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DIREITO PENAL

Prof. Márcio Tadeu

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SUMÁRIO

Crimes de Lesão Corporal .................................................................... 03

Crimes de Periclitação a Vida e a Saúde ................................................ 11

Crimes Conta a Honra ........................................................................ 20

Crimes Contra Liberdade Individual ...................................................... 29

Exercícios ......................................................................................... 44

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DOS CRIMES CONTA A PESSOA

Artigos. 129 ao 154

Lesão corporal
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.

Lesão corporal de natureza grave


§ 1º Se resulta:
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;
II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.

§ 2° Se resulta:
I - Incapacidade permanente para o trabalho;
II - enfermidade incurável;
III - perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
IV - deformidade permanente;
V - aborto:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.

Lesão corporal seguida de morte


§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o
resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.

Diminuição de pena
§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social
ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta
provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.

Substituição da pena
§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de
detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis:
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;
II - se as lesões são recíprocas.

Lesão corporal culposa


§ 6° Se a lesão é culposa: (Vide Lei nº 4.611, de 1965)

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Pena - detenção, de dois meses a um ano.

Aumento de pena
§ 7o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das hipóteses
dos §§ 4o e 6o do art. 121 deste Código
§ 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.(Redação dada
pela Lei nº 8.069, de 1990)

Violência Doméstica (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004)

§ 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge


ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda,
prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de
hospitalidade: (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. (Redação dada pela Lei nº
11.340, de 2006)

§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as circunstâncias são


as indicadas no § 9 o deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um
terço). (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004).
§ 11. Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada de um terço
se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência. (Incluído pela Lei
nº 11.340, de 2006)
§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts.
142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força
Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou
contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em
razão dessa condição, a pena é aumentada de um a dois terços. (Incluído pela
Lei nº 13.142, de 2015)

Lesão corporal é resultado de atentado bem sucedido à integridade corporal


ou psíquica do ser humano. Ofensa à integridade física pode dizer respeito à debilitação
da saúde como todo ou do funcionamento de algum órgão ou sistema do corpo humano,
inclusive se o resultado for o agravamento de circunstância previamente existente.
Também pode ser qualquer alteração anatômica, que vão desde tatuagens a
amputações, passando por todas as alterações físicas provocadas pela ação ou omissão
maliciosa de outrem, que pode ter utilizado meios diretos ou indiretos para gerar o dano.
Para caracterizar a lesão corporal é necessário que esteja configurada a alteração
física, mesmo que apenas temporária, sendo que sensações como desconforto ou dor
física não são consideradas como formas de lesão corporal. No Direito penal brasileiro, a
lesão corporal é um crime material, que exige exame de corpo de delito, e se consuma
com o dano à outrem, independentemente de quantas lesões foram geradas durante a
realização do crime. É um crime que admite a tentativa.

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Sujeito ativo e sujeito passivo


O sujeito ativo pode ser qualquer um, e o sujeito passivo é outrem. Assim, vemos
que a autolesão e a lesão a fetos ou à fauna e flora não estão incluídas dentro do escopo
desta norma legal.

Lesão corporal leve


Será leve toda lesão corporal que não for grave, gravíssima ou qualificada pelo
resultado.

✓ Contudo, deve ser suficientemente grave como para que a ofensa não
seja despenalizada em função da aplicação do Princípio Da
Insignificância.

✓ O Princípio da Insignificância é um meio qualificador dos valores da


estrutura típica do Direito Penal. Assim, a lesão corporal, por sua vez, ou
provoca à vítima incapacidade para as suas ocupações habituais por uma
ou duas semanas, ou que tenha perturbado temporariamente o
funcionamento de membro, órgão, sentido, função _ e que, portanto
jamais poderia ser reputada insignificante,pode dispor de um modelo
processual mais célere, condicionando-se, mesmo, a iniciativa da ação
penal à vítima, ou deferindo o perdão judicial nos casos em que houver
pronta e justa reparação do dano, e poderá ser considerada como crime
de bagatela, ou mesmo de menor potencial ofensivo.

✓ A lesão corporal que provoca na vítima a perda de dois dentes tem


natureza grave (art. 129, § 1º, III, do CP), e não gravíssima (art. 129, §
2º, IV, do CP). A perda de dois dentes pode até gerar uma debilidade
permanente (§ 1º, III), ou seja, uma dificuldade maior da mastigação,
mas não configura deformidade permanente (§ 2º, IV). § 1º Se resulta:
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função; § 2º Se
resulta: IV - deformidade permanente; STJ. 6ª Turma. REsp 1620158-RJ,
Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 13/9/2016 (Info 590).

✓ Mesmo assim existe Jurisprudência admitindo o princípio da


Insignificância. Na Doutrina, José Henrique Pierangeli é um doutrinador de
defende este posicionameno.

✓ A lesão que não se expressa como comprometedora, em regra, está


adstrita a contravenção penal de vias de fato.
✓ LCP, Art. 21. Praticar vias de fato contra alguem:

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Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de cem


mil réis a um conto de réis, se o fato não constitue crime.
Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) até a metade
se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos.

✓ Os crimes de lesão corporal leve ou culposa, pela regra do art. 88 da Lei


9.099/95 (Juizados Especiais) procedem mediante representação:
Ação Penal Pública Condicionada à Representação do Ofendido
(Representação é condição de procedibilidade p/ que MP ofereça a
denúncia). Prazo decandencial de 06 meses do conhecimento de quem é o
autor do crime pelo ofendido ou pela pessoa que o represente.
✓ Não é inepta a denúncia que se fundamenta no art. 129, § 9º, do CP –
lesão corporal leve –, qualificada pela violência doméstica, tão somente
em razão de o crime não ter ocorrido no ambiente familiar. Ex: João
agrediu fisicamente seu irmão na sede da empresa onde trabalham,
causando-lhe lesão corporal leve. O agente deverá responder pelo art.
129, § 9º do CP. Sendo a lesão corporal praticada contra ascendente,
descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, deverá incidir a
qualificadora do § 9º não importando onde a agressão tenha ocorrido.
STJ. 5ª Turma. RHC 50026-PA, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca,
julgado em 3/8/2017 (Info 609).

Lesão corporal grave


No caso do parágrafo 1o, serão graves as lesões que tornem a vítima incapacitada
para suas atividades habituais por mais de 30 dias; as que gerem perigo de vida, as que
gerem debilidade permanente de um membro, sentido ou função; e as que acelerem o
parto.

A incapacidade para as atividades


normais deve ser comprovada mediante
laudo e não pode ser hipotética. Assim,
não pode alguém que nunca esquiou dizer
que não pode esquiar durante mais de 30 dias, ou alguém que nunca tocou
o piano alegar que determinada lesão o afasta desse instrumento. A
atividade deve ser lícita ( a prostituta, por exemplo, se enquadra. O
traficante não se enquadra). È irrelevante a idade da vítima.

✓ O perigo de vida que agrava a lesão corporal é o real, não apenas o potencial.
Deve gerar uma situação que de fato coloque a vítima em situação onde a morte é
uma possiblidade real, como é o caso de uma lesão que perfura o pulmão ou abre

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uma artéria importante do corpo humano. Cuidado com este tipo de lesão corporal
grave, pois é muito fácil confundí-la com tentativa de homicídio, já que a única
diferença está na vontade do agente.Em regra é preterdoloso.
✓ A debilidade permanente de membro, sentido ou função é a perda permanente do
uso de membros (pernas e braços), de um dos sentidos (olfato, tato, paladar, etc.)
ou de função orgânica (função digestiva, renal, circulatória, etc.)(neste caso
estamos diante de um crime instantâneo). Em se tratando de órgãos duplos rins,
olhos, pulmões), a perda de um, é uma debilidade, portanto, lesão grave. Dos dois
é gravíssima. A recuperação via procedimento cirúrgico não exclui a qualificadora.
✓ A aceleração do parto é a lesão corporal grave que leva ao nascimento prematuro
de criança viável existente dentro do ventre da vítima. O agente deve saber que a
vítima está gestante, sendo que esta modalidade de lesão corporal admite
tentativa.

Lesão corporal gravíssima


E a descrita no parágrafo 2o do artigo mencionado, que gerará para a vítima a
incapacidade permanente para o trabalho, enfermidade incurável, perda ou inutilização
de membro, sentido ou função, deformidade permanente ou gere o aborto em gestante.
✓ A incapacidade permanente para o trabalho é aquela em que é impossível prever,
com base no atual estado da medicina, quando (ou se) o indivíduo poderá
novamente assumir suas funções no mercado de trabalho. Esta modalidade pode
ter agente operando com dolo ou culpa, sendo que se dolosa a intenção, admite
tentativa. Incapacidade não significa perpetuidade, basta ela ser duradoura.
✓ Enfermidade incurável é aquela que a medicina atual não consegue curar,
inclusive as que são tratadas mediante tratamentos muito arriscados ou utilizando
meios que não os da medicina tradicional. Esta modalidade pode ter agente
operando com dolo ou culpa, sendo que se dolosa a intenção, admite tentativa.
Provada por exame pericial.

O Superior Tribunal de Justiça decidiu que


a transmissão consciente do vírus HIV,
causador da AIDS, configura lesão corporal
grave, (art. 129, § 2º, do Código Penal). O
entendimento é da Quinta Turma do STJ.
O leading case é de um portador de HIV que manteve relacionamento
com a vítima por dois anos e, inicialmente, usava preservativo, mas passou a
praticar relações sexuais sem proteção, o que resultou no contágio da vítima
pelo vírus.
Entendeu-se que, ao praticar sexo sem segurança, o réu assumiu o risco
de contaminar sua parceria. Também se considerou que, mesmo que a vítima
estivesse ciente da condição do seu parceiro, a ilicitude não poderia ser
afastada, pois o bem jurídico protegido (a integridade física) é indisponível.

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A AIDS, na visão da relatora, Min. Laurita Vaz, trata-se de enfermidade incurável,


nos termos do artigo 129 do CP, não sendo cabível a desclassificação da conduta para as
sanções mais brandas no Capítulo III do mesmo código.
O STF, no HC 98.712, entendeu que a transmissão da AIDS não era crime doloso
contra a vida, excluindo a atribuição do tribunal do júri. Contudo, manteve a
competência do juízo singular para determinar a classificação do delito.

✓ Perda ou inutilização de membro sentido ou função - “Perda é a ablação


(mutilação, amputação). Inutilização é a inaptidão para a atividade funcional
específica (por exemplo, paralisia). Não se confunde com a debilidade do § 1º, III
(perda de um olho), porque aqui há perda ou inutilização de sentido (perda dos
dois olhos), membro ou função” ...(Führer). Outro detalhe: perda do movimento de
parte de um membro, é lesão grave. Se a perda do movimento é total caracteriza
lesão gravíssima.
✓ Deformidade permanente é o dano estético visível, duradouro e que causa
constrangimento à vitima. O fato de existirem próteses no mercado, como por
exemplo, olho de vidro, não afasta a natureza gravíssima desta lesão. Esta
modalidade pode ter agente operando com dolo ou culpa, sendo que se dolosa a
intenção, admite tentativa.
✓ A qualificadora “deformidade permanente” do crime de lesão corporal (art. 129, §
2º, IV, do CP) não é afastada por posterior cirurgia estética reparadora que elimine
ou minimize a deformidade na vítima. Isso porque, o fato criminoso é valorado no
momento de sua consumação, não o afetando providências posteriores,
notadamente quando não usuais (pelo risco ou pelo custo, como cirurgia plástica ou
de tratamentos prolongados, dolorosos ou geradores do risco de vida) e
promovidas a critério exclusivo da vítima. STJ. 6ª Turma. HC 306677-RJ, Rel. Min.
Ericson Maranho (Desembargador convocado do TJ-SP), Rel. para acórdão Min. Nefi
Cordeiro, julgado em 19/5/2015 (Info 562).
✓ Que gere aborto na vítima. Somente admite a forma preterdolosa, pois se o
agente agiu com dolo enquadrar-se-á no crime de aborto propriamente dito. Não
admite responsabilidade objetiva, de modo que se o agente desconhecia o fato da
vítima ser gestante, não será gravíssima a lesão. Por não admitir forma dolosa, não
admite tentativa.

Lesão corporal seguida de morte


Tratado no parágrafo 3o do artigo 129, este é um crime que somente admite a
forma preterdolosa, pois se o agente agiu com dolo, ou seja, com a intenção de matar,
trata-se de homicídio doloso.
Neste caso, o agente tem que desejar ferir sua vítima (lesão corporal dolosa) mas
a morte deve ser consequencia imprevisível e indesejada de sua ação. Não admite
tentativa. O dolo não é de matar, mas apenas de ferir a vítima e a morte sobreveio
como resultado indesejado.

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Exemplo de Lesão corporal seguida de morte é quando "A" discute com "B", e o
empurra. "B" escorrega e bate a cabeça e morre. "A" não agiu com dolo de matar, trata-
se de vias de fato.

Lesão corporal privilegiada


É aquela lesão cometida por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o
domínio de violenta emoção, logo em seguida de injusta provocação da vítima. Uma vez
estabelecido que trata-se de lesão corporal privilegiada, o juiz, em atenção aos diversos
princípios que vigoram no direito penal brasileiro, deve reduzir a pena de 1/6 a 1/3.
✓ relevante valor moral ou social é o objetivo que segue a ética dominante no
grupo social ao qual pertence o agente. Será privilegiado mesmo que o agente
tenha agido com erro, por exemplo, ferindo pessoa que julgava ser um abusador
sexual de crianças que agia do bairro, mas que posteriormente provou ser
inocente.
✓ Para a segunda forma de lesão corporal privilegiada, é necessário que coexistam 3
elementos: a violenta emoção do agente, o intervalo temporal mínimo entre a
provocação da vítima e a agressão e a injusta provocação da vítima.

Substituição da pena
Nos termos do parágrafo 5o, o Juiz poderá substituir a pena de detenção pela de
multa, caso as lesões não sejam graves e nas hipóteses de agressões recíprocas ou de
lesão corporal privilegiada.
Aplicando-se os princípios do Direito Penal, não poderá o Juiz penalizar com a
detenção se a Lei estabelece parâmetro menos gravoso, de modo que este artigo deve
ser interpretado como um dever do Juiz, que deverá substituir a pena quando a situação
fática assim o permitir.

Lesão corporal culposa


O tipo penal descrito no parágrafo 6o é um tipo aberto, já que não há um verbo
nuclear na descrição. É aquela decorrente de imprudência, negligência ou imperícia.
Lembrar, sempre, que na lesão corporal culposa a graduação das lesões não serão
consideradas, mesmo que tenha consequências graves.
Vemos que o legislador optou por não diferenciar entre a gravidade das lesões,
cominando com a mesma pena, detenção de 2 meses a 1 ano, todas as lesões corporais,
desde as leves até as gravíssimas.

Por ser crime culposo, não admite tentativa, sendo punida apenas a
agressão culposa bem sucedida. Todo crime culposo exige o
resultado.

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Importante para prova:


✓ A pluralidade de lesões em um mesmo contexto caracteriza crime
único, mais influência na dosimetria da pena;
✓ Na Vias de fato, o agente ativo agride a vítima, sem lesioná-la. É uma
briga em si, o contato entre os corpos, sem lesão (empurram, puxão
de cabelo, aperto no braço, bofetada;
✓ O Previsto no § 9o só se aplica a lesões corporais leves;
✓ A causa supralegal de consentimento da vítima só vale para lesões
corporais leves;
✓ Em regra, o Direito Penal Brasileiro não pune autolesão, exceto o caso
previsto no Art. 171,§2ª (Fraude de seguro, por exemplo o jogador de
futebol que quebra sua própria perna para receber o seguro);
✓ Lesões Esportivas (Box, MMA, Karatê,) – são casos do exercício
regular do direito (verificando sempre se não houve excesso);
✓ Cirurgias emergenciais – existem 02 aspectos: sem o consentimento
da vítima, se há risco de morte, o médico está amparado pelo estado
de necessidade de terceiro. Se não há risco de morte, é necessário
consentimento do ofendido, caracterizando exercício regular de um
direito. É caso de redesignação sexual (mudança de sexo),
vasectomia, ligadura das trompas dentre outros procedimentos.
✓ O fato que “furar a orelha” do recém-nascido para o uso de brincos
não é lesão corporal pelo princípio da adequação social, como o caso
da tatuagem;
✓ Embora a tatuagem seja considerada lesão corporal, a princípio, não é
tida como crime, desde que o tatuador obtenha o consentimento
expresso do tatuado. A declaração de vontade da vítima constitui
causa supralegal de exclusão da ilicitude.
✓ A tatuagem feita em pessoa menor de 14 anos sempre caracteriza
crime de lesão corporal;
✓ A tatuagem feita em pessoa maior de 14 e menor de 18 anos
caracteriza o crime de lesão corporal quando não houver
consentimento do menor;
✓ A tatuagem feita em pessoa maior de 14 e menor de 18 anos não
caracteriza lesão corporal quando houver consentimento do menor;

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Lesão corporal hedionda


Somente a lesão corporal prevista no parágrafo doze (lesão corporal funcional) é
considerada crime hediondo.

CAPÍTULO III
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE

A periclitação da vida e da saúde é espécie do gênero crimes de perigo. Nos


crimes de perigo o dolo, ao invés de visar lesar uma vítima em particular, busca criar
uma situação de perigo. O agente não aceita, nem mesmo eventualmente, o resultado
lesivo diverso da criação do perigo, mesmo que tal resultado possa ser previsível para o
homem médio. Isto porque sempre será crime subsidiário ao crime de dano
propriamente dito. O perigo pode ser concreto ou abstrato, individual ou coletivo, atual,
iminente ou futuro.

PERIGO DE CONTÁGIO VENÉREO

Perigo de contágio venéreo

Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato
libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que
está contaminado:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
§ 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 2º - Somente se procede mediante representação.

✓ O tipo penal define a conduta de agente que coloca alguém em perigo (expõe)
de contágio de doença venérea, seja pela prática de atos libidinosos diversos,
seja pelo ato sexual.
✓ O crime será concretizado independentemente da vítima consentir em se expor
ao perigo. Contudo, é ação penal pública condicionada, dependendo, assim, de
representação da vítima.
✓ A consumação ocorre com a realização de ato apto a contaminar, não sendo
necessário que a contaminação de fato ocorra. Evidentemente, se a vítima já
estiver contaminada, estamos diante de um crime impossível, já que o perigo
pressupõe que a vítima não sofreria perigo se não fosse pela ação do agente.

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✓ A transmissão de doença venérea por meio não-sexual está tipificada no art. 131
do Código Penal Brasileiro, o chamado crime de perigo de contágio de moléstia
grave.
✓ AIDS não é considerada doença venérea, pois pode ser transmitida de diversas
formas (transfusão de sangue,...)
✓ Este crime admite a tentativa.

PERIGO DE CONTÁGIO DE MOLÉSTIA GRAVE

Perigo de contágio de moléstia grave

Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de


que está contaminado, ato capaz de produzir o contágio:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

✓ Consiste em praticar ato capaz de produzir contágio de moléstia grave de que está
contaminado o agente.
✓ Trata-se de crime formal, na medida em que é um crime de consumação
antecipada.
✓ Será sempre doloso, pois o legislador introduziu a expressão "com o fim de" no
texto legal. Sendo eventual o dolo, estaremos diante de crime de lesão corporal.
✓ Assim como no crime anterior, o fato da vítima concordar com ser exposta à
moléstia não exclui o crime, e será crime impossível se a vítima é imune ou
portadora da moléstia que o agente pretendia contagiar;
✓ AIDS não é moléstia grave, e sim moléstia incurável, caracterizando sua
transmissão dolosa, tentativa de homicídio ou lesão corporal gravíssima, conforme
dito antes;
✓ Admite tentativa.

PERIGO PARA A VIDA OU SAÚDE DE OUTREM

Perigo para a vida ou saúde de outrem


Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e
iminente:
Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime
mais grave.
Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um terço se a
exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do transporte

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de pessoas para a prestação de serviços em estabelecimentos de


qualquer natureza, em desacordo com as normas legais. ( Incluído pela Lei
nº 9.777, de 29.12.1998)

✓ Consuma-se com a criação do perigo para o sujeito passivo, que é sempre uma
pessoa determinada ou determinável.
✓ Como nos demais casos em que a legislação protege bem indisponível, a
concordância da vítima é irrelevante.
✓ Exemplo clássico – Um rapaz de 20 anos que passa cerol (vidro moído e cola) na
linha de nylon e resolve soltar pipa com ela. Um motociclista passa na rua e tem
seu pescoço cortado pelo cerol. Consuma-se o crime de Perigo para a Vida ou
Saúde de Outrem.
✓ Tipo penal utilizado mormente para punir empregadores que colocam a saúde de
seus trabalhadores em risco, frequentemente visando cortar custos.

ABANDONO DE INCAPAZ

Abandono de incapaz
Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou
autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos
resultantes do abandono:
Pena - detenção, de seis meses a três anos.
§ 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.

Aumento de pena
§ 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um terço:
I - se o abandono ocorre em lugar ermo;
II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou
curador da vítima.
III - se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos (Incluído pela Lei nº 10.741,
de 2003)

✓ É um crime próprio na medida em que somente pode ser cometido por aquele
que tem obrigação de zelar pela integridade e segurança do incapaz.
✓ Consuma-se quando o incapaz que estava sob a responsabilidade do agente
encontra-se em situação de perigo concreto.

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✓ O consentimento do incapaz é irrelevante. Admite tentativa


✓ Será qualificado, mesmo que na modalidade preterdolosa, se do perigo resultar
lesão corporal ou houver resultado morte.
✓ A pena será aumentada se o crime for cometido em lugar ermo, se era o
agente ascendente ou descendente, irmão, tutor ou curador da vítima e se a
vítima contava com mais de 60 anos de idade na época da consumação do
crime.
✓ Para Nelson Hungria a incapacidade pode ser absoluta (em razão de suas
condições) ou acidental (resultante das circunstâncias), dando como exemplo
um alpinista inexperiente abandonado na montanha.
✓ O abandono tem que gerar risco a saúde ou a vida do incapaz. Caso contrário
não há crime.

EXPOSIÇÃO OU ABANDONO DE RECÉM-NASCIDO

Exposição ou abandono de recém-nascido


Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra
própria:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - detenção, de um a três anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - detenção, de dois a seis anos.

✓ É a modalidade privilegiada do abandono de incapaz. Só a mãe pode cometer


esse crime, para ocultar desonra própria.
✓ Mas existem divergências doutrinárias que acreditam que o sujeito ativo do
crime pode ser o pai adúltero, ou os avós, pretendendo proteger a família da
"vergonha".
✓ Visa proteger a saúde e a vida do recém-nascido. A intenção além de
abandonar a criança, deve ser também de ocultar desonra própria.
✓ Admite-se a tentativa.

OMISSÃO DE SOCORRO

Omissão de socorro
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem
risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou

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ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses


casos, o socorro da autoridade pública:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão
resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.
Condicionamento de atendimento médico-hospitalar
emergencial (Incluído pela Lei nº 12.653, de 2012).
Art. 135-A. Exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer
garantia, bem como o preenchimento prévio de formulários administrativos,
como condição para o atendimento médico-hospitalar emergencial: (Incluído
pela Lei nº 12.653, de 2012).
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. (Incluído pela
Lei nº 12.653, de 2012).
Parágrafo único. A pena é aumentada até o dobro se da negativa de
atendimento resulta lesão corporal de natureza grave, e até o triplo se resulta
a morte.(Incluído pela Lei nº 12.653, de 2012)

✓ Este notável dever cívico impõe de solidariedade humana, cumprindo a


missão educativa do Direito Penal. Todos estamos obrigados a socorrer os
expostos a perigo que não tem condições de se defender. A obrigação
legal recai sobre o homem comum, alheio à criação do perigo.O sujeito
passivo é a criança abandonada, extraviada, ou a pessoa ferida, inválida,
ao desamparo ou em grave e iminente perigo. Nos casos de criança ou
pessoa inválida, ferida ou desamparada o perigo é presumido. Nos demais
exige-se perigo concreto para caracterização da omissão. A conduta
exigida pela norma não é propriamente alternativa. Sendo essencial a
assistência direta, o inútil pedido de socorro para a autoridade não exclui
o crime. Consuma-se com a omissão diante do perigo. Não configura
crime se a vítima ofereça resistência que torne impossível a prestação de
socorro ou se ela já faleceu;
✓ Não há tentativa.
✓ A pena é aumentada no caso de lesão grave ou morte preterdolosas.
✓ No caso de idoso, prevê o Estatuto do Idoso:

Art. 97. Deixar de prestar assistência ao idoso, quando possível fazê-lo sem
risco pessoal, em situação de iminente perigo, ou recusar, retardar ou dificultar
sua assistência à saúde, sem justa causa, ou não pedir, nesses casos, o socorro
de autoridade pública:
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.

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MAUS-TRATOS

Maus-tratos
Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua
autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento
ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer
sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de
correção ou disciplina:
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa.
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado
contra pessoa menor de 14 (catorze) anos. (Incluído pela Lei nº
8.069, de 1990)

✓ O crime não exige dano específico (de perigo);


✓ Privação de alimentos ou de cuidados indispensáveis não admitem tentativa
por ser o crime omissivo.
✓ Esposa não sofre maus tratos do marido, pois não está sobre sua autoridade,
guarda ou vigilância. Nesse caso ele responde por lesão corporal.
✓ No caso de criança, adolescente e idoso há previsão específica

Estatuto do Idoso,

Art. 99. Expor a perigo a integridade e a saúde, física ou psíquica, do


idoso, submetendo-o a condições desumanas ou degradantes ou privando-o de
alimentos e cuidados indispensáveis, quando obrigado a fazê-lo, ou sujeitando-
o a trabalho excessivo ou inadequado:
Pena – detenção de 2 (dois) meses a 1 (um) ano e multa.
§ 1ª - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena – reclusão de 4 (quatro) a 12 (doze) anos

ECA, Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade,


guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.

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A diferença da tortura para o crime de maus-tratos, do art. 136, do CP, está


exatamente na intensidade do sofrimento da vítima.
PALAVRA CHAVE: INTENSO SOFRIMENTO FÍSICO OU MENTAL
Ficou perceptível que a diferença entre o crime previsto na lei 9455/97, art 1, II e do art
136 do CP está no elemento normativo do tipo " intenso sofrimento físico", onde a
tortura irá se aplicada em situações extremadas.

O art. 99 da Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, contém a seguinte norma


incriminadora; “Expor a perigo a integridade e a saúde, física ou psíquica, Do Idoso,
submetendo-o a condições desumanas ou degradantes ou privando-o de alimentos e
cuidados indispensáveis, quando obrigado a fazê-lo, ou sujeitando-o a trabalho
excessivo ou inadequado:
Pena – detenção de 2 (dois) meses a 1 (um) ano e multa.”
Nos §§ 1 º e 2º estão descritas as formas qualificadas pelo resultado, com penas
idênticas às do Código Penal.

Idoso é quem tem idade igual ou superior a 60 anos.


A Lei nº 10.741 entra em vigor 90 dias após a publicação, ocorrida em 3-10-2003.

CAPÍTULO IV
DA RIXA

Rixa
Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os contendores:
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.
Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza
grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de
seis meses a dois anos.

✓ Entende- se por rixa o desentendimento, rivalidade, disputa, briga em que os


participantes atacam-se corporalmente, onde a agressão é recíproca, mesmo que
praticada de forma desproporcional.
✓ Segundo a norma vigente é a briga entre mais de duas pessoas, acompanha de
vias de fato ou violências físicas recíprocas, de modo que cada sujeito age por si
mesmo contra qualquer um dos outros contendores. Cumpre-nos salientar que
para a caracterização de tal crime se faz necessário a participação de, no mínimo,
três participantes, e que são, ao mesmo tempo, sujeitos ativos e passivos do
crime.
✓ Crime de Concurso necessário, sendo no mínimo três participantes, sendo
necessário só um imputável.

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✓ Participa da rixa quem se envolve diretamente no entrevero, na balbúrdia, na


confusão, na briga, na luta, desferindo golpes, recebendo outros, agindo, enfim,
da produção das lesões corporais nas pessoas dos outros rixantes. Na rixa as
agressões devem ser mútuas e voltadas para os diversos contendores, não sendo,
por isso, possível a perfeita determinação do modo de atuar de cada um deles. É,
em verdade, um conflito generalizado.
✓ No curso da rixa, terceira pessoa que intervém para separar os contendores pode
sofrer uma agressão injusta, atual ou iminente, e repeli-la usando
moderadamente do meio necessário, causando a morte do seu agressor ou de
outro rixante. Estará, sem dúvida, em legítima defesa. Os participantes
responderão por rixa qualificada.
✓ E entre os rixantes? DAMÁSIO defende a possibilidade de um dos participantes
da rixa poder atuar em legítima defesa quando, desenvolvendo-se a rixa apenas
por meio de vias de fatos, um deles volta-se contra outro com um punhal, sendo
repelido com uma ação que lhe causa a morte.
✓ A ocorrência de lesão corporal grave ou morte qualifica a rixa, respondendo por
ela inclusive a vítima da lesão grave. Mesmo que a lesão grave ou a morte atinja
estranho não participante dela, configura-se a qualificadora. Quando não é
identificado o autor da lesão grave ou do homicídio, todos os participantes
respondem por rixa qualificada; sendo identificado o autor, os outros continuam
respondendo por rixa qualificada, e o autor responderá pelo crime que cometeu
em concurso material ou formal, para alguns, com a rixa qualificada.
✓ A morte ou lesões corporais graves devem ocorrer durante a rixa ou em
consequência dela; não podem ser antes ou depois, isto é, deve haver nexo
causal entre a rixa e o resultado morte ou lesão corporal. A ocorrência de mais de
uma morte ou lesão corporal não altera a unidade da rixa qualificada que continua
sendo crime único, embora deva ser considerada na dosimetria da pena.
✓ O resultado agravado deverá recair sobre todos os que dela tomam parte,
inclusive sobre os desistentes e sobre aqueles que tenham sido vítimas das lesões
graves. Apenas no caso de ter entrado após o resultado qualificador é que não
poderá por ele responder.
✓ O contato físico é dispensável, podendo, por exemplo, ser executado através do
lançamento de objetos (como pedras, garrafas);
✓ No caso específico de briga de torcidas, não há rixa e sim crime previsto no
Estatuto do Torcedor, lei nº 10.671/2003, Art.41-B:

Art. 41-B. Promover tumulto, praticar ou incitar a violência, ou invadir


local restrito aos competidores em eventos esportivos: (Incluído pela Lei nº
12.299, de 2010).
Pena - reclusão de 1 (um) a 2 (dois) anos e multa. (Incluído pela
Lei nº 12.299, de 2010).

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§ 1o Incorrerá nas mesmas penas o torcedor que: (Incluído pela


Lei nº 12.299, de 2010).
I - promover tumulto, praticar ou incitar a violência num raio de 5.000
(cinco mil) metros ao redor do local de realização do evento esportivo, ou
durante o trajeto de ida e volta do local da realização do evento;
(Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).

II - portar, deter ou transportar, no interior do estádio, em suas


imediações ou no seu trajeto, em dia de realização de evento esportivo,
quaisquer instrumentos que possam servir para a prática de violência.
(Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
§ 2o Na sentença penal condenatória, o juiz deverá converter a pena de
reclusão em pena impeditiva de comparecimento às proximidades do estádio,
bem como a qualquer local em que se realize evento esportivo, pelo prazo de
3 (três) meses a 3 (três) anos, de acordo com a gravidade da conduta, na
hipótese de o agente ser primário, ter bons antecedentes e não ter sido
punido anteriormente pela prática de condutas previstas neste artigo.
(Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
§ 3o A pena impeditiva de comparecimento às proximidades do estádio,
bem como a qualquer local em que se realize evento esportivo, converter-se-á
em privativa de liberdade quando ocorrer o descumprimento injustificado da
restrição imposta. (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
§ 4 o
Na conversão de pena prevista no § 2o, a sentença deverá
determinar, ainda, a obrigatoriedade suplementar de o agente permanecer em
estabelecimento indicado pelo juiz, no período compreendido entre as 2 (duas)
horas antecedentes e as 2 (duas) horas posteriores à realização de partidas de
entidade de prática desportiva ou de competição determinada. (Incluído
pela Lei nº 12.299, de 2010).
§ 5o Na hipótese de o representante do Ministério Público propor
aplicação da pena restritiva de direito prevista no art. 76 da Lei no 9.099, de
26 de setembro de 1995, o juiz aplicará a sanção prevista no § 2o.
(Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).

✓ O resultado agravador pode ser por dolo ou culpa, não é necessariamente


preterdoloso;
✓ Aquele que ingressar na rixa depois do resultado gravoso, responderá por rixa
simples;

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CAPÍTULO V
DOS CRIMES CONTRA A HONRA

Nossa Carta Magna, no inciso X do art. 5º, assegura a inviolabilidade da honra e da


imagem das pessoas. Colocou sob a proteção constitucional, dentre os direitos e
garantias fundamentais, esse precioso bem jurídico do ser humano. Honra é o
“sentimento de nossa dignidade própria (honra interna, honra subjetiva)” e também “o
apreço e respeito de que somos objeto ou nos tornamos merecedores perante os nossos
concidadãos (honra externa, honra objetiva, reputação, boa fama). É o sentimento de
apreço acerca das qualidades da pessoa. O sentimento da pessoa sobre os próprios
predicados é a chamada honra subjetiva. O sentimento das outras pessoas acerca das
qualidades de uma outra pessoa é a honra objetiva. Honra subjetiva é a autoestima.
Honra objetiva é a reputação da pessoa.
A doutrina faz ainda distinção entre honra dignidade – que diz respeito às
qualidades morais da pessoa – e honra decoro – que se relaciona com os atributos
físicos e intelectuais. Honra comum é a do homem enquanto homem e honra profissional
é a referente a determinados grupos ou classes de cidadãos. O certo é que a honra é um
valor importante para os indivíduos e por isso o Direito Penal entendeu de incriminar
algumas condutas que se voltam contra ela.
O Código Penal definiu três tipos de crime que têm a honra como bem jurídico
tutelado. São a calúnia, a difamação e a injúria. Na calúnia, imputa-se falsamente a
uma pessoa uma conduta definida como crime pela legislação penal. Ex: “Foi José quem
roubou a padaria da esquina ontem à noite”. Na difamação, imputa-se a uma pessoa
uma determinada conduta que macule a sua honra perante a sociedade, sem que essa
conduta seja definida como ilícito penal. Não importa se a conduta imputada é ou não
verdade, a mera imputação já configura o delito em questão. Ex: “Mévio gosta de
manter relações com seus parentes”. Na injúria, por sua vez, imputa-se ao ofendido
uma conduta que não macula sua imagem perante a sociedade, mas que lhe ofende a
própria honra subjetiva. Ex: “Tício é o homem mais feio que já vi na vida”.

Crime de Calúnia

Calúnia
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido
como crime:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a
propala ou divulga.
§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos.

Exceção da verdade
§ 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo:

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I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido


não foi condenado por sentença irrecorrível;
II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do
art. 141;
III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi
absolvido por sentença irrecorrível.

Calúnia é uma afirmação falsa e desonrosa a respeito de alguém, inclusive


mortos. Consiste em atribuir, falsamente, a alguém a responsabilidade pela prática de
um fato determinado definido como crime, feita com má-fé. Pode ser feita
verbalmente, de forma escrita, por representação gráfica ou internet. Em 2012, o
Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas declarou que a criminalização da
calúnia viola a liberdade de expressão.

Inimputáveis
Para os causalistas, como os menores de 18 anos de idade e outros inimputáveis não
cometem crime, não poderiam ser vítimas de calúnia, já que para a caracterização deste
crime é necessário atribuir à vitima a responsabilidade pela prática de crime.Por outro
lado, para os seguidores da teoria finalista, que retira o elemento culpabilidade do
conceito de crime, os inimputáveis poderiam sim ser vítimas de calúnia.

Consumação
Por ser um crime formal não exige a ocorrência de resultado e consuma-se no momento
em que um terceiro toma conhecimento da mentira caluniosa, mesmo que não provoque
o dano esperado .Admite tentativa, no caso do meio de propagação da calúnia ter sido
interceptado antes de chegar às mãos do terceiro.

Exceção da verdade
A calúnia, viu-se, é a imputação falsa de um fato definido como crime. Falsa porque
não houve o fato ou porque o caluniado não é seu autor ou partícipe. Realizado o tipo de
calúnia, o sujeito passivo poderá propor a ação penal contra o agente, a fim de obter sua
condenação. Este poderá defender-se alegando e provando que a imputação é
verdadeira. Se for bem-sucedido nesse intento, será excluída a tipicidade do fato, por
ser verdadeira a imputação.
Essa reação do acusado da prática de calúnia denomina-se exceção da verdade,
que nada mais é do que o instrumento processual defensivo de que dispõe para provar a
veracidade do fato imputado (art. 138, § 3 º). Não será, entretanto, possível arguir a
exceção da verdade, ainda que verdadeira a imputação, em três situações.

✓ Se o fato típico é de um crime de ação penal de iniciativa privada e o caluniado não


foi condenado por sentença penal irrecorrível, não será admitida a exceção da
verdade. Não podia ser diferente. Nos crimes em que a ação penal é privativa do
ofendido, somente este pode dar início ao processo. É que a ordem jurídica a ele

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reservou esse direito de agir em juízo. Se é assim, não pode terceira pessoa, o
caluniador, promover, por meio da exceção da verdade, a apuração do fato. Quando
a vítima do crime imputado preferiu não ajuizar a queixa é porque, tendo
disponibilidade da ação e não a tendo manejado, acabou por consentir na realização
do fato, que, por isso, deve ser considerado lícito. Se o fato é lícito, não é crime,
logo a sua imputação é calúnia. Se, porém, a ação penal privada foi proposta e
houve sentença penal condenatória irrecorrível, demonstrada estará a existência de
crime, daí que o acusado de calúnia poderá promover a exceção da verdade,
juntando, para tanto, a certidão ou cópia da própria sentença penal condenatória,
com a demonstração de seu trânsito em julgado, livrando-se, assim, da acusação de
calúnia, porque terá imputado um fato verdadeiro.
✓ Também não se admitirá a exceção da verdade quando a calúnia tiver sido proferida
contra o Presidente da República ou chefe de governo estrangeiro. Ainda que
verdadeira a imputação, o caluniador não poderá promover a exceção da verdade,
em razão da qualidade das funções exercidas pelo caluniado, chefe de governo,
nacional ou estrangeiro. O chefe de governo estrangeiro goza de imunidade
diplomática que impede a aplicação da lei penal brasileira, daí que é impossível,
mesmo, a possibilidade da instauração do incidente penal destinado a provar que
praticou o fato a ele atribuído.
✓ Por último, é impossível tentar provar a verdade se o sujeito passivo da calúnia tiver
sido absolvido pela prática do fato imputado, com sentença penal transitada em
julgado. Se o Poder Judiciário já tiver se manifestado, em decisão definitiva, pela
absolvição do caluniado, por qualquer razão, inclusive por insuficiência de prova,
existe a coisa julgada, não sendo permitida a revisão contra o réu que poderia
ocorrer caso a exceção da verdade viesse a ser julgada procedente.

A exceção da verdade pode ser promovida a qualquer tempo, até mesmo após a
sentença condenatória de primeiro grau, desde que nas razões de apelação, e,
submetida ao contraditório, será julgada por sentença. Procedente, importará na
absolvição do agente da calúnia, pela atipicidade do fato. Improcedente a exceção da
verdade, prosseguirá o feito para julgar a prática da calúnia.
Quando o caluniado gozar de foro especial por prerrogativa de função e tiver sido
admitida exceção da verdade, esta, e somente esta, será julgada no foro especial.
Julgada procedente no foro especial, a ação penal pela calúnia será julgada prejudicada,
devendo os autos da exceção da verdade ser encaminhados ao Ministério Público, para
promover a ação penal contra o imputado. Julgada improcedente, os autos serão
remetidos ao juízo de origem, para prosseguir na ação penal pela calúnia.

Extinção da punibilidade
Ocorrerá a extinção da punibilidade sempre que o agente fizer uma retratação completa,
satisfatória e incondicional, reconhecendo publicamente seu erro.É ato unilateral,
pessoal e que independe da anuência do ofendido, devendo ser realizada até a

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publicação da sentença de primeiro grau, sendo que após este momento a retratação
perde sua eficácia como forma de extinção da punibilidade.

Imputar a alguém falsa contravenção


penal não é calúnia, pode ser difamação.

Denunciação caluniosa

Art. 339. Dar causa à instauração de investigação policial, de processo


judicial, instauração de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de
improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe
inocente: (Redação dada pela Lei nº 10.028, de 2000)
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
§ 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de
anonimato ou de nome suposto.
§ 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de
contravenção.

✓ O elemento subjetivo do tipo é a vontade específica de ofender a honra da vítima


(animus calumniandi), devendo haver o dolo que pode ser direto ou eventual.
✓ Então, só pratica crime contra a honra, aquele que tiver o propósito manifesto de
ofender a honra, onde há o animus calumniandi.
✓ Nenhuma hipóteses abaixo descritas se enquadra na calúnia:
1. Se uma pessoa conta para outra o que ouviu, ela simplesmente está agindo
com animus narrandi.
2. Um acusado quando diz ao juiz que outra pessoa cometeu o crime que está
sendo imputado a ele, está agindo com animus defendendi.
3. e o indivíduo está querendo fazer uma brincadeira, está agindo com animus
jocandi.
4. Se estiver aconselhando alguém, age com animus consulendi.
5. Com a intenção de corrigir, animus defendendi.

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Crime de Difamação

Difamação

Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua


reputação:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Exceção da verdade
Parágrafo único - A exceção da verdade somente se admite se o
ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas
funções.

Difamação - Imputar algo desonroso a outrem, mas não qualquer fato


inconveniente, mas fato efetivamente ofensivo à reputação. O sujeito ativo (quem
comete) pode ser qualquer pessoa humana (ser humano). Sujeito passivo (quem sofre)
pode ser qualquer pessoa humana ou jurídica (Súmula 227 do Superior Tribunal de
Justiça).
Imputação de fato - É necessário que o fato seja descritivo, não servindo um
mero insulto ou xingamento. muitas das vezes sendo contra funcionário público a pena
aumenta de um sexto há um terço.
Exceção da verdade - Como para este tipo de crime o dano ocorrerá
independentemente da veracidade da afirmação, somente se admite a exceção da
verdade (alegação do réu de que o fato imputado é verídico) como defesa se a
difamação for contra servidor público e a ofensa é relativa ao exercício de sua funções
(parágrafo único, art. 139 do CP).
Rito - É considerado crime de menor potencial ofensivo para os fins da Lei
9.099/1995, sendo competente o Juizado Especial Criminal, pois com a Lei 10.259/2001,
tal rito passou a ser aplicável para os delitos com rito especial que tenham pena
privativa de liberdade máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com
multa. Assim, é possível a composição dos danos e a transação penal regidos pela Lei
9.099/1995. Em ambas as hipóteses, não caracteriza antecedentes criminais.

✓ O fato tem que ser determinado, verdadeiro ou falso, criminoso ou não ou


contravenção penal;

✓ Morto não pode ser vítima de difamação;

✓ Pessoa jurídica pode ser vítima de difamação;

✓ A exceção da verdade atinge a ilicitude, e não a atipicidade da conduta, como no


caso de calúnia, pois é uma forma de exercício regular do direito.

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Crime de Injúria

Injúria do latim injuria, de in + jus = injustiça, falsidade. No Direito consiste em


atribuir a alguém qualidade negativa, que ofenda sua honra, dignidade ou decoro. É um
crime que consiste em ofender verbalmente, por escrito ou até fisicamente (injúria
real), a dignidade ou o decoro de alguém, ofendendo a moral, com a intenção de abater
o ânimo da vítima.

Injúria

Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:


Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:
I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a
injúria;
II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.

§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua


natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena
correspondente à violência.

§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor,


etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de
deficiência:
Pena - reclusão de um a três anos e multa.

✓ Dignidade - ofender as qualidades morais (chamar alguém de “sem vergonha”);


✓ Decoro - ofender as qualidades físicas (gordo, mostro) ou intelectuais (débil
mental, retardado);
✓ Pode ser praticado por ação ou omissão (José estende a mão para Maria e a
despreza);
✓ Consuma no momento em que o fato chega ao conhecimento da vítima, dispensando
efetivo dano a sua dignidade ou decoro.
✓ Injúria Real (§ 2º) – Cuspir na vítima, puxar o cabelo;
✓ Aviltante, humilhante,
✓ A doutrina majoritária entende que a injúria racial não contempla o perdão judicial
prevista no § 1º.

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Disposições comuns – Injúria, Calúnia e Difamação

Art. 141 - As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço,


se qualquer dos crimes é cometido:
I - contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo
estrangeiro;
II - contra funcionário público, em razão de suas funções;
III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação
da calúnia, da difamação ou da injúria.
IV - contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de
deficiência, exceto no caso de injúria.
§ 1º - Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de
recompensa, aplica-se a pena em dobro.

Exclusão do crime
Art. 142 - Não constituem injúria ou difamação punível:
I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por
seu procurador;
II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo
quando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar;
III - o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em
apreciação ou informação que preste no cumprimento de dever do ofício.
Parágrafo único - Nos casos dos ns. I e III, responde pela injúria ou pela
difamação quem lhe dá publicidade.

Retratação
Art. 143 - O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da
calúnia ou da difamação, fica isento de pena.
Art. 144 - Se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia,
difamação ou injúria, quem se julga ofendido pode pedir explicações em juízo.
Aquele que se recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as dá satisfatórias,
responde pela ofensa.
Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede
mediante queixa, salvo quando, no caso do art. 140, § 2º, da violência resulta
lesão corporal.
Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça,
no caso do inciso I do caput do art. 141 deste Código, e mediante
representação do ofendido, no caso do inciso II do mesmo artigo, bem como
no caso do § 3o do art. 140 deste Código.

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Injúria racial e racismo

✓ Há a injúria racial quando as ofensas de conteúdo discriminatório são


empregadas a pessoa ou pessoas determinadas. Ex.: negro fedorento,
judeu safado, baiano vagabundo, alemão azedo, etc.
✓ O crime de Racismo constante do artigo 20 da Lei nº 7.716/89 somente
será aplicado quando as ofensas não tenham uma pessoa ou pessoas
determinadas, e sim venham a menosprezar determinada raça, cor,
etnia, religião ou origem, agredindo um número indeterminado de
pessoas. Ex.: negar emprego a judeus numa determinada empresa,
impedir acesso de índios a determinado estabelecimento, impedir entrada
de negros em um shopping, etc.
✓ o crime de racismo possui penas superiores às do crime de injúria racial;
✓ o crime de racismo é imprescritível e inafiançável, enquanto que o de
injúria racial o réu pode responder em liberdade, desde que paga a
fiança, e tem sua prescrição determinada pelo art. 109, IV do CÓDIGO
PENAL em oito anos;
✓ o crime de racismo, em geral, sempre impede o exercício de determinado
direito, sendo que na injúria racial há uma ofensa a pessoa determinada;
✓ o crime de racismo é de ação pública incondicionada, sendo que a injúria
racial é de ação penal privada;
✓ enquanto que no crime de racismo há a lesão do Princípio da Dignidade
da Pessoa Humana, no crime de injúria há a lesão da honra subjetiva da
vítima.

Súmula 714 STF


É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do
ministério público, condicionada à representação do ofendido, para a ação
penal por crime contra a honra de servidor público em razão do exercício de
suas funções.

✓ Ou seja, tratando-se de ofensa contra funcionário público sem vínculo com a


função, a ação penal é privada.

CRIMES CONTRA A HONRA EM LEIS ESPECIAS

LEI DE SEGURANÇA NACIONAL

A Lei nº 7.170, de 14 de dezembro de 1983, que define os crimes contra a


segurança nacional e a ordem política e social, definiu no art. 26 o seguinte tipo legal de
crime: “caluniar ou difamar o Presidente da República, o do Senado Federal, o da

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Câmara dos Deputados ou o do Supremo Tribunal Federal, imputando-lhes fato definido


como crime ou fato ofensivo à reputação”. A pena é de reclusão, de um a quatro anos.
À primeira vista poderia parecer que, diante dessa norma, todo e qualquer crime
contra a honra do Presidente da República ou de qualquer dos demais titulares das
funções mencionadas no dispositivo constitua crime contra a segurança nacional,
afastando, assim, a incidência das correspondentes normas do Código Penal. Não é
assim, felizmente.
O art. 2º da mesma lei esclarece que quando o fato estiver previsto também no
Código Penal, como é o caso da calúnia e da difamação, sua incidência dependerá da
motivação e dos objetivos do agente, bem assim da ocorrência de lesão, real ou
potencial, a pessoa dos chefes dos poderes da União.
Em outras palavras, só haverá calúnia ou difamação punidas pela Lei de Segurança
Nacional se o agente agiu com motivação política e com o fim de causar lesão à honra
do cargo, e desde que tenha havido efetivo dano ou, pelo menos, possibilidade de lesão
à honra da autoridade.

ESTATUTO DO IDOSO

A Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003 – o Estatuto do Idoso –, definiu, no


art. 105, a seguinte conduta típica: “exibir ou veicular, por qualquer meio de
comunicação, informações ou imagens depreciativas ou injuriosas à pessoa do idoso”.
A pena é detenção de 1 (um) a 3 (três) anos e multa.
Idoso é quem tem idade igual ou superior a 60 anos.

IMUNIDADE PARLAMENTAR

Parlamentares federais, estaduais, distritais e municipais gozam da imunidade


material em relação também à injúria, desde que no exercício do mandato e em razão
dele.

CAPÍTULO VI
DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL

SEÇÃO I

DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL

Observação para nunca esquecer: haverá sempre concurso material quando houver
crimes contra a liberdade individual e outros.

Do Crime de Constrangimento Ilegal

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O constrangimento é obtido mediante violência, grave ameaça ou por qualquer


outro meio análogo que seja capaz de reduzir a capacidade de resistência da vítima.
Violência é o emprego de força física sobre o corpo da vítima através de lesões corporais
ou da aplicação de mecanismos que tolhem sua liberdade de movimento.
Grave ameaça é a violência moral. É a promessa da causação de um mal grave. O
mal prometido não necessita ser injusto, porque no tipo não há essa exigência. Basta
que seja grave. Também se perfaz o tipo quando o agente emprega um outro meio
capaz de minar a capacidade de resistência da vítima, retirando-lhe a plena capacidade
de determinação. É o que acontece quando a vítima é levada, por erro, a ingerir
substância inebriante ou é hipnotizada, sedada, perdendo a plenitude de suas faculdades
mentais. O resultado pretendido pelo agente é um comportamento da vítima, positivo ou
negativo. Fazer aquilo que a lei não manda ou deixar de fazer o que a lei permite.
O crime de constrangimento ilegal pode ser praticado inclusive na ausência do
ofendido e de forma indireta, como no exemplo de obrigar alguém a certo ato via
mensagem eletrônica sob ameaça de grave dano para seu filho.
Exemplo de Constrangimento Ilegal: digo que alguém não passará em minha rua,
ou lhe agredirei. Isso é constrangimento ilegal, pois àquela pessoa é permitido passar
em minha rua.

Constrangimento ilegal
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou
depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de
resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
Aumento de pena
§ 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quando, para a
execução do crime, se reúnem mais de três pessoas, ou há emprego de
armas.
§ 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à
violência.
§ 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo:
I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente
ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida;
II - a coação exercida para impedir suicídio.

AMEAÇA

Ameaça
Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer
outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único - Somente se procede mediante representação.

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A paz interior, a tranquilidade espiritual, é um estado da liberdade psíquica do ser


humano. É bem jurídico importante que merece a Proteção do Direito Penal. A todas as
pessoas é exigido o respeito à inviolabilidade dessa liberdade interna do outro. Qualquer
pessoa pode ser sujeito ativo desse crime, mas o funcionário público pode cometer crime
de abuso de autoridade, consoante dispõe a Lei nº 4.898/65. Sujeito passivo é qualquer
pessoa que tenha capacidade para ser intimidada. Portanto, as crianças de pouca idade
e os doentes mentais não são intimidáveis.
Concretiza-se a ameaça através de palavra, escrita ou oral, de gestos ou qualquer
meio simbólico, como desenhos, pinturas e objetos mostrados à vítima, diretamente ou
por qualquer meio de comunicação, como telefone, carta, telegrama ou Internet. A
ameaça pode ser feita diretamente à vítima ou por interposta pessoa a quem é
comunicada a promessa do mal, para que esta a transmita. Pode ser também reflexa,
comunicada a vítima de que terceira pessoa a ela ligada por laços de parentesco ou
afetividade sofrerá o mal.
O conteúdo da ameaça pode ficar evidenciado nas palavras, gestos ou símbolos, ou
restar implícita, quando houver dubiedade na frase proferida pelo agente, desde,
evidentemente, que seja de molde a intimidar a vítima. O mal prometido deve ser
injusto e grave. Promessas de mal lícito como a de mandar prender a vítima que tenha
cometido um crime ou de executar a dívida vencida garantida por título executivo não
configuram ameaça, porquanto o mal prometido, nesses casos, é justo.
Haverá erro de tipo quando o agente imagina ser justo o mal prometido, restando
excluída a tipicidade do fato, ainda que evitável o erro, porque não há modalidade
culposa. Além de injusto o mal deve ser grave, no sentido de ter eficiência causal
suficiente para provocar o estado de intranquilidade do sujeito passivo. Serão graves a
promessa de matar, ferir, prender, danificar um bem valioso, restringir ou impedir o
exercício de um direito, subtrair uma coisa de estimação do poder da vítima.
✓ Não há ameaça de morte quando o agente aponta para a vítima uma arma
induvidosamente de brinquedo, por ela assim reconhecida. Nesses casos o meio
utilizado é absolutamente ineficaz, não tendo sequer potencialidade para
intimidar.
✓ Há ameaça, contudo, quando a arma de brinquedo apontada é uma cópia
perfeita de arma verdadeira.
✓ Há ameaça quando o agente promete a realização de um mal atual, iminente ou
futuro. Prometendo e cumprindo, realizando, pois, o mal anunciado, a ameaça
restará absorvida pelo crime concretizado.
✓ Caso fique o agente apenas na promessa, ainda que de um mal para o futuro
remoto, responderá tão-somente pela ameaça.

Conflito Aparente De Normas

A ameaça integra, como elemento estrutural, outros tipos de crime, como o


constrangimento ilegal, estupro, atentado violento ao pudor, extorsão ou roubo, e por
estes será absorvida. Se a ameaça tem como finalidade atemorizar a vítima para que

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ela realize algum comportamento a que não esteja obrigada, haverá constrangimento
ilegal.

Ilicitude E Culpabilidade

Se o agente, para repelir uma agressão injusta, proferir, contra o agressor, uma
promessa de causar-lhe um mal grave, infundindo temor no agressor, terá realizado um
fato atípico, porque, neste caso, o mal prometido, apesar de grave, não será injusto,
porque justificado, pela legítima defesa, que, neste caso, constitui uma causa de
exclusão da tipicidade, vez que a injustiça é circunstância elementar do tipo.
Possível a legítima defesa – aqui como excludente da tipicidade –, possível será
também a descriminante putativa correspondente, ficando excluída a culpabilidade
quando o agente supõe situação de fato que, se existente, tornaria sua reação legítima.
Pode a culpabilidade ainda ser excluída se o agente da ameaça encontra-se, ele
mesmo, sob coação moral irresistível ou outra situação de inexigibilidade de conduta
diversa, não tendo outro meio senão o de ameaçar a vítima.

Qual é a diferença entre ameaça e constrangimento ilegal?


A melhor maneira de lembrarmos é o famoso SE. Se colocamos um “SE”,
estamos em constrangimento ilegal. Se não há o se, trata-se de ameaça.
Como funciona: “se você vier à aula, você morre.” Aqui há o se, então
estamos falando de constrangimento ilegal. Mas, se viro para alguém e faço
aquele famoso gesto de garganta cortada, está consumada a ameaça, não o
constrangimento. E se houver os dois? Dois crimes. A diferença é muito sutil.
Dentro do constrangimento, devemos provocar o mal maior, mas não de uma
maneira exata, sem vincular a outro ato. Na ameaça, o ato é direto.
Bittencourt diz que no constrangimento ilegal temos dois atos. Por isso
utilizamos o se. A ameaça é instantânea em relação ao constrangimento
ilegal. Neste, podemos ter os dois atos: “Se você não matá-la , eu te mato”!

SEQUESTRO E CÁRCERE PRIVADO

Há duas maneiras de realização da conduta: sequestrando a pessoa ou mantendo-a


em cárcere privado.
O sequestro só se realiza mediante comissão, mas a manutenção da vítima em
cárcere privado pode dar-se mediante omissão, quando o agente deixa de colocar em
liberdade a vítima que se encontra sob sua guarda para fins de tratamento.

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Sequestro e cárcere privado


Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro ou
cárcere privado:
Pena - reclusão, de um a três anos.
§ 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos:
I - se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do
agente ou maior de 60 (sessenta) anos;
II - se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de
saúde ou hospital;
III - se a privação da liberdade dura mais de 15 (quinze) dias.
IV - se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos;
V - se o crime é praticado com fins libidinosos.
§ 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da natureza da
detenção, grave sofrimento físico ou moral:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.

Diferença entre SEQUESTO e CÁRCERE PRIVADO?


No sequestro a vítima tem maior liberdade de locomoção (vítima presa numa
fazenda). Já no cárcere privado, a vítima vê-se submetida a uma privação de
liberdade num recinto fechado, como por exemplo: dentro de um quarto ou
armário.

Qual a diferença entre DENTENÇÃO E RETENÇÃO?

Na detenção priva-se a vítima da liberdade, levando ela para algum lugar. Já


na retenção impede-se a vítima de sair de um determinado lugar.

✓ A duração da privação da liberdade é irrelevante.


✓ O crime só é punido a tipo de DOLO.
✓ São delitos MATERIAIS e PERMANENTES, uma vez que o tipo descreve a
conduta e o resultado.
✓ É possível a TENTATIVA.
✓ A AÇÃO PENAL É PÚBLICA INCONDICIONADA.

Observe-se que na causa de aumento (§1º, II) relativo à internação da vítima,


deve existir o DOLO DE SEQUESTRAR camuflando o sequestro com a internação.
Aqui é necessário distinguir o DOLO DE SEQUESTRAR, da conduta relacionada aos
Arts. 22 e 23 da Lei 3.688/41 (contravenções penais) relativo à contravenção
conhecida como INTERNAÇÃO IRREGULAR.

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Art. 22. Receber em estabelecimento psiquiátrico, e nele internar, sem as


formalidades legais, pessoa apresentada como doente mental:
Pena – multa, de trezentos mil réis a três contos de réis.
§ 1º Aplica-se a mesma pena a quem deixa de comunicar a autoridade
competente, no prazo legal, internação que tenha admitido, por motivo de
urgência, sem as formalidades legais.
§ 2º Incorre na pena de prisão simples, de quinze dias a três meses, ou
multa de quinhentos mil réis a cinco contos de réis, aquele que, sem observar
as prescrições legais, deixa retirar-se ou despede de estabelecimento
psiquiátrico pessoa nele, internada.
Art. 23. Receber e ter sob custódia doente mental, fora do caso previsto
no artigo anterior, sem autorização de quem de direito:
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de
quinhentos mil réis a cinco contos de réis.

Já no caso do fim libidinoso (previsto no § 1º, V) nunca é demais lembrar que


abrange homem ou mulher, uma vez que o tipo “rapto” foi revogado pela lei
11.106/2005.

✓ O tipo diz respeito ao fim libidinoso. E esgota-se na finalidade. Contudo, se o


agente praticar o ato sexual, responderá em concurso material de crimes:
Sequestro + Estupro. Neste caso, aplicar-se a o sequestro do caput, sem o
aumento de pena pelo fim libidinoso para que não incorra em bis idem.
✓ Preliminarmente quem sequestra não quer matar, já que se sequestra pessoa
viva. Contudo, se a pessoa for maltratada e não morrer (§ 2º) a pena será de
2 a 8 anos. Já se a morte for culposa a pena será menor do que os maus
tratos.

REDUÇÃO A CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE ESCRAVO

Redução a condição análoga à de escravo


Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer
submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o
a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio,
sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena
correspondente à violência.
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem:
I - cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do
trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho;
II - mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de
documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local
de trabalho.

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§ 2o A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido:


I - contra criança ou adolescente;
II - por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem. .

Os meios de execução do procedimento típico contidos na norma incriminadora são:


✓ submeter a vítima a trabalhos forçados;
✓ submeter a vítima a jornada exaustiva;
✓ sujeitar a vítima a condições degradantes de trabalho; e
✓ restringir, por qualquer meio, a locomoção da vítima em razão de dívida contraída
com o empregador ou preposto.
Submeter é obrigar, compelir, através de violência, grave ameaça, ou qualquer
outro meio capaz de diminuir a capacidade de resistência da vítima. Possível também
que a submissão se dê por meio fraudulento ou enganoso. Trabalhos forçados são
atividades laborais impostas contra a vontade da vítima. Jornada exaustiva é o período
de trabalho diário imposto em condições que signifiquem sofrimento físico ou mental,
além das forças da vítima, daí que devem ser consideradas as suas condições pessoais.
Sujeitar é, igualmente, impor com violência, grave ameaça ou fraude. Condições
degradantes são aquelas que importam em grave desrespeito moral, ferindo a dignidade
da pessoa.
Restringir a locomoção é impor empecilho ou obstáculo ao direito de ir e de vir.
Esse meio executório será reconhecido quando o agente atingir a liberdade locomotora,
em razão de dívida contraída pela vítima com o seu empregador ou preposto. Realiza-se
por meio de violência, grave ameaça, outro meio que atinge a capacidade de resistência
da vítima, e também através de fraude. Cuida aqui a norma das práticas impostas por
fazendeiros da Amazônia que, após compelirem seus empregados a adquirirem gêneros
de primeira necessidade em armazéns do próprio estabelecimento agropecuário ou de
prepostos seus, coloca-os em situação de devedores para, ao depois, exigirem sua
permanência até liquidação da dívida.
Não basta, porém, para se reconhecer a tipicidade do fato que o agente empregue
um dos meios executórios referidos. É indispensável que, através de um deles, a vítima
seja colocada numa situação de absoluta submissão aos desejos do agente. Aí passa a
experimentar uma condição semelhante à do escravo histórico, que não tinha
personalidade, que era uma coisa e como tal tratado, objeto de contrato de alienação ou
de empréstimo, desrespeitado no seu direito de ir e de vir, no direito de ter sua
integridade física e moral intocados, enfim, sem qualquer possibilidade de se
autodeterminar.
A vítima é compelida a aceitar a condição de submissão, trabalhando como se
escravo fosse, em virtude das ameaças ou da violência empregada, que a mantém sem
a possibilidade de reagir à constrição, ou pelas próprias condições do lugar em que é
colocada, privada de acesso à vida livre. Não há supressão da liberdade jurídica da
vítima, que a conserva, mas sem qualquer eficácia, em face da realidade fática que
prevalece.

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Não será plágio, por isso, a simples conduta do agente que submete a vítima a
trabalho forçado, jornada exaustiva ou condições de trabalho degradantes, ou a que
restringe sua liberdade locomotora, sem que, com qualquer dessas condutas resulte a
redução do status libertatis da vítima, com sua conversão ao estado análogo ao de
escravo.

TRÁFICO DE PESSOAS (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)

Art. 149-A. Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar,


alojar ou acolher pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou
abuso, com a finalidade de:
I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo
II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo;
III - submetê-la a qualquer tipo de servidão;
IV - adoção ilegal; ou
V - exploração sexual.
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
§ 1o A pena é aumentada de um terço até a metade se:
I - o crime for cometido por funcionário público no exercício de suas
funções ou a pretexto de exercê-las;
II - o crime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa idosa ou
com deficiência;
III - o agente se prevalecer de relações de parentesco, domésticas, de
coabitação, de hospitalidade, de dependência econômica, de autoridade ou de
superioridade hierárquica inerente ao exercício de emprego, cargo ou função;
ou
IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do território nacional.
§ 2o A pena é reduzida de um a dois terços se o agente for primário e não
integrar organização criminosa.

A lei 13.344/16, por seus artigos 13 e 16, alterou o CP Brasileiro, inserindo o artigo
149 – A com o "nomen juris" de "tráfico de pessoas" e revogando expressamente os
artigos 231 e 231 –A, CP que anteriormente tratavam da matéria. O artigo 149 – A, CP é
um crime de ação múltipla, conteúdo variado ou tipo misto alternativo, pois contempla
vários núcleos verbais, sendo eles: agenciar, aliciar, recrutar, transferir, comprar, alojar
ou acolher.
O sujeito ativo do crime é qualquer pessoa, pois se trata de infração penal comum.
Quanto ao sujeito ativo, também é qualquer pessoa. Em alguns casos que se verá mais
adiante, a especial condição do sujeito ativo ou passivo ensejará aumentos de pena. A
prática dos verbos deve se dar mediante meios especialmente elencados na norma:
grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso. Não há previsão de conduta culposa,
o que realmente seria um tanto quanto inimaginável.

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DIREITO PENAL
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CRIME CONTRA A INVIOLABILIDADE DE DOMICÍLIO

A casa é o refúgio do ser humano. É seu abrigo e de seus entes queridos. É o lugar
a partir do qual constrói e mantém sua família, no qual vive agregado com seus
descendentes. É o lugar do descanso onde os membros de uma família se comprazem.
É onde as pessoas podem desfrutar de paz e tranquilidade. A casa tem, por essa razão,
sua inviolabilidade assegurada constitucionalmente.

“Antes mesmo que a Revolução Francesa erigisse em garantia


constitucional o princípio de que ‘la maison de chaque citoyen est un asile
inviolable’, o cidadão inglês já podia dizer: ‘my house is my castle’, e já
Lord CHATAM, no Parlamento britânico, proclamava, num rasgo de
eloquência: o mais pobre dos homens pode desafiar na sua cabana as
forças da Coroa. Embora a moradia ameace ruína, ofereça o teto larga
entrada à luz, sopre o vento através das frinchas, a tempestade faça de
toda a casa o seu ludíbrio, nada importa: acha-se garantida a choupana
humilde contra o Rei da Inglaterra, cujo poder vai despedaçar-se contra
aquele miserável reduto’.”

Violação de domicílio
Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra
a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em
suas dependências:
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
§ 1º - Se o crime é cometido durante a noite, ou em lugar ermo, ou com o
emprego de violência ou de arma, ou por duas ou mais pessoas:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da pena correspondente
à violência.
§ 2º - Revogado
§ 3º - Não constitui crime a entrada ou permanência em casa alheia ou em
suas dependências:
I - durante o dia, com observância das formalidades legais, para efetuar
prisão ou outra diligência;
II - a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime está sendo ali
praticado ou na iminência de o ser.
§ 4º - A expressão "casa" compreende:
I - qualquer compartimento habitado;
II - aposento ocupado de habitação coletiva;
III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão
ou atividade.
§ 5º - Não se compreendem na expressão "casa":

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I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto


aberta, salvo a restrição do n.º II do parágrafo
anterior;
II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.

Supremo reconhece como prova escutas feitas em escritório de


advogado (20/11/2008)
O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu, por maioria, que o
escritório do advogado Virgílio Medina não equivale a domicílio e aceitou
que, por isso, a polícia poderia ter entrado para a colocação de escutas
ambientais. Com isso, o Tribunal considerou legais as provas obtidas por
meio da escuta ambiental.
A decisão do Supremo responde a uma das questões preliminares da defesa
no Inquérito 2424, que investiga a participação de Medina e outras quatro
pessoas – algumas agentes públicos – num esquema de venda de decisões
judiciais favoráveis a uma quadrilha que explorava caça-níqueis e bingos.
Virgílio Medina, irmão do ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ)
Paulo Medina, é considerado peça chave no esquema de venda de decisões
judiciais. A suposta participação de Virgílio como mediador das vendas foi
definida pelo relator do processo no Supremo, o ministro Cezar Peluso,
como motivo suficiente para considerar que seu escritório não seria um
lugar para a prática do Direito, e, sim, do crime. “A garantia da
inviolabilidade não serve nos casos em que o próprio advogado é acusado
do crime, ou seja, a inviolabilidade (garantida pela Constituição) não pode
transformar o escritório em reduto do crime”, acrescentou.
Ele afirmou que a garantia constitucional da inviolabilidade do domicílio e
dos escritórios e oficinas onde se trabalha reservadamente – como é o caso
dos escritórios de advocacia – é relativa, assim como são todos os direitos,
inclusive o da vida, se há necessidade de legítima defesa.
Peluso também entendeu que não haveria como a polícia instalar as escutas
durante o dia, quando os agentes seriam facilmente identificados.

CRIMES CONTRA A VIOLAÇÃO DE CORRESPONDÊNCIA

VIOLAÇÃO DE CORRESPONDÊNCIA

Violação de correspondência

Art. 151 - Devassar indevidamente o conteúdo de correspondência fechada,


dirigida a outrem:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

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Sonegação ou destruição de correspondência


§ 1º - Na mesma pena incorre:
I - quem se apossa indevidamente de correspondência alheia, embora não
fechada e, no todo ou em parte, a sonega ou destrói;

Violação de comunicação telegráfica, radioelétrica ou telefônica


II - quem indevidamente divulga, transmite a outrem ou utiliza abusivamente
comunicação telegráfica ou radioelétrica dirigida a terceiro, ou conversação
telefônica entre outras pessoas;
III - quem impede a comunicação ou a conversação referidas no número
anterior;
IV - quem instala ou utiliza estação ou aparelho radioelétrico, sem observância
de disposição legal.
§ 2º - As penas aumentam-se de metade, se há dano para outrem.
§ 3º - Se o agente comete o crime, com abuso de função em serviço postal,
telegráfico, radioelétrico ou telefônico:
Pena - detenção, de um a três anos.
§ 4º - Somente se procede mediante representação, salvo nos casos do § 1º,
IV, e do § 3º.

Correspondência comercial
Art. 152 - Abusar da condição de sócio ou empregado de estabelecimento
comercial ou industrial para, no todo ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou
suprimir correspondência, ou revelar a estranho seu conteúdo:
Pena - detenção, de três meses a dois anos.
Parágrafo único - Somente se procede mediante representação.

As comunicações entre os humanos, por meios modernos ou antigos, só a eles, em


particular, dizem respeito e devem ser protegidas contra sua divulgação. A não ser
excepcionalmente poderá o Estado, quando o interesse público o reclamar, permitir,
para fins específicos e estritos, a violação do sigilo das comunicações.
Para conferir efetividade ao preceito maior o legislador do Código Penal construiu
tipos legais de crimes conferindo proteção ao direito que as pessoas têm de manter
invioladas suas comunicações com outras. É o sigilo das comunicações interpessoais
elevado à categoria de bem constitucionalmente protegido.
A descrição típica do art. 151 do Código Penal é: “devassar indevidamente o
conteúdo de correspondência fechada, dirigida a outrem”. Descrição típica idêntica
encontra-se no art. 40 da Lei nº 6.538, de 22 de junho de 1978, que dispõe sobre os
serviços postais no país. A indagação que se coloca, por isso, é sobre a vigência do art.
151 do Código Penal.
Além de construir tipo idêntico ao do art. 151, a Lei nº 6.538/78 não fez dele
derivar o tipo qualificado, quando cometido o crime “com abuso de função em serviço

38
DIREITO PENAL
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postal” como o faz o Código Penal no § 3º do art. 151, cominando pena de detenção de
um a três anos.
Diferentemente, determinou a referida lei que tal circunstância seja apenas uma
agravante da pena (art. 43). Ora, a lei regulou integralmente a mesma matéria – crime
de violação de correspondência – e deu-lhe tratamento mais benéfico que o art. 151 do
Código Penal, sendo, com ele, absolutamente incompatível. Revogou-o tacitamente.
Em consequência, o crime de violação de correspondência é o definido no art. 40 da
Lei nº 6.538/78 e não o do art. 151, do Código Penal, que se encontra revogado.
Protege a norma a liberdade de comunicar sigilosamente o pensamento, o sigilo da
comunicação por correspondência, como ente integrante da liberdade individual.
Sujeito ativo desse crime é qualquer pessoa, salvo o remetente e o destinatário da
correspondência, os quais são, simultaneamente, os sujeitos passivos do crime. É o que
a doutrina denomina de dupla subjetividade passiva. O verbo utilizado no tipo é
devassar, no sentido de conhecer. Através da conduta o agente toma conhecimento do
que se contém na correspondência. Não é imprescindível que a correspondência seja
aberta, pois será possível conhecer seu conteúdo quebrando seu sigilo sem a abertura
física de seu envoltório, como quando se a contrapõe a feixe de luz.
A simples abertura de envelope no qual está contida carta não configura a
conduta, se quem o abriu não queria conhecer seu conteúdo, nem o conheceu. É,
necessariamente, conduta comissiva. Impossível conduta omissiva. Correspondência é
“toda comunicação, pessoa a pessoa, por meio de carta, através da via postal ou por
telegrama”.

DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DOS SEGREDOS

Divulgação de segredo

O bem jurídico protegido é o direito ao sigilo sobre a intimidade da vida privada do


ser humano, que pode causar dano a qualquer pessoa e que, por isso, deve ser
resguardada em relação a terceiros.
Sujeito ativo do crime é o destinatário ou o detentor da correspondência. Sujeito
passivo é o remetente da correspondência e também a pessoa que venha a sofrer o
dano decorrente da violação do segredo, inclusive o destinatário, quando praticado o
crime pelo detentor.

Divulgação de segredo

Art. 153 - Divulgar alguém, sem justa causa, conteúdo de documento particular ou
de correspondência confidencial, de que é destinatário ou detentor, e cuja divulgação
possa produzir dano a outrem:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
§ 1º Somente se procede mediante representação. (Parágrafo único renumerado
pela Lei nº 9.983, de 2000)

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DIREITO PENAL
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§ 1o-A. Divulgar, sem justa causa, informações sigilosas ou reservadas, assim


definidas em lei, contidas ou não nos sistemas de informações ou banco de dados da
Administração Pública: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 9.983,
de 2000)
§ 2o Quando resultar prejuízo para a Administração Pública, a ação penal será
incondicionada. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

Violação do segredo profissional

O bem jurídico protegido é o sigilo profissional, garantidor da liberdade individual


das pessoas que confiam nos profissionais.
Sujeito ativo é a pessoa que, em razão de sua função, ministério, ofício ou
profissão, conhece o segredo do outro.
Sujeito passivo é qualquer pessoa que possa sofrer dano em razão da divulgação
do segredo. Pode ser aquele que confidenciou o segredo ao agente ou a terceira pessoa
à qual se refere a informação sigilosa.

Violação do segredo profissional


Art. 154 - Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência
em razão de função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa
produzir dano a outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
Parágrafo único - Somente se procede mediante representação.

Invasão de dispositivo informático

O bem jurídico protegido é o sigilo profissional, garantidor da liberdade individual


das pessoas que confiam nos profissionais.

Invasão de dispositivo informático

Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de


computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com o
fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização
expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para
obter vantagem ilícita:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
§ 1o Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui, vende ou difunde
dispositivo ou programa de computador com o intuito de permitir a prática da
conduta definida no caput.
§ 2o Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se da invasão resulta prejuízo
econômico.

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§ 3o Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de comunicações


eletrônicas privadas, segredos comerciais ou industriais, informações sigilosas,
assim definidas em lei, ou o controle remoto não autorizado do dispositivo
invadido:
Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta não
constitui crime mais grave.
§ 4o Na hipótese do § 3o, aumenta-se a pena de um a dois terços se houver
divulgação, comercialização ou transmissão a terceiro, a qualquer título, dos
dados ou informações obtidos.
§ 5o Aumenta-se a pena de um terço à metade se o crime for praticado contra:
I – Presidente da República, governadores e prefeitos;
II – Presidente do Supremo Tribunal Federal;
III – Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de Assembleia
Legislativa de Estado, da Câmara Legislativa do Distrito Federal ou de Câmara
Municipal; ou
IV – dirigente máximo da administração direta e indireta federal, estadual,
municipal ou do Distrito Federal.”

Art. 154-B Nos crimes definidos no art. 154-A, somente se procede mediante
representação, salvo se o crime é cometido contra a administração pública
direta ou indireta de qualquer dos Poderes da União, Estados, Distrito Federal ou
Municípios ou contra empresas concessionárias de serviços públicos.

Sujeito ativo é a pessoa que, em razão de sua função, ministério, ofício ou


profissão, conhece o segredo do outro. Sujeito passivo é qualquer pessoa que possa
sofrer dano em razão da divulgação do segredo. Pode ser aquele que confidenciou o
segredo ao agente ou a terceira pessoa à qual se refere a informação sigilosa.
A norma contém o mesmo elemento normativo dos tipos anteriores: sem justa
causa. Assim, pode o agente revelar o segredo justificadamente. O médico ou o dentista,
quando comunica à autoridade pública a ocorrência de uma doença contagiosa, como a
Aids, está atendendo ao interesse público, e muito embora sua revelação possa causar
prejuízo moral ao paciente, não constituirá crime. Mas esses profissionais não estão
obrigados a revelar a prática de um crime.
Também o advogado não tem o direito de comunicar à autoridade policial que seu
cliente cometeu determinado crime ainda desconhecido. Ao contrário, seu dever é de
fidelidade para com aquele que lhe confiou o segredo.
O sacerdote, igualmente, pela confiança nele depositada pelos membros da igreja,
deve guardar sigilo de tudo quanto souber.
Penso que se o confessor toma conhecimento da prática de um crime, cujo autor
ainda não foi descoberto, não tem o dever de revelar o segredo, todavia, se recebe, no
confessionário, a notícia de que um crime vai ser cometido, haverá justa causa para
revelá-la à autoridade policial, porque aí o interesse público deve prevalecer, ainda
porque o padre não tem o direito de recusar-se a depor como testemunha.

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A quebra do sigilo bancário constitui o crime do art. 18 da Lei nº 7.492/86. Por


último, a revelação do segredo deve, necessariamente, ser capaz de produzir dano,
moral ou patrimonial, a alguém. Não precisa causá-lo, mas deve ter potencialidade para
tanto.
Ocorre a consumação quando o agente conta o segredo para uma outra pessoa,
independentemente da produção do dano que, aliás, pode nem ocorrer. Admite-se a
tentativa quando a revelação se fará por meio de carta que não chega a seu destinatário
por razões alheias à vontade do remetente.

Comenta Rogério Grecco :

“O século XXI está experimentando um avanço tecnológico inacreditável. Situações


que, em um passado não muito distante, eram retratadas em filmes e desenhos infantis
como sendo hipóteses futuristas, hoje se fazem presente em nosso dia a dia. As
conversas online, com visualização das imagens dos interlocutores, seja através
de computadores, ou mesmo de smart phones, que pareciam incríveis no início da
segunda metade do século XX, atualmente, fazem parte da nossa realidade.
Enfim, vivemos novos tempos e temos que nos adaptar, consequentemente, ao
mau uso de todo esse aparato tecnológico. A internet revolucionou o mundo e o fez
parecer muito menor.
Originalmente, a internet teve uma utilização militar, sendo que a ideia de uma
rede interligada surgiu em 1962, durante a Guerra Fria, e foi imaginada, conforme
esclarece Augusto Rossini, “para proteger a rede de computadores do governo norte-
americano após um ataque nuclear. Planos detalhados foram apresentados em 1967,
tendo sido criada a ARPANET em 1968, estabelecendo-se o germe do que é hoje
Internet”, concebida, dentre outros, por Paul Brand, da empresa Rand Corporation,
também com a finalidade de suprir as deficiências e fragilidades da rede telefônica AT&T,
utilizada, ainda, nos anos 80 e 90 do século passado, como meio de comunicação
científica interuniversitária.

Conforme nos esclarece Juan José López Ortega:

Em seus primeiros anos de existência, internet parecia pressagiar


um novo paradigma de liberdade. Um espaço isento de intervenções públicas, no qual os
internautas desfrutavam de um poder de ação ilimitado. A liberdade para se comunicar e
se expressar se estendia sem possibilidade de censura a todos os cantos do planeta. A
propriedade intelectual, necessariamente, devia ser compartilhada e a intimidade se
encontrava assegurada preservando o anonimato da comunicação e pelas dificuldades
técnicas de rastrear as fontes e identificar os conteúdos.
As novas tecnologias de recolhimento dos dados, associadas à economia do
comércio eletrônico, transformaram a liberdade e a privacidade na internet, e isso em
consequência direta de sua comercialização. A necessidade de assegurar e identificar a
comunicação para poder ganhar dinheiro através da rede, junto com a necessidade de

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proteger os direitos de novas arquiteturas de software, que possibilitam o controle da


comunicação. Tecnologias de identificação (senhas, marcadores digitais, processos de
identificação), colocadas nas mãos das empresas e dos governos, deram passo ao
desenvolvimento de tecnologias de vigilância que permitem rastrear os fluxos de
informação.
Através destas técnicas, qualquer informação transmitida eletronicamente pode ser
recolhida, armazenada, processada e analisada. Para muitos, isso supôs o fim da
privacidade e, se não é assim, ao menos obriga a redefinir o âmbito do privado na
internet, um espaço no qual por sua dimensão global já não basta garantir o controle
dos dados pessoais.
Noções até agora válidas, como ‘fichário’ ou ‘base de dados’, deixam de ter
significado. A nova fronteira não é o computador pessoal ou a internet, senão a rede
global, e isso tem consequências ao delimitar o conteúdo do direito à intimidade, que no
espaço digital se transmuda como o direito ao anonimato”.
A Internet, dentro de um mundo considerado globalizado, se transformou em uma
necessidade da modernidade, de que não podemos abrir mão. Nunca as pesquisas foram
tão velozes. Bibliotecas inteiras podem ser resumidas a um comando no computador. No
entanto, toda essa modernidade informática traz consigo os seus problemas....”.

01 - ( ) - (CESPE/PCGO/AGENTE) a) Pressupõe a injustiça do mal


- Para se apurar o crime de lesão prometido.
corporal, exige-se prova pericial médica, b) É de ação penal privada.
que não pode ser suprida por c) Não admite transação penal
testemunho. d) Não pode ser praticado por meios
simbólicos.
02 - ( ) - (CESPE/PCGO/ e) Quando usado como meio executório
ESCRIVÃO) - Não constitui causa de um roubo, coexiste com este em
especial de aumento de pena a prática concurso de crimes
de lesões corporais contra cônjuge ou
companheiro(a) de policial civil ou militar 04 – ( ) - (FUNCAB/PCPA) – Pessoa
em razão dessa condição. jurídica pode ser sujeito passivo no
crime de difamação.
03 - – (FUNCAB/PCPA) – O crime de
ameaça:

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05 – ( ) - (FUNCAB/PCPA) – Os doutrinariamente denominada de


inimputáveis não podem ser vítimas dos gravíssima, se ocorrer
crimes contra a honra. a) aceleração de parto.
b) incapacidade para as ocupações
06 – ( ) - (FUNCAB/PCPA) – habituais, por mais de trinta dias.
Constitui lesão corporal gravíssima c) debilidade permanente de membro,
provocar dolosamente a perda de sentido ou função.
audição em um dos ouvidos da vítima d) perigo de vida.
e) enfermidade incurável.
07 – ( ) - (FUNCAB/PCPA) –
Constitui lesão corporal gravíssima 11 – ( ) - (FUNCAB/PCPA) –
queimar culposamente significativa parte Constitui lesão corporal gravíssima
do corpo da vítima, de modo a causar- agredir a vítima com a intenção de
lhe deformidade permanente. interromper sua gravidez gerando
aborto, o que efetivamente ocorre.
08 – (FUMARC/PCMG) - Trata-se de
lesão corporal de natureza 12 – ( ) - (FUNCAB/PCPA) –
gravíssima, conforme o Artigo 129 Constitui lesão corporal gravíssima
do Código Penal Brasileiro: transmitir a vítima, intencionalmente
a) Perigo de vida. enfermidade grave, mais curável
b) Deformidade permanente.
c) Debilidade permanente de membro, 13 – ( ) - (FUNCAB/PCPA) –
sentido ou função. Constitui lesão corporal gravíssima
d) Incapacidade para as ocupações lesionar a vítima dolosamente e
habituais por mais de trinta dias. culposamente causar-lhe incapacidade
permanente para o trabalho.
09 – (VUNESP/PCSP) - No crime de
lesão corporal culposa, a pena é 14 - (CESPE/MPE-AC) - Em relação
aumentada quando ao assédio moral, fenômeno social
a) o agente quer deliberadamente caracterizado por atos contra a
atingir a vítima e causar- lhe ferimento. dignidade humana, assinale a opção
b) o agente comete o crime sob o correta.
domínio de violenta emoção. a) Um único episódio caracterizado por
c) o agente comete o crime por motivo humilhação pode configurar assédio
torpe. moral, desde que seus efeitos impliquem
d) o agente foge para evitar prisão em modificações psíquicas e cerceamento da
flagrante. autonomia do humilhado.
e) a vítima estava indefesa. b) O assédio moral no trabalho pode
acarretar ao trabalhador, além da queda
10 - (VUNESP/PCSP) - A lesão do rendimento econômico, sintomas
corporal se enquadra nas hipóteses psicossomáticos, como desvitalização,
expressas no art. 129, § 2.º do CP, desenvolvimento de traços paranoides e
patologias delirantes.

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c) No que tange à hierarquia das na pele de Elias, este não apresentou


relações de trabalho, o assédio moral nenhuma lesão aparente. Em razão da
ocorre, com mais frequência, na vertente conduta de Pedro, Elias teve de se
horizontal, observando-se que o afastar das suas atividades profissionais
assediador, pessoa do mesmo nível durante uma semana, retornando ao
hierárquico do assediado, utiliza-se do trabalho no fim desse período.
isolamento, da desacreditação e do c) Cláudio caminhava por uma via
assédio sexual para impedir qualquer pública quando, inesperadamente, um
possibilidade de reação da vítima. desconhecido desferiu-lhe um soco no
d) Diferentemente do assédio moral, o rosto. A agressão fez que os óculos da
assédio sexual acarreta consequências vítima se quebrassem e ferissem o seu
penais, cíveis e trabalhistas, devendo a rosto, fazendo-a sangrar. Em
reparação do dano causado abranger a decorrência da agressão, Cláudio ficou
gravidade do ato, as alterações com a vista turva e somente se
psicopatológicas causadas à vítima e as restabeleceu duas semanas após a
condições que tenham culminado no ato. agressão.
e) Para a caracterização do assédio d) Paulo, após discussão com sua colega
moral, basta que sejam comprovadas a de trabalho Regina, que estava grávida,
intencionalidade e a direcionalidade na desferiu-lhe um chute com a intenção de
conduta do agente assediador. apenas machucá-la. Entretanto, em
decorrência da conduta de Paulo, Regina
15 - (CESPE/TJ-DFT) -Tendo em entrou antecipadamente em trabalho de
vista que cada uma das próximas parto.
opções apresenta uma situação e) Manoel, após provocação, desferiu
hipotética sobre delitos praticados dois chutes, que não resultaram em
contra a pessoa, assinale a opção lesões, contra seu irmão Isaac. Embora
que apresenta situação tenha sentido dores durante dois dias,
característica de delito de lesão Isaac voltou a exercer normalmente suas
corporal de natureza grave. atividades habituais no dia seguinte à
a) O médico Rodrigo, sob a justificativa briga com seu irmão Manoel.
de injetar um analgésico em Luíza,
grávida de dois meses, aplicou-lhe 16 – (FCC) - Tratando-se de crime
anestesia geral e, aproveitando-se da doloso, não caracteriza circunstância
incapacidade de resistência da paciente, genérica agravante
realizou, em comum acordo com o a) a filiação, no parricídio.
namorado da paciente, um procedimento b) a execução mediante promessa de
abortivo sem que a gestante tivesse recompensa, na ameaça.
consentido. c) a embriaguez preordenada, no roubo.
b) Pedro, após ter sido preterido em sua d) a motivação torpe, na lesão corporal.
expectativa de promoção no emprego, e) a maternidade, no infanticídio.
desferiu socos no rosto e no estômago
de seu chefe, Elias. Embora a agressão
tenha provocado tontura e hematomas

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17 –(CESPE) - No crime de calúnia, a d) Aquele que, ao se omitir, provoca,


procedência da exceção da verdade culposamente, a exposição de outrem ao
é causa perigo, pratica o crime de omissão de
a) de exclusão de culpabilidade, uma socorro.
vez que, sendo verdadeiro o fato e) Para a configuração do crime de
imputado, a conduta não será calúnia, não é necessário que o réu saiba
considerada reprovável. que a imputação por ele feita é falsa.
b) de extinção de punibilidade, já que,
se verdadeiro o fato imputado, não será 19 – ( ) - (CESPE/MPE-RO) – A
necessário aplicar a pena. consumação dos crimes de calúnia,
c) de exclusão de crime, porque, se o difamação e injúria ocorre quando
fato imputado for verdadeiro, não haverá terceiro, que não o sujeito passivo, toma
crime, já que nunca existiu a falsidade conhecimento do fato.
da imputação.
d) de exclusão de ilicitude, pois, caso o 20 – ( ) - (UFRJ/MPE-RJ) - Tício,
fato imputado seja verdadeiro, a conduta desejando lesionar Mévio, contra ele
não se caracterizará como antijurídica. desfere violento soco no rosto.
e) irrelevante, visto que, caso seja Socorrido por terceiros, Mévion é
verdadeiro o fato imputado, a conduta transportado às pressas ao hospital,
deverá ser analisada com base em teses onde vem a falecer no mesmo dia,
eventualmente obtidas mediante defesa em razão de uma parada cardíaca
escrita. sofrida durante a cirurgia de
reparação da fratura óssea causada
18- (CESPE) - Considerando o na face. Tício responderá por:
entendimento dos tribunais a) lesão corporal seguida de morte;
superiores a respeito dos crimes b) homicídio doloso consumado;
contra a pessoa, assinale a opção c) homicídio culposo;
correta. d) homicídio tentado;
a) Dada sua natureza, o crime de e) lesão corporal grave.
ameaça só se configura se o agente tiver
ameaçado explicitamente a vítima. 21 – ( ) - (CESPE/STF) - Considere
b) Havendo o dolo de matar, considera- a seguinte situação hipotética. Márcio,
se a relação sexual forçada e dirigida à funcionário público lotado no órgão X,
transmissão do vírus da AIDS idônea teve seu notebook furtado nas
para a caracterização do crime de dependências desse órgão. Em seguida,
periclitação contra a vida. por ter uma desavença pessoal com
c) Comprovado o animus laedendi na Jaime, também funcionário do referido
conduta do réu e a sua culpa no órgão, Márcio denunciou Jaime ao seu
resultado mais grave, qual seja, a morte chefe imediato, pelo furto do aparelho,
da vítima, ainda que esse resultado seja mesmo não havendo nenhuma prova ou
previsível, restará configurado o delito indício da autoria do fato. Nessa
preterdoloso de lesão corporal seguida situação, Márcio cometeu o crime de
de morte. injúria.

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22 – ( ) - (CESPE/STF) - Cometerá 25 – (CESPE/PC-RN/ESCRIVÃO) -


o crime de omissão de socorro um Com relação aos crimes contra a
indivíduo que, à noite, ao passar por pessoa, assinale a opção correta.
uma via considerada perigosa e a) No crime de abandono de recém-
publicamente conhecida pela ocorrência nascido, o sujeito ativo só pode ser a
de crimes de roubo e latrocínio, depare- mãe e o sujeito passivo é a criança
se com uma pessoa vítima de abandonada.
atropelamento recente e se negue a b) Não é punido o médico que pratica
prestar-lhe socorro, por temer por sua aborto, mesmo sem o consentimento da
segurança pessoal, mesmo que ele ligue gestante, quando a gravidez é resultado
para o serviço de emergência da polícia e de crime de estupro.
do corpo de bombeiros. c) A mulher que mata o filho logo após o
parto, por estar sob influência do estado
23 - (MPE-MS/PROMOTOR) - O crime puerperal, não comete crime.
de rixa na forma tentada quando d) A pessoa que imputa a alguém fato
ocorre? definido como crime, tendo ciência de
a) O crime de rixa na forma tentada que é falso, comete o crime de
ocorre quando um dos rixosos desiste de difamação.
participar do conflito; e) A conduta do filho que, contra a
b) O crime de rixa na forma tentada vontade do pai, o mantém internado em
ocorre quando a maioria dos rixosos casa de saúde, privando-o de sua
propõe a cessação do conflito; liberdade, é atípica.
c) O crime de rixa na forma tentada
ocorre quando os rixosos não conseguem 26 – ( ) - (CESPE/DPF/AGENTE) -
consumá-lo por circunstâncias alheias à Vítor desferiu duas facadas na mão de
sua vontade; Joaquim, que, em consequência, passou
d) O crime de rixa na forma tentada a ter debilidade permanente do membro.
ocorre quando todos os rixosos desistem Nessa situação, Vítor praticou crime de
de prosseguir no conflito; lesão corporal de natureza grave,
e) O crime de rixa na forma tentada classificado como crime instantâneo.
ocorre quando os rixosos abandonam o
local do conflito. 27 – ( ) - (CESPE/DPU/ DEFENSOR
PÚBLICO) - Para a configuração da
24 – ( ) - (MPE-PR) - o crime de agravante da lesão corporal de natureza
lesão corporal (CP, art. 129, caput e §§) grave em face da incapacidade para as
admite formas simples, qualificadas e ocupações habituais por mais de trinta
privilegiadas, modalidades dolosa e dias, não é necessário que a ocupação
culposa e perdão judicial, mas as formas habitual seja laborativa, podendo ser
qualificadas não admitem transação assim compreendida qualquer atividade
penal, embora possam admitir, em regularmente desempenhada pela
alguns casos, a suspensão condicional do vítima.
processo.

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28 –(MPE-SP) – Pratica o crime de e) Quem provoca a rixa por imprudência,


omissão de socorro, previsto no art. sem dela participar, responde também
135 do Código Penal: pelo crime.
a) aquele que deixar de prestar socorro à
vítima ferida, ainda que levemente, e 30 – ( ) - (CESPE/DPE-PI
desde que seja o causador da situação /DEFENSOR PÚBLICO) - Por ausência
de perigo a título de dolo ou culpa. de previsão legal, não se admite a
b) aquele que deixar de prestar socorro aplicação do instituto do perdão judicial
à vítima em situação de perigo por ele ao delito de lesão corporal, ainda que
criada a título de culpa e desde que não culposa.
haja risco pessoal.
c) aquele que deixar de prestar socorro à 31 – ( ) - (CESPE/DPE-AL
vítima em face de uma situação de /DEFENSOR PÚBLICO) - caso alguém
perigo a que ele deu causa, sem dolo ou lesione outrem apenas para provocar-lhe
culpa e desde que não haja risco lesões corporais, não querendo a morte
pessoal. da vítima, nem assumindo o risco de
d) aquele que, por imprudência, der produzi-la, mas tendo o evento letal
causa à situação de perigo, tendo ocorrido inequivocamente em razão
praticado uma conduta típica culposa e direta da lesão produzida, responderá
que tenha deixado de atuar sem risco pelo delito previsto no art. 129, § 3º, do
pessoal. Código Penal, pois se trata de crime
e) aquele que der causa a uma situação preterintencional.
de perigo, por meio da chamada culpa
consciente, e tiver deixado de prestar 32 - (CESPE/DPE/AC) - No crime de
socorro à vítima por perceber que ela calúnia, a procedência da exceção da
poderia ser socorrida por terceiros. verdade é causa
a) de exclusão de culpabilidade, uma vez
29 – (VUNESPE/MPE-SP) – Com que, sendo verdadeiro o fato imputado, a
relação ao crime de rixa, descrito no conduta não será considerada
art. 137, caput, do Código Penal reprovável.
(Participar de rixa, salvo para b) de extinção de punibilidade, já que, se
separar os contendores), assinale a verdadeiro o fato imputado, não será
alternativa incorreta. necessário aplicar a pena.
a) É crime plurissubjetivo ou de concurso c) de exclusão de crime, porque, se o
necessário. fato imputado for verdadeiro, não haverá
b) Há presunção de perigo, que decorre crime, já que nunca existiu a falsidade
da simples existência material da da imputação.
contenda. d) de exclusão de ilicitude, pois, caso o
c) É possível uma pessoa ser sujeito fato imputado seja verdadeiro, a conduta
ativo e passivo do mesmo crime. não se caracterizará como antijurídica.
d) É infração de forma livre, podendo ser e) irrelevante, visto que, caso seja
cometida por qualquer meio eleito pelo verdadeiro o fato imputado, a conduta
agente. deverá ser analisada com base em teses

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DIREITO PENAL
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eventualmente obtidas mediante defesa impossibilitando-a de engravidar,


escrita. responderá por lesão corporal
a) culposa, porque agiu contrariamente à
33 - (CESPE/TRT1ª/JUIZ) - No que regra técnica da profissão.
concerne aos crimes contra a honra, b) dolosa leve, pois não era possível
assinale a opção correta. prever a perda da função reprodutora da
a) A calúnia consiste em imputar paciente.
falsamente a alguém fato definido como c) dolosa leve, uma vez que não era
crime ou contravenção penal. possível prever a debilidade permanente
b) Segundo o Código Penal, a chamada da função reprodutora da paciente.
exceção da verdade é admitida apenas d) dolosa grave, visto que causou
nas hipóteses de calúnia. debilidade permanente da função
c) Aquele que difama a memória dos reprodutora da paciente.
mortos responde pelo crime de e) dolosa gravíssima, já que causou a
difamação, previsto no Código Penal. perda da função reprodutora da
d) O objeto jurídico da injúria é a honra paciente.
objetiva da vítima, sendo certo que o
delito se consuma ainda que o agente 36 - (CESPE/PC-PB) - Agentes de
tenha agido com simples animus jocandi. polícia, após obterem autorização
e) As penas cominadas aos delitos contra judicial para monitorar as conversas
a honra aplicam-se em dobro, caso o telefônicas mantidas por Josemar,
crime tenha sido cometido mediante descobriram que este havia recebido
promessa de recompensa. um carregamento de cocaína às 22 h
e que a droga se encontrava
34 - (VUNESPE/PCCE/DELEGADO) - armazenada em sua residência.
O crime de maus–tratos tem pena Nessa situação hipotética, os
aumentada de 1/3 (art. 136, §3º do agentes de polícia
CP) se: a) não poderão ingressar na residência
a) praticado contra ascendente, de Josemar, devendo cercá-la,
descendente, irmão ou cônjuge. providenciando um mandado de busca e
b) resulta em lesão corporal, ainda que apreensão no plantão judiciário.
leve. b) não poderão ingressar na residência
c) o agente prevalece–se de relações de Josemar, sob pena de incorrerem em
familiares ou domésticas. crime de violação de domicílio.
d) praticado contra pessoa menor de 14 c) não poderão ingressar na residência
anos. de Josemar, sob pena de ensejarem a
e) praticado por agente público. nulidade da prova obtida.
d) poderão ingressar na residência de
35 - (CESPE/DPE/AC/DEFENSOR Josemar, mas tão-somente quando
PÚBLICO) - O médico que, em amanhecer.
procedimento cirúrgico, tiver e) poderão ingressar licitamente na
esterilizado uma paciente devido à residência de Josemar, ainda que este
inobservância de regra técnica, não dê consentimento.

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a) As alternativas I e II estão corretas.


37 – ( ) - (CESPE/DPE/MA) - Em b) As alternativas I e III estão corretas.
caso de morte da vítima, o delito de c) Apenas a alternativa I está correta.
omissão de socorro não subsiste, d) Todas as alternativas estão corretas.
cedendo lugar ao crime de homicídio,
uma vez que a circunstância agravadora 41 - (FGV/OAB) - João, com
dessa figura típica omissiva se limita à intenção de matar, efetua vários
ocorrência de lesões corporais de disparos de arma de fogo contra
natureza grave. Antônio, seu desafeto. Ferido,
Antônio é internado em um hospital,
38 - (TJ-MG/JUIZ) – Quanto à no qual vem a falecer, não em razão
violação de domicílio é INCORRETO dos ferimentos, mas queimado em
afirmar que: um incêndio que destrói a
a) dá-se de forma qualificada quando enfermaria em que se encontrava.
cometida durante a noite, ou em lugar Assinale a alternativa que indica o
ermo; crime pelo qual João será
b) é crime comissivo e omissivo, responsabilizado.
conforme o caso; a) Homicídio consumado.
c) não admite tentativa; b) Homicídio tentado.
d) a expressão casa compreende c) Lesão corporal.
compartimento não aberto ao público, d) Lesão corporal seguida de morte.
onde alguém exerce profissão ou
atividade. 42 – (FGV/OAB) - Lúcia, objetivando
conseguir dinheiro, sequestra
39 – ( ) - (CESPE/ABIN) - Paulo Marcos, jovem cego. Quando estava
revelou, sem justa causa, segredo cuja escrevendo um bilhete para a família
revelação produziu dano a outrem. de Marcos, estipulando o valor do
Nessa situação, para que a conduta de resgate, Lúcia fica sabendo, pela
Paulo configure o crime de violação de própria vítima, que sua família não
segredo profissional, é necessário que possui dinheiro algum. Assim,
ele tenha tido ciência do segredo em verificando que nunca conseguiria
razão de função, ministério, ofício ou obter qualquer ganho, Lúcia desiste
profissão. da empreitada criminosa e coloca
Marcos dentro de um ônibus,
40 - O crime de violação de orientando-o a descer do coletivo em
correspondência escrita (carta): determinado ponto. Com base no
I - Pode ser cometido por qualquer caso apresentado, assinale a
pessoa, desde que não seja o afirmativa correta.
destinatário ou o remetente. a) Lúcia deve responder pelo delito de
II - Pode ser cometido por sequestro ou cárcere privado, apenas.
analfabeto. b) Lúcia não praticou crime algum, pois
III - Não pode ser cometido por beneficiada pelo instituto da desistência
cego. voluntária.

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c) Lúcia deve responder pelo delito de que a perda ou inutilização é lesão


extorsão mediante sequestro em sua corporal de natureza gravíssima. Se
modalidade consumada. houver, por exemplo, a perda de um
d) Lúcia não praticou crime algum, pois único dedo, temos debilidade
beneficiada pelo instituto do permanente, mas se houver a perda de
arrependimento eficaz uma mão inteira, por exemplo, teremos,
então, perda ou inutilização.
43 – (FCC/DPE-AM) - A retratação III. Tanto o perigo de vida, espécie de
do agente torna o fato impunível no lesão corporal de natureza grave, assim
crime de como o aborto, espécie de lesão corporal
a) injúria, se realizada antes da sentença gravíssima, são preterdolosas, eis que
de maneira cabal. são resultados não desejados pelo
b) falsidade ideológica, se realizada até o agente, o qual tinha dolo em relação à
recebimento da denúncia. lesão corporal apenas, contando com
c) sonegação de contribuição culpa em relação a esses resultados:
previdenciária, realizada a qualquer perigo de vida e aborto. Nesse sentido,
tempo. também, a lesão corporal seguida de
d) ameaça, se realizada até o morte.
oferecimento da denúncia. IV. Pode-se asseverar que se o agente
e)falso testemunho ou falsa perícia, se ativo, portador de HIV – AIDS, tem por
realizada antes da sentença no processo intenção transmitir a sua doença a
em que ocorreu o ilícito. outrem, poderá responder pelo delito de
perigo de contágio de moléstia grave, se
43 – (FUNDATEC/DPE-SC) - Tendo o seu dolo se dirigir tão somente à
em vista os Capítulos II e III do transmissão da doença; poderá
Código Penal, os quais se referem às responder pelo delito de homicídio ou de
Lesões Corporais e à Periclitação da tentativa de homicídio, se o seu dolo se
Vida e da Saúde, analise as dirigir para além da transmissão da
seguintes assertivas: doença à morte da vítima; ou, ainda,
I. A incapacidade para as ocupações poderá responder por lesão corporal de
habituais por mais de 30 dias é espécie natureza gravíssima, se seu dolo se
de lesão corporal de natureza grave, dirigir à produção de ofensa à
sendo que as referidas ocupações não integridade física ou saúde da vítima,
condizem apenas com a atividade laboral com o resultado enfermidade incurável,
exercida pela vítima na ocasião, ou, ainda, por lesão corporal seguida de
abrangendo qualquer outra atividade morte, acaso essa ocorra, mas o dolo do
costumeira, moral ou imoral, desde que agente abranja apenas a intenção de
lícita. lesionar a vítima.
II. A debilidade permanente de membro, Quais estão corretas?
sentido ou função, difere da perda ou a) Apenas I.
inutilização de membro, sentido ou b) Apenas I e IV.
função. A debilidade permanente é lesão c) Apenas II e III.
corporal de natureza grave, enquanto d) Apenas II, III e IV.

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e) I, II, III e IV. relacionamento, em julho, João foi


até a casa de Maria e, utilizando-se
45 – (CESPE/DPE-PE) - Maria, de uma faca, ameaçou-a e
pessoa maior e capaz, vivia em constrangeu-a a praticar conjunção
união estável com João havia cinco carnal com ele. A respeito dessa
anos quando, em janeiro de 2017, situação hipotética, assinale a opção
ele, descontente com a participação correta à luz da legislação aplicável.
de Maria em uma confraternização a) O crime de ameaça praticado por João
de trabalho, proferiu diversos contra Maria somente se apura mediante
xingamentos contra ela, tendo ação penal pública condicionada à
atingido sua honra subjetiva, representação da ofendida, sendo válida,
danificou todas as suas roupas e a qualquer tempo, a retratação da
diversos objetos da residência de representação junto à autoridade policial
ambos. À época, Maria compareceu à para impedir a persecução penal.
delegacia de polícia, narrou os fatos, b) Não se aplica a Lei Maria da Penha à
mas desistiu de registrar a conduta praticada por João em julho de
ocorrência policial ou requerer a 2017, considerando-se que naquela
aplicação de medidas protetivas em ocasião não existia mais, entre o autor
seu favor. do fato e a vítima, união estável e que
Em junho daquele mesmo ano, eles não mais coabitavam.
tendo Maria recebido a visita de uma c) O crime de estupro praticado por João
amiga em sua residência, João em julho de 2017 será apurado por meio
ameaçou ambas de morte: de inquérito policial cuja instauração
utilizando-se de uma faca, exigiu a poderá decorrer do mero registro de
saída imediata da visita. Após a ocorrência policial feito pela vítima.
saída da amiga, João desferiu um d) As condutas praticadas por João em
golpe de faca no braço de Maria, janeiro de 2017 podem ser apuradas de
tendo-lhe causado lesão leve. Dessa ofício pela autoridade policial, uma vez
vez, Maria comunicou os fatos à que, conforme disposição da Lei Maria da
polícia e, determinada a romper o Penha, a instauração de inquérito não
relacionamento, requereu a dependerá de qualquer providência ou
aplicação de medidas protetivas: a requerimento da ofendida.
autoridade judiciária determinou o e) A ação penal para apurar o crime de
afastamento de João do local de lesão corporal praticado por João contra
convivência com Maria e proibiu a Maria em junho de 2017 é pública
aproximação ou qualquer contato condicionada à representação da
com ela. ofendida, conforme disposição da Lei
Inconformado com a atitude de Maria da Penha.
Maria e com o fim do

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01.E 02.E 03.A 04.C 05.E 06.E 07.E 08.B 09.D 10.E
11.E 12.E 13.C 14.B 15.D 16.B 17.C 18.C 19.E 20.A
21.E 22.E 23.C 24.C 25.A 26.C 27C 28.C 29.E 30.E
31.E 32.C 33.E 34.D 35.A 36.B 37.E 38.C 39.C 40.A
41.B 42.C 43.E 44.E 45.C

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