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1. Introdução
No tratamento mecânico dos metais, uma camada de material com espessura constante é retirada
da peça através de uma ferramenta em forma de cunha que se desloca paralelamente à superfície
tratada ou bruta da peça.
A ápara constitui uma zona da peça bruta que deve ser removida para melhorar tanto a precisão
dimensional como a precisão geométrica. Áparas de diversas formas podem acumular-se na
ponta da ferramenta e causar danos na superfície trabalhada e ainda ameaçar a segurança de
tratamento.
2. Formação da ápara
No caso de materiais dúcteis, de ápara contínua, e devido ao atrito na área de extrema pressão, a
ápara tem tendência a soldar à face de ataque da ferramenta de corte. Se o atrito é elevado
verifica-se a formação de uma ápara aderente, também vulgarmente designada por aresta postiça
de corte (APC), ou ainda excrescência. Quando a força de atrito por unidade de área é superior à
resistência ao corte do material da peça, uma porção de ápara, junto da face de ataque da
ferramenta não escorrega ao longo do plano de escorregamento mas adere à face de ataque e
solda-se a ela por acção da pressão de contacto e da temperatura. À medida que este processo
prossegue, a ápara aderente vai crescendo até atingir uma dimensão instável com rotura
subsequente em três pedaços, Fig. 6 um sai agarrado à ápara; outro que fica aderente a superfície
maquinada e, um terceiro, que permanece soldado à face de ataque da ferramenta e que constitui
o núcleo de crescimento de uma nova ápara aderente que por sua vez se romperá atingida a
dimensão de instabilidade e, assim, sucessivamente.
Por outro lado, a susceptibilidade do material ao tratamento térmico pela temperatura de corte, é
que determina a desagregação da ápara aderente e, portanto, a sua estabilidade e dimensões. É a
temperatura que, se suficientemente elevada, provoca a recristalização do material encruado da
ápara com o consequente amaciamento. No caso dos aços, este amaciamento é o resultado de
uma mudança de fase (α a γ), pois não se esqueça-se que as temperaturas de corte podem atingir
1000° C ou mais.
No que respeita às condições de corte a que a maior influência exerce na formação da ápara e
dimensões da ápara aderente é a velocidade de corte atingida. Supondo fixadas todas as outras
condições de corte, existe uma velocidade crítica abaixo da qual e para valores bastante
inferiores não se verifica a formação de ápara aderente ou, então, esta apresenta-se com
dimensões reduzidas que todavia vão aumentando à medida que se utilizam velocidades mais
próximas daquela velocidade crítica para a qual a dimensão da ápara aderente é máxima. Para
além deste limite, a velocidade de corte produz temperaturas elevadas que levam a um
amaciamento do material da ápara aderente pelo que esta diminiu de dimensões e, para
velocidades suficientemente elevadas, acaba por desaparecer. É por isso que na gama de
velocidades de utilização dos carbonetos sinterizados se obtêm, geralmente, áparas contínuas
sem formação de ápara aparente. É este o tipo de ápara desejável do ponto de vista de
acabamento superficial da peça, potência de maquinagem e vida da ferramenta. Para avanços
crescentes, a velocidade crítica verifica-se com valores decrescentes. O penetramento (
profundidade de corte) tem uma influência semelhante sobre a velocidade crítica embora de
modo muito menos sensível. A frequência de formação da ápara aparente cresce com o aumento
da velocidade de corte e, enquanto nas baixas velocidades a ápara aderente é estável, nas
velocidades elevadas aparece e desaparece periodicadamente.
No que respeita à geometria da ferramenta de corte o ângulo de ataque é o que maior influência
exerce sobre a formação da ápara aderente. Quanto maior, mais elevada será a velocidade
crítica, porque menor é a pressão entre a ápara e a face de ataque, menor é a temperatura aí
desenvolvida e portanto menor a tendência para a soldadura da ápara à face de ataque da
ferramenta. Uma vez que a maior ou menor resistência ao escorregamento da ápara sobre a
superfície de ataque condiciona as dimensões da ápara aderente, deve ainda referir-se outros
factores, nomeadamente, a microgeometria da superfície de ataque e, em particular a orientação
dos sulcos deixados pela mó abrasiva no momento da afiação da ferramenta. Estes devem
apresentar-se tanto quanto possível na direcção de escoamento da ápara e não transversalmente a
essa direcção. A utilização de fluídos de corte deverá considerar-se.
O desenvolvimento de calor no corte por arranque de ápara tem as seguintes origens, Fig.7.
Na região de escorregamento ou zona de deformação primária (I), devido ao atrito interno
que acompanha a deformação plástica do material e subsequente escorregamento;
No atrito entre a ápara e a face de ataque da ferramenta na área ou zona de deformação
secundária (II);
No atrito entre a face de saída ( folga) da ferramenta na área adjacente à aresta de corte e
a superfície maquinada (III).
Sendo:
Os valores numéricos destas quantidades, isto é, a proporção das quantidades de calor gerado nas
áreas I, II e III e a proporção das quantidades de calor dissipadas pela ápara, peça, ferramenta e
meio ambiente, dependem do tipo da operação de corte, do material da peça e da ferramenta, do
parâmetros de maquinagem, da geometria da ferramenta e das características do fluído de corte,
quando presente. Assim, por exemplo, enquanto numa operação de torneamento a maior parte do
calor é dissipado através da ápara, na furação isso acontece através da peça. Enquanto no
torneamento de uma liga de Alumínio, 73% do calor pode ser escoado pela peça, percentagem
semelhante poderá ser escoada pela ápara no caso de um aço. Num aço de construção,
maquinado com uma velocidade de até 50 mmin-1 75% do calor é gerado pela deformação
plástica, esta poderá ser responsável por apenas 25% do total, se o mesmo aço é maquinado a
200 mmin-1.