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Parte II
Corpos, corpos e mais corpos. Avalanches de corpos nas ruas.
Haviam três deles na estalagem onde Stronghold entrou. Examinava com cautela o
amiente, os sentidos aguçados a ponto de bala. O térreo apresentava-se ausente de
qualquer vida aparente. Arriscou um olhar pela janela dos fundos. Cinco vultos
carregavam suas carroças com caixas das outras carroças que estavam a pilhar sob a luz
do luar e da cidade em chamas.
A mira de seus revólveres apontaram para dois daqueles vultos malditos, lentamente
apertando os gatilhos... Lentamente...
No momento em que o cão da arma estava prestes a descer sobre a traseira da bala
engatilhada do primeiro revólver ouviu-se uma agitação vinda do andar superior,
congelando e ao mesmo tempo retirando os dedos do xerife de sua mortal precisão.
Stronghold correu, buscando abrigo atrás de um sofá mofado encostado perto de uma
das paredes, em um ponto de onde podia ver parte do sofá maior, perto da janela de
onde viera e uma cabeça de alce pendurada na parede, deixando-o alheio à maior parte
do aposento.
- Anda! Desce logo, sua puta!
Um gemido. Em seu esconderijo, o xerife só podia supor o que acontecia do outro lado
daquele sofá. Provavelmente um dos pilhantes buscava algo mais além do ouro e
parecia estar prestes a consegui-lo com alguma pobre coitada que não soube se esconder
direito.
Outro gemido, seguido de vários outros enquanto uma perturbação mexia com o
equilíbrio do sofá.
Quando os movimentos do sofá começaram a repetir-se, impondo certo ritmo macabro,
Stronghold puxou da bota uma pequena faca de 15 centímetros e preparou-se para pegar
o filho da puta quando vacilasse um segundo que fosse e pronto. Poucos segundos
depois, quando a “diversão” chegava a seu clímax, o momento chegara. No exato
instante em que o agressor levava a cabeça para cima e revirava os olhos o xerife
investia contra seu pescoço, a faca cortando fora sua cabeça com estranha facilidade,
como se tivesse perfurado gelatina envolta em papel.
A mulher gritava histericamente, mas dessa vez era devido ao corpo sem cabeça
vazando areia no lugar de sangue em cima dela, ainda penetrando-a, apesar do fato de
que agora começava a broxar.
Atônito, Stronghold examinava a cabeça decepada que tinha em mãos... Pelagem e
olhos totalmente brancos e com pedaços de crânio aparecendo. Inferno, se não tivesse
matado aquele demônio com as próprias mãos alguns segundos antes poderia jurar que
estava morto há pelo menos seis meses!
A mulher correu porta a fora, peitos ainda de fora com as mãos tapando-os em um
desespero frenético, soluçando e tropeçando nos corpos pelo caminho.
Não se preocupou em segui-la, tinha coisas mais urgentes e mais estranhas a tratar do
que uma puta comida por ser estúpida. Voltou à janela, agora rezando para que aquela
fosse a única daquelas coisas e que, caso esse não fosse o caso, que suas balas
causassem algum efeito sério nelas. Dessa vez, só conseguiu distinguir três vultos sob o
luar.
Três... Então onde estavam os outros dois? Será que seus olhos falhavam? Será que
estavam nas carroças? Será que...
- Ora, ora, ora, que temos aqui? – Disse uma voz por trás dele.
Virou-se com um pulo. Duas daquelas coisas o encaravam, apontando-lhe um revólver
cada uma.
- Cheia a rato, se quer saber. – Respondeu uma delas.
- Xerife, huh? – Dizia apontando a arma para o distintivo – Johnny vai ficar feliz em te
conhecer.
- Que é isso...? Ah droga! Sharp, ele pegou o Whesker! Maldito... – Gritou a outra,
examinando os restos da coisa há pouco morta... ou remorta... num mesmo eu sei dizer
que termo se usaria para uma coisa dessas...
- Calma, Straight, calma... Tudo a seu tempo. Whesker era um retardado que não
conseguia pensar com uma cabeça só e quando o fazia era com a errada. Agora... Seja
cavalheiro e abaixe suas armas, sim, xerife?
Stronghold jogou os revólveres a seus próprios pés, na esperança de que algum deles
viria recolhê-los e, quando um deles realmente o fez, percebeu ali que sua chance
chegara. Assim que a coisa se abaixou, segurou-a pelo pescoço com o braço, puxando-a
para cima no exato momento em que a outra abria fogo contra ele, acertando o escudo
(humano?) improvisado e fazendo pequenos rios de areia brotar de sua pele.
Jogou a coisa-escudo em seu atacante pulando também em cima dele, caindo com ele no
chão, socando-lhe a cara com ferocidade, arrancando-lhe o maxilar empoeirado com o
impacto e terminando o serviço quebrando-lhe o pescoço. Poucos instantes depois
percebeu que a primeira criatura, que julgava morta após receber três tiros no peito e na
cabeça, começava a se levantar. Caminhou por trás dela e virou sua cabeça em 360°,
deixando dunas de pó no chão.
Tropeçou.
Levantou-se, tudo girava ao seu redor, o abdômen vermelho de sangue. Sentia a luz
fugindo de seus olhos e o ar entrando como navalhas em seus pulmões enquanto voltava
a sentir a madeira do piso da estalagem em seu rosto.
Desmaiou.
***
***