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Acordei ali, no mesmo ponto onde havia parado minha bicicleta. Vou para casa.
Alguém me diz que desapareci por três dias. Não lembro de onde estive.
Levam-me para o hospital. “Perfeitamente normal” eles dizem. “Estresse”
sugere um deles. Pareço o mesmo de antes, mas com a exceção de uma
coisa. Nas costas de minhas mãos algo foi tatuado. Uma imagem que sempre
me lembraria, mesmo que não estivesse ali. A cara daquele pequeno Goblin,
para sempre em minhas mãos.
Volto para casa atordoado e confuso. Lembro de ter visto no jornal algo sobre
três assassinatos ocorridos do outro lado da cidade. Todos aconteceram da
passagem do dia 24 para o 25 até a tarde desse mesmo dia. Não me
importava, agora queria voltar à praça e procurar aquela estátua, precisava
saber se não estava ficando louco.
Procurei na praça e nos bancos, mas sem sinal dela, nem mesmo encontrei a
caixa que a continha.
Antes que pude perceber, todos fizeram o que se espera numa situação
dessas: Fingir que nada aconteceu e seguir com a vida.
Por quase um ano, realmente consegui seguir com a vida, até que no dia 23 de
dezembro, quando entrava em meu quarto, percebi algo a mais ali: Ela estava
lá. Olhando para mim. Dessa vez bastou o olhar, já comecei a gritar. A porta se
fechou atrás de mim. Em desespero, tentei correr para a janela, mas antes de
chegar a ela a luz me pegou novamente.
CADA VEZ MAIS FORTE.
Acordei novamente no banco da praça no dia 26 de dezembro. Dessa vez
todos à minha volta começaram a achar que eu estava fazendo uma
brincadeira sem graça com eles, decidiram que eu estava de castigo por um
ano, “Para largar mão de ser idiota” disse meu pai. O jornal dizia que os
eventos do ano anterior haviam se repetido, com nove assassinatos dessa vez.
O ano que se seguiu não foi tão normal quanto o anterior. Posso jurar que vi o
Goblin por três ou quatro vezes olhando para mim nas esquinas e pela janela
da sala de aula. Minhas notas começaram a abaixar no mesmo ritmo em que
minha mente descia pelo ralo.
Chegamos ao fatídico dia 23 de Dezembro. Naquele ano meus pais decidiram
que não tolerariam mais gracinhas e trancaram toda a casa. Erro fatal.
Literalmente. Dessa vez, a estátua estava na cozinha. Pela terceira vez
apaguei e acordei no dia 26 na praça próxima a minha casa. Dessa vez algo
mais aconteceu. Dessa vez, dezessete assassinatos tiveram lugar em minha
cidade. Meus pais e meus irmãos entre eles. Todos achavam que eu tinha tido
o mesmo destino que os outros, ou seja, garganta cortada e “Feliz Natal”
escrito à ponta de faca no tórax e abdômen. Não. Estava vivo.
Até então, não havia pensado na possibilidade daqueles assassinatos estarem
ligados às minhas desaparições anuais, a polícia também não. Não soube
explicar porque não estava em casa nos dias 24 e 25. Não soube explicar onde
estive nesse período. Não soube explicar porque estava vivo.
Sem provas, tiveram que me deixar ir. Fui morar com meus avós em outra
cidade. Agora, via aquele maldito Goblin cada vez mais e, alguns anos depois,
comecei a vê-lo em todo lugar. Vejo ele agora, no canto da sala olhando para
mim, esperando sua hora de agir. Claro que depois do meu quarto
desaparecimento e de mais vinte e dois assassinatos da mesma forma terem
ocorrido nos dias 24 e 25 de dezembro a polícia resolveu me prender e me
levar ao tribunal. Culpado disseram.
Supostamente agora que estava preso, não poderia machucar mais ninguém,
certo? É, também achei isso. Por isso, quando o Goblin apareceu para mim na
pia de minha cela, me deixei ser controlado. Para minha surpresa, tudo ocorreu
da mesma forma, acordei no mesmo lugar de sempre e cada vez mais pessoas
eram mortas.
Fugi.
Faz treze anos que minha história começou, mas está na hora dela acabar.
Hoje é dia 22 de dezembro, não vou deixar o Goblin me alcançar dessa vez.
Dessa vez somente uma pessoa vai morrer.