Você está na página 1de 21

1

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ – UESC


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E AMBIENTAIS - DCAA

BOTÂNICA SISTEMÁTICA 2-2022


Prof. Luiz Alberto Mattos Silva
Texto atualizado em 2022

NOMENCLATURA BOTÂNICA

OS NOMES DAS ESPÉCIES CONSISTEM NO


NOME DO GÊNERO + O EPÍTETO ESPECÍFICO

Poderíamos imaginar um mundo no qual os alimentos, os objetos, os


fenômenos naturais ou os seres não tivessem nomes?

SISTEMÁTICA: A CIÊNCIA DA DIVERSIDADE BIOLÓGICA (1 )


Quando você para e examina uma flor, um arbusto ou uma árvore,, você pode
perguntar-se: qual o nome daquela planta?. Tal questão – surgindo de uma simples
curiosidade para identificar organismos do mundo ao nosso redor – tem intrigado gente desde
Aristóteles e sem dúvida desde épocas anteriores. O processo aparentemente trivial de dar
nome a um organismo é, de fato, parte de um sistema altamente organizado para o
estabelecimento de relacionamentos genéticos e identificação de tendências evolutivas.
Se as pessoas frequentemente dão nomes locais às plantas e outros organismos na
língua de seu país, haverá quase tantos nomes vulgares para o mesmo organismo quanto o
número de línguas existentes. Para os botânicos – geralmente biólogos e agrônomos – essa
pluralidade de nomes representa uma barreira significativa para o compartilhamento de
informações. Portanto, além dos “nomes comuns, ou nomes vulgares, ou nomes locais ou
regionais”, que variam de país para país (até entre regiões de um mesmo país), cada
organismo também tem um nome científico – um nome latino com duas palavras que o
identifica precisamente em qualquer lugar do mundo.
O nome científico não apenas fornece uma “carteira de identidade” universal para um
organismo, mas também fornecepistas acerca das relações de um organismos com outro.
Os homens primitivos usavam as plantas comestíveis e medicinais que cresciam em
seu ambiente, reconhecendo centenas de plantas diferentes. Este reconhecimento primitivo
das plantas úteis e nocivas assinalou o início da Botânica Sistemática.
O desenvolvimento da linguagem fez com que o conhecimento acumulado a partir das
observações nas plantas pudesse ser transmitido de geração em geração.
Atualmente, o reconhecimento básico e o agrupamento das plantas têm-se
desenvolvido em uma ciência altamente complexa, encarregada de classificar as plantas em
grupos com base nas relações evolutivas. A Botânica Sistemática inclui todas as atividades
que formam parte do esforço de organizar e registrar a diversidade das plantas para, assim,
familiarizar-se com as fascinantes diferenças que existem entre as espécies vegetais.

1
Os três primeiros parágrafos foram compilados de Raven et al. (2001).
2
Tradicionalmente, a classificação de um organismo recém-descoberto e sua relação
filogenética com outros organismos tem sido estimada com base em suas semelhanças gerais
externas, relativamente a outros representantes daquele táxon. As árvores filogenéticas
construídas pelos métodos tradicionais, raramente incluem considerações detalhadas de
informação comparada. Em vez disso, elas refletem a avaliação relativamente intuitiva e a
ponderação de um grande nº de fatores.

A IMPORTÂNCIA DA NOMENCLATURA

NOMES CIENTÍFICOS x NOMES COMUNS


Para designar as espécies, existem dois tipos de nomenclatura: a vernacular e a
científica. A primeira trata dos nomes que a população atribui às plantas, os quais variam
bastante de uma região para a outra e, em muitos casos, dentro de uma mesma região,
dependendo de quem a utiliza. A nomenclatura científica, por outro lado, é universal e única.
Isto é, o nome de uma espécie não sofre variação e não pode ser utilizado para outras
espécies. Seu uso obedece a regras rígidas contidas no Código Internacional de Nomenclatura
Botânica, oferecendo segurança para os usuários. Por essa razão, a nomenclatura científica
permite o diálogo sobre determinada espécie entre pessoas de diferentes países e regiões e
promove o acesso às informações sobre a mesma.
Pesquisas em acervos bibliográficos e de herbários e levantamentos em madeireiras,
indicam o uso de muitos nomes vulgares para uma mesma espécie e diferentes espécies
botânicas sendo chamadas pelo mesmo nome vulgar.
No comércio de madeiras, os nomes vulgares são atribuídos às espécies através de
características como cor, cheiro, forma e densidade, levando os compradores e comerciantes
ao agrupamento de espécies, aumentando assim a pluralidade de noves vulgares utilizados.
O conhecimento da identidade correta de uma planta viabiliza o acesso à informação
sobre aquela espécie, por exemplo, sobre suas propriedades e usos. A identificação errada
inviabiliza este acesso ou, ainda pior, resulta em informação errada.
Na Amazonia, por exemplo, o nome “Angelim” é atribuído a várias espécies de
Leguminosas, principalmente dos gêneros Andira, Dinizia, Hymenolobium, Vatairea e
Vataireopsis. Existem, no entanto, outros gêneros que também recebem o mesmo nome de
“Angelim”, até mesmo de diferentes famílias botânicas (Ferreira & Hopkins, 2004)
Por que os botânicos usam os nomes científicos em latim, em lugar dos nomes comuns
em sua língua???
Em resumo, os nomes comuns apresentam uma série de problemas:
 Primeiro, os nomes comuns (nomes vulgares, nomes populares), não são
universais e podem aplicar-se somente em uma língua
 Segundo, os nomes comuns usualmente não proporcionam informações que
indique as relações de gênero e família
 Terceiro, se uma planta é muito conhecida, pode ter uma dezena ou mais de nomes
comuns
 Quarto, em ocasiões duas ou mais plantas podem ter o mesmo nome comum (exs.:
piaçava, carquejo, cidreira, cacau)
 Quinto, muitas espécies – em particular as que são raras – não tem nomes comuns.

Um sistema de classificação é necessário porque permite a identificação das plantas e


dos animais e a comunicação científica com outros estudiosos. Na realidade, o nome de uma
planta é a chave que abre a porta à totalidade de sua biologia.
A Botânica Sistemática não tem significado unicamente para os cientistas. Pode ser
utilizada por outras pessoas interessadas na História Natural das plantas e que tenham
interesses ou treinamentos diversos.
3
COMPOSIÇÃO DO NOME CIENTÍFICO
O nome do gênero e o epíteto específico formam juntos o binômio que se conhece
como “nome da espécie”. O termo “nome da espécie”com freqüência se usa erroneamente
para referir-se somente ao epíteto específico, pelo fato do nome da espécie constar tanto do
nome genérico como do epíteto específico (gênero + espécie). Ao nome científico deve seguir
o terceiro elemento, ou seja, o nome da pessoa ou das pessoas que descreveram formalmente a
planta.
Por exemplo, o nome completo do feijão é Phaseolus vulgaris L. e o do cravo-da-índia
é Syzygium aromaticum Merr. & L. M. Perry, onde Phaseolus e Syzygium são os nomes dos
gêneros, vulgaris e aromaticum os nomes das espécies e L. (abreviatura de Linneo) e Merr. &
L. M. Perry são, respectivamente, os autores das descrições.
O nome científico não apenas fornece uma “carteira de identidade” universal para um
organismo, mas também fornece pistas acerca das relações de um organismo com outro.
Para garantir uma certa estabilidade e universalidade aos nomes dados aos diferentes
táxons, esses não devem ser dados arbitrariamente, mas sim de acordo com as normas de
nomenclatura, que constituem o Código Internacional de Nomenclatura Botânica.

CÓDIGO INTERNACIONAL DE NOMENCLATURA BOTÂNICA

O Código, está organizado segundo princípios, regras e recomendações, sendo


atualizado a cada 6 anos, durante os Congressos Internacionais de Botânica. Os códigos
podem sofrer modificações, sempre que aprovadas numa Sessão de Nomenclatura, durante
um Congresso Internacional de Botânica. Desta forma, após a realização de um Congresso
Internacional de Botânica o Código é re-editado com as mudanças propostas.
O último Código é bem recente, ou seja, foi publicado agora em 2013, já trazendo as
atualizações discutidas e aprovadas pelo XVIII Congresso Internacional de Botânica,
realizado em Melbourne, Austrália, em julho de 2011 e traduzido para o português por Carlos
E. de M. Bicudo e Jefferson Prado em 2012. De acordo com McNeill et al. (2013), o Código
mudou bastante, a começar pelo título, já que desde o VII Congresso Internacional de
Botânica realizado em Estocolmo, em 1950, as sucessivas edições do Código foram
publicadas como Código Internacional de Nomenclatura Botânica. Em Melbourne, refletino
a vsão principalmente entre os micólogos... concordou-se que o título deveria ser mudado
para Código Internacional de Nomenclatura de Algas, Fungos e Plantas e sua abreviação
CIN.
O próximo Código somente será alterado em 2017, durante a realização do XIX
Congresso Internacional de Botânica, a ser realizado em Shenzhen, China, em julho de 2017.
Além do título, cinco modificações significativas foram adotadas em Melbourne, quais
sejam: 1) a aceitação de certas formas eletrônicas de publicação; 2) a opção de utilizar inglês
como alternativa para o latim nas descrições ou diagnoses de táxons novos de organismos não
fósseis; 3) a exigência de registro como um pré-requisito para publicação válida de novos
nomes de fungos; 4) a abolição da provisão de nomes separados para fungos com histórico
pleomórfico de vida; e 5) o abandono do conceito de morfotáxon na nomenclatura de fósseis
(McNeill et al., 2013).
O Código é constituído de: Divisões, Princípios, Seções, Capítulos, Artigos,
Apêndices, Exemplos, Regras e Recomendações. Os Artigos são obrigatórios e as
Recomendações não. De acordo com a última versão do Código Internacional, adotado no
referido Congresso Internacional, a Botânica necessita de um sistema preciso e simples de
nomenclatura para ser usado pelos botânicos em todos os países, que lide por um lado com os
termos que denotam nível dos grupos ou unidades taxonômicas e por outro com os nomes
científicos aplicados aos grupos taxonômicos individuais de plantas. O propósito de dar um
nome a um grupo taxonômico não é de indicar seus caracteres ou história, mas de suprir um
meio de se referir a ele e de indicar seu nível taxonômico. O Código visa prover um método
de denominação dos grupos taxonômicos, evitando e rejeitando o uso de nomes que possam
4
causar erro ou ambiguidade ou lançar a ciência em confusão. A importância, é evitar a criação
inútil de nomes.
Os Princípios constituem a base do sistema de nomenclatura botânica.
As provisões detalhadas estão divididas em Regras, organizadas em Artigos e
Recomendações. Exemplos são acrescidos às Regras e recomendações para ilustrá-los.
O objetivo das Regras é colocar a nomenclatura do passado em ordem e prover para o
futuro; nomes contrários a uma regra não podem ser mantidos.
As Recomendações lidam com pontos subsidiários, sendo sua finalidade trazer maior
uniformidade e clareza, especialmente à nomenclatura futura; nomes contrários a uma
recomendação não podem, nesse sentido, ser rejeitados, porém, não constituem exemplos a
serem seguidos.
As Regras e Recomendações são aplicadas a todos os organismos tradicionalmente
tratados como plantas, sejam eles fóssseis ou não, por exemplo, algas azuis (Cyanobacteria).
Na ausência de uma regra relevante ou quando as consequências das regras são duvidosas,
segue-se o uso estabelecido.
O Código Internacional para Nomenclatura de Plantas Cultivadas está sendo
preparado sob a coordenação da Comissão Internacional para a Nomenclatura de Plantas
Cultivadas, com o uso e a formação de nomes para categorias especiais de plantas na
nomenclatura em agricultura, silvicultura e horticultura.

DIVISÃO I
PRINCÍPIOS DO CÓDIGO INTERNACIONAL
Os princípios formam a base e estabelecem a filosofia do sistema nomenclatural.
Existem 6 princípios:
 A nomenclatura de algas, fungos e plantas é independente da nomenclatura
Zoológica e da Bacteriológica;
O Código se refere unicamente à nomenclatura das plantas. Entretanto, o mesmo
nome que se dá a uma planta pode usa-lo os zoólogos para nomear os animais
 A aplicação de nomes dos grupos taxonômicos é determinada por meio de
tipos nomenclaturais;
O princípio do ”tipo” sustenta que o nome de cada sp. deve associar-se com um
espécimen particular, o tipo nomenclatural
 A Nomenclatura de um grupo taxonômico está baseada na prioridade de
publicação;
Este princípio tão importante, sustenta que o nome correto é o nome mais antigo
já publicado de acordo com as regras. Os nomes que se publicam primeiro têm
preferência sobre os nomes ‘a posteriori’. O Princípio da Prioridade na
nomenclatura botânica começa e 1º de maio de 1753 que é exatamente a data da
publicação da primeira edição de Species Plantarum de Linneo.
 Cada táxon tem apenas um nome válido;
Cada grupo taxonômico com uma delimitação particular (circunscrição), posição
e nível próprios pode ter apenas um nome correto, a saber, o mais antigo que
esteja de acordo com as Regras, salvo em casos especificados.
 Nomes científicos de grupos taxonômicos são tratados em latim,
independentemente de sua derivação;
 As regras de nomenclatura são retroativas, a menos que expressamente
limitadas (ou seja, salvo a existência de uma indicação contrária).
As regras são organizadas em artigos, os quais visam por em ordem os nomes já
existentes e orientar a criação de novos nomes.
As recomendações tratam de pontos secundários e indicam a melhor forma de escolha
de um nome.
5
DIVISÃO II
REGRAS E RECOMENDAÇÕES
CAPÍTULO I. Táxons e seus níveis

Art. 1. Grupos taxonômicos de qualquer nível (categoria) deverão, conforme este Código, ser
referidos “táxons” (taxa); singular: “táxon” (taxon).
Art. 2. Cada organismo individual é tratado como pertencendo a um número indefinido de
táxons de categorias (níveis) hierarquicamente subordinadas, dentre as quais espécie constitui
o nível básico.
Art. 3. Os principais níveis (categorias) de táxons em ordem descendente são so seguintes:
reino (regnum), divisão ou filo (divisio, phylum), classe (classis), ordem (ordo), família
(familia), gênero (genus) e espécie (species). Assim sendo, cada espécie pertence a um
gênero, cada gênero a uma família etc. Os principais níveis de táxons híbridos (nototáxons)
são notogênero e notoespécie. Estes níveis são o mesmo que gênero e espécie. A adição da
partícula “noto” indica seu caráter híbrido.
Art. 4.1. Os níveis secundários de táxons são os seguintes em ordem descendente: tribo
(tribus) entre família e gênero, seção (sectio) e série (series) entre gênero e espécie e
variedade (varietas) e forma (forma) abaixo de espécie.
Art. 4.2. Se houver necessidade de um maior número de níveis (categorias) de táxons, os
termos para nomeá-los são criados pela adição do prefixo “sub“ aos termos que denotem os
níveis hierárquicos principais ou secundários. Um organismo pode, portanto, ser atribuída a
táxons dos seguintes níveis hierárquicos (em sequência descendente): Reino, Subreino,
Divisão ou Filo, Subdivisão ou Subfilo, Classe, Subclasse, Ordem, Subordem, Família,
Subfamília, Tribo, Subtribo, Gênero, Subgênero, Seção, Subseção, Série, Subsérie,
Espécie, Subespécie, Variedade, Subvariedade, Forma e Subforma.
O termo Divisão é usado para representar a categoria de magnitude superior dentro do
Reino Vegetal. A Divisão é representada por um grupo de caracteres escolhidos entre as
estruturas reprodutoras, morfológicas e anatômicas. Num passado distante, os componentes de
cada Divisão tiveram um ou mais antepassados comuns aos componentes de outra Divisão. A
existência de tais relações significa que as fronteiras ou critérios, pelos quais se separam umas
divisões das outras, não são tão definidos ou isentos de exceções. Por esse motivo, as divisões
são caracterizadas mais por um conjunto de caracteres do que por um único caráter.
O Gênero é uma categoria cujos componentes – as espécies – tem mais caracteres em
comum do que com as espécies de outros gêneros da mesma família. Uma deficiência inerente
a este conceito é que, ao delimitar gêneros, não é possível considerar os caracteres escolhidos
como tendo igual valor em todos os gêneros da mesma família.
A Espécie é o conjunto de indivíduos que por todos os seus caracteres, considerados
essenciais pelo observador, concordem entre si e com os seus descendentes. Conceito
estudado até hoje de espécie resume que é um conjunto de indivíduos capazes de
intercruzarem livremente, produzindo indivíduos-filhos, férteis, semelhantes entre si e seus
ancestrais e que ocupam uma área geográfica comum.
6
CATEGORIA SUFIXO e EXEMPLO

Reino - bionta
Subreino
Divisão (ou Filo) - phyta (ex.: Magnoliophyta)
Subdivisão (ou Subfilo) - phytina
Classe - opsida (ex.: Magnoliopsida)
Subclasse - idae
Ordem - ales (ex.: Asterales)
Subordem - ineae
Família - aceae (ex.: Asteraceae)
Subfamília - oideae
Tribo - eae
Subtribo - inae
Gênero Vernonia (ìtálico, letra inicial maiúscula)
Subgênero
Seção
Subseção
Série
Subsérie
Espécie V. angustifolia Michx. (itálicos,inicial
Subespécie da sp. minúscula)
Variedade
Subvariedade
Forma
Subforma
Clone
(Cultivar, Híbrido)

Fontes: Judd, W. S. et al. (1999) e McNeil, J. et al. (2013).


Recomendação – Visando a padronização, as seguintes abreviações são recomendadas:
cl. (classe), ord. (ordem), fam. (família), tr. (tribo), gen. (gênero), subg. (subgênero), sect.
(seção), subsect. (subseção), ser. (série), sp. (espécie), var. (variedade) e f. (forma).
Outras situações:
Citação completa da espécie - Passiflora edulis Sims
Citação completa da espécie em manuscrito - Passiflora edulis Sims
Citação da espéciem em forma abreviada - P. edulis Sims
Citação da espécie com a família - Passiflora edulis Sims (Passifloraceae)
Citação de gên. e sp. prováveis - cf. Passiflora edulis Sims ou ?Passiflora edulis Sims
Citação de gên. Certo e sp. provável - Passiflora cf. edulis Sims ou Passiflora ?edulis Sims
Citação de uma sp. muito parecida, mas não idêntica à citada - Passiflora aff. edulis Sims
Citação de espécie não identificada - Passiflora sp.
Citação de espécies não identificadas de um gênero - Passiflora spp.
Exemplo de uma classificação hierárquica para o guaraná [Paullinia cupana H.B.K. – Família
Sapindaceae]:
7
CATEGORIA TAXON
Reino Chlorobionta
Filo (ou Divisão) Embryophyta
Subfilo (ou Subdivisão) Tracheophytina
Classe Angiosperma
Ordem Sapindales
Família Sapindaceae
Gênero Paullinia
Espécie Paullinia cupana

CAPÍTULO II. Status, Tipificação e Prioridade de Nomes (Nomes dos Taxa)

Seção 2. Tipificação
Art. 7.1. A aplicação de nomes de táxons do nível (categoria) de família, ou abaixo desta, é
determinada através de tipos nomenclaturais.
Art. 7.2. Um tipo nomenclatural (typus) é o elemento ao qual o nome de um taxon está
permanentemente ligado, seja como o nome correto ou como um sinônimo. O tipo
nomenclatural não é, necessariamente, o elemento mais típico ou mais representativo de um
táxon. Para determinação de um tipo o botânico deve se basear no protólogo.
Protólogo (do grego protos, primeiro; logos, discurso): tudo associado com o nome
em sua publicação válida, por ex., descrição ou diagnose, ilustrações, referências,
sinonímia, dados geográficos, citação de espécimes, discussão e comentários.
Art. 7.9. Para fins de prioridade (Arts. 9.19, 9.20 e 10.5), a designação de um tipo só é
consumada pela sua publicação efetiva (Arts. 29 a 31).
Art. 7.10. Para fins de prioridade (Arts. 9.19, 9.20 e 10.5), a designação de um tipo só é
consumada se o tipo for definitivamente aceito como tal pelo autor que efetuou a tipificação,
se o elemento-tipo for claramente indicado pela citação direta incluindo o termo ‘tipo’ (typus)
ou equivalente e, em ou a partir de 1º de janeiro de 2001, se a afirmação da tipificação incluir
a frase ‘aqui designado’ (hic designatus) ou algo equivalente.
Recomendação 7A. É fortemente recomendado que o material no qual o nome de um táxon
está baseado, especialmente o holótipo, seja depositado em um herbário público ou a qualquer
outra coleção pública, cujo regulamento permita livre acesso dos pesquisadores de boa fé
(honestos) aos materiais ali depositados e que o mesmo seja escrupulosamente conservado.
Art. 8.1. O tipo (holótipo, lectótipo ou neótipo) do nome de uma espécie ou táxon infra-
específico é um único espécime conservado em um herbário, outra coleção ou instituição, ou
é uma ilustração.
Art. 8.2. Para fins de tipificação, um espécime é uma coleta ou parte de uma coleta de uma
única espécie ou táxon infraespecífico feita em um único momento, não consideradas as
misturas (veja Art. 9.14). Ele pode consistir de um único organismo, de partes de um ou
vários organismos ou de múltiplas pequenos organismos. Um espécime normalmente é
montado numa única exsicata de herbário ou em preparações equivalentes, tais como: caixa,
envelope, frasco ou lâmina de microscopia.
Art. 8.4. Espécimes-tipo de nomes de táxons devem ser permanentemente preservados e não
podem ser organismos vivos ou culturas. Entretanto, culturas de algas e fungos, se
preservadas em estado metabólico inativo (ex.: por liofilização ou congelamento profundo
para permanecerem vivos neste estado inativo), são aceitáveis como tipos.
8
Definições de Tipos (mais informações no Código, Artigos 9.1 a 10.7)

Chama-se typus o espécime conservado num herbário, do qual se fez uma diagnose
original. O typus compreende:

 Holótipo Holotypus  o tipo escolhido pelo autor como modelo e designado


 por ele, na descrição original
 Isótipo Isotypus  Duplicata(s) do Holotypus
 Lectótipo Lectotypus  É um espécime ou ilustração designado(a) a partir do
material original como tipo nomenclatural, se não
houve designação de Holótipo na época da publicação
ou se o Holótipo está desaparecido.
 Parátipo Paratypus  quaisquer exemplares (coletas) citados no protólogo,
que não seja o Holótipo, nem um Isótipo, que tenham
sido estudados simultâneamente pelo autor, mas de
outras coletas com numerações e coletores diferentes.
 Neótipo Neotypus  um espécime ou ilustração selecionado para servir
como tipo nomenclatural, se não existir material
original ou desde que este esteja desaparecido.
 Síntipo Syntipus  qualquer espécime citado no protólogo quando não há
Holótipo, ou seja, quando nenhum foi designado ou
especificado como Holotypus ou quando dois ou mais
espécimes forem designados, simultaneamente, como
tipos. As duplicatas dos Syntipus denominam-se
Isosyntipus.
 Fotótipo Fototypus  foto do Typus.

10.6. O tipo de um nome de uma família ou de qualquer subdivisão de uma família é o


mesmo do nome genérico no qual está baseado (ex.: Poa – Poaceae; Areca – Arecaceae).

Seção 3. Prioridade
Art. 11. Cada família ou taxon de nível inferior com circunscrição (delimitação), posição e
nível particulares pode ter apenas um nome correto. Exceção especial feita a 9 famílias e uma
subfamília, para as quais nomes alternativos são permitidos (ver nos Artigos 18.5 e 19.8).
Art. 13.1. A publicação válida dos nomes de organismos de diferentes grupos é tratada como
iniciando nas seguintes datas (para cada grupo é mencionado um trabalho,o qual é entendido
como tendo sido publicado na data fornecida para aquele grupo):
Spermatophyta e Pteridophyta – 1º de maio de 1753 (Linnaeus, Species Plantarum)
Musci (exceto Sphagnaceae), 1º de janeiro de 1801 (Hedwig, Species Muscorum)
Sphagnaceae e Hepaticae, 1º de maio de 1753 (Linnaeus, Species Plantarum)
Fungi, 1º de maio de 1753 (Linnaeus, Species Plantarum)
Algae, 1º de maio de 1753 (Linnaeus, Species Plantarum)
Todos os Grupos, 31 de dezembro de 1820 (Sternberg, Flora der Vorwelt)

CAPÍTULO III. Nomenclatura de Táxons de acordo com seus níveis

Seção 1. Nomes de táxons acima do nível de família


Art. 17. Nomes automaticamente tipificados de ordens ou subordens devem terminar em ales
e ineae, respectivamente.

Seção 2. Nome de famílias e subfamílias, tribos e subtribos


Art. 18.1. O nome de uma família é um adjetivo plural usado como substantivo; ele é
formado pela adição do sufixo aceae ao radical do nome legítimo de um gênero incluído.
Exemplos: Arecaceae (de Areca), Rosaceae (de Rosa, Rosae), Salicaceae (de Salix, Salicis).
9
Art. 18.4. Quando o nome de uma família foi publicado com uma terminação imprópria em
latim, a terminação deve ser mudada para concordar com as regras, sem mudança do autor da
citação ou data de publicação.
Art. 18.5. Os seguintes nomes, consagrados pelo longo uso, são tratados como validamente
publicados:

Nome Nome Atual Nome Consagrado Nome Atual


Consagrado
Compositae Asteraceae (tipo: Aster L.) Palmae Arecaceae (tipo: Areca L.)
Cruciferae Brassicaceae (tipo: Brassica L.) Leguminosae Fabaceae (tipo: Faba Mill..
Gramineae Poaceae (tipo: Poa L.) = Vicia L.)
Guttiferae Clusiaceae (tipo: Clusia L.) Papilionaceae Fabaceae (tipo: Faba Mill.)
Labiatae Lamiaceae (tipo: Lamium L.) Umbelliferae Apiaceae (tipo: Apium L.)

Art. 18.6. O uso como alternativos, dois oito nomes de famílias indicados como “nom. alt.”
(nomem alternativum) no Art. 18.5 é autorizado.
Art. 19.1. O nome de uma subfamília é um adjetivo plural usado como um substantivo; é
formado da mesma maneira que o nome de uma família, porém, utilizando a terminação
oideae em vez de aceae. Ex.: Rosoideae (subfamília incluída na família Rosaceae)
Art. 19.3. Uma tribo é nomeada de modo similar, usando a terminação eae (ex.: Roseae,
família Rosaceae) e a subtribo de maneira semelhante, usando-se a terminação inae (ex.:
Poinae, da família Poaceae).

Seção 3. Nomes de gêneros e subdivisões de gêneros


Art. 20.1. O nome de um gênero é um substantivo no singular e é escrito com uma letra
inicial maiúscula. Ele pode ter qualquer origem e ser formado de maneira totalmente
arbitrária, mas não pode terminar em virus.
Art. 20.3. O nome de um gênero não pode consistir de duas palavras, a menos que estas
palavras sejam unidas por um hífen.
Recomendação 20a. Os autores deveriam, ao constituir nomes genéricos, cumprir com o
seguinte:
a. utilizar terminações em latim, sempre que possível
b. evitar nomes não facilmente adaptáveis à língua latina
c. não constituir nomes que sejam muito longos ou de difícil pronúncia em latim
d. não constituir nomes pela combinação de palavras de diferentes línguas
e. não constituir nomes genéricos pela combinação de partes de 2 nomes genéricos já
existentes (ex.: Hordelymus de Hordeum e Elymus) porque tais nomes podem ser
facilmente confundidos com nomes notogenéricos
f. não dedicar gêneros a pessoas não relacionadas com a botânica, micologia, ficologia
ou com as ciências naturais

Seção 4. Nomes de espécies


Art. 23.1. O nome de uma sp. é uma combinação binária constituída do nome do gen.
seguido por um único epíteto específico sob a forma de um adjetivo. Se um epíteto consistir
em duas ou mais palavras, estas devem ser unidas, formando uma só ou ligadas por um hífen.
Art. 23.2 O epíteto no nome de uma sp. pode ter qualquer origem e pode, inclusive, ser
composto arbitrariamente.
Recomendação 23A. Para formar epítetos específicos, os botânicos deverão levar em conta
as seguintes considerações:
a. utilizar terminações em latim, sempre que possível
b. evitar epítetos que sejam muito longos e de difícil pronúncia em latim
c. não constituir nomes pela combinação de palavras de línguas diferentes
d. evitar aqueles formados de duas ou mais palavras hifenizadas
10
e. evitar, no mesmo gênero, os epítetos que sejam muito semelhantes entre si,
especialmente aqueles que diferem somente em suas últimas letras ou no arranjo de
duas letras
f. evitar o uso de nomes de localidades pouco conhecidas ou muito pequenas, a menos
que a espécie seja demasiadamente local.

Seção 5. Nomes de táxons abaixo da categoria de espécie (táxons infraespecíficos)


Art. 24.1. O nome de um taxon infraespecífico é uma combinação do nome de uma espécie e
um epíteto infraespecífico. Um termo de ligação é usado para designar o nível ou categoria
[exs.: Panicum maximum Jacq. var. gongyloides Doell. (capim-colonião ou capim-guiné);
Theobroma cacao L. subsp. sphaerocarpum Cuatr. var. para (cacau-parazinho); Saxifraga
aizoon subf. surculosa Engl. & Irmsh. - este táxon também pode ser referido como Saxifraga
aizoon var. aizoon subvar. brevifolia f. multicaulis subf. surculosa Engl. & Irmsh. etc.];
desta maneira, é fornecida a classificação completa da subforma dentro da espécie, não
somente seu nome.

Seção 6. Nomes de organismos em cultivo


Art. 28.1. Organismos trazidos da natureza para cultivo retém os nomes que são aplicados
aos mesmos táxons que crescem na natureza.

CAPÍTULO IV. Publicação efetiva

Seção 1. Condições para publicação efetiva


Art. 29.1. A publicação é efetiva, segundo o Código, somente pela distribuição de matéria
impressa (por meio de venda, intercâmbio ou doação) ao público em geral ou, pelo menos, às
instituições botânicas com bibliotecas acessíveis aos botânicos em geral. A publicação
também é efetiva pela distribuição em ou a partir de 1º de janeiro de 2012 de material
eletrônico em PDF (Formato Portátil de Documento) em uma publicação online com um
ISSN (Nº Internacional Padrão de Série) ou um ISBN (Nº Internacional Padrão de Livro).
Nota: a distribuição de material eletrônico antes de 1º de janeiro de 2012 não constitui
publicação efetiva.
29.2. Para o propósito do Art. 29.1, online é definido como acessível eletronicamente via
WWW (World Wide Web).
Art. 30.3. O conteúdo de uma publicação eletrônica em particular não deve ser alterado após
a sua publicação efetiva. Qualquer alteração não é, por siso, efetivamente publicada.
Correções ou revisões devem ser feitas separadamente para serem efetivamente publicadas.

Seção 2. Datas de publicação efetiva


Art. 31.1. A data de publicação efetiva é a data na qual a matéria impressa ou o material
eletrônico tornou-se disponível conforme definido nos Art. 29 e 30. Na ausência de prova
estabelecendo alguma outra data, a data que aparece na matéria impressa ou no material
eletrônico deve ser aceita como correta.

CAPÍTULO VI. Citação

Seção 1. Citação de autores


Art. 46.1. Em publicações, mormente aquelas que se referem à taxonomia e nomenclatura, é
desejável, mesmo que não seja feita referência bibliográfica ao protólogo, citar o(s) autor(es)
do nome em questão (exs.: Rosaceae Juss.; Rosa L.; Rosa gallica L.; Rosa gallica var.
eryostila R. Keller, Rosa gallica L. var. gallica).
Art. 49.1. Quando um gênero ou um taxon de nivel inferior tem seu nível alterado, mas
conserva seu nome ou o epíteto final em seu nome, o autor do nome do epíteto anterior
legítimo deve ser citado entre parênteses, seguido pelo nome do autor que efetuou a alteração
(o autor do nome novo).
11
Tomemos como exemplo o Pau-brasil, espécie pertencente à Família Fabaceae, que foi
descrito originalmente como Caesalpinia echinata Lam. Bem recentemente, três
taxonomistas especializados nesta família aprofundaram os estudos taxonômicos,
corroborados com os resultados obtidos de outras fontes, utilizando outros caracteres e
equipamentos mais precisos (anatomia vegetal comparada, embriologia, citogenética,
palinologia, quimiossistemática, microscopia eletrônica, entre outros), desenvolveram vários
estudos e concluíram que esta espécie deveria migrar para outro gênero e que passou a
chamar-se Paubrasilia echinata (Lam.) Gagnon, H.C.Lima & G.P.Lewis. Este é o nome
validado!. Assim o nome original passou a ser uma sinonímia, útil quando for necessário
realizar consultas e revisões bibliográficas publicadas anteriormente com o nome substituído
de Caesalpinia echinata.
Outros exemplos:
- Medicago polymorpha var. orbicularis L. (1753), quando elevada ao nível de
espécie tornou-se (ou deve ser citada como) Medicago orbicularis (L.) Bartal.
(1776).
- Cheirantus tristis L. transferida para o gênero Matthiola torna-se M. tristis (L.) R.Br.

CAPÍTULO VII. Rejeição de nomes


Art. 51.1 Um nome legítimo não deve ser rejeitado somente porque ele ou seu epíteto não é
apropriado ou é desagradável, ou porque um outro é preferível ou mais conhecido, ou porque
perdeu seu significado original (ex.: o nome Scilla peruviana L. (1753) não deve ser
rejeitado meramente porque a espécie não cresce no Peru).

CAPÍTULO IX. Ortografia e gênero gramatical de nomes


Art. 60.1. A ortografia original de um nome ou epíteto deve ser mantida, exceto para a
correção de erros tipográficos ou ortográficos e às padronizações impostas pelos Arts. 60.4 a
60.12. (ex.: a ortografia errada Indigofera longipedunculata Fang & Zheng é, presumivelmente, um
erro tipográfico e deve ser corrigido para I. longipedunculata).

DIVISÃO III
PROVISÕES PARA GOVERNANÇA DO CÓDIGO

 O Código pode ser modificado unicamente por ação de uma sessão plenária de um
Congresso Internacional de Botânica, após resolução movida pela Sessão de
Nomenclatura do referido Congresso.
 Comissões Permanentes de Nomenclatura são estabelecidos sob os auspícios da
International Association for Plant Taxonomy. Os membros dessas Comissões são eleitos
por um Congresso Internacional de Botânica. Os Comitês têm poder de cooptar e
estabelecer subcomitês.

APÊNDICE I
NOMES DE HÍBRIDOS

1. A hibridação é indicada pelo uso do sinal de multiplicação ( x ) ou pela adição do


prefixo ‘noto’ ao termo que indica o nível do táxon.
Exs.: Agrotis L. x Polypogon Desf.; Salix aurita L. x S. caprea L.;
Mentha aquatica L. x M. arvensis L.
2. Em geral é preferível colocar os nomes ou epítetos de uma fórmula híbrida em ordem
alfabética; a direção de um cruzamento pode ser indicada pela inclusão dos símbolos
dos sexos na fórmula ou pela colocação do sinal de multiplicação ( x ) antes do nome
de um híbrido intergenérico ou antes do epíteto no nome de híbrido interespecífico, ou
pelo prefixo ‘ noto’ para o termo que indica o nível do táxon.
12

REGRAS DE NOMENCLATURA
Datas importantes que constam do Código Internac. de Nomenclatura Botânica – 2000
 Para propósitos de prioridade (Art. 9.17 e 10.5), a designação de um Tipo é concretizada
somente se o tipo for definitivamente (expressamente) aceito pelo autor tipificante, isto é,
se o Tipo for claramente indicado pela citação direta que inclua o termo “Tipo (Typus)”
ou um equivalente, e na data de ou após 1º de janeiro de 2001, o procedimento da
tipificação inclua a frase “aqui designado” (hic designatus) ou coisa equivalente.
 O Holótipo (ou Lectótipo) de um nome de uma espécie ou táxon infraespecífico de
plantas fósseis (Art. 8.5) é o espécime (ou um dos espécimes) sobre os quais as ilustrações
validantes (Art. 38) são baseados. Quando antes, ou até 1º de janeiro de 2001, no
protólogo de um nome de um novo táxon de plantas fóseis da categoria de espécie ou
abaixo, um espécime Tipo é indicado mas não identificado entre as ilustrações validantes,
um Lectótipo pode ser designado dentre os espécimes ilustrados no protólogo. Esta
escolha é invalidada se puder ser demonstrado que o espécime Tipo original corresponde à
outra ilustração validante.

APONTAMENTOS DIVERSOS

 O nome genérico pode ser escrito sozinho quando se refere ao grupo inteiro de espécies
que formam aquele gênero (ex.: Dalbergia). Contudo, um epíteto específico é desprovido
de sentido quando escrito sozinho (ex.: nigra ou brasiliensis). O epíteto específico
brasiliensis, por exemplo, está associado a dezenas de diferentes nomes genéricos.
 Se alguém descobre que uma espécie foi inicialmente colocada em um gênero errado e
deve por isso ser transferida para outro gênero, o epíteto específico move-se com a espécie
para o novo gênero. No entanto, se já existe uma espécie naquele gênero que tem aquele
determinado epíteto específico, um nome alternativo deve ser criado.
 Cada espécie tem um espécimen tipo, geralmente uma exsicata, que é designado ou pela
pessoa que originalmente descreveu aquela spp. ou por um autor subsequente, se o autor
original não fez a designação. O espécimen tipo serve como um referencial para compa-
ração com outros espécimens para determinar se eles pertencem ou não à mesma espécie.

Os organismos são agrupados em categorias taxonômicas mais amplas, organizadas


segundo uma hierarquia
Linnaeus reconhecia 3 reinos: vegetal, animal e mineral. Até recentemente, o reino era
a unidade + inclusiva usada na classificação biológica. Além dela, várias outras categorias
taxonômicas hierárquicas foram acrescentadas entre os níveis de gênero e reino.
No XV Congresso Internacional de Botânica, em 1993, o Código Internacional de
Botânica tornou o termo filo nomenclaturalmente equivalente à divisão. Além disso, o
Código recomendou a prática de usar itálico par todos os nomes taxonômicos, não apenas
para os nomes de gêneros e espécies.
Amostras de classificação do milho (Zea mays) e o cogumelo comestível comumente
cultivado (Agaricus bisporus) são dadas nos Quadros abaixo.

OUTROS APONTAMENTOS [Extraídos de Peter Raven (2001)]


Após a publicação em 1859 da obra Origem das Espécies, de Darwin, as diferenças e
semelhanças entre os organismos passaram a ser vistas como os produtos de sua história
evolutiva, ou filogenia.
13
Os biólogos agora desejavam classificações que fossem não apenas informativas e
úteis, mas também que espelhassem as relações evolutivas entre os organismos. Estas tem
sido representadas em diagramas conhecidos como árvores filogenéticas, que mostram as
relações genealógicas entre táxons de acordo com as hipóteses do pesquisador.
Num esquema de classificação que reflete de modo preciso a filogenia, cada táxon é,
nas condições ideais, monofilético. Isso significa que os representantes de um táxon em
qualquer nível hierárquico, seja ele gênero, família ou ordem, devem ser todos descendentes
de uma única espécie ancestral. Assim, um gênero deveria consistir em toas as espécies
descendentes do ancestral comum mais recente – e apenas de espécies daquele ancestral. De
modo semelhante, uma família deveria ser formada por todos os gêneros descendentes de um
ancestral comum mais distante – e apenas de gêneros descendentes daquele ancestral.
Embora esse ideal que resulta em táxons naturais, soe de modo relativamente direto,
frequentemente se torna difícil consegui-lo.
Em muitos casos, os biólogos não conhecem o suficiente sobre a história evolutiva dos
organismos para estabelecer táxons que sejam monofiléticos com um razoável grau de
segurança. No entanto, nos casos em que as relações são desconhecidas ou incertas, pode ser
mais prático criar um táxon artificial.
Desse modo, alguns táxons amplamente conhecidos contêm representantes
descendentes de mais de uma linha ancestral. Dizemos que esses táxons são polifiléticos.
Outros táxons excluem um ou mais descendentes de um ancestral comum. Diz-se que esses
táxons são parafiléticos.

EXEMPLO DE CLASSIFICAÇÃO BIOLÓGICA

Note o quanto se pode dizer sobre um organismo quando você conhece o seu lugar no
Sistema. As descrições abaixo não definem as várias categorias, mas dizem alguma coisa
sobre suas características: os reinos Plantae e Fungi pertencem ao domínio Eukarya

Categoria Táxon Descrição


Reino Plantae Organismos primariamente terrestres, com clorofilas a e b contidas
em cloroplastos, esporos envolvidos por esporopolenina (susbst.
dura da parede do esporo) e com embriões multicelulares
nutricionalmente dependentes
Filo Anthophyta Plantas celulares com sementes e flores e polinização indireta;
óvulos contidos em 1 ovário
Classe Monocotyledonae Embrião com 1 cotilédone; peças florais em números múltiplos de
3; muitos feixes vasculares espalhados irregularmente no caule
Ordem Commelinales Monocotiledôneas com folhas fibrosas; redução e fusão nas peças
florais
Família Poaceae Monocotiledôneas com caule oco, com flores esverdeadas
reduzidas; fruto em aquênio, especializado (cariópse)
Gênero Zea Gramíneas robustas, com flores estaminadas e pistiladas, separadas
em densas espigas; cariopse carnosa
Espécie Zea mays Milho

Categoria Táxon Descrição


Reino Fungi Organismos imóveis, multi-nucleados, heterotróficos, que absorvem
seus nutrientes e nos quais a cutina predomina nas paredes celulares
Filo Basidiomycota Fungos dicariotos, que formam um basídio portando 4 esporos
(basidiósporos)
Classe Basidiomycetes Fungos que produzem basidiomas, ou “corpos de frutificação”, e
basídios asseptados, em forma de clava, com lamelas ou poros
alinhados
Ordem Agaricales Fungos carnosos com lamelas ou poros radialmente dispostos
14
Família Agaricaceae Agaricales com lamelas
Gênero Agaricus Fungos moles com esporos escuros, uma coluna central e lamelas
livres da coluna
Espécie Agaricus bisporus Cogumelo comum (comestível)

BIBLIOGRAFIA UTILIZADA:
1. BARROSO, Graziela M. et al. 2002. Sistemática de Angiospermas do Brasil. Vol.
Vol. 1. (2ª ed.). Editora UFV, Viçosa, Brasil.
2. FERREIRA, Gracialda C. & HOPKINS, Michael J. G. 2004. Manual de
identificação botânica e anatômica - angelim. EMBRAPA, Belém (PA). 101p.
3. JONES Jr., Samuel B. 1988. Sistemática Vegetal. 2ª ed. Libros McGraw-Hill de
México S. A.
4. LUGHADHA, Eimear Nic. 1999. Mudanças recentes e propostas na nomenclatura
botánica: implicações para Botânica Sistemática no Brasil. Rev. Bras. Bot., São
Paulo, v.22, n.2 (suplemento), p.231-235.
5. MARZOCA, Angel. 1985. Nociones Básicas de Taxonomía Vegetal. Editorial
IICA, Costa Rica.
6. McNEILL, J. (Coord.) et al. 2013. Código Internacional de Nomenclatura para
Algas, Fungos e Plantas (Código de Melbourne, 2012). Instituto de Botânica, São
Paulo, 208p.
7. RAVEN, Peter et al. 2001. Biologia Vegetal. Ed. Guanabara Koogan, RJ, Brasil.
Pp. 252-262 (Cap. 13 – Sistemática: a ciência da diversidade biológica).
8. RIGOLON, Rafael G. 2015. A Pronúncia do Latim Científico. Ed. UFV, Viçosa,
MG. 190p.
9. VIDAL, Waldomiro Nunes & VIDAL, Maria R. Rodrigues. 2000. Taxonomia
Vegetal. Editora UFV, Viçosa, Brasil.

Sugerimos a leitura, também, das referências bibliográficas apresentadas acima.


15
TEXTOS COMPLEMENTARES:

Classificação científica
(Fonte:: Wikipedia)
A expressão classificação científica ou classificação biológica designa o modo como os
biólogos agrupam e categorizam as espécies de seres vivos, extintas e actuais. A classificação
científica moderna tem as suas raízes no sistema de Carl von Linée (ou Carolus Linnaeus),
que agrupou as espécies de acordo com as características morfológicas por elas partilhadas.
Estes agrupamentos foram subsequentemente alterados múltiplas vezes para melhorar a
consistência entre a classificação e o princípio darwiniano da ascendência comum. O advento
da sistemática molecular, que utiliza a análise do genoma e os métodos da biologia molecular,
levou a profundas revisões da classificação de múltiplas espécies e é provável que as
alterações taxonómicas continuem a ocorrer à medida que se caminha para um sistema de
classificação assente na semelhança genética e molecular em detrimento dos critérios
morfológicos. A classificação científica pertence à ciência da taxonomia ou sistemática
biológica.

Características da classificação biológica


A classificação das espécies não obedece a critérios rigidamente formais. Caso fosse aplicado
aos primatas o mesmo critério científico usado para classificar os coleópteros, dos quais há
mais de 300 mil espécies catalogadas, o ser humano (Homo sapiens) faria parte do género
Pan, o mesmo género dos chimpanzés (Pan troglodytes) e dos bonobos (Pan paniscus).
Assim a classificação biológica é um sistema organizativo que se rege por um conjunto de
regras unificadores e de critérios que se pretendem universais, mas que, dada a magnitude do
conjunto dos seres vivos e a sua inerente diversidade, são necessariamente adaptados a cada
um dos ramos da biologia.
Tradicionalmente, a classificação de plantas e de animais seguiu critérios diferenciados, hoje
fixos no Código Internacional de Nomenclatura Botânica e no Código Internacional de
Nomenclatura Zoológica, respectivamente, reflectindo a história das comunidades científicas
associadas. Outras áreas, como a micologia (que segue a norma botânica), a bacteriologia e a
virologia, seguiram caminhos intermédios, adoptando muitos dos procedimentos usados nas
áreas consideradas mais próximas.
Nos últimos tempos, com o advento das técnicas moleculares e dos estudos cladísticos, as
regras tendem apara a unificação, levando a uma rápida mutação dos sistemas classificativos e
alterando profundamente a estrutura classificativa tradicional.
A classificação científica é, por isso, um campo em rápida mutação, com frequentes e
profundas alterações, em muitos casos quebrando conceitos há muito sedimentados. Nesta
matéria, mais importante do que conhecer a classificação de uma qualquer espécie, importa
antes conhecer a forma como o sistema se organiza. Até porque aquilo que é hoje uma
classificação aceite em pouco tempo pode ser outra bem diferente.

Linnaeus (“Lineo”)
Carolus Linnaeus (1707–1778) teve como obra principal, a Systema Naturae, com 12 edições
durante a sua vida (com a 1.ª edição em 1735). Nesta obra, a natureza é dividida em três
reinos: mineral, vegetal e animal. Para sistematizar a natureza, em cada um dos reinos
16
Linnaeus usou um sistema hierárquico de cinco categorias: classe, ordem, género, espécie e
variedade.
Outra das suas principais contribuições foi o abandono dos longos nomes descritivos até então
em uso para designar as classes e ordens. Também promoveu o fim dos nomes de géneros
constituídos por duas palavras (por exemplo Bursa pastoris era um género). Esta
simplificação marca uma ruptura com os métodos dos seus antecessores imediatos (Rivinus e
Pitton de Tournefort), e foi acompanhada pelo estabelecimento de diagnoses rigorosas e
detalhadas para cada um dos géneros (a que ele chamou characteres naturales). Também
procedeu à integração das variedades nas respectivas espécies, evitando que a botânica tivesse
que criar novos taxa para acomodar todas as variedades cultivadas que são constantemente
criadas.
Contudo, apesar das suas múltiplas contribuições para a taxonomia e sistemática, Linnaeus é
melhor conhecido pela introdução do método binomial, a técnica ainda em uso para formular
o nome científico das espécies. Antes de Linnaeus estavam em uso nomes longos, compostos
por um nome genérico e por uma frase descritiva da própria espécie (a differentia specifica).
Esses nomes não eram fixos, já que cada autor parafraseava o descritivo, acentuando os
caracteres que considerava mais relevantes.
Na sua obra Philosophia Botanica (1751), Linnaeus colocou grande ênfase na melhoria da
composição dos nomes e na redução da sua extensão, abolindo as expressões retóricas
desnecessárias que tradicionalmente se usavam na descrição das espécies e introduzindo
novos termos descritivos cujo significado procurou fixar rigorosamente. Este esforço resultou
numa definição de espécies com um rigor sem precedentes.
Ao utilizar de forma consistente os mesmos epítetos específicos, Linnaeus separou a
nomenclatura da taxonomia, o que se viria a revelar um passo decisivo na consolidação do
sistema de nomenclatura biológica, já que os nomes da espécies passaram a ser fixos,
permitindo que os agrupamentos taxonómicos superiores se desenvolvessem
independentemente. Apesar do uso paralelo dos nomina trivialia e dos nomes descritivos se
ter mantido até finais do século XVIII, eles foram sendo progressivamente substituídos pela
utilização de nomes curtos, combinando simplesmente o nome do género com o nome trivial
da espécie.
No século XIX esta nova prática foi codificada nas primeiras regras e leis da nomenclatura
biológica, acabando por se transformar naquilo que hoje é geralmente referido como a sistema
de nomenclatura binomial, ou mais genericamente como a taxonomia lineana, a qual é ainda,
com poucas alterações, o padrão universalmente aceite de atribuição de nomes aos seres
vivos.

A estrutura atual da classificação biológica


Enquanto Linnaeus classificava as espécies de seres vivos tendo como objectivo principal
facilitar a identificação e criar uma forma de arquivo nos herbários e nas colecções zoológicas
que permitisse localizar facilmente um exemplar, nos modernos sistemas taxonómicos
aplicados à biologia procura-se antes de mais fazer reflectir o princípio Darwiniano de
ancestralidade comum. Isto significa que se pretende agrupar as espécies por proximidade
filogenética, isto é relacionar as espécies pela sua proximidade genética, a qual reflecte o grau
de comunalidade de ancestrais.
Desde a década de 1960 que se vem fortalecendo a tendência para utilizar estruturas
taxonómicas baseadas nos conceitos da cladística, hoje designadas por taxonomia cladística,
distribuindo os taxa numa árvore evolucionária. Se um taxon inclui todos os descendentes de
uma forma ancestral, é designado um taxon monofilético. Quando o inverso acontece, o taxon
é designado parafilético. Os taxa que incluem diversas formas ancestrais são designados por
17
polifiléticos. Idealmente todos os taxa deveriam ser monofiléticos, pois assim reflectiriam a
ancestralidade comum das espécies que integrem.
O conceito de domínio como taxon de topo é de introdução recente. O chamado Sistema dos
Três Domínios foi introduzido em 1990, mas apenas recentemente ganhou aceitação
generalizada. Apesar de hoje a maioria dos biólogos aceitar a sua validade, a utilização do
sistema dos cinco reinos ainda domina. Uma das principais características do sistema
dominial é a separação dos reinos Archaea e Bacteria, ambos anteriormente parte do reino
Monera. Alguns cientistas, mesmo sem aceitar os domínios, admitem Archaea como um sexto
reino.

Hierarquia da classificação
O quadro seguinte apresenta a classificação científica de cinco espécies pertencentes a
estruturas taxonómicas diversas: a mosca-da-fruta (Drosophila melanogaster), o ser humano,
a ervilha, o cogumelo amanita e a bactéria Escherichia coli. Com ele pretende-se demonstrar a
flexibilidade e a universalidade do sistema, incluindo numa mesma estrutura organismos tão
diversos como os seleccionados.

Mosca-da-
Taxon Humano Ervilha Amanita E. coli
fruta

Domínio Eukaryota Eukaryota Eukaryota Eukaryota Bacteria

Reino Animalia Animalia Plantae Fungi Monera

Phylum ou
Arthropoda Chordata Magnoliophyta Basidiomycota Proteobacteria
Divisão

Subphylum ou Magnoliophytin
Hexapoda Vertebrata Hymenomycotina
subdivisão a

Homobasidiomyceta
Classe Insecta Mammalia Magnoliopsida Proteobacteria
e

Gammaproteobacteri
Subclasse Pterygota Eutheria Magnoliidae Hymenomycetes
a

Ordem Diptera Primatas Fabales Agaricales Enterobacteriales

Haplorrhin
Subordem Brachycera Fabineae Agaricineae
i

Família Drosophilidae Hominidae Fabaceae Amanitaceae Enterobacteriaceae

Subfamília Drosophilinae Homininae Faboideae Amanitoideae

Género Drosophila Homo Pisum Amanita Escherichia


18

D.
Espécie H. sapiens P. sativum A. muscaria E. coli
melanogaster

Os taxa mais elevados, em especial os intermédios, têm sofrido ultimamente profundas e


frequentes alterações, resultado da descoberta de novas relações entre os grupos e as espécies.
Por exemplo, a tradicional classificação dos primatas (classe Mammalia — subclasse Theria
— infraclasse Eutheria — ordem Primatas) está posta em causa por novas classificações,
como, por exemplo, a de McKenna e Bell (classe Mammalia — subclasse Theriformes —
infraclasse Holotheria — ordem Primatas). Estas alterações resultam essencialmente da
existência de um pequeno número de taxa em cada nível, sendo neles necessário acomodar
um registo fóssil muito ramificado.
A tendência para privilegiar a constituição de grupos monofiléticos em detrimento dos
parafiléticos levará, seguramente, a sucessivas alterações da estrutura classificativa, com
especial foco nas classes e ordens. A progressiva introdução de conceitos cladísticos também
terá um impacte profundo e conduzirá à reformulação de muitos dos actuais agrupamentos.
Note-se que em botânica e micologia, os nomes dos taxa de família para baixo são baseados
no nome de um género, por vezes referido como o género-tipo, ao qual é acrescentado um
sufixo padronizado. Por exemplo, o género Rosa é o género-tipo a partir do qual a família
Rosacea recebe o seu nome (Rosa + -aceae). Os nomes dos taxa acima de família podem ser
formados a partir do nome da família, com o sufixo adequado, ou ser descritivos de uma ou
mais características marcantes do grupo.

Classificação infraespecífica
Embora a espécie seja considerado o nível de classificação mais baixo, existe por vezes
necessidade de recorrer a classificações infra-específicas para acomodar a biodiversidade
reconhecida ou para descrever certos traços fenotípicos, nomeadamente os de interesse
económico entre as espécies domesticadas.
As plantas podem ser classificadas em subespécies (por exemplo Pisum sativum subsp.
sativum, a ervilha-de-cheiro), ou variedades (por exemplo, Pisum sativum var. macrocarpon,
uma variedade de ervilha). As plantas cultivadas podem ser identificadas por cultivares, cada
um deles correspondente a um determinado fenótipo (por exemplo, Pisum sativum var.
macrocarpon 'Snowbird', o cultivar Snowbird de ervilha).

Citações de autor
O nome de qualquer taxon pode ser seguido pela explicitação da "autoridade" que o criou, ou
seja pelo nome do autor que primeiro publicou uma descrição válida da entidade taxonómica.
Estes nomes de autor são em geral abreviados, seguindo um padrão de abreviatura fixado por
critérios de tradição ou de história. Em Botânica, onde existe uma lista de abreviaturas do
nome de botânicos e micologistas padronizada, por exemplo, Carolus Linnaeus é sempre
abreviado para "L." e Gregor Mendel para Mendel.
Apesar do sistema de atribuição de autoria dos taxa ser ligeiramente diferente em botânica e
em zoologia, é padrão aceite que se o nome de um taxon for alterado, a abreviatura ou nome
do autor original é sempre mantido, sendo então colocado entre parêntesis. O nome do autor
da versão em vigor é colocado a seguir ao parêntesis (geralmente só em botânica).
19

A SEGUIR, UMA CÓPIA DE UM ARTIGO QUE DIVULGA A DESCOBERTA DE


ESPÉCIES NOVAS DE PLANTAS PARA A CIÊNCIA (PROTÓLOGO).

Duas novas espécies de Calliandra Benth. (Leguminosae - Mimosoideae) da


Chapada Diamantina, Bahia, Brasil*

Élvia R. Souza1; Luciano P. Queiroz

Universidade Estadual de Feira de Santana, Departamento de Ciências Biológicas, km 03 - BR 116,


Campus, 44031-460 Feira de Santana, BA, Brasil

RESUMO
São descritas duas novas espécies de Calliandra da Chapada Diamantina, Estado da Bahia,
leste do Brasil. Calliandra geraisensis E.R. Souza & L.P. Queiroz é próxima de C. calycina Benth.,
diferindo pelo seu hábito depauperado, folhas dísticas e ausência de tricomas glandulares no perianto.
Calliandra imbricata E.R. Souza & L.P. Queiroz é uma planta arbustiva semelhante a C. erubescens
Renvoize, da qual difere pelas folhas com maior número de pinas e folíolos e pelos estames
vermelhos. Ambas as espécies ocorrem nas montanhas da Chapada Diamantina e são endêmicas
restritas de uma pequena área nas vizinhanças da cidade de Piatã.
Palavras-chave: Calliandra, Ingeae, taxonomia

ABSTRACT
Two new species of Calliandra are described from the Chapada Diamantina, state of Bahia,
eastern Brazil. Calliandra geraisensis E.R. Souza & L.P. Queiroz is related to C. calycina Benth. but
it differs in its depauperate habit, distichous leaves and absence of glandular trichomes on the perianth.
Calliandra imbricata E.R. Souza & L.P. Queiroz is a shrubby plant similar to C. erubescens Renvoize
from which it differs by having the leaves with more pinnae and more leaflets and by its red stamens.
Both species occur in the mountains of the Chapada Diamantina region and are narrow endemics from
a small area near the town of Piatã.
Key words: Calliandra, Ingeae, taxonomy

Introdução
O gênero Calliandra foi estabelecido por Bentham (1844) e inclui espécies da subfamília
Mimosoideae com androceu polistêmone e monadelfo que possuem um tipo de legume caracterizado
pela deiscência longitudinal elástica a partir do ápice e valvas com margens espessadas. O gênero foi
recentemente revisado por Barneby (1998) que o expurgou dos elementos africanos e asiáticos de
modo que, na sua atual circunscrição, é um grupo exclusivamente neotropical com 132 espécies.
A Chapada Diamantina é um dos principais centros de diversidade de Calliandra, onde
ocorrem 40 espécies, sendo 30 delas endêmicas desta região (Souza 1999, Souza 2001). Destas
espécies, 19 foram descritas a partir de 1980 (Renvoize 1981, Mackinder & Lewis 1990, Barneby
1998) demonstrando o grau de desconhecimento florístico da região e a complexidade taxonômica do
gênero. Nesta área ocorre um grande maciço montanhoso que ocupa a maior parte da região central do
Estado da Bahia, estendendo-se de cerca de 10º-14º S e de 40º-43º W.
No curso de um levantamento das espécies de Calliandra da Chapada Diamantina (Souza
2001), foram encontradas duas espécies novas que são descritas e ilustradas a seguir.
Calliandra geraisensis E.R. Souza & L.P. Queiroz, sp. nov. Tipo: BRASIL: Bahia: Piatã,
platô do alto da Serra da Tromba, ramal ao sul da estrada Piatã-Inúbia, Caminho da Ressaca, 13º03' S
e 41º49' W, 1.300 msm, 2-XI-1996 (fl.), L.P. de Queiroz, D.J.H. Hind, H.P. Bautista & M.M. da Silva
4706 (holótipo HUEFS).
Foliis ascendentibus et foliolis linearibus C. calycinae similis, sed habitu depauperato, ramis
virgatis, foliis distichis laxisque et perianthio glabrato sine pubibus glandularibus solum calycis
laciniis pubescentibus differt.
Subarbusto virgado ca. 0,6 m alt. com xilopódio robusto, amarelado; ramos, eixos foliares e
pedúnculo densamente pilosos quando jovens, ramos envelhecidos glabros. Estípulas lanceoladas, 3-7
× 1-2 mm. Folhas sésseis, ascendentes, dísticas; pecíolo1-2 mm compr.; raque 5-7 mm compr.; pinas 2
pares, mais ou menos equilongas, 4,5-5 cm compr.; folíolos 19-21 pares por pina, imbricados, 8-10 ×
20
ca. 2 mm, coriáceos, oblongos a lineares, glabros, ápice obtuso, base truncada, oblíqua, assimétrica,
nervação palmado-dimidiada, nervura principal excêntrica. Pseudoracemos terminais com fascículos
de 1-2 glomérulos pedunculados; pedúnculo 18-22 mm compr. Flores 5 por glomérulo, homomórficas,
tetrâmeras a pentâmeras, sésseis; cálice campanulado, tubo ca. 1,5 mm compr., glabro, lobos deltóides,
ciliados, 0,5-0,6 mm compr.; corola glabra, campanulada, esverdeada, tubo 3-5 mm compr., lobos
obtusos, vináceos, ca. 2 mm compr.; estames brancos, tubo estaminal 7-8 mm compr., parede interna
do tubo estaminal nectarífera, estemonozona ca. 2 mm compr., filetes livres por 18-22 mm compr.,
anteras castanhas; nectário intraestaminal ausente; ovário obovado, glabro, ca. 2 mm compr., ca. 5-
ovulado, estilete 23-28 mm compr., estigma capitado. Legume ca. 4,5 × 0,7 cm, linear-oblanceolado,
ápice arredondado, mucronado, base cuneada; valvas lenhosas, velutinas. Sementes não vistas.
Parátipo: BRASIL: Bahia: Piatã, platô do alto da Serra da Tromba, ramal ao sul da estrada
Piatã-Inúbia, Caminho da Ressaca, 13º03' S e 41º49' W, 1.300 msm, 2-XI-1996 (fl., fr.), L.P. Queiroz
et al. 4705 (HUEFS).
Ecologia e distribuição – Calliandra geraisensis é uma espécie endêmica da serra da
Tromba, no município de Piatã. Ocorre em ambiente de campo cerrado praticamente sem árvores,
sobre solo arenoso compactado a uma altitude de cerca de 1.300 msm. Este tipo de paisagem é
localmente conhecido como "gerais", de onde é derivado o epíteto específico. Foi encontrado material
florido e frutificado no mês de novembro.
Taxonomia – Calliandra geraisensis pertence à seção Calliandra (sensu Barneby 1998) e é
mais semelhante a C. calycina Benth., uma espécie relativamente bem distribuída na Chapada
Diamantina mas que, até o momento, não foi coletada na serra da Tromba (Souza 1999). Estas
espécies aproximam-se pela disposição ascendente das folhas e folíolos lineares e contíguos. No
entanto, C. geraisensis diferencia-se de C. calycina pelo hábito mais depauperado de subarbusto com
xilopódio e ramos virgados, pelas folhas dísticas, laxamente dispostas nos ramos, e pelo perianto
quase glabro, sem tricomas glandulares e com tricomas tectores apenas nos lobos do cálice, enquanto
C. calycina, por sua vez, é um arbusto robusto com caule ramificado, folhas espiraladas fortemente
congestas e imbricadas no ápice dos ramos e perianto esparsamente púberulo a glabro e com tricomas
glandulares.
Calliandra imbricata E.R. Souza & L.P. Queiroz, sp. nov. Tipo: BRASIL: Bahia: Piatã,
estrada Piatã-Inúbia a ca. 25 km NW de Piatã, 13º04'48" S e 41º55'59" W, 1.450 m, 23-II-1994 (fl.),
P.T. Sano, S. Atkins, C.M. Sakuragui, R.M. Harley & V.C. Souza CFCR 14433 (holótipo HUEFS;
isótipos HUEFS, SPF).
Habitu frutescenti, inflorescentia facie et foliolis oblongis vel obovatis palmatinervibus C.
erubescenti similis sed foliis pinnis (4-5) et pinnae foliolis (2632) numerosioribus, foliolis parvioribus
(5-8 × 3-4 mm), perianthio pubibus glandularibus instructo et staminibus rubris statim diagnoscenda.
Arbusto ca. 1 m alt.; ramos, eixos foliares e pedúnculos pubérulos com indumento entremeado
com tricomas glandulares avermelhados, ramos novos ferrugíneos. Estípulas foliáceas, lanceoladas,
ca. 2 × 1 mm. Folhas pecioladas, não ascendentes, dísticas; pecíolo 0,8-1,2 cm compr.; raque 3,5-4,5
cm compr.; pinas 4-5 pares, mais ou menos eqüilongas, às vezes com as distais menores, pinas
maiores 2,8-5,3 cm compr.; folíolos 7-16 pares, fortemente imbricados, dispostos de modo a que o
folíolo anterior sobrepõe-se ao seguinte, os medianos mais ou menos eqüilongos 58 × 3-4 mm, os
proximais e distais menores 3-5 × 23 mm, coriáceos, obovados, face adaxial pubérula a glabrescente,
face abaxial pubérula e com tricomas glandulares, ápice obtuso a arredondado, base truncada,
assimétrica, nervação palmada, nervura principal excêntrica. Pseudoracemos terminais, exsertos da
folhagem, constituídos por fascículos de 2-3 glomérulos pedunculados; pedúnculo 10-17 mm compr.;
brácteas pedunculares ausentes; brácteas florais lanceoladas, ca. 2 × 1 mm. Flores 5 por glomérulo,
homomórficas, pentâmeras, sésseis; cálice campanulado, com tricomas glandulares, tubo 1,8-2 mm
compr., lobos deltóides, ca. 0,2 mm compr.; corola campanulada, com tricomas glandulares, tubo 2,8-
5 mm compr., lobos obtusos, 22,2 mm compr.; estames vermelhos, tubo estaminal ca. 6 mm compr.,
estemonozona ca. 1,5 mm compr., filetes livres por 21-24 mm compr., anteras vináceas; nectário
intraestaminal ausente; ovário obovado, pubérulo, 22,5 mm compr., ca. 5-ovulado, estilete ca. 30 mm
compr., estigma capitado. Fruto não visto.
Ecologia e distribuição – Calliandra imbricata é uma espécie endêmica da Serra do Atalho,
no município de Piatã. Da mesma forma que C. geraisensis, ocorre em ambientes de campos cerrados
sobre solo arenoso entre rochas. Foi encontrado material florido no mês de fevereiro. A frutificação
não foi observada.
Taxonomia – Calliandra imbricata pertence à seção Calliandra. Assemelha-se a C.
erubescens Renv. no hábito arbustivo, arquitetura da inflorescência e folíolos oblongos a obovais com
nervação palmada. No entanto, pode ser diferenciada pelas folhas com maior número de pinas, (4-5
21
pares v. 2-3 em C. erubescens), maior número de folíolos por pina, (26-32 v. 10-20 em C. erubescens),
folíolos menores (5-8 × 3-4 mm v. 710 × 4-5 mm em C. erubescens), perianto com tricomas
glandulares (v. ausentes em C. erubescens) e estames vermelhos (v. brancos em C. erubescens).

Agradecimentos – E.R. de Souza agradece à Capes pela concessão de bolsa de Mestrado e


L.P. Queiroz ao CNPq pela bolsa de produtividade. As ilustrações foram preparadas por Alano
Calheiras e as diagnoses latinas foram revisadas por Cássio van de Berg. O trabalho de campo foi
apoiado pelo CNPq (Processo n. 520364/00-7).

Referências bibliográficas
BARNEBY, R.C. 1998. Silky tree, guanacaste, monkey's earring: a generic system for the synandrous
Mimosaceae of the Americas. Memoirs of the New York Botanical Garden 74:1-223.
BENTHAM, G. 1844. Notes on Mimoseae. London Journal Botanical 3:82-112, 195-226.
MACKINDER, B.A. & LEWIS, G.P. 1990. Two new species of Calliandra (Leguminosae -
Mimosoideae) from Brazil. Kew Bulletin 45:681-684.
McNEILL, J. et al. 2007. Código Internacional de Nomenclatura Botânica (Código de Viena). Rima
Editora, São carlos, SP. 181p.
RENVOIZE, S.A. 1981. The genus Calliandra (Leguminosae) in Bahia, Brazil. Kew Bulletin 36:63-
83.
SOUZA, E.R. 1999. O gênero Calliandra Benth. (Leguminosae - Mimosoideae) na região de Catolés,
Bahia, Brasil. Monografia de especialização. Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de
Santana.
SOUZA, E.R. 2001. Aspectos taxonômicos e biogeográficos do gênero Calliandra Benth.
(Leguminosae - Mimosoideae) na Chapada Diamantina, Bahia, Brasil. Dissertação de mestrado.
Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana.

_________________________
(recebido: 21 de agosto de 2003; aceito: 17 de junho de 2004)
* Parte da dissertação de mestrado da primeira autora no Programa de Pós-graduação em Botânica da
UEFS.
1 Autor para correspondência: elviasouza@yahoo.com.br

Você também pode gostar