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Cristas

Respiração

SINOPSE
Do mesmo modo que discutimos o fluxo de energia no último
Membrana capítulo, focalizaremos agora ofluxo de carbono - embora na
interna realidade os dois não possam ser separados. Neste capítulo, a
ênfase situa-se na quebra de moléculas para obter energia para
a célula. Tanto plantas quanto animais usam moléculas de
alimento como blocos constituintes para a formação e reparo
Membrana
externa de células e como fontes de energia. A principal diferença é que
as plantas podem produzir as suas próprias moléculas de
alimento por meio da fotossíntese, enquanto os animais devem
obtê-Ias em suas dietas. Uma vez dentro da célula da planta ou
do animal, essas moléculas, principalmente a glicose, são
degradadas do mesmo modo gradual e semelhante a uma linha
de montagem, e grande parte da energia originalmente
presente nas moléculas de alimento é convertida em ATP - a
mais versátil forma de energia.
Você verá que a linha de montagem é dividida em quatro
estágios distintos. Na glicólise, a molécula de glicose toma-se
inicialmente reativa pela "energização" com ATP, e desse modo
energizada a glicose é parcialmente degradada a um produto com
6.1
Uma mitocôndria numa célula de folha de samambaia (Regnellidium três átomos de carbono. O próximo estágio é o ciclo de Krebs, no
diphyllum). As mitocôndrias são os sítios da respiração, um processo pelo qual os produtos de degradação da molécula de glicose são
qual a energia química é transferido de compostos contendo carbono para o
A TP. A maior parte do ATP é produzida nas superfícies das cristas por enzi-
completamente decompostos a dióxido de carbono e água. Dois
mas inseridas nessas membranas. outros estágios - a cadeia de transporte eletrônico e a
fosforilação oxidativa - são de importância crítica. É durante
esses estágios que a maior parte de ATP éformada, pelo menos
quando o oxigênio está presente. O capítulo termina com a
discussão de eventos que ocorrem quando o oxigênio está ausente
e quando diferentes tipos de moléculas de alimentos são usados.

PONTOS PARA REVISÃO

Ao término da leitura deste capítulo, você deverá ser capaz de responder as seguintes questões:

1. Qual a reação global, ou equação, da respiração e qual é a


principal função desse processo?

2. Quais são os principais eventos que ocorrem durante a glicólise?

3. Onde ocorre o ciclo de Krebs na célula, e quais os produtos


formados?

4. Como o fluxo de elétrons na cadeia de transporte eletrônico


resulta na formação de ATP?

5. Quando uma célula metaboliza uma molécula de glicose, como o


rendimento líquido de energia sob condições aeróbicas difere
daquele obtido sob condições anaeróbicas? Como você explica a
diferença?
Respiração 107

O A TP é Ele
vivos. a moeda conente
faz parte universal
de uma grandedevariedade
energia nos
de sistemas
eventos
celulares, da biossíntese de moléculas orgânicas até a vibração
mente se considera que a respiração propriamente dita inicia-
se com a glicose, um produto final da hidrólise tanto da sacarose
quanto do amido.
de um flagelo, o fluxo da COlTentecitoplasmática ou o transpor- A oxidação da glicose (e outros carboidratos) é complicada
te ativo de uma molécula através da membrana citoplasmática nos detalhes, mas simples em seu esboço geral. A oxidação,
(Fig. 6.1). Nas páginas seguintes, descrevemos como uma célu- como vimos no último capítulo, é a perda de elétrons. A redu-
la oxida carboidratos e captura uma porção da energia liberada ção é o ganho de elétrons. Na oxidação da glicose, a sua molé-
nas ligações fosfoanídricas do ATP. Esse processo fornece uma cula é cindida, e os átomos de hidrogênio (isto é, os elétrons e
excelente ilustração tanto dos plincípios químicos descritos no conespondentes prótons) são removidos dos átomos de carbono
capítulo anterior, como do modo pelo qual as células conduzem e combinados com oxigênio, que é desse modo reduzido. Os elé-
os processos bioquímicos. trons vão de níveis mais altos de energia para níveis mais bai-
xos, e energia é liberada.
A glicose pode ser usada como uma fonte de energia tanto
Uma Sinopse da Oxidação da sob condições aeróbicas (isto é, na presença de oxigênio)
quanto anaeróbicas (na ausência de oxigênio). Entretanto, os
·cose máximos rendimentos de energia de compostos orgânicos
oxidáveis são obtidos apenas sob condições aeróbicas. Con-
Como mencionado no Capo 2, as moléculas de carboidratos for- sidere, por exemplo, a reação global da oxidação completa da
necedoras de energia são geralmente armazenadas nas plantas glicose:
como sacarose ou amido. Uma etapa preliminar necessária para
a respiração - a quebra completa dos açúcares ou outras mo- CõH120õ + 602 ~ 6C02 + 6Hp + Energia
léculas orgânicas em dióxido de carbono e água - é a hidróli- Glicose Oxigênio Dióxido Água
se a monossacarídios dessas moléculas armazenadas. Geral- de carbono

Respiração
(ocorre nas mitocôndrias)

(d) Fosforilação
oxidativa

ATP

ATP
ADP+ Pj

Glicose Piruvato
(b) Ciclo de Krebs (c) Cadeia de transporte eletrônico
(a) Glicólise
(ocorre no citossol)
Fermentação
(ocorre no citossol)

Lactato
ou
etanol + CO,

6.2
Uma sinopse da oxidação da glicose. A completa quebra oxidativa da glicose é chamada respiração. A glicólise é considerada o primeiro de quatro estágios.
O ciclo de Krebs, a cadeia de transporte eletrônico e a fosforilação oxidativa são os outros três estágios. (a) Na glicólise, a glicose é quebrada, formando
piruvato. Uma pequena quantidade de ATP é sintetizada a partir de ADP e fosfato, e uns poucos elétrons (e ) e seus respectivos pró tons (W) são transferidos
para coenzimas que funcionam como transportadores de elétrons. (b) Na presença de oxigênio (via aeróbica), o piruvato é introduzido no ciclo de Krebs. No
curso desse ciclo, mais ATP é sintetizado e mais elétrons e prótons são transferidos para coenzimas. (c) As coenzimas então transferem os elétrons para uma
cadeia transportadora de elétrons, na qual eles caem, etapa por etapa, para níveis inferiores de energia, gerando um gradiente de prótons. (d) O gradiente
de prótons é então usado para impelir a formação de muito mais ATP. Esseprocesso é chamado fosforilação oxidativa. No final da cadeia de transporte
eletrônico, os elétrons recombinam-se com os prótons e unem-se com o oxigênio para formar água.
Na ausência de oxigênio (via anaeróbica), o piruvato é convertido a lactato ou etanol. Esseprocesso, conhecido como fermentação, não produz A TP
adicional mas regenera as coenzimas que são necessárias para a continuidade da glicólise.
108 Biologia Vegetal

Fase preparatória
Com oxigênio como aceptor final de elétrons, essa reação é al- 6
tamente exergônica (Iiberadora de energia), com um iJ.G de -686
kcaUmol. Essa reação representa o processo de respiração. Quan-
do energia é extraída de compostos orgânicos sem o envolvimen- H
to de oxigênio, o processo é chamado fermentação, que será 4 OH H 1

discutida mais tarde neste capítulo.


HO 3
HOH~CH2 2O HOH
A respiração envolve quatro estágios distintos: glicólise, ci-
H OH
cio de Krebs, cadeia de transporte eletrônico e fosforilação oxi-
dativa (Fig. 6.2). Na glicólise, a molécula de seis carbonos da Glicose

glicose é quebrada em um par de moléculas de três carbonos do l' Etapa Primeira


ácido pirúvico ou piruvato. (O ácido pirúvico dissocia-se, pro- reação
duzindo piruvato e um íon hidrogênio. O ácido pirúvico e o
piruvato existem em equilíbrio, e os dois termos são freqüente-
mente usados alternativamente.) No ciclo de Krebs, as molécu-
",,"""m"" t::: preparatória de
fosforilação

las de piruvato são posteriormente quebradas em dióxido de car-


bono e os elétrons resultantes são transferidos para a cadeia de
transporte eletrônico. Na fosforilação oxidativa, a energia que
é liberada à medida que os elétrons se movem através da cadeia
de transporte eletrônico é usada para formar ATP a partir de ADP
e fosfato.
À medida que a molécula de glicose é oxidada, parte de sua Glicose 6-fosfato
energia é extraída numa série de pequenas e discretas etapas e é
2ª Etapa
armazenada nas ligações de fosfoanidrido do ATP. Contudo, de
acordo com a segunda lei da termodinâmica, a maior parte des-
sa energia é dissipada como energia térmica.

"cólise
Como mencionado anteriormente, na glicólise (de glyco, signi-
ficando "açúcar", e lysis, significando "divisão", "separação"),
a molécula de seis carbonos da glicose é quebrada em duas de
piruvato (Fig. 6.3). A glicólise ocorre numa série de dez etapas,
Frutose 6-fosfato
cada uma delas catalisada por uma enzima específica. Essa série
de reações é realizada virtualmente por todas as células vivas, 3ª Etapa Segunda
de bactérias a células eucarióticas de plantas e animais. A glicó- Fosfofrutoquinase reação
lise é um processo anaeróbico que ocorre no citossol. Biologi- preparatória de
fosforilação
camente, a glicólise pode ser considerada um processo primiti-
vo, no sentido de que muito provavelmente ela surgiu antes do
aparecimento do oxigênio atmosférico e antes da origem das
organelas celulares.
A via glicolítica é mostrada em detalhes na Fig. 6.4. Ela ilustra
o princípio de que os processos bioquímicos de uma célula viva
se dão em pequenas etapas seqüenciais, cada uma delas catalisa-
da por uma enzima específica. À medida que a série de reações é
Frutose 1,6-difosfato
discutida, observe como o esqueleto carbônico da molécula é des-
4ª Etapa Clivagem do
açúcar-fosfato de
6 carbonos para
OH+ 0-
4[Hl
CH20H C=O+
ICH3
I
0-
C=O
I I CH3 dois açúcares
fosfatos de 3
carbonos
H
1 11
CHzOH c=o
I '" zl
2
5ª Etapa C == O isomerase HCOH
Glicose Glicólise 2 Piruvato + 4 Átomos de hidrogênio 31 31
CH2-0- P CH2-0 - P
6.3 Fosfato de Gliceraldeído
Na glicólise, a molécula de glicose com seis átomos de carbono é cindida, diidroxiacetona 3-fosfato
por intermédio de uma série de dez reações, em duas moléculas de um com-
posto de três átomos de carbono, conhecido como piruvato. No curso da 6.4
glicólise, quatro átomos de hidrogênio são removidos da molécula de glicose As etapas da glicólise. Cada etapa é catalisada por uma enzima específica,
original. como indicado. P = grupo fosfato.
Respiração 109

montado ao mesmo tempo em que os seus átomos são rearranjados Fase energeticamente rentável
H
etapa por etapa. Não se pretende que você memorize essas etapas;
)1
simplesmente, acompanhe-as de perto. Em especial, observe a C=O
formação do ATP a partir do ADP e fosfato, e a formação de 2x ~ 2 I
NADH a partirdeNAD+ (ver Fig. 5.10). O ATP e NADHrepre- HCOH
sentam o resultado líquido da energia celular originada da glicóli- J
"CH2-0- P
se. No Capo 7, veremos que as reações de 4 até 7 também ocorrem
Gliceraldeído 3-loslato
no ciclo de Calvin, uma parte do processo fotossintético. Essa re-
petição ilustra um princípio da evolução bioquímica: vias meta- 6ª Etapa Oxidação e
bólicas não são originadas inteiramente de novo; em vez disso, GloIcerald'd'/
elo. 2NAD+ fosforilação
3-fosfato
poucas novas reações são adicionadas a um conjunto já existente, desidrogenase 11 2NADH
para formar uma "nova" via.
J:2P;
I +;~+
1 º Etapa A fase preparatória na glicólise requer um fornecimento
de energia. A energia é suprida acoplando-se essas etapas ao sis- )1
C=O
tema ATP/ADP. Na primeira etapa - a primeira reação prepa-
2x I
ratória - o grupo fosfato terminal é transferido de uma molécu- H2COJ-I
Ia de ATP para o carbono na posição 6 da glicose, formando-se
a glicose 6-fosfato. A reação do ATP com a glicose, produzindo 1 0- P
CH2-O-
31

P
a glicose 6·fosfato e ADP, é uma reação exergônica. Parte da 1,3-Dilosloglicerato
7ª Etapa Primeira reação
energia que ela libera é armazenada na ligação química entre o formadora de A TP
grupo fosfato e a molécula de glicose, desse modo energizando (fosforilação em nível de
o composto. Essa reação é catalisada por uma enzima específica substrato)
(hexoquinase; ver Fig. 5.8).

2ª Etapa Nesta etapa, a molécula é reananjada, novamente com )1


C=O
o auxílio de uma enzima específica (fosfoglicoisomerase). O anel
2x I
caracteristicamente de seis lados da glicose converte-se no anel H2COH
da frutose de cinco lados. (Como mostrado na Fig. 2.3, glicose e
frutose têm os mesmos tipos e números de átomos - CóHl20ó 1 31
0-
CH2-0- P
- mas diferem no arranjo de seus átomos.) Essa reação é 3-Fosloglicerato
impelida pelo acúmulo de glicose 6-fosfato da 1: etapa e pela 8ª Etapa
Fosfogliceromutase
redução da disponibilidade de frutose 6-fosfato à medida que ela
entra na 3: etapa.

3 ª Etapa Nesta etapa - a segunda reação preparatória - a fru- )1


C=O
tose 6-fosfato ganha um segundo grupo fosfato mediante o en- 2x I

volvimento de outro ATP. O fosfato adicionado é ligado ao pri- H2C-0- P


meiro carbono, produzindo frutose 1,6-difosfato - isto é, fru-
tose com fosfato nos carbonos das posições 1 e 6. Observe que
1 31

0-
CI-hOH
2-Fosloglicerato
no curso das reações até agora comentadas, duas moléculas de 9ª Etapa
ATP foram convertidas em duas moléculas de ADP e nenhuma
quantidade de energia foi recuperada. A energia produzida até
agora, em outras palavras, é -2 ATP.

4ª Etapa Esta é a etapa de clivagem da qual a glicólise recebe o


)1
seu nome. A molécula de açúcar de seis carbonos é dividida pela C=O
metade, produzindo duas moléculas de três carbonos, gliceral- 2x I
deído 3-fosfato e diidroxiacetona-fosfato. 2C_0_ P
JI
5ª Etapa O gliceraldeído 3-fosfato e o diidroxiacetona-fosfato
1 0-
"CH2
Fosloenolpiruvato
podem ser interconvertidos pela enzima triose fosfato isomerase. 10' Etapa Segunda reação
Entretanto, devido ao fato de que o gliceraldeído 3-fosfato é con- formadora de A TP
sumido nas reações subseqüentes, o resultado líquido é a con- (fosforilação em

Ij:2ADP nível de substrato)


qumase ~

versão do diidroxiacetona-fosfato em gliceraldeído 3-fosfato. As-


sim, os produtos das etapas subseqüentes devem ser contados
Pir~vato
! j "2ATP
0-
duas vezes para levar em conta o destino de cada molécula de
)1
glicose. Com o término da 5: etapa, a fase preparatória está con- C=O
cluída. 2x ~ 21
C=O
6ª Etapa Na primeira reação com ganho energético, moléculas 31
CH3
de gliceraldeído 3-fosfato são oxidadas - isto é, átomos de ru- Piruvato
110 Biologia Vegetal

drogênio com seus elétrons são removidos - e NAD+ é reduzido Glicose (686 kcal/mol)
a NADH e H+ (um total de duas moléculas de NADH e dois íons
H+ por molécula de glicose - uma para cada uma das duas mo-
1" Fase
léculas de gliceraldeído 3-fosfato geradas por molécula de glico-
se). Essa é a primeira reação que rende energia para a célula, a qual
é armazenada na forma de um composto de alta energia, NADH. Glicose 6-loslato
Parte da energia dessa reação de oxidação é também armazenada
na ligação de um grupo fosfato ao carbono da posição 1 da molé-
2ª Fase
cula, formando um 1,3-difosfoglicerato. As propriedades dessa
nova ligação são semelhantes àquelas das ligações de fosfoanidrido
Fase preparatória
do ATP. (A designação Pi indica fosfato inorgânico, que está dis- Investimento Frutose 6-loslato
ponível como um íon fosfato em solução no citossol.) de energia:
2 ATP
3ª Fase
7ª Etapa A energia de ligação do fosfato, liberada da molécula
de 1,3-difosfoglicerato, é usada para fosforilar a molécula de
ADP (um total de duas moléculas de ATP é formado por molé- Frutose 1,6-diloslato
cula de glicose). Esta é de fato uma reação altamente exergônica
(isto é, seu D.G tem um alto valor negativo) e "empurra" todas as
reações prévias para a frente. A formação de ATP por meio de
uma transferência enzimática de um grupo fosfato originado de " e!i'Fa~' Ij
um intermediário metabólico para o ADP é referida como Cos-
Corilação em nível de substrato.

8ª Etapa O grupo fosfato remanescente é transferido do carbo- 6ª Fase


no da posição 3 para o da posição 2 da molécula do glicerato.

9ª Etapa Nesta etapa, uma molécula de água é removida do


composto de três carbonos. Como conseqüência do rearranjo de
elétrons e energia na molécula, um composto fosforilado de alta
energia (fosfoenolpiruvato) é formado. 7ª Fase

1Dª Etapa O grupo fosfato do fosfoenolpiruvato é transferido 2 x 3-Fnsloglicerato


para uma molécula de ADP, formando outra molécula de ATP.
(N ovamente, um total de duas moléculas de ATP é formado por
Fase de lucro 8ª Fase
molécula de glicose pela fosforilação em nível de substrato.) Esta
reação é também altamente exergônica e empurra para a frente
Rendimento energético:
4ATPe2NADH j
as duas reações precedentes (8." e 9." etapas). 2 x 2-Fosloglicerato

Resumo da Glicólise 9ªFase

A seqüência completa da glicólise começa com uma molécula


de glicose (Fig. 6.5). A energia intervém na seqüência nas eta-
pas 1 e 3 pela transferência de um grupo fosfato a partir de uma
molécula de ATP - uma em cada etapa - para a molécula de
açúcar. A molécula de 6 carbonos é cindida na 4." etapa e depois 10" Fase

da 5." etapa a seqüência fornece energia. Na 6." etapa, duas mo-


léculas de NAD+ são reduzidas a duas moléculas de NADH, des- 2 x Piruvato (273 kcal/mol cada)
se modo armazenando parte da energia proveniente da oxidação 6.5
do gliceraldeído 3-fosfato como elétrons de alta energia na co-
Uma sinopse das duas fases da glicólise. A fase preparatória requer um in-
enzima reduzida. Na 7." e 10." etapas, duas moléculas de ADP vestimento de energia de 2 A TP. Essa fase encerra-se com a cisão da molécu-
recebem energia do sistema, formando ligações adicionais de la de açúcar de seis carbonos em duas moléculas de três carbonos. A fase de
fosfoanidrido, convertendo-se em duas moléculas de ATP por lucro produz um rendimento energético de 4 A TP e 2 NAOH - um retorno
molécula de gliceraldeído 3-fosfato - ou quatro moléculas de substancial em relação ao investimento original. O rendimento líquido em
A TP é portanto de 2 moléculas de A TP por molécula de glicose. Carboidratos
ATP por molécula de glicose. Duas das quatro moléculas de ATP outros que não a glicose, como glicogênio, amido, vários dissacarídios e um
representam, na realidade, reposições de duas moléculas de ATP certo número de monossacarídios, podem sofrer glicólise, desde que tenham
usadas na 1." e na 3." etapas. O rendimento líquido de ATP é de sido convertidos a glicose 6-fosfato ou frutose 6-fosfato.
apenas duas moléculas por molécula de glicose.
A glicólise (da glicose até o piruvato) pode ser resumida pela
equação geral: Assim, uma molécula de glicose é convertida a duas moléculas
de piruvato. O rendimento energético líquido cOlTesponde a duas
Glicose + 2NAD+ + 2ADP + 2P;~ moléculas de ATP e duas moléculas de NADH por molécula de
2 Piruvato + 2NADH + 2H+ + 2ATP + 2H20 glicose. Dois moles de piruvato têm um conteúdo total de ener-
Respiração lII
gia de cerca de 546 quilocalorias, portanto não muito inferior às 0-
686 quilocalorias armazenadas num moI de glicose. Uma gran- I Coenzima A C02
de parte (cerca de 80%) da energia armazenada na molécula de
glicose original está desse modo ainda presente nas duas molé-
culas de piruvato.
Observe também que, sob condições aeróbicas, as duas mo-
léculas de NADH podem fornecer moléculas adicionais de ATP
nas mitocôndrias, quando usadas como doadoras de elétrons para
I
C=O
1=0
CH3

Piruvato
+-+
NAD+ 'G!612BJ
+ H+
I
C=O} acetil
CI-h
ioenzima
A
Grupo

Acetil CoA

a cadeia de transporte eletrônico da via aeróbica (ver adiante). 6.7


A molécula de piruvato de três carbonos é oxidada e descarboxilada, formando
o grupo acetil de dois carbonos, que é ligado à coenzima A, como acetil CoA.
A Via Aeróbi A oxidação da molécula de piruvato é acoplada à redução do NAO+ a NAOH.
O acetil CoA é a forma pela qual os átomos de carbono derivados da glicose
entram no ciclo de Krebs.
O piruvato é um intermediário-chave no metabolismo ener-
gético celular, porque pode ser utilizado em uma das várias
vias metabólicas. Qual via ele segue depende em parte das con-
dições sob as quais o metabolismo está ocorrendo e em parte cristas. Assim, uma mitocôndria lembra em si mesma uma in-
do organismo específico envolvido. Em alguns casos, a via é dústria química.
determinada pelo tecido em questão no organismo. O princi- A membrana externa da mitocôndria é permeável à maioria
pal fator ambiental é a disponibilidade de oxigênio. Na pre- das moléculas pequenas, e a solução que ocupa o espaço entre
sença de oxigênio, o piruvato é oxidado completamente a di- as membranas interna e externa é, desse modo, semelhante em
óxido de carbono e a glicólise é apenas o estágio inicial da composição ao citossol. Contudo, a membrana interna permite
respiração. Essa via aeróbica resulta na completa oxidação da a passagem de certas moléculas apenas, tais como o piruvato, o
glicose e num fornecimento muito maior de ATP do que é ADP e o ATP. Ela restringe a passagem de outras moléculas e
possível conseguir-se apenas com a glicólise. Nas células íons, incluindo os íons H+ (prótons). Como veremos, essa per-
eucarióticas, as reações da via aeróbica acontecem dentro das meabilidade seletiva da membrana interna é crítica para a capa-
mitocôndrias. cidade da mitocôndria em utilizar a energia liberada na respira-
ção para a produção de ATP.
A Estrutura da Mitocôndria Fornece a Chave
para Sua Função Uma Etapa Prelimi,nar: o Piruvato Entra
na Mitocôndria e E Oxidado e
Uma mitocôndria, como vimos no Capo 3, é envolta por duas Descarboxilado
membranas, a interna formando dobras para dentro, chamadas
cristas (Figs. 6.1 e 6.6). Dentro do compartimento mais interno O piruvato passa do citossol, onde ele é produzido pela glicóli-
da mitocôndria, banhando as cristas, existe um líquido chamado se, para a matriz da mitocôndria atravessando as membranas
matriz. Esta contém água, enzimas, coenzimas, fosfatos e ou- externa e interna no processo. No entanto, o piruvato não é usa-
tras moléculas e íons relacionados com a respiração. Todas ex- do diretamente no ciclo de Krebs. Dentro da mitocôndria, o
ceto uma das enzimas do ciclo de Krebs são encontradas em piruvato é oxidado e descarboxilado - isto é, os elétrons são
solução na matriz. Uma enzima do ciclo de Krebs e os compo- removidos e o CO2 é eliminado da molécula. Durante essa rea-
nentes da cadeia do transporte eletrônico estão inseridos na mem- ção exergônica, uma molécula de NADH é produzida a partir
brana interna e são, portanto, características proeminentes das de NAD+ (Fig. 6.7). As duas moléculas de piruvato derivadas
da molécula original de glicose foram agora oxidadas a dois gru-
pos acetil (CH3CO-). Além disso, duas moléculas de CO2 fo-
Membrana externa
ram liberadas e duas moléculas de NADH foram formadas a
Membrana interna
partir de NAD+.
Cada grupo acetil é temporariamente ligado à coenzima A
Espaço entre as membranas
(CoA) - uma grande molécula consistindo em um nucleotídio
ligado ao ácido pantotênico, uma das vitaminas do complexo B.
A combinação do grupo acetil e CoA, conhecida como acetil
Matriz CoA, entra no ciclo de Krebs.

O Ciclo de Krebs Oxida os Grupos Acetil das


Moléculas de Acetil CoA

O ciclo de Krebs recebeu o nome em homenagem a Sir Hans


Krebs, cujo grupo de pesquisa foi amplamente responsável pela
sua elucidação. Krebs postulou essa via metabólica em 1937 e
6.6 mais tarde recebeu o Prêmio Nobel em reconhecimento ao seu
Estrutura de uma mitocôndria. Uma mitocôndria é envolta por duas mem- brilhante trabalho. O ciclo de Krebs pode também ser chamado
branas, como mostrado neste diagrama tridimensional. A membrana inter-
na dobra-se para dentro, formando as cristas. Muitas das enzimas e trans- ciclo do ácido cítrico, ou ciclo dos ácidos tricarboxílicos (CA T),
portadores eletrônicos envolvidos na respiração estão presentes dentro da uma vez que ele começa com a formação do ácido cítrico ou ci-
membrana interna. trato, que tem três grupos carboxílicos.
112 Biologia Vegetal

o
Glicólise
II
Glicose
~ >J CH3 -:- C - COO-
Plruvato

o
I1 coo-
CH3-C-S-CoA I

Acetil CoA CH2'


I
coo- HO -C-COO-
I I

C=O CH2
I I
COO- coo- 'Enzimas que catalisam essas reações:
CH2
I HP Citrato
coo- I 1. Citrato sintase
COO-
CHz 2. Aconitase
I I
H-C-OH 3. Isocitrato desidrogenase
H-C-COO- 4. a-Cetoglutarato desidrogenase
I
I 5. Succinil CoA sintetase
CH2 H-C-OH 6. Succinato desidrogenase
I 7. Fumarase
I
COO- COO- 8. Malato desidrogenase
Malato
Isocitrato 'CoA é freqüentem ente representada como CoA-SH

Ciclo de
Krebs
coo-
I
CH
1I
CH
I
COO- COO-
CoA-SH I

CHz
coo- I
I CHz
CH2 I
FAD
I C=O
CH2
coo- I
I COO-
I
COO-
CH2 a-Cetoglutarato
Succinato
I
CHz
I
C=O
I
S- CoA
Succinil CoA

6.8
Durante o ciclo de Krebs, dois átomos de carbono entram como acetil CoA e dois átomos de carbono são oxidados a dióxido de carbono; os átomos de
hidrogênio são passados às coenzimas NAD+e FAD. Como na glicólise, uma enzima específica está envolvida em cada etapa.
Respiração 113

------'
~
Redução

Oxidação

Adenma

OH OH OH OH
Flavina adenina Flavina adenina
dinucleotídio, oxidada (FAD) dinucleotídio, reduzida (FADH2)

6.9
A coenzima f1avina adenina dinucleotídio na sua forma oxidada (FAD) e reduzida (FADH;J. A riboflavina é uma vitamina (vitamina 82) produzida por todas
as plantas e muitos microrganismos, mas requerido na dieta da maioria dos animais. E um pigmento e, na sua forma oxidada, é amarela brilhante. Um
aceptor de elétrons relacionado, flavina mononucleotídio (FMN), consiste na riboflavina com um grupo fosfato. Ele capta elétrons do NADH na cadeia de
transporte eletrônico.

o ciclo de Krebs sempre começa com a acetil CoA, seu úni- Na Cadeia de Transporte Eletrônico, os Elétrons
co substrato verdadeiro. Depois de entrar no ciclo de Krebs (Fig. Removidos da Molécula de Glicose São
6.8), o grupo acetil, contendo dois carbonos, combina-se com um Transferidos para o Oxigênio
composto de quatro carbonos (oxaloacetato), produzindo um
composto com seis carbonos (citrato). A coenzima A é liberada, A molécula de glicose está agora completamente oxidada. Parte
combinando-se com um novo grupo acetil quando outra molé- de sua energia foi usada para produzir ATP a partir de ADP e Pi
cula de piruvato é oxidada. Durante o ciclo, dois dos seis carbo- na fosforilação em nível de substrato, tanto na glicólise quanto
nos são removidos e oxidados a CO2 e o oxaloacetato é regene- no ciclo de Krebs. No entanto, a maior parte da energia ainda
rado - desse modo fazendo dessa série de reações literalmente permanece nos elétrons removidos dos átomos de carbono quan-
um ciclo. Cada giro no ciclo consome um grupo acetil e regene- do eles foram oxidados. Esses elétrons passaram para os trans-
ra uma molécula de oxaloacetato, a qual está então pronta para portadores de elétrons NAD+ e FAD e ainda estão em um alto
iniciar novamente o ciclo de Krebs.
nível de energia no NADH e FADH2.
No decorrer dessas etapas, parte da energia liberada pela oxi- No próximo estágio da respiração, esses elétrons de alta ener-
dação dos átomos de carbono é usada para converter ADP em gia do NADH e FADH2 são passados gradualmente até o nível
ATP (uma molécula por ciclo, outro caso de fosforilação em
energético mais baixo do oxigênio. Essa passagem gradual tor-
nível de substrato), mas a maior parte é usada para reduzir
na-se possível pela cadeia de transporte eletrônico (Fig. 6.10),
NAD+ a NADH (três moléculas por ciclo). Além disso, parte
uma série de transportadores de elétrons, cada um dos quais re-
da energia é usada para reduzir um segundo transportador de
elétrons - a coenzima conhecida como flavina adenina tém os elétrons em um nível de energia ligeiramente mais bai-
xo. Cada transportador é capaz de aceitar ou doar um ou mais
dinucleotídio (FAD) (Fig. 6.9). Uma molécula de FADHz é for-
elétrons. Cada um dos componentes da cadeia pode aceitar elé-
mada a partir de FAD em cada giro do ciclo. O oxigênio não
está diretamente envolvido no ciclo de Krebs; os elétrons e pró- trons de um transportador precedente e transferi-Ios para o trans-
tons removidos na oxidação do carbono são todos captados pelo portador seguinte, numa seqüência específica. Com uma exce-
NAD+ eFAD. ção, todos esses transportadores estão localizados na membrana
mitocondrial interna.
A equação geral do ciclo de Krebs é, portanto:
Os transportadores de elétrons da cadeia de transporte ele-
Oxaloacetato + Acetil CoA + 3H20 + ADP + Pi + trônico das mitocôndrias diferem de NAD+ e FAD em suas
3NAD+ + FAD----7 estruturas químicas. Alguns deles pertencem a uma classe de
Oxaloacetato + 2COz + CoA + ATP + 3NADH + transportadores de elétrons conhecida como citocromos -
3H+ +FADH2 moléculas de proteína com um anel porfirínico que contém
114 Biologia Vegetal

CH3 CH3

(a) ~I-I2-CH2-1'
COOH ~ yA Y~ \-JI-I-S-
CI-I3

Alto 'Pe
J g!
]ie
)=
nível de ~ / ",
energia N N

m,-m, , L
N" /N~--{OH;
------!:. "
I
COOH
CH----S-
I

CI-I3
( Heme )
Citocromo )

(b)

Energia
Formas
reduzidas dos
transportadores
de elétrons
Formas
oxidadas dos
transportadores
de elétrons

6.11
Os citocromos são moléculas que participam da transferência eletrônica nas
Baixo
nível de mitocôndrias. (a) Cada cito cromo contém um átomo de ferro ligado a um
energia anel porfirínico contendo nitrogênio. O anel porfirínico com seu átomo de
H20 ferro é conhecido como heme. Cada átomo de ferro captura um elétron e é
reduzido de Fe3+para Fe2+.O citocromo aqui mostrado é o citocromo c. (b)
2H++1/202 Estrutura geral da molécula do citocromo c, mostrando a posição do grupo
heme (colorido) dentro da proteína globular.
6.10
Uma representação esquemática da cadeia de transporte eletrônico. As mo-
léculas aqui mostradas - flavina mononucleotídio (FMN), coenzima Q (CoQ)
e os citocromos (cyt.) b, c, a e a3 - são os principais transportadores eletrô-
nicos da cadeia. Pelo menos nove outras moléculas também funcionam como
intermediários entre esses transportadores eletrônicos.
Os elétrons transportados pelo NAOH entram na cadeia quando são trans-
feridos para o FMN, o qual é então reduzido (azul). Quase instantaneamen-
te, o FMN passa os elétrons para a CoQ. No processo, o FMN retoma à sua Cy,~
forma oxidada (cor cinza), pronto para receber outro par de elétrons, e a Fe
CoQ é reduzida. A CoQ passa então os elétrons para o próximo transporta-
dor e retoma à sup forma oxidada, e assim por diante, em direção descen-
dente na cadeia. A medida que os elétrons se movem para baixo na cadeia,
I~====S
eles caem para níveis de energia sucessivamente inferiores. Os elétrons são
finalmente capturados pelo oxigênio, que se combina com pró tons (íons hi-
drogênio), formando-se água.
Os elétrons transportados pelo FAOH2estão num nível de energia ligeira-
Cys Si" 1~ S~~Fe Fe ~cYs

mente mais baixo que os transportados pelo NAOH. Eles entram na cadeia
de transporte eletrônico bem mais abaixo na cadeia que a CoQ e geram
apenas 2 ATPpor molécula de coenzima, em comparação com o rendimen-
to de 3 ATPpor molécula de NAOH.
6.12
VFe~\~1 S

Arranjo proposto para os átomos de ferro (Fe) e enxofre (5) no centro reativo
de uma proteína ferro-enxofre. O centro ferro-enxofre aqui mostrado consis-
te em quatro átomos de ferro e oito átomos de enxofre. Os centros ferro-en-
xofre são ligados a grupos de cisteína (cys) da proteína. As proteínas ferro-
enxofre estão envolvidas na transferência eletrônica.
Respiração 115

o OH
II I

CH3-0-C /C" C-CH3 CH3 /C~ C-CH3


CH3-0-C CH3
II II I
-----!..
Redução II I I
CH3-0-C" c /C-(CH2-CH=C-CHz)nH+ 2[H] CH3-0-C,
'\ Oxidação 'C~..--;;C-(CHz-CH=C-CHZ)nH
II I
o OH
Coenzima Q Coenzima Q
oxidada (CoQ) reduzida (CoQH,)
6.13
Formas oxidada e reduzida da coenzima Q. A forma oxidada da CoQ é reduzida pela captura de elétrons de um doador na cadeia de transporte eletrônico.
Os prótons capturados pela CoQ provêm do lado da membrana interna mitocondrial, contíguo à matriz. A coenzima Q é também conhecida como "ubiqui-
nona", um reflexo da ubiqüidade desse composto - virtualmente, ele ocorre em todas as células eucarióticas.

ferro, ou grupo heme, ligado (Fig. 6.11). Os citocromos cap- e FADH2. Para cada molécula de glicose oxidada, o rendimento
turam elétrons em seus átomos de ferro, os quais podem ser do ciclo de Krebs foi de duas moléculas de FADH2 e seis de
reversivelmente reduzidos da forma férrica (FeH) à forma NADH; a oxidação do piruvato a acetil CoA forneceu duas mo-
ferrosa (Fe2+). Cada citocromo difere em sua estrutura pro- léculas de NADH. Lembre-se de que duas moléculas adicionais
téica e no nível de energia no qual ele retém os elétrons. Em de NADH foram produzidas na glicólise; na presença de oxigê-
sua forma reduzida, os citocromos carregam um único elétron nio, os elétrons dessas moléculas de NADH são transportados
sem um próton. para a mitocôndria. Os elétrons de todas as moléculas de NADH
Proteínas contendo ferro mas sem o grupo heme - as prote- são transferidos para o aceptor de elétrons flavina mononucleo-
ínas ferro-enxofre - são outro componente da cadeia de trans- tídio (abreviado como FMN; ver Fig. 6.9), o primeiro compo-
porte eletrônico. O ferro dessas proteínas não está ligado a um nente da cadeia de transporte eletrônico. Os elétrons das molé-
anel porfirínico; na verdade, os átomos de ferro estão ligados a culas de FADH2 são transferidos para a CoQ, a qual está muito
sulfetos e a átomos de enxofre dos aminoácidos sulfurados, en- mais abaixo na cadeia de transporte eletrônico do que o FMN
contrados na cadeia protéica (Fig. 6.12). Do mesmo modo que (Fig. 6.10).
os citocromos, as proteínas ferro-enxofre capturam elétrons nos À medida que os elétrons fluem ao longo da cadeia de trans-
seus átomos de ferro e, portanto, carregam elétrons mas não pró- porte eletrônico, dos níveis mais altos para os mais baixos de
tons.
energia, a energia liberada é aproveitada e usada para gerar o
Os componentes mais abundantes da cadeia de transporte
gradiente de prótons. Este, por seu turno, dirige a formação
eletrônico são moléculas quinônicas. A quinona das mitocôn-
de ATP a partir de ADP e Pi' num processo conhecido como
drias é a ubiquinona, também chamada coenzima Q (CoQ) fosforilação oxidativa. No final da cadeia, os elétrons são re-
(Fig. 6.13). Diferentemente dos citocromos e das proteínas fer-
cebidos pelo oxigênio e combinam com prótons (íons hidro-
ro-enxofre, uma qui nona pode captar ou doar um ou dois elé-
trons. Isso permite à CoQ servir como intermediário entre car- gênio), produzindo-se água. Cada vez que um par de elétrons
passa do NADH para o oxigênio, prótons suficientes são
regadores de dois elétrons e carregadores de um elétron. Além
disso, a CoQ capta um próton juntamente com cada elétron "bombeados" através da membrana para gerar três moléculas
de ATP. Cada vez que um par de elétrons passa do FADH2'
que ele transporta - o equivalente a um átomo de hidrogê-
que os mantém num nível energético ligeiramente mais bai-
nio. Ao alternar a transferência de elétrons entre os transpor-
tadores que carregam apenas elétrons e aqueles que carregam xo que o NADH, prótons suficientes são "bombeados" para
formar duas moléculas de ATP.
átomos de hidrogênio, a CoQ pode mover prótons através da
membrana mitocondrial interna. Por exemplo, toda vez que
uma molécula de quinona recebe um elétron de um citocro- A Fosforilação Oxidativa É Conseguida
mo, ela também captura um próton (H+) da matriz mitocon- pelo Mecanismo de Acoplamento
drial. Quando a quinona cede seus elétrons para o próximo Quimiosmótico
transportador, como um citocromo, o próton é liberado no
espaço entre as membranas. Os transportadores de elétrons são Até o início da década de 1960, o mecanismo de fosforilação
orientados na membrana da mitocôndria, de tal modo que os oxidativa era um dos mais desconcertantes enigmas de toda a
prótons são sempre capturados no lado da membrana contí- biologia celular. Como resultado da perspicácia e da criativida-
guo à matriz e liberados no espaço entre as membranas. Des- de experimental do bioquímico britânico Peter Mitchell (1920-
se modo, um gradiente de prótons é gerado através da mem- 1992) - e dos trabalhos subseqüentes de muitos outros pesqui-
brana mitocondrial interna. A importância desse gradiente sadores - muitos dos enigmas estão sendo agora resolvidos. A
para a produção de ATP aeróbico será discutida mais tarde. fosforilação oxidativa depende de um gradiente de prótons (íons
Uma vez que a molécula de CoQ é pequena e hidrofóbica, ela H+) através da membrana mitocondrial e do subseqüente uso da
pode mover-se livremente no interior da bicamada lipídica da energia potencial armazenada nesse gradiente para formar ATP
membrana e, desse modo, transportar elétrons entre outros car- a partir de ADP e fosfato.
regadores menos móveis. Como mostrado na Fig. 6.14, os componentes da cadeia
No "ponto mais alto" (extremidade mais energética) da ca- de transporte eletrônico são organizados seqüencialmente na
deia de transporte eletrônico estão os elétrons contidos no NADH membrana interna da mitocôndria. Muitos dos transportado-
116 Biologia Vegetal

,0
Espaço entre
as membranas

6.14
O arranjo dos componentes da cadeia de transporte eletrônico na membrana interna da mitrocôndria. As estruturas de três complexos protéicos (aqui
indicados como I, 111 e IV) estão localizadas na membrana. Elescontêm transportadores eletrônicos e as enzimas requeridos para a catálise da transferência
de elétrons de um transportador para o próximo. O Complexo I contém o transportador eletrônico FMN, que recebe dois elétrons do NAOH e os transfere
para a CoQ. Esta, localizada no interior lipídico da membrana, transporta elétrons do Complexo I para o Complexo 111, o qual contém o citocromo b. Do
Complexo 111, os elétrons movem-se para o citocromo c, um proteína periférica da membrana que se move num vaivém entre os Complexos 111 e IV. Os
elétrons então se movem através do citocromo a e a3, localizado no Complexo IV, voltando para a matriz, onde se combinam com pró tons (íons W) e
oxigênio, formando-se água.
O Complexo li, uma outra estrutura do complexo protéico (não mostrado aqui) localizado na membrana mitrocondrial interna, contém o FAO.Os elé-
trons são passados do succinato (no ciclode Krebs)para o FAO,formando-se FAOH2, e então para a CoQ. Assim, os elétrons do FAOH2 entram na cadeia de
tran~porte eletrônico na CoQ. O Complexo li não faz parte da transferência de elétrons do NAOH para o O2•
A medida que os elétrons movem-se para baixo na cadeia de transporte eletrônico, os pró tons são bombeados através de três complexos protéicos da
matriz para o espaço entre as membranas. Essa transferência de prótons a partir do lado da membrana interna contíguo à matriz para o outro lado esta-
belece um gradiente de pró tons que alimenta a síntese de A TP.

res eletrônicos estão intimamente associados às proteínas in- ferença nas cargas elétricas (cargas mais positivas no lado ex-
seridas na membrana, formando três complexos distintos. terno do que no interno). A energia potencial está desse modo
Dentro de cada complexo, os transportadores eletrônicos es- na forma de um gradiente eletroquímico. Ele está disponível
tão mantidos em posições adequadas um em relação ao ou- para mover qualquer processo que forneça um canal que per-
tro. mita o fluxo de prótons a favor do gradiente, de volta para a
Como se observou acima, os complexos protéicos são tam- matriz.
bém bombas de prótons. Quando os elétrons caem para níveis Tal canal é provido de um grande complexo enzimático co-
mais baixos de energia durante o seu movimento através da ca- nhecido como ATP sintase (Fig. 6.15). Esse complexo, que faz
deia de transporte eletrônico, a energia liberada é usada pelos parte da membrana interna da mitocôndria, apresenta sítios de
complexos protéicos para bombear prótons da matriz mitocon- ligação para o ATP e o ADP. Ele apresenta também um canal
drial para o espaço entre as membranas. Acredita-se que para cada interno, ou poro, através do qual os prótons podem passar. Quan-
par de elétrons que se move para baixo na cadeia de transporte do os prótons fluem através desse canal, movendo-se a favor do
eletrônico, do NADH até o oxigênio, cerca de 10 prótons são gradiente eletroquímico do espaço entre as membranas de volta
bombeados para fora da matriz. para a matriz, a energia que é liberada alimenta a síntese de ATP
Como observado anteriormente, a membrana interna da mi- a partir de ADP e fosfato.
tocôndria é impermeável a prótons. Assim, os prótons que são Observe que a ATP sintas e funciona de uma maneira que é
bombeados para o espaço entre as membranas não podem re- oposta àquela da bomba de prótons H+-A TPase, descrita no Capo
tomar facilmente através da membrana para a matriz. O re- 4. Lá, o ATP era usado como uma fonte de energia para bombe-
sultado é um gradiente de concentração de prótons através da ar pró tons contra o seu gradiente eletroquímico. A ATP sintase,
membrana interna da mitocôndria, com uma concentração por outro lado, usa a energia dos prótons que se movem a favor
mais alta de prótons no espaço entre as membranas do que na de seu gradiente para produzir ATP.
matriz. Esse mecanismo de síntese de ATP, resumido na Fig. 6.16,
Do mesmo modo que uma rocha no topo de uma colina, ou é conhecido como acoplamento quimiosmótico. O termo "qui-
a água no alto de uma cachoeira, a diferença na concentração miosmótico", criado por Peter Mitchell, reflete o fato de que a
de prótons entre o espaço no meio das membranas e a matriz produção de ATP na fosforilação oxidativa inclui tanto proces-
representa a energia potencial. Essa energia resulta não apenas sos químicos (daí a porção "quimio" do termo) quanto o pro-
da diferença de concentração real (mais íons de hidrogênio no cesso de transporte através de uma membrana seletivamente
lado externo do que no interno da matriz), mas também da di- permeável (daí a porção "osmótico" do termo). Como vimos,
Respiração 117

Complexo
ATP sintase

ATP Pj +ADP

Gradiente eletroquímico

Matriz

-v-
Membrana interna

(a)

6.15
O compiexo A TPsintase. (a) Essecomplexo enzimático consiste em duas principais porções, Fo, que está contido no interior da membrana interna da mito-
côndria, e F" que se estende na matriz. Sítios de ligação, tanto para o ATPquanto para o ADP, estão localizados na porção F" que consiste em nove subu-
nidades protéicas separadas. Um canal, ou poro, conectando o espaço entre as membranas e a matriz mitocondrial, passa através de todo o complexo.
Quando os pró tons fluem através desse canal, movendo-se a favor do gradiente eletroquímico, o A TPé sintetizado a partir de ADP e fosfato. (b) As esferas
que aparecem como protrusões das vesículas nessa micrografia eletrônica correspondem às porções F, dos complexos de ATPsintase. As porções Fo, às quais
eles estão ligados, encontram-se na membrana e não aparecem na figura. As vesículas foram obtidas pela ruptura da membrana mitocondrial interna com
ondas de ultra-som. Quando a membrana é rompida desse modo, os fragmentos imediatamente se unem, formando vesículas fechadas. As vesículas estão,
contudo, com o lado interno para fora. Na figura, a superfície externa é aquela que está voltada para a matriz na mitocôndria intacta.
118 Biologia Vegetal

Espaço entre
as membranas

(H:;)
Espaço e~'tr~
, as membranas

'V
(H~
(0

Matriz
~
Membrana interna

6.16
Um resumo da síntese quimiosmótica de ATP na mitocôndria. Com o gradual movimento descendente do elétron na cadeia de transporte eletrônico, que
constitui uma parte da membrana mitocondrial interna, prótons são bombeados para fora da matriz mitocondrial no espaço entre as membranas, o que
cria um gradiente eletroquímico. O movimento subseqüente de prótons a favor do gradiente, quando eles passam através do complexo A TPsintase, fornece
a energia pela qual o ATPé regenerado a partir de AOP e fosfato. As evidências atuais sugerem que três prótons fluem através do complexo A TPsintase para
cada molécula de ATPformada.

Moléculas produzidas em:

Transporte
Matriz da eletrônico e
Citas sol
mitocôndria
fosforilação oxidativa

2ATP 2ATP
Glicólise 4ATP
2 NADH 4ATP
(rendimento líquido)

Piruvato a
acetil CoA 2 x (1 NADH) 2X(3ATP) 6ATP

2 X(1 ATP) 2ATP


Ciclo de Krebs 2X(3 NADH) 2 x(9 ATP) 18ATP
2 x (1 FADH2) 2X(2ATP) 4ATP

Total: 36 ATP
6.17
Um resumo da energia líquida fornecido pela completa oxidação de uma molécula de glicose.
Respiração 119

:UI

Na maioria dos organismos, a energia arma-


zenada como A TPé usada para trabalhos ce-
lulares tais como bio.ssíntese, transporte e
movimento. No entanto, em alguns organis-
mos uma fração da energia química é recon-
vertida em energia luminosa. A biolumines-
cência é provavelmente um subproduto aci-
dental de intercâmbios energéticos em mui-
tos organismos luminescentes tais como o
fungo Mycena lux-coeli aqui mostrado, fo-
tografado com sua própria luz. Entretanto,
em alguns organismos luminescentes, a bio-
luminescência tem uma função útil. Por
exemplo, o vagalume utiliza lampejos como
sinal de atração sexual.

dois eventos distintos têm lugar no acoplamento quimiosmóti- trônico, prótons suficientes são bombeados através da membra-
co: (1) um gradiente de prótons é estabelecido através da mem- na mitocondrial para sintetizar 6 ATP.
brana interna da mitocôndria, e (2) o potencial energético ar- O ciclo de Krebs também ocorre na matriz da mitocôndria,
mazenado no gradiente é usado para gerar ATP a partir de ADP fornecendo 2 moléculas de ATP, 6 de NADH e 2 de FADH2. A
e fosfato.
passagem dos elétrons do NADH e FADH2 para níveis inferio-
O poder quimiosmótico também apresenta outros usos nos res na cadeia de transporte eletrônico alimenta o bombeamento
sistemas vivos. Por exemplo, ele gera o movimento de rota- de prótons suficientes através da membrana para fornecer 22
ção dos flagelos das bactérias. Como veremos no próximo ATP. Assim, para cada molécula de glicose, o rendimento total
capítulo, nas células fotossintetizantes o poder quimiosmó- do ciclo de Krebs é de 24 ATP.
tico está envolvido na formação de ATP, usando a energia Como mostra a ficha de balanço (Fig. 6.17), o rendimento lí-
de elétrons fornecida pelo Sol. Ele também pode ser usado quido de uma única molécula de glicose é de 36 moléculas de
para alimentar outros processos de transporte. Nas mitocôn- ATP. Todas, exceto 2 das 36 moléculas deATP, vêm de reações
drias, por exemplo, a energia armazenada no gradiente de na mitocôndria e todas, exceto 4, envolvem a oxidação do NADH
prótons é também usada para transportar outras substâncias ou FADH2 ao longo da cadeia de transporte eletrônico, acoplada
através da membrana interna. Tanto o fosfato quanto o pi- à fosforilação oxidativa.
ruvato são transportados até a matriz por proteínas de mem- A diferença total em energia livre (LlG) entre os reagentes
brana que simultaneamente transportam prótons a favor do (glicose e oxigênio) e os produtos (di óxido de carbono e água) é
gradiente.
- 686 quilocalorias por moI. As ligações fosfoanidrídicas termi-
nais de 36 moléculas de ATP são responsáveis por cerca de 263
A Obtenção do Total Energético Envolve NADH quilocalorias (7,3 X 36) por moI de glicose. Em outras palavras,
e FADH21 Além de ATP cerca de 38% da energia é conservada como ATP. O restante é
perdido na forma de calor.
Estamos agora na condição de perceber quanto da energia ori-
ginalmente presente na molécula de glicose foi recuperada na
forma de ATP. A "ficha de balanço" do rendimento de ATP Outros Substratos para a
dada na Fig. 6.17 pode ajudá-Io a acompanhar a discussão que
se segue. espiracão
A glicólise inicia-se no citossol e na presença de oxigê-
Até aqui temos considerado a glicose como o principal substra-
nio fornece diretamente 2 moléculas de A TP mais 2 molé-
to da respiração. No entanto, é importante observar que as gor-
culas de NADH por molécula de glicose. Os elétrons manti- duras e as proteínas podem ser convertidas a acetil CoA e entrar
dos por essas 2 moléculas de NADH são transportados atra- no ciclo de Krebs (ver Fig. 6.19). No caso das gorduras, a molé-
vés da membrana mitocondrial com um "custo" de uma
cula de triglicerídio é inicialmente hidrolisada a glicerol e a três
molécula de ATP por molécula de NADH. Dessa maneira, o ácidos graxos. Então, iniciando-se pela extremidade carboxílica
rendimento líquido a partir da reoxidação de 2 moléculas de dos ácidos graxos, os grupos acetil de dois carbonos são suces-
NADH é de apenas 4 moléculas de ATP, em vez das 6 que sivamente removidos como acetil CoA por um processo chama-
seriam esperadas. do beta-oxidação. Uma molécula como o ácido oléico (ver Fig.
A conversão de piruvato a acetil CoA ocorre na matriz da 2.9), que contém 18 átomos de carbono, fornece nove molécu-
mitocôndria, fornecendo 2 moléculas de NADH para cada mo- las de acetil CoA que podem ser oxidadas pelo ciclo de Krebs.
lécula de glicose. Quando os elétrons mantidos pelas 2 molécu- As proteínas são decompostas de modo semelhante em seus
las de NADH movem-se para baixo na cadeia de transporte ele- aminoácidos constituintes e os grupos amino são removidos.
120 Biologia Vegetal

02
I
C=O H H
I I I
C=O ~lC=O ~lI-I-C-OH
I Piruvato I I
Desidrogenase
CH3 descarboxilase CH3 alcoólica CH3

Piruvato Acetaldeído Etanol

(a)

.,
'"

*--~ L~~; (b)

6.18
(a) O processo em duas etapas, pelo qual o piruvato é convertido anaerobicamente em etanol. Na primeira etapa, dióxido de carbono é liberado. Na segun-
da, o NADH é oxidado e o aceta/deído é reduzido. A maior parte da energia da glicose permanece no álcool, que é o principal produto final da seqüência.
Contudo, ao regenerar NAD+,essas etapas permitem que a glicólise continue, com seu pequeno, porém às vezes vital, rendimento de ATP. (b) Um exemplo
de glicóliseanaeróbica. Murais egípcios antigos, como o aqui mostrado, representam os mais antigos registros históricos de produção de vinho. Elestêm sido
datados de cerca de 5.000 anos atrás. Contudo, fragmentos de cerâmica recentemente descobertos, manchados com vinho, sugerem que os sumérios ti-
nham dominado a arte de produção de vinho pelo menos 500 anos antes dos egípcios. As uvas eram apanhadas e então esmagadas com os pés e o suco
era coletado em cântaros e deixado para fermentar, produzindo o vinho. Na moderna produção de vinho, culturas puras de fermento são adicionadas ao
suco de uva relativamente estéril para a fermentação, em vez de ficar na dependência dos fermentos trazidos com as uvas.

Alguns dos esqueletos carbônicos residuais são convertidos em dação do NADH é precedida da liberação de dióxido de carbo-
intermediários do ciclo de Krebs, tais como a-cetoglutarato, no (descarboxilação) (Fig. 6.18).
oxaloacetato e fumarato e desse modo entram no ciclo. Termodinamicamente, a fermentação láctica e a fermentação
alcoólica são semelhantes. Em ambas, o NADH é reoxidado e o
rendimento energético pela quebra da glicose é limitado ao ga-
Vias Anaeróbicas nho líquido de 2 moléculas de ATP produzidas durante a glicó-
lise. A equação completa e balanceada da fermentação da glico-
Na maioria das células eucarióticas (e também na maioria das se pode ser representada como se segue:
bactérias) o piruvato geralmente segue a via aeróbica e é com-
pletamente oxidado a dióxido de carbono e água. Entretanto, na Glicose + 2ADP + 2Pi ~ 2 Etanol + 2eOz + 2ATP + 2HzO
ausência ou carência de oxigênio, o piruvato não é o produto fi-
nal da glicólise. Sob essas condições, o NADH produzido du- ou
rante a oxidação do gliceraldeído 3-fosfato não pode passar seus
elétrons para o O2 através da cadeia de transporte eletrônico, mas Glicose + 2ADP + 2Pi ~ 2 Lactato + 2ATP + 2HzO
deve ser ainda reoxidado a NAD+. Sem essa reoxidação, a gli-
cólise logo seria interrompida porque a célula ficaria desprovi- Durante a fermentação alcoólica, aproximadamente 7% da ener-
da de NAD+ como aceptor de elétrons. gia total disponível da molécula de glicose - cerca de 52
Em muitas bactérias, fungos, protistas e células animais, esse quilocalorias por moI - é liberada, e cerca de 93% permane-
processo sem oxigênio ou anaeróbico resulta na formação de cem nas duas moléculas de álcool. Contudo, se considerarmos a
lactato. Esse processo é portanto chamado fermentação lácti- eficiência com que a célula anaeróbica conserva boa parte da-
ca. Contudo, no fermento e na maioria das células vegetais o quelas 52 quilocalorias como ATP (7,3 quilocalorias por moI de
piruvato é decomposto a etano1 (álcool etílico) e dióxido de car- ATP, ou 14,6 quilocalorias por moI de glicose), a eficiência da
bono. Esse processo anaeróbico é chamado fermentação alco- conservação de energia é de cerca de 26%. Como se observou
ólica. Em ambos os casos, os dois elétrons (e um próton) do no Capo 5, a eficiência das máquinas feitas pelo homem raramente
NADH são transferidos para o que seria o carbono central do excede 25% e a eficiência da respiração, como vimos neste ca-
piruvato. No entanto, no caso da fermentação alcoólica a reoxi- pítulo, é de cerca de 38%.
Respiração 121

Proteínas Lipídios

Cadeia de
transporte eletrônico
02~

6.19
Um esquema de algumas das principais vias de catabolismo e anabolismo da célula viva. As vias catabólicas (setas apontando para baixo) são exergônicas.
Uma porção significativa da energia liberada nessas vias é capturada na síntese de A TP. As vias anabólicas (setas apontando para cima) são endergônicas.
A energia que alimenta as reações nessas vias é suprida primariamente por A TP e NAOH.

o fato de que a glicólise não requer oxigênio sugere que a moléculas, tais como proteínas e lipídios, podem ser decom-
seqüência glicolítica desenvolveu-se cedo, antes que o oxi- postas e introduzidas na via central do metabolismo da gli-
gênio livre estivesse presente na atmosfera. Presumivelmen- cose, você pode achar que o processo inverso pode ocorrer
te, os organismos unicelulares primitivos utilizaram a glicó- - ou seja, que os vários intermediários da glicólise e do ci-
lise (ou algo muito semelhante a ela) para extrair energia de clo de Krebs podem servir como precursores para a biossín-
moléculas orgânicas que eles absorviam de seu ambiente aquá- tese. Esse é de fato o caso, como esquematizado na Fig. 6.19.
tico. Embora as vias anaeróbicas gerem apenas duas molécu- Desse modo, o ciclo de Krebs desempenha um papel crítico
las de ATP por molécula de glicose processada, esse baixo tanto nos processos catabólicos quanto anabólicos e repre-
rendimento foi e é adequado para as necessidades de muitos senta um importante "eixo" das atividades metabólicas na
organismos ou partes deles. O sistema radicular de plantas de célula.
arroz em culturas alagadas freqüentemente realiza fermenta- Para que as reações das vias catabólicas e anabólicas ocor-
ção extensiva para fornecer energia para o crescimento e o
metabolismo das raízes. ram, deve haver um fornecimento regular de moléculas orgâ-
nicas que podem ser decompostas para fornecer não apenas
energia, mas também moléculas constitutivas. Sem o forne-
cimento de tais moléculas, as vias metabólicas interrompem
A Estratégia do Metabolismo o seu funcionamento e o organismo morre. As células
Energético heterótrofas (incluindo as células heterótrofas de plantas, tais
como células radiculares) são dependentes de fontes externas
As várias vias pelas quais diferentes moléculas orgânicas são - especificamente células autótrofas - para as moléculas or-
decompostas para fornecer energia são conhecidas coletiva- gânicas que são essenciais para a vida. Contudo, as células
mente como catabolismo. Elas são também fundamentais autótrofas são capazes de sintetizar suas próprias moléculas
para os processos biossintéticos da vida. Tais processos, co- orgânicas, ricas em energia, a partir de moléculas inorgâni-
nhecidos coletivamente como anabolismo, são as vias pelas cas simples e uma fonte externa de energia. Essas moléculas
quais as células sintetizam a diversidade de moléculas que suprem tanto energia quanto blocos constitutivos para a
constituem um organismo vivo. Uma vez que muitas dessas biossíntese.
122 Biologia Vegetal

De longe, as mais importantes células autótrofas são as célu- deira abaixo" até o oxigênio. A grande quantidade de energia
las fotossintetizantes de algas e plantas. No próximo capítulo, livre liberada durante a passagem de elétrons para baixo na
vamos examinar como essas células capturam a energia da luz cadeia de transporte eletrônico alimenta a bomba de pró tons .
solar e a utilizam para a síntese de moléculas de monossacarídi- (íons H+) para fora da matriz mitocondrial. Isso cria um gradi-
os das quais depende a vida neste planeta. ente de energia potencial através da membrana interna da mi-
tocôndria. Quando os prótons passam pelo complexo de ATP
sintase em seu fluxo a favor do gradiente, de volta para a ma-
triz, a energia liberada é usada para formar ATP a partir de ADP
e fosfato. Esse processo, conhecido como acoplamento quimi-
Resumo osmótico, é o mecanismo pelo qual a fosforilação oxidativa é
consegui da.
Durante a quebra aeróbica da molécula de glicose a CO2 e
A Respiração, ou a C0!1lpleta H20, 36 moléculas de ATP são geradas, a maioria delas na mi-
Oxidação da Glicose, E a Principal tocôndria no estágio final da respiração, ou seja, na fosforilação
Fonte de Energia na Maioria das oxidativa.
Células
Quando a glicose é decomposta numa série de reações seqüen- As Reações de Fermentação Ocorrem
ciais catalisadas por enzimas, parte da energia liberada é arma-
zenada na forma de ligações terminais fosfoanídricas no ATP e
sob Condições Anaeróbicas
o restante é perdido na forma de calor.
Na ausência ou na carência de oxigênio, o piruvato produzido
pela glicólise pode ser convertido a lactato (em muitas bactéri-
as, fungos e células animais) ou a etanol e dióxido de carbono
Na Glicólise, a Glicose É Cindida em (nos fermentos e na maioria das células vegetais). Esses proces-
Piruv",to sos anaeróbicos - chamados fermentação - fornecem 2 ATP
para cada molécula de glicose.
A primeira fase na quebra da glicose é a glicólise, na qual a
molécula de seis carbonos da glicose é cindida em molécu-
las de três carbonos do piruvato; duas moléculas de A TP e O Ciclo de Krebs É o "Eixo
duas de NADH são formadas. Essa reação ocorre no citos-
sol. Metabólico" da Quebra e Síntese
de uma Grande Variedade de
Moléculas
O Ciclo de Krebs Completa a Quebra
Metabólica da Glicose a Dióxido de Embora a glicose seja considerada como o principal substrato da
Carbono respiração na maioria das células, lipídios e proteínas podem
também ser convertidos a moléculas que entram na seqüência
Durante a respiração, as moléculas de três carbonos do respiratória em várias fases. As diferentes vias pelas quais as
piruvato são quebradas na mitocôndria a grupos acetil de dois moléculas orgânicas são quebradas para fornecer energia são
carbonos, os quais então entram no ciclo de Krebs como acetil conhecidas coletivamente como catabolismo. Os processos
CoA. No ciclo de Krebs, cada grupo acetil é oxidado numa biossintéticos da vida são conhecidos coletivamente como ana-
série de reações, fornecendo duas moléculas adicionais de bolismo.
di óxido de carbono, uma molécula de ATP e quatro molécu-
las de transportadores eletrônicos reduzidos (três NADH e
um FADH2). Com duas voltas do ciclo, os átomos de carbo-
no derivados da molécula de glicose são completamente oxi-
dados.
Termos-chave
Na Cade!a de Transporte Eletrônico, acetil CoA fermentação alcoólica
o Fluxo E Acoplado à Bomba de acoplamento quimiosmótico
anabolismo
fermentação láctica
Prótons Através da Membrana ATP sintase
fosforilação em nível de substrato
fosforilação oxidativa
Interna da Mitocôndria e à Síntese cadeia de transporte eletrônico glicólise
de ATP catabolismo gradiente eletroquímico
ciclo de Krebs matriz mitocondrial
citocromos NADH
o próximo estágio da respiração é a cadeia de transporte ele- coenzima A (CoA) piruvato
trônico que envolve uma série de transportadores eletrônicos e coenzima Q (CoQ) proteínas ferro-enxofre
enzimas localizadas na membrana interna da mitocôndria. Ao cristas respiração
longo dessa série de transportadores eletrônicos, os elétrons de FADH2 vias anaeróbicas
alta energia transportados pelo NADH e F ADH2 movem-se "la- fermentação
Respiração 123

4. Alguns compostos funcionam como agentes "desacopladores",


Questões quando são adicionados a mitocôndrias em atividade respirató-
ria. A passagem de elétrons para níveis energéticos inferiores na
cadeia respiratória até o oxigênio continua, mas nenhum A TP é
1. Faça a distinção entre fosforilação em nível de substrato e fosforila- formado. Um desses agentes, o antibiótico valinomicina, é conhe-
ção oxidativa. No que se refere à respiração, em que lugar da célula cido por transportar íons K+ através da membrana interna na ma-
esses processos ocorrem? triz. Outro, 2,4-dinitrofenol, transporta íons H+ através da mem-
2. Esquematize a estrutura de uma mitocôndria. Em relação à estru- brana. Como essas substâncias impedem a formação de ATP?
tura mitocondrial, descreva onde ocorrem os vários estágios da 5. Com algumas linhagens de fermento, a fermentação interrompe-se
completa decomposição da glicose. Que moléculas e íons atraves- antes que se esgote a quantidade de açúcar, geralmente numa con-
sam as membranas mitocondriais durante esses processos? centração de álcool em excesso de 12%. Dê uma explicação plausí-
3. Pode-se dizer que dois distintos eventos ocorrem no acoplamento vel.
quimiosmótico. Quais são eles? Cite alguns usos da energia deriva-
da do processo quimiosmótico em sistemas vivos.

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