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ECOEFICIÊNCIA: Um Instrumento para a Sustentabilidade

Vivian Gullo Salgado

Atualmente, as organizações procuram caminhos para entender, melhorar e demonstrar o


desempenho ambiental. Isto pode ser obtido a partir da gestão ambiental efetiva das atividades
empresariais.

Planejar, implementar, monitorar e reportar são elementos-chave nos sistemas de gestão. Os


indicadores auxiliam o monitoramento do progresso das medidas planejadas e implementadas. A
apropriação dos indicadores de ecoeficiência tem como objetivo permitir visualizar o desempenho
ambiental e econômico das atividades e contribuir para o gerenciamento ambiental. Os indicadores
são representados por uma relação matemática entre variáveis econômicas e variáveis ambientais.

Segundo o World Business Council for Sustainable Deve/opment (WBCSD), a ecoeficiência é


alcançada mediante o fornecimento de bens e serviços a preços competitivos que satisfaçam as
necessidades humanas e tragam qualidade de vida, ao mesmo tempo em que reduz
progressivamente o impacto ambiental e o consumo de recursos ao longo do ciclo de vida, a um
nível, no mínimo, equivalente à capacidade de sustentação estimada da Terra.

Sustentabilidade Empresarial

ODUM (1998), em sua obra, relata que alcançar a sustentabilidade implica caminhar rumo ao
desenvolvimento sustentável. Este conceito surgiu da constatação de que a capacidade assimilativa
dos ecossistemas e da regeneração dos recursos naturais ocorria a taxas incompatíveis com o
acelerado desgaste imposto à natureza, inspirando o surgimento de um novo conceito de
desenvolvimento, também conhecido como desenvolvimento sustentável.

Segundo WBSCD (2000), a ecoeficiência é um dos conceitos a serem seguidos para alcançar a
sustentabilidade empresarial, porém, considera dois dos seus quatro elementos, a economia e a
ecologia, não inserindo o componente social e de inovação tecnológica. Portanto, a ecoeficiência
por si só não é suficiente, sendo um dos instrumentos a ser utilizado objetivando o desenvolvimento
sustentável.

O desenvolvimento sustentável entrou definitivamente na agenda internacional a partir de 1987,


quando a United Natíons World Commíssíon on Envíronmental and Development (WCED) (1987)
publicou O relatório "Nosso Futuro Comum" (Our Common Future), propondo ao mundo a adoção
de um desenvolvimento que atenda às necessidades do presente sem comprometer a capacidade
das futuras gerações de atender às suas próprias necessidades. Longe de reivindicar a cessação do
crescimento econômico, reconhece que os problemas de pobreza e subdesenvolvimento não podem
ser resolvidos se não ingressarmos numa nova era de crescimento, na qual os países em
desenvolvimento desempenhem papel importante e colham benefícios expressivos. Desde então,
muitas entidades empresariais estão empenhadas em adequar o conceito ao ambiente das
organizações, entre elas o WBCSD, que congrega empresas de 30 países.

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Para ser ecoeficiente, a empresa precisa conhecer o sistema natural em que realiza suas atividades.

Segundo Trigueiro (2003), uma importante contribuição das ciências que estudam os sistemas
naturais à gestão empresarial é a noção de resilência: os limites e capacidades de um sistema de
resistir a impactos. Ignorar a resilência do sistema natural em que opera e no qual interfere é um
grande risco para a empresa.

Atualmente, muitas empresas tentam mudar a maneira como divulgam informações ao público e aos
acionistas. Inicialmente, algumas passaram a acrescentar seções sobre o meio ambiente em seus
relatórios anuais, incorporando no mínimo uma declaração formal quanto à sua política ambiental.
Outras foram mais longe e passaram a apresentar relatórios anuais separados e específicos sobre
meio ambiente e sobre ações representativas de responsabilidade sócio-ambiental.

Em agosto de 1999, a SAM, com sede em Zurique, se aliou ao Dow Jones & Company para criar os
índices Mundiais de Sustentabilidade da Dow Jones (Dow Jones Sustainability World Indexes - DJSI
World), o primeiro grande benchmarking que monitora o desempenho financeiro das empresas
líderes em sustentabilidade em todo o mundo.

Índice Dow Jones de Sustentabilidade – DJSI

O DJSI fornece um índice global, racional e flexível, para assegurar e atuar como benchmarking do
desempenho dos investimentos em empresas preocupadas com a sustentabilidade, identificando
aquelas que criam valor a longo prazo para os acionistas, mediante o aproveitamento de
oportunidades e o gerenciamento de riscos referentes ao desenvolvimento econômico, ambiental e
social.

Os Dow Jones Sustainability World Indexes (DJSI World) abrangem 10% das 2,5 mil maiores
corporações do Dow.fones llJorld Index. Como um benchmorking para investimentos sustentáveis
n9 Europa, os Dow Jones STOXX Sustainability World Indexes (DJSI STOXX) incluem 20% das
empresas do DOlu .fones STOXXSM 600 Index, que lideram em termos de consistência e
perspectivas econômicas. A seleção das empresas que compõem os índices de sustentabilidade é
feita conforme metodologia do DJSI Guidebooks e as análises são também submetidas à avaliação
de auditores independentes.

As empresas que compõem o índice são reconhecidas por importantes grupos ou partes
interessadas, como líderes setoriais nas dimensões estratégicas ambientais, sociais e econômicas.
Cientes da importância da informação com transparência para as partes interessadas, o uso do
índice contribui para a identificação dos lideres setoriais por meio de análises profundas e confiáveis
e em informações de domínio público; as empresas participantes têm direito ao uso do rótulo
"Membro do DJSI".

A identificação das empresas para o DJSI baseia-se na avaliação da sustentabilidade empresarial


realizada pela SAM, por meio de questionários próprios atualizados anualmente. Este questionário
contém perguntas para o setor econômico, ambiental e social. A pesquisa da SAM começa com um
estudo das tendências e forças específicas que influenciam cada setor. A utilização dessas caracte-

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rísticas próprias das diferentes indústrias significa que a sustentabilidade não é avaliada em termos
de desempenho passado, mas, sim, que o foco recai sobre a análise do potencial de
sustentabilidade de cada setor e de cada empresa.

Segundo Holliday (2003), todos os índices da família DJSI são apurados com base nas mesmas
metodologias e critérios. Portanto, o DJSI facilita o projeto, desenvolvimento e fornecimento de
índices de sustentabilidade personalizados; por exemplo, dispõe-se de índices referentes a
diferentes regiões e a segmentos específicos das principais empresas voltadas para a
sustentabilidade, assim como de outros com critérios de exclusão ou expressos em determinadas
moedas.

Cada vez mais, à medida que os investidores diversificam seus portfólios e investem em empresas
comprometidas com a sustentabilidade, necessita-se desse tipo de análise para identificar as
empresas que, por serem sustentáveis, revelam investimentos atraentes. O DJSI é revisto uma vez
por ano, em setembro, a fim de garantir que sua composição representa com precisão as principais
empresas voltadas para a sustentabilidade em cada um dos setores que entram em sua composição
(Holliday, 2003). .

Análise comparativa do DJGI e do DSJI World conduzida pela SAM entre janeiro de 1997 e abril de
2002 comprova estatisticamente o desempenho superior do DJSI. As provas são cada vez mais
convincentes no sentido de que as empresas líderes em sustentabilidade criam valor em longo
prazo para os acionistas, orientando sua estratégia e gestão para aproveitar o potencial dos pro-
dutos e serviços que levam em consideração a sustentabilidade, ao mesmo tempo em que
conseguem reduzir ou evitar os custos e riscos da sustentabilidade.

Atualmente, a análise da SAM é aplicada por muitas instituições tradicionais, no gerenciamento de


fundos e de derivativos. Mais de US$ 2,2 bilhões em ativos financeiros encontram-se sob o
gerenciamento de licenciados em 12 países, em todos os continentes. O logotipo de membro da
SAM é concedido a mais de 300 empresas participantes.

Muitas empresas estão anexadas ao índice Down Jones de Sustentabilidade, por exemplo: Grupo
Empresa, TransCanadá, a Empresa E (Energia) e BG Group.

Conceito de Ecoeficiência

O conceito de ecoeficiência envolve a definição de indicadores capazes de medir o desenvolvimento


de um empreendimento, de maneira ambientalmente sustentável. de modo a atender às
necessidades humanas e promover a qualidade de vida, enquanto reduz progressivamente os
impactos ambientais e a intensidade do consumo de recursos naturais considerando a capacidade
ambiental do planeta (WBCSD, 2000, OCDE, 1998).

Conforme apresentado na seção anterior, a ecoeficiência consiste numa das ferramentas existentes
que apóia a sustentabilidade empresarial, cujo conceito surge como uma resposta do mundo
empresarial às cobranças contínuas de ações que contribuíssem ao desenvolvimento sustentável.

O BCSD Portugal. (2000) menciona em seus relatórios que o termo foi utilizado pela primeira vez
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em 1990, pelos investigadores Schaltegger e Sturm, na· cidade de Basiléia. Porém, a idéia de que
prevenir a poluição e evitar desperdícios com benefícios financeiros existia há, pelo menos, 15 anos.
A 3M e a Dow Chemicals deram início em 1975 ao programa "A Prevenção da Poluição Recom-
pensa" (Pollution Prevention Pays - 3 P's) e "A Redução dos Desperdícios Recompensa Sempre"
(Waste Reduction Always Pays - WRAP), respectivamente.

O Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável (Business CounciL for Sustainable


Development [BCSD]), presidido pelo empresário suíço Stephan Schmidheing, publicou o livro
Chonging Course (Mudança de Rumo). Este procurou desenvolver um conceito que, ao unir
melhorias ambientais e econômicas, pudesse "criar um negócio a partir do desafio da
sustentabilidade". Surgiu então o conceito de Ecoeficiência que reunia os aspectos essenciais -
progresso econômico e ambiental, necessários para o aumento da prosperidade econômica, a partir
da utilização mais eficiente dos recursos e de menos emissões nocivas para o ambiente.

O Changing Course define empresas ecoeficientes como sendo aquelas que criam produtos e
serviços mais úteis, ou seja, aquelas que acrescentam mais valor, reduzindo progressivamente o
consumo de recursos e a poluição. O objetivo era mudar a concepção de que a indústria é parte do
problema da degradação ambiental.

Assim, diversas idéias surgiram neste âmbito e em 1993, no primeiro Workshop, alargado a diversos
grupos de interesses, sobre ecoeficiência, os participantes acordaram a seguinte definição: "Atinge-
se a ecoeficiência a partir da oferta de bens e serviços a preços competitivos, que, por um lado,
satisfaçam as necessidades humanas e contribuam para a qualidade de vida, e, por outro, reduzam
progressivamente o impacto ecológico e a intensidade de utilização de recursos ao longo do ciclo de
vida, até atingirem um nível que, pelo menos, respeite a capacidade de sustentação estimada para o
planeta terra." A inserção da inovação tecnológica ao longo do ciclo de vida do produto traz
benefícios às empresas. Possibilita que a mesma tenha resultados positivos tanto no âmbito
ambiental quanto no econômico.

Alguns anos depois do lançamento do conceito, foi possível ao WBCSD apresentar todas as
realizações concretizadas pelo tecido empresarial na publicação Eco-Efficiency - The business link
to sustainable development (Ecoeficiência - A ligação do mundo empresarial ao desenvolvimento
sustentável).

Além do WBCSD, outras instituições estudam a ecoeficiência, como a Agência Européia para o
Ambiente (2004), que define o termo como "mais bem-estar a partir de menos recursos naturais". A
agência tem como meta utilizar os indicadores de ecoeficiência para mensurar o progresso rumo a
sustentabilidade em nível macro.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) (2004) define a


ecoeficiência como "a eficiência com a qual os recursos ecológicos são utilizados a serviço das
necessidades humanas".

Seguindo os princípios do WBCS, a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (2000)
apresenta a ecoeficiência como a habilidade de simultaneamente atingir os objetivos de produção e
custo com qualidade e desempenho, reduzir impactos ambientais e conservar recursos naturais,
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afirmando que a ecoeficiência permite às empresas tornarem-se mais responsáveis do ponto de
vista ambiental e mais lucrativas no âmbito econômico, incentivando-as à inovação e à
competitividade.

A inserção de práticas ecoeficientes na empresa é uma forma de ultrapassar o desempenho da


concorrência. Segundo BCSD Portugal (2000), para que a ecoeficiência seja atingida é necessário
que três conceitos básicos sejam aplicados:

1. Redução do consumo de recursos naturais - isto inclui a minimização do uso de energia,


materiais, água e solo, promovendo a reciclagem, a durabilidade dos produtos e a redução dos
desperdícios.

2. Redução do Impacto na natureza - isto implica redução das emissões atmosféricas,


lançamentos de efluentes, disposição de resíduos e incentivo à reciclagem e ao reuso de
materiais.

3. Aumento da produtividade ou do valor do produto - significa atender clientes fornecendo


produtos mais flexíveis, funcionais e que atendam objetivamente às necessidades dos clientes
com menor utilização de recursos.

Além dos três objetivos citados, algumas empresas inserem o quarto objetivo, que consiste na
implementação de um Sistema de Gestão Ambiental7 ou de Sustentabilidade integrada ao Sistema
de Gestão do Negócio já existente.

• Dentre as ações úteis para seu alcance nas empresas destacam-se (WBCSD, 1999) :

• Reduzir o consumo de materiais na produção de bens e serviços, ou seja, reduzir o uso de


matéria-prima.

• Reduzir o consumo de energia e de água na produção de bens e serviços.

• Reduzir impacto ao meio ambiente (local e global) na produção de bens e serviços.

• Reduzir a dispersão de substâncias tóxicas.

• Maximizar o uso de recursos renováveis.

• Estender o ciclo de vida dos produtos, ou seja, prolongar a durabilidade de produtos.

• Intensificar a reciclagem de materiais.

• Agregar valor aos bens e serviços.

• Aumentar a intensidade do serviço.

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Vantagens da Ecoeficiência

O setor privado, ao implementar a ecoeficiência, tem percebido que este lhe traz os seguintes
benefícios:

• Processos Otimizados - economia de recursos, redução de impactos e redução dos custos


operacionais.

• Produtos Revalorizados - cooperação entre empresas para revalorizar seus produtos e


resíduos, visando o desperdício zero.

• Produtos Novos e Melhores - produtos ambientalmente aceitáveis, com melhor funcionalidade,


objetivando maior rentabilidade e participação de mercado.

• Mercados mais Sustentáveis - as empresas podem tornar mercados mais sustentáveis com
inovação, por meio de alianças e troca de informações com a utilização do benchmarkíng.

Além das vantagens para o setor privado, a ecoeficiência pode apoiar os governos a conceber uma
estratégia nacional para o desenvolvimento sustentável. A economia e a qualidade de vida
continuarão a crescer, enquanto a utilização dos recursos naturais e a poluição diminuirão.

Oportunidades Ecoeficientes

A busca por oportunidades ecoeficientes perpassa pelas seguintes ações:

1. Reengenharia dos processos - implica redução do consumo de recursos e poluição e diminuição


dos custos. Mudanças no processo podem também estar relacionadas com a atividade do
fornecedor, assim como a distribuição para os clientes.

2. Revalorização dos subprodutos - os rejeitos de uma determinada empresa podem ter valor para
uma segunda. Atualmente, a Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro) trabalha com a
Bolsa de Resíduos, onde são colocados os rejeitos das empresas que participam e estas
realizam trocas dos mesmos. Esta sinergia proporciona uma utilização mais eficiente dos
recursos no processo, criando um benefício financeiro adicional.

3. Nova concepção dos produtos - a concepção mais simples utiliza menos materiais, sendo mais
fácil, posteriormente ao uso, a reciclagem.

4. Repensar os mercados - busca de melhores formas de atender às necessidades dos clientes e


outros.

Observa-se que as ações mencionadas podem ser implementadas por todos os departamentos de
uma empresa, se estendendo por toda o sua cadeia de produção.

REFERÊNCIAS

SALGADO, V. G. Indicadores de Ecoeficiência e o Transporte de Gás Natural. Rio de Janeiro:


Interciência, 2007.

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