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Introdução
A ecologia é o campo científico que estuda as relações dos seres vivos entre si e com o
ambiente. Assim sendo, fazem parte da ecologia tanto o meio biótico – seres vivos – como o meio
abiótico – ar, água, luz solar, solo etc.
Organismos
É preciso conhecer alguns conceitos ecológicos antes de avançar nos estudos dos
organismos. Um dos conceitos mais importantes é o de espécie, que é o conjunto de organismos
semelhantes capazes de cruzar em condições naturais, produzindo descendentes férteis. Apesar
de haver outros conceitos de espécie que não o reprodutivo (como, por exemplo, conceitos da
biologia molecular), este é certamente o mais disseminado.
Os organismos são classificados em organismos unitários e modulares. Os organismos
unitários são aqueles cuja morfologia geral é previsível e determinada, ou seja, apresentam
dimensões e formas definidas. A maioria dos animais são organismos unitários. Por exemplo: nós
seres humanos apresentamos uma cabeça, dois olhos, um nariz e uma boca. Nascemos bebês e,
em condições favoráveis, morremos idosos. Nos organismos unitários essas características não
mudam. Por mais tempo que um ser humano viva, ele não desenvolverá um segundo nariz, por
exemplo. Já os organismos modulares possuem desenvolvimento indeterminado. Eles crescem
por meio da produção repetida de módulos, como folhas, pólipos etc. Árvores, corais, esponjas e
cogumelos são exemplos de organismos modulares. Na maioria dos casos os organismos
modulares são sésseis (imóveis) e sua morfologia é ainda mais dependente das interações com o
meio ambiente do que a dos organismos unitários.
Um organismo não muda sua constituição genética. Ele nasce e morre com o mesmo
DNA. Mas a expressão desses genes pode variar (para quem tiver interesse sobre o tema,
recomendamos pesquisar sobre epigenética). Assim, um mesmo perfil genético pode se traduzir
em diferentes expressões morfológicas e fisiológicas, a depender do ambiente. Por isso, um
organismo pode apresentar diversas formas, no que chamamos de plasticidade fenotípica. Quanto
mais plástico é o organismo, em mais formas ele pode se apresentar em resposta a variações
ambientais. Uma certa planta herbácea pode se apresentar frondosa e com folhas largas na
presença de água e com menor porte e folhas pequenas em ambientes com escassez hídrica. Isso
se dá porque sua carga genética permite tais configurações distintas em resposta a diferentes
condições ambientais e disponibilidades de recursos.
Cada organismo tem sua carga genética. Quando reunidos em uma população (conjunto
de organismos de uma mesma espécie em um dado local e momento), temos diferentes perfis
genéticos para a espécie em questão. Quanto mais heterogêneas forem as características genéticas
dos organismos, maior a variação genética. Essa variação é positiva por dois motivos: Primeiro,
quanto mais alelos diferentes para um mesmo gene, menores as chances de homozigose recessiva
(quando dois organismos com o mesmo alelo se cruzam e o descendente herda duas cópias dele).
A homozigose recessiva pode ser negativa para o indivíduo se o alelo em questão for deletério
(causador de doenças genéticas ou redutor da taxa de reprodução ou de sobrevivência de um
organismo).
Segundo, quanto o perfil genético da população varia muito, isso significa que diferentes
organismos desta população podem viver segundo condições ambientais distintas. Consideremos
uma população de uma espécie x com baixa variação genética, de modo que todos os organismos
sobrevivem apenas sob temperaturas entre 20 e 40°C. Se outra população desta mesma espécie
possuía alta variação genética, é possível que alguns organismos consigam sobreviver sob
temperaturas menores que 20 ou maiores que 40°C. Assim, caso o ambiente mude
repentinamente, assumindo temperaturas menores que 20 ou maiores que 40°C, a primeira
população pereceria por completo, enquanto a segunda teria alguns sobreviventes, que, por sua
vez, poderiam reproduzir-se de modo a recuperar a população. É isso que acontece, por exemplo,
com monoculturas de cana-de-açúcar, que possuem baixíssima ou nenhuma variação genética
(clones) e que, por isso, estão muito mais vulneráveis a oscilações ambientais do que um cultivo
com alta variação genética.
Essa variação genética também é responsável pela evolução das espécies. O processo
evolutivo funciona da seguinte maneira: uma população possui variação genética, gerada, por
exemplo, por mutações. Assim, cada indivíduo terá uma característica geneticamente definida.
Aquelas características que foram vantajosas para a vida em um dado ambiente serão beneficiadas
pela seleção natural. Por outro lado, a seleção natural eliminará as características desvantajosas.
Como isso ocorre? Imaginemos que em um dado ambiente havia apenas mariposas brancas e, por
uma mutação no gene que define a coloração das mariposas, surgiram mariposas marrons.
Imaginemos também que, na região onde vivem as mariposas, é extremamente benéfico ser
marrom, uma vez que os mariposas marrons conseguem se camuflar nos troncos das árvores,
enganando os predadores. Assim, elas morrem menos por predação e conseguem se reproduzir
melhor. Se elas se reproduzem mais, as próximas gerações terão mais organismos com essa
característica (cor marrom) do que com coloração branca. Assim, a evolução nada mais é do que
essa mudança no repertório genético de uma população. Costuma ser impulsionada quando: (1)
há uma mutação extremamente benéfica para o organismo em certas condições ambientais, e (2)
quando há uma mudança no ambiente que beneficia certo perfil genético em detrimento de outros.
É importante ter em conta que um organismo não evolui e nem se adapta, uma vez que o
DNA deste não muda. Quando um organismo sai de uma condição ambiental para outra, ele se
ajusta, lançando mão da sua plasticidade fenotípica. Adaptação (característica comum em uma
população por oferecer uma função melhorada) e evolução são atributos da população, ou seja,
uma população evolui com a mudança no seu repertório genético, mas cada indivíduo mantém
seu próprio perfil genético.
Populações
Uma população é um conjunto de organismos da mesma espécie que vive em uma mesma
área ao mesmo tempo. Seu tamanho pode ser alterado por quatro fatores: natalidade, mortalidade,
imigração e emigração. Um dos desafios da ecologia é entender como as populações se
desenvolvem (crescem, diminuem ou se mantém estáveis). Esse entendimento ajuda, inclusive,
no controle de pragas, já que é necessário entender a que velocidade certas espécies atingem
populações capazes de causar danos a culturas agrícolas.
Muitos fatores bióticos podem ser utilizados como bons exemplos de fatores denso-
dependentes. A competição, o parasitismo e os patógenos agem de maneira dependente da
densidade. Neste caso, enquanto a densidade permanece baixa, a taxa de mortalidade permanece
constante. Assim, os fatores dependentes da densidade interferem diretamente nas taxas de
natalidade e mortalidade da população. A competição, por exemplo, pode ser bastante
inexpressiva quando a população é pequena e muitos recursos estão disponíveis. No entanto, com
o crescimento da população, a competição começa a se intensificar, de modo a frear a natalidade
e impulsionar a mortalidade. Os patógenos também são bons exemplos de fatores denso-
dependentes, uma vez que a probabilidade de contágio aumenta com o aumento da população.
N(atual)=N(anterior)+B-D+I-E
N(t+1)=Nt+B-D ou ΔN=B-D
dN/dt=B-D
dN/dt=rN(1-N/K)
A fração N/K representa o quanto que foi preenchido da capacidade de suporte em termos de
tamanho populacional inicial. Assim, 1-N/K representa a proporção não usada da capacidade de
suporte, ou seja, o que ainda há de disponível para o crescimento da população.
O termo Metapopulação foi primariamente introduzido por Levins em 1970 para designar
uma população de populações que localmente se extinguem e são recolonizadas. Um ano antes,
o mesmo Levins já havia sugerido modelos matemáticos para estudar tais metapopulações,
mesmo sem haver cunhado o termo. Esses estudos foram realizados no âmbito do controle de
pragas, mas a idéia de metapopulações, bem como os conceitos e modelos atrelados a ela, também
são importantes para a conservação da biodiversidade.
O curto conceito de Levins deu margem a diversas interpretações sobre o que de fato é
uma metapopulação. Conceitos mais abrangentes denominam de metapopulação o conjunto de
populações locais discretas conectadas por migrações, ou um sistema de populações locais
discretas, em que cada uma determina sua própria dinâmica interna, mas que possuem um grau
de influência demográfica de outras populações através da dispersão de indivíduos.
(I) As populações locais devem habitar manchas discretas de habitat, bem separadas do restante
da paisagem. Este resto da paisagem é inadequado para a espécie e é chamado de matriz.
(II) Dinâmica assincrônica das populações, de modo que cada uma delas possua eventos não
correlacionados de migração e extinção. Caso esses eventos fossem relacionados e as dinâmicas
fossem sincrônicas, essa situação não se trataria de um metapopulação, mas provavelmente de
uma população única.
(III) As manchas de habitat em que residem as populações não podem estar isoladas a ponto de
evitarem a dispersão entre populações. Caso isso ocorra, não haverá conexões entre as populações
e suas dinâmicas serão puramente locais, o que caracteriza populações relictuais. A persistência
destas em longo prazo tenderá a ser menor em relação a metapoulações verdadeiras.
(IV) Deve haver certo grau de denso-dependência nas populações locais, o que facilita eventos de
migração e extinção.
Alguns autores vêm tratando de metapopulações como “um conjunto de
subpopulações...”, porém a ideia vigente é que estas não são subpopulações, porém verdadeiras
populações, já que suas dinâmicas internas são diferentes.
Comunidades
Atualmente uma ideia intermediária vem sendo levada em conta: a de que as comunidades
podem ser montadas desordenadamente, mas alguns atributos das comunidades surgem apenas
das interações entre as espécies. As comunidades apresentam propriedades coletivas e
propriedades emergentes. As propriedades coletivas são aquelas que se expressam quando todos
os elementos da comunidade são considerados, como a diversidade de espécies ou a biomassa da
comunidade. As propriedades emergentes, por sua vez, são a soma das propriedades dos
organismos mais suas interações. Por esse motivo, a natureza da comunidade não pode ser
analisada somente como a soma das suas espécies constituintes.
A escola holística considera que as espécies que fazem parte de uma comunidade estão
intimamente ligadas umas às outras, de maneira que os limites de distribuição das espécies de
uma comunidade coincidem, ou seja, as fronteiras entre uma comunidade e outra são bem
abruptas e bem definidas. Essa organização é chamada de comunidade fechada. As áreas de
transição (limites) entre uma comunidade e outra são chamadas de ecótono.
Durante muito tempo a ideia de comunidade fechada foi predominante na ecologia, pois
as comunidades mais estudadas eram aquelas de regiões temperadas, onde, muitas vezes, as
fronteiras entre as elas são de fato abruptas. No entanto, quando os estudos ecológicos foram
estendidos para os trópicos, as observações de fronteiras pouco evidentes foram ficando cada vez
mais frequentes, dando força ao conceito de comunidade aberta.
Como as comunidades possuem diversos organismos, que podem ser plantas, animais,
fungos etc., é comum que ela nem sempre seja estudada de forma completa. Assim, a maioria dos
estudos ecológicos de comunidades foca em grupos específicos. Exemplo disto são os estudos
fitossociológicos, que tratam da estrutura e composição das plantas de determinado local. Além
disso, como muitas vezes é difícil estabelecer os limites de uma comunidade, a escolha sobre a
área que será estudada para caracterizar certas comunidades costuma ser arbitrária.
Comunidade A –
No caso da comunidade B:
Logo, a recíproca Simpson para a comunidade B é 1/0,9412 = 1.06. Isso significa que, na
prática, a comunidade funcionaria quase como se tivesse apenas uma espécie.
A sucessão pode ser primária ou secundária. Ela é primária quando a área de ocorrência
da sucessão não havia sido colonizada anteriormente por comunidades. Por exemplo: crateras
após a queda de meteoros, áreas tomadas por lavas de vulcões, substratos formados após o
derretimento de geleiras etc. A sucessão é considerada secundária quando sua área de ocorrência
já estava colonizada por comunidades. No caso de ecossistemas terrestres, quando a vegetação de
uma área foi parcial ou completamente removida, o solo ainda mantém um banco de sementes
que será útil para a sucessão.
O nicho ecológico pode ser dividido em dois tipos: o nicho fundamental e o nicho
realizado. O nicho fundamental considera o conjunto das condições e de recursos que permitem
a manutenção de uma população viável, na ausência de outras espécies. Ou seja, trata-se do
potencial de distribuição da espécie. Já o nicho realizado é o que acontece na prática, considerando
as interações com outras espécies (competidores, predadores, etc.). Por exemplo, uma espécie de
ave A pode viver entre 20 e 40ºC, o que constitui uma dimensão do seu nicho fundamental. No
entanto, em ambientes com temperaturas entre 30 e 40ºC ocorre uma espécie de ave B, que é
melhor competidora que a espécie A, consumindo os recursos disponíveis de forma mais eficiente.
Sendo assim, a espécie A, por mais que tenha potencial de viver em ambientes entre 30 e 40ºC,
na prática não o faz. Assim, temperaturas entre 20 e 30ºC fazem parte do nicho realizado da ave
A.
Ecossistemas
Três leis da física são fundamentais para entender o funcionamento dos ecossistemas: a
lei da conservação da massa, a primeira lei da termodinâmica e a segunda lei da termodinâmica.
A lei da conservação da massa postula que, em qualquer sistema, nunca se cria nem
elimina matéria, apenas é possível transformá-la de uma forma para outra. Desse modo, sabendo-
se que a matéria não é criada, mas sim transformada, sua reciclagem é essencial para o
funcionamento dos ecossistemas. O grande problema da sociedade moderna é que os resíduos são
gerados em uma velocidade muito maior que a capacidade de reciclagem do meio, o que leva a
desequilíbrios em termos de matéria disponível para os ecossistemas naturais e criados pelos seres
humanos.
Uma consequência dessa lei para os ecossistemas é que, uma vez que a energia é
constantemente dissipada em forma de calor, a viabilidade dos ecossistemas é apenas assegurada
porque existe um fornecimento contínuo de energia pelo sol. Outras consequências dessa lei, em
termos de cadeias alimentares, serão discutidas a seguir.
Assim, uma vez que a energia útil decresce ao longo da cadeia alimentar, quanto mais se
afasta do primeiro nível trófico, menor será o número de consumidores que podem ser sustentados
por um dado número de produtores. Isso explica porque existe um padrão bastante evidente na
natureza: quase todos os ecossistemas estudados (sem considerar patógenos e parasitas) têm entre
2 e 5 níveis tróficos, a maioria destes possuindo de 3 a 4. Uma cadeia alimentar com mais níveis
do que 5 exigiria uma produção primária absurda e uma eficiência igualmente absurda na
passagem de energia útil.
A perda de energia útil com o passar da cadeia alimentar também explica porque existe
uma maior eficiência na cadeia produtor – ser humano do que na cadeia produtor – boi – ser
humano. Por essa razão, uma dieta vegetariana é mais sustentável do que uma dieta carnívora,
pois permite sustentar um maior contingente de seres humanos ou, para um mesmo número de
pessoas, fazer uso de uma menor produção.
Para onde vai a energia de baixa qualidade (indisponível) ao passar da cadeia alimentar?
A primeira grande “perda” de energia se dá na base da cadeia alimentar. Em ecossistemas
terrestres, por exemplo, apenas 1% da energia solar que atinge as folhas é efetivamente captada
pelas plantas. Desta porção, boa parte é ainda dissipada em forma de calor, sendo o restante
transformado em produção primária bruta. A planta, no entanto, usa parte da produção primária
bruta para assegurar seu funcionamento, por meio da respiração celular, que resulta em calor
liberado para o ambiente. A porção restante é a produção primária líquida.
Assim como a energia, a matéria também possui sua dinâmica nos ecossistemas. Com o
passar dos níveis tróficos, compostos químicos vão sendo quebrados e sintetizados. Por vezes, os
nutrientes necessários a alguns organismos encontram-se em formas não assimiláveis por eles, de
maneira que processos ocorrerem para deixa-los em formas assimiláveis.
O ciclo da água é diretamente influenciado pela energia solar e envolve três processos
básicos: evaporação, precipitação e transpiração. O balanço entre esses três processos garante a
disponibilidade de água nos ecossistemas. Uma pequena quantidade da água da terra é assimilada
pelos componentes vivos dos ecossistemas, sendo, então, perdidas por transpiração ou
combinadas com o dióxido de carbono e energia solar para transformação em compostos
orgânicos de alta energia.
O ciclo do carbono tem como base o dióxido de carbono. Os produtores removem o CO2
da atmosfera (terrestres) ou da água (aquáticos) e, pela fotossíntese ou quimiossíntese, convertem-
nos em compostos orgânicos. Estes, por sua vez, são utilizados para a respiração celular das
plantas, que reconvertem o carbono em CO2, ou são consumidas pelos organismos dos próximos
níveis tróficos. O carbono que não é usado na respiração celular dos organismos da cadeia trófica
acaba, em algum momento, sendo utilizado pelos decompositores, que também liberam dióxido
de carbono para a atmosfera ou água.
O ciclo do nitrogênio é um pouco mais complexo que os anteriores, pois envolve vários
processos. A maior quantidade de nitrogênio do planeta está armazenada na atmosfera em forma
de azoto (N2). O nitrogênio do azoto não é assimilável por plantas, animais e vários
microorganismos.
A amônia não consumida pelas plantas pode passar pelo processo de nitrificação, no qual
bactérias especializadas convertem amônia e amônio em nitratos, que são facilmente assimilados
pelas raízes das plantas. As plantas usam os nitratos para produzir vários compostos orgânicos,
que são a fonte de nitrogênio dos consumidores. Quando mortos, os organismos sofrem a ação de
microorganismos decompositores, que transformam o nitrogênio da matéria orgânica em amônia
e amônio por meio da amonificação. Na desnitrificação, microorganismos convertem amônia e
amônio em nitratos para posteriormente convertê-los em azoto ou óxido nitroso, que são
devolvidos a atmosfera ou água para reinício do ciclo.
O ciclo do fósforo, diferente dos demais, não inclui a atmosfera. Ele tem início com os
fosfatos inorgânicos (de formações rochosas ou sedimentos aquáticos) que são assimilados pelas
plantas e outros produtores, sendo integrados a compostos orgânicos. Os produtores encaminham
esses compostos para os demais níveis tróficos, e os organismos decompositores quebram as
moléculas orgânicas de modo a reciclar o fosfato.
Já os impactos cumulativos são aqueles que são sentidos no local onde o impacto é
realizado, tornando-se globais quando ocorrem em escalas amplas. Por exemplo: o
desflorestamento traz consequências imediatas (perda de biodiversidade e serviços
ecossistêmicos) para o local onde foi feito. No entanto, como em vários locais do mundo as
florestas estão sendo suprimidas, esse acúmulo de impactos locais traz consequências globais.
As atividades humanas que causam mudanças são classificadas como fontes imediatas e
forças propulsoras. Fontes imediatas são as atividades humanas finais ou aproximadamente finais
que afetam diretamente o ambiente (como a queima de biomassa ou emissões industriais),
enquanto que as forças propulsoras são um conjunto complexo e multifatorial de ações e eventos
que fazem surgir as fontes imediatas (como mudanças populacionais, urbanização, mudanças
tecnológicas).
Uma fonte imediata pode contribuir tanto para mudanças sistêmicas como cumulativas.
A queima de biomassa leva, por exemplo, a emissão de gases do efeito estufa (mudança
sistêmica), e também a um impacto nos solos e na biodiversidade (mudança cumulativa).
Os cientistas sociais buscam entender o que leva os seres humanos a provocarem
tamanhos impactos em seus ecossistemas. Nossa espécie está bastante influenciada pelo mito do
progresso, que coloca a capacidade crescente de produzir e crescer como sinônimo deste
progresso. Essa ideia vem de uma interpretação equivocada do conceito Darwinista de evolução,
que preconiza que há um ponto final dentro de uma escala evolutiva ou de progresso. Em outras
palavras, a sociedade precisaria avançar sempre em busca de um maior poder instrumental e
tecnológico. Tudo isso se daria às custas do nosso patrimônio ambiental.
Um exemplo para entender a ideia de progresso que permeia nossa sociedade é o seguinte:
imaginar a supressão de uma floresta para estabelecimento de uma cidade ou cultura agrícola é
algo considerado normal para a sociedade. No entanto, a supressão de uma cidade ou
agroecossistema para regeneração florestal seria considerada como um retrocesso, tendo em vista
que já teríamos “avançado” ao implementar a cidade ou cultura agrícola.
Outra questão central é que nossa sociedade acredita que possui poder instrumental
suficiente para corrigir os impactos causados ao meio ambiente, quando assim for necessário. No
entanto, na maioria das vezes nossa inovação tecnológica avança em uma velocidade muito maior
do que a nossa capacidade de prever e entender seus impactos e desdobramentos. Por exemplo: a
tecnologia para criar organismos geneticamente modificados está bastante desenvolvida na
atualidade. No entanto, pouco se sabe sobre os efeitos destes para a saúde humana e para o meio
ambiente.
Desde que a espécie humana surgiu, esta tem modificado os ecossistemas naturais para o
seu proveito. A agricultura emergiu de tal maneira que até hoje existe a supressão de florestas e
outras áreas naturais para dar lugar a monoculturas em larga escala. A urbanização também tem
um papel chave no processo de supressão da vegetação nativa, uma vez que incontáveis áreas
naturais perderam espaço para a expansão urbana.
Para perceber o efeito de borda provocado por uma pequena estrada que passa a atravessar
uma área de vegetação nativa, imaginemos a área original segundo a figura abaixo
Não existe um alcance universal do efeito de borda, ou seja, um valor que seja aplicado
em todos os contextos. A depender do habitat o alcance pode ser maior ou menor. Além disso, o
efeito de borda compila uma série de efeitos (como luminosidade e ventos), de modo que cada
um deles pode ter alcances distintos. No entanto, muitos estudos têm apontado variações do
alcance do efeito que giram em torno dos 35m.
Em alguns casos, os efeitos do distúrbio ambiental podem ser mitigados pelo próprio
estabelecimento de novos indivíduos na nova borda. É comum, por exemplo, observar
emaranhados de trepadeiras “cobrindo” as florestas. Essas espécies desenvolvem-se muito bem
em forte presença de luz e acabam por gerar uma barreira que reduz os impactos no interior.
Mesmo assim, essas espécies substituíram outras na borda, de modo que houve uma redução do
habitat de espécies de interior de floresta.
Apesar dos danos do efeito de borda para as espécies típicas de interior, é importante
salientar que há muitas espécies que dele se beneficiam. A maioria das espécies vegetais pioneiras
precisa desse tipo de habitat. Muitas vezes as clareiras, bordas geradas naturalmente pela queda
de árvores senis, dão espaço às plantas pioneiras que são as primeiras a colonizar esse ambiente.
Entre os animais, por exemplo, um estudo realizado com duas espécies do gênero Atta (saúvas)
em uma área de Floresta Atlântica mostrou que suas densidades aumentaram significativamente
com a proximidade da borda.
Quando uma área contínua é fragmentada, as novas bordas geradas reduzem o habitat de
espécies de interior. Essa redução de habitat muitas vezes implica na mortalidade de indivíduos e
consequente redução populacional. Além disso, quando uma área contínua é fragmentada em duas
ou mais áreas, a comunicação de indivíduos entre fragmentos pode ser prejudicada ou
completamente interrompida. Considerando este último caso, a outrora população com tamanho
X passa a ser dividida em populações relictuais de tamanho X/y.
O grande problema dessa divisão de populações é que, quanto menor a população, maior
a chance de extinção local provocada por eventos estocásticos. Cada população possui um número
mínimo de indivíduos necessários para garantir sua sobrevivência em longo prazo. Assim, o
conceito de população mínima viável (PMV) tem sido aplicado para indicar o número mínimo de
indivíduos de uma população isolada que tenha 99% de chances de continuar existindo em 1000
anos. Modelos de crescimento populacional estocásticos são utilizados para calcular a PMV.
A questão é que alguns alelos possuem naturalmente uma baixa frequência na população.
Populações pequenas estão mais susceptíveis à deriva genética (mecanismo que modifica
aleatoriamente as frequências alélicas ao longo do tempo). Se um alelo está presente em 10% da
população, isso leva, por exemplo, (a) a 10 indivíduos entre 100, ou (b) 1 entre 10. No último
caso (b), apesar de mantida a frequência do alelo, as chances de este não ser representado na
próxima geração são bastante maiores do que no exemplo a.
Pequenas populações também são mais susceptíveis a efeitos genéticos deletérios, como
a depressão endogâmica e exogâmica. Esses fatores atuam em um sistema de retroalimentação,
levando ainda mais à diminuição da população. Populações reduzidas têm um aumento na
probabilidade de cruzamentos entre indivíduos aparentados. O cruzamento de indivíduos
aparentados aumenta as chances de expressão de alelos recessivos deletérios. Assim, esse
processo pode levar a proles de tamanhos reduzidos ou com baixo (ou nenhum) potencial
reprodutivo (depressão endogâmica).
Coisa similar ocorre quanto à proporção dos sexos. Em populações pequenas os efeitos
das flutuações na proporção macho/fêmea são maiores. A probabilidade de não nascer nenhuma
fêmea em uma população de quatro indivíduos é bastante maior do que em uma população de 100
indivíduos. Assim, flutuações significativas da proporão 1:1 podem diminuir o número de
parceiros disponíveis, causando danos ao número total de indivíduos da próxima geração.
Populações pequenas também estão susceptíveis aos efeitos da estocasticidade reprodutiva, já que
esta tem maiores chances de que haja um desvio da quantidade média de prole por fêmea. Se, por
exemplo, por efeito do acaso, as duas únicas fêmeas de uma população de uma espécie semelpara
gerarem um filhote cada, em vez de 4 (média para as gerações anteriores), a próxima geração
contará apenas com dois indivíduos.
A variação ambiental também pode exercer efeitos drásticos sob uma população pequena.
Em populações grandes há uma maior probabilidade de que alguns indivíduos sobrevivam a uma
tragédia do que em uma população pequena.
A ideia é bastante interessante e vem sendo pensada em diferentes contextos nas UCs
brasileiras. No entanto, a conexão de fragmentos não pode ser feita arbitrariamente, já que nem
todos os fragmentos podem ser conectados. Deve-se ter em conta alguns aspectos como o estado
dos fragmentos a serem conectados, em termos de presença de espécies exóticas, patógenos e
outros fatores que podem ser prejudiciais aos ecossistemas. A conexão, por exemplo, de um
fragmento de alta importância ecológica com um fragmento dominado por espécies exóticas pode
levar o primeiro a ter problemas estruturais e funcionais que ele não teria se não houvesse
conectado com o último. Similarmente, a conexão de dois fragmentos pode levar um patógeno ou
parasita de um para o outro, acarretando em problemas para ambos.
Mudanças climáticas
O clima do mundo está mudando, e continuará mudando até alcançar taxas sem
precedentes na história humana recente. A problemática das mudanças climáticas recebe cada vez
mais atenção de órgãos públicos e de pesquisadores, tendo em vista que os problemas reais
trazidos por essas mudanças estão aparecendo de forma rápida e efetiva. Esses problemas podem
ser tanto de cunho econômico, afetando o turismo, a matriz energética e a agricultura; como de
cunho ecológico, alterando o funcionamento de ecossistemas, o regime hídrico e a disponibilidade
de recursos. É fato que problemas econômicos e ecológicos gerados pelas mudanças climáticas
levam a uma questão ainda mais preocupante: o agravamento de crises sociais.
Mudanças no regime hídrico – É comum ouvir-se falar que o aquecimento global leva a
um grande aumento no nível do mar. Esse aumento altera o nível de base de grandes bacias
hidrográficas que tem o mar como nível. Assim, é possível que haja uma alteração na descarga
dos rios no mar, levando a uma mudança na dinâmica do processo de erosão fluvial. Problemas
sociais podem ser gerados por essas mudanças, já que com as mudanças hidrológicas, populações
ribeirinhas poderão ter de ser deslocadas de seus lugares.
Além disso, as mudanças climáticas podem afetar a fenologia e fisiologia das espécies,
alterando o funcionamento de comunidades e ecossistemas.
O quadro gerado pela perda de biodiversidade, aliada muitas vezes à desertificação por
influência das mudanças climáticas, acaba por levar à perda de serviços ambientais. Entre esses
serviços está a produção de O2 e o controle das chuvas em um local. Alguns serviços ambientais
já estão sendo grandemente afetados, de forma a prejudicar populações que dependem dos
recursos naturais. Um bom exemplo é o uso de lenha por comunidades tradicionais. O alto uso
desse recurso devido à falta de condições para adquirir GLP (Gás Liquefeito de Petróleo) ou outro
tipo de combustível para cocção de alimentos, já gerou crises energéticas em alguns países da
África e Ásia. Essas crises podem ser potencializadas com a união do uso predatório e a perda de
biodiversidade e geração de desertos ocasionados pelo aquecimento global. No semiárido
brasileiro esse quadro já está bem avançado, e alguns locais onde desertos estão se formando, já
sofrem com a falta de recursos madeireiros para fins energéticos.
O ingresso de novas doenças também repercute nas formas de tratamento das mesmas.
Em sociedades cujos sistemas médicos são tradicionais, baseados na experimentação e
transmissão de conhecimento sobre plantas e animais medicinais, o ingresso brusco de uma nova
enfermidade pode levar tal sistema médico à crise, pelo menos até estas sociedades encontrarem
alternativas médicas. Tais alternativas podem vir da experimentação ou negociação cultural com
outros povos. Essa capacidade de resposta a mudanças caracteriza um sistema adaptativo.
Em relação às políticas públicas, em 1988, o Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (Pnuma) e a Organização Meteorológica Mundial (OMM) criaram o Painel
Intergovernamental sobre Mudanças no Clima (IPCC). A função do IPCC é sintetizar
informações não apenas sobre a ciência da mudança do clima e seus possíveis efeitos, como
também sobre as consequências socioeconômicas desse fenômeno e as estratégias para lidar com
esse problema. As atividades do IPCC são realizadas por equipes internacionais, compostas por
muitos dos maiores especialistas do mundo nos diversos assuntos relacionados à mudança no
clima. Estes estudos dão importante suporte a tomada de decisões sobre assuntos relacionados às
mudanças no clima.
Uma das principais inovações econômicas pós protocolo de Kyoto foi a venda de créditos
de carbono. Tratam-se de certificados emitidos por pessoa física ou jurídica de que esta reduziu
sua emissão de gases do efeito estufa. Desse modo, os países desenvolvidos passaram a comprar
de outros países (especialmente dos países em desenvolvimento e subdesenvolvidos) estes
créditos para poderem aumentar sua emissão destes gases. Assim, a compra de créditos de
carbono no mercado é basicamente o pagamento por uma permissão para emitir gases do efeito
estufa.
Referências
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