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CEEP RURAL DEP.

RIBEIRO MAGALHÃES
POVOADO CAPIBERIBE, ZONA RURAL, COCAL-PI
COORDENAÇÃO DA IV FEIRA TÉCNICA DE APRENDIZAGEM
PROFISSIONAL – FETAP
EDIÇÃO 2017

APOSTILA
MANUAL BÁSICO DE PROCEDIMENTOS PARA
ESTUDO DE HERBÁRIO

MINICURSO
TÉCNICAS E MANEJO DE HERBÁRIO

Organizadores e Ministrantes:
Ledyanne Maria Rocha da Silva (Engª Agrônoma)
Manoel de Jesus Nunes da Costa Junior (Engº Agrônomo)

Colaboração:
Osmarina Rocha Silva (Licenciada em Biologia)
Jéssica de Carvalho Silva (Licenciada em Biologia)

Cocal – Piauí
2017
1 Introdução

A Botânica do grego “botanike” é a ciência que estuda as plantas


(PERAÇOLI; CARNIATO. 2008). Estas são componentes formadores do Reino
Plantae, reino composto exclusivamente por seres eucariontes, que possuem
uma organela na qual está presente a clorofila denominada cloroplasto, capaz
de realizar a fotossíntese. Durante o processo fotossintético, as plantas
sintetizam seu próprio alimento, consideradas, portanto, autótrofas. São
extremamente importantes para a reposição do oxigênio da atmosfera,
liberando este composto, essencial para a sobrevivência de seres aeróbicos
por fazer parte do produto da respiração celular (RAVEN et al. 2001).
Desta forma, os organismos do Reino Plantae são essenciais para a
manutenção da vida complexa na Terra, já que estes geralmente estão na base
da cadeia trófica, servindo de alimento para animais herbívoros. Apesar da
importância das plantas, o estudo da Botânica ainda apresenta dificuldades
devido ao fato de conter um conteúdo extremamente denso e ter como base o
estudo evolutivo, taxonômico, morfológico e fisiológico dos vegetais.
Segundo Siqueira et al. (2007), o ensino voltado para a prática, torna os
alunos questionadores, interagindo mais em sala de aula, capazes de
relacionar o que estavam aprendendo com os conhecimentos e experiências
que já possuíam. Com isto, o aluno observa a teoria e acaba por conferir
significados próprios das aulas práticas, pois somente com a teoria o aluno não
possui capacidade para desenvolver senso crítico e criativo.
Como alternativa a essa problemática, a utilização de uma coleção
botânica como material didático em aulas práticas torna-se uma alternativa
viável ao desinteresse e à dificuldade de conhecimento em Botânica, já citadas.
Coleções botânicas são reuniões ordenadas de vegetais ou de partes
deles para fins científicos. Para Sakane (1984, apud FAGUNDES; GONZALES,
2006), coleção botânica é “uma coleção de plantas mortas, secas, e montadas
de forma especial, destinadas a servir como documentação para vários fins”.
Em coleções botânicas encontram-se depositados documentos que certificam a
diversidade da riqueza da flora de uma região, formando assim o que
chamamos de herbário.
Seguindo a tendência atual, há coleções botânicas virtuais de floras
locais, regionais ou nacionais. Elas são compostas por fotos de plantas inteiras
ou de ramos com flores e frutos. Entre essas coleções, vamos dar ênfase ao
Herbário.

2 Herbário

Herbário - do latim herbarium - a coleção de plantas ou de partes delas,


secas, armazenadas em armários próprios e organizadas segundo uma
sistemática ou em ordem alfabética de famílias. Os herbários são
prioritariamente utilizados para estudos da flora de uma determinada região,
país ou continente, enfocando morfologia, taxonomia, biogeografia, história e
outros campos do conhecimento.
Em outras palavras, herbário é uma coleção dinâmica de espécimes de
plantas, de modo geral desidratados ou preservados em meio líquido,
destinada a servir como documentação da diversidade vegetal. Entre outras
finalidades, os herbários são utilizados para:
(a) identificação de espécimes de plantas e fungos desconhecidos, pela
comparação com outros espécimes da coleção herborizada, previamente
identificados por especialistas;
(b) inventário da flora de uma determinada área;
(c) reconstituição da vegetação e de uma região;
(d) avaliação da ação do homem, da poluição ou do efeito de eventos e
perturbações naturais na vegetação de uma área específica;
(e) reconstituição de caminhos percorridos por naturalistas, botânicos ou
coletores, e de parte de suas histórias de vida.
Desta forma, muitos dados podem ser obtidos no manuseio do material
herborizado, ou nas consultas às informações contidas nas etiquetas dos
exemplares, disponíveis em bancos de dados, muitos dos quais online ou em
fichários nos próprios herbários.
Os herbários têm como objetivo principal possibilitar e manter a
comunicação científica entre os taxonomistas do mundo (JUDD et al. 2009).
Essa comunicação é feita por meio do intercâmbio entre herbários, que envolve
permutas, empréstimos ou doações de espécimes, visando à sua identificação
por taxonomistas especialistas vinculados aos acervos. Dessa forma, os
espécimes são corretamente identificados, aumentando a importância científica
da coleção e permitindo o reconhecimento de floras locais, regionais, nacionais
ou internacionais.
O Brasil abriga a flora mais rica do mundo (GIULIETTI et al. 2005) e,
apesar dessa realidade, possui apenas 114 herbários (PEIXOTO & MORIM
2003) - a maioria deles com coleções de floras locais ou regionais. Nos
maiores herbários brasileiros, a coleção está representada por espécies
vegetais das floras do Brasil e também do exterior. Os três maiores e também
os mais antigos são: o do Museu Nacional do Rio de Janeiro (sigla R), fundado
em 1808, o do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (RB), fundado em 1890, e o
do Instituto de Botânica de São Paulo (SP), fundado em 1917 (PEIXOTO &
MORIM, 2003); eles contam com, respectivamente, 550.000, 600.000 e
370.000 espécimes. O herbário mais antigo do mundo é o do Musée National
d’Historie Naturelle (P), em Paris, fundado em 1635, que tem 8.000.000 de
espécimes (PEIXOTO & MORIM, 2003).

3 Importância de um herbário

Um herbário é um forte instrumento didático para o treinamento de


estudantes e técnicos no reconhecimento da flora de um determinado local ou
região para se ter conhecimentos sobre sistemática, morfologia, taxonomia,
evolução e fitogeografia. No Ensino Médio, pode caracterizar-se como uma
valiosa estratégia para desenvolver conceitos de biologia a partir da
manipulação de plantas e suas estruturas de forma a tornar a aprendizagem
mais envolvente e instigante, considerando que a Botânica apresentada como
uma ciência de estudo dentro da Biologia.
A função primordial dos herbários é a documentação de pesquisas
botânicas, especialmente as taxonômicas e florísticas.
Para obter informações sobre reconhecimento (identificação),
nomenclatura, classificação, distribuição e ecologia de qualquer planta são
necessários exames precisos de cada exemplar, o que se tornaria muito difícil
em campo. A investigação taxonômica se baseia, então, em coleções de
plantas, construídas e preservadas ao longo do tempo nos herbários.
Além da importância para a taxonomia, mais recentemente os herbários
passaram a ser reconhecidos como instrumentos essenciais para pesquisas
genéticas e agronômicas, em que as exsicatas documentam a variabilidade
amostrada.
Longhi-Wagner (1998) destaca a importância dos herbários como base
para elaboração de floras e estudos de biodiversidade, fornecendo dados
valiosos que podem ser utilizados para enquadrar as espécies vegetais em
diferentes categorias, como ameaçadas, vulneráveis ou em extinção, dados
esses que servem de argumento à indicação de áreas a serem preservadas.
Um herbário é uma coleção de plantas composta por amostras secas de
ramos com folhas, flores e/ou frutos, fixadas num pedaço de cartolina. Esta
amostra é chamada EXSICATA, a qual é acompanhada de uma etiqueta com
dados sobre o nome científico e descrição da planta - a identificação, local e
ambiente de coleta; coletor e data de coleta. A exsicata é a unidade básica de
coleção de um herbário, pois constitui material testemunho referencial para
futuros estudos. Ela é registrada e numerada antes de ser incorporada ao
acervo.
As exsicatas podem ser incorporadas ao herbário seguindo 2 critérios:
(a) Sequência alfa-numérico dentro da hierarquia taxonômica de Classe,
Ordem, Família, Genero e Espécie; ou
(b) Sequência filogenética, obedecendo a ordem de parentesco e evolução
dentro dos grupos de hierarquia taxonômica. Na sequência filogenética, os
sistemas de classificação mais utilizados são o de Engler e o de Cronsquist &
Taktajan. O sistema a ser seguido será alfa-numérico, por tornar mais fácil a
localização das plantas.

4 Finalidades de um herbário

Documentar, por meio de espécimes de referência, a diversidade de


plantas de um local ou região é a principal finalidade de um herbário.
Entretanto, há outras, dentre as quais se destacam:
 funcionar como um centro de identificação de plantas, servindo
concomitantemente como centro de capacitação para taxonomistas;
 servir como acervo para documentação científica de pesquisas sobre
flora, vegetação e comunidades de fungos e, ao mesmo tempo, fornecer
material de análise para pesquisas;
 fornecer dados e informações para subsidiar políticas públicas de
preservação ambiental.

5 Manejo de coleções de um herbário

5.1 Herborização

Herborização consiste em coletar plantas vivas e secá-las nas devidas


condições para que conservem da melhor forma possível seus estudos, para o
estudo da botânica. Compreendendo assim uma série de etapas e
procedimentos, iniciando-se pela coleta, prensagem, secagem e montagem
das exsicatas que precedem a inclusão do espécime na coleção.

5.2 Ferramentas (para a coleta do material e para herborizar)

As plantas devem ser colhidas, sempre que possível, com todos os


elementos, isto é, com raízes, caules folhas, flores e frutos, se possível.
Para esse momento precisar-se-á: tesoura de podar, sacos plásticos,
papelão, jornal, folhas de cartolina (de preferência cor branca) ou papel
madeira, cordão e etiquetas (para numerar e identificar o nome popular)

5.3 Prensagem

Os exemplares que serão desidratados devem ser prensados logo após


o ato da coleta ou no final do dia de trabalho. A prensagem exige cuidados
especiais porque desta etapa depende a qualidade da futura exsicata, tanto em
termos de uniformidade de secagem como a perfeita exposição das folhas,
frutos e/ou flores. A prensagem é utilizada utilizando-se uma prensa lisa, que
poderá ser papelão ou tábua.
Alguns cuidados são indispensáveis e importantes, tais como: as flores e
floras devem ser colocadas de maneira que não fiquem sobrepostas ou
dobradas, para que não dificulte as análises posteriores; colocar as folhas da
planta viradas umas para cima e outras para baixo; verificar se a pequena
etiqueta com o número de referência se encontra devidamente colocada na
planta.
As plantas coletadas são arrumadas em cima do jornal e colocadas o
papelão por cima, e assim, sucessivamente, até completar a totalidade do
material coletado. Esse conjunto empilhado é então colocado entre placas de
madeira trançadas (que pode ser usada uma tábua lisa) e atado por cordões
resistentes, de modo a ficar sob pressão. Forma-se, desta maneira, a prensa
(Figura 1 e 2).
Figura 1 – Material vegetal sendo prensado entre folhas de jornal. Note a tesoura de poda,
auxiliar para cortar as partes da planta de maior interesse, o papelão, o alumínio corrugado
e o cordão para amarrar a prensa. Prensa (de madeira leve) com material para
herborização, devidamente amarrada com cordões (Figura 2).
Observação: Quando a planta coletada ultrapassa as dimensões do papel
jornal, deve-se dobrá-la, preferencialmente em “N” ou “V”, enquanto verde, de
forma a caber na cartolina. É importante deixar visíveis as partes mais
necessárias para o exame do material, como as flores, o ápice e a base das
folhas.
De modo geral, as briófitas não necessitam ser prensadas e
desidratadas em estufa. Após a coleta, as amostras podem ser acondicionadas
em sacos de papel ou madeira e deixadas ao ar livre, onde se desidratam
rapidamente. No caso de material muito úmido, o excesso de umidade pode
ser retirado com papel toalha ou equivalente.

5.4 Secagem

A secagem das coletas deve começar o mais cedo possível, a fim de


evitar queda das folhas e/ou flores.
A secagem mais aconselhável é aquela feita em estufas (60ºC) de
resistência elétrica com ou sem circulação de ar ou aquecidas por lâmpadas
(Figura 3).

Figura 3 - Estufa para choque térmico do material a ser depositado no herbário.

O tempo necessário para se secar um espécime depende de sua


natureza e da estufa utilizada. Para melhor desidratação, é importante manter
boa circulação de ar na estufa e trocar os jornais diariamente. Deve-se evitar o
ressecamento excessivo, pois os espécimes perderão muito do seu colorido,
além de se tornarem quebradiços.

5.5 Montagem das exsicatas

Após a secagem dos espécimes, é feita a montagem das exsicatas


(Figura 4) e seu registro no herbário.

Figura 4 – Montagem de exsicatas.

A montagem dos exemplares consiste em afixar o espécime e a


etiqueta, com os dados a ele correspondentes, em uma cartolina. Recomenda-
se que o exemplar seja colado com cola solúvel em água.
As etiquetas são coladas, de preferência, no canto inferior direito da
cartolina (Figura 5).

Figura 5 - Pasta completa, com exsicata para ser incorporada à coleção.


ANEXOS

Procedimentos de herborização de exsicatas

Figura 6 – Folha de cartolina para montagem das pastas das exsicatas.

Figura 7 – Papelão usado para prensagem e fixação do material coletado.

Figura 8 – Montagem do “sanduíche do material biológico coletado” entre jornais para


desidratação.

Figura 9 – “Sanduíche” encerrado com papelão pronto para a amarra e para a prensagem.
Modelo de ficha de identificação do herbário

HERBÁRIO AGROTEC Dep. Ribeiro Magalhães

Família:

Nome científico:

Nome popular/vulgar:

Data da coleta:

Local de coleta:

Nome do coletor:

Referências

FAGUNDES, J. A; GONZALES, C. E. F. Herbário escolar: suas


contribuições ao estudo da Botânica no Ensino Médio. 2006. Disponível
em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1675-8.pdf.
Acesso em: 25 de maio de 2010.

GIULIETTI et al. Biodiversidade e conservação das plantas no Brasil.


Megadiversidade 1:52-61, 2005.

JUDD et al. Sistemática vegetal: um enfoque filogenético. 3. ed. Porto Alegre:


Artmed, 612p., 2009.

LONGHI-WAGNER, H.M.A. Importância do Herbário para a Pesquisa Botânica.


In: ENCONTRO ESTADUAL DE HERBÁRIOS, FEPAGRO, 1998, Porto Alegre
(Nov. 1997), Anais do Encontro. Porto Alegre: FEPAGRO, v.1, p. 28-29.

PEIXOTO, A. L.; MORIM, M. P. Coleções botânicas: documentação da


biodiversidade brasileira. Ciência e Cultura v. 55 p. 21-24, 2003.

PERAÇOLI, L. T.; CARNIATTO, I. Atividade contextualizada no ensino de


Ciências como forma de enriquecer os conteúdos, levando o aluno a uma
aprendizagem cognitiva significativa. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE
EDUCAÇÃO, 1, 2008, Cascavel-PR.

RAVEN et al. Biologia Vegetal. 6ª ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara


Koogan, 2001.

SIQUEIRA et al. Uma abordagem prática da Botânica no Ensino Médio:


este assunto contribui com a construção dos conhecimentos dos alunos? 2007.
Disponível em:
http://www.pec.uem.br/pec_uem/revistas/arqmudi/volume_11/numero_01/1-
Siqueira%20et%20al..pdf. Acesso em: 17 de maio de 2010.
PROPOSTA DE ATIVIDADE (PRÁTICA)

1) Criar um herbário.
2) Coletar 5 espécies, preferencialmente nativas, com flores, folhas (grossas e
estreitas), fazer a prensagem, secagem, ficha de identificação e montagem das
exsicatas.
3) Tirar fotos de todas as etapas para exposição da feira (culminância) na
sexta-feira.

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