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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE SÃO PAULO
FORO CENTRAL CÍVEL
15ª VARA CÍVEL
PRAÇA JOÃO MENDES S/Nº, São Paulo - SP - CEP 01018-010
Horário de Atendimento ao Público: das 12h30min às19h00min

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1032852-22.2021.8.26.0100 e código C015139.
SENTENÇA

Processo Digital nº: 1032852-22.2021.8.26.0100


Classe - Assunto Procedimento Comum Cível - Obrigação de Fazer / Não Fazer
Requerente: Andre Rezende da Silva
Requerido: Facebook Serviços Online do Brasil Ltda.

Juiz(a) de Direito: Dr(a). Cinara Palhares

Vistos.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CINARA PALHARES, liberado nos autos em 07/12/2021 às 22:18 .
Andre Rezende da Silva, qualificado(a) nos autos, ingressou com a presente
AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER COM PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA em
face de Facebook Serviços Online do Brasil Ltda., igualmente qualificado(a), alegando, em
síntese, que é CFO, escritor, palestrante, desenvolvedor de liderança, consultor de planejamento
estratégico/financeiro e empreendedor, com 20 (vinte) anos de carreira executiva em grandes
multinacionais; que, em seu mais novo trabalho lançado, denominado “Liderança 4.1”, publicou
no Youtube um vídeo, chamando atenção ao fato de que o colaborador é estritamente necessário
para as atividades das empresas e utilizando, como chamariz, a expressão “Funcionário, um mal
necessário?". Asseverou que uma página do Facebook, chamada “EMPREENDEDOR NEM É
GENTE”, se apropriou de um trecho de seu vídeo - teaser do seu novo trabalho - em tela
congelada (https://www.facebook.com/EmNEGt/photos/1266081453751769) e o publicou na sua
página com conotação negativa e ofensiva ao autor, fazendo com que na tela constassem os
dizeres “Funcionário, um mal necessário” e “O funcionário que só pensa no salário no final do
mês”. Sustentou que houve diversos comentários pejorativos, ofensivos, ameaçadores à
integridade física e preconceituosos, com a conivência dos responsáveis pela página, e que o post
foi compartilhado em 470 (quatrocentas e setenta) oportunidades, bem como que denunciou a
postagem ao demandado, que entendeu não ter havido violação a sua política, recomendando que o
autor bloqueasse a página para não mais ter acesso ao conteúdo. Defendeu que a página da rede
social apropriou-se da imagem e do trabalho intelectual do autor sem que obtivesse a prévia e
expressa autorização, fazendo-o com a intenção de gerar debates ofensivos e pejorativos, o que
não se confunde com a liberdade de expressão. Por tais razões, pleiteou que o réu remova integral
e definitivamente a publicação contida na URL https://www.facebook.com/EmNEGt/photos
/1266081453751769 e todos os comentários e compartilhamentos derivados; forneça os logs,

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dados de IPs usados para criar as contas e os dados dos responsáveis pela criação e administração
da página "EMPREENDEDOR NEM É GENTE" (https://www.facebook.com/EmNEGt/); e
mantenha os dados de acesso e identificação (logs e IPs) dos responsáveis pela página da rede
social e dos autores dos comentários. Juntou documentos.
A tutela de urgência foi deferida às fls. 120/121.
Citada, a parte ré apresentou contestação, aduzindo preliminar de ausência de
interesse processual e alegando, em síntese, que cumpriu a ordem liminar; que apenas está apta ao
fornecimento de endereços de IP disponíveis, haja vista não coletar ou armazenar outros dados de
seus usuários; e a impossibilidade de condenação da requerida ao pagamento das verbas de
sucumbência. Juntou documentos.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CINARA PALHARES, liberado nos autos em 07/12/2021 às 22:18 .
Réplica às fs. 313/320.
É o relatório. Decido.
O feito comporta julgamento antecipado nos termos do art. 355, I, do Código de
Processo Civil, porquanto a matéria em comento é de direito, sendo que os fatos relevantes já se
encontram comprovados documentalmente.
Rejeito a preliminar de ausência de interesse processual, porque, quando da
propositura da ação, a ordem de guarda dos registros de acesso a aplicações de internet mostrava-
se necessária para a garantia do direito do autor.
Os pedidos formulados na inicial devem ser julgados parcialmente procedentes.
O art. 22, caput, do Marco Civil da Internet garante à parte autora o direito de,
com o propósito de formar conjunto probatório em processo judicial, requerer ao juiz que ordene
ao responsável pela guarda o fornecimento de registros de conexão ou de registros de acesso a
aplicações de internet. E, justamente para garantir esse direito, o art. 15, caput, da lei impôs ao
provedor de aplicações de internet o dever de manter os respectivos registros de acesso a
aplicações de internet, sob sigilo, em ambiente controlado e de segurança, pelo prazo de 6 (seis)
meses.
Outrossim, o art. 19, caput, do Marco Civil da Internet assegura que, "Com o
intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a censura, o provedor de aplicações de
internet somente poderá ser responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo
gerado por terceiros se, após ordem judicial específica, não tomar as providências para, no
âmbito e nos limites técnicos do seu serviço e dentro do prazo assinalado, tornar indisponível o
conteúdo apontado como infringente, ressalvadas as disposições legais em contrário".
No caso concreto, o autor demonstrou fundados indícios da ocorrência do ilícito,

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consistente na utilização de trecho do vídeo indicado na nota de rodapé de fls. 02 de forma
descontextualizada, dando a impressão de que o autor se refere negativamente à figura do
funcionário, quando, em verdade, não é este o intuito da publicação.
O requerente alegou que "a demandada apenas forneceu aos autos diversos
números de IPs, números de telefone e emails, sem contudo relacioná-los aos usuários e aos
administradores e responsáveis pela criação da página" (fls. 314). O requerido esclareceu,
contudo, que a identificação dos administradores e responsáveis pela criação da página é possível
por meio do procedimento descrito no item 64 de fls. 299, não tendo o requerente demonstrado
concretamente a insuficiência da realização do referido procedimento com os dados apresentados
pelo réu.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CINARA PALHARES, liberado nos autos em 07/12/2021 às 22:18 .
O demandado afirmou que os dados apresentados às fls. 131/265 referem-se aos
administradores e responsáveis pela criação da página e informou, às fls. 287/298, que o
fornecimento de registros relativos aos usuários que fizeram comentários no post em questão só é
possível mediante a indicação pelo requerente da URL específica de cada comentário. Por sua vez,
o autor não trouxe qualquer indício apto a infirmar a alegação de que os dados de fls. 131/265
incluem, simultaneamente, os registros dos administradores e responsáveis pela criação da página
e também dos usuários que comentaram a publicação.
Quanto à sucumbência, os arts. 10, § 1º, e 19, caput, da Lei nº 12.965/14 exigem
ordem judicial prévia para o fornecimento dos registros de usuário da internet e para a
indisponibilização de conteúdo gerado por terceiros, de modo que o ajuizamento da presente ação
era necessário por expressa previsão legal, não tendo decorrido de conduta da parte ré. Além disso,
se esta coloca à disposição as informações de que dispõe e cumpre, sem resistência, a
determinação judicial, não há lugar para condenação ao pagamento de verbas sucumbenciais.
Nesse mesmo sentido:

APELAÇÃO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. INSTAGRAM. PERFIL


FALSO. Criação de perfil falso do recorrido na rede social Instagram. Utilização
de seu nome e de sua imagem. Pretensão à indisponibilização do perfil e à
obtenção dos dados do impostor, armazenados pelo provedor. Procedência em
primeiro grau. Inconformismo. NULIDADE POR AUSÊNCIA DE
FUNDAMENTAÇÃO. Inocorrência. Sentença que se encontra devidamente
fundamentada, inexistindo violação ao art. 93, IX, da Constituição Federal ou ao
art. 489, §1º, do CPC/15. INTERESSE DE AGIR. Existência. Adotada a teoria
da asserção, as condições da ação devem ser aferidas de acordo com as
afirmações trazidas na petição inicial. ARMAZENAMENTO DE DADOS.
Provedor de aplicações de internet que não está obrigado a armazenar dados não
previstos no art. 5º, VIII, c/c art. 15 da Lei nº 12.965/2014. Afastamento da
obrigação de fornecimento de e-mail, local de acesso e ID do dispositivo que se
impõe. ASTREINTES. Fixação, por si só, que não se revela descabida. Caso

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concreto em que a obrigação já foi integralmente cumprida no prazo
estabelecido, conforme reconhecido pelo recorrido. SUCUMBÊNCIA. Pretensão
manifestada que depende obrigatoriamente de ordem judicial. Inteligência dos
arts. 10, §1º, e 19, ambos da Lei nº 12.965/14. Ausência de resistência por parte
da apelante. Imediata indisponibilização do conteúdo e fornecimento dos dados
de que dispunha após determinação nesse sentido pelo D. Juízo a quo. Ônus
sucumbenciais afastados. Sentença reformada em parte. RECURSO
PARCIALMENTE PROVIDO.
(TJSP; Apelação Cível 1010303-66.2020.8.26.0451; Relator (a): Rosangela
Telles; Órgão Julgador: 31ª Câmara de Direito Privado; Foro de Piracicaba - 1ª
Vara Cível; Data do Julgamento: 16/09/2021; Data de Registro: 16/09/2021)

Apelação – Responsabilidade civil – Ação de obrigação de fazer - Sentença de


procedência - Insurgência da parte autora – Tutela antecipada deferida –
Cumprimento da tutela pelas rés – Expedição de ofício a terceiro – O
fornecimento por terceiros de dados além daqueles já obtidos, depende de

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CINARA PALHARES, liberado nos autos em 07/12/2021 às 22:18 .
ajuizamento de ação própria – Apelada que demonstrou ter apresentado os dados
que estavam ao seu alcance como provedora de aplicação – Pedido inicial
julgado procedente para ratificar a tutela de urgência anteriormente deferida –
Sem imposição se sucumbência, tendo em vista a necessidade de ajuizamento da
ação para a prestação das informações pelas requeridas - Sentença mantida –
Recurso não provido.
(TJSP; Apelação Cível 1115450-38.2018.8.26.0100; Relator (a): Marcia Dalla
Déa Barone; Órgão Julgador: 4ª Câmara de Direito Privado; Foro Central Cível -
30ª Vara Cível; Data do Julgamento: 12/08/2021; Data de Registro: 13/08/2021)

REDE SOCIAL. CONTEÚDO OFENSIVO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE


FAZER C.C. REPARAÇÃO DE DANOS. JULGAMENTO DE PARCIAL
PROCEDÊNCIA. INSURGÊNCIA DO AUTOR. DESCABIMENTO.
RECURSO DESPROVIDO. Ação de obrigação de fazer c.c. reparação de danos.
Julgamento de parcial procedência, confirmada a tutela antecipada de remoção
do conteúdo ofensivo veiculado na rede social e de fornecimento dos dados do
usuário responsável pela publicação. Insurgência do autor. Descabimento. Não
há como responsabilizar a ré por ato de terceiros, não cabendo a ela censurar a
bel prazer as publicações postadas na rede social, pena de implicar em ofensa à
liberdade de expressão e de pensamento. Marco civil da internet que exige a
prévia determinação judicial de remoção do conteúdo para que, então, possa a
provedora de aplicação ser responsabilizada por eventual descumprimento.
Aplicação dos arts. 18 e 19, caput, da Lei nº 12.965/14. Dever de indenizar não
configurado. Ônus da sucumbência. Exigência de ordem judicial para efetivação
das medidas requeridas pelo autor (art. 10, § 1º, da Lei nº 12.965/2014), e
ausência de pretensão resistida na parte em que se saiu vencedor o autor, o que
obsta a condenação da ré ao pagamento das verbas sucumbenciais. Sentença
mantida. Recurso desprovido.
(TJSP; Apelação Cível 1053149-21.2019.8.26.0100; Relator (a): J.B. Paula
Lima; Órgão Julgador: 10ª Câmara de Direito Privado; Foro Central Cível - 42ª
Vara Cível; Data do Julgamento: 17/07/2021; Data de Registro: 17/07/2021)

Em face ao exposto, com fundamento no art. 487, I, do Código de Processo Civil,


JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos formulados na inicial para
CONDENAR a ré à obrigação de fazer consistente em remover integral e definitivamente a
publicação contida na URL https://www.facebook.com/EmNEGt/photos/1266081453751769 e

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todos os comentários e compartilhamentos derivados, bem como para fornecer os registros de
acesso a aplicações de internet referentes aos responsáveis pela criação e administração da página
"EMPREENDEDOR NEM É GENTE (https://www.facebook.com/EmNEGt/) e para preservar os
dados de acesso e identificação (logs e IPs) dos responsáveis pela página.
Sem condenação ao pagamento das verbas de sucumbência.
Ao trânsito em julgado, arquive-se.
P.R.I.C.
São Paulo, 29 de novembro de 2021.

DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006,

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CINARA PALHARES, liberado nos autos em 07/12/2021 às 22:18 .
CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA

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