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Alessandro Rapini
Alessandro Rapini possui graduação em Biologia pela
Universidade de São Paulo (1996), doutorado em Ciências
Biológicas (Botânica) também pela Universidade de São
Paulo (2000) e pós-doutorado em Royal Botanic Gardens
(2002), Kew, Reino Unido. É Professor da Universidade
Estadual de Feira de Santana desde 2004 e pesquisador do
CNPq desde 2007. Tem experiência na área de Sistemática
Vegetal, interessando-se especialmente pelas Apocynaceae e
pelas floras dos campos rupestres e das florestas
sazonalmente secas. Além de taxonomia clássica, seus estudos
compreendem filogenia, biogeografia e conservação de
plantas neotropicais.
Introdução à Taxonomia Vegetal
Alessandro Rapini
Apresentação
A Taxonomia Vegetal delimita grupos de plantas; ela, então, descreve e
nomeia táxons com base nesses grupos para que se possa, posteriormente,
identificar outros membros desses mesmos táxons. A circunscrição de táxons é
definida conforme os princípios de classificação, e o nome atribuído a esses
táxons é regido por um código de nomenclatura. No entanto, alterações nos
princípios da classificação e a informação acumulada a partir de diferentes
fontes de informação afetam a circunscrição dos táxons e, consequentemente,
o significado dos nomes científicos. Este processo é contínuo, mas ao regular a
aplicação de nomes, a nomenclatura tem permitido a construção de um
conhecimento robusto sobre as plantas. Os trabalhos taxonômicos
armazenam informações botânicas e os nomes científicos promovem o acesso
e a conexão dessas informações de maneira sinérgica, aumentando assim o
conhecimento sobre as plantas e sua difusão no tempo e no espaço.
Introdução
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Introdução à Taxonomia Vegetal
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Como método indutivo pelo qual organizarmos o universo, as
classificações são construções antropocêntricas concebidas com
interesses e pressupostos particulares: elas agrupam objetos e
criam classes (intenção) com base em suas propriedades, de tal
maneira que outros objetos (extensão) de mesmo tipo também
irão pertencer a essas classes. Em taxonomia, os organismos são
os objetos, e os táxons são as classes (Rapini, 2004) ou tipos
naturais de uma classificação (Ruse, 1987). Táxons são conceitos
ou colocações definidas a partir de propriedades comuns ou com
base nas relações de seus membros: eles são criados, mas não
têm existência física; podem ser modificados, mas não evoluem;
podem ser abandonados, mas não extintos (Loevtrup, 1987).
A função dos taxonomistas é delimitar, descrever e nomear
táxons de tal maneira que os organismos são identificados de
acordo com sua conformidade a esses táxons. O principal papel
da taxonomia, portanto, é circunscrever táxons e criar um
sistema hierárquico de classes. Essas classificações podem ser
construídas com diferentes objetivos. Algumas são apenas
operacionais, projetadas para serem simples e estáveis, enquanto
outras favorecerem o conteúdo empírico, sintetizando o
conhecimento de grupos ou investindo em predições.
Finalmente, algumas classificações são teóricas e representam
entidades em ação ou o resultado de processos naturais.
Considerando que as plantas são altamente diversa e
amplamente distribuídas, muito utilizadas pelos seres humanos
em diferentes partes do mundo e com diferentes propósitos, não
é surpreendente que diferentes sistemas tenham sido propostos
para se classificar este grupo. Neste capítulo, a taxonomia
botânica é introduzida considerando três componentes
integrados da sistematização da diversidade de plantas: (1) os
princípios de classificação, (2) a nomenclatura botânica e (3) a
descrição e identificação dos táxons.
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expedições desse período, várias plantas curiosas e ainda
desconhecidas chegaram à Europa vindas do oriente e do Novo
Mundo, e no século XVI, as universidades começaram a prestar
mais atenção ao estudo das plantas. As pessoas que cultivavam
plantas passaram a se interessar também em descrevê-las e não
meramente indicar seus usos, como a maioria dos herbalistas
fazia. Na Itália, Luca Ghini fundou o primeiro jardim botânico
europeu, em Pisa, e seu aluno, Andrea Cesalpino, montou um
herbário (coleção com amostras secas de espécimes de plantas)
em Bolonha, atualmente localizado no Museu de História
Natural de Florença. Cesalpino renovou a busca de Teofrasto
pela ordem e defendeu um método para organizar as plantas de
acordo com suas afinidades. Ele também usou o hábito das
plantas, um caráter recorrentemente empregado em vários
sistemas, de Teofrasto (aprox. 300 A. D.) a Hutchinson (década
de 1970), mas o associou às propriedades dos frutos e sementes.
O método de Cesalpino para a classificação das plantas foi
posteriormente aperfeiçoado por John Ray. Ray incluiu mais de
18.500 "espécies" de plantas em sua obra História das Plantas
(1686-1704), e assim, um método para a arranjar essas plantas
tornou-se necessário. Ray empregou o hábito das plantas como
um critério primário, associando-o ao número de cotilédones,
uma característica influente nos sistemas subsequente. De
acordo com a obra Methodus Plantarum Emendata et Aucta
(1703) de Ray, o método de classificação deveria ser indicado
pelas plantas e não imposto a elas: os grupos deveriam ser
ordenados de acordo com suas afinidades, estar claramente
definidos e ser suficientemente estáveis para evitar confusões.
Ray estava estabelecendo uma nova disciplina científica para
quem trabalhava com plantas: a Taxonomia (termo que só foi
introduzido por Augustin Píramo de Candolle, mais de um século
depois), abrindo assim um caminho para as contribuições de
Lineu.
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facilitar a memorização. Semelhante ao seu antecessor francês
Michael Adanson, Jussieu também propôs um sistema sintético,
com base em semelhanças gerais, definindo grupos com base
numa combinação de diferentes caracteres; porém, diferente de
seu compatriota, ele considerava os caracteres invariáveis dentro
dos grupos. O sistema de Jussieu foi seguido por outros sistemas
naturais. O professor de Botânica suíço Augustin Píramo de
Candolle, por exemplo, iniciou o esforço hercúleo de descrever
todas as plantas vasculares na obra Prodromus Systematis
Naturalis Regni Vegetabilis. Este trabalho teve início em 1824,
sendo continuado por seu filho e neto, Alphonse e Casimir de
Candolle, respectivamente, para que as dicotiledôneas fossem
concluídas apenas em 1873. A esta altura, o número de espécie já
era quase dez vezes maior do que aquele tratado por Lineu.
Sistemas naturais também foram elaborados, por exemplo, pelos
ingleses Bentham e Hooker, que prepararam o volume 3 do
Genera Plantarum (1862-1883) e, mais tarde, pelos alemães
Engler e Prantl, nos 23 volumes do Die natürlichen
Pflanzenfamilien (1887-1915).
Diferente dos sistemas artificiais, baseados em apenas um
ou poucos caracteres selecionados a priori, tal qual o sistema
sexual de Lineu ou no dos herbalistas, onde as plantas eram
muitas vezes arranjadas de acordo com os usos e efeitos, os
sistemas naturais são politéticos: baseados em muitos caracteres,
agrupando as plantas a partir de um grande número de atributos
correlacionados. Por conseguinte, espera-se que uma
classificação natural seja mais útil e informativa do que uma
artificial e seja capaz de agregar um valor preditivo maior
(Gilmour, 1937). No entanto, diferente do que tem sido
disseminado de maneira recorrente desde meados do século XX
(Mayr, 1982; Hull, 1988; Ereshefsky, 1997; Mishler, 2000), esses
sistemas pré-evolucionistas não eram essencialistas. Eles usavam
exemplares (ou tipos) como referência para associar outros
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Dado o complexo mosaico de características, os autores
evolucionistas dedicavam atenção especial a diferentes partes da
planta. Pesos eram normalmente dados para alguns caracteres, e
a classificação dependia essencialmente do julgamento de cada
autor. Consequentemente, sistemas evolucionistas também
assumem um alto grau de subjetividade e são geralmente
sustentados com base na autoridade e experiência de seus
proponentes, e não necessariamente em sua utilidade ou
objetividade. A taxonomia numérica (Sokal & Sneath, 1963)
surgiu então como reação a essa conduta. Como as características
das plantas podem ser observadas, mas relações de
ancestralidades só poderiam ser inferidas, alguns autores
defenderam classificações objetivamente fundamentadas na
quantidade de semelhanças; eles clamavam por repetibilidade e
maior objetividade na sistemática.
Embora o entomólogo alemão Willi Hennig tenha publicado
o livro Phylogenetic Systematics em meados dos anos 1950, a
Sistemática Filogenética tornou-se popular na botânica apenas
décadas mais tarde. Introduzida por Bremer & Wantorp (1978), a
abordagem filogenética logo mudou a maneira como as plantas
passaram a ser classificadas. Em um sistema filogenético, a
classificação deve considerar apenas táxons monofiléticos
(também denominados "holofiléticos" por alguns). Grupos
monofiléticos (ou clados, daí cladística) são aqueles que incluem
um ancestral comum e todos os seus descendentes;
consequentemente, esses grupos são reconhecidos por
sinapomorfias, i.e. características compartilhadas por causa de
sua ancestralidade comum. Portanto, antes de mais nada, uma
classificação filogenética exige hipóteses sobre as relações de
parentesco, que são geralmente representadas em uma árvore
filogenética: um diagrama ramificado, composto de nós e
entrenós representando ancestrais hipotéticos e de terminais
representando organismos atuais. Semelhante a um sistema
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Figura 1. Árvore filogenética com terminais (1-6) e nós internos (7-11)
numerados. O Táxon X é reconhecido pela característica W e inclui os
terminais 1, 2, 5 e 6 (A). Com base nessas informações, é possível concluir que
X não é monofilético. No entanto, para decidir a natureza filogenética de um
táxon é necessário verificar se o ancestral comum mais recente de seus
terminais (11, neste exemplo) está incluído no táxon, o que só pode ser inferido
por convenção ou pelo entendimento sobre a evolução da intensão desse táxon
(W, no caso). Se a característica W apareceu duas vezes independentemente
(convergência) a partir de W0, então o Taxon X é polifilético (b). Por outro
lado, se a característica W apareceu apenas uma vez, o Taxon X é parafilético,
reconhecido por uma característica presente no ancestral, mas não em todos
os seus descendentes (simplesiomorfia); ou seja, ele é reconhecido pela
ausência das características W1 e W2 (C).
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moleculares, as análises de parcimônia também perderam espaço
para análises baseadas em modelos evolutivos.
Avanços empíricos e teóricos sobre evolução molecular
favoreceram a implementação de modelos mais confiáveis para a
substituição dos nucleotídeos. Atualmente, a maioria dos estudos
filogenéticos em plantas utiliza sequências de DNA,
eventualmente, combinadas com morfologia ou, em uma
abordagem genômica, considerando o DNA total ou plastidial, e
empregam máxima verossimilhança e / ou inferência Bayesiana,
muitas vezes associadas a resultados de análises de parcimônia.
O impacto da sistemática filogenética na taxonomia botânica
foi enorme. Sistemas de classificação abrangentes, tais como os
propostos para as plantas vasculares sem sementes (e.g.,
Christenhusz & Chase 2014) e as plantas com flores (e.g., APG
IV, 2016), estão atualmente baseados em resultados filogenéticos
e emergiram frequentemente de trabalhos colaborativos
consensuais. As plantas vasculares foram divididas em
Lycophytina e Euphyllophytina (incluindo as plantas com
sementes e as monilófitas) e as pteridófitas já não são
reconhecidas como grupo taxonômico formal (Kenrick & Crane,
1997). Para as monilófitas, as Psilotaceae e Equisetaceae
aparecem mais relacionadas às samambaias eusporangiadas
Ophioglossaceae e Marattiaceae, respectivamente (Pryer et al.,
2004). Para as angiospermas, Amborella trichopoda aparece
geralmente como grupo irmão das demais plantas com flores,
formando um grado com Nymphaeales (Qiu et al., 1999),
incluindo as graminoides Hydatellaceae (Saarela et al., 2007).
Em sistemas evolucionistas (e.g. Cronquist, 1981), Amborella
(em Laurales) e Nymphaeales pertenciam à subclasse
Magnoliidae de Magnoliopsida (dicotiledôneas), enquanto as
Hydatellaceae eram tratadas como Liliopsida
(monocotiledôneas). Grupos tradicionais, como as
dicotiledôneas, foram abandonados, e grupos informais, como as
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Princípios de Nomenclatura
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diagnose ou descrição em latim era obrigatória para a publicação
válida de novos nomes de plantas (Knapp et al., 2011). Essas
mudanças passaram a valer mesmo antes da publicação do código de
Melbourne e certamente aumentarão a velocidade em que novas
espécies são descritas, favorecendo estudos florísticos,
particularmente em regiões megadiversas e ainda pouco conhecidas
como o Brasil.
O código de nomenclatura para plantas é composto por artigos,
recomendações, exemplos e notas e é independente dos códigos para
animais, bactérias, vírus e plantas cultivadas. Os nomes devem ser
em latim ou latinizados e devem ser validamente publicados para
serem reconhecidos; eles seguem o sistema binomial, hierárquico
estabelecido desde Lineu, 260 anos atrás. Os táxons são nomeados de
acordo com sua classificação taxonômica. Nomes de espécies são
binomiais, compostos por um epíteto específico seguindo o nome do
gênero; nomes acima do nível de espécie são uninomiais e começam
com letra maiúscula. Nomes no nível de gênero e abaixo são escritos
em itálico; aqueles abaixo de espécies também incluem um epíteto
infraespecífico e devem ter sua categoria explicitamente indicada:
subespécie (subsp.), variedade (var.) ou forma (f.). Cultivares podem
ser escritos em linguagem moderna usando aspas simples, e.g. ‘Grape
Refrigerador’. Os híbridos são indicados pelo sinal “×” ou pelo prefixo
"Notho-" e podem ser escritos como uma fórmula (ou como sua
própria combinação), tal como Oenothera biennis× O. villosa (ou
O.× drawertii). Acima do nível de gênero, as categorias são
geralmente indicadas por um sufixo que denota sua categoria. Sete
categorias taxonômicas são obrigatórias–espécie, gênero, família (-
aceae), ordem (-ales), classe (-opsida), filo ou divisão (-phyta) e reino
(-bionta), mas outras podem ser reconhecidas em níveis
intermediários, geralmente usando o prefixo “sub” ou “super”, como
subclasse (-idae) e superorder (-anae).
A nomenclatura não estabelece critérios de classificação e a
categoria dos táxons é designada por convenção. As categorias
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original está disponível, um neótipo deve, então, ser designado para o
nome. Finalmente, um epítipo pode ser designado para ajudar na
aplicação precisa do nome quando seu tipo é insuficiente para isso.
Certamente, o método do tipo é central à prática taxonômica. No
entanto, é importante salientar que tipos são designados por
convenção e estão ligados ao nome do táxon apenas; os táxons, eles
mesmos, não possuem tipo.
Quando mais de um tipo é considerado no mesmo táxon, haverá
nomes concorrentes para aquele táxon. Nesses casos, o princípio de
prioridade deve ser invocado para discernir qual é o nome correto: o
nome que foi publicado primeiro tem prioridade e é o nome correto
desse táxon (equivalente a um nome válido em zoologia); os nomes
que são publicados depois são sinônimos heterotípicos. Este é um
princípio antigo da nomenclatura, já formalizado no séc. XIX. No
entanto, ele pode ser abandonado em favor da estabilidade
nomenclatória. Para evitar alterações desvantajosas, um nome
amplamente usado, particularmente um com grande importância
econômica, pode ser conservado, independentemente de sua
prioridade de publicação, enquanto outros podem ser rejeitados. O
princípio de prioridade é aplicável apenas no nível de família e abaixo
dele; além disso, os nomes não têm prioridade fora da categoria em
que foram publicados.
Em botânica, tautonomias―espécies cujos nomes genérico e
específico são os mesmos―não são válidas. Para ser válido, um nome
deve ser aceito como correto por seus autores na publicação original.
O nome correto de uma espécie ou táxon infraespecifico é, então, a
combinação do epíteto final legítimo naquela categoria e o nome
correto do gênero ou espécie. Os autores do basiônimo (combinação
original de uma espécie) de uma combinação mais recente aparecem
entre parênteses, como em zoologia; em botânica, porém, o nome
desse autor é seguido pelos autores das combinações mais recentes.
Um nome pode ser ilegítimo porque é supérfluo, ou seja, o seu tipo
foi previamente designado a outro nome, ou porque é um homônimo
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pode refletir apenas desconhecimento e não necessariamente uma
classificação adequada (Dominguez & Wheeler, 2005). Os
taxonomistas são responsáveis por avaliar criticamente novas
informações e incorporá-las na classificação. Como este processo
muitas vezes implica rearranjos taxonômicos e modificações na
nomenclatura, é importante também atualizar continuamente as
identificações nos herbários.
Identificação consiste na atribuição de nomes científicos a
organismos cuja classificação ainda é desconhecida. Existem várias
estratégias para se identificar as plantas (Lawrence & Howthorne,
2006). Um procedimento comum é atribuir essa tarefa a
taxonomistas especializados no grupo, pois como especialistas eles
poderão usar sua experiência para proporcionar uma identificação
rápida e precisa. No entanto, esses taxonomistas nem sempre estão
disponíveis; assim, outras estratégias devem ser tentadas. Em tais
casos, a identificação de uma planta também pode ser obtida com a
consulta de monografias específicas, trabalhos técnicos completos e
cientificamente precisos. As monografias costumam combinar as
informações sobre a nomenclatura e descrições detalhadas,
ilustrações de alta qualidade, comentários sobre a taxonomia,
filogenia, nomenclatura, ecologia e distribuição geográfica
(geralmente com mapas de ocorrência); chaves analíticas para
identificação dos táxons e uma seção inicial apresentando a
morfologia do grupo também são incluídas numa monografia. Nesses
tratamentos, espécies são organizadas em ordem alfabética,
favorecendo consultas individuais diretas, ou de acordo com suas
relações, favorecendo comparações entre táxons proximamente
relacionados.
Quando são incluídas informações completas sobre taxonomia e
nomenclatura, o nome correto da espécie é seguido pelos autores e a
referência original da combinação. Começando com o basiônimo, os
outros sinônimos homotípicos, com autoria e referência, são
incluídos na sequência, depois dos dados para o nome correto, de
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As ilustrações são populares em botânica desde o livro de
Juliana. Essa obra foi dada a ela por pessoas da cidade de Honorata,
Constantinopla, em 512 dC. Delineado para as ilustrações, o livro
incluiu 383 plantas do trabalho de Dioscórides (Pavord, 2005).
Desde então, as ilustrações tornaram-se mais comuns, ajudando os
usuários a interpretarem descrições e a identificarem as plantas.
Imagens também podem ser atraentes e úteis, especialmente para a
identificação de plantas frescas, e são amplamente utilizadas em
guias de campo. Desenhos à mão são recomendados especialmente
para detalhes diagnósticos; devem conter escalas precisas,
permitindo consultas e comparações com as descrições, e as legendas
devem ser detalhadas, indicando os espécimes utilizados para a
ilustração.
Como trabalho científico, um estudo taxonômico deve incluir o
material examinado pelos autores, com as seguintes informações de
cada coleção: localidade, data, estado fenológico, coletor e número, e
herbários com duplicatas. No entanto, algumas monografias estão
baseadas em centenas de amostras. Nesses casos, é recomendável a
indicação de um material selecionado que represente a variação
morfológica e a distribuição da espécie, e incluir a lista completa de
exsicatas examinadas no final do trabalho como material examinado,
apenas com a referência das coletas (primeiro coletor e número) e
sua identificação (o número da espécie, conforme sua ordem no
tratamento).
Desde Lamarck, os caracteres usados em chaves de identificação
têm sido dissociados daqueles utilizados na classificação, permitindo
chaves artificiais, diagnósticas e pragmáticas, concebidas para a
identificação fácil de táxons em classificações naturais (e
filogenéticas). Uma chave consiste de pares de colocações
contrastantes (passos), de preferência mutualmente excludentes, as
quais são sequencialmente seguidas pelo usuário conforme sua
melhor adequação aos atributos da amostra a ser identificada, até
que um táxon é alcançado. A inclusão de mais atributos por passo é
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possibilidade de uma nova ocorrência.
Códigos de barras de DNA são uma outra estratégia para
identificação de plantas. São sequências curtas e padronizadas de
DNA conservadas dentro das espécies, porém suficientemente
variáveis entre espécies a ponto de discriminá-las. Esta tecnologia é
particularmente interessante porque permite a identificação sem
necessidade de um especialista e está baseada exclusivamente em
fragmentos de DNA. Para animais, o gene COI mitocondrial é
utilizado como um código de barras de DNA universal; no entanto,
esta região em plantas evolui muito lentamente, e outras regiões
estão sendo testadas. Até agora, a melhor estratégia tem sido
combinar duas regiões do plastídio (matK e rbcL; CBOL Plant
Working Group, 2009). Embora essa combinação de marcadores não
seja capaz de identificar mais de 25% das espécies amostradas,
quando a estratégia é utilizada localmente, o sucesso na identificação
chega a quase 100%. Entretanto, considerando que a região do DNA
com a maior número de sequências disponíveis para plantas, o gene
rbcL, foi sequenciado para menos de 15.000 espécies e a diversidade
de plantas é cerca de 380.000 espécies, entendemos por que o uso
dos códigos de barras de DNA em botânica ainda está em sua
infância (Ausubel, 2009).
Trabalhos taxonômicos são documentos sobre nossa
biodiversidade. Primeiramente, funcionam como certificados de
nascimento de um táxon. Eles também registram novas informações
conforme os dados são coletados. Reúnem essas informações em
monografias, fazendo com que o conhecimento das plantas fique
disponível ao público em geral e seja perpetuado entre gerações.
Ainda disso, o trabalho taxonômico está perdendo espaço na
comunidade científica. Isto porque, apesar dos esforços, o processo é
lento e as publicações são usadas principalmente para consultas,
dificilmente gerando citações. No entanto, a taxonomia se adéqua
bem à internet, onde espaço não é uma limitação, de tal modo que os
dados podem ser acumulados continuamente, as ilustrações podem
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imediatamente a partir do The Plant List. Neste local, o usuário pode
muitas vezes confirmar o estado do nome, se é aceito ou não, e
continuar para outros sites, tais como a Biodiversity Heritage
Library (BHL; http: // www. Biodiversitylibrary.org/) e o National
Center for Biotechnology Information (NBCI;
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/), com diferentes possibilidades de
informações associadas ao táxon, da literatura a sequências
genéticas.
Considerações Finais
Agradecimentos
Referências Bibliográficas
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CBOL Plant Working Group. 2009. A DNA barcode for land
plants. Proceedings of the Natural Academy of Sciences
of the United States of America 106: 12794-12797.
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Introdução à Taxonomia Vegetal
Lidén, M., Oxelman, B., Backlund, A., Andersson, L., Bremer, B.,
Eriksson, R., Moberg, R., Nordal, I., Persson, K., Thulin, M. &
28
Zimmer, B. 1997. Charlie is our darling. Taxon 46: 735-738.
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Introdução à Taxonomia Vegetal
Publishing-London
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Sokal, R. R. & Sneath, P. H. 1963. Principles of numerical
taxonomy. Freeman-San Francisco
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