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NOMENCLATURA BOTÂNICA
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Os três primeiros parágrafos foram compilados de Raven et al. (2001).
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Tradicionalmente, a classificação de um organismo recém-descoberto e sua relação
filogenética com outros organismos tem sido estimada com base em suas semelhanças gerais
externas, relativamente a outros representantes daquele táxon. As árvores filogenéticas
construídas pelos métodos tradicionais, raramente incluem considerações detalhadas de
informação comparada. Em vez disso, elas refletem a avaliação relativamente intuitiva e a
ponderação de um grande nº de fatores.
A IMPORTÂNCIA DA NOMENCLATURA
DIVISÃO I
PRINCÍPIOS DO CÓDIGO INTERNACIONAL
Os princípios formam a base e estabelecem a filosofia do sistema nomenclatural.
Existem 6 princípios:
A nomenclatura de algas, fungos e plantas é independente da nomenclatura
Zoológica e da Bacteriológica;
O Código se refere unicamente à nomenclatura das plantas. Entretanto, o mesmo
nome que se dá a uma planta pode usa-lo os zoólogos para nomear os animais
A aplicação de nomes dos grupos taxonômicos é determinada por meio de
tipos nomenclaturais;
O princípio do ”tipo” sustenta que o nome de cada sp. deve associar-se com um
espécimen particular, o tipo nomenclatural
A Nomenclatura de um grupo taxonômico está baseada na prioridade de
publicação;
Este princípio tão importante, sustenta que o nome correto é o nome mais antigo
já publicado de acordo com as regras. Os nomes que se publicam primeiro têm
preferência sobre os nomes ‘a posteriori’. O Princípio da Prioridade na
nomenclatura botânica começa e 1º de maio de 1753 que é exatamente a data da
publicação da primeira edição de Species Plantarum de Linneo.
Cada táxon tem apenas um nome válido;
Cada grupo taxonômico com uma delimitação particular (circunscrição), posição
e nível próprios pode ter apenas um nome correto, a saber, o mais antigo que
esteja de acordo com as Regras, salvo em casos especificados.
Nomes científicos de grupos taxonômicos são tratados em latim,
independentemente de sua derivação;
As regras de nomenclatura são retroativas, a menos que expressamente
limitadas (ou seja, salvo a existência de uma indicação contrária).
As regras são organizadas em artigos, os quais visam por em ordem os nomes já
existentes e orientar a criação de novos nomes.
As recomendações tratam de pontos secundários e indicam a melhor forma de escolha
de um nome.
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DIVISÃO II
REGRAS E RECOMENDAÇÕES
CAPÍTULO I. Táxons e seus níveis
Art. 1. Grupos taxonômicos de qualquer nível (categoria) deverão, conforme este Código, ser
referidos “táxons” (taxa); singular: “táxon” (taxon).
Art. 2. Cada organismo individual é tratado como pertencendo a um número indefinido de
táxons de categorias (níveis) hierarquicamente subordinadas, dentre as quais espécie constitui
o nível básico.
Art. 3. Os principais níveis (categorias) de táxons em ordem descendente são so seguintes:
reino (regnum), divisão ou filo (divisio, phylum), classe (classis), ordem (ordo), família
(familia), gênero (genus) e espécie (species). Assim sendo, cada espécie pertence a um
gênero, cada gênero a uma família etc. Os principais níveis de táxons híbridos (nototáxons)
são notogênero e notoespécie. Estes níveis são o mesmo que gênero e espécie. A adição da
partícula “noto” indica seu caráter híbrido.
Art. 4.1. Os níveis secundários de táxons são os seguintes em ordem descendente: tribo
(tribus) entre família e gênero, seção (sectio) e série (series) entre gênero e espécie e
variedade (varietas) e forma (forma) abaixo de espécie.
Art. 4.2. Se houver necessidade de um maior número de níveis (categorias) de táxons, os
termos para nomeá-los são criados pela adição do prefixo “sub“ aos termos que denotem os
níveis hierárquicos principais ou secundários. Um organismo pode, portanto, ser atribuída a
táxons dos seguintes níveis hierárquicos (em sequência descendente): Reino, Subreino,
Divisão ou Filo, Subdivisão ou Subfilo, Classe, Subclasse, Ordem, Subordem, Família,
Subfamília, Tribo, Subtribo, Gênero, Subgênero, Seção, Subseção, Série, Subsérie,
Espécie, Subespécie, Variedade, Subvariedade, Forma e Subforma.
O termo Divisão é usado para representar a categoria de magnitude superior dentro do
Reino Vegetal. A Divisão é representada por um grupo de caracteres escolhidos entre as
estruturas reprodutoras, morfológicas e anatômicas. Num passado distante, os componentes de
cada Divisão tiveram um ou mais antepassados comuns aos componentes de outra Divisão. A
existência de tais relações significa que as fronteiras ou critérios, pelos quais se separam umas
divisões das outras, não são tão definidos ou isentos de exceções. Por esse motivo, as divisões
são caracterizadas mais por um conjunto de caracteres do que por um único caráter.
O Gênero é uma categoria cujos componentes – as espécies – tem mais caracteres em
comum do que com as espécies de outros gêneros da mesma família. Uma deficiência inerente
a este conceito é que, ao delimitar gêneros, não é possível considerar os caracteres escolhidos
como tendo igual valor em todos os gêneros da mesma família.
A Espécie é o conjunto de indivíduos que por todos os seus caracteres, considerados
essenciais pelo observador, concordem entre si e com os seus descendentes. Conceito
estudado até hoje de espécie resume que é um conjunto de indivíduos capazes de
intercruzarem livremente, produzindo indivíduos-filhos, férteis, semelhantes entre si e seus
ancestrais e que ocupam uma área geográfica comum.
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CATEGORIA SUFIXO e EXEMPLO
Reino - bionta
Subreino
Divisão (ou Filo) - phyta (ex.: Magnoliophyta)
Subdivisão (ou Subfilo) - phytina
Classe - opsida (ex.: Magnoliopsida)
Subclasse - idae
Ordem - ales (ex.: Asterales)
Subordem - ineae
Família - aceae (ex.: Asteraceae)
Subfamília - oideae
Tribo - eae
Subtribo - inae
Gênero Vernonia (ìtálico, letra inicial maiúscula)
Subgênero
Seção
Subseção
Série
Subsérie
Espécie V. angustifolia Michx. (itálicos,inicial
Subespécie da sp. minúscula)
Variedade
Subvariedade
Forma
Subforma
Clone
(Cultivar, Híbrido)
Seção 2. Tipificação
Art. 7.1. A aplicação de nomes de táxons do nível (categoria) de família, ou abaixo desta, é
determinada através de tipos nomenclaturais.
Art. 7.2. Um tipo nomenclatural (typus) é o elemento ao qual o nome de um taxon está
permanentemente ligado, seja como o nome correto ou como um sinônimo. O tipo
nomenclatural não é, necessariamente, o elemento mais típico ou mais representativo de um
táxon. Para determinação de um tipo o botânico deve se basear no protólogo.
Protólogo (do grego protos, primeiro; logos, discurso): tudo associado com o nome
em sua publicação válida, por ex., descrição ou diagnose, ilustrações, referências,
sinonímia, dados geográficos, citação de espécimes, discussão e comentários.
Art. 7.9. Para fins de prioridade (Arts. 9.19, 9.20 e 10.5), a designação de um tipo só é
consumada pela sua publicação efetiva (Arts. 29 a 31).
Art. 7.10. Para fins de prioridade (Arts. 9.19, 9.20 e 10.5), a designação de um tipo só é
consumada se o tipo for definitivamente aceito como tal pelo autor que efetuou a tipificação,
se o elemento-tipo for claramente indicado pela citação direta incluindo o termo ‘tipo’ (typus)
ou equivalente e, em ou a partir de 1º de janeiro de 2001, se a afirmação da tipificação incluir
a frase ‘aqui designado’ (hic designatus) ou algo equivalente.
Recomendação 7A. É fortemente recomendado que o material no qual o nome de um táxon
está baseado, especialmente o holótipo, seja depositado em um herbário público ou a qualquer
outra coleção pública, cujo regulamento permita livre acesso dos pesquisadores de boa fé
(honestos) aos materiais ali depositados e que o mesmo seja escrupulosamente conservado.
Art. 8.1. O tipo (holótipo, lectótipo ou neótipo) do nome de uma espécie ou táxon infra-
específico é um único espécime conservado em um herbário, outra coleção ou instituição, ou
é uma ilustração.
Art. 8.2. Para fins de tipificação, um espécime é uma coleta ou parte de uma coleta de uma
única espécie ou táxon infraespecífico feita em um único momento, não consideradas as
misturas (veja Art. 9.14). Ele pode consistir de um único organismo, de partes de um ou
vários organismos ou de múltiplas pequenos organismos. Um espécime normalmente é
montado numa única exsicata de herbário ou em preparações equivalentes, tais como: caixa,
envelope, frasco ou lâmina de microscopia.
Art. 8.4. Espécimes-tipo de nomes de táxons devem ser permanentemente preservados e não
podem ser organismos vivos ou culturas. Entretanto, culturas de algas e fungos, se
preservadas em estado metabólico inativo (ex.: por liofilização ou congelamento profundo
para permanecerem vivos neste estado inativo), são aceitáveis como tipos.
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Definições de Tipos (mais informações no Código, Artigos 9.1 a 10.7)
Chama-se typus o espécime conservado num herbário, do qual se fez uma diagnose
original. O typus compreende:
Seção 3. Prioridade
Art. 11. Cada família ou taxon de nível inferior com circunscrição (delimitação), posição e
nível particulares pode ter apenas um nome correto. Exceção especial feita a 9 famílias e uma
subfamília, para as quais nomes alternativos são permitidos (ver nos Artigos 18.5 e 19.8).
Art. 13.1. A publicação válida dos nomes de organismos de diferentes grupos é tratada como
iniciando nas seguintes datas (para cada grupo é mencionado um trabalho,o qual é entendido
como tendo sido publicado na data fornecida para aquele grupo):
Spermatophyta e Pteridophyta – 1º de maio de 1753 (Linnaeus, Species Plantarum)
Musci (exceto Sphagnaceae), 1º de janeiro de 1801 (Hedwig, Species Muscorum)
Sphagnaceae e Hepaticae, 1º de maio de 1753 (Linnaeus, Species Plantarum)
Fungi, 1º de maio de 1753 (Linnaeus, Species Plantarum)
Algae, 1º de maio de 1753 (Linnaeus, Species Plantarum)
Todos os Grupos, 31 de dezembro de 1820 (Sternberg, Flora der Vorwelt)
Art. 18.6. O uso como alternativos, dois oito nomes de famílias indicados como “nom. alt.”
(nomem alternativum) no Art. 18.5 é autorizado.
Art. 19.1. O nome de uma subfamília é um adjetivo plural usado como um substantivo; é
formado da mesma maneira que o nome de uma família, porém, utilizando a terminação
oideae em vez de aceae. Ex.: Rosoideae (subfamília incluída na família Rosaceae)
Art. 19.3. Uma tribo é nomeada de modo similar, usando a terminação eae (ex.: Roseae,
família Rosaceae) e a subtribo de maneira semelhante, usando-se a terminação inae (ex.:
Poinae, da família Poaceae).
DIVISÃO III
PROVISÕES PARA GOVERNANÇA DO CÓDIGO
O Código pode ser modificado unicamente por ação de uma sessão plenária de um
Congresso Internacional de Botânica, após resolução movida pela Sessão de
Nomenclatura do referido Congresso.
Comissões Permanentes de Nomenclatura são estabelecidos sob os auspícios da
International Association for Plant Taxonomy. Os membros dessas Comissões são eleitos
por um Congresso Internacional de Botânica. Os Comitês têm poder de cooptar e
estabelecer subcomitês.
APÊNDICE I
NOMES DE HÍBRIDOS
REGRAS DE NOMENCLATURA
Datas importantes que constam do Código Internac. de Nomenclatura Botânica – 2000
Para propósitos de prioridade (Art. 9.17 e 10.5), a designação de um Tipo é concretizada
somente se o tipo for definitivamente (expressamente) aceito pelo autor tipificante, isto é,
se o Tipo for claramente indicado pela citação direta que inclua o termo “Tipo (Typus)”
ou um equivalente, e na data de ou após 1º de janeiro de 2001, o procedimento da
tipificação inclua a frase “aqui designado” (hic designatus) ou coisa equivalente.
O Holótipo (ou Lectótipo) de um nome de uma espécie ou táxon infraespecífico de
plantas fósseis (Art. 8.5) é o espécime (ou um dos espécimes) sobre os quais as ilustrações
validantes (Art. 38) são baseados. Quando antes, ou até 1º de janeiro de 2001, no
protólogo de um nome de um novo táxon de plantas fóseis da categoria de espécie ou
abaixo, um espécime Tipo é indicado mas não identificado entre as ilustrações validantes,
um Lectótipo pode ser designado dentre os espécimes ilustrados no protólogo. Esta
escolha é invalidada se puder ser demonstrado que o espécime Tipo original corresponde à
outra ilustração validante.
APONTAMENTOS DIVERSOS
O nome genérico pode ser escrito sozinho quando se refere ao grupo inteiro de espécies
que formam aquele gênero (ex.: Dalbergia). Contudo, um epíteto específico é desprovido
de sentido quando escrito sozinho (ex.: nigra ou brasiliensis). O epíteto específico
brasiliensis, por exemplo, está associado a dezenas de diferentes nomes genéricos.
Se alguém descobre que uma espécie foi inicialmente colocada em um gênero errado e
deve por isso ser transferida para outro gênero, o epíteto específico move-se com a espécie
para o novo gênero. No entanto, se já existe uma espécie naquele gênero que tem aquele
determinado epíteto específico, um nome alternativo deve ser criado.
Cada espécie tem um espécimen tipo, geralmente uma exsicata, que é designado ou pela
pessoa que originalmente descreveu aquela spp. ou por um autor subsequente, se o autor
original não fez a designação. O espécimen tipo serve como um referencial para compa-
ração com outros espécimens para determinar se eles pertencem ou não à mesma espécie.
Note o quanto se pode dizer sobre um organismo quando você conhece o seu lugar no
Sistema. As descrições abaixo não definem as várias categorias, mas dizem alguma coisa
sobre suas características: os reinos Plantae e Fungi pertencem ao domínio Eukarya
BIBLIOGRAFIA UTILIZADA:
1. BARROSO, Graziela M. et al. 2002. Sistemática de Angiospermas do Brasil. Vol.
Vol. 1. (2ª ed.). Editora UFV, Viçosa, Brasil.
2. FERREIRA, Gracialda C. & HOPKINS, Michael J. G. 2004. Manual de
identificação botânica e anatômica - angelim. EMBRAPA, Belém (PA). 101p.
3. JONES Jr., Samuel B. 1988. Sistemática Vegetal. 2ª ed. Libros McGraw-Hill de
México S. A.
4. LUGHADHA, Eimear Nic. 1999. Mudanças recentes e propostas na nomenclatura
botánica: implicações para Botânica Sistemática no Brasil. Rev. Bras. Bot., São
Paulo, v.22, n.2 (suplemento), p.231-235.
5. MARZOCA, Angel. 1985. Nociones Básicas de Taxonomía Vegetal. Editorial
IICA, Costa Rica.
6. McNEILL, J. (Coord.) et al. 2013. Código Internacional de Nomenclatura para
Algas, Fungos e Plantas (Código de Melbourne, 2012). Instituto de Botânica, São
Paulo, 208p.
7. RAVEN, Peter et al. 2001. Biologia Vegetal. Ed. Guanabara Koogan, RJ, Brasil.
Pp. 252-262 (Cap. 13 – Sistemática: a ciência da diversidade biológica).
8. RIGOLON, Rafael G. 2015. A Pronúncia do Latim Científico. Ed. UFV, Viçosa,
MG. 190p.
9. VIDAL, Waldomiro Nunes & VIDAL, Maria R. Rodrigues. 2000. Taxonomia
Vegetal. Editora UFV, Viçosa, Brasil.
Classificação científica
(Fonte:: Wikipedia)
A expressão classificação científica ou classificação biológica designa o modo como os
biólogos agrupam e categorizam as espécies de seres vivos, extintas e actuais. A classificação
científica moderna tem as suas raízes no sistema de Carl von Linée (ou Carolus Linnaeus),
que agrupou as espécies de acordo com as características morfológicas por elas partilhadas.
Estes agrupamentos foram subsequentemente alterados múltiplas vezes para melhorar a
consistência entre a classificação e o princípio darwiniano da ascendência comum. O advento
da sistemática molecular, que utiliza a análise do genoma e os métodos da biologia molecular,
levou a profundas revisões da classificação de múltiplas espécies e é provável que as
alterações taxonómicas continuem a ocorrer à medida que se caminha para um sistema de
classificação assente na semelhança genética e molecular em detrimento dos critérios
morfológicos. A classificação científica pertence à ciência da taxonomia ou sistemática
biológica.
Linnaeus (“Lineo”)
Carolus Linnaeus (1707–1778) teve como obra principal, a Systema Naturae, com 12 edições
durante a sua vida (com a 1.ª edição em 1735). Nesta obra, a natureza é dividida em três
reinos: mineral, vegetal e animal. Para sistematizar a natureza, em cada um dos reinos
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Linnaeus usou um sistema hierárquico de cinco categorias: classe, ordem, género, espécie e
variedade.
Outra das suas principais contribuições foi o abandono dos longos nomes descritivos até então
em uso para designar as classes e ordens. Também promoveu o fim dos nomes de géneros
constituídos por duas palavras (por exemplo Bursa pastoris era um género). Esta
simplificação marca uma ruptura com os métodos dos seus antecessores imediatos (Rivinus e
Pitton de Tournefort), e foi acompanhada pelo estabelecimento de diagnoses rigorosas e
detalhadas para cada um dos géneros (a que ele chamou characteres naturales). Também
procedeu à integração das variedades nas respectivas espécies, evitando que a botânica tivesse
que criar novos taxa para acomodar todas as variedades cultivadas que são constantemente
criadas.
Contudo, apesar das suas múltiplas contribuições para a taxonomia e sistemática, Linnaeus é
melhor conhecido pela introdução do método binomial, a técnica ainda em uso para formular
o nome científico das espécies. Antes de Linnaeus estavam em uso nomes longos, compostos
por um nome genérico e por uma frase descritiva da própria espécie (a differentia specifica).
Esses nomes não eram fixos, já que cada autor parafraseava o descritivo, acentuando os
caracteres que considerava mais relevantes.
Na sua obra Philosophia Botanica (1751), Linnaeus colocou grande ênfase na melhoria da
composição dos nomes e na redução da sua extensão, abolindo as expressões retóricas
desnecessárias que tradicionalmente se usavam na descrição das espécies e introduzindo
novos termos descritivos cujo significado procurou fixar rigorosamente. Este esforço resultou
numa definição de espécies com um rigor sem precedentes.
Ao utilizar de forma consistente os mesmos epítetos específicos, Linnaeus separou a
nomenclatura da taxonomia, o que se viria a revelar um passo decisivo na consolidação do
sistema de nomenclatura biológica, já que os nomes da espécies passaram a ser fixos,
permitindo que os agrupamentos taxonómicos superiores se desenvolvessem
independentemente. Apesar do uso paralelo dos nomina trivialia e dos nomes descritivos se
ter mantido até finais do século XVIII, eles foram sendo progressivamente substituídos pela
utilização de nomes curtos, combinando simplesmente o nome do género com o nome trivial
da espécie.
No século XIX esta nova prática foi codificada nas primeiras regras e leis da nomenclatura
biológica, acabando por se transformar naquilo que hoje é geralmente referido como a sistema
de nomenclatura binomial, ou mais genericamente como a taxonomia lineana, a qual é ainda,
com poucas alterações, o padrão universalmente aceite de atribuição de nomes aos seres
vivos.
Hierarquia da classificação
O quadro seguinte apresenta a classificação científica de cinco espécies pertencentes a
estruturas taxonómicas diversas: a mosca-da-fruta (Drosophila melanogaster), o ser humano,
a ervilha, o cogumelo amanita e a bactéria Escherichia coli. Com ele pretende-se demonstrar a
flexibilidade e a universalidade do sistema, incluindo numa mesma estrutura organismos tão
diversos como os seleccionados.
Mosca-da-
Taxon Humano Ervilha Amanita E. coli
fruta
Phylum ou
Arthropoda Chordata Magnoliophyta Basidiomycota Proteobacteria
Divisão
Subphylum ou Magnoliophytin
Hexapoda Vertebrata Hymenomycotina
subdivisão a
Homobasidiomyceta
Classe Insecta Mammalia Magnoliopsida Proteobacteria
e
Gammaproteobacteri
Subclasse Pterygota Eutheria Magnoliidae Hymenomycetes
a
Haplorrhin
Subordem Brachycera Fabineae Agaricineae
i
D.
Espécie H. sapiens P. sativum A. muscaria E. coli
melanogaster
Classificação infraespecífica
Embora a espécie seja considerado o nível de classificação mais baixo, existe por vezes
necessidade de recorrer a classificações infra-específicas para acomodar a biodiversidade
reconhecida ou para descrever certos traços fenotípicos, nomeadamente os de interesse
económico entre as espécies domesticadas.
As plantas podem ser classificadas em subespécies (por exemplo Pisum sativum subsp.
sativum, a ervilha-de-cheiro), ou variedades (por exemplo, Pisum sativum var. macrocarpon,
uma variedade de ervilha). As plantas cultivadas podem ser identificadas por cultivares, cada
um deles correspondente a um determinado fenótipo (por exemplo, Pisum sativum var.
macrocarpon 'Snowbird', o cultivar Snowbird de ervilha).
Citações de autor
O nome de qualquer taxon pode ser seguido pela explicitação da "autoridade" que o criou, ou
seja pelo nome do autor que primeiro publicou uma descrição válida da entidade taxonómica.
Estes nomes de autor são em geral abreviados, seguindo um padrão de abreviatura fixado por
critérios de tradição ou de história. Em Botânica, onde existe uma lista de abreviaturas do
nome de botânicos e micologistas padronizada, por exemplo, Carolus Linnaeus é sempre
abreviado para "L." e Gregor Mendel para Mendel.
Apesar do sistema de atribuição de autoria dos taxa ser ligeiramente diferente em botânica e
em zoologia, é padrão aceite que se o nome de um taxon for alterado, a abreviatura ou nome
do autor original é sempre mantido, sendo então colocado entre parêntesis. O nome do autor
da versão em vigor é colocado a seguir ao parêntesis (geralmente só em botânica).
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RESUMO
São descritas duas novas espécies de Calliandra da Chapada Diamantina, Estado da Bahia,
leste do Brasil. Calliandra geraisensis E.R. Souza & L.P. Queiroz é próxima de C. calycina Benth.,
diferindo pelo seu hábito depauperado, folhas dísticas e ausência de tricomas glandulares no perianto.
Calliandra imbricata E.R. Souza & L.P. Queiroz é uma planta arbustiva semelhante a C. erubescens
Renvoize, da qual difere pelas folhas com maior número de pinas e folíolos e pelos estames
vermelhos. Ambas as espécies ocorrem nas montanhas da Chapada Diamantina e são endêmicas
restritas de uma pequena área nas vizinhanças da cidade de Piatã.
Palavras-chave: Calliandra, Ingeae, taxonomia
ABSTRACT
Two new species of Calliandra are described from the Chapada Diamantina, state of Bahia,
eastern Brazil. Calliandra geraisensis E.R. Souza & L.P. Queiroz is related to C. calycina Benth. but
it differs in its depauperate habit, distichous leaves and absence of glandular trichomes on the perianth.
Calliandra imbricata E.R. Souza & L.P. Queiroz is a shrubby plant similar to C. erubescens Renvoize
from which it differs by having the leaves with more pinnae and more leaflets and by its red stamens.
Both species occur in the mountains of the Chapada Diamantina region and are narrow endemics from
a small area near the town of Piatã.
Key words: Calliandra, Ingeae, taxonomy
Introdução
O gênero Calliandra foi estabelecido por Bentham (1844) e inclui espécies da subfamília
Mimosoideae com androceu polistêmone e monadelfo que possuem um tipo de legume caracterizado
pela deiscência longitudinal elástica a partir do ápice e valvas com margens espessadas. O gênero foi
recentemente revisado por Barneby (1998) que o expurgou dos elementos africanos e asiáticos de
modo que, na sua atual circunscrição, é um grupo exclusivamente neotropical com 132 espécies.
A Chapada Diamantina é um dos principais centros de diversidade de Calliandra, onde
ocorrem 40 espécies, sendo 30 delas endêmicas desta região (Souza 1999, Souza 2001). Destas
espécies, 19 foram descritas a partir de 1980 (Renvoize 1981, Mackinder & Lewis 1990, Barneby
1998) demonstrando o grau de desconhecimento florístico da região e a complexidade taxonômica do
gênero. Nesta área ocorre um grande maciço montanhoso que ocupa a maior parte da região central do
Estado da Bahia, estendendo-se de cerca de 10º-14º S e de 40º-43º W.
No curso de um levantamento das espécies de Calliandra da Chapada Diamantina (Souza
2001), foram encontradas duas espécies novas que são descritas e ilustradas a seguir.
Calliandra geraisensis E.R. Souza & L.P. Queiroz, sp. nov. Tipo: BRASIL: Bahia: Piatã,
platô do alto da Serra da Tromba, ramal ao sul da estrada Piatã-Inúbia, Caminho da Ressaca, 13º03' S
e 41º49' W, 1.300 msm, 2-XI-1996 (fl.), L.P. de Queiroz, D.J.H. Hind, H.P. Bautista & M.M. da Silva
4706 (holótipo HUEFS).
Foliis ascendentibus et foliolis linearibus C. calycinae similis, sed habitu depauperato, ramis
virgatis, foliis distichis laxisque et perianthio glabrato sine pubibus glandularibus solum calycis
laciniis pubescentibus differt.
Subarbusto virgado ca. 0,6 m alt. com xilopódio robusto, amarelado; ramos, eixos foliares e
pedúnculo densamente pilosos quando jovens, ramos envelhecidos glabros. Estípulas lanceoladas, 3-7
× 1-2 mm. Folhas sésseis, ascendentes, dísticas; pecíolo1-2 mm compr.; raque 5-7 mm compr.; pinas 2
pares, mais ou menos equilongas, 4,5-5 cm compr.; folíolos 19-21 pares por pina, imbricados, 8-10 ×
20
ca. 2 mm, coriáceos, oblongos a lineares, glabros, ápice obtuso, base truncada, oblíqua, assimétrica,
nervação palmado-dimidiada, nervura principal excêntrica. Pseudoracemos terminais com fascículos
de 1-2 glomérulos pedunculados; pedúnculo 18-22 mm compr. Flores 5 por glomérulo, homomórficas,
tetrâmeras a pentâmeras, sésseis; cálice campanulado, tubo ca. 1,5 mm compr., glabro, lobos deltóides,
ciliados, 0,5-0,6 mm compr.; corola glabra, campanulada, esverdeada, tubo 3-5 mm compr., lobos
obtusos, vináceos, ca. 2 mm compr.; estames brancos, tubo estaminal 7-8 mm compr., parede interna
do tubo estaminal nectarífera, estemonozona ca. 2 mm compr., filetes livres por 18-22 mm compr.,
anteras castanhas; nectário intraestaminal ausente; ovário obovado, glabro, ca. 2 mm compr., ca. 5-
ovulado, estilete 23-28 mm compr., estigma capitado. Legume ca. 4,5 × 0,7 cm, linear-oblanceolado,
ápice arredondado, mucronado, base cuneada; valvas lenhosas, velutinas. Sementes não vistas.
Parátipo: BRASIL: Bahia: Piatã, platô do alto da Serra da Tromba, ramal ao sul da estrada
Piatã-Inúbia, Caminho da Ressaca, 13º03' S e 41º49' W, 1.300 msm, 2-XI-1996 (fl., fr.), L.P. Queiroz
et al. 4705 (HUEFS).
Ecologia e distribuição – Calliandra geraisensis é uma espécie endêmica da serra da
Tromba, no município de Piatã. Ocorre em ambiente de campo cerrado praticamente sem árvores,
sobre solo arenoso compactado a uma altitude de cerca de 1.300 msm. Este tipo de paisagem é
localmente conhecido como "gerais", de onde é derivado o epíteto específico. Foi encontrado material
florido e frutificado no mês de novembro.
Taxonomia – Calliandra geraisensis pertence à seção Calliandra (sensu Barneby 1998) e é
mais semelhante a C. calycina Benth., uma espécie relativamente bem distribuída na Chapada
Diamantina mas que, até o momento, não foi coletada na serra da Tromba (Souza 1999). Estas
espécies aproximam-se pela disposição ascendente das folhas e folíolos lineares e contíguos. No
entanto, C. geraisensis diferencia-se de C. calycina pelo hábito mais depauperado de subarbusto com
xilopódio e ramos virgados, pelas folhas dísticas, laxamente dispostas nos ramos, e pelo perianto
quase glabro, sem tricomas glandulares e com tricomas tectores apenas nos lobos do cálice, enquanto
C. calycina, por sua vez, é um arbusto robusto com caule ramificado, folhas espiraladas fortemente
congestas e imbricadas no ápice dos ramos e perianto esparsamente púberulo a glabro e com tricomas
glandulares.
Calliandra imbricata E.R. Souza & L.P. Queiroz, sp. nov. Tipo: BRASIL: Bahia: Piatã,
estrada Piatã-Inúbia a ca. 25 km NW de Piatã, 13º04'48" S e 41º55'59" W, 1.450 m, 23-II-1994 (fl.),
P.T. Sano, S. Atkins, C.M. Sakuragui, R.M. Harley & V.C. Souza CFCR 14433 (holótipo HUEFS;
isótipos HUEFS, SPF).
Habitu frutescenti, inflorescentia facie et foliolis oblongis vel obovatis palmatinervibus C.
erubescenti similis sed foliis pinnis (4-5) et pinnae foliolis (2632) numerosioribus, foliolis parvioribus
(5-8 × 3-4 mm), perianthio pubibus glandularibus instructo et staminibus rubris statim diagnoscenda.
Arbusto ca. 1 m alt.; ramos, eixos foliares e pedúnculos pubérulos com indumento entremeado
com tricomas glandulares avermelhados, ramos novos ferrugíneos. Estípulas foliáceas, lanceoladas,
ca. 2 × 1 mm. Folhas pecioladas, não ascendentes, dísticas; pecíolo 0,8-1,2 cm compr.; raque 3,5-4,5
cm compr.; pinas 4-5 pares, mais ou menos eqüilongas, às vezes com as distais menores, pinas
maiores 2,8-5,3 cm compr.; folíolos 7-16 pares, fortemente imbricados, dispostos de modo a que o
folíolo anterior sobrepõe-se ao seguinte, os medianos mais ou menos eqüilongos 58 × 3-4 mm, os
proximais e distais menores 3-5 × 23 mm, coriáceos, obovados, face adaxial pubérula a glabrescente,
face abaxial pubérula e com tricomas glandulares, ápice obtuso a arredondado, base truncada,
assimétrica, nervação palmada, nervura principal excêntrica. Pseudoracemos terminais, exsertos da
folhagem, constituídos por fascículos de 2-3 glomérulos pedunculados; pedúnculo 10-17 mm compr.;
brácteas pedunculares ausentes; brácteas florais lanceoladas, ca. 2 × 1 mm. Flores 5 por glomérulo,
homomórficas, pentâmeras, sésseis; cálice campanulado, com tricomas glandulares, tubo 1,8-2 mm
compr., lobos deltóides, ca. 0,2 mm compr.; corola campanulada, com tricomas glandulares, tubo 2,8-
5 mm compr., lobos obtusos, 22,2 mm compr.; estames vermelhos, tubo estaminal ca. 6 mm compr.,
estemonozona ca. 1,5 mm compr., filetes livres por 21-24 mm compr., anteras vináceas; nectário
intraestaminal ausente; ovário obovado, pubérulo, 22,5 mm compr., ca. 5-ovulado, estilete ca. 30 mm
compr., estigma capitado. Fruto não visto.
Ecologia e distribuição – Calliandra imbricata é uma espécie endêmica da Serra do Atalho,
no município de Piatã. Da mesma forma que C. geraisensis, ocorre em ambientes de campos cerrados
sobre solo arenoso entre rochas. Foi encontrado material florido no mês de fevereiro. A frutificação
não foi observada.
Taxonomia – Calliandra imbricata pertence à seção Calliandra. Assemelha-se a C.
erubescens Renv. no hábito arbustivo, arquitetura da inflorescência e folíolos oblongos a obovais com
nervação palmada. No entanto, pode ser diferenciada pelas folhas com maior número de pinas, (4-5
21
pares v. 2-3 em C. erubescens), maior número de folíolos por pina, (26-32 v. 10-20 em C. erubescens),
folíolos menores (5-8 × 3-4 mm v. 710 × 4-5 mm em C. erubescens), perianto com tricomas
glandulares (v. ausentes em C. erubescens) e estames vermelhos (v. brancos em C. erubescens).
Referências bibliográficas
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SOUZA, E.R. 1999. O gênero Calliandra Benth. (Leguminosae - Mimosoideae) na região de Catolés,
Bahia, Brasil. Monografia de especialização. Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de
Santana.
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(Leguminosae - Mimosoideae) na Chapada Diamantina, Bahia, Brasil. Dissertação de mestrado.
Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana.
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(recebido: 21 de agosto de 2003; aceito: 17 de junho de 2004)
* Parte da dissertação de mestrado da primeira autora no Programa de Pós-graduação em Botânica da
UEFS.
1 Autor para correspondência: elviasouza@yahoo.com.br