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RAFAEL AUGUSTO VALENTIM CRUZ MAGDALENA

FOTO CAPA

TECNOLOGIA EM
MEIO AMBIENTE
UNIDADE 9

TECNOLOGIAS APLICADAS A
PREVENÇÃO E TRATAMENTO DE
CORPOS HÍDRICOS

1. PREVENÇÃO DOS CORPOS HÍDRICOS COM MANEJO


FLORESTAL E REFLORESTAMENTO
Para que a geração atual e as futuras tenham acesso à água com índices adequados de
qualidade, de acordo com a utilidade desse recurso, repensar as ações do ser humano
na sociedade é algo fundamental. Contudo, essa pausa para a reflexão possui o objeti-
vo de encontrar instrumentos que possibilitem a prevenção dos corpos hídricos, visando
quantidade e qualidade deste recurso.

Por meio do gerenciamento dos recursos hídricos, duas técnicas se mostraram


como possibilidades viáveis para prevenção dos corpos hídricos, o manejo flores-
tal e o reflorestamento.

O manejo florestal pode ser definido como aplicações de técnicas na operação de uma
propriedade florestal, com o objetivo de obter benefícios sociais, econômicos e ambien-
tais: conservação, proteção, produção, recreação e educação, pois, os mecanismos de
sustentação do ecossistema são preservados, em que a silvicultura é um elemento fun-
damental para esse gerenciamento. A silvicultura engloba os métodos naturais e artificiais
de regeneração, o processo de estabelecimento, a condução e a colheita de árvores.

Figura 01. Objetivos do manejo florestal


Fonte: elaborada pelo autor

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Tecnologias aplicadas a prevenção e tratamento de corpos hídricos U9

De maneira ampla, o foco do manejo das florestas é a proteção. As florestas de pro-


teção são denominadas: áreas de preservação cobertas por florestas permanentes,
podendo estar em zonas urbanas ou rurais. Desde 25 de maio de 2012, a Lei de nº
12.651 define a área de preservação permanente (APP) como áreas de proteção que
possuem ou não cobertura nativa vegetal, com a incumbência ambiental de preservar
a biodiversidade, a estabilidade geológica, a proteção do solo, auxiliar na segurança e
bem-estar das populações humanas e preservar os recursos hídricos.

A busca da proteção dos recursos hídricos é, fundamentalmente, associada às flores-


tas, sejam elas naturais ou artificiais. Dessa forma, as ações como monitoramento de
bacias hidrográficas, plantios em sistemas de mosaicos, colheita florestal mecanizada e
desenvolvimento das práticas utilizadas no manejo são ferramentas aplicadas no setor
de base florestal brasileiro.

O sistema mosaico trata-se de árvores plantadas para fins industriais que se integram
com a vegetação natural existente, auxiliando na formação de corredores ecológicos e
na regularização da disponibilidade de recursos hídricos. A colheita florestal mecani-
zada auxilia na reciclagem dos nutrientes e na umidade do solo, pois os resíduos dei-
xados absorvem a umidade, além de ajudar na manutenção e na qualidade das águas
superficiais diminuindo o assoreamento.

No manejo, a tecnologia assume o papel principal, por meio de melhoramentos genéti-


cos, e as práticas de manejo florestal possibilitaram triplicar a produtividade florestal na
mesma área de plantio. Desse modo, práticas como as citadas anteriormente impac-
tam positivamente nos recursos hídricos, auxiliando na preservação, na qualidade e na
quantidade de recursos.

Figura 02. Impactos positivos nos recursos hídricos

Fonte: elaborada pelo autor

Um exemplo prático do manejo florestal para a proteção dos recursos hídricos acon-
tece na cidade de Extrema (MG), com o Projeto Conservador da Águas, consolidado
em 2005 e vencedor de inúmeros prêmios. Os objetivos desse projeto são de aumen-

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tar a cobertura florestal nas sub-bacias hidrográficas; implantar corredores ecológicos;


difundir o conceito de manejo integrado de vegetação, solo e água; reduzir os níveis
de poluição difusa rural; e, por meio de incentivo financeiro, garantir sustentabilidade
socioeconômica e ambiental dos manejos e práticas utilizadas.

Para saber mais sobre o Projeto o Conservador das Águas, leia o artigo indicado a seguir.
SAIBA MAIS

PEREIRA, P. H. Projeto Conservador das Águas. Extrema, MG: Prefeitura Munici-


pal de Extrema, 2016. Disponível em: https://extrema.mg.gov.br/conservadordasa-
guas/wp-content/uploads/2019/07/Projeto-Conservador-das-aguas-versao-fevereiro-
-de-2016.pdf. Acesso em: 8 mai. 2021.

Por causa da grande degradação ambiental, o reflorestamento, que é o plantio em áreas


que foram devastadas por ações humanas ou ambientais, apresenta-se como uma opção
viável, pois algumas florestas naturalmente não conseguem se recuperar. Nesse contexto,
o reflorestamento pode atender algumas finalidades, tais como: fins comerciais, com mudas
que se desenvolvem rapidamente; para produção de alimentos; contenções de encostas; pro-
teção de áreas devastadas; diminuir a pegada ambiental de instituições, empresas e pessoas.

Vale destacar que o reflorestamento para fins comerciais pode utilizar florestas plantadas,
sendo o eucalipto uma possível solução em regiões onde há mais de 400mm/ano de chuva,
caso contrário, ele pode ressecar o solo; ou, ainda, para fins ecológicos por meio utilização
de mata nativa, recuperação de matas-ciliares, nascentes de rios, encostas, entre outras.

2. INFRAESTRUTURA VERDE-AZUL
A ocupação humana dos ambientes, tanto naturais quanto construídos, impactam e modi-
ficam diretamente a qualidade do ambiente, porque alteram o uso e a ocupação do solo.
Uma das práticas que produz maior impacto ambiental é a urbanização, esse fato se jus-
tifica pela retirada da cobertura vegetal original, aumento da impermeabilização do solo,
utilização e ocupação das margens dos rios e implementação de obras de canalização. Por
sua vez, a cidade é composta por quatro sistemas grandes, descritos na figura a seguir.

Figura 03. Sistemas que compõem a cidade.

Infraestrutura Infraestrutura
Verde: Azul: canais,
parques e lagos, rios,
áreas naturais. lagoas e outros
recursos hídricos.
Fonte: elaborada pelo autor

Infraestrutura
Infraestrutura Infraestrutura
Verde:rodovias,
Cinza: Vermelha:
parques
linhas e
de tráfego, Edificações.
áreasdenaturais.
área
estacionamento.

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A partir da compreensão dos sistemas que compõem a cidade, duas infraestruturas são fun-
damentais para o desenvolvimento sustentável das cidades: as infraestruturas verde e azul.

A infraestrutura verde pode ser compreendida como uma rede de espaços verdes
interconectados que conservam as funções e os valores dos ecossistemas locais, tra-
zendo um grande benefício à população local. Esse conceito está se desenvolvendo
amplamente, pois se utiliza a ideia das paisagens como elemento multifuncional inte-
grando paisagismo, controle de cheias, lazer e valorização ambiental, elementos ne-
cessários e que integram os desenvolvimentos das áreas verdes no espaço reduzido
das cidades.

Nesse sentido, é importante salientar que, a infraestrutura verde pode ser considerada
elemento chave dos ambientes urbanos, auxiliando na resiliência desses ambientes
em relação aos impactos das mudanças climáticas. Além disso, ela é fundamental para
o desenvolvimento da biodiversidade e de todos os processos naturais, educacionais,
recreativos e emocionais que a permeiam.

Já a infraestrutura azul está relacionada com o sistema hídrico urbano, que pode se
associar com a infraestrutura verde da cidade para construir um ciclo de água orientado
naturalmente. Nesse contexto, conceitos como o de drenagem expandiram sua ideia
inicial na busca de integrar a cidade com a drenagem e, consequentemente, agregar
valor, além de auxiliar no desenvolvimento da biodiversidade, sendo conhecido como
Cidade Sensível à Água, em inglês, Water Sensitive Urban Design (WSUD).

Assim, compreender os espaços livres com a perspectiva multifuncional permite


mobilizar o manejo de águas pluviais, oportunizando um volume de armazenamento
para drenagem, assim como oferecer espaços de convivência à população para re-
creação e lazer. Além disso, outro ponto que pode ser analisado é a possibilidade de
melhoria na qualidade da água com a implementação de reservatórios de detenção que
equilibram os grandes picos de vazão no sistema hídrico e, também, o de retenção que
apresentam maiores chances de infiltração, devolvendo parte da água aos reservató-
rios naturais do solo.

Assim, compreendendo os conceitos da infraestrutura verde e a infraestrutura azul, o ter-


mo infraestrutura verde-azul apenas apresenta como classificação a interação que esses
dois sistemas já apresentam nas cidades, e juntos eles apresentam como objetivo:
`  Aumento da resiliência urbana com relação às mudanças climáticas;

`  Melhoria da capacidade de adaptação e mitigação das mudanças climáticas;

`  Melhoria do regime de balanço hídrico e a suavização do escoamento das águas pluviais,


possibilitando o reabastecimento de aquíferos subterrâneos;

`  Reduzir a erosão do solo e aumentar a qualidade da água;

`  Melhoria no gerenciamento do risco de inundação.

Em 2007, dois programas foram instituídos pelo Governo do Estado de São Paulo, o
Pacto das Águas e o Município Verde. A partir da experiência obtida com esses progra-

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mas, pode-se ampliar o campo de visão observando a integração que havia entre eles,
criando assim, em 2009, o Programa Município Verde-Azul (PMVA). Esse programa
possui dez diretivas (Figura 4) que serão os fundamentos avaliados pelo PMVA.

Figura 04. Diretivas do Programa Município verde-azul

Fonte: elaborada pelo autor


Por meio das diretivas apresentadas, o objetivo desse programa é incentivar os municí-
pios do Estado de São Paulo a criar e manter Estrutura e Conselho de Defesa do Meio
Ambiente (Condema), que irá elaborar e executar políticas públicas que possuem foco
no desenvolvimento sustentável dos municípios, auxiliando na comunicação entre o
Estado e o Município, promovendo a troca de informações e de conhecimento, assim,
inserindo na agenda municipal a variável ambiental.

O Condema é considerado um órgão colegiado, consultivo e deliberativo, composto


por 14 membros: 7 membros da sociedade civil e 7 representantes do poder público. A
Universidade São Francisco, por exemplo, faz parte colegiado do Condema.

A Certificação do Município verde-azul atesta que o município está trilhando o caminho


do desenvolvimento sustentável, podendo divulgar publicamente a logomarca. Nesse
sentido, empresas locais podem utilizar a logomarca com propósito de agregar valor à
empresa e ao seu produto, associando-a a um município sustentável.

A participação de cada um dos municípios paulistas ocorre com a indicação de um


interlocutor e de até dois suplentes, por meio de ofício encaminhado ao programa.
Atualmente, há 616 cidades inscritas que, ao participarem de um ciclo, são avaliadas
em ações fundamentadas em dez diretivas. O PMVA oferece capacitação técnica aos
SAIBA MAIS

interlocutores indicados pela municipalidade e, ao final de cada ciclo anual, publica o


Ranking Ambiental dos municípios paulistas. Esse ranking resulta da avaliação téc-
nica das informações fornecidas pelos municípios, com critérios preestabelecidos de
medição da eficácia das ações executadas. A partir dessa avaliação, o Indicador de
Avaliação Ambiental (IAA) é publicado para que o poder público e toda a população
possam utilizá-lo como norteador na formulação e no aprimoramento de políticas pú-
blicas e demais ações sustentáveis.

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Para acessar o ranking dos municípios paulistas que participaram desse programa
acesse a referência indicada a seguir:

SÃO PAULO (Município). Programa Município Verde-Azul PMVA, [s. d.]. Disponível
em: https://www.infraestruturameioambiente.sp.gov.br/verdeazuldigital/pontuacoes/.
Acesso em: 3 mai. 2021.

3. TECNOLOGIAS APLICADAS AO TRATAMENTO DE


AFLUENTES E EFLUENTES
Para iniciar este tópico é necessário entender o significado das palavras afluentes e
efluentes. É denominado como afluente um curso d’água pequeno e natural, em que
sua vazão contribui para o aumento de outro corpo d’água maior. Ampliando esse con-
ceito é possível denominar como pequenos caminhos de água formados até o rio prin-
cipal, sem que ele desague diretamente no mar, lago ou no oceano. 

Em linhas gerais, trata-se de águas que fazem parte da natureza e, embora sejam
assim caracterizados, para que possam ser utilizados em atividades rotineiras do dia a
dia, como limpeza e higiene, devem passar por um processo de tratamento.

Já os efluentes são resíduos gerados por meio das atividades humanas e industriais
que, para auxiliar no entendimento e em sua classificação, são divididos em efluen-
tes industriais e domésticos. Os efluentes domésticos são aqueles oriundos de resi-
dências e empresas, como esgoto, caixas de gordura de casas e fossas sépticas. Os
efluentes industriais são os resíduos produzidos durante os processos produtivos e que
não são mais aproveitados. Nesse sentido, há diversos segmentos de indústrias, como:
água de lavagem, água residuária e lodo líquido, que para serem descartados de forma
correta devem receber um tratamento adequado.

Abordar o tema tratamento de água e efluente é, também, abordar saneamento bási-


co. O saneamento básico é um direito assegurado pela Constituição, por meio da Lei
de nº 11445/2007. Essa lei visa o direito de todos os brasileiros à infraestrutura e às
instalações operacionais de abastecimento de água, esgotamento sanitário (tratamen-
to do esgoto/efluente), limpeza urbana, drenagem urbana de águas fluviais e manejos
de resíduos sólidos, em regiões onde o abastecimento de água e esgotamento sani-
tário são o “básico do básico”.
SAIBA MAIS

O Instituto Trata Brasil, organização da sociedade civil de interesse público, atua des-
de 2007 com o intuito de informar e conscientizar a população brasileira sobre o sa-
neamento básico no país. Um de seus trabalhos é realizar o ranking do saneamento,
analisando todos os municípios. O último ranking publicado em parceria com a GO
Associados está disponível no link a seguir.

GO ASSOCIADOS.  Ranking do saneamento Instituto Trata Brasil 2021 (SNIS


2019). São Paulo: Trata Brasil, 2021. Disponível em: http://www.tratabrasil.com.br/
images/estudos/Ranking_saneamento_2021/Relat%C3%B3rio_-_Ranking_Trata_
Brasil_2021_v2.pdf. Acesso em: 28 mar. 2021.

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3.1 TECNOLOGIAS APLICADAS AO TRATAMENTO DE AFLUENTES


É de conhecimento popular que a água é uma condição básica para a existência da
vida, mas, para isso, ela deve ser de qualidade ou minimamente não conter poluentes
nocivos à saúde. Com a expansão tecnológica e demográfica, a qualidade da água foi
e vem sendo fortemente impactada por inúmeros tipos de poluentes, sendo necessário
seu tratamento para retirar tais poluentes.

Nesse sentido, a tecnologia mais difundida para o tratamento de água é a Estação de


Tratamento de Água (ETA). Segundo relatos, a primeira ETA foi construída em 1829, em
Londres, com o objetivo de tratar a água do rio Tâmisa utilizando filtros de areia.

Com o passar dos anos, os estudos sobre as técnicas para tratar a água, seja para
consumo humano ou industrial, se desenvolveram, possibilitando etapas de tratamento
dentro de um único sistema. Dessa forma, as ETAs seguem se aprimorando, porém, de
forma suscinta, suas etapas podem ser descritas da seguinte forma:

I. Captação da água;

II. Desinfecção: adição de cloro ou uso de radiação ultravioleta (UV), na entrada da água
à estação é fundamental a redução ou a eliminação de patógenos existentes na água bruta;

III. Pré-alcalinização: após a aplicação do cloro é realizada a verificação do nível de acidez


da água, chamado de pH da água. A escala de valores de pH vai de 0 a 14, sendo 7 o valor
de pH neutro; abaixo de 7, ácido e corrosivo; e acima de 7, básico com tendência a formação
de incrustações. Para ajustar o pH, utiliza-se cal ou soda. A adição de cal diminui o pH, já a
adição de soda o eleva. A verificação do pH pode ser realizada por meio de equipamentos,
como o pHmetro, ou por meio do teste de coloração utilizando papel tornassol. Nessa etapa,
o ideal é que o pH esteja em torno de 5, aproximadamente, 5,7 para melhor eficiência da
próxima etapa;

IV. Coagulação: nessa etapa é adicionado sulfato de alumínio, cloreto férrico ou outro co-
agulante seguido de uma agitação da água, a fim de desestabilizar as partículas de sujeira
facilitando sua agregação e, consequentemente, a diminuição da turbidez a níveis aceitáveis;

V. Floculação: após a coagulação, inicia-se o processo de mistura lenta da água para pro-
vocar a formação de flocos com as partículas de sujeira;

VI. Decantação: etapa em que a água passa por tanques para separar e retirar os flocos de
sujeiras formados na etapa de floculação;

VII. Filtração: a etapa de filtração é realizada em tanques formados por pedra, areia e car-
vão, responsáveis por reter a sujeira que restou na fase de decantação;

VIII. Pós-alcalinização: etapa em que se verifica, novamente, o pH da água. Nessa etapa, o


pH ideal está entre 7,2 e 7,6. Se o pH é baixo (ácido), pode ocorrer a corrosão dos equipa-
mentos e manchas em torneiras e pias. Se o pH é alto (básico), podem ocorrer incrustações
nos equipamentos e água turva;

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Tecnologias aplicadas a prevenção e tratamento de corpos hídricos U9

IX. Desinfecção: realização de mais uma adição de cloro na água ou ozônio já na sua saída
da ETA, a fim de garantir a ausência de bactérias e vírus;

X. Fluoretação: adição de flúor na água.

Figura 05. Estação de tratamento de água

Fonte: http://site.sabesp.com.br/site/interna/Default.aspx?secaoId=47. Acesso em: 12 maio 2021.

Descoberto em 1886 como um disinfector de água, o ozônio possui a capacidade de


CURIOSIDADE

eliminar inúmeros compostos orgânicos e microrganismos da água.

No Brasil, a adição de flúor na água, antes de ser encaminhada as residências, é re-


alizada desde 1945, se enquadrando como técnica de saúde pública para prevenção
de cárie dentária.

3.2 TECNOLOGIAS APLICADAS AO TRATAMENTO DE EFLUENTES


A busca por tecnologias cada vez mais eficientes no tratamento de efluentes faz com
que tenhamos um leque de possibilidades. Porém, ao analisar custo versus benefício,
a realidade é outra. Ainda são poucas as técnicas de tratamento que podem ser ampla-
mente utilizadas em vários segmentos de geração de efluentes, no Brasil, por exemplo,
é mais empregado UASB, lodo ativado e as wetlands.

O termo wetland, originário da língua inglesa, significa terra molhada ou úmida. Ou seja,
trata-se de ambientes inundados permanentemente ou sazonalmente, sendo utilizado
como habitat de plantas aquáticas como manguezais, banhados e pântanos.

A partir da observação desse ambiente natural ocorreu a sua projeção de forma “arti-
ficial” para o tratamento de efluentes. Dessa forma, são construídos lagoas ou canais
que hospedam plantas aquáticas simulando ecossistemas naturais controlados.

O sistema wetland se trata de uma tecnologia vista com bons olhos pela socieda-
de, pelo fato de fazer uso de vegetação e ter ausência de odores. Esse segmento
é comumente confundido com jardins filtrantes, no entanto, jardins filtrantes são a
evolução das wetlands construídas. Dessa forma, pode-se afirmar que um jardim

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filtrante pode ser considerado uma wetland, mas uma wetland não pode ser consi-
derada um jardim filtrante.

Na análise econômica, as wetlands possuem baixo custo de implantação e, principalmen-


te, de operação, além de poder ser aplicada em outros tratamentos, como: pós-tratamen-
to de efluentes sanitários ou industriais, tratamento de cursos d’água poluídos, tratamento
de águas de drenagem de mineração, tratamento de águas subterrâneas contaminadas e
tratamento de águas de escoamento superficial (urbano/rural/industrial).

Apesar de todas as vantagens, os wetlands construídos são uma tecnologia de tratamento


extensiva, exigindo, portanto, maiores áreas de implantação.

A Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) é construída após a análise do efluente a


ser tratado, identificação de qual segmento foi gerado e quais são seus contaminantes.
Nesse sentido, as seguintes etapas estarão em todos os segmentos:

1º Gradeamento: eliminar os resíduos sólidos contidos em esgotos e águas residuais


é o primeiro passo para iniciar o tratamento. Esses resíduos são descartados erronea-
mente na rede de esgoto, como roupas, calçados e fraldas;

2º Desarenação: composto por areia, pedriscos e cascalho, a desarenação nada mais


é do que um tanque por onde o efluente passa deixando os resíduos sólidos menores
que passaram pelo gradeamento;

3º Remoção do lodo gerado no processo de desarenação: na etapa de desarena-


ção, os resíduos sólidos menores geram um lodo que deve ser removido pelo bombe-
amento e levado até uma unidade de desidratação, que podem ser leitos de secagem,
centrífugas ou adensadores;

4º Separação de água e óleo: caso o efluente seja industrial, de oficinas mecânicas,


ou outro segmento que utilize óleos ou graxas, se faz necessário a separação da água
do óleo nesse tratamento primário;

5º Tratamento biológico: com o efluente livre de resíduos sólidos, ele é encaminhado


para tratamento biológico em um tanque de aeração para remoção de matéria orgânica.
Esse processo biológico pode ser realizado com bactérias aeróbias (que necessitam da
presença de oxigênio) ou anaeróbias (que não requerem a presença de oxigênio). No
processo anaeróbio, a matéria orgânica é convertida em gás carbônico e gás metano,
que é o vilão na geração de odores desagradáveis. O índice de remoção da matéria or-
gânica nessa etapa de tratamento fica entre 60% e 75%. Os mecanismos amplamente
utilizados nessa etapa são: lagoas de estabilização; lagoas aeradas; lodos ativados e
suas variantes; filtração biológica aeróbica ou anaeróbica; reatores anaeróbios;

6º Decantação: após o tratamento biológico, o efluente passa pelo processo de decan-


tação, em que os flocos formados na etapa anterior vão para o fundo do tanque, ocor-
rendo a separação do líquido com o lodo gerado da floculação. Por sua vez, os flocos
depositados são removidos por meio de raspagem;

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Tecnologias aplicadas a prevenção e tratamento de corpos hídricos U9

7º Remoção de compostos inorgânicos: essa etapa é implantada quando o efluente


tratado contém compostos inorgânicos, como nitrogênio e fósforo, geralmente encon-
trados em efluentes industriais. Essa etapa pode ser realizada por meio de: microfiltra-
ção – aplicação de pressão para provocar a separação da parte líquida do esgoto dos
sólidos poluentes; precipitação química – aplicação de substâncias químicas coagulan-
tes para provocar a formação flocos que decantam com o lodo, removendo o poluente
do esgoto, que fica mais límpido. Por exemplo, a adição de sais de alumínio, ferro e
cálcio para remoção de fósforo do efluente; adsorção – uso de carvão ativado; troca
iônica – aplica-se resina polimérica no efluente, provocando a troca iônica que fará com
que os poluentes fiquem retidos na resina;

8º Desinfecção: nessa etapa é realizada a adição de produtos sanitizantes ao efluente


líquido tratado ou, até mesmo, pode ser encaminhado para wetlands, a fim de potencia-
lizar ainda mais o tratamento final;

9º Descarte: o lodo gerado no processo de decantação é desidratado e descartado em


aterro sanitário especializado. O líquido tratado é devolvido ao meio ambiente ou sub-
metido a tratamentos mais avançados e pode ser utilizado como água de reuso.
COMPLEMENTAR
ATIVIDADE

Procure na cidade em que você mora se existe algum projeto de conservação dos
recursos hídricos que participe do Programa Verde-Azul.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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