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organismos.
1
Universidade Federal do Rio de Janeiro, CCS, IB, Departamento de Ecologia, Caixa
Ambientais, Av. Alberto Lamêgo s/n, cep. 28013-600, Campos dos Goytacazes, RJ.
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Universidade Federal do Rio de Janeiro, CCS, IB, Departamento de Botânica, cep
História Natural e Conservação. Editores: Rocha CFD, Scarano FR & Esteves FA.
Resumo
Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD), site 5. Neste capítulo, além de discutir
histórico acerca das investigações conduzidas na área ao longo dos últimos 10 anos. Os
espécies, uma vez estabelecidas, oferecem condições microclimáticas favoráveis para que
direto desta hipótese se dará experimentalmente. Antes, porém, conduzimos uma série de
reforçaram a hipótese inicial e adicionaram a ela novos elementos que nos levaram a
restinga aberta de Clusia, que é apresentado neste capítulo. Por último, discutimos quais
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Abstract
This is one of three Chapters destined to review plant ecology studies carried out in the
Restinga de Jurubatiba National Park, which is the site 5 of the Brazilian Long Term
Ecological Research Project (LTER). In this Chapter, we discuss the results obtained
during the 3 years of LTER activity and also present the local research history for the past
10 years. Plant ecology research has been developed around the hypothesis that
functioning of the plant community on the open scrub formation dominated by Clusia
relies on a few keystone plant species. These species, once established, offer favourable
aimed to conduct a series of ecological and natural history studies focusing on the
potential keystone species, which are Clusia hilariana Schltdl. (Clusiaceae), Aechmea
and nutrient cycling. These studies corroborated the initial hypothesis and added new
elements to it, which led us to build a functional model to explain community dynamics
in this vegetation. We present this model, discussing which new elements we plan to add
Introdução
Uma das grandes perguntas da Ecologia tem sido como tantas espécies conseguem
Modelos e teorias surgiram de forma tão prolífica para explicar coexistência (ver revisão
em Denslow & Lovett-Doust, 1985), que parece não haver causa única. De fato, Fargione
e Biogeografia de Hubbell (2001) é pouco bem sucedida neste sentido, por basear suas
raras. Por outro lado, os modelos de trade-off entre competição e colonização defendidos
por Fargione & Tilman (2002) nem sempre parecem levar em conta a possibilidade de
que, para habitats com baixa disponibilidade de recursos, a capacidade de sobreviver sem
um determinado recurso por determinado intervalo de tempo possa ser mais decisiva à
sobrevivência do que a capacidade de competir por este recurso que, naquele momento, é
inexistente. Esta última hipótese, lançada por Crawford et al. (1989), foi construída com
longos períodos desprovidas de oxigênio nas partes subterrâneas. Segundo aquele estudo,
ser capaz de sobreviver sem oxigênio nestes casos é mais importante do que ser capaz de
Além disso, a última década viu uma crescente preocupação com o papel de interações
positivas, i.e., quando a presença de uma espécie aumenta a aptidão ecológica (do inglês
facilitação à estrutura de uma dada comunidade tende a ser maior em ambientes pobres
em recursos (Bertness & Callaway, 1994; Greenlee & Callaway, 1996; Callaway et al.
ilhas de vegetação de diferentes tamanhos circundadas por areia nua, cobrem cerca de
reter água nas camadas mais superficiais do solo arenoso, expostas a altas temperaturas
Quando iniciamos nossos estudos na área do Parque em 1993, ainda antes da sua criação
em 1998 e do surgimento do PELD no ano 2000, duas das nossas principais perguntas
eram: 1) como tantas espécies de plantas (até o momento já foi relatada a ocorrência de
619 táxons de plantas vasculares; Araujo et al., 2001) são capazes de sobreviver nas
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a dinâmica das comunidades vegetais nas quais estão inseridas? Este capítulo apresenta
uma síntese dos nossos esforços no sentido de encontrar respostas para os dois tópicos
acima.
Histórico
metabolismo ácido das crassuláceas, CAM (Franco et al., 1996, 1999; Herzog et al.
1999). De um modo geral estes estudos tiveram caráter descritivo e mostravam um amplo
Paralelamente, a outra linha de investigação acerca das interações entre plantas permitiu
mais rapidamente que alcançássemos um modelo testável. O interesse acerca deste tema
nas restingas fluminenses já tem uma tradição secular (ver revisão em Zaluar & Scarano,
2000) e na restinga de Jurubatiba foi iniciado no trabalho de tese de Correia (1998). Este
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al., 2003, neste volume, para terminologia), na faixa mais próxima ao mar, vizinha à
pareciam aos nossos olhos as mais abundantes na área, sem que tivéssemos realizado
qualquer estudo fitossociológico prévio neste trecho: Clusia hilariana Schltdl., Protium
icicariba (DC.) Marchand (Burseraceae), Andira legalis (Vell.) Toledo (Leg. Faboideae)
através de outra tese orientada na região (Pimentel, 2002; ver também Araujo et al., 2003,
neste volume) que de fato Clusia e Protium são as espécies dominantes nas restingas
porém não figura entre as dominantes e Andira é rara e de ocorrência agrupada e esparsa.
Correia (1998) demonstrou que enquanto Vernonia e Andira não apresentavam potencial
como planta-berçário (do inglês nurse-plant), Clusia e Protium sim, já que se associavam
padrão ficava mais evidente quando todas as ilhas de vegetação eram contabilizadas em
conjunto. Quando separadas por tamanho (ilhas pequenas, médias e grandes), apenas
do tempo, aqui estimada pelo aumento no tamanho das ilhas, parece depender de apenas
(1998) encontrou também que 70% de um total de 59 plântulas de Clusia com até 50 cm
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foram encontradas nos tanques das bromélias Aechmea nudicaulis (L.) Griseb e
no local. Tal padrão já havia sido encontrado para a restinga de Maricá, entre Clusia
fluminensis Planch. & Triana e as bromélias (Macêdo & Monteiro, 1987), e seria
(1997) em sua tese de mestrado demonstrava que sob o dossel de Clusia hilariana e
Allagoptera arenaria era encontrada uma riqueza de espécies superior à encontrada sob o
palmeira geófita que é uma das poucas espécies a germinar sobre a areia nua na área, esta
também passou a ser vista por nós como uma planta-berçário em potencial (ver também
Estes estudos claramente indicavam que processos são tão ou mais importantes de ser
preservados do que espécies. Ainda que isso não se tratasse naquele momento de
nenhuma novidade científica (ver Sterelny & Griffiths, 1999), foi um dos importantes
Restinga de Jurubatiba em abril de 1998 (Barbosa et al., 2003). Ainda que a restinga não
Do ponto de vista científico, estes estudos nos traziam então à seguinte hipótese geral,
que diz respeito diretamente à segunda pergunta que lançamos na Introdução deste
Vegetal, UFRJ, indicavam que a hipótese acima era pertinente de ser testada em outras
comunidades vegetais marginais à mata atlântica sensu stricto, tais quais os afloramentos
comunidade como um todo. De fato, esta como qualquer outra simplificação nos leva ao
vegetação, como por exemplo espécies que possivelmente exerçam interações negativas
dinâmica de vegetação que adotamos ao longo dos três primeiros anos de execução do
PELD.
perturbação tal, de origem natural ou antrópica, que tenha feito com que a espécie se
acompanhamento e análise, bem como se requer que sejam conduzidos fora da área de
Diaz et al., 2003; Kareiva & Levin, 2003). Portanto, esta empreitada consta dentre as
nossas metas (ver item Metas futuras adiante), mas julgávamos que antes de executá-la
estrategicamente por ampliar nossa escala espacial de observação para tentar confirmar
algumas das nossas generalizações (ver capítulo de Araujo et al., 2003). Note que várias
(Zaluar, 1997; Correia, 1998) que somadas cobriam apenas 1,5 ha contínuo. Além disso,
Clusia hilariana que seria um dos nossos principais focos de estudo porque, além de
potencial facilitadora, tem a maior cobertura vegetal na área (Zaluar, 1997), variava
visivelmente no espaço: por se tratar de uma planta dióica, possui indivíduos macho e
fêmea (Liebig et al., 2001); e por apresentar também indivíduos maduros e senescentes
de florística (Araujo et al., 2001), fitogeografia (Araujo, 2000; Araujo et al., 2001),
estrutura (ver capítulo de Araujo et al., 2003), dinâmica das comunidades (Scarano, 2002,
Zaluar, 2002), e ecofisiologia (ver capítulo de Mattos et al., 2003), faltavam informações
de input de nutrientes no sistema. Para cobrirmos todos estes tópicos, estruturamos seis
respectivamente cobertos em mais detalhes neste volume nos capítulos de Araujo et al.
ao próximo.
Após as primeiras evidências que Clusia abrigava no seu sub-bosque uma grande riqueza
condições de crescimento (Urbanska, 1992; Crawley, 1997). Além disso, embora seja
comum machos produzirem mais flores que fêmeas (Lloyd & Webb, 1977; Willson &
Ågren, 1989), são as fêmeas que produzem frutos e sementes o que requer um
quântica (que dão uma noção acerca do vigor da planta; ver Scarano et al., 2001),
de Clusia não em busca de seus frutos (o que implicaria em maior diversidade associada
às fêmeas), mas principalmente em busca de abrigo, logo não fazendo diferença entre
(H’) associado à Clusia, tanto macho quanto fêmea, em torno de 2,7 (estes valores em
geral flutuam entre 1,5 e 3,5 e raramente são maiores que 4,5; Magurran, 1988), que são
(~2,6; Pimentel, 2002). Ainda que tenham havido diferenças nos critérios de inclusão
destes dois trabalhos, os dados parecem indicar que Clusia de fato dá uma grande
Outras duas formas de Clusia são distingüíveis na paisagem: adultos maduros, com copa
deciduidade), o que sugere que indivíduos senescentes sejam também os mais velhos, ou
pelo menos os que estão mais próximos do fim do seu ciclo de vida. Ramos (2003), em
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sua tese de mestrado, amostrou todos os indivíduos com mais de 20 cm de altura no sub-
e a estrutura das comunidades associadas a estas plantas. Nossa hipótese inicial era que,
uma vez que no nosso modelo Clusia era uma planta facilitadora, a perda de sua
cobertura foliar implicaria em morte de várias das plantas estabelecidas no seu sub-
bosque. Ainda esta vez nossa hipótese foi refutada: não houve diferença significativa para
vegetação dominadas por indivíduos maduros de Clusia vs. aquelas dominadas por
indivíduos senescentes de Clusia. Este resultado sugere que o papel facilitador de Clusia
Ramos (2003) indicaram também que o sub-bosque das dos indivíduos senescentes de
Clusia era em média mais alto e com maior área basal do que o sub-bosque dos
idade passam a ter seu crescimento inibido pela Clusia, e só o retomam a partir da
determinado tamanho e número passam a exercer forte competição sobre a Clusia que
Silva (2003), em sua tese de mestrado, comparou o sub-bosque das mesmas ilhas de
superior nas ilhas de Clusia senescente vs. madura, ou vs. ilhas sem Clusia. Isto talvez se
que refletiu em uma menor acidez e maior capacidade de troca catiônica destes solos. Já a
estimada para essas ilhas no período de 320 dias se assemelha aos valores encontrados
por Hay & Lacerda (1984) para outro trecho nesta mesma restinga de Macaé no período
valores de produção anual de serrapilheira nas ilhas de Clusia adulta são similares a
padrão de ciclagem de nutrientes desta restinga. Por exemplo, Silva (2003) afirma que
Sinopse e perspectivas
Em síntese, os diferentes tipos morfológicos de Clusia, i.e. macho vs. fêmea, maduro vs.
interação com outras espécies. Para alguns aspectos de ciclagem de nutrientes também
variaram em sub-bosque de Clusia madura vs. senescente. Uma vez que Clusia é
aberta de Clusia no Parque Nacional (Pimentel, 2002), estes resultados nos levam a
se repetem ao longo de toda esta região. Algumas perguntas que ainda permanecem sem
resposta são: a) até que ponto indivíduos jovens de Clusia já exercem tal papel
facilitador?; b) até que ponto indivíduos de maior porte no sub-bosque de Clusia passam
a sofrer inibição ao invés de facilitação por esta última?; c) até que ponto estes mesmos
hipótese que Clusia hilariana, Aechmea nudicaulis e Allagoptera arenaria são espécies-
chaves que afetam diretamente o funcionamento das comunidades vegetais nas restingas
estrutura e a dinâmica das comunidades como um todo. Por exemplo, num dado
momento no tempo, seria de se esperar que trechos no espaço com menor cobertura
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vegetal destas três espécies viessem a ter menor riqueza e menor diversidade de espécies.
Por sua vez, a estrutura de populações é um reflexo direto da biologia reprodutiva, isto é,
Clusia hilariana
Embora Clusia seja a espécie dominante ao longo de uma vasta extensão da chamada
janeiro; que a razão sexual para a população estudada foi de aproximadamente 1:1; e que
produção de frutos em 1999 ter sido 4,1 vezes maior para flores polinizadas manualmente
(90,2%) que para flores polinizadas naturalmente (22%), além do número médio de
sementes viáveis produzidas ter sido 1,5 vezes maior no tratamento que no controle (77,6
vs. 49,3, respectivamente). Da mesma forma, em 2001, a produção de frutos foi 2,9
vezes maior para flores polinizadas manualmente (78%) que para flores polinizadas
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naturalmente (26,3%) e a produção de sementes foi 2,7 vezes maior (62,2 vs. 29,9,
respectivamente). Este estudo propôs que o recorrente baixo sucesso reprodutivo sexual
desta espécie se deve a um ineficiente transporte de pólen. O fato de Clusia hilariana ser
1974), e as restingas serem geologicamente mais recentes (ver Scarano, 2002), levou
Faria et al. (submetido) a sugerir que a provável migração da mata para a restinga talvez
possa não ter sido acompanhada da migração de polinizadores mais típicos do ambiente
Clusia nemorosa G. Mey. de floresta vs. restinga em Pernambuco e mostraram que uma
resultados encontrados para Clusia hilariana. Abelhas Euglossini são insetos tipicamente
reduzir sua ocorrência ainda que mais estudos sejam necessários neste sentido.
Paradoxalmente, porém, isto parece não ser impedimento para a grande abundância de
que permitem a formulação de hipóteses para a explicação deste caso. No seu estudo de
estrutura populacional foi encontrado que dentre os 312 indivíduos de Clusia presentes
em 0,5 ha, apenas 59 apresentavam menos que 50 cm de altura e apenas 32 (ca. 10%)
foram caracterizados como plântula por terem menos que 20 cm de altura. Este padrão
Assim, os dados de Correia (1998) nos sugerem que, apesar de um baixo sucesso na
produção de sementes, aquelas que são produzidas têm sua chance de sucesso no
contribui para a grande abundância desta espécie na área. Silvertown & Lovett Doust
totalmente claro para Clusia. Estes mesmos autores listam algumas vantagens comuns à
exclusão de competidores (ver também Cirne & Scarano, 2001; Cirne et al., 2003).
sexuado e na produção de sementes mas ainda assim ser a planta mais abundante no
local, parece estar relacionado a três fatores: i) reprodução assexuada bem sucedida e
sementes bem sucedida e numerosa em “anos bons” separados por longos intervalos. No
gênero (Maguire, 1976; Correia et al., 1999), Clusia hilariana não possui apomixia (Faria
et al., submetido), mas sim propagação vegetativa como única forma de reprodução
de restinga só foi estudada em mais detalhes para Andira legalis (Cirne & Scarano, 2001)
extremos e submetidos a distúrbios recorrentes como seca, ventos e herbivoria (Bond &
invasibilidade numa escala local (Pysek, 1997; Cirne et al., 2003), resultando,
tardios (Eriksson, 1989; Szmidt et al., 2002). Estudos genéticos (ver Metas futuras)
poderão dar mais contribuições neste sentido, auxiliando, por exemplo, na determinação
estabelecimento sejam feitos para testar a hipótese c) acima, de que hajam eventuais e
Aechmea nudicaulis
(Correia, 1998), para a bromélia Aechmea o mais provável é que esta proporção chegue
originadas de sementes desta espécie (Zaluar & Scarano, 2000), o que parece se repetir
parecem ocorrer desde a fase de formação de flores e frutos até a produção e dispersão de
ca. 2000 rametes de Aechmea nudicaulis, M.C. Sampaio et al. (dados não publicados)
encontraram que apenas 150 floresceram. Além disso, a floração e a frutificação se dão
em curto período no ano (junho a agosto) e parece que há pouca sincronia fenológica
entre diferentes rametes. A ausência de plântulas parece se dar mesmo após a formação
de frutos e sementes viáveis. Como ocorre para várias outras espécies de bromélias, os
restinga foi constatada a formação de frutos e sementes viáveis (Mantovani, 2002 para
De qualquer forma, ainda que hajam dispersores em ação, as diminutas sementes (ca. 2
germinar sobre a areia nua. Pinheiro & Borghetti (2003) obtiveram resultado negativo
elevadas, assim como as encontradas no solo de restinga. Por outro lado, Mantovani
(2002) demonstrou que ainda que tenham considerável resistência a altas temperaturas,
vegetação. Duas hipóteses concorrem para explicar este padrão: a) após eventual
formar brotos em direção ao exterior da ilha, onde a competição por recursos é menor;
à alta radiação solar e altas temperaturas persistem (ver também Zaluar & Scarano, 2000;
Scarano, 2002).
Este mesmo estudo em andamento aponta para a existência de uma maior freqüência de
vegetação. Uma vez que o número de rametes dentro e fora das ilhas de vegetação é
mais duradouras entre rametes e, portanto, tais fragmentos são compostos por mais
utilizadas em ambientes distintos. De fato, para várias espécies clonais (e.g., Hutchings &
Slade, 1988), inclusive bromélias do gênero Aechmea (Scarano et al., 2002), formas de
tamanho, com menor espaçamento entre rametes e, portanto, com forrageamento mais
intensivo.
esperar também que a germinação desta espécie pudesse ocorrer na copa de árvores,
como epífita, já que este é o hábito mais típico desta espécie em florestas como a mata
atlântica (Scarano, 2002). Contudo, são também raríssimas as ocorrências desta espécie
como epífita na área de estudo, bem como de plântulas da mesma sobre tronco de árvores
mata atlântica, por bromélias tipicamente epífitas na mata em si, já foi constatada em
outros estudos para restinga (Scarano et al., 2002), pântanos (Freitas et al., 1998) e
Allagoptera arenaria
Esta palmeira geófita possui caules subterrâneos e folhas pinadas que crescem ao nível do
solo. O caule chega a alcançar ca. 1,5 m de profundidade e o sistema radicular é profundo
o bastante para alcançar o lençol freático (Morais, 1996) e apresenta várias raízes
superficiais que exploram a camada orgânica sobre a areia da restinga (Zaluar, 2002).
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Frutificação e floração ocorrem ao longo de todo o ano, com picos em junho e julho
mesmo indivíduo), dicogâmica protândrica (i.e., a abertura das flores se inicia pelas flores
femininas nos dois terços inferiores da mesma espiga. Alguns indivíduos porém podem
parece ser feita por vento ou por várias espécies de insetos a curtas distâncias (Leite,
1990). Entretanto, na restinga de Jurubatiba ainda não foram realizados estudos sobre a
Foram encontrados 1808 indivíduos de Allagoptera, ou seja, uma alta densidade de ca.
24,6% (n=444) em ilhas dominadas por outras plantas como Clusia por exemplo. Ainda
que seja clara a preferência desta planta pelos ambientes abertos, Liebig et al. (2001)
reprodução sexuada, ainda que em outras restingas sua reprodução assexuada já tenha
responsável pelo papel facilitador da espécie. Zaluar (2002) examinou 141 ilhas de
vegetais associadas, incluindo ervas, cactos, rosetas, trepadeiras e arbustos. Com exceção
de ervas e rosetas, as demais formas de vida foram mais comum em ilhas de maior
crescimento das ilhas que forma sobre areia nua implicam no ingresso de um maior
baixa tendo, todavia, apresentado uma tendência a maior mortalidade em ilhas não
dominadas por ela. O estudo de dinâmica indicou também reduzidas taxas de transição
entre microhabitats (isolada sobre areia, dominante de pequenas ilhas sobre areia, e não
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dominante em ilhas maiores) o que aponta para uma certa lentidão do processo
Sinopse e perspectivas
revela profundas diferenças entre as mesmas. Clusia hilariana é uma árvore, dióica, que
Allagoptera arenaria é uma palmeira geófita, monóica dicogâmica, pioneira e que recruta
As diferenças bionômicas entre estas três espécies que, propomos, têm uma função
nos remete a um interessante problema teórico que constitui outro dos tópicos a ser
examinado com interesse pela equipe do PELD: o do conceito de grupos funcionais. Este
diversidade existente em sistemas ecológicos. Assim, por exemplo, um hectare com 100
forma seja mais facilmente possível realizar previsões acerca dos efeitos de mudanças
globais sobre plantas e vegetações inteiras (Smith et al., 1997).Talvez por um problema
semântico com origem na língua inglesa (i.e., a palavra function é usada indistintamente
para se referir funcionamento e função), muitos estudos têm assumido a priori que
no ecossistema. As três espécies que formam o grupo das espécies-chaves da restinga são
severamente criticado no passado por Bormann & Likens (1979). Estes autores sugeriram
Clusia da restinga de Jurubatiba. Este modelo foi montado com base nas várias
informações revisadas neste texto e é uma adaptação àquele proposto por Zaluar (2002)
vegetação num dado estágio sucessional pode mudar de fase em função do ingresso e
hilariana; Aechmea nudicaulis é importante coadjuvante neste processo, uma vez que: a)
b) ela pode representar uma adição em área às moitas dominadas por Allagoptera,
dentro de uma ampla escala temporal, uma vez que não há evidências de avanço linear no
(1999). Este estudo comparou duas fotos aéreas de um mesmo trecho da restinga aberta
de Barra de Maricá com intervalo de 20 anos entre elas. A autora encontrou um aumento
de 4% na cobertura vegetal total no período, mas talvez mais importante tenha sido o
resultado que a maior parte das ilhas de vegetação não variou em tamanho, enquanto
ecologia e história natural para que o modelo possa ser aprimorado e as hipóteses
Metas futuras
o terceiro ano de atividades, naturalmente temos inúmeras metas futuras. Além de poder
estudos relatados acima para pelo menos outras duas formações vegetais do
(ii) integrar mais dois níveis de organização ecológica aos estudos de dinâmica:
(iv) iniciar uma abordagem experimental que permita o teste direto da hipótese
Agradecimentos
coleta, análise e da discussão dos dados; ao Sr. Joanito V. Azeredo pela indispensável
D.D. Biesboer, A.C. Franco e U. Lüttge pela parceria e discussões acerca do tema; aos
demais membros da equipe de Ecologia Vegetal, D.S.D. Araujo, E.A de Mattos e seus
31
estudantes. Além do PELD (CNPq), os estudos aqui revisados foram financiados por
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Legenda de Figuras:
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Clusia (“ilhas dominadas por arbustos C3”) serem formadas também a partir de ilhas de