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Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1032852-22.2021.8.26.0100 e código C015139.
SENTENÇA
Vistos.
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CINARA PALHARES, liberado nos autos em 07/12/2021 às 22:18 .
Andre Rezende da Silva, qualificado(a) nos autos, ingressou com a presente
AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER COM PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA em
face de Facebook Serviços Online do Brasil Ltda., igualmente qualificado(a), alegando, em
síntese, que é CFO, escritor, palestrante, desenvolvedor de liderança, consultor de planejamento
estratégico/financeiro e empreendedor, com 20 (vinte) anos de carreira executiva em grandes
multinacionais; que, em seu mais novo trabalho lançado, denominado “Liderança 4.1”, publicou
no Youtube um vídeo, chamando atenção ao fato de que o colaborador é estritamente necessário
para as atividades das empresas e utilizando, como chamariz, a expressão “Funcionário, um mal
necessário?". Asseverou que uma página do Facebook, chamada “EMPREENDEDOR NEM É
GENTE”, se apropriou de um trecho de seu vídeo - teaser do seu novo trabalho - em tela
congelada (https://www.facebook.com/EmNEGt/photos/1266081453751769) e o publicou na sua
página com conotação negativa e ofensiva ao autor, fazendo com que na tela constassem os
dizeres “Funcionário, um mal necessário” e “O funcionário que só pensa no salário no final do
mês”. Sustentou que houve diversos comentários pejorativos, ofensivos, ameaçadores à
integridade física e preconceituosos, com a conivência dos responsáveis pela página, e que o post
foi compartilhado em 470 (quatrocentas e setenta) oportunidades, bem como que denunciou a
postagem ao demandado, que entendeu não ter havido violação a sua política, recomendando que o
autor bloqueasse a página para não mais ter acesso ao conteúdo. Defendeu que a página da rede
social apropriou-se da imagem e do trabalho intelectual do autor sem que obtivesse a prévia e
expressa autorização, fazendo-o com a intenção de gerar debates ofensivos e pejorativos, o que
não se confunde com a liberdade de expressão. Por tais razões, pleiteou que o réu remova integral
e definitivamente a publicação contida na URL https://www.facebook.com/EmNEGt/photos
/1266081453751769 e todos os comentários e compartilhamentos derivados; forneça os logs,
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dados de IPs usados para criar as contas e os dados dos responsáveis pela criação e administração
da página "EMPREENDEDOR NEM É GENTE" (https://www.facebook.com/EmNEGt/); e
mantenha os dados de acesso e identificação (logs e IPs) dos responsáveis pela página da rede
social e dos autores dos comentários. Juntou documentos.
A tutela de urgência foi deferida às fls. 120/121.
Citada, a parte ré apresentou contestação, aduzindo preliminar de ausência de
interesse processual e alegando, em síntese, que cumpriu a ordem liminar; que apenas está apta ao
fornecimento de endereços de IP disponíveis, haja vista não coletar ou armazenar outros dados de
seus usuários; e a impossibilidade de condenação da requerida ao pagamento das verbas de
sucumbência. Juntou documentos.
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CINARA PALHARES, liberado nos autos em 07/12/2021 às 22:18 .
Réplica às fs. 313/320.
É o relatório. Decido.
O feito comporta julgamento antecipado nos termos do art. 355, I, do Código de
Processo Civil, porquanto a matéria em comento é de direito, sendo que os fatos relevantes já se
encontram comprovados documentalmente.
Rejeito a preliminar de ausência de interesse processual, porque, quando da
propositura da ação, a ordem de guarda dos registros de acesso a aplicações de internet mostrava-
se necessária para a garantia do direito do autor.
Os pedidos formulados na inicial devem ser julgados parcialmente procedentes.
O art. 22, caput, do Marco Civil da Internet garante à parte autora o direito de,
com o propósito de formar conjunto probatório em processo judicial, requerer ao juiz que ordene
ao responsável pela guarda o fornecimento de registros de conexão ou de registros de acesso a
aplicações de internet. E, justamente para garantir esse direito, o art. 15, caput, da lei impôs ao
provedor de aplicações de internet o dever de manter os respectivos registros de acesso a
aplicações de internet, sob sigilo, em ambiente controlado e de segurança, pelo prazo de 6 (seis)
meses.
Outrossim, o art. 19, caput, do Marco Civil da Internet assegura que, "Com o
intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a censura, o provedor de aplicações de
internet somente poderá ser responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo
gerado por terceiros se, após ordem judicial específica, não tomar as providências para, no
âmbito e nos limites técnicos do seu serviço e dentro do prazo assinalado, tornar indisponível o
conteúdo apontado como infringente, ressalvadas as disposições legais em contrário".
No caso concreto, o autor demonstrou fundados indícios da ocorrência do ilícito,
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consistente na utilização de trecho do vídeo indicado na nota de rodapé de fls. 02 de forma
descontextualizada, dando a impressão de que o autor se refere negativamente à figura do
funcionário, quando, em verdade, não é este o intuito da publicação.
O requerente alegou que "a demandada apenas forneceu aos autos diversos
números de IPs, números de telefone e emails, sem contudo relacioná-los aos usuários e aos
administradores e responsáveis pela criação da página" (fls. 314). O requerido esclareceu,
contudo, que a identificação dos administradores e responsáveis pela criação da página é possível
por meio do procedimento descrito no item 64 de fls. 299, não tendo o requerente demonstrado
concretamente a insuficiência da realização do referido procedimento com os dados apresentados
pelo réu.
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O demandado afirmou que os dados apresentados às fls. 131/265 referem-se aos
administradores e responsáveis pela criação da página e informou, às fls. 287/298, que o
fornecimento de registros relativos aos usuários que fizeram comentários no post em questão só é
possível mediante a indicação pelo requerente da URL específica de cada comentário. Por sua vez,
o autor não trouxe qualquer indício apto a infirmar a alegação de que os dados de fls. 131/265
incluem, simultaneamente, os registros dos administradores e responsáveis pela criação da página
e também dos usuários que comentaram a publicação.
Quanto à sucumbência, os arts. 10, § 1º, e 19, caput, da Lei nº 12.965/14 exigem
ordem judicial prévia para o fornecimento dos registros de usuário da internet e para a
indisponibilização de conteúdo gerado por terceiros, de modo que o ajuizamento da presente ação
era necessário por expressa previsão legal, não tendo decorrido de conduta da parte ré. Além disso,
se esta coloca à disposição as informações de que dispõe e cumpre, sem resistência, a
determinação judicial, não há lugar para condenação ao pagamento de verbas sucumbenciais.
Nesse mesmo sentido:
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concreto em que a obrigação já foi integralmente cumprida no prazo
estabelecido, conforme reconhecido pelo recorrido. SUCUMBÊNCIA. Pretensão
manifestada que depende obrigatoriamente de ordem judicial. Inteligência dos
arts. 10, §1º, e 19, ambos da Lei nº 12.965/14. Ausência de resistência por parte
da apelante. Imediata indisponibilização do conteúdo e fornecimento dos dados
de que dispunha após determinação nesse sentido pelo D. Juízo a quo. Ônus
sucumbenciais afastados. Sentença reformada em parte. RECURSO
PARCIALMENTE PROVIDO.
(TJSP; Apelação Cível 1010303-66.2020.8.26.0451; Relator (a): Rosangela
Telles; Órgão Julgador: 31ª Câmara de Direito Privado; Foro de Piracicaba - 1ª
Vara Cível; Data do Julgamento: 16/09/2021; Data de Registro: 16/09/2021)
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ajuizamento de ação própria – Apelada que demonstrou ter apresentado os dados
que estavam ao seu alcance como provedora de aplicação – Pedido inicial
julgado procedente para ratificar a tutela de urgência anteriormente deferida –
Sem imposição se sucumbência, tendo em vista a necessidade de ajuizamento da
ação para a prestação das informações pelas requeridas - Sentença mantida –
Recurso não provido.
(TJSP; Apelação Cível 1115450-38.2018.8.26.0100; Relator (a): Marcia Dalla
Déa Barone; Órgão Julgador: 4ª Câmara de Direito Privado; Foro Central Cível -
30ª Vara Cível; Data do Julgamento: 12/08/2021; Data de Registro: 13/08/2021)
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todos os comentários e compartilhamentos derivados, bem como para fornecer os registros de
acesso a aplicações de internet referentes aos responsáveis pela criação e administração da página
"EMPREENDEDOR NEM É GENTE (https://www.facebook.com/EmNEGt/) e para preservar os
dados de acesso e identificação (logs e IPs) dos responsáveis pela página.
Sem condenação ao pagamento das verbas de sucumbência.
Ao trânsito em julgado, arquive-se.
P.R.I.C.
São Paulo, 29 de novembro de 2021.
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CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA
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