustos,
que são adaptados ao fogo.
No Brasil, a Caatinga e o
Cerrado apresentam di-
versas espécies vegetais
que resistem bem às quei-
madas; Ex. A Lixadeira
(Curatela americana L.) e
a Janaguba (Himatanthus
drasticus Mart.), as quais
apresentam um tronco co-
berto por tecidos suberi-
zados, resistentes ao fogo.
O xilopódio - tubércu-
lo lenhoso e gemífero de
muitas plantas subar-
Figura 2.17 Os incêndios e seus efeitos. Fonte: www.alertatierra.com bustivas - originam-se do
hipocótilo ou da raiz pri-
No caso de dicotiledôneas com cascas delgadas, o fogo normalmente mária, raramente englo-
mata as células delicadas do câmbio e de outros tecidos meristemáticos. bando parte do caule; ar-
mazena água e alimento;
Mas, se o caule for envolvido por uma camada espessa de cortiça, que é má durante a época seca per-
condutora de calor e pouco combustível, a ação do fogo será muito reduzi- siste no solo e, ao volta-
da, com pouca penetração, ficando os caules apenas chamuscados, ou seja, rem às chuvas rebrotam,
refazendo a parte aérea,
sapecados na superfície, enquanto os tecidos meristemáticos internos ficam que é anual. O xilopódio é
perfeitamente protegidos. um órgão perene, que per-
A presença da cortiça é uma forma eficiente de proteção contra a ação mite às plantas resistirem
a condições ambientais
do fogo. Outro caso, por exemplo, é o de certas plantas que tem uma porção inclementes.
aérea muito delicada, como é o caso dos capins, que se queima na estiagem,
e que, no entanto, na época chuvosa seguinte rebrota da porção que ficou Sóbole é um ramo que
se origina de uma gema
subterrânea; é esta também uma forma efetiva de proteção contra o fogo. subterrânea e que forma
Esses órgãos com capacidade de regeneração, que permanecem abaixo da uma nova planta, quando
linha do solo, recebem nomes diversos conforme a sua morfologia. se desenvolve e liberta-
-se da planta de origem.
Assim temos: o xilopódio, que se desenvolve verticalmente, e o sóbole, Os sóboles podem consti-
que cresce quase paralelamente à superfície do solo, com ramificação in- tuir um intricado sistema
subterrâneo radiciforme,
tensa, de tal maneira que, se olhando de cima para baixo, se apresenta com mas de origem e estrutura
uma distribuição inicialmente radial, que se pode ir prolongando e nova- caulinar, como em Andira
mente se ramificando e emitindo novos brotos. Estes conjuntos foca de tal humilis, do cerrado.
forma que, em certos casos, é impossível se reconhecer qual o primeiro dos
caules. Pelo corte ou pela incidência do fogo, há, eventualmente, a morte da
porção aérea, e novos brotos voltam a se formar.
Estas são uma excelente forma de defesa contra o fogo, e está bem
representada no “angelim do tabuleiro” (Andira laurifolia). Outro tipo de de-
fesa contra o fogo é o recobrimento do caule aéreo, pelo menos em sua por-
ção basal, pelas bainhas das folhas, que permanecem depois da queda do
limbo, revestindo completamente o caule. O fogo queima apenas superficial-
mente, pois que passa rapidamente, pela força dos ventos. Um bom exemplo
é o da ciperácea Bulbostylis paradoxa.
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 47
As plantas lactescentes, como a mangabeira (Hancornia speciosa),
também apresentam resistência à ação do fogo. Outra forma, ainda, é a mu-
dança do vegetal da forma verde, ativa, para a forma de vida semilatente. A
planta se mete dentro de uma semente, ficando à espera de novas condições
propícias para voltar à superfície, em nova vida ativa. Estas sementes que
resistem à ação do fogo possuem cascas muito espessas, o que impede que
o calor afete a plantinha ali contida (embrião).
É possível que ainda se encontrem outras formas indiretas, como a de
certos vegetais que só se desenvolvem em grutas, passando o fogo por cima
e não os afetando.
Mas, se não há qualquer um desses dispositivos, que anulem a ação
do fogo, as espécies assim desprotegidas serão eliminadas. Depois de al-
gum tempo, encontrar-se-á, nas áreas atingidas pelo fogo, somente as es-
pécies que tenham artifícios capazes de eliminar a ação danosa desse fator.
Também as queimadas, provocam outros danos, como a morte de animais,
principalmente após o evento, devido à indisponibilidade de alimento para
os sobreviventes.
Fatores hídricos
Água
Sem cor, sem cheiro, sem sabor e sem calorias, a água é vital para
todas as formas de vida na Terra. Nenhum humano, animal ou planta pode
viver sem ela. Do elefante ao micróbio, a água é essencial; e não tem subs-
tituto. Para manter-se saudável, cada um dos mais de seis bilhões de ha-
bitantes da Terra precisa consumir, em bebidas e alimentos, cerca de 2,5
litros de água por dia. Sem água, é impossível plantar ou criar gado. Sem
“O consumo de água sau-
dável é fundamental à água, não há alimentos e, por via de conseqüência, não há vida.
manutenção de um bom A água toma parte nos mais importantes processos que ocorrem em
estado de saúde. Existem
estimativas da Organi- nosso organismo: a digestão, a circulação, a absorção de nutrientes e diver-
zação Mundial da Saúde sos outros. O homem, como qualquer outro animal, resiste de 30 a 45 dias
de que cinco milhões de sem alimentação. Mas não consegue sobreviver a uma semana sem água.
crianças morrem todos os
anos de diarréia, e estas Através de algumas funções fisiológicas como suor, a respiração e,
crianças habitam de modo acima de tudo, para a eliminação de resíduos do metabolismo celular, per-
geral o Terceiro Mundo.
Existem alguns cuidados
demos diariamente de 2 a 2,5 litros de água, que devem ser repostos em
que são fundamentais. igual quantidade todos os dias, com a ingestão de frutas e legumes e de
O acesso a água trata- água “in natura”.
da nem sempre existe na
nossa população – princi-
palmente na população de
periferia. Deve-se tomar
muito cuidado porque a
contaminação dessa água
nem sempre é visível....”
Fonte: UNGLERT. C. - Fa-
culdade de Saúde Pública
da USP.
48 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
A água constitui 70 por cento da superfície da terra (Figura 2.18).
Poderia parecer que se tem uma reserva inesgotável, mas não bem assim,
pois apenas 3 por cento é água potável. Destes, menos de 1 por cento se
acha disponível ao homem para beber, cozinhar, banhar-se, para irriga-
ção e outros usos. A água remanescente, em sua maior parte é salgada,
posto fazer parte de oceanos, mares e banquisas, ou se encontra em de-
pósitos subterrâneos. Banquisas caracteriza-se
como um campo de gelo
Naturalmente, a maior parte da água da Terra está nos oceanos e ma- glacial flutuante, prove-
res, sendo, portanto salgada. A pessoa que bebesse apenas água do mar logo niente do congelamento
morreria de sede e desidratação, à medida que seu corpo tentasse livrar-se da água do mar.
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 49
A perda de água, normalmente, não é problema para as hidrófitas e não
há cutícula bem desenvolvida nos órgãos submersos ou na superfície inferior
das folhas flutuantes. A superfície superior, entretanto, é fortemente cutini-
zada, o que as ajuda a prevenir a supersaturação e as folhas emergentes têm
ainda estômatos funcionais que controlam a transpiração. As hidrófitas têm
geralmente xilema pouco desenvolvido e sua sustentação depende principal-
mente da água que está ao seu redor. Elas têm grandes espaços aéreos que
aumentam a sua flutuabilidade e facilitam a difusão do O2 e do CO2 através
dos tecidos. As hidrófitas geralmente não sobrevivem ao dessecamento, ex-
ceto quando estão em estado dormente; folhas flutuantes de Chamaegigas
intrepidus, uma pequena planta aquática da África do Sul, podem resistir à
seca entrando em equilíbrio com ar de até 5% de umidade relativa, enquanto
estiverem protegidas no botão vegetativo, ao passo que, morrem se a umidade
do ar estiver abaixo de 95% quando estiverem maduras.
b) Higrófitas
As higrófitas, como por exemplo, muitos musgos, as hepáticas e algu-
mas samambaias (Figura 2.20), são plantas terrestres de ambientes úmi-
dos, onde o ar é muito úmido e o solo é permanentemente saturado de água.
Tais habitats são geralmente sombreados e, assim sendo, as higrófitas são
plantas adaptadas a fotossintetizar eficientemente em baixas intensidades
luminosas. Elas comumente têm uma grande área superficial em relação
ao volume, e as suas folhas freqüentemente têm apenas uma camada de
células de espessura. O seu conteúdo de água é controlado em grande parte
pela umidade do ar.
Muitas higrófitas podem suportar dessecamento prolongado, voltando
a crescer novamente tão logo recebam suprimento de água.
Figura 2.20 Samambaias e musgos vivem em ambientes úmidos e sombreados, fator tam-
bém necessário a sua reprodução. Fonte: GOOGLE (2011).
c) Mesófitas
As mesófitas são plantas que crescem normalmente em solos bem dre-
nados e que cujas folhas ficam expostas ao ar moderadamente seco (Figura
2.21). A maioria das espécies cultivadas e muitas das plantas nativas de
regiões tropicais e temperadas estão enquadradas nesta categoria. Elas têm
cutícula impermeável e regulam a perda de água pelo controle da abertura
dos estômatos. Nas mesófitas os estômatos freqüentemente se fecham por
50 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
um período, na metade do dia, quando as condições são geralmente favo-
ráveis para a evaporação, e também à noite, quando a fotossíntese pára e a
penetração de CO2 não é necessária. Como as mesófitas têm que substituir
grandes quantidades de água transpirada pelas folhas, elas possuem um
sistema radicular extenso e xilema bem desenvolvido.
Muitas mesófitas perenes são decíduas, perdendo suas folhas para
economizar água quando as condições são desfavoráveis, isto é, durante o
inverno, nas latitudes temperadas e árticas, e durante as estações secas,
Heliófita: palavra de raiz
nos trópicos. As partes aéreas de algumas mesófitas herbáceas morrem grega Helio – sol, e phyta
completamente nessa época e as plantas sobrevivem através de seus órgãos – planta. Plantas de am-
perenes subterrâneos, tais como rizomas e bulbos. bientes ensolarados.
Figura 2.21 As mesófitas são particularmente e em sua maioria heliófitas. Ex.: O cajueiro
(Anacardium occidentale) Fonte: www.jardineiro.net.
d) Xerófitas
As xerófitas ocorrem principalmente nos desertos, nas campinas se-
cas e nos lugares rochosos onde a água é geralmente escassa. Essas plan-
tas poderiam, algumas vezes, se desenvolver melhor em ambiente úmido
que seco, se fossem protegidas contra a competição das mesófitas. Sua so-
brevivência sob condições secas depende de certo número de adaptações,
incluindo um extenso sistema radicular que penetre ampla e profundamen-
te no solo para obter a água disponível. As células dessas raízes têm poten-
ciais hídricos excepcionalmente baixos, o que possibilita, a sua absorção de
água em solos muito secos (Figura 2.22).
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 51
Figura 2.22 As xerófitas apresentam características adaptativas de alta eficiência no uso
da água em ambientes áridos e semiáridos. Fonte: GOOGLE (2011).
52 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
pêlos produzir uma camada de ar ao redor da planta, argumenta-se que os
pêlos ajudam a reduzir a transpiração. Por refletirem a luz, eles ajudam a
amenizar o aumento da temperatura causado pela radiação solar.
A transpiração é também reduzida nas xerófitas pelo número, dispo-
sição e modo de função dos estômatos. O número de estômatos por unidade
de área superficial de folha ou caule é geralmente mais baixo que nas me-
sófitas e os poros são frequentemente menores. Algumas xerófitas têm es-
tômatos situados em depressões ou lado a lado em saliências na superfície
da folha e acredita-se que isto reduza a transpiração por criar uma camada
de ar acima de cada estômato. É possível também que as células-guarda
dos estômatos situados nessas depressões, estando próximas de células
fotossintetizantes, sejam mais sensíveis às mudanças dos níveis de CO2 nos
espaços intercelulares. Da mesma maneira, argumenta-se que o sentido do
enrolamento das folhas de gramíneas xerófitas, como, por exemplo, em Am-
mophila arenaria, seja de aumentar a concentração de CO2 nas vizinhanças
das células-guarda, mais do que reter a umidade do ar.
Os estômatos da maioria das xerófitas se abrem, durante o dia, por
um período de tempo menor que os das mesófitas. Em algumas suculen-
tas, como por exemplo, em espécies de Crassulas e Opuntia, eles se abrem
durante a noite quando as plantas assimilam CO2 por reações que não en-
volvem energia solar, formando ácidos orgânicos, tais como ácido málico
(metabolismo ácido das crassuláceas). Esses ácidos são convertidos em
açucares na luz, com desprendimento de CO2 que pode ser usado para fo-
tossíntese mesmo que os estômatos estejam fechados.
Tem havido muita discussão sobre se angiospermas halófitas, tais
como Sarcocornia ambigua (Figura 2.23) e Suaeda marítima, que habitam
pântanos salinos, são ou não xerófitas. Elas partilham com as xerófitas ca-
racterísticas de suculência e foram identificadas células de reserva de água
com paredes finas, em suas folhas. O fitogeográfico Schimper sugeriu que
tais plantas podem sofrer de “seca fisiológica” mesmo quando a água seja
abundante no solo, devido à alta concentração de sais. Entretanto, tem sido
demonstrado que o suco celular de halófitas é correspondentemente mais
concentrado, e assim a entrada de água por osmose não seria impedida.
Todavia, é mais provável que algumas halófitas, especialmente aque-
las que habitam faixas superiores de mangues e dunas, estejam expostas
a períodos de seca severa e talvez esta seja a razão da frequência com que
ocorrem células de reserva de água. Quando a água ocorre em quantidade
suficiente, a razão da transpiração por unidade de área superficial não é
muito diferente entre as halófitas e as mesófitas.
Figura 2.23 Sarcocornia ambigua (Michx) Alonso & Crespo é uma halófita extrema por tole-
rar concentrações extremas de sais no solo. Fonte: OHB (2011).
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 53
Este capítulo abordou os fatores ecológicos como elementos que de-
terminam a distribuição e ocorrência dos seres vivos em seus ambientes,
a forma como são expressos e sua ação no comportamento de muitos ani-
mais. São tratados por separados o clima e os componentes que definem
tipos climáticos específicos que ajudam na determinação de padrões cli-
máticos próprios dos biomas. Elementos do clima como a temperatura,
pluviosidade, luminosidade e os ventos que deslocam as massas de ar
pelo planeta, permitem a formação de complexos grupos florísticos e fau-
nísticos. Esses componentes não desempenham o mesmo papel em todas
as partes, mas quando suas particularidades são alteradas em conjunto
terminam causando o processo de aquecimento global com todas as reper-
cussões negativas para todas as formas de vida. Este capítulo falou tam-
bém da água, bem de uso comum e necessária à vida. Essa enorme massa
liquida ocupa cerca de ¾ da superfície terrestre, ou 360 milhões de km2,
e tem um papel da maior importância na alimentação do vapor atmosfé-
rico, na regulação térmica do planeta e nos processos de intercâmbio de
energia. A disponibilidade de água nos ecossistemas terrestres termina
favorecendo o aparecimento de plantas com características metabólicas e
morfoanatômicas especiais que as habilitam para viver em ambientes com
gradientes de umidade diferenciado.
54 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
Amazônia absorve excesso de CO2 da atmosfera
Estudo aponta que o saldo pode chegar a 5 toneladas anuais por hectare.
A Floresta Amazônica retira todos os dias uma quantidade significativa
de dióxido de carbono (CO2) da atmosfera. Medições recentes indicam que a
diferença entre o CO2 absorvido e liberado por cada hectare de floresta pode
chegar a 5 toneladas anuais. Esta é uma das principais conclusões de uma pes-
quisa desenvolvida pelo Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera
na Amazônia (LBA), uma frente internacional de estudos sobre o ecossistema
amazônico liderada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Durante seu processo de fotossíntese, as plantas absorvem gás carbôni-
co da atmosfera. Na ausência de luz, os vegetais emitem CO2 pela respiração.
O carbono da floresta também pode ser liberado sob a forma de queimadas
ou desmatamento. Até agora, havia um consenso entre os cientistas segundo
o qual a floresta não perturbada seria neutra. “Acreditava-se que a Amazônia
não perdesse nem ganhasse carbono durante os processos de fotossíntese e
respiração, apresentando apenas uma pequena perda para os rios, compen-
sada pelos ganhos atmosféricos”, relata Carlos Nobre, chefe do Centro de
Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do INPE.
No entanto, a expectativa não foi confirmada pela pesquisa do LBA.
Dados coletados por torres colocadas sobre a copa das árvores para moni-
torar as trocas de carbono na Amazônia mostram que, no cômputo geral, a
floresta absorve um percentual expressivo de gás carbônico. Esse resultado
caracteriza o ecossistema como um sorvedouro de carbono. Os pesquisadores
ainda não sabem a causa desse comportamento. Uma hipótese foi levantada
durante a I Conferência do LBA, realizada em Belém entre 25 e 28 de junho:
com o excesso de gás carbônico lançado na atmosfera por desmatamentos e
queimadas, as plantas estariam executando o processo de fotossíntese com
maior eficiência.
Segundo Carlos Nobre, a descoberta pode mudar a imagem da Amazô-
nia. “A floresta talvez passe a ser reconhecida não apenas por sua biodiver-
sidade, mas pela possibilidade de contribuir para contrabalancear o efeito es-
tufa.” Esse efeito, caracterizado pelo aquecimento da atmosfera, é provocado
por gases como o CO2 que retém o calor solar.
Fonte: Revista Ciência Hoje/RJ - 04/07/2000.
Leitura
Livro
• FLANNERY T. Os senhores do clima (como o homem esta alteran-
do as condições climáticas e o que isso significa para o futuro
do planeta). Rio de Janeiro/São Paulo: Editora Record, 2007. 388p.
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 55
Filmes
• Uma verdade inconveniente (www.youtube.com/laboeco).
• Escurecimento Global (www.youtube.com/laboeco).
• Um dia depois do amanhã: alugar em vídeo locadoras.
56 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
Capítulo
3
Fatores ecológicos
Objetivos:
• Oferecer noções sobre a formação do solo.
• Mostrar a importância do solo desde o ponto de vista ecológico.
• Identificar os fatores que contribuem na formação dos solos.
• Mostrar como o solo determina a distribuição das plantas nos ambientes.
Fatores abióticos: fatores edáficos
Conceitos básicos
• Pedologia: é a ciência que estuda a formação do solo, e foi iniciada
na Rússia por Dokuchaiev no ano de 1880. Os solos correspondem a
camada viva que recobre a superfície da terra, em evolução perma-
nente, por meio da alteração das rochas e de processos pedogenéti-
cos comandados por agentes físicos, biológicos e químicos.
• Edafologia: é o estudo do solo, do ponto de vista dos vegetais su-
periores. Considera as diversas propriedades do solo à medida que
elas se relacionam com a produção vegetal.
• Solo: é a camada superficial da crosta terrestre resultante da ação
combinada dos fatores de formação: material de origem (rocha), cli-
ma, organismos vivos, relevo e tempo.
Em uma acepção mais geral, solo é a porção de material, na superfície
da Terra, derivada, direta ou indiretamente da rocha matriz, em associação
com água, ar, restos orgânicos e organismos vivos.
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 59
a ação do clima e dos organismos, originando processos que modificam a
rocha. Tais processos são chamados de intemperismo e podem ser tanto
físicos quanto químicos, predominando os físicos em climas secos e os quí-
micos em climas úmidos. O intemperismo físico provoca a desintegração da
rocha e altera o tamanho e o formato dos minerais primários (já presentes
na rocha), ao passo que o intemperismo químico provoca a decomposição
da rocha e altera sua composição química. Durante a alteração química
da rocha podem ser formados minerais secundários (que não existiam na
rocha), que são as argilas cristalinas.
Considera-se que a pedogênese (formação do solo) se inicia quando as
argilas cristalinas começam a ser formadas. Por isso, a primeira camada
de solo que se forma é a camada superficial. A camada mais superficial do
solo é chamada de horizonte A e é a mais influenciável pela variação da
cobertura vegetal, do clima e do tipo de manejo. Num solo pedologicamente
muito jovem, logo abaixo do horizonte A localiza-se a rocha que está sendo
intemperizada. Quando fazemos um corte vertical no solo podemos ver es-
sas camadas. Chamamos esse corte de perfil do solo (Figura 3.1A e 3.1B).
Solos aluviais: são forma- O perfil de um solo, ou seja, sua secção vertical desde a superfície até
dos pela ação dos agentes a rocha de origem mostra certo número de camadas compostas por carac-
naturais de transporte
(rios, vento, etc.) Ex. solos terísticas diferentes. Essas características permitem separar os horizontes
de várzea. superficiais (eluviais, lixiviados) que por convenção são simbolizados com
a letra “A”. No horizonte A se pode ter subdivisões: A0 (nesta subdivisão,
Solos orgânicos: são for-
mados a partir de matéria
encontram-se grandes quantidades de folhas em decomposição, partes ve-
orgânica, por isso são fér- getais mortas, insetos e outros pequenos artrópodes, vermes, protozoários,
teis e tem alto valor agrí- nematódeos, fungos e bactérias), A1, A 2; aos horizontes superficiais, A, se-
cola. Ex. solos humíferos.
guem-se os horizontes eluviais, de acumulação, simbolizados pela letra “B”,
podendo, igualmente, abranger subdivisões (B1, B2). O horizonte B contém
muito menos material orgânico e, em geral sofre menos desintegração que
o horizonte A, mas pode acumular materiais formados no horizonte A e
transportados pelas águas das chuvas. Finalmente chega-se aos horizontes
mais profundos, em contato com a rocha mãe, alterada em diversos graus
nos diferentes níveis: horizonte C (C1, C2) - Figura 3.2.
60 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
Todos os solos possuem
pelo menos dois horizon-
tes, mas nem todos apre-
sentam, obrigatoriamen-
te, todos os horizontes.
Os solos compõem-se de
substâncias intactas ou
alteradas e de substân-
cias orgânicas, mais ou
menos estruturadas, ou
então coloidais.
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 61
As fases do solo
O solo apresenta três fases bem distintas: gasosa, líquida e sólida; sendo
esta última, constituída de material mineral e orgânico. Volumetricamente, essas
fases variam entre si (acontecendo o mesmo entre: as relações materiais minerais/
materiais orgânicos) de solo para solo e, mesmo num determinado solo, as relações
entre as fases gasosa e líquida sofrem constantes alterações. Na Figura 3.4 está
representada a composição volumétrica da fase de dois solos, mineral e orgânico.
A fase gasosa, também chamada ar do solo, varia até num mesmo local
devido à variação da fase líquida. A sua composição é diferente da do ar atmosférico,
sendo mais rica em água e mais pobre em oxigênio.
62 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
Num estudo sumário de um solo, podemos admiti-lo em seu estágio
mais jovem, ou seja, quando constituído apenas de partículas resultantes
da fragmentação da rocha-mãe, ou mesmo em certos casos, a própria rocha-
-mãe intacta. Posterior instalação de organismos (principalmente vegetais)
pouco exigentes, ou seja, capazes de viver com o mínimo de condições que
aquele solo jovem lhes pode dar resulta num processo de desenvolvimento
ou edafização, pela incorporação de matéria orgânica e pela ação dos mi-
crorganismos, resultando nos chamados solos maduros ou adultos.
Edafização refere-se a
A evolução desses solos depende, a princípio, da natureza da rocha- todo o processo de forma-
-mãe, podendo então, tomar rumos diversos conforme o clima em que se de- ção do solo, através das
ações físicas, químicas e/
senvolve o processo edafizante. Através da ação mecânica de mudanças de ou biológicas.
temperatura que resulta na dilatação e contração das rochas, aumento de
volume de água ao congelar e retorno ao volume original, quando de volta ao
estado líquido, bem como pela ação, também mecânica da chuva e dos ven-
tos, dão-se as primeiras fragmentações da superfície sólida da terra. Outras
ações juntam-se a essas no prosseguimento da fragmentação e edafização.
Ações químicas: solubilização, hidratação, oxidação, etc. Ações biológicas:
ações mecânicas de raízes, separando fragmentos da rocha, galerias forma-
da pela morte de raízes ou por animais de vida subterrânea, decomposição A matéria orgânica ou
dos detritos orgânicos, animais ou vegetais por fungos, bactérias etc. serrapilheira ocorre sobre
o horizonte A, representa-
O solo, assim formado, poderá permanecer no próprio local em que da pela queda de folhas,
se originou, ou sofrer transporte, ao se ir formando ou mesmo depois de galhos, flores, frutos, se-
mentes, cadáveres de ani-
formado, sob a ação simples da gravidade ou, a maiores distâncias, pelas mais etc., constituindo
águas ou pelos ventos. o horizonte O (orgânico),
produzindo um perfil O-A.
Os componentes minerais do solo podem permanecer no local de ori-
gem, ou ser deslocados. No mais simples dos casos, o deslocamento é ape-
nas vertical, quando, sob a ação da água de gravitação os minerais solubi-
lizados são levados a níveis mais profundos. Posteriormente, esses minerais
podem ser absorvidos pelo sistema radicial dos vegetais transportados à
superfície e depositados temporariamente no corpo da planta, sob a forma
de compostos mais ou menos complexos, resultantes de sua combinação
com os produtos da fotossíntese. Fragmentos dos vegetais (folha, ramos,
casca, etc.) vão, através do envelhecimento, sendo lançados ao solo. O des-
dobramento dessa matéria orgânica, pelos microrganismos do solo irá fazer As regiões pilíferas, das
voltar à forma anterior, aqueles minerais retirados pelo vegetal. Este círculo raízes dos vegetais, são
responsáveis pela grande
pode, ainda ser feito indiretamente, com o concurso de animais que, após absorção dos minerais na
se alimentarem de vegetais, devolvem ao solo o supérfluo para sua nutrição. composição do solo.
A continuação desse processo vai enriquecendo gradativamente os solos,
dando melhores condições para a vida vegetal, e assim sucessivamente.
Um solo adulto, assim formado terá dependido de dois fatores: a rocha
de que se originou e o clima em que se desenvolveram os processos eda-
fizantes. O solo pode apresentar partículas de grande calibre ou partícu-
las de calibre médio ou pequeno, essas características produzem diferentes
texturas, pois os espaços entre essas partículas variam e os volumes totais
desses espaços são diversos. Logo, ocorrem diferentes variações do grau de
infiltração de um solo para outro.
A cor do solo vai influir, principalmente, na absorção da luz e, conse-
Localização da região pi-
quentemente, na temperatura, o que irá interferir no processo de evapora- lífera. Fonte: GOOGLE,
ção e numa série de outros processos. Solos claros se aquecem relativamen- 2011.
te menos que os escuros.
Nem sempre é positivo o saldo dos processos bioquímicos do solo, po-
dendo, também, ser negativo, resultando num empobrecimento desses so-
los, com prejuízo para os seres vivos neles instalados.
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 63
Ação do clima na formação do solo
O clima é sem dúvidas um dos fatores que mais exercem influência
na formação dos solos, pois, condicionam os fluxos de energia e matéria
necessários para os processos de intemperismo e os mecanismos e proces-
sos pedogenéticos que ocorrem na formação dos solos. Assim, os solos de
regiões cujo clima confere temperaturas médias mais elevadas e farta dis-
ponibilidade de água pluvial, tendem a ter maior evolução pedogenética em
Jacobus Henricus van't comparação com os solos de regiões onde o clima apresenta deficiência de
Hoff (1852-1911) foi um umidade (semiaridez). Maiores volumes de água, infiltrando e percolando
químico neerlandês. Em
seus estudos, mediante a
através dos perfis dos solos das regiões mais úmidas, promovem a hidrata-
aplicação de conceitos ter- ção dos constituintes e favorece a remoção de cátions liberados dos mine-
modinâmicos ao conhe- rais por hidrólise acelerando os processos de transformação dos solos.
cimento dos equilíbrios
químicos, determinou a Assim, em climas úmidos e quentes (altas temperaturas) há uma ace-
relação entre a constante leração dos processos pedogenéticos, tendendo à formação de solos muito
de equilíbrio e a tempe- intemperizados, evoluídos e profundos, com reações ácidas e pobres quimi-
ratura absoluta (equação
isocórica de Van’t Hoff). camente. São solos cuja mineralogia reflete uma predominância de mine-
rais secundários como as argilas (caulinita) e óxidos de ferro e alumínio.
64 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
b) Transporte das substancias nutritivas dos horizontes profundos à
superfície do solo, compensando as perdas por lixiviação;
c) Ação mecânica e química exercida pelo sistema radicular, sobretu-
do pela vegetação arbórea, principalmente nos trópicos úmidos, e;
d) Controle dos efeitos da erosão.
Intemperismo: são os
processos de natureza fí-
sico, química ou biológica
de desagregação e decom-
posição mineralógica que
influenciam os processos
de formação dos solos a
partir dos quais tem
ocorrência a pedogênese.
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 65
Ação do material de origem na formação do solo
A natureza constitutiva do material de origem, de composição mineral
ou orgânica, apresenta determinante influência nos resultados dos proces-
sos formação de solos, constituindo-se em um fator dos mais relevantes. Os
materiais de origem são provenientes do substrato rochoso ou sedimentos
cuja natureza mineralógica influencia os processos de meteorização e in-
temperismo, conferindo a diversidade material da qual derivam os diversos
tipos de solos. A natureza química e o grau de resistência das rochas e dos
minerais aos processos intempéricos, relacionados a um determinado clima,
em um dado período de tempo, determinam não somente o grau de transfor-
mação e evolução de um solo como também a sua riqueza química e disponi-
bilidade de nutrientes. Assim, o material de origem, condiciona a morfologia
dos solos, notadamente, deixando sua impressão na textura, na cor e na
natureza químico-mineralógica dos constituintes minerais de um solo.
Assim sendo, na formação do solo, são consideradas as seguintes ca-
racterísticas das rochas:
a) Composição mineralógica e química, que tem influência na riqueza
nutricional do solo, e;
b) Textura e resistência mecânica que se relacionam com a velocidade
do processo de formação do solo.
Com efeito, cabe salientar que todos os solos resultam do condiciona-
mento dos processos inerentes aos fatores ambientais em conjunto. Con-
tudo, a importância relativa de cada fator de formação de solo, pode variar
para cada tipo de solo. No Quadro 1, a seguir, apresenta-se uma síntese dos
fatores de formação de solos.
Quadro 1 Fatores de formação do solo.
Fatores Ambientais Tipo de Fator Atuação
Termoclastia denomina-se
a fragmentação ou desa- Clima
gregação das rochas pela Fatores ativos Fornecem matéria e energia.
Biosfera (Organismos)
variação de temperatura.
Controla o fluxo de matérias:
superfície; erosão; profundidade;
Relevo Fator controlador
infiltração; lixiviação e
translocação.
Diversidade do material
Material de Origem Fator passivo constituinte sobre o qual ocorrerá
a pedogênese.
Determina o tempo cronológico de
Tempo Fator passivo
atuação do processo.
66 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
Figura 3.7 Deserto do Saara – região mais clara do mapa. O Saara se estende desde o Ocea-
no Atlântico ao Mar Vermelho para um comprimento de 5.200 km e uma largura de 1.500
km ou 9 milhões de km² de deserto. O Saara é permanentemente alterado pela erosão dos
ventos quentes, sendo desprovido de vegetação. Esse deserto apresenta as regiões mais
quentes do mundo, superior a 50°C. O recorde de temperatura foi registrado no Saara, com
58°C na Líbia Al Azizia. Sendo que, durante a noite, podem ser registradas temperaturas
abaixo de 0 ºC. Essa grande variação de temperatura é devida a baixa umidade dessa região.
Fonte: GOOGLE (2011).
b) Influência da água congelada
Em regiões frias, o congelamento da água acumulada nas fendas das
rochas aumenta seu volume em aproximadamente 9% exercendo forte pres-
são para o alargamento dessas fendas podendo causar aumento das fratu-
ras e fragmentar as rochas (crioclastia – Figuras 3.8 e 3.9).
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 67
Feldspato é um grupo de
rochas que se caracteri-
zam por apresentar silica- Figura 3.9 Rocha com fissuras provenientes do processo de crioclastia.
tos de alumínio contendo Fonte: GOOGLE (2011).
diferentes proporções de
cálcio, potássio e sódio.
Eles ocorrem em rochas c) Influência dos ventos
pegmatíticas, associados
a diversos outros mine- A ação eólica provoca o desprendimento das partículas soltas das ro-
rais, o que torna bastante chas e, consequentemente, causa modificações superficiais no relevo (Fi-
difícil a quantificação de
suas reservas com alto
gura 3.10). Os ventos, carreados de partículas, vão polindo as rochas até
grau de precisão. transformá-las em pequenos grãos de areia.
Existem dois mecanismos diferentes: 1º) Deflação - ação direta do
vento sobre as rochas, retirando delas as partículas soltas e 2º) Corrosão -
ataque do vento carregado de partículas em suspensão, provoca o desgaste
das rochas e, também, dos próprios fragmentos.
Representante do grupo
feldspato. Fonte: GOO-
GLE, 2011.
68 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
fragmentação das rochas. Observe, na Figura 3.11, as raízes de árvores que
exercem pressão sobre o solo, causando rachaduras no mesmo.
Figura 3.11 Erosão do solo provocada pela ação das raízes. Fonte: GOOGLE (2011).
Figura 3.12 Erosão do solo provocada pela ação dos liquens. Fonte: GOOGLE (2011).
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 69
Água do solo
No estudo dos fatores ecológicos, é de máxima importância a partici-
pação da água, principalmente, na região atmosférica. No ciclo da água há
uma etapa que se realiza no solo, sendo esta, tão importante quanto àquela,
para o desenvolvimento dos processos ecológicos.
De um modo geral, pode-se dividir a água do solo em: água de super-
fície (oceanos, lagos, rios, outros) e água subterrânea (ocupando os espa-
ços entre as partículas do solo ou em depósitos de maior volume, abaixo
da superfície). A água de superfície fornece, por evaporação, grande parte
da umidade atmosférica, por escorrimento laminar ou pela força dos rios,
arrasta consigo os materiais fragmentados da superfície, sendo a maior res-
ponsável pela erosão dos solos; influência a distribuição das temperaturas;
é utilizada para dessedentar os animais.
A vegetação do manguezal
A água subterrânea tem sua maior importância na solubilização de
desenvolveu uma adapta-
ção foliar para excretar o minerais do solo, formando a “solução do solo”, que será absorvido pelos
excesso de sal que é ab- vegetais. A circulação mais ou menos fácil da água no solo e sua perma-
sorvido pelas raízes. A es- nência mais ou menos longa estão em função das características do solo,
trutura é denominada de
glândulas de sal. como também delas depende a concentração de elementos minerais na
“solução do solo”. Dessa concentração depende o maior ou menor fluxo
osmótico para o interior dos vegetais (endosmose) ou, em casos especiais,
para o exterior (exosmose).
Confira agora neste site:
www.cricketdesign.com. Parte da água, incorporada pelos vegetais, é lançada à atmosfera por
br/abril/ciclodaagua uma transpiração, permitindo, num restabelecimento do equilíbrio osmótico, a
animação sobre o ciclo da
água.
entrada de novos volumes da solução do solo e assim sucessivamente. Um
bom suprimento de água, com um ótimo de concentração de sais, são con-
dições indispensáveis para o bom desenvolvimento da cobertura vegetal.
Mas, o ideal de concentração e teor de cada um dos elementos contidos na
“solução do solo” é variável para cada espécie vegetal, fato este que interfere
decisivamente, nas relações solo/planta.
Glândulas de sal localiza-
das na folha da espécie La-
guncularia racemosa. Fon- Salinidade do solo
te: www.projetomanguezal.
ufsc.br
Salicornia e Suaeda são Os organismos também são afetados pela salinidade do meio. A con-
halófitas genuínas. As centração de sais no solo faz com que diminua a resistência osmótica de
espécies halófitas não
desenvolvem o seu cresci- perda de água para o meio, o que leva à incapacidade de manter a concen-
mento, sem a presença de tração necessária de água para as atividades metabólicas.
algum tipo de sal, princi-
palmente, o cloreto de só-
Várias plantas possuem adaptações para viver em ambientes com alta
dio (NaCl). salinidade, principalmente aquelas que vivem sob influência do Cloreto de
Sódio (NaCl) e são conhecidas como halófitas (Figura 3.13). Esta figura mos-
tra o crescimento relativo de três plantas que crescem em solos salinos,
cultivadas em solos com diferentes concentrações de NaCl. Estas plantas
compensam o excesso de sal do meio com mecanismos necessários aos pro-
cessos de osmoregulação. Alguns animais, como aves e iguanas marinhas,
apresentam glândulas de sal, por onde eliminam os excessos. Alguns orga-
nismos como a Artemia estão tão adaptados a viver em ambientes salinos
que conseguem sobreviver à concentração de sais próxima à cristalização
(cerca de 300g por litro).
70 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
Figura 3.13 Crescimento de três plantas em solo salino. Fonte: BONILLA; PORTO (2001).
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 71
do então, comunidades uniespecíficas. Esses vegetais podem, assim, servir
como indicadores de solos salinos.
pH do solo
Dentre os fatores do solo deve, ainda, ser referido o pH (concentração
de íons Hidrogênio). O pH da água e do solo pode ser um fator que exerce
uma poderosa influência na distribuição dos organismos. O protoplasma de
As bactérias desempe- plantas é afetado drasticamente por altas concentrações de íons OH- e H+,
nham uma importante
função na decomposição
que se tornam tóxicas em um pH abaixo de 3 (ácidos) e de um pH acima
de resíduos orgânicos e na de 9 (básico). Além disto, efeitos indiretos do pH afetam a concentração dos
formação do húmus, in- nutrientes disponíveis e/ou a formação e concentração de toxinas.
cluindo organismos fixa-
dores de azoto amoniacal Em pH’s abaixo de 4.0 a 4.5, por exemplo, os solos apresentam geral-
(NH3 ou NH4+) em azoto mente uma alta concentração de íons de Alumínio (Al+3), que pode ser muito
nítrico (NO2- ou NO3-) - tóxico para a maior parte das plantas. Alguns nutrientes essenciais para as
nitrificação. Das bactérias
fixadoras de azoto, um plantas, como Manganês (Mn+2) e Ferro (Fe+3) podem ser tóxicos em baixos
grupo (Rhizobium) vive níveis de pH. O aumento da acidez pode afetar os organismos de três manei-
em simbiose com legumi- ras: (i) diretamente, alterando a osmoregulação, a atividade enzimática e a
nosas, fixando azoto em
nódulos das raízes destas. trocas gasosas. (ii) indiretamente, pelo aumento da concentração de íons tó-
xicos (iii) indiretamente, reduzindo a qualidade e distribuição dos recursos.
Embora se tenha atribuído grande importância a esse fator, chegando-
-se a admitir que a simples leitura do pH seria suficiente para orientar sobre
as características ecológicas de uma determinada área, principalmente por
sua importância nos processos de respiração e de ação enzimática nos ve-
getais, no entanto, essa fase já está superada e se reconhece que respostas
ao pH só se fazem sentir intensamente quando aquele fator atinge valores
A escala do pH representa extremos: pH muito elevado e pH muito baixo.
uma variação numérica A maioria das espécies parece ter uma ampla tolerância para as va-
de 0 a 14, onde há um
gradiente de acidez má- riações de pH que normalmente ocorrem. Certas espécies mais tolerantes a
xima (0) e uma gradiente pH elevado são chamadas espécies basófilas; de certos ambientes ricos em
de alcalinidade máxima gipsita (gypsum, sulfato de cálcio).
(14). Sendo que o valor in-
termediário (7) é definido Organismos com alta tolerância ao cálcio são denominados calcífilos
como neutro. ou calcícolas. Solos com pH baixo, geralmente tem carência de nutrientes,
resultando em baixa produtividade.
Nutrientes inorgânicos
Os organismos necessitam de uma série de elementos químicos para
Representação da escala do seu metabolismo. No caso das plantas, por exemplo, pode-se dividir este
pH. Fonte: GOOGLE, 2011.
requerimento entre os macronutrientes, como Nitrogênio (N), Fósforo (P), Po-
tássio (K), Magnésio (Mg), Cálcio (Ca) e Enxofre (S) Além dos micronutrien-
tes ou elementos traço, como Ferro (Fe), Manganês (Mn), Zinco (Zn), Cobre
(Cu), Boro (B), Molibdênio (Mb) e Níquel (Ni). Na Figura 3.15
estão relacionados os principais nutrientes requeridos pelos organis-
mos, e suas mais importantes funções primárias e, outros minerais com
função importante em determinados organismos, segundo Ricklefs, 1996 e
Begon et al. 1996.
72 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
Figura 3.15 Nutrientes e suas funções biológicas.
Fonte: RICKLEFS (1996); BEGON et al. (1996).
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 73
gica e a regulação do ciclo hidrológico de superfície. Neste capítulo foram
vistos quais são os fatores ambientais e os processos que concorrem para
a formação dos solos, seus atributos e propriedades físicas, químicas e mi-
neralógicas do solo, e, como estes se relacionam com a morfologia e o com-
portamento físico, hídrico e edáfico. Buscou-se responder como os solos se
formam para se entender como eles se tornam sistemas complexos, com
diversas características e propriedades das quais dependem as suas funcio-
nalidades. De forma simples, o assunto é abordado, a princípio, fazendo-se
uma breve conceituação e discussão sobre os processos conhecidos como:
pedogênese e intemperismo. Depois, são discutidos os fatores ambientais
que condicionam a pedogênese, introduzindo os conceitos de mecanismos
de formação de solos e finalizando pela descrição sucinta dos principais
processos de formação de solos e como eles determinam formas de cresci-
mento das plantas em seus ambientes. Também é apresentada a classifica-
ção dos principais tipos de solos que se encontram no território nacional.
74 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
mineralização da matéria orgânica. A ação da biota que vive na serrapilheira
implica na formação de camadas horizontais reconhecíveis a olho nu. A cama-
da mais superficial é constituída por estruturas (folhas, ramos, flores, frutos,
sementes, cadáveres) inteiras. Essas estruturas inteiras são consumidas pelos
detritívoros, que as transformam em pequenos pedaços (as estruturas inteiras
são “picadas” em pedacinhos). Disso resulta uma segunda camada logo abai-
xo, constituída por pedaços menores de detritos. Pequenos pedaços têm uma
relação superfície/volume muito maior que pedaços grandes. A maior superfí-
cie facilita sua decomposição. Da decomposição resulta uma terceira camada,
que constitui uma massa informe de matéria orgânica.
A serrapilheira é constituída por uma gama enorme de substâncias or-
gânicas muito diferentes, cujas moléculas apresentam diferentes naturezas e
graus de complexidade, indo desde moléculas muito simples e de decompo-
sição fácil e rápida, como açúcares simples (glicose, por exemplo), até molé-
culas extremamente complexas e de decomposição difícil e muito lenta, como
a lignina. A aposição de detritos representa a entrada de materiais, ao passo
que a decomposição representa a saída de materiais da serrapilheira. Cada
substância orgânica é decomposta numa velocidade diferente, e durante a
decomposição, diferentes compostos orgânicos intermediários são produzi-
dos. Por exemplo, moléculas simples são totalmente decompostas, produzindo
água, gás carbônico e minerais (como Ca++, K+, Mg++), num processo cha-
mado mineralização. Porém, moléculas complexas são apenas parcialmente
decompostas, gerando diferentes radicais orgânicos. Esses radicais orgânicos
reagem especialmente com moléculas de lignina parcialmente decompostas,
produzindo novas substâncias orgânicas, que não existiam na serrapilheira
antes desse processo. Essas substâncias orgânicas neossintetizadas são ge-
nericamente chamadas de húmus, e o processo que leva à sua produção é
chamado de humificação.
Fonte: MARTINS, F. R. Depto. Biologia Vegetal/IB/UNICAMP
Leituras
Livros
• EMBRAPA. Sistema brasileiro de classificação de solos. 2 ed. Rio
de Janeiro: Centro Nacional de Pesquisa de Solos, 2006. 306 p.
• REICHARDT, K.; TIMM, L. C. Solo, planta e atmosfera - con-
ceitos, processos e aplicações. Editora: Manole, 2003. 500 p.
Filme
• Agroflorestação – outro jeito de fazer agricultura no semiárido.
Sites
• http://www.cnps.embrapa.br
• http://www.sbcs.org.br
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 75
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA PARA PESQUISA DA POTTASSA E DO FOSFA-
TO. Manual internacional de fertilidade do solo. 2 ed. Piracicaba: POTA-
FOS, 1998.
DEMATTÊ, J. L. I. Manejo de solos ácidos dos trópicos úmidos – região
amazônica. Campinas: Fundação Cargill, 1988.
EMBRAPA - EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Sis-
tema brasileiro de classificação de solos. Rio de Janeiro: Centro Nacional
de Pesquisa de Solos, 2006. 306 p.
KIEHL, E. J. Manual de edafologia. Relações solo-planta. São Paulo:
Editora Agronômica Ceres, 1979.
LUCENA, T. S. R. Curso de recuperação de áreas degradadas: a visão da
ciência do solo no contexto do diagnóstico, manejo, indicadores de monito-
ramento e estratégias de recuperação. EMBRAPA Solos. Série Documentos,
103. Rio de Janeiro. 2008. 228 p.
MONIZ, A. C. (Coord.) Elementos de pedologia. São Paulo: Polígono,
EDUSP, 1972.
OLIVEIRA, J. B. de; JACOMINE, P. K. T.; CAMARGO, M. N. Classes gerais
de solos do Brasil. Guia auxiliar para seu reconhecimento. 2 ed. Jaboti-
cabal: FUNEP. 1992.
PRADO, H. do. Manual de classificação de solos do Brasil. 3 ed. Jaboti-
cabal: FUNEP, 1996.
WILLIS, A. J. Introduction to plant ecology. London: George Allen &
Uwin. 1973.
76 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
Capítulo
4
Fatores ecológicos
Objetivos:
• Descrever as relações de convivência que se processam entre os organismos no
ambiente em que vivem.
• Mostrar as principais associações simbióticas que ocorrem entre os seres vivos;
• Identificar as estratégias de fuga e escape das presas.
• Discutir os principais mecanismos de defesa das plantas contra a herbivoria.
Fatores bióticos
Introdução
Em ecologia, existem estruturas funcionais (Figura 4.1) que estabele-
cem uma hierarquia natural dos sistemas ecológicos.
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 79
o ciclo de nutrientes, formam os ecossistemas. O intercâmbio entre todos
os ecossistemas do planeta constituem a biosfera. A Figura 4.2 esquema-
tiza essas relações.
Definição
Fatores bióticos representam todos os efeitos causados pelos organis-
Os organismos agem mos presentes em um determinado ecossistema e suas relações.
como profundos modifica-
dores do ambiente e, por-
A presença ou ausência de determinados tipos de organismos pode
tanto, são determinantes constituir um fator determinante para a ocorrência ou não de outro tipo de
para as paisagens. organismos no ambiente. Por exemplo, para uma população de predadores,
a presença ou não de uma população de presas, determina a ocorrência ou
não da mesma (população de predadores), em um determinado ambiente;
sendo, portanto, um fator preponderante na sua distribuição. Outros orga-
nismos alteram as condições do meio, de forma a permitir que determina-
dos organismos colonizem o ambiente. Essas interações entre os organis-
mos originam um conjunto de associações e inter-relações que podem ser
definidas, de uma maneira geral, como simbiose.
80 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
O Quadro 4.1 mostra as principais interações entre os seres vivos:
Quadro 4.1 Principais tipos de interações entre os organismos. Fonte: DAJOZ, 2005.
Considerando as interações entre duas espécies: Espécie A e Espécie B;
Legenda:
0 : as espécies não são afetadas
+ : a vida da espécie tornou-se possível ou melhorou
- : a vida da espécie é reduzida ou impossível
Interação Espécie A Espécie B Simbiose (palavra ori-
Neutralismo 0 0 ginada do grego: syn -
juntos, e bios - vida) é o
Competição - - termo que define uma
Amensalismo (B amensal inibe A) - 0 associação entre duas ou
mais espécies distintas,
Parasitismo (A parasita B) + -
permitindo-lhes viver com
Predação (A e o predador e B, a presa) + - vantagens recíprocas.
Comensalismo (A é comensal e B, o hospedeiro) + 0 Esse termo foi criado, em
1879, pelo alemão Heinri-
Cooperação (Interação não obrigatória) + + ch Anton de Bary (1831
Mutualismo (Interação obrigatória) + + - 1888) - foi pioneiro no
estudo dos cogumelos e
das algas.
Tipos de simbiose
A palavra simbiose significa literalmente “viver junto”. É empregada
usualmente também para descrever a biologia de pares de organismos que
vivem juntos e não se maltratam.
Competição
Competição é uma interação entre indivíduos que compartilham uma
quantidade de recursos limitada, que leva a diminuição ou redução da so-
Bary, H. A. Fonte: www.
brevivência, crescimento e/ou reprodução destes indivíduos. A competição nndb.com
ocorre em duas circunstâncias: 1ª) quando indivíduos da mesma espécie
ou de espécies diferentes buscam e exploram o mesmo recurso, que está
presente em quantidade limitada; 2ª) quando os indivíduos se prejudicam,
mesmo quando não há recursos limitados. Pode-se dizer que o efeito final
da competição seria a diminuição da constituição individual do organismo
para próxima geração. O uso ou defesa de um recurso por um indivíduo re-
duz a utilização deste mesmo recurso por outro. Portanto, tem-se um efeito
que depende da densidade dos indivíduos, pois quanto mais indivíduos en-
volvidos maior será a utilização, per capita dos recursos, e mais deletérios
Os recursos procurados
serão os efeitos sobre a totalidade dos indivíduos. entre os indivíduos podem
O efeito da competição entre espécies é negativo sobre as populações ser: alimento, abrigo, local
de nidificação, água entre
de ambas. A espécie que será mais prejudicada será a que tiver a menor outros.
capacidade de utilizar os recursos em comum. Se as espécies não tive-
rem habilidades iguais para explorar determinados recursos uma vai ser
necessariamente mais eficiente que a outra, gerando o que chamamos de
competição assimétrica.
Pode-se dividir a competição em dois tipos básicos. Por exploração (por
recurso): quando uma espécie consegue obter o recurso de modo mais efi-
ciente, fazendo com que outras não consigam chegar a explorar os mesmos
recursos. Por exemplo, formigas que fazem recrutamento em massa (isto é,
muitas operárias forrageando de forma organizada com trilhas químicas e/
ou físicas) exploram um inseto morto de tal modo que outras espécies de
formigas, que utilizam forrageamento solitário, podem não ter nem tempo
de encontrar o recurso. Competição por interferência ou explotativa: ocorre
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 81
quando os organismos envolvidos na interação causam algum tipo de ma-
lefício ou prejuízo, mesmo que o recurso disputado não esteja necessaria-
mente em falta, sendo que os indivíduos protegem o seu recurso por meio
físicos e/ou químicos.
A competição intraespecífica condiciona a regulação do tamanho
populacional dentro da espécie, num efeito dependendo de densidade. A
competição interespecífica altera a capacidade suporte das populações em
competição; ou seja, a quantidade de indivíduos de cada espécie, em um
ambiente limitado, poderá proporcionar a exclusão de alguns indivíduos,
modificando a estrutura das comunidades.
• Subdivisões da competição
Schoener e Rickfels (1996) subdividiram a competição em outras cate-
gorias mais específicas, a saber:
a) Competição de consumo: quando ocorre uma acentuada competi-
ção em recursos que são renováveis;
b) Competição de ocupação: quando o recurso em questão é a utili-
zação de espaços livres;
c) Competição de crescimento: quando o processo competitivo ocor-
re sobre recursos (luz, água e nutrientes) que fazem com que orga-
nismos cresçam em taxas maiores do que outro;
d) Competição química: através da produção de substâncias quími-
cas que vão agir à distância no ambiente, impedindo ou dificultan-
do a ocupação da área por outros indivíduos (alelopatia);
e) Competição territorial: defesas do espaço;
f) Competição de encontro: interação transitória em torno de um
recurso que pode resultar em perda de tempo e/ou energia, roubo
de comida ou dano físico.
A competição e a predação são as interações que mais têm atraído a
atenção dos ecólogos, talvez pelo fato de serem frequentemente observáveis
na natureza. Por isto, é comum, em muitos livros encontrar algumas defi-
nições tais como:
I) Competição intraespecífica: ocorre entre os membros de uma
mesma espécie ou mais precisamente entre os membros de uma
dada população vivendo em uma área geográfica definida.
II) Competição interespecífica (difícil de estabelecer): ocorre en-
tre organismos pertencentes a espécies diferentes, disputando um
mesmo recurso e meio. O recurso disputado é, na maioria das ve-
zes, alimento, água, luz, espaço físico para reprodução, descanso,
entre outras coisas.
• A Competição entre vegetais
Nas florestas tropicais, tais como a mata atlântica, e a mata amazô-
nica, é conhecido o fenômeno para o qual Schimper, em 1898, chamou a
atenção do mundo científico: a luta pela luz.
A luta mencionada é fácil de perceber, pois as plantas travam-na de-
senvolvendo mecanismos que fazem as copas de umas se colocarem sobre
as de outras, tornando-se esguias, pouco ramificadas e assim economizan-
do material que é então utilizado na construção do tronco, ou eixo princi-
pal, que eleva rapidamente as folhas sobre as demais plantas; ou, como nas
trepadeiras, não formando um tronco espesso e forte, mas caules flexuosos,
82 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
que usam como suporte os troncos e ramos de outras plantas, nas quais se
fixam pelos mais diversos mecanismos, como gavinhas, raízes adventícias
curtas, ramos numerosos e curtos, voltando para trás, que se enroscam fa-
cilmente etc.; ou, ainda, dispensando totalmente os troncos porque suas se-
mentes são colocadas no cimo de uma árvore alta, e aí germinam (epífitas,
como Bromeliáceas, Orquidáceas, Aráceas entre tantas outras) formando
raízes aéreas que descem em procura do solo, e, do lado oposto, ramos com Competição intra-espe-
folhas que captam luz (Figuras 4.3 e 4.4). cífica acontece entre indi-
víduos da mesma espécie.
Interespecífica ocorre
entre indivíduos de espé-
cies diferentes.
A competição e a preda-
ção são as interações que
mais têm atraído a aten-
ção dos ecólogos, talvez
pelo fato de serem fre-
qüentemente observáveis
na natureza.
Schimper, A. F. W. Fonte:
GOOGLE, 2011.
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 83
tais raízes, em contato com o ar atmosférico, retiram dele, diretamente, o
oxigênio necessário a sua respiração.
Em outras matas do Brasil pode-se ter um período de seca relativa,
de vários dias sem chuvas. As plantas que são não adaptadas a isto po-
dem perder a competição para outras capazes de suportarem tal período de
seca. Naturalmente, como no caso da luta pela luz e da luta por nutrientes:
água e oxigênio; vencem as espécies melhores adaptadas para essa luta ou
Sapopembas: o nome é competição. A competição pode verificar-se, não pela procura, por duas ou
originário da árvore Sapo- mais espécies, do mesmo fator, mas pela tentativa (consciente no caso do
pema, espécie comum na Homo sapiens sapiens, inconscientemente no caso das demais espécies de
Amazônia que desenvol-
ve raízes de até 2 metros
animais, de vegetais e de microrganismos) de eliminação de uma pela ou-
de altura ao redor de seu tra. A secreção de substâncias que uma espécie agressora produz e tolera;
tronco. Mesmo que raízes a outra espécie atingida não suporta. Por exemplo, os microorganismos que
tabulares.
produzem álcool etílico, em seus processos fermentativos, eliminam vários
outros tipos de microorganismos.
84 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
sabe que elas são muito densas e ricas em espécies. Em geral, os indivíduos
de uma espécie se distribuem no território, a certa distância (às vezes consi-
derável) uns dos outros. Na Amazônia, por exemplo, os coletores de látex de
seringueira (Hevea brasiliensis) têm que fazer grandes percursos colocan-
do as canequinhas em que o látex é recolhido, e, depois, novamente, para
recolher o látex exsudado das feridas feitas nos vários indivíduos, muito
distantes uns dos outros.
• Julgando a ocorrência de competição
Alguns critérios podem ajudar a estabelecer se duas espécies estão em
competição. Tal como a existência de padrão biogeográfico do tipo “tabulei-
ro-de-xadrez” (checkerboard pattern) no qual a presença de uma espécie
em dado local praticamente garante a ausência da outra, devido, sobretudo
ao seguinte, pois outras hipóteses não podem explicar satisfatoriamente os
padrões biogeográficos observados:
I) Existência de sobreposição no uso de recurso potencialmente limitante;
II) Existência de competição intraespecífica;
III) O uso do recurso por uma espécie dificulta seu uso pela outra;
IV) Uma ou mais espécies é (são) negativamente afetada(s).
A competição pode ainda ser subdividida de acordo com a forma como
se manifesta nos organismos em competição. Assim, poderá ser: por recur-
sos e por interferência ou explotativa, conforme mencionado anteriormente.
Predação
O predatismo é a relação em que uma espécie animal predador se
alimenta de indivíduos de outra espécie animal, as presas. Contudo, du-
rante o seu ciclo biológico, o predador consome sempre mais de um espé-
cime da presa.
Pode-se definir predação de maneira clássica como a captura, a morte
e o consumo da presa. Todavia, de modo geral, a predação seria o consumo
da presa e sua utilização como fonte de energia (Quadro 4.2). Nesta de-
finição herbivoria e parasitismo seriam tipos especializados de predação.
Alguns autores ainda definem predação de forma ainda genérica, como um
processo onde ocorre fluxo de energia entre uma espécie e outra.
Quadro 4.2 Relações de predatismo entre espécies.
Predador Presa
Gavião Morcego frut
Urubu Tartaruga jovem
Jararaca verde Tartaruga jovem
Louva-a-deus Gafanhoto
Jacaré-açu Tartaruga
Piranha Tartaruga jovem
Gambá Jararaca verde
Coruja Rato
Guarua-guaru Larva de culicídio
Anu Mosquito culicídio
Beija-flor Mosquito culicídio
Morcego insentívoro Borboleta noturnas
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 85
A predação envolve vários aspectos adaptativos do predador para cap-
tura das presas e várias adaptações da presa para fugir do predador. Este
jogo biológico de caça e caçador dos organismos é denominado de “corri-
da armamentista” (ou army race). Um exemplo típico disto é a gazela de
Thompson e o guepardo (cheetah) em que ambos, predador e presa estão
literalmente apostando uma corrida entre a explosão de arranque e velo-
Assista o documentário: cidade do predador e da agilidade velocidade e capacidade de perceber a
Vida Selvagem: O Prínci- aproximação do felino (Figura 4.6).
pe da Savana. Site: www.
youtube.com/laboeco
Tipos de predação
Existem cinco tipos diferentes de predação, quais sejam:
a) Carnívoros de primeira ordem: são os predadores típicos, consu-
midores de herbívoros;
b) Carnívoros de topo de cadeia (ou de segunda ordem): predadores
de carnívoros;
c) Herbívoros: podem consumir uma planta inteira ou partes dela,
tais como sementes, frutos, flores ou raízes;
d) Insetos parasitoides: predadores que depositam seus ovos sobre
ou próximos ao hospedeiro que será subsequentemente consumido
(exaurido) pelas larvas (formas jovens) do parasitoide. [Nota: aqui,
tratando-se dos insetos, há alguns pesquisadores tal como J. H.
R. Santos, que fazem restrição à classificação preferindo adotar a
86 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
classificação de parasitos, os dividindo em endoparasitos (postura
efetivada dentro do corpo do hospedeiro) e exoparasitos (postura
consumada fora do corpo do hospedeiro). Neste caso específico o
hóspede usa apenas um espécime do hospedeiro para completar o
seu ciclo biológico];
e) Canibais: são predadores que consomem indivíduos da própria
espécie.
A predação é um dos fatores ecológicos mais importantes, pois afeta Presa palatável significa
um animal de gosto agra-
não somente as populações, mas também toda a comunidade. dável ao paladar de um
predador. Já um animal
impalatável significa um
Estratégia de fuga das presas organismo que não tenha
um sabor agradável para
um predador.
Proporcionalmente ao número de estratégias de caça dos predadores
existem estratégias de fuga da presa. No caso da baleia e do krill fica difícil
imaginar que este último possa ter alguma estratégia de defesa. Mas as
presas menores podem se esconder, lutar, fugir, ter gosto ruim, ou produzir
substâncias químicas que afastem os predadores (Figura 4.7). Por exemplo,
em locais abertos, onde não se pode fugir, ou se esconder; manter-se atento
e ser capaz de detectar o predador torna-se imprescindível.
Figura 4.7 Coleóptero bombardeiro. Exemplo de presas que têm adaptações para escapar
dos predadores, através da emissão de substâncias químicas. Fonte: RICKLEFT (2001).
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 87
seu descobridor, o grande naturalista Henry Walter Bates. Esse processo
adaptativo oferece vantagem se as densidades da presa palatável forem
mais baixas que as densidades dos animais impalatáveis. Porém, se as
densidades forem semelhantes, ou a presa palatável for mais abundante,
os predadores não chegam a associar cor/forma com impalatabilidade e
ambas as populações (modelo e mímico) serão prejudicadas. Outro tipo de
mimetismo, o mimetismo mulleriano (em homenagem a Johann Friedrich
Henry Walter Bates Theodor Müller) diferentes grupos próximos de animais impalatáveis re-
(1825 - 1892) foi entomó- petem os mesmos padrões de coloração. Neste caso as espécies miméticas
logo e naturalista inglês. reforçam o modelo de advertência.
Realizou uma viagem à
Amazônia, junto com Al- A estratégia oposta ao “olha que eu estou aqui, mas sou ruim de virar
fred Russel Wallace, com almoço”, é o da camuflagem e coloração crítica. Na coloração crítica, a presa
o objetivo de recolher ma-
terial zoológico e botânico ou o predador se confunde com as características da paisagem, por exem-
para o Museu de Histó- plo, a coloração e disposição da vegetação. Boa parte dos peixes pelágicos
ria Natural de Londres, é escura, na parte dorsal do corpo, para serem confundidos com o fundo
permanecendo no Brasil
durante onze anos. Cata-
por predadores que olham por cima; e claro na parte ventral, para diminuir
logou cerca de 14.712 es- o contraste com a superfície do corpo d’água, dificultando o seu encontro
pécies, as quais foram en- junto aos predadores de fundo.
viados para a Inglaterra.
A camuflagem é muito comum em insetos. Um exemplo típico é o bi-
cho-pau (Figura 4.8A e B), que dificulta o encontro pelos predadores tornan-
do-se quase invisível em relação aos galhos da planta em que se encontra.
Algumas mariposas apresentam um complexo padrão de defesa quando em
situação normal com o meio; a partir de um determinado estímulo, abrem
suas asas, apresentando padrões de falsos olhos, o que assustaria o pre-
dador, afastando-o. As estratégias de defesa das presas podem ter muitas
outras táticas, utilização de refúgios, agregação em cardumes, bandos e
ninhais entre outras.
88 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
e farmacêuticos. Outra defesa muito utilizada é o baixo conteúdo nutritivo
dos tecidos vegetais, pois os herbívoros selecionam seus recursos pelo seu
conteúdo nutricional (Figura 4.14). Tecidos com alto conteúdo de celulose
só podem ser explorados por organismos adaptados para digerir e retirar
energia deste polímero.
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 89
herbívoro especialista pode transformar rapidamente em novas gerações de
especialistas. Boa parte das pragas agrícolas é resultado dessa binômia es-
pecialização-concentração de recursos. Em uma área natural, os recursos
geralmente estão em um grande espaço e muitas vezes dispersos de forma
variável no tempo, sendo necessário um grande gasto energético para en-
contrá-los. Além disto, as quantidades de recursos, nestes ambientes hete-
rogêneos, não comportam o desenvolvimento e crescimento de uma grande
prole. Através das condições ideais, criadas nas monoculturas, o inesperado
seria o não surgimento do que denominamos pragas.
Amensalismo
O amensalismo, também chamado antibiose, ocorre quando os mem-
bros de uma espécie eliminam substâncias que prejudicam o crescimento
ou a reprodução de outras espécies com as quais convivem. Geralmente, há
vantagens indiretas para o organismo que provoca inibição de outro. Diver-
sas espécies de fungos presentes no solo, por exemplo, liberam substâncias
antibióticas, que atacam bactérias. Dessa forma evitam a competição com
as bactérias por alimento. Certas plantas, como o eucalipto, por exemplo,
Diversas espécies de fun- liberam, em suas raízes, substâncias que impedem a germinação de semen-
gos presentes no solo tes ao redor, evitando-se que outras plantas venham a competir com elas
liberam substâncias an- pela água e outros recursos do solo.
tibióticas que atacam
bactérias. Dessa forma O amensalismo é conhecido também como a interação, onde uma das
evitam a competição com espécies causa efeitos negativos em um segundo organismo. Este primeiro
as bactérias por alimento.
organismo não tem qualquer efeito (bom ou ruim) sobre o primeiro. Dife-
rente de outras relações, no amensalismo, o organismo que causa o efeito
negativo, em muitos casos, não tem qualquer vantagem neste fato, nem em
termos de benefícios de obtenção e recursos, nem em termos competitivos.
Um rebanho bovino, por exemplo, ao caminhar sobre uma pastagem piso-
teia inúmeras plantas, nas quais não possui nenhum interesse alimentar.
Contudo, ao serem pisoteadas estas plantas perdem, em termos de capaci-
dade de sobrevivência e reprodução, em relação às não pisoteadas.
Parasitismo
Alguns autores consideram o parasitismo como algo diferente da pre-
dação, porém algumas características particulares devem ser ressaltadas.
No parasitismo, o parasito (predador) é, geralmente, menor do que o hospe-
deiro e apresenta uma relação de especialidade variável, podendo ser endo-
Endoparasito é o termo parasito ou ectoparasito (Figura 4.15). Contudo, sempre consome um único
dado ao parasito que vive espécime do hospedeiro para completar o seu ciclo biológico.
no interior do corpo do
seu hospedeiro (ex.: soli-
tária, lombriga). Já o ter-
mo ectoparasito é dado ao
parasito que vive externo
ao corpo do hospedeiro Figura 4.15 A erva-de-passarinho (Tripo-
(ex.: pulga, percevejo das danthus acutifolius Ruis & Pav), possui ra-
camas). ízes sugadoras ou haustórios que penetram
no tronco do hospedeiro, retirando deles
a seiva elaborada, debilitando a árvore,
podendo lhe causar a morte. Fonte: www.
plantasonya.com.br/plantas-parasitas/.
90 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
O parasito deve conter adaptações específicas que fazem com que tenha
esta grande especialidade para com seu hospedeiro. As principais dificulda-
des encontradas por um parasita, para completar seu complexo ciclo de vida,
estão na localização e infecção de novos hospedeiros. Uma interessante situ-
ação criada por esta associação é a que o parasita retira parte da capacidade
de sobrevivência em gerações do hospedeiro, mas sua própria sobrevivência
em gerações depende deste para não se extinto. A especificidade desta inte-
ração é interessante para o homem quando o hospedeiro é uma praga. Esta Controle biológico con-
siste no emprego de um
espécie, que se desenvolve rapidamente numa monocultura, pode ter sua
organismo (predador, pa-
população controlada quando se descobre que há um parasita específico da rasita ou patógeno) que
praga. Um pequeno aumento do grau de infestação, pelo parasita, reduz con- ataca outro que esteja
sideravelmente a infestação pela praga (por exemplo, o controle biológico). causando danos econômi-
cos às lavouras. Essa téc-
O modo de vida parasitário é muito mais comum na natureza do que se nica é muito utilizada em
imagina, sendo que algumas famílias de insetos são inteiramente parasitas sistemas agroecológicos.
(por exemplo, os himenópteros da família Braconidae). Nos Quadros 4.3 e Os himenópteros, inse-
4.4 são apresentados exemplos de algumas interações entre seres vivos. tos altamente evoluídos,
destacam-se pela especia-
Quadro 4.3 Relações de parasitismo entre espécies. lização para a vida social.
Constituem uma ordem
Parasito Hospedeiro com mais de 120.000 es-
Vermes Jacaré-açu pécies já reconhecidas,
ocorrem em todas as fau-
Protistas Gambá nas e compreendem as
Sanguessuga Tartaruga abelhas, vespas, formigas
e outros insetos, muitos
Fungo Ovos de tartaruga chamados microimenóp-
teros. Os himenópteros
Carrapato Gaviões de penacho
se caracterizam pela me-
Piolho Gaviões de penacho tamorfose completa que
sofrem, pelo aparelho bu-
Pulga Rato cal dotado de mandíbulas,
abdome com o primeiro
Quadro 4.4 Resumo das relações entre seres vivos. segmento incorporado ao
tórax e quatro asas mem-
Relações Harmônicas Colônia Sociedade branosas de nervulação
intra-específica Desarmônicas Competição ultra-específica reduzida, embora em al-
guns casos sejam ápteros,
Protocooperação ou seja, desprovidos de
Inquilinismo asas. Em certas espécies
Harmônicas
Comensalismo a nervulação das asas
Mutualismo reduz-se tanto que desa-
Relações parece, o que pode coin-
interespecíficas Competição cidir com modificações na
Amensalismo estrutura do tórax.
Desarmônicas Herbivorismo Fonte: www.
Predatismo biomania.com.br
Parasitismo
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 91
III) Interespecíficas harmônicas:
a) Protocooperação: indivíduos associados se beneficiam e a associa-
ção não é obrigatória. Ex.: caranguejo-eremita e anêmona-do-mar;
b) Inquilinismo: indivíduo usa outro, como moradia, sem prejudicá-lo.
Ex.: plantas epífitas sobre árvores;
O conhecimento de todas c) Comensalismo: indivíduo usa restos da alimentação de outro, sem
as interações pode auxi-
liar na hora da tomada de
prejudicá-lo. Ex.: hienas, que aproveitam restos das presas dos leões;
decisões quanto à escolha d) Mutualismo: indivíduos associados se beneficiam e a associação
de áreas a serem protegi-
das através de Unidades é fundamental à sobrevivência de ambos. Ex.: algas e fungos que
de Conservação ou na formam liquens.
elaboração dos planos de
manejo dessas unidades,
protegendo principalmen-
te espécies endêmicas ou
IV) Interespecíficas desarmônicas:
aquelas ameaçadas ou em
a) Competição interespecífica: indivíduos com nichos ecológicos
risco de extinção.
similares competem por recursos do meio. Ex.: animais que se ali-
mentam do mesmo tipo de planta;
b) Amensalismo: relacionamento na qual os indivíduos liberam subs-
tâncias que inibem o crescimento de outro. Ex.: fungos que liberam
antibióticos contra bactérias;
c) Herbivorismo: animais (herbívoros) devoram outros animais. Ex.:
gado, que se alimenta de capim;
A interação mantida en-
tre a anêmona-do-mar d) Predatismo: animais (carnívoros) matam de devoram outros ani-
(cnidário) e o caranguejo-
-eremita (crustáceo) não mais. Ex.: gavião, que devora outros pássaros e roedores;
é obrigatória, ou seja,
eles podem viver inde-
e) Parasitismo: indivíduo vive à custa de outro, causando prejuízos,
pendentemente, porém a geralmente sem levar à morte. Ex.: lombrigas que parasitam o in-
associação traz benefícios testino humano.
maiores aos dois. Esse
caranguejo vive no inte-
rior de conchas vazias de
gastrópodes, permitindo
a existência de anêmo-
Protocooperação
nas sobre a estrutura das
conchas. Neste caso a
Surge quando algumas espécies formam associação que não é indis-
anêmona-do-mar propor- pensável, pois cada uma pode viver isoladamente. São os casos de simbio-
ciona, ao caranguejo-ere- ses, por exemplo, entre o caranguejo-eremita e as anêmonas-do-mar (Fi-
mita, proteção contra pre- gura 4.17); as plantas e seus polinizadores ou seus agentes dispersores; a
dação, devido à presença
de substâncias urticantes acácia e suas formigas; os pássaros que comem piolhos em ruminantes; e,
contidas em seus tentá- as formigas e alguns ectoparasitos em vegetais, tal como as cochonilhas.
culos. Já o caranguejo-
-eremita, ao se deslocar
no substrato marinho,
possibilita à anêmona-
-do-mar maior chance de
obtenção de alimento e
propagação, mesmo que
através da reprodução, o
desenvolvimento indireto
da forma larval de vida
livre, proporciona maior
dispersão.
92 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
Mutualismo
Tipo de associação entre organismos de espécies diferentes e na qual
há benefícios para uns e outros, (ex.: algas e fungos que formam liquens;
os cupins e sua fauna intestinal de protozoários - Figura 4.18); a rêmora e
o tubarão; e as micorrizas. As associações podem variar de duas ou várias
espécies. A interação obrigatória ou facultativa entre duas espécies com be-
O papel das cores e a
nefícios mútuos, proporciona uma maior aptidão dos indivíduos de ambas percepção pelos insetos:
as espécies (vespas e pássaros alfaiates; besouros em ninhos de insetos • Borboletas são atra-
sociais, peixes limpadores, aves limpadores etc.). ídas por flores de cor
Um tipo de mutualismo muito importante é a polinização. Entre o vibrante;
polinizador e a planta são utilizados inúmeros sinais químicos atrativos e • Mariposas preferem as
estímulos visuais. Para o polinizador ocorre a recompensa em termos de flores de cor vermelha,
obtenção de energia, através do pólen. Para as plantas esse é um método púrpura, branca ou
eficiente de manter e aumentar a variabilidade genética das populações e rosa claro;
realizar a fecundação dos óvulos.
• Vespas preferem cores
monótonas, escuras e
pardacentas;
• Moscas são atraídas
por flores de cor escu-
ra, marrom, púrpura
ou verde;
• Alguns besouros são
visualmente inertes à
cor e dependem de ou-
tro tipo de sinais para
serem levados às flores.
Síndrome Polinizador
Cantarofilia Besouros
Melitofilia Abelhas
Miofilia Moscas
Saprofilia Moscas
Fanelofilia Mariposas
Psicofilia Borboletas
Quiropterofilia Morcegos
Ornitofilia Aves
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 93
Muitas plantas precisam de animais para realizar a dispersão de suas
sementes. Muitos dos frutos utilizados pelo homem como alimento são re-
sultados dessa associação. Ao comer a polpa do fruto o animal pode carre-
gar as sementes realizando a dispersão. O tipo de fruto, seu tamanho, sua
estrutura, cor e aroma vão atrair dispersores específicos. A dispersão das
sementes elimina a competição que as plantas jovens, enfrentariam, por es-
tar próximas da planta mãe, além de ter a possibilidade de atingirem locais
adequados para sua germinação e crescimento. Nos trópicos, os processos
Rêmora é o nome vul-
de polinização e dispersão apresentam uma infinidade de associações entre
gar dos peixes da família plantas, mamíferos, aves e insetos. Um requisito importante para se enten-
Echeneidae, os quais pos- der a ecologia da floresta tropical passa pelo entendimento de como estas
suem a barbatana dorsal
transformada numa ven-
interações mutualísticas ocorrem.
tosa, com a qual se fixam
a outros animais como tu-
barões ou tartarugas, po-
dendo assim viajar gran-
Comensalismo
des distâncias.
Relação entre dois tipos de organismos, na qual um deles, o comensal,
Inquilinismo é definido recebe benefício, sem que o outro seja prejudicado, sendo que todas essas
como uma associação in- relações contribuem para manter a harmonia da comunidade.
terespecifica harmônica,
na qual apenas uma es- Um exemplo dessa interação é a o tubarão e a rêmora (Figura 4.19)
pécie é beneficiada, sem Esta se alimenta dos restos de comida deixados pelo tubarão, sendo que
existir prejuízo para a nessa associação o tubarão não ganha e nem perde benefícios, com a pre-
outra espécie associada.
O inquilino obtém abrigo sença da rêmora. Outro exemplo, um homem de cerca de 70kg possui apro-
(proteção) ou ainda su- ximadamente 2,5kg de simbiose no seu corpo. Para nossa sorte, a grande
porte no corpo da espécie maioria, desta quantidade ilimitada de microrganismos, não nos causa mal
hospedeira. Também pode
ser definido como um
e boa parte destes são comensais.
caso específico do comen-
salismo.
Figura 4.19 Várias rêmoras fixam-se neste tubarão para obtenção de alimento e desloca-
mento. Fonte: www.horta.uac.pt
94 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
Neste capitulo são tratados as relações que são estabelecidas pelos or-
ganismos com outras espécies dentro de um habitat. Nessas relações recí-
procas, as formas de vida animal, vegetal ou ao nível de microorganismos
terminam exercendo reações e coações onde esses organismos se beneficiam
ou prejudicam mutuamente, mas deixa em evidência a necessidade dessas
relações se realizarem para manter as populações em equilíbrio. Considera-
se também a herbivoria como uma relação que contrário ao que se pensa, ela
termina beneficiando os vegetais, quando são atacados pelo predador.
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 95
Um dos aspectos importantes da estratégia cubana é a desencentraliza-
ção da produção dos agentes de controle biológico, graças a técnicas simples
e de baixo custo que foram desenvolvidas nas duas últimas décadas, possibi-
litando, simultaneamente, uma produção artesanal e de alto padrão de quali-
dade. Essa produção é feita pelos próprios filhos de agricultores associados às
cooperativas que trabalham na elaboração de modernos produtos biotecnoló-
gicos em escala local.
No Brasil, embora o uso do controle biológico não seja uma prática ge-
neralizada entre os agricultores, há avanços significativos em alguns cultivos,
devido aos esforços de órgãos estaduais de pesquisa e da Embrapa – Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Um exemplo de sucesso é o controle da
lagarta da soja (Anticarsia gemmatallis) por meio do Baculovirus anticarsia.
Essa prática foi lançada pelo Centro Nacional de Pesquisa da Soja em 1983
e, desde então, o produto foi utilizado em mais de dez milhões de hectares,
proporcionando ao país uma economia estimada em cem milhões de dólares
em agrotóxicos, sem considerar os benefícios ambientais resultantes da não
aplicação de mais de onze milhões de litros desses produtos.
Para alcançar esses resultados, todo programa de controle biológico
deve começar com o reconhecimento dos inimigos naturais da “praga-chave
da cultura” (principal organismo que causa danos econômicos às lavouras).
Uma vez identificada a espécie e o comportamento da “praga” em questão,
o principal desafio dos centros de pesquisa diz respeito à reprodução desse
inimigo natural em grandes quantidades e com custos reduzidos. Outra es-
tratégia, consiste no desenvolvimento dentro da propriedade de práticas cul-
turais (consórcio e rotação de culturas, uso de plantas como “quebra-vento”,
cultivos em faixas entre outros) que aumentem a diversidade de espécies e
a estabilidade ecológica do sistema, dificultando a reprodução do organismo
com potencial para se tornar uma “praga”.
Atualmente, nos programas de Manejo Integrado de Pragas (MIP), existe
uma tendência de caracterizá-lo não apenas como uma prática que propõe um
manejo racional de agrotóxicos, mas também como um conjunto de práticas
que inclua, além do próprio controle biológico, a rotação de culturas e o uso de
variedades resistentes. Embora o controle biológico traga respostas positivas
na redução ou abandono do uso de agrotóxicos e na melhoria de renda dos
agricultores, analisando o conjunto de experiências realizadas mundialmen-
te, verifica-se que os resultados ainda estão concentrados em apenas alguns
cultivos e, principalmente, no controle de insetos. Em outras palavras, ainda
existe muito que desenvolver nas áreas de controle de pragas e doenças.
Vale ressaltar que, segundo os princípios da Agroecologia a superação
do problema do ataque de pragas e doenças só será alcançada por meio de
uma abordagem mais integrada dos sistemas de produção. Isso significa in-
tervir sobre as causas do surgimento de pragas e doenças e aplicar o princípio
da prevenção, buscando a relação do problema com a estrutura e fertilidade
do solo, e com o desequilíbrio nutricional e metabólico das plantas. O controle
biológico, assim como qualquer estratégia dentro de um sistema agroecológi-
co de produção jamais poderá ser um “fim em si mesmo”, deve ser apenas o
veículo para que o conhecimento e a experiência acumulados se manifestem
na busca de soluções específicas para cada propriedade. Em outras palavras,
nas propriedades agroecológicas em vez dos microorganismos é o ser humano
que deve atuar como o principal agente de controle biológico.
Fonte: Jornal “A Folha de São Paulo”, caderno “Agrofolha”, 1998.
96 FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA
Leituras
Livros
• REIS, N. R. dos; PERACCCHI, A. L.; PEDRO, W. A.; LIMA, I. P. de.
Mamíferos do Brasil. Londrina: Universidade de Londrina, 2006.
• __________. Morcegos do Brasil. Londrina: Universidade de Lon-
drina, 2007.
Filmes
• Os predadores do Mar (BBC Worldwide Ltda).
• Os pequenos e grandes carnívoros (BBC Worldwide Ltda).
• Os predadores solitários (BBC Worldwide Ltda).
• Criaturas da Amazônia (BBC Worldwide Ltda).
FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA 97
Capítulo
5
Dinâmica das populações e
dos ecossistemas
Objetivos:
• Estudar as populações e as causas de suas variações.
• Determinar as características ou atributos das populações.
• Apresentar os fatores que regulam o tamanho das populações.
• Mostrar o efeito do crescimento da população humana e as consequências para o
meio ambiente.
• Compreender a dinâmica dos ecossistemas e como se realiza o ciclo da matéria e
o fluxo de energia.
Dinâmica das populações
A distribuição de uma população é a sua abrangência geográfica. È
uma unidade de estudo importante na Ecologia porque ela pode mudar e
adaptar-se de forma continua, conforme as mudanças do ambiente, com-
portando-se assim de forma dinâmica no ecossistema em que se encontra.
População é o conjunto
Distribuição espacial dos indivíduos de todos os indivíduos de
uma mesma espécie, que
A presença ou ausência de habitats adequados frequentemente habita uma área determi-
determina a extensão da distribuição de uma população, embora outros fa- nada
tores, como competidores, organismos patogênicos e barreiras à dispersão,
também tenham influência.
Os indivíduos de uma população podem ser distribuídos no espaço
conforme três modalidades principais: uniforme, ao acaso ou em forma
agregada ou agrupada (Figura 5.1).
A fitossociologia é o estu-
Fatores que regulam o tamanho das populações
do das comunidades ve-
getais, responsável pela Entre os fatores que regulam o tamanho das populações tem-se:
inter-relação das espécies a) O alimento como fator limitante do crescimento: cada tipo de
vegetais no espaço e de
certa forma no tempo. ambiente pode suportar uma quantidade máxima de indivíduos.
Apresenta como objetivos
o estudo quantitativo da b) Carga biótica máxima: é o tamanho máximo de determinada po-
composição florística, pulação que um ambiente pode suportar.
estrutura, funcionamento
dinâmico, distribuição e c) Competição entre populações de diferentes espécies: quando
relações ambientais da duas populações competem pelo mesmo espaço ou alimento, uma
comunidade vegetal,
terminará eliminando a outra, ou então a obrigará a emigrar. Uma
mantendo relações estrei-
tas com a fitogeografia e demonstrará maior eficiência na utilização dos alimentos. Esse
as ciências florestais. princípio foi denominado por cientista russo G. F. Gause, em 1932,
como princípio da exclusão competitiva.
Gause, G. F.
Fonte: www.nceas.
ucsb.edu
Figura 5.5 A produção primária bruta pode ser dividida em respiração e produção primária Exemplo de fungo,
líquida. Fonte: RICKLEFS (2003). Amylostereum areola-
tum., decompondo um
tronco de madeira caído
ao chão.
Fonte GOOGLE, 2011.
Os herbívoros, como no
Figura 5.6 (A) Representa a floresta amazônica. Fonte www.brasilescola.com. B) Represen- caso desta lagarta que se
ta a caatinga. Fonte: www.infoescola.com. alimenta da folha de uma
planta, transforma a bio-
Sabemos que os produtores não retêm toda a matéria orgânica que fa- massa verde em fragmen-
tos menores.
bricam na fotossíntese. Uma parte é utilizada em sua própria manutenção;
os produtores degradam matéria orgânica na respiração celular e liberam
energia na forma de calor.
O restante é a parcela disponível que pode ser utilizada pelos heteró-
trofos da região, os quais também utilizam parte da matéria em sua res-
piração celular. Descontando do total de matéria orgânica produzida pela
fotossíntese (PPB) a parcela consumida na respiração celular dos produto- Supondo que, em 24h um
res, temos a Produtividade Primaria Líquida (PPL). Em outras palavras, a vegetal sintetizou uma
PPL corresponde à produtividade bruta menos a quantidade de matéria viva quantidade X de fotoas-
similados (energia). Du-
degradada pelos fenômenos respiratórios. Isso significa que a PPL é o “saldo rante essas mesmas 24h,
disponível” da matéria orgânica produzida pelos autótrofos de uma região o vegetal precisou gastar
em certo intervalo de tempo, como um ano, por exemplo. Y (energia) para manter
seu próprio metabolismo
Muitas plantas podem adquirir grande porte e apresentar superfí- (realizando fotossíntese/
cies enormes. Mas, de modo aparentemente paradoxal, não são estas que respiração; sintetizando
respondem pela maior produtividade primária. São, ao contrário, espe- proteínas estruturais e
funcionais; DNA; anticor-
cialmente os organismos microscópicos clorofilados do fitoplâncton os res- po; organelas eoutros).
ponsáveis pela maior parcela de toda a produtividade primária que ocorre Através disso, pode-se ob-
na Terra. E que, se seu tamanho é ínfimo, seu número é imensamente ter um saldo a partir de:
X – Y = Z; conclui-se que Z
grande. Sua capacidade de reprodução é fantástica, e com isso a reposição é a quantidade de energia,
daqueles que são retirados do meio pelos seres que deles se alimentam faz- em um dia, que um herbí-
-se com extrema rapidez. voro poderá consumir.
A população humana
Moradias deterioradas, condições insalubres, escassez de alimentos e de
A barata doméstica é cos- água potável, doenças, e desnutrição. Estas, e inúmeras outras dificuldades
molita e por tanto tem há- são a realidade do dia-a-dia de grande parte da população mundial. Todavia,
bito onívoro. como pode ser visto a maioria das pessoas que vivem em tais condições con-
segue, de algum jeito, enfrentá-las e continuar vivendo.
Que dizer, porém, do futuro? Será que as pessoas terão de suportar in-
definidamente estas duras realidades da vida?
Para complicar a situação, o que dizer do quadro desalentador e sombrio
que os cientistas ambientalistas e outros predizem em resultado do contínuo
crescimento demográfico?
Os cientistas e ambientalistas dizem que estamos destruindo nosso pró-
prio ninho, através da poluição do ar, da água e do solo; de que dependemos.
Eles também apontam o efeito estufa, que é a emissão de gases, tais como
o gás carbônico, o metano, os clorofluorcarbonos (agentes de refrigeração e
Conseqüências da superpopulação
Estimativas do tamanho da população humana em tempos antigos são
imprecisas. Entretanto, um dos mais marcantes aspectos do crescimento da
população humana é que sua taxa continuou a crescer mesmo quando a popu-
lação se tornou amontoada. Será que a população mundial continuará expan-
dindo-se indefinidamente? Existe algum indício de até que ponto ela chegará?
Será que há gente demais?
As α- amilases presentes
em sementes agem no
metabolismo do gorgulho,
promovendo seu desen-
volvimento.
Fonte: http://www.azo-
resbioportal.angra.uac.pt
A população humana aumentou rapidamente com o desenvolvimento da tecnologia. Vespas parasitóides desen-
Fonte: RICKLEFS 2003. volvem-se dentro de larvas
ou das pupas de outros in-
Naturalmente, é um fato que a população do mundo está crescendo, setos.
apesar dos esforços de planejamento familiar. O crescimento anual atualmen- Fonte: RICKLEFS (2003)
te é de cerca de 90 milhões (o equivalente à população do México a cada ano).
Parece que não existe nenhuma perspectiva imediata de se estancar esse
crescimento. Olhando adiante, contudo, a maioria dos demógrafos concorda
que a população terráquea por fim se estabilizará. Todavia, restam duas inda-
gações: a) em que nível, e b) quando?
Segundo projeções do Fundo Populacional da ONU, a população terrá-
quea poderá atingir 14 bilhões antes de estabilizar-se. Outros, contudo, es-
timam que ela irá variar entre 10 e 11 bilhões. Seja qual for o caso, as per-
guntas cruciais são: a) Haverá gente demais? b) Pode a Terra comportar e
suportar, uma população duas a três vezes maior que a atual?
Segundo um ponto de vista estatístico, 14 bilhões de pessoas na Terra
dariam uma média de 104 pessoas por quilômetro quadrado. Como se sabe,
a densidade populacional de Hong Kong é de 5.592 habitantes por quilômetro
quadrado. Outrossim, atualmente a densidade populacional dos Países-Baixos
é de 430 pessoas, ao passo que a do Japão é de 327, e estes são países que
gozam de um padrão de vida acima da média. É evidente que, mesmo que a
população do mundo cresça na dimensão predita, o problema não é o número
Leituras
Livros
• BEGON, M.; MORTIMER, M. Population ecology. 2 ed. Oxsford:
Black-well Scientific Publications, 1986.
Filmes
• Criaturas da Amazônia (BBC Worldwide Ltda)
Sites
• IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (http://www.
ibge.gov.br/)
• ICMBio - Instituto Chico Mendes (http://www.icmbio.gov.br/)
• IPECE - Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará.
• (http://www2.ipece.ce.gov.br/)
• MMA - Ministério do Meio Ambiente (http://www.mma.gov.br/)
6
Ecossistemas versus
Sucessão ecológica
Objetivos:
• Conhecer fatores que afetam a estrutura dos ecossistemas.
• Descrever os componentes dos ecossistemas.
• Estudar os processos de sucessão ecológica nos ambientes.
• Mostrar como os estudos de sucessão podem nos auxiliar na recomposição de
ecossistemas degradados.
Os ecossistemas podem ser considerados sistemas abertos que man-
têm intercâmbios de matéria e de energia com o meio. Por esta razão, ten-
dem a um estado estável, no qual a composição de diversos elementos do
sistema permanece constante a despeito da existência de processos irrever-
síveis, assim como da importação e da exportação de matéria.
Nos ecossistemas naturais (terrestres ou aquáticos) existem duas fon-
tes naturais de energia: o sol e os combustíveis químicos (ou nucleares). A
fonte e a qualidade da energia disponível determinam, a um grau maior ou Bioinvasão: é caracteriza-
menor, os tipos e a abundância dos organismos, o padrão dos processos da pela chegada, estabe-
funcionais e de desenvolvimento, e a forma de vida dos seres vivos, já que lecimento e expansão de
uma espécie exótica em
a energia é um denominador comum e a função motriz final em todos os um local onde não é o seu
ecossistemas, classificando-os em: habitat natural. Segundo
especialista é a segunda
• Ecossistemas Naturais: dependem da energia solar, como princi- maior causa de perda da
pal fonte de energia; biodiversidade em ecos-
sistemas tropicais, após
• Ecossistemas Antropogênicos: que dependem da energia solar e os desmatamentos e quei-
química, com subsídios de outras formas naturais de energia e da madas.
intervenção do homem;
Resiliência: é a capacida-
• Ecossistemas Artificiais: são sistemas urbanoindustriais, movi- de que determinada coisa
dos a combustíveis fósseis, orgânicos ou nucleares. ou situação tem de retor-
nar a situação de equilí-
Os ecossistemas sofrem alterações constantes pela ação das condi- brio após uma mudança.
ções climáticas, biológicas e geológicas que refletem nas comunidades aí
existentes, resultando em duas situações possíveis:
a) A comunidade é auto-suficiente para suportar o processo, mantendo-
-se em equilíbrio dinâmico, mesmo por um período longo de tempo;
b) Essas mudanças ambientais influenciam de tal modo às ativida-
des dos organismos da comunidade, que conduzem à extinção ou
migração de algumas espécies, ou seja, modificam a comunidade.
Com a eliminação ou migração de certas espécies, naturalmente que
alguns nichos ecológicos ficarão desocupados, além de novos nichos surgi-
rem em razão de mudanças geoclimáticas e bióticas. Outras espécies pode-
rão invadir e ocupar os nichos (bionvasoras), causando muitas vezes o desa-
parecimento de espécies nativas. Enquanto o ambiente, passa pelo processo
de recuperação natural (ou resiliência), muitas vezes é necessária a inter-
venção humana para acelerar esse processo e onde é necessário conhecer
bem os componentes desse ambiente e sua sucessão natural.
Componentes do ecossistema
Se pensarmos numa parte limitada de certa região, devemos pensar,
igualmente, que aí temos o que se chama um ecossistema, do qual fazem
parte dois componentes: um físico, que chamamos biótopo; outro vivo que
Sucessão ecológica
O conceito de sucessão ecológica foi inicialmente desenvolvido pelos
botânicos, dentre eles Frederic Clements (1916) e Eugenius Warming.
Os organismos que integram uma comunidade biológica sofrem ações
Frederic E. Clements de seu biótopo, o qual, por sua vez, é alterado localmente em função da
(1874-1945), botânico, foi atividade desses mesmos organismos. A atuação dos organismos da comu-
o primeiro em arguir so-
bre sucessão ecológica.
nidade sobre o biótopo pode provocar alterações no substrato e em outras
condições abióticas locais, tais como, luz, temperatura e umidade.
Uma das mais interessantes características observadas nas comuni-
dades é o fato de que elas mudam continuamente de estado, como, por
exemplo, a sua composição específica. Este fato é muito evidente quando há
um distúrbio externo, como fogo ou enchente. Mesmo quando as comunida-
des estão em equilíbrio, tal estado é dinâmico.
Sucessão ecológica é uma seqüência de alterações ou mudanças es-
truturais e funcionais que ocorrem para que haja um ajuste ou uma recom-
posição nos ecossistemas. Mudanças essas que, em muitos casos seguem
Clements, F. E.
Fonte: GOOGLE, 2011. padrões mais ou menos definidos, mais que culminando com a formação de
uma comunidade estável.
Sucessão secundária pode ocorrer em uma lagoa, que, sem a interfe-
rência humana, tender a desaparecer. (Figura 6.1). Aos poucos, o diâmetro
e a profundidade da lagoa se reduzirão. No seu lugar, pode formar-se uma
floresta. As águas das chuvas vão arrastando sedimentos para a lagoa,
que vão se depositando no fundo. Plantas flutuantes ocupam as margens
e, a seguir, plantas emersas desenvolvem-se no solo criado no local antes
ocupado pela água. O desaparecimento completo da lagoa é apenas uma
questão de tempo.
Möbius, K. A.
Fonte: GOOGLE, 2011.
Eqüifinalidade de um
Figura 6.1 Processo de sucessão ecológica que pode ocorrer num ecossistema de lagoa.
ecossistema: é quando
Aos poucos o diâmetro e a profundidade da lagoa se reduzirão. No seu lugar, pode formar-
este atinge o mesmo esta-
-se uma floresta. Fonte: MIZUGUCHI et al. (1982).
do final a partir de condi-
ções iniciais diferentes ou
seguindo caminhos dife-
Sucessão primária e secundária rentes. Na evolução dos
ecossistemas, o estado es-
A sucessão é dita primária quando sua primeira fase se inicia numa tável é o estado de clímax
e a seqüência de estágios
área nunca antes povoada, onde não havia seres vivos. Ex.: Uma rocha; de seu desenvolvimento,
uma ilha marítima; uma faixa recente de praia. sucessão ecológica.
Os primeiros organismos a se instalarem são chamados pioneiros. Por
exemplo, um derramamento de lava vulcânica é capaz de matar animais e
plantas. Na área queimada ou sobre a lava resfriada, podem surgir liquens,
musgos, avencas e outras plantas; posteriormente, chegam vários tipos de
animais. Finalmente, essas áreas estarão ocupadas por novas comunidades.
A sucessão secundária é a sucessão que surge num local ou lugar
anteriormente ocupado por outra comunidade. Ex.: pastos abandonados em
margens de estradas. Assim a regeneração da comunidade clímax, após
uma perturbação também é conhecida como sucessão secundária.
As sucessões secundárias aparecem em um meio que já foi povoado,
mas do qual foram eliminados os seres vivos por modificações climáticas
(glaciações, incêndios), geológicas (erosão) ou pela intervenção do homem
(desmatamento), por exemplo. Uma sucessão secundária conduz muitas
vezes à formação de um disclimax diferente do clímax que existia primi-
Ecese
Uma rocha vulcânica representa um ambiente hostil ao desenvolvimen-
to de vida: a temperatura varia muito e a água não pode ser retida, escorren-
do ou evaporando-se. Nessas condições adversas são poucos os seres vivos
capacitados a sobreviver. Os liquens, contudo, toleram essas condições.
Em sua atividade metabólica, os liquens produzem ácidos orgânicos,
que vão lentamente corroendo a rocha. Gradativamente, novas camadas
de liquens vão-se formando, constituindo um delgado “solo vivo” sobre a
rocha. A partir de então, as condições do local deixam de ser tão difíceis,
possibilitando o desenvolvimento de musgos, pequenas plantas do grupo
das briófitas. Portanto, os liquens desbravam um novo nicho ecológico, que,
a partir deles, pode ser ocupado pelos musgos.
As condições, porém, tornam-se menos favoráveis à sobrevivência dos
próprios liquens, que não resistem à competição e cedem lugar a outras
espécies. Essa é a grande importância das espécies pioneiras, toleram
condições difíceis, modificam o ambiente e permitem o desenvolvimento de
outras espécies, que também vão modificar o meio e facilitar o desenvolvi-
mento de outras.
Espécies de ocorrência
tardia: tem característi-
cas opostas ás pioneiras.
Figura 6.3 Avencas, musgos e liquens sobre a lava vulcânica. Esses organismos represen-
tam a primeira etapa (pioneiros) de ocupação sobre a lava fresca.
Fonte: TURK et al. (1981).
Climax
Nessa fase, a comunidade estabiliza-se e conta com grande número
de espécies. Sobre a rocha, há o desenvolvimento de plantas de maior por-
te, constituindo uma comunidade com o aspecto de uma pequena floresta, Comunidade clímax é
mais estável e menos sujeita a mudanças em curto prazo. aquela que surge no final
do processo da sucessão.
No processo da sucessão ecológica, ocorre aumento no número de É uma comunidade com
espécies e na biomassa. O nítido crescimento na quantidade de matéria alta estabilidade (home-
orgânica é comprovado, pelo aumento da comunidade vegetal. Na fase clí- ostase), capaz de pronta
resposta a flutuações nos
max, a biomassa torna-se estável porque a comunidade passa a consumir fatores abióticos, onde
tudo o que produz. não ocorre muita subs-
tituição de espécies. Ela
A noção de clímax tem sido muito criticada. Para continuar válida e está em equilíbrio com os
poder ser conservada, essa noção deve assumir um caráter dinâmico. Uma fatores abióticos (clima
floresta que chegou ao estágio clímax não é um sistema uniforme e imutável e tipo de solo principal-
(Figura 6.4). É um conjunto heterogêneo de parcelas de idade diferentes que mente). Um exemplo dis-
so são as florestas.
foram criadas por perturbações e que coexistem ao lado de parcelas que
efetivamente ao estágio clímax.
Produtividade bruta /
Menor que 1 Superior a 1
Respiração
A resiliência ecológica
Os estudos e pesquisas referentes às mudanças ambientais e à dinâmica
evolutiva tratam das transformações que os sistemas ambientais têm sofrido
ao longo dos últimos séculos. As atividades econômicas e sociais empreendi-
das pelas sociedades ocasionaram repercussões nos sistemas geomorfológi-
cos e hidrológicos e mudanças significativas nos sistemas ambientais. Os efei-
tos mencionados são as chamadas mudanças dos impactos antropogênicos
associadas às mudanças nos componentes ou variáveis climáticas.
A estrutura dos sistemas ambientais normalmente respeita uma orga-
nização cujo funcionamento depende das forças externas que afetam o equi-
líbrio ou a estabilidade a que os ecossistemas estão normalmente ajustados.
Leituras
Livro
• MACHADO, E. L. M.; GONZAGA, A. P. D.; MACEDO, R. L. G.; VEN-
TURIN, N.; GOMES, J. E. Importância da avifauna em programas
de recuperação de áreas degradadas. Revista Científica Eletrôni-
ca de Engenharia Florestal. Ano IV, n.7. 2006.
Filmes
• Recuperação de Nascentes
Sites
• IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (http://www.
ibge.gov.br/)
• ICMBio - Instituto Chico Mendes (http://www.icmbio.gov.br/)
• IPECE - Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará.
(http://www2.ipece.ce.gov.br/)
• MMA - Ministério do Meio Ambiente (http://www.mma.gov.br/)
7
Biosfera
Objetivos:
• Estudar a biodiversidade, sua origem e conceito.
• Mostrar quais são os motivos que devem induzir-nos a se interessar pela conservação
da biodiversidade.
• Valorizar a biodiversidade em termos econômicos, sociais e ecológicos.
• Considerar aspectos que levam à extinção das espécies.
• Conhecer os avanços mais recentes no contexto do conhecimento da biodiversidade
da caatinga.
Origem e definição
O termo “biodiversidade”, contração da diversidade biológica, foi intro-
duzido, na metade dos anos 80, pelos naturalistas que se inquietavam pela
rápida destruição dos ambientes naturais e de suas espécies. Esse termo
logo foi popularizado, durante a assinatura da convenção sobre a diversida-
de biológica, na época da conferência Rio de Janeiro, em 1992.
Segundo a convenção mencionada, a biodiversidade pode ser definida Biosfera (do grego βίος,
como “a variabilidade dos organismos vivos de qualquer origem, compreen- bíos/vida; e σφαίρα, sfai-
ra/esfera. É o conjunto
dendo entre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossis- de todos os ecossistemas
temas aquáticos e os complexos ecológicos dos quais eles fazem parte. Isso da Terra, incluindo todas
compreende a diversidade nos ambientes das espécies e entre as espécies, as suas interações físicas,
químicas e biológicas. O
bem como aquela dos ecossistemas”. Mais simplesmente, a biodiversidade termo foi introduzido em
está constituída pelo conjunto dos seres vivos, pelo seu material genético e 1875, pelo geólogo austrí-
pelos complexos ecológicos dos quais eles fazem parte. aco Eduard Suess.
Motivos ecológicos
a) É indispensável para manter os processos de evolução do mundo vivo.
b) Apresenta função dentro da regulação dos grandes equilíbrios fí-
sico-químicos da biosfera, notadamente ao nível da produção e da
reciclagem do carbono e do oxigênio.
Realizada de 03 a 14 de ju-
nho de 1992, a Conferência Motivos éticos e patrimoniais
das Nações Unidas sobre o
Ambiente e o Desenvolvi- a) Os homens têm o dever moral de não eliminar as outras formas
men-to (também conheci- de vida.
da como Cúpula da Terra,
Eco 92 ou Rio 92) reuniu b) Segundo o princípio de igualdade entre gerações, nós devemos
108 chefes de Estado para transmitir aos nossos filhos a herança que recebemos.
buscar mecanis-mos que
rompessem o abismo de c) Os ecossistemas naturais e suas espécies são verdadeiros laborató-
desenvolvimento entre o
norte e o sul do planeta,
rios para compreender os processos da evolução.
mas preservando os re-
d) A biodiversidade está carregada de normas de valor: aquilo que é
cursos naturais da Terra.
A intenção era introduzir natural, aquilo que é vulnerável, aquilo que é bom para o homem e
a idéia do desenvolvimen- para a sobrevivência da humanidade etc.
to sustentável, um modelo
de crescimento econômico
menos consumista e mais
adequado ao equilíbrio Os genes vs. ecossistemas
ecológico. As bases para
Rio 92 foram lançadas em A biodiversidade refere-se em especial a três níveis interligados da
1972, quando a ONU orga-
nizou sua primeira confe- hierarquia biológica.
rência ambiental. a) A diversidade das espécies: a identificação das espécies e seu
Fonte: www. inventário constituem a maneira mais simples de apreciar a diver-
estadao.com.br
sidade biológica de uma área geográfica. Foi a evolução biológica
que deu forma, no decorrer do tempo, a esta imensa diversidade de
formas e de espécies.
b) A diversidade genética: cada espécie é diferente das outras do
ponto de vista da sua constituição genética (genes, cromossomos).
Da mesma forma, as pesquisas em biologia molecular colocaram
em evidência a existência de uma variabilidade genética entre po-
Fonte: www. pulações isoladas pertencentes a uma mesma espécie, bem como
revistadehistoria.com.br entre indivíduos no seio de uma população. A diversidade genética
é o conjunto da informação genética contida dentro de todos os se-
res vivos, correspondendo à variabilidade dos genes e dos genótipos
entre espécies e no seio de cada espécie.
c) A diversidade ecológica: os ecossistemas estão constituídos pelos
complexos de espécies (ou biocenoses) e seu ambiente físico. Distin-
guimos numerosos tipos de ecossistemas naturais, como as florestas
tropicais, os recifes de coral, os manguezais, as savanas, as tundras
etc., bem como os ecossistemas agrícolas. Cada um destes ecossiste-
mas abriga uma combinação característica de plantas e de animais.
Esses próprios ecossistemas evoluem em função do tempo, sob o
efeito das variações climáticas sazonais ou em longo prazo.
Os recursos biológicos
A biodiversidade é, igualmente, um conjunto de recursos biológicos e
genéticos que o homem extrai do ambiente natural ou que soube domesticar
para seu proveito e, do qual, ele continua a extrair segundo as suas necessi-
dades. Sob o termo “recursos biológicos”, são identificados os componentes
da biodiversidade que têm uma utilização direta ou indireta ou potencial
para a humanidade.
Os usos da biodiversidade são muito numerosos e dizem respeito à
vida cotidiana de cada humano, bem como aos diversos aspectos da sua
atividade econômica. Os recursos biológicos constituem o “capital vívido”,
a fonte de muitos produtos alimentares, farmacêuticos. Da mesma forma,
Fonte: www.microbiolo-
gyonline.org.uk
Figura 8.2 Suponha que a espécie 1 ocorra nas áreas A e B, e que a espécie 2 ocorra nas
áreas B e C. As populações das duas espécies na área B são simpátricas, e a população da
espécie 1 na área A é alopátrica com a espécie 2 na área C. Se as áreas A, B e C todas ti-
verem condições ambientais e habitats semelhantes, e se a competição causa divergência,
esperaríamos que as populações simpátricas das espécies 1 e 2 na área B diferissem mais
umas das outras do que as populações alopátricas daquelas espécies nas áreas A e C. Este
fenômeno é conhecido como deslocamento de caractere. Fonte: RICKLEFS (2005).
O grupo dos vertebrados é aquele que está mais bem estudado, bem
como certos grupos (moluscos, orquídeas, borboletas) pelos quais numero-
sos amadores se interessaram. Mas, em relação aos outros grupos, notada-
mente o dos insetos, que tem numerosas espécies, ainda mal explorados,
pode-se esperar também numerosas descobertas. Dessa forma, o número
de espécies de cogumelos poderá situar-se entre 1 e 2 milhões.
A maioria dos sistematas concorda que este quadro é ainda muito
incompleto, com exceção de alguns grupos bem estudados, como os verte-
brados e plantas com flores. Se incluirmos os insetos, de todos os grupos
principais o mais rico em espécies, acredita-se que o número absoluto seja
maior que 8 milhões.
Alguns habitats são muito pouco estudados e explorados, os recifes de
coral, o solo do fundo do mar e o solo das florestas tropicais e savanas são
alguns exemplos. Assim, notavelmente, não sabemos o verdadeiro número
das espécies sobre a Terra, nem mesmo temos um número aproximado de
sua magnitude.
Em anos recentes, biólogos, ecologistas e conservacionistas voltaram
suas atenções para as florestas tropicais, por duas razões principais. Pri-
meiro, embora esses habitats cubram apenas 7% da superfície terrestre,
eles contêm mais da metade das espécies da biota mundial (Tabela 8.2) e o
Brasil ocupa um dos primeiros lugares em riqueza de espécies. Segundo, as
Figura 8.6 Registro da perda de biodiversidade desde 1600 até o ano 2000: a) no mar e
ilhas oceânicas; b) nas mais importantes regiões geográficas; c) em invertebrados e d) em
vertebrados (Fonte: SMITH et al. 1993).
Biodiversidade da caatinga
Os primeiros estudos sobre a biodiversidade no semiárido nordestino
remontam-se à viagens feitas por George Marcgraf, que em 1638 visita pela
primeira vez o Nordeste do Brasil, durante a ocupação holandesa no Recife.
Este naturalista holandês de ascendência alemã colheu os primeiros dados
sobre flora e fauna brasileiras, direcionadas à Mata Atlântica. Posterior- von Martius, K. F. P.
mente o Príncipe Maximilian von Wied (1815 -1817) fez sua primeira visita Fonte: http://
pelo Semiárido, viajou pela costa da Bahia e também no interior, incluindo florabrasiliensis.
cria.org.br/info?history
Vitória da Conquista e Jequié, colhendo, amostras de plantas, registrando
as paisagens e costumes da população.
Em 1817, chegava ao Brasil uma missão austríaca que trazia a arqui-
duquesa Leopoldina para se casar com Dom Pedro I. Nessa expedição, vie-
ram também diversos cientistas e artistas europeus, entre eles o jovem bo-
tânico alemão de 23 anos Karl Friedrich Philipp von Martius. Seu trabalho
durante a viagem renderia a obra Flora brasiliensis, que levou 66 anos para
ser concluída e é ainda hoje o mais completo e abrangente levantamento da
flora nacional, com 22.767 espécies catalogadas.
Contrastes
A Caatinga não é uma só: existem ao menos seis tipos de composições
vegetais distintas - das mais abertas e baixas, com árvores de 1 m de altura,
até a fechada, com árvores de 20 m. Por esse mosaico de paisagens se mis-
turam 932 espécies de plantas, das quais um terço é endêmico. Junto a esse
endemismo arbóreo, não pode deixar de ser mencionado o grupo das aves.
Vivem na Caatinga 510 espécies de aves, quase um terço do total encon-
trado no país e quase o dobro do levantamento feito em 1965 pelo ornitólogo
alemão Helmut Sick. Algumas espécies que durante a estação chuvosa vivem
na Caatinga retornam para essas áreas úmidas durante os longos períodos
de estiagem. A ararinha azul (Cyanopsitta spixii), por exemplo, costumava
deixar a região de Curaçá, na Bahia, e voar quilômetros até os brejos de alti-
tude (matas serranas) para se alimentar quando já não frutificavam o pinhão
(Jatropha mollissima), a faveleira ou a baraúna (Schinopsis brasiliensis). Hoje,
as ararinhas azuis vivem apenas em zoológicos e criadouros - há apenas 60
exemplares pelo mundo - e a espécie é considerada extinta na natureza: o
último exemplar de vida livre foi visto em outubro de 2000.
Pela importância ecológica, os brejos de altitude estão entre 82 áre-
as prioritárias para a conservação da Caatinga assim como as dunas do
São Francisco, outro espaço igualmente rico em espécies exclusivas (Figu-
ra 8.10). As dunas de até 60 metros que se erguem às margens do rio São
Francisco, o maior rio perene da região, concentram cerca de um terço das
espécies do semiárido, entre elas 16 espécies de lagartos, oito de serpentes,
quatro de anfisbenas e uma de anfíbio, exemplos de animais exclusivos dali.
Anfisbenas são répteis aparentados das serpentes, sem olhos nem escamas
visíveis, também chamados de cobras de duas cabeças ou cobras cegas.
Entre os mamíferos, o número total de espécies que vivem na Caa-
tinga saltou de 80 para 143 e o de endêmicas, de três para pelo menos 20,
como resultado das pesquisas mais recentes. Sabia-se que só na Caatinga
vive o mocó (Kerodon rupestris), um ratão de até 40 cm; o rato bico de lacre
(Wiedomys pyrrhorhinos), de 10 a 13 cm, sem contar a longa cauda, que ser-
ve de apoio na hora de escalar as árvores; e o tatu bola (Tolypeutes tricinc-
tus), o menor tatu brasileiro, de 22 a 27 cm, que enrola o corpo e fica pare-
cido com uma bola quando se sente ameaçado. A lista dos endêmicos agora
inclui o morcego insetívoro Micronycteris sanborni, o marsupial Thylamys
karimii, de dorso cinza claro e ventre creme, e um macaco sauá (Callicebus
barbarabrownae), descrito com base em material coletado no início do sécu-
lo passado e encontrado recentemente no interior da Bahia. Mesmo assim,
segundo especialistas, o endemismo de mamíferos da Caatinga ainda é pelo
menos três vezes menor que o da Mata Atlântica ou da Amazônia, em vista
da própria extensão de cada ecossistema.
Essas descobertas ajudam a desfazer o mito de que a Caatinga é pobre
em espécies e fenômenos exclusivos, mostrando que é necessário realizar
mais pesquisas e encaminhar mais recursos econômicos, para patrocinar
esses estudos e preservar o que temos nesse bioma, antes de ter só que la-
mentar o desaparecimento das espécies.
Dispersão
Nome dado aos mecanismos ou meios utilizados pelas plantas para
atingir novos locais.
UNIDADES DE DISPERSÃO ou DIÁSPOROS: sementes, frutos, planta
inteira (Tillandsia usneoides), ou partes da planta.
AGENTES DE DISPERSÃO:
1. ANIMAIS (zoocoria): - endozoocoria - ingestão e posterior liberação
do diásporo. - sinzoocoria - diásporos carregados deliberadamente.
- epizoocoria - diásporos carregados acidentalmente.
1A. Répteis (SAUROZOOCORIA): Ex.: Jacarés e iguanas comem, no
mangue, frutos de Annona glabra, realizando a dispersão. Os répteis
são sensíveis às cores laranja e vermelho e têm olfato desenvolvido.
Leituras
Livros
• MMA – Ministério do Meio Ambiente, Secretaria de Biodiversidade e
Florestas. Áreas prioritárias para conservação, uso sustentável
e repartição de benefícios da biodiversidade brasileira: atualiza-
ção. Brasília: MMA (Série Biodiversidade, 31). 2007.
• LEAL, I. R; TABARELLI, M.; SILVA, J. M. C. Ecologia e conserva-
ção da Caatinga. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2003. 822 p.
Artigo
• MACHADO, E. L. M.; GONZAGA, A. P. D.; MACEDO, R. L. G.; VEN-
TURIN, N.; GOMES, J. E. Importância da avifauna em programas
de recuperação de áreas degradadas. Revista Científica Eletrôni-
ca de Engenharia Florestal. Ano IV, n. 7, 2006.
Filmes
• Floresta Amazônica (BBC Worldwide Ltda.)
• Uma Verdade Inconveniente
• África Selvagem (BBC Worldwide Ltda.)
Sites
• Conservation International: (http://www.conservation.org.br/)
• COLEÇÃO FLORA BRASILIENSIS: (http://florabrasiliensis.cria.
org.br/)
• IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística: (http//www.
ibge.gov.br/)
• ICMBio - Instituto Chico Mendes: (http://www.icmbio.gov.br/)
• IPECE - Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará:
• (http://www2.ipece.ce.gov.br/)
• MMA - Ministério do Meio Ambiente: (http://www.mma.gov.br/)