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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BRASÍLIA

A violência contra mulher no Brasil e a Cultura

Brasília/DF

Maio/ 2014

Professora Orientadora:

Ana Flávia

GABRIELLE LILIAN PRADO GOMES


A violência contra mulher no Brasil e a Cultura

A cultura tem grandes contribuições na manutenção destes tipos de pensamentos e


crenças. “A palavra cultura é derivada da palavra Culture, significando todo complexo
de conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou
hábitos que os seres humanos adquirem como membros de uma sociedade " (Laraia,
2013, pag.25).

Segundo Laraia (2013), o ser humano como possuidor da linguagem, com seus
signos e símbolos, tesouros facilmente multiplicáveis e transmissíveis é um
multiplicador de suas ideias eruditas, sendo um mantenedor e comunicador de
pensamentos, crenças e valores.

A violência doméstica contra a mulher no Brasil tem raízes históricas e culturais, e


para compreender melhor esses processos é importante considerarmos e analisarmos a
importância da Cultura, dentro deste processo social.

Na teoria Histórico-Cultural de Vigostsky, a cultura é um elemento de grande


importância, pois sob esse olhar o sujeito se constitui ativamente na sociedade e a
sociedade também será constituída por ele, ambos se constituem num processo de troca.
A cultura não é considerada como uma variável externa, porém compreende-se ativa no
desenvolvimento humano e fortemente relacionada com as ações, pensamentos e
emoções humanas (Madureira & Branco, 2007).

Na Psicologia Cultural, a cultura é um sistema organizador, sistêmico, dos sistemas


psicológicos de pessoas individuais. As bagagens culturais perpassam o sujeito que irá
contemplá-la conforme sua subjetividade, ainda que este sujeito seja culturalmente
guiado. (Valsiner, 2012, pag.23).

Para Vygotsky a relação humana com o ambiente é mediada semioticamente, sendo a


semiótica um campo que se propõe a estudar os signos (Madureira & Branco, 2007).
Em nossa sociedade eles são fatores que nos permitem comunicar com certa
arbitrariedade, pois os signos e símbolos carregam em si a Representação Social e
Cultural que neles foram empregados pela sociedade. Através deste enfoque teórico,
podemos compreender que existem representações da mulher e do homem na sociedade
Brasileira, que implicam em certos tratamentos e comportamentos dos mesmos
(Madureira & Branco, 2007; Valsiner, 2012).
Um fator histórico no Brasil é a violência de gênero direcionada as mulheres. Um
forte indicador dessa relação naturalizada de dominação e privilégios dados ao sexo
masculino, são os altos índices de violência dos homens para com as mulheres no
Brasil. A mulher possui uma representação social de sexo frágil, um ser a ser cuidado,
tutelado, deixa de “pertencer” a família para “pertencer” ao esposo (Schraiber et al,
2007; Parente et al, 2009; Bourdieu, 2014, pag.38).

Essa relação de submissão está estritamente ligada à educação familiar que


muitas recebem, desde a infância, muitas meninas são ensinadas a ocupar o espaço
social, adotando comportamentos convenientes ao sexo masculino. Para Bourdieu
(2014), as meninas recebem uma educação em que são ensinadas a andarem com as
costas eretas, as pernas precisam se manter fechadas, cabeça levemente curvada para
baixo, sendo essa uma representação de uma boa postura feminina, remetendo a
feminilidade a um modo de ser pequena, um ser invisível (Bordieu, 2014, pag.39).

Na perspectiva semiótica devemos explorar os significados culturais (Valsiner,


2012). Bordieu (2014, pag.39) faz uma análise dos significados dessas posturas dadas
como pertinentes à mulher: “a postura de olhar de frente com a postura ereta se compara
a um militar recrutado pelo estado, e submisso a ele, a mulher igualmente submissa, que
abaixa-se, curva-se, desvia o olhar, submete-se. Sentar-se de pernas abertas é vulgar!
Essas e tantas outras posturas estão carregadas de uma significação moral, que
beneficiam os homens e suas atitudes libidinosas” (Bordieu,2014, pag.39).

É pertinente perguntar: quais implicações trouxeram essa gama de privilégios


dados aos homens em nossa cultura? Quais tipos de tratamentos as mulheres receberam
e recebem até hoje em uma sociedade que privilegiavam e protegiam (e ainda protegem)
ações violentas e de anulação da mulher no Brasil por homens?

Esse protecionismo e privilégios que os homens obtiveram historicamente,


enraizaram crenças machistas, sexistas, que culminaram em homens se comportando
como verdadeiros selvagens, alguns dominadores e ditadores, que acreditam ter posse
sobre a mulher, considerando que a mulher deve ser submissa as suas vontades e
desejos e obedecer a suas ordens, tratando a mulher como uma espécie de objeto, sem
opinião crítica, sem desejos, sem voz (Waiselfisz, 2012; Blay, 2003).
Bourdieu fala sobre a naturalização da dominação masculina: “A força particular
da sociodicéia masculina lhe vem do fato de ela acumular e condensar operações: ela
legitima uma relação de dominação inscrevendo-a em uma natureza biológica que é, por
sua vez, uma construção social naturalizada” (Bourdieu, 2014, pag.33).

Precisou-se do movimento feminista, para que a mulher conseguisse não apenas


existir enquanto número na multidão, mais que pudesse existir quanto pessoa, com
direitos, liberdade de ir e vir, com poder de voto, de escolarização e de inserção no
mercado de trabalho. As lutas por direitos igualitários de gênero ganharam força e
expressão em 1970, fomentando um novo cenário social (Correia, 2001; Blay 2003,
Machado et al, 2008).

O movimento feminista reafirma a importância dos aspectos culturais em relação


aos sujeitos e seus processos de significações subjetivos, pois foi através de uma
reconfiguração e não aceitação dos moldes sociais tradicionais vigentes, que o
movimento feminista, arqueou a bandeira, foi à luta e fez o movimento contra-cultural,
mudando a história de vida de diversas mulheres pelo mundo, que não aceitam mais
permanecer neste lugar de opressão e de indignidade.

Ainda lida-se diariamente com uma parcela grande de pessoas que reproduzem o
machismo e sexismo, porém hoje, podemos dizer que alcançamos muitas mudanças.
Estamos caminhando para mudarmos essa representação arcaica de mulher como ser
inferior e submisso aos homens. A equidade de gênero ainda não é garantia real, porém
existem muitos esforços para que em breve possamos contemplá-la verdadeiramente.
Referências Bibliográficas

Bourdieu, P. (2014). A Dominação Masculina. 12.ed. Rio de janeiro, Bertrand Brasil,


160p.
Blay, A. E.(2003). Violência contra a mulher e políticas públicas. Estudos Avançados,
17.ed.(49).

Corrêa, M (2001). Do feminismo aos estudos de gênero no Brasil: um exemplo pessoal.


Cad. Pagu,  n.16, Campinas. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-83332001000100002&script=sci_arttext

Acessado: 09/03/2014

Madureira, F.A.; Branco, A.U. (2007). Identidades Sexuais Não- hegemônicas:


Processos Identitários e estratégias pra Lidar com o Preconceito. Psicologia: Teoria e
Pesquisa, jan-mar, vol.23. n,1.pp.081-090.

Parente, O. E.; Nascimento, O. R.; Vieira, S. E. J.(2009 ). Enfrentamento da violência


doméstica por um grupo de mulheres após a denúncia. Estudos Feministas,
Florianópolis, 17(2): 344, maio-agosto. Disponível em:

http://www.scielo.br/pdf/ref/v17n2/08.pdf

Acessado: 04/04/2014

Valsiner, J. (2012). Fundamentos da Psicologia Cultural: mundos da mente mundos da


vida. Artmed, Porto Alegre.

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