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Prcon 1017 2016
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PRCON
Ementa
ADMINISTRATIVO. CONTRATO. ATRASO. INADIMPLEMENTO.
APLICAÇÃO DE PENALIDADE. MULTA DIÁRIA DE 0,33% OU 0,66%
SOBRE A PARCELA EM ATRASO E MULTA DE 5% SOBRE O
VALOR TOTAL DO CONTRATO, POR DESCUMPRIMENTO DO
PRAZO DE ENTREGA. LEI N. 8.666/93 E DECRETO DISTRITAL N.
26.851/2006, ART. 4°, I, 11 E IIL CUMULAÇÃO DE MULTAS.
RETENÇÃO PROVISÓRIA DE VALORES. DESCABIMENTO.
I - A multa moratória prevista no art. 4°, inciso 11,do Decreto Distrital n.
26.851/06, aplicada à razão de 0,66% ao dia, deve ser limitada ao patamar
de 15% sobre o valor da parcela não adimplida, nos termos de precedentes
desta Casa.
2 - É possível acumular a multa diária de 0,33% ou de 0,66% com a multa
de 5% (cinco por cento), previstas respectívamente nos incisos I, 11e III do
art.4° do decreto distrital, na hipótese de atrasos e descumprimento do prazo
de entrega, a depender dos fatos e circunstâncias do caso concreto, não
havendo que se falar em bis in idem. Precedente do e. Tribunal de Justiça do
Distrito Federal.
3 - Antes de proceder à dosimetria da pena, o órgão deve apreciar as razões
de defesa declinadas pela empresa contratada, bem como o relatório final
do Processo Administrativo deve fundamentar, motivadamente, a aplicação
das penas.
4 - Não pode a Consulente proceder, liminarmente, à glosa dos valores de
multas sobre os créditos de titularidade da Contratada. Apenas quando
finalizado o regular processo administrativo com base no qual se aplicou
multa à Contratada, fica a Administração autorizada a executar seu valor da
garantia contratual ou descontá-lo de eventuais pagamentos devidos à
empresa contratada.
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I. RELATÓRIO
c) Qual é o limite total que deve ser adotado na aplicação do inciso I1I, art.
4°, do Decreto n. 26.851/2006? e
c.l) O limite previsto no inciso 11, art.4°, do Decreto n. 26.85112006 do
"valor previsto para o inadimplemento completo da obrigação contratual"
seria equivalente ao valor total do contrato/nota de empenho? Caso positivo,
seria legal a retenção do valor integral da obrigação a título de multa?
d) Está albergado pelo bom direito reter, antecipadamente, o valor a ser
discutido em relação a multa a ser aplicada, mesmo sem que seja iniciado o
processo administrativo sancionador e assegurado o direito ao contraditório e
ampla defesa do infrator?
É o relatório.
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11 - FUNDAMENTAÇÃO
I Com exceção dos incisos 111e IV, os demais incisos do 311.40 foram alterados pelo Decreto n. 35.831/06.
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Sobre os temas aqui colocados, pedimos venia para transcrever alguns dos
fundamentos declinados no recente Parecer 824/20 I 6-PRCON/PGDF, aprovado em 10
de outubro corrente, e por meio do qual examinamos a aplicação de penalidades em um
contrato de obra. Confira-se:
1§6° Decorridos 30 (trinta) dias de atraso, a nota de empenho e/ou contrato deverão ser cancelados e/ou
rescindidos, exceto se houver justificado interesse da unidade contratante em admitir atraso superior a
JO (trirna] dias, que será penalizado naforma do inciso li do caput deste artigo.
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De outro lado, importa chamar atenção para o fato de que o inciso IIf do
art. 4° expressamente prevê que a multa diária de 0,669/oIdia poderá ser
cumulada com multa de 5% (cinco por cento) sobre o valor total do contrato,
na hipótese de descumprimento do prazo de entrega. Veja-se:
Neste ponto, cabe aqui registrar que o presente processo não traz
informações sobre o oferecimento de direito de defesa prévia e abertura de
contraditório, previamente à decisão sobre a aplicação de penalidades.
Sobre a obrigatoriedade dessas providências, confira-se o disposto no
parágrafo 3° do art. 9° do Decreto n. 26.851/06. Verbis:
§ 3° Asse urado o direito à de esa révia e ao contraditório e a ós o
exaurimento da ase recursal a a lica ão da san ão será ormalizada or
despacho motivado, cujo extrato deverá ser publicado no Diário Oficial
do Distrito Federal, devendo constar:
1- a origem e o número do processo em que foi proferido o despacho;
JJ - o prazo do impedimento para licitar e contratar;
111- ofundamento legal da sanção aplicada;
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inciso I vai deverá ser aferida no âmbito do processo administrativo, a depender das
circunstâncias do caso concreto, tais como o grau de culpabilidade da empresa, dos
fatos que eventualmente poderiam atenuar a culpa da contratada, das consequências do
ilicito contratual, do prejuízo sofrido pelo ente Contratante, se houve aplicação de
penalidade anterior e de uma série de outras circunstâncias que deverão ser sopesadas
pela Administração, considerando-se, ainda, a razoabilidade e proporcionalidade das
sanções. Ademais disso, conforme se verá mais à frente, essas multas apresentam
natureza distinta.
Note-se que a lei não abre espaço ao entendimento de que o inciso Ill incide
sempre de forma separada das multas variáveis/diárias previstas nos incisos I e li, haja
vista a parte final do inciso Ill, que é expressa no quanto à possibilidade (não
obrigatoriedade) de cumulação. Veja-se que o Decreto admite a eventual acumulação
até mesmo com o inciso I, que prevê um atraso menor, de até 30 dias.
De outro lado, deve-se admitir que a redação dada ao inciso III deixa margem à
dúvidas, porquanto a princípio não haveria distinção entre o seu fato gerador daquela
multa (descumprimento do prazo de entrega) e aquele previsto para as multas dos
incisos I e li (atraso). A diferença estaria apenas no percentual, que no inciso III é lixo,
e na base de cálculo.
lnobstante tais dúvidas, lembre-se que o rnulticitado Decreto encontra-se em
plena validade, devendo ser observado enquanto não houver pronunciamento do Poder
Judiciário em sentido contrário ou revogação parcial pelo Poder Executivo.
Na tentativa de entender a intenção do legislador e a distinção por ele
pretendida ao redigir o inciso Ill, poderíamos supor que a multa ali prevista estaria mais
próxima da multa civil compensatória (cláusula penal compensatória"), em que o atraso
leva à rescisão do contrato, de modo que essa multa teria por objetivo indenizar a
Administração pela quebra do ajuste. Já as multas dos incisos I e II seriam tipicamente
de caráter moratório, ou seja, voltadas ao inadimplemento parcial da obrigação.
Daí estaria explicada a possibilidade de cumulação dessas duas espécies,
quando além do atraso, ocorrer a rescisão contratual. Neste caso não poderíamos deixar
ele trazer à lembrança o disposto na regra geral estabelecida no art.412 do Código Civil,
que limita o valor da Cláusula Penal ao valor total da obrigação principal - valor do
contrato.
Essa possível distinção encontraria paralelo na diferenciação entre as multas
previstas no art.Sô? e no art.87 da LNL, tema que foi objeto de análise por Jessé Torres
Pereira Júnior. Verbis:
, Código Civil, Art. 408. Incorre de pleno direito o devedor na cláusula penal, desde que, culposamente,
deixe de cumprir a obrigação ou se constitua em mora.
s Ar/. 86. O atraso injustificado na execução do contrato sujeitará o contratado à multa de mora, na
forma prevista no instrumento convocatorlo Oll no contrato.
Ari. 87. Pela inexecução lotai ou parcial do contrato a Administração poderá, garantida a prévia defesa.
aplicar ao contratado as seguintes sanções:
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11- multo. na/arma prevista no instrumento convocatôrio ou no contra/o:
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c) Qual é o limite total que deve ser adotado na aplicação do inciso 11, art.
4°, do Decreto n. 26.85 112006?
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R: Quanto ao teto para o cômputo dessa multa (inciso lI), o entendimento desta
Casa consolidou-se no sentido de que se deve observar o percentual de 15% (quinze por
cento) sobre o montante das parcelas em atraso.
Em relação a este ponto, tenho que assiste razão à AJLlSES, no sentido de que
tal prática não encontra amparo jurídico. Senão vejamos.
A Lei 8.666/93 determina ao contratante a imposição de penalidades à
contratada em caso de descumprimento, parcial ou não, de contrato administrativo, não
podendo aquele se furtar de assim agir por tratar-se de ato ao qual se encontra
vinculado. Trata-se de um poder-dever.
Em contrapartida, tal como já colocado anteriormente, a Administração deve
ter em vista que a aplicação da penalidade não pode ser arbitrária, tampouco seu valor
estabelecido sem a devida motivação, sob os percalços de incorrer em abuso de poder.
Ou seja, observados os princípios constitucionais de ampla defesa, o agente
público investido do poder sancionador, ao aplicar as penas estabelecidas em lei (art. 87
da Lei n? 8.666/93 e art. 7° da Lei n° 10.520/02), tem o dever de dosar a penalidade
segundo o grau de gravidade da infração cometida e o efetivo prejuízo causado à
Administração Pública, apurado em regular processo administrativo.
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"Ou seja. a multa somente pode ser imposta após processo administrativo
específico, e não nos próprios autos do processo de licitação, e também,
conforme assinalado no parecer anteriormente transcrito, se o caso assim
exigir, seja pela complexidade, seja pelos valores envolvidos ou pelas dúvidas
apresentadas, deverá ser aberta (ase de produ cão de provas.
Antes de proceder à dosimetria da pena, o órgão deve apreciar, e contrapor,
as razões de defesa declinadas pela empresa contratada, bem como o relatório
final do Processo Administrativo deve fundamentar, motivadamente, a
aplicação da pena, até porque a incidência de multa não se opera
automaticamente, senão ante a constatação de culpa (Cf Parecer n. 278/2013-
PROCAD/PGDF). Veja-se, por exemplo, que em algumas situações, um
aparente atraso pode esconder, em verdade, uma recusa velada ao
cumprimento da obrigação, situação que poderia alterar o enquadramento da
falta, passando do inciso lJ para o inciso IV
Tais cautelas tem por fito, igualmente, evitar possíveis questionamentos
administrativos ou judiciais no tocante à penalidade a ser aplicada.
Assim, podemos afirmar que somente após o regular processo, com
observância do contraditório, é que poderá ser definido o percentual exalo de
multa no caso concreto, e a eventual acumulacão da multa do inciso 11com a
multa de 5% prevista no inciso lII, ambos do art.4° do Decreto n. 26.851106."
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III - CONCLUSÃO
17
GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL
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Gabinete da Procuradora-Geral PGDF
PROCURADORIA-GERAL
Procuradoria Especial da Atividade Consultiva DO DISTRITO FEDERAL
Em ofJ / / {L /2016.
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Procuradora-Geral do istrito Federal