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O Modernismo brasileiro compreende três fa- 4 #"0/.* (*) " . /' /.

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ses, marcadas por três gerações diferentes e sucessi- #1*%*5 ' (" " %*'( "
vas:
Exemplo:
Primeira fase (combativa ou heróica) - de
“Naquela casa mora,
1922 a 1930;
mora, ponhamos: guaraciaba..
Segunda fase (maturidade) - de 1930 a
A dos cabelos fogaréu!
1945;
(Mário de Andrade)
Pós-Modernismo - de 1945 até a atualidade.

É bom salientar que essa divisão é feita como 6 % 7#* %*") %*/ # )
um recurso didático apenas. Numa mesma fase, po- Exemplo:
dem coexistir ideais variados; a maior parte dos escri- “- Qué apanhá sordado?
tores da 1ª fase continuou produzindo e, - O quê?
freqüentemente, passando por tendências diferentes. - Qué apanhá?
Pernas e cabeças na calçada.”
(Oswald de Andrade)
Esta geração revolucionária teve como objeti-
vo principal, demolir uma ordem social e política 8 9 % (*5 ! 31*. . 1* * /
com caráter colonialista, uma arte e literatura baseada Exemplo:
na imitação estrangeira e desligada da realidade na- “Para dizerem milho dizem mio
cional. Teve como principais representantes na poe- Para melhor dizem mió
sia: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel Para pior pió”.
Bandeira, Guilherme de Almeida, Raul Bopp, Cassi- (Oswald de Andrade)
ano Ricardo e Menotti Del Picchia. Na prosa: Mário
de Andrade, Oswald de Andrade e Alcântara Macha- : 1*%*5 ! (; * <#) ( ! %
do. !*
No primeiro momento, o Modernismo rompeu Exemplo:
as barreiras da poesia e da prosa, valorizando o pro- “Minha terra tem palmares
saico e o humor, através de uma atitude demolidora e onde gorjeia o mar
de uma crítica corrosiva contra o academicismo. os passarinhos daqui
não cantam como os de lá.”
(Oswald de Andrade)

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Exemplo: Exemplo:
“Sentaram-me num automóvel de pêsames”. “Recife morto, Recife bom, recife brasileiro
(Oswald de Andrade - Memórias Sentimentais como a casa de meu avô.”
de João (Manuel Bandeira)
Miramar)
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-#". (* */ % ! %0)*. / %*& Exemplo:
1 ( 1#( ! 2 ) (/* “Eu insulto o burguês! O burguês níquel,
3! . O burguês-burguês
Exemplo: a digestão bem feita de São Paulo!”
“... E o médico veio de Chevrolet (Manuel Bandeira)
Trazendo um prognóstico
e toda a minha infância nos olhos.”
(Oswald de Andrade)

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/1*! "" * / prezadas, em razão do radicalismo da
Exemplo: primeira geração. É o caso dos versos regu-
“Estou farto do lirismo comedido lares (metrificados), da estrofação criteriosa
Do lirismo bem comportado e de formas fixas como o soneto, a balada,
(...) o rondó, o madrigal etc.
Não quero mais saber do lirismo que não é São autores desta geração de poetas: Carlos
[libertação.” Drummond de Andrade, Murilo Mendes,
Cecília Meireles, Jorge de Lima, Vinícius
@ % "< " .*/ ) 1 (AB*. " "*)#%1 & de Morais e Manuel Bandeira.
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Exemplo:
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“O céu jogava tinas de água sobre o noturno
que me devolvia a São Paulo”. ( "
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11. Interesse pelo homem comum. Maior apuro do verso;
Exemplo: Mais ênfase na palavra, no ritmo, na rima;
“João gostoso era carregador de feira-livre e Tendência para uma arte mais racional, ce-
morava no morro da Babilônia...” rebral, às vezes até hermética;
(Manuel Bandeira) Busca do regionalismo temático e do uni-
versalismo;
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Caráter “engajado” da poesia.
(*/.*! *" ( .1 (?"1*. " ( " ( "
"* ! (1*( 4@ Investigação psicológica das personagens e
( " seus conflitos íntimos;
A ação e o enredo perdem importância em
“A bagaceira”, de José Américo de Almei-
favor das emoções, estados mentais e rea-
da, foi o marco inicial dessa fase, em 1928.
ções das personagens;
Os romances de 30 caracterizavam-se por
A sugestão, a associação e a expressão indi-
apresentarem uma visão crítica das relações
reta passam a ser os meios de veicular a ex-
sociais. Os romancistas buscavam ressaltar
periência;
o homem hostilizado pelo ambiente, pela
A literatura torna-se cada vez mais subjeti-
terra, pela cidade, o homem devorado pelos
va, interiorizada e abstrata, constituída de
problemas que o meio lhe impõe.
experiências mentais;
O trabalhador rural, a seca e a miséria eram
O princípio de seleção do material expande-
temas desses romances de cunho regional e
se para incluir todos os motivos e assuntos;
social.
Normalmente, o autor não faz o retrato do
Por meio de autores como Rachel de Quei-
personagem: este vive e o leitor o conhece e
roz, José Lins do Rego, Graciliano Ramos,
julga.
Jorge Amado, Érico Veríssimo e tantos ou-
tros, a literatura mostra o homem como ali- (*/.*! *" #1 ( "
cerce de cada uma das diversas áreas sócio- "*
econômicas do país, mas quase sempre em João Cabral de Melo Neto, Vinícius de Morais,
luta desigual com ela. Carlos Drummond de Andrade e Ferreira Gullar.
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A poesia da segunda geração modernista Clarice Lispector e Guimarães Rosa.
foi, essencialmente, uma poesia de questio-
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namento em torno da existência humana, do
sentimento de “estar no mundo”, da inquie- "*
tação social, religiosa, filosófica, amorosa As décadas de 50 e 60 assistiram ao lançamen-
etc. to de tendências poéticas caracterizadas por inovação
Essa geração de poetas, livre do compro- formal, maior proximidade com outras manifestações
misso de combater o passado, mantém mui- artísticas e negação do verso tradicional, uma vez que
tas das conquistas da geração anterior, mas deveriam acompanhar o progresso de uma civilização
também se sente inteiramente à vontade pa- tecnológica e responder às exigências de uma socie-
ra voltar a cultivar certas formas antes des-
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dade impelida pela rapidez das transformações e pela tas mais significativos citam-se Dalton Trevisan,
necessidade de uma comunicação cada vez mais ob- Moacyr Scliar, Luís Fernando Veríssimo, Luís Vile-
jetiva e veloz. Procurava-se, assim, “o poema produ- la, Lygia Fagundes Teles e Domingos Pellegrini Jr.
to: objetivo útil”. (*/.*! *" ( .1 (?"1*. " ( "
) /.( 1 A partir do golpe militar de 1964, a circulação
A palavra como coisa, o poema objetivo em cultural esteve sob a mira da polícia e da política.
que se utilizam múltiplos recursos: o acústico, o vi- A produção literária – quando tinha coragem
sual, a carga semântica, o espaço tipográfico e a dis- de aparecer – era de caráter político e audacioso. É o
posição dos vocábulos na página. caso, por exemplo de Quarup, de Antônio Callado,
Ex.: romance que refletiu, em 1967, a multiplicidade de
VAI E VEM formas sociais vigentes no Brasil.
E E ( .1 (?"1*. "
VEM E VAI (José Lino) Incorporação de técnicas: legitimação da
(*/.*! *" 1 " /.( 1*"1 " pluralidade. Nos anos 70 e 80, não há mais
Oswald de Andrade, João Cabral de Melo Ne- limite entre o romance e o conto. São ro-
to, Décio Pignatari, José Lino, Ronald Azevedo, A- mances que se parecem com reportagens;
roldo de Campos e Augusto de Campos. contos que se parecem com poemas em
) (AF*" prosa ou com crônicas; autobiografias com
Valoriza a palavra dentro de um contexto ex- aspectos de romances; narrativas que ga-
tralingüístico, caracterizando-se pela periodicidade e nham jeito de cena teatral; textos que se fa-
repetição das palavras, cujo sentido e dicção mudam zem por justaposição de recortes, reflexões,
conforme sua posição no texto. documentos.
Ex.: “(...) E na mão do primeiro o Desestruturação do enredo: o romance per-
punhal se empunha se de a visão de conjunto, devido ao acúmulo
ergue chispando e em X de pormenores narrativos e, também, à des-
pando desce: se crava crição de estado d’alma, estados físicos etc.
cravo, na caixa de som”. A monotonia nas narrativas revela o fato de
(Colchão murcho coração) que para o autor não importa o que se con-
(Azevedo Filho) ta, mas como se conta. O mundo interior
(*/.*! *" #1 ( " "* ( F*" vem à tona com todas as suas nuanças e o
relato ganha tons psicanalíticos.
Mário Chamie, Mauro Gama, Yone Fonseca,
Ficcionalização de outros gêneros: os escri-
Armando Freitas Filho e Antônio Carlos Cabral.
tos trouxeram para o romance ou para o
Poema Processo: Caracteriza-se mais como
conto elementos do cinema, do teatro e da
uma arte gráfica do que literária - a palavra dá lugar a
telenovela. Assim, por exemplo, a narrativa
símbolos gráficos.
fim de século XX traz para o relato a coe-
Pode-se citar como exemplo o poema código
xistência entre o falado e o escrito, o monó-
“Fome”, de José de Arimatéia Soares Carvalho.
logo, a gíria, o texto completamente livre.
Realismo feroz, ultra-realismo: a nova nar-
Poesia marginal: poema produzido e distribu-
rativa, que adentra os anos 90, chega a a-
ído pelo próprio autor, nas ruas, bares, restaurantes
gredir o leitor pela violência dos temas que
etc.
aborda. É um ultra-realismo sem preconcei-
( " tos, ao qual a própria linguagem também
No romance, o regionalismo continua sendo faz jus, não se economizando nem se res-
um filão muito rico e produtivo, com autores consa- guardando; todas as palavras são válidas,
grados como Mário Palmério, Bernardo Elis, Antônio inclusive as de baixo calão.
Calado, Josué Montello e José Cândido de Carvalho. Realismo mágico: trata-se de uma literatura
O romance policial e/ou histórico também é que opta pelo fantástico para registrar um
muito cultivado por autores contemporâneos como, mundo que não pode ser impresso pela lin-
por exemplo, Rubem Fonseca. guagem comum, devido à máquina repres-
A crônica e o conto são narrativas curtas con- siva. O fantástico e o absurdo servem para
sagradas na prosa das últimas décadas. O conto, po- camuflar uma realidade proibida de ser vei-
rém, situa-se em posição privilegiada tanto em culada.
quantidade como em qualidade, se analisado no con-
junto das produções contemporâneas. Entre os contis-

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