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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA PARAÍBA

5ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA CAPITAL

Processo Nº : 0062268-25.2014.815.2001
Natureza : Ordiná ria
Autor(a) : NEUS TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO LTDA
Réu : Município de Joã o Pessoa-PB, Município de Sã o Paulo-SP e Município do Rio de
Janeiro-RJ

SENTENÇA

CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO. Tributá rio. ISS. Dú vida


quanto ao credor. Municípios diversos. Estados diferentes.
Impossibilidade do litisconsó rcio neste juízo. Objetivo
afetado. Inadequaçã o. Carência de açã o. Extinçã o sem
resoluçã o de mérito.

Vistos, etc.

Trata-se de açã o de consignaçã o em pagamento de dívida


tributá ria, ajuizada em face dos municípios de Joã o Pessoa-PB, Sã o Paulo-SP e Rio de
Janeiro-RJ.
Alega, em resumo, que foi imputado débito (R$ 30.086,38)
pelo município de Joã o Pessoa em relaçã o a ISS pago aos demais municípios promovidos.

Ao final, requer o deferimento de tutela antecipada para que


seja realizada a consignaçã o judicial dos valores do ISS devido aos Municípios de Sã o
Paulo e Rio de Janeiro, bem como para que o município de Joã o Pessoa se abstenha de
autuá -lo, promover processo administrativo, executá -lo ou inserir a parte autora na
dívida ativa do município.
No pedido principal, requer a manutençã o da tutela
antecipada e a definiçã o do real credor do imposto (ISS).

Juntou os documentos de fls..

É o relató rio. DECIDO.

A formaçã o do litisconsó rcio passivo facultativo (art. 46,


CPC) exige que o juízo seja competente para processar e julgar a demanda contra todos
os litisconsortes. Corroborando com este pensamento, segue posicionamento de Nelson
Nery Jú nior:

“Preenchidos os requisitos do CPC 46, é possível a formação


facultativa do litisconsórcio, desde que o juízo para o qual será dirigida

1
a causa não seja absolutamente incompetente para conhecer das
duas ou mais ações deduzidas em cumulação subjetiva [...]” 1

Em sentido semelhante, veja-se entendimento do Superior


Tribunal de Justiça:
CONFLITO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA FEDERAL E JUSTIÇA
ESTADUAL. CUMULAÇÃO INDEVIDA DE PEDIDOS. RÉUS
DISTINTOS NA MESMA AÇÃO. BANCO DO BRASIL E CAIXA
ECONÔMICA FEDERAL. CONEXÃO. INEXISTÊNCIA.
IMPOSSIBILIDADE DE JULGAMENTO DOS PEDIDOS PELO
MESMO JUÍZO. INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA EM RAZÃO DA
PESSOA. ART. 109, I, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
NECESSIDADE DE CISÃO DO PROCESSO. 1. Compete à Justiça
Estadual processar e julgar demanda proposta contra o Banco do
Brasil, sociedade de economia mista. Precedentes. 2. Nos termos do
art. 109, I, da Constituição Federal, compete à Justiça Federal
processar e julgar ação proposta em face da Caixa Econômica
Federal, empresa pública federal. 3. Configura-se indevida a
cumulação de pedidos, in casu, porquanto formulada contra dois réus
distintos, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. 4. Mesmo
que se cogite de eventual conexão entre os pedidos formulados na
exordial, ainda assim eles não podem ser julgados pelo mesmo juízo,
ante a incompetência absoluta, em razão da pessoa, da Justiça
Estadual para processar e julgar ação contra a 1Caixa Econômica
Federal e a mesma incompetência absoluta, ratione personae, da
Justiça Federal para julgar demanda e face do Banco do Brasil S/A,
nos termos do art. 109, I, da Constituição Federal. (...) CONFLITO DE
COMPETÊNCIA CONHECIDO PARA DETERMINAR A CISÃO DO
PROCESSO, DECLARANDO COMPETENTE A JUSTIÇA ESTADUAL
PARA A PRETENSÃO FORMULADA CONTRA O BANCO DO
BRASIL E A JUSTIÇA FEDERAL PARA A PRETENSÃO
FORMULADA CONTRA A CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. (CC
119090/MG, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 12/09/2012, DJe 17/09/2012).

Ocorre que este juízo nã o possui competência para julgar


demandas que envolvam outros municípios, principalmente quando localizados em
outros Estados da federaçã o.

O Poder Judiciá rio de cada Estado possui competência


funcional para processar e julgar as pessoas jurídicas de direito pú blico que lhe sã o
internas, em conformidade com a sua lei de organizaçã o judiciá ria.

Nesse sentido, explica Nelson Nery Jú nior, referindo-se


especificamente ao Estado de Sã o Paulo:
“O art. 35 do Código Judiciário do Estado de São Paulo (DL Compl.
3/69) confere prerrogativa de juízo, na comarca de São Paulo, ao
Estado e respectivas entidades autárquicas ou paraestatais, quando
estiverem na condição de autor, réu, assistente ou opoente, exceto
para as ações de falência, acidente de trabalho e MS contra atos de
autoridades estaduais situadas sediadas fora da comarca da Capital.
Esta competência é funcional, portanto, absoluta. Trata-se de
competência de juízo e não de foro”. (NERY JÚNIOR, Nelson; NERY,
Rosa Maria de Andrade. Código de processo civil comentado. 12. ed.
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012, p. 415).

11
NERY JUNIOR, Nelson; ANDRADE NERY, Rosa Maria. Código de processo civil comentado e legislação
extravagante. 12. ed. rev., ampl. e atual. até 13 de julho de 2012. - São Paulo : Editora Revista dos Tribunais,
2012. p. 312.

2
Como se observa, é caso de competência absoluta que nã o
pode ser modificada por vontade das partes ou prorrogada. Do contrá rio, haveria
indevida intervençã o de Poder Judiciá rio de um Estado sobre a Administraçã o Pú blica
de outro.
A inviabilidade da formaçã o do litisconsó rcio neste juízo,
peculiarmente, afasta a possibilidade da pretensã o da parte autora de utilizar a açã o
consignató ria para definir o ente tributante ao qual deve pagar o imposto cobrado, haja
vista que diante da exclusã o de qualquer dos municípios estará afetado o objetivo
perseguido.
Assim, o meio escolhido para resolver o litígio da parte
autora mostra-se inadequado, havendo carência de açã o.

ANTE O EXPOSTO, atento ao que mais dos autos consta e


aos princípios de Direito aplicá veis à espécie, nos termos do art. 295, III, do CPC, indefiro
a petiçã o inicial e, em consequência, JULGO EXTINTO O PROCESSO, SEM RESOLUÇÃO
DE MÉRITO.
Custas quitadas.

Sem honorá rios.

P. R. I.

Apó s o trâ nsito em julgado, arquivem-se os autos.

João Pessoa, 17/12/2021.

JOSÉ GUTEMBERG GOMES LACERDA


Juiz de Direito Auxiliar

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