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DE
ZOOLOGIA
1. Introdução
Para um curso de Biologia, o estudante deve ser preparado para discutir vários
conceitos ligados a área das Ciências Biológicas. Dentre essas áreas, o estudante de
Biologia deve discutir aspectos ligados à Evolução e à Zoologia; no primeiro caso, o
estudante encontra diversos princípios da Evolução aplicados ao cotidiano, como a
genética, para adequada e correta seleção de espécies vegetais próprias para um
determinado tipo de solo, clima, etc., bem como as diversas variedades de uma única
espécie de planta que podem ser melhor utilizadas em determinadas condições geológicas,
climáticas, produtivas, etc. Da mesma forma, podem ser citados casos da genética para
seleção de animais, sejam os de criação doméstica (gatos e cachorros, por exemplo), sejam
os para consumo (diversas espécies de gado, de carneiros, etc.).
Além da genética, podem ser encontrados exemplos e aplicações do conceito de
evolução nos estudos sobre conservação de áreas ambientais, como florestas, mangues,
recifes, etc. Nesses casos, a preservação do meio ambiente está associada ao conceito de
evolução pelo fato de as espécies que habitam esses locais serem específicas dos mesmos,
ou seja, não são encontradas em outros lugares. A pergunta que se faz é: por que essas
espécies são encontradas apenas nesses locais? Por exemplo, não esperamos encontrar
espécies de onça pintada (Panthera onca) na Austrália, nem encontrar cangurus (Macropus
spp. – conhecem-se quatro espécies na Austrália) na Amazônia; cada uma dessas espécies é
específica de determinados locais (a onça pintada é natural das Américas e o canguru é
natural da Austrália – Oceania). Da mesma forma, não esperamos encontrar araras azuis
(Anodorhynchus hyacinthinus) nos pampas, uma vez que é uma espécie de ocorrência nas
regiões da Floresta Amazônica, Cerrado e Pantanal. O mesmo ocorre com diversas espécies
de plantas, como a jabuticaba (Myrciaria spp. – várias espécies, com nomenclatura em
discussão pelos especialistas), que é natural do Brasil, e o abacaxi (Ananas spp.) natural da
América do Sul).
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evolutivos não deixam de agir. Como exemplo, podemos citar a crescente resistência de
coccídeos – insetos que atacam árvores de frutas cítricas (laranja, por exemplo) – ao gás
cianídrico, um tipo de inseticida.
Igual raciocínio pode ser aplicada para as áreas de pesquisa básica e conservação,
como já mencionado acima, ou seja, a Zoologia está associada com a Evolução a partir do
momento em que temos espécies típicas de determinado local, e que não são encontradas
em outros locais. Isso é uma forma de se pensar nos ambientes em que espécies animais
podem ser alocadas, para manutenção de sua preservação, quando for o caso. Por exemplo,
em situação de construção de uma usina hidroelétrica, diversas espécies de animais têm que
ser deslocadas. Como saber para qual local devem ir, se não forem respeitados os princípios
de Evolução que essas espécies sofreram? Se você pensou que a área de atuação, para
realocação de animais era a Ecologia, diremos que a Ecologia é a mesma coisa que a
Evolução, com a diferença que a Ecologia acontece agora e a Evolução aconteceu há
bilhões de anos e continua a acontecer. No entanto, seu ritmo (o da Evolução) é
extremamente lento, não perceptível pela nossa – humana – noção de tempo. A Ecologia é
uma ciência que aborda os fenômenos mais recentes.
Nossa apostila de Zoologia dos Invertebrados, portanto, será iniciada com conceitos
básicos de Evolução e, em sequência, passará a abordar diferentes grupos de organismos
(área da Zoologia), com ênfase em alguns grupos de invertebrados (não é nossa intenção
abordar todos os grupos, por falta de espaço e pelo objetivo da disciplina), enfocando os
aspectos comuns entre eles, seus ciclos de vida e biologia, bem como uma introdução à
importância em termos de manutenção de um ecossistema, sua produtividade e as relações
com o ser humano.
2. Princípios de Evolução
Com certeza você há de concordar que não há como confundir um tatu (Família
Dasypodidae – vários gêneros e espécies) com uma onça pintada, nem um pé de goiaba
(Psidium guajava) com um pé de laranja (Citrus sinensis). Não bastasse isso, também se
percebem diferenças entre indivíduos de uma mesma população (o conceito de população é
o mesmo utilizado em Ecologia, ou seja, população é o conjunto de indivíduos de uma
mesma espécie, que habitam o mesmo local, ao mesmo tempo): basta você olhar à sua
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volta, e verificar que todos os seus colegas são diferentes em fisionomia, altura, cor do
cabelo, etc. Tanto em um caso como no outro (animais ou vegetais), percebe-se que existe o
que se denomina variedade (ou diversidade) dentro de uma mesma população.
A questão da variedade levou vários estudiosos a procurar uma razão (ou um
motivo) para explicar esse fato. Os religiosos acreditam na teoria da Criação Divina, onde
tudo o que existe foi feito por um deus, e sempre foi assim (Teoria do Criacionismo).
Outros, como os cientistas, buscaram explicações que pudessem ser baseadas em dados
mais concretos que a simples questão da fé (na fé, ou se acredita, ou não; não precisam
existir fatos e/ou dados que comprovem a existência de uma criatura superior. Pense:
alguém já conseguiu provar a existência de um deus?). Entre os estudiosos que procuraram
explicar a questão da diversidade, um dos pioneiros em sistematizar conceitos e explicações
foi Jean Baptiste Lamarck, que postulou sua teoria baseado em duas suposições:
a) Lei do uso e desuso: segundo essa lei, quanto mais uma parte ou órgão do
corpo é usado, mais ela se desenvolve, enquanto as partes não usadas se enfraquecem,
atrofiam, podendo mesmo desaparecer.
b) Lei da herança dos caracteres adquiridos: essa lei postula que as
alterações provocadas num órgão, pelo uso ou desuso, são transmitidas aos descendentes.
Entre os vários exemplos utilizados por Lamarck, podemos citar o famoso caso do
comprimento do pescoço das girafas. Segundo Lamarck, vivendo em uma área com solo
seco e quase sem capim, a girafa teria como alimento apenas as folhas das árvores, e de
tanto esticar o pescoço para pegar as folhas, esse cresceria um pouco. Essa nova
característica seria transferida aos descendentes. Um outro exemplo, também utilizado por
Lamarck, seria o caso de plantas que vivem em regiões secas: elas teriam necessidade de
guardar água e desenvolveriam órgãos para isso, e essas mesmas modificações seriam
transmitidas aos descendentes e dariam plantas com o aspecto dos cactos.
Em resumo, pode-se dizer que a teoria de Lamarck está errada em função da Lei da
herança dos caracteres adquiridos; após o advento da genética, e do entendimento de que os
cromossomos são moléculas que portam as "instruções" de como um determinado
organismo irá se desenvolver, fica sem sentido imaginar como as sequências gênicas
poderiam ser modificadas, através do próprio esforço de um animal ou de uma planta. O
exemplo da prática do Bonsai é adequado. Bonsai é uma milenar arte japonesa que consiste
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em colocar plantas de grande porte em vasos pequenos, e fazer podas adequadas, de forma
a se obter uma "árvore em miniatura". Ora, se a teoria de Lamarck estivesse correta, após
sucessivas gerações de árvores plantadas em pequenos vasos, com as podas adequadas,
quando essas fossem colocadas em áreas maiores, deveriam crescer de forma a continuarem
sendo árvores em miniatura. Evidentemente, não é o que acontece: plantadas em áreas
maiores, e sem as podas adequadas, a planta volta a crescer em seu tamanho natural, ou
seja, de grande porte.
Após Lamarck, outro estudioso da Evolução foi Charles Robert Darwin que, junto
com Alfred Russel Wallace, desenvolveram os aspectos fundamentais da Teoria da
Evolução, como é conhecida hoje. Darwin é mais famoso por ter colocado a Teoria em um
livro ("A Origem das Espécies", publicado em 1859 – esse é o ano da sexta edição do livro,
que é a mais conhecida), e por ter coletado um número impressionantemente maior de
evidências. A diferença fundamental entre essa Teoria, e as anteriores, é a de que esses
autores propuseram um mecanismo, a partir do qual as espécies puderam se diferenciar, até
atingirem suas formas atuais. A Teoria de Darwin e Wallace só não foi mais completa por
não serem conhecidos, naquela época, nem os processos de transmissão hereditária, nem a
estrutura do material genético (DNA e RNA). O que a Teoria da Evolução propõe pode ser
colocado nos seguintes pontos:
a) Todo organismo produz um número de células reprodutoras (gametas)
muitíssimo maior que o de células que originam indivíduos adultos;
b) O número de indivíduos de uma espécie mantém-se mais ou menos
constante no decorrer das gerações;
c) Assim, deve ser muito grande a taxa de mortalidade, pois nascem muito
mais indivíduos do que os que atingem a maturidade (evidentemente, existe uma exceção,
que é a espécie humana. No entanto, convém lembrar que essa exceção só é possível
através do desenvolvimento da medicina, farmacologia, etc.; sem esse desenvolvimento
tecnológico, a espécie humana seria exatamente igual a qualquer outro ser vivo, em relação
às influências ambientais);
d) Os indivíduos de uma espécie não são todos idênticos, mas apresentam
variações em diversas características;
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A maioria das mutações adaptativas importantes não produz tipos totalmente novos,
mas apenas se soma ao conjunto gênico das variações já existentes. A Seleção Natural tem
a positiva e criativa função de selecionar umas poucas combinações gênicas adaptativas, do
infinito número de possibilidades inerentes ao conjunto gênico.
Uma mutação nada mais é que uma alteração da sequência de bases das moléculas
de DNA seja por perda, substituição ou adição de bases. As mutações ocorrem ao acaso, e
podem ser espontâneas ou induzidas. As induzidas ocorrem em indivíduos tratados com
agentes mutagênicos (por exemplo: Raios X, luz ultravioleta, DDT, Aldrin, etc.), e o
Homem tem lançado mão desse recurso para aumentar a variabilidade genética de animais
e plantas cultivadas, selecionando, em seguida, os espécimes que mais se adaptem às suas
necessidades. As mutações espontâneas ocorrem por “erros” na duplicação do DNA e/ou na
produção de moléculas do RNA. Esses “erros” podem ocorrer ligados aos processos
moleculares bioquímicos e/ou por influência de fatores ambientais, como a radiação Ultra
Violeta (UV), radiação cósmica, etc., sem qualquer interferência do Homem nesse
processo.
Experiências com plantas agrícolas têm fornecido evidências de que algumas
mutações podem aumentar a adaptação de seus portadores a um determinado ambiente,
porém não a outro. Por exemplo, em cevada, algumas mutações forneceram valiosas
características, como hastes rígidas que suportam melhor o peso dos grãos maduros. Essas
mutações, contudo, não melhoram a planta para todas as condições em que poderia ser
cultivada, mas apenas para aquelas sob as quais foi testada e produzida. Por exemplo, as
melhores mutações conseguidas por geneticistas suecos são as que se caracterizam por
frutificação precoce e hastes rígidas. No clima úmido da Europa do Norte, hastes rígidas
são particularmente valiosas, uma vez que a umidade que se acumula na planta durante
períodos de chuvas fortes tende a fazer com que a haste se curve e deite no chão, pelo peso
das gotículas que se acumulam no ápice da planta. No clima seco do oeste dos Estados
Unidos chuvas fortes ocorrem com menos frequência, mas os grãos maduros estão
seguidamente expostos a ventos quentes e secos. Se as hastes são muito rígidas e
quebradiças, esses ventos quebrarão as espigas, dispersando os grãos sobre o campo antes
que possam ser colhidos. Na linguagem dos agrônomos: as mutações que são valiosas na
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Suécia por causa da resistência à acamação são desvantajosas nos Estados Unidos por causa
da suscetibilidade ao despedaçamento.
Outro exemplo de mutação benéfica para o Homem pode ser o da coloração
vermelha (ou púrpura) em bulbos de cebola. Em um primeiro instante, poderíamos dizer
que não há qualquer valor particular para uma cebola no fato de ser branca ou vermelha. No
entanto, em certas circunstâncias, a diferença é de grande importância, uma vez que os
bulbos coloridos são resistentes aos ataques do fungo Colletotrichium sp, um parasita
danoso. As cebolas vermelhas são resistentes porque contêm catecol e ácido
protocatecóico, substâncias que são venenosas para os esporos do fungo. Um único gene
recessivo, na condição homozigótica, produz a cor e as substâncias fungicidas ao mesmo
tempo.
b) Variação na estrutura e número dos cromossomos - para que ocorra uma
alteração na estrutura dos cromossomos, é necessário que os mesmos sofram quebras e, no
momento de se ligarem novamente, o façam em nova posição, alterando assim a sua forma.
As alterações numéricas resultam de erro na meiose, no momento da segregação dos
cromossomos. Ambas as modificações alteram a expressão gênica nos descendentes.
c) Recombinação genética (ou recombinação gênica) - entende-se por
recombinação genética o rearranjo dos genes já existentes, em uma dada população. Em
decorrência, surgirão genótipos com composições novas, sem que seja necessária a
ocorrência de mutações. Uma das fontes de recombinação genética é a reprodução sexuada.
Importante ressaltar que, para as mutações, para as variações de estrutura e número,
assim como para a recombinação, esses fatores não surgem como respostas do organismo a
alguma situação ambiental; ocorrem espontaneamente, e ao acaso. Também vale a pena
notar que esses fenômenos só fazem efeito em um indivíduo se tiverem ocorrido nas
"células-ovo" de seu ancestral direto, ou seja, nos gametas que irão originar esse novo
indivíduo.
d) Seleção Natural - pode ser entendida como a maior probabilidade de
sobrevivência em indivíduos mais bem adaptados a um determinado ambiente, em
"competição" com outros menos adaptados. O termo "bem adaptado" refere-se às
características de sobrevivência de um indivíduo e à sua capacidade de produzir mais (e
melhores) descendentes, sempre em relação aos outros indivíduos da mesma espécie.
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Evolução, cabe notar que os processo acima citados ocorrem Figura 1 – Esquema dos
em ambientes naturais, sem a interferência humana, daí o principais fatores evolutivos.
nome de Seleção Natural. Ao longo de sua história evolutiva, o Homem procurou (e ainda
procura) modificar as características naturais das espécies para benefício próprio. Nesse
contexto diz-se que as espécies modificadas pelo Homem sofreram um processo de Seleção
Artificial. O termo "artificial" é empregado pelo fato de as modificações ocorridas não
serem de influência ambiental, mas sim, direcionadas pelo Homem, a fim de que
atendessem às suas necessidades. Um dos melhores exemplos que podemos citar é o caso
do milho (Zea mays), que vem sendo modificado desde há mais de 10.000 anos a partir de
um capim selvagem, originário da América Central, denominado Teosinto (Zea mexicana).
Portanto, podemos dizer que o milho é resultado de um processo de Seleção Artificial.
De maneira análoga, os insetos que atacam as plantações são selecionados,
conseguindo superar as barreiras que o Homem coloca como, por exemplo, o uso de
inseticidas. Nesse caso, como o Homem provoca uma alteração ambiental (a aplicação de
inseticidas), as espécies de insetos-praga passam por um processo de Seleção Natural.
Como já está bem estabelecido, os seres vivos podem ser divididos em dois grandes
grupos: os Procariotos e os Eucariotos. Os primeiros são organismos desprovidos de
núcleo, ou seja, o material genético (DNA e/ou RNA) encontram-se dispersos no interior da
célula, junto com o citoplasma; os segundos possuem uma membrana envolvendo a
estrutura denominada núcleo, em cujo interior encontra-se o material genético do
organismo. Representantes dos procariotos são as cianobactérias (anteriormente
denominadas algas azuis, ou cianofíceas) e as bactérias propriamente ditas; todos os outros
organismos são eucariotos, o que significa dizer que uma árvore, uma ameba, um fungo,
uma abelha, o ser humano, etc. todos têm a mesma origem evolutiva, isto é, descendem de
um mesmo ancestral eucarioto, segundo a Teoria da Evolução. Para se entender como esse
processo pode ter sido desencadeado, uma das teorias mais aceitas, atualmente, é a
denominada Teoria da Simbiose Seriada, desenvolvida pela cientista Lynn Margulis, desde
a década de '70. Deve-se entender como simbiose o processo no qual dois organismos
vivem em "parceria" obrigatória, e é vantajoso para os dois permanecerem nessa "parceria",
uma vez que, separados, não conseguem sobreviver. Exemplos de simbiose podem ser
encontrados em vários organismos, e um dos exemplos mais conhecido é a simbiose entre
os animais ruminantes (por exemplo, um boi – Bos taurus) e alguns protozoários (por
exemplo, o gênero Ophryoscolex sp) que vivem em seu trato digestivo. Se forem
eliminados esses protozoários simbiontes, um ruminante morre de fome, mesmo estando
com o estômago cheio; da mesma forma, se esses protozoários simbiontes forem retiradas
do trato digestivo de um ruminante, não conseguirão viver em outro local.
É importante fazer um breve relato de como o processo da Simbiose Seriada pode
ter se desenvolvido, para a melhor compreensão de alguns processos evolutivos e, também,
termos conhecimento de algumas organelas celulares que serão apresentadas nos diversos
organismos a serem vistos ao longo dessa disciplina.
A premissa da Teoria da Simbiose Seriada é a de que os eucariotos surgiram através
de íntimas relações de simbiose entre vários organismos procariotos. Diferente das células
procariotas, todas as células eucariotas contêm vários tipos de organelas delimitadas por
membranas, com distintos conjuntos gênicos. Três classes de organelas (mitocôndrias,
cílios ou flagelos, e plastídios fotossintéticos – exemplo são os cloroplastos) foram
supostamente procariotos de vida livre que foram "adquiridos" simbioticamente, e em uma
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como a malária, disenteria, etc. Um resumo sobre as relações parasitárias dos Protozoa com
o Homem será abordado mais adiante, na Tabela 1.
Como características gerais dos Protistas podem ser citadas:
• Pequenos, geralmente unicelulares, alguns em colônias de poucos a muitos
indivíduos semelhantes; simetria ausente, bilateral ou esférica.
• Forma da célula geralmente constante (oval, alongada, esférica, ou outra), variada
em algumas espécies e mudando com o ambiente ou idade em muitas outras.
• Núcleo distinto, único ou múltiplo; outras partes estruturais presentes, como as
organelas (Retículo Endoplasmático Rugoso, Retículo Endoplasmático Liso,
Complexo de Golgi, etc.); ausência de órgãos ou tecidos.
• Locomoção por flagelos, cílios, pseudópodos ou movimentos da própria célula.
Respiração por difusão.
• Algumas espécies com envoltórios protetores (ou tecas); muitas espécies produzem
cistos ou esporos resistentes para sobreviver a condições desfavoráveis e/ou para
dispersão.
• Modos de vida: livres, comensais, mutualistas ou parasitas.
• Nutrição variada: (a) holozóica, subsistindo de outros organismos (bactérias,
fermentos, algas, vários outros protozoários, etc.); (b) saprofítica, vivendo de
substâncias dissolvidas nos seus arredores; (c) saprozóica, subsistindo de matéria
orgânica morta; (d) holofítica (ou autotrófica), produzindo alimento pela
fotossíntese como as plantas. Alguns combinam dois desses métodos.
• Reprodução assexual por divisão binária, divisão múltipla ou brotamento, na
maioria; alguns com reprodução sexual pela fusão de gametas (conjugação – Classe
Ciliata).
4.1.
Subfilo
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Figura 5 – Processo de fagocitose e de exocitose em uma ameba, que está capturando um microcrustáceo. Os
passos considerados no sentido 1 ➔ 4 representam a fagocitose; os passos considerados no sentido 4 ➔ 1
representam a exocitose.
Figura 6 – Processo de fissão (ou divisão) binária, que ocorre em Sarcodina, onde um único indivíduo resulta
em dois novos indivíduos (sequência 1 ➔ 5). Note que o núcleo inicia a divisão primeiro, através do processo
de mitose (desenho 1).
evolutiva,
uma vez
que, se a
Euglena é
capaz de
realizar
fotossíntese, é de se esperar que seja capaz de detectar lumi-nosidade, necessária para a fo-
tossínte-se), e os grânulos de paramilo (carboidrato semelhante ao amido), que são
estruturas de reserva alimentar. Como é um organismo de água doce, possui também um
vacúolo pulsátil, com as mesmas funções que esse exerce nos Sarcodina. No caso da
Euglena, no entanto, o vacúolo pulsátil tem um local fixo para a expulsão da água, que é o
reservatório, localizado na região anterior, onde se localizam, também, os corpúsculos
basais, de onde se origina o flagelo. Uma vez liberada a água no reservatório, essa sai para
o exterior através de uma abertura denominada citóstoma, por onde também podem entrar
pequenas partículas, quando a Euglena se alimenta de material externo o que, para ela, não
é frequente de acontecer.
Outros Mastigophora são de importância biológica, exercendo a função de
simbiontes. Por exemplo, o gênero Trichonympha – Ordem Hypermastigida – (Figura
11) habita o interior do intestino de cupins, e é
responsável pela digestão da celulose de que os cupins se
alimentam. Se as Trichonympha forem retiradas do trato
digestivo de um cupim, mesmo com o intestino cheio esse
indivíduo irá morrer de fome, pois não terá como fazer a
digestão da celulose; é um caso semelhante ao já citado
anteriormente, para os ruminantes e seus simbiontes.
Por outro lado, vários Mastigophora são de
importância médica, uma vez que parasitam o Homem,
causando uma série de transtornos, particularmente em
zonas onde a rede sanitária é inadequada, como é o caso Figura 11 – Trichonympha, um
da Giardia lamblia – Ordem Mastigophora que habita o
intestino de cupins e se alimenta
Diplomonadida – (Figura 12). de partículas de madeira ingeridas
pelos cupins.
Além disso, outras doenças são
provocadas pelos Mastigophora com o auxílio de alguns vetores, dos
quais eles dependem para realizar o parasitismo, como é o caso do
Mastigophora Trypanosoma cruzi – Ordem Kinetoplastida. Em ambos
os casos, e em outros, ações de saneamento e qualidade de vida são
fundamentais para que essas doenças sejam evitadas.
humano; pode ser contraído da mesma maneira que E. histolytica e a G. lamblia. Também é
relatado o parasitismo por T. foetus, causando aborto em vacas, ao menos na América do
Norte.
c) Leishmaniose Tegumentar Americana (ou Úlcera de Bauru), causada pela
Leishmania brasiliensis –Ordem Kinetoplastida –(Figura 14), provoca ulcerações no rosto,
braços e pernas, levando à necrose de tecidos
conjuntivos. Também ocorrem outras espécies de
Leishmania, como: L. donovani, que provoca a
doença "kalazar" (ou leishmaniose visceral –
provoca aumento do fígado, do rim, do baço e dos gânglios linfáticos, provocando febre e
debilitação geral; é, com frequência, fatal), ocorrendo na África Ocidental, Mesopotâmia,
Mediterrâneo, Índia, norte da China e no Brasil; L. tropica, que provoca a moléstia da pele
chamada "Botão do Oriente" (ulcerações
cutâneas), ocorrendo na Ásia, região
Mediterrânea e em partes da América do
Sul. A dispersão de leishmanias dá-se
por contato entre as pessoas infectadas
(contato de pele) e através de um
hospedeiro intermediário, que é a fêmea
de mosquitos do gênero Lutzomia sp
(conhecido como "mosquito-palha" ou
birigui); pode ocorrer transmissão
também pelas fêmeas de mosquitos do Figura 15 – Ciclo da Leishmania brasiliensis, no meio
natural.
gênero Phlebotomus sp; esses mosquitos
possuem a sua fase larval no meio aquático. A transmissão por esses vetores ocorre quando
essas fêmeas sugam o sangue de seus hospedeiros que são, nas Américas do Sul e Central,
roedores, cachorros-do-mato, preguiça, tamanduá e gambás, os mais comuns (Figura 15).
As medidas de controle são realizadas através do tratamento dos doentes, e pelo combate
aos mosquitos vetores. Também não se deve dormir em matas sem proteção adequada.
O combate aos mosquitos vetores é feito através da eliminação das larvas dos
mesmos, semelhante ao processo realizado para o combate à dengue e à febre amarela (o
mosquito vetor, nesses casos, são as fêmeas do Aedes aegyptii e essas doenças – dengue e
febre amarela – são provocadas por vírus), ou seja, deve-se eliminar fontes de águas
paradas (objetos que empoçam água) ou estagnadas (lagoas sem circulação), e a utilização
de telas nas portas e janelas, bem como mosquiteiros nas camas. Também pode ser feito o
envenenamento da água onde vivem as larvas dos mosquitos e o combate direto aos
mosquitos adultos, usando inseticidas.
d) Tripanossomíase (ou Doença de Chagas), causada pelo Trypanosoma
cruzi (Figura 16), provoca miocardite e lesões na musculatura do esôfago, podendo atingir
a tireóide e outros órgãos. A doença é, atualmente, incurável e mortal, sendo endêmica
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caldo-de-cana contaminado).
Os insetos transmissores da
Doença de Chagas podem ser do gênero
Triatoma (as espécies T. infestans e T.
sordida), como também das espécies
Panstrongylus megistus e Rhodnius
prolixus; no entanto, o mais comum é o
T. infestans. Esses insetos vivem, de
preferência, nas casas de "pau-a-pique"
(ou "casas de sapé") onde as paredes,
não sendo rebocadas, deixam inúmeras
frestas que servem para seus
esconderijos. Podem também ser
Figura 17 – Triatoma sordida, um dos agentes
encontrados, com menos frequência, em vetores da doença de Chagas.
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Figura 19 – Ciclo vital de Plasmodium vivax, o parasita da malária terçã benigna no Homem, transmitido por
mosquitos anofelinos.
Assim que pica um indivíduo, o mosquito introduz nele, por intermédio da tromba,
a secreção salivar que contém uma substância anticoagulante e anestésica para impedir que,
durante a sucção, o sangue coagule, e o indivíduo perceba a picada, respectivamente.
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Juntamente com a secreção salivar, entra no indivíduo picado o Plasmodium, que cai na
corrente sanguínea e é levado para o fígado. As formas do Plasmodium que penetram pela
picada são chamadas esporozoítos. No fígado reproduzem-se assexuadamente,
transformando-se em trofozoítos, os quais abandonam esse órgão e invadem os glóbulos
A malária é uma doença que se caracteriza por produzir no indivíduo afetado febre
alta (em torno de 40 °C) em intervalos regulares de 48 em 48 (ou 72 em 72) horas, isto é, o
indivíduo apresenta temperatura normal e, de 48 em 48 (ou de 72 em 72) horas manifestam-
se calafrios e febres. A febre e o calafrio aparecem quando ocorre a liberação dos
merozoítos. Os glóbulos vermelhos arrebentam e os merozoítos são liberados; junto com os
merozoítos, saem dos glóbulos rompidos os produtos de secreção produzidos por eles, que
são tóxicos e causam a febre e o mal-estar típicos da malária. O gráfico indicativo do ciclo
de febre da malária é mostrado na Figura 22.
uma vez que se contrai a malária não há forma de cura; o indivíduo será sempre portador de
malária e, se deixar de controlar a doença, voltará a apresentar os sintomas; por esse
motivo, um indivíduo que contraiu malária não pode ser um doador de sangue e, se for
picado por um Anopheles ainda não contaminado, poderá passar ao mosquito os gametas do
Plasmodium, fazendo desse mosquito um novo transmissor da doença.
Outro esporozoário parasita humano é o Toxoplasma gondii, que provoca a
toxoplasmose, doença que ataca os tecidos humanos e pode ser contraída através do contato
com fezes de animais (aves e mamíferos – nesse último caso, é comum ocorrer o contágio
pela urina do rato, particularmente em situações de inundações, onde a água, com a urina
do rato, entra em contato com a pele humana). Também pode ocorrer contágio através da
ingestão e/ou inalação dos esporos.
Os principais problemas causados são: cegueira, lesões fetais, lesões do sistema
nervoso central e morte (mais raramente). As formas de profilaxia podem ser o combate a
ratos, limpeza de fezes de animais (principalmente gatos), exames periódicos, etc.
Muitos dos ciliados são de vida livre (Exemplo: Didinium sp, em água doce –
Figura 23), alguns são comensais ou parasitas de outros animais (Exemplo: Epidinium
ecaudatum, no trato digestivo do gado – Figura 24) e
alguns são sésseis (Exemplo: Stentor sp, em água doce –
Figura 25). Os ciliados podem habitar vários ambientes,
incluindo água salgada, salobra, solo, etc.. Entre os
ciliados mais conhecidos encontra-se o do gênero
Figura 23 – Didinium sp, um
ciliado predador de Paramecium sp. Paramecium, em particular as espécies P. aurelia e P.
caudatum (Figura 26), que habitam locais de água doce
que contenham alguma vegetação em decomposição.
A função dos canais radiais parece ser a de drenar o excesso de líquido para os
vacúolos pulsáteis que descarregam o produto da excreção através, provavelmente, de um
poro. A respiração ocorre como nos Sarcodina, ou seja, a troca gasosa (entrada de O 2 e
saída de CO 2 ) ocorre por difusão com o meio exterior.
A reprodução de um paramécio pode ser um pouco diferente da que ocorre para os
Sarcodina e para os Mastigophora: ela pode ser por divisão binária (semelhante ao que
ocorre para as duas Classes anteriores), com o micronúcleo dividindo-se por mitose e o
macronúcleo simplesmente crescendo e dividindo-se (Figura 27).
Dentre os Ciliata, apenas uma espécie pode ser parasita humano, ocorrendo com
maior frequência no intestino de porcos: é o Balantidium coli (Figura 29), adquirido
provavelmente por cistos levados à boca pelas mãos e/ou pelo
alimento, semelhante ao que já foi relatado para alguns parasitas
da Classe Sarcodina. O B. coli pode provocar úlceras na parede
estomacal e, mais frequentemente, na parede do intestino. A forma
de cura é através do tratamento dos doentes, assepsia e saneamento
básico.
Apresentamos, a seguir, uma Tabela (Tabela 1) com as
principais doenças provocadas pelos protozoários no ser humano.
Nessa tabela também estão contidas informações básicas sobre Figura 29 – Um ciliado do
gênero Balantidium.
as diversas patologias e as respectivas formas de tratamento.
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5. Protozoários e a Agricultura
O s protozoários relacionam-se com a agricultura, atualmente, sob dois enfoques: ou
tanto podem ser patógenos dos vegetais, como patógenos de algumas pragas agrícolas. No
primeiro caso, evidentemente, trazem prejuízo às plantações e cultivos; no último caso,
podem ser considerados como organismos úteis ao controle de certas pragas, atuando no
que se convencionou chamar de “controle biológico”.
No enfoque dado a essa apostila, de caráter eminentemente evolutivo/zoológico, não
nos deteremos nos aspectos de doenças e/ou controle biológico. Apenas daremos breves
exemplos sobre eventuais pragas e eventuais possibilidades de controle biológico. Apenas
como observação, cabe salientar que, aparentemente, nos dias de hoje, os principais
protozoários patógenos de plantas pertencem à Classe Mastigophora, Ordem
Kinetoplastida, gênero Phytomonas. Já os protozoários passíveis de exercerem controle
biológico parecem pertencer a várias outras Classes e Ordens.
Essas relações podem ser observadas na Tabela 2, mostrada a seguir.
Tabela 2 – Principais protozoários patógenos de plantas e de pragas agrícolas. No caso das pragas agrícolas, os protozoários
mencionados servem como agentes de controle biológico para as pragas das plantas.
GÊNERO /
TIPO DE AÇÃO CLASSE ORDEM HOSPEDEIRO SINTOMAS
ESPÉCIE
Variável, em função do
Coqueiro (Cocos nuc-
hospedeiro e da localização no
ifera); dendezeiro (Roys-
mesmo. Em palmáceas, verifi-
Fitopatógeno Phytomonas sp Mastigophora Kinetoplastida tonea regional); piaçava
ca-se a murcha, podridão do
(Attala funnifera); man-
broto apical, necrose das inflo-
dioca (Manihot sp), etc.
rescências e morte da planta.
Amarelecimento, queda das fo-
Phytomonas Cafeeiro (Coffea ara- lhas e morte da planta, após cer-
Fitopatógeno Mastigophora Kinetoplastida
leptorosorum bica). ca de três a doze meses do pri-
meiro sintoma.
Desenvolvimento retardado; de-
formação de apêndices; pupa-
Entomopatógeno Dobelllina sp Sarcodina Amoebida Dípteros
ção anormal; dificuldades de
movimento; falta de apetite, etc.
Desenvolvimento retardado; de-
Blastocrithidia formação de apêndices; pupa-
Entomopatógeno Mastigophora Kinetoplastida Diversos
sp ção anormal; dificuldades de
movimento; falta de apetite, etc.
Desenvolvimento retardado; de-
formação de apêndices; pupa-
Entomopatógeno Gregarina sp Telosporea Eugregarinida Diversos
ção anormal; dificuldades de
movimento; falta de apetite, etc.
Desenvolvimento retardado; de-
formação de apêndices; pupa-
Entomopatógeno Tetrahymena sp Ciliata Hymenostomatida Dípteros
ção anormal; dificuldades de
movimento; falta de apetite, etc.